Auto-exposição inconsciente

A síndrome de Narciso

Narciso era muito belo e quando nasceu um dos oráculos, chamado Tirésias, disse que Narciso
seria muito atraente e que teria uma vida bem longa, entretanto, ele não deveria admirar sua
beleza, ou melhor, ver seu rosto, uma vez que isso amaldiçoaria sua vida.

Além de ter uma beleza estonteante, a qual despertava a atenção de muitas pessoas (homens
e mulheres), Narciso era arrogante e orgulhoso. E, ao invés de se apaixonar por outras pessoas
que o admiravam, ele ficou apaixonado por sua própria imagem, ao vê-la refletida num lago.

A bela ninfa Eco esteve perdidamente apaixonada por Narciso, no entanto, seu amor nunca foi
correspondido, posto que Narciso ficou atraído por sua própria imagem.

Com o excessivo amor por si próprio e sobre menosprezar a ninfa Eco, ela lançou um feitiço
sobre Narciso, que ficou definhando até morrer no leito do rio. Com sua morte, o belo jovem
foi transformado em flor.

Nosso tempo

A cada dia, mais pessoas passam a utilizar redes sociais para os mais diversos fins.

Comunicar-se com os que amam e estão longe, fazer novas amizades, trabalho, etc.

De fato são ferramentas fascinantes que revolucionaram o século XXI em diversos aspectos.

No entanto é perceptível, o que vou chamar de, "auto-exposição inconsciente", nas redes
sociais.

Em relatório divulgado pelas empresas We are Social e Hootsuite, intitulado “Digital in 2018:
The Americas”, foi divulgado que 62% da população brasileira está ativa nas redes sociais.

Com 130 milhões de usuários mensais em atividade, a rede social Facebook é uma das redes
com o maior número de brasileiros. Anualmente sua base de usuários cresce na escala de 7%,
conforme análise do ano de 2017 – registrada no relatório mencionado.

Uma reflexão sobre a auto-exposição.

Não há como negar que muitos tem exposto sua vida de forma excessiva nas redes sociais, e
acredito que de forma inconsciente, que a semelhança de Narciso, que era possuidor de uma
beleza estonteante e não sabia, ele a expunha por onde passava e atraia muitos olhares para
si, sendo cobiçado por muitos.

A verdade é que tornou-se comum expor tudo que acontece, nas redes sociais.

O que se come no café da manhã, o que se veste, o que se pensa, o lugar que vai, a viagem que
faz, o livro que lê, a festa que foi, o almoço, o jantar, as declarações de amor, o feliz
aniversário, e isso é tão comum que se possuímos uma rede social e não postarmos, é como
se estivesse faltando alguma coisa e somos até cobrados por isso.

Mas será que precisamos dessa auto-exposição nas redes sociais? Há limites para expor as
nossas intimidades, nossos relacionamentos, momentos ímpares que vivemos com quem
amamos? Ou já nos tornamos dependentes inconscientes dessa auto-exposição?
Ou essa auto-exposição inconsciente, é tão dominante em nossas vidas ao ponto de
misturarmos a realidade com o virtualismo e de forma inconsciente somos transportados para
um mundo chamado "redes sociais" ? Onde gostamos de postar as fotos coloridas, sorrisos
cheios de luzes, com paisagens e lugares desejados, quando na verdade a realidade possui
sorrisos amarelados, paisagens sombrias e isso não gostamos de mostrar, porque não é nada
atraente.

Um dia Narciso, inclina-se no lago e contempla o seu próprio rosto e então apaixona-se por
si mesmo.

Acredito que a "auto exposição inconsciente" nas redes, em algum momento passa a ser
consciente e aí como Narciso, apaixonados por nós mesmos, passamos a adorar o nosso corpo,
nosso rosto, sorriso e isso é refletido na forma como valorizamos nosso corpo e o quanto o
divulgamos e nos sentimos realizados com as curtidas e comentários.

À semelhança de Narciso, que passou a definhar no leito do rio, após ninfa lançar-lhe um
feitiço vindo ele a morrer.

Apaixonados por nós mesmos, somos tomados pelo egoísmo, arrogância e prepotência,
estamos definhando e prestes a morrer.

Narciso não ouviu o oráculo de Tirésias, que não deveria admirar sua própria beleza pois
isso arruinaria a sua vida, o que ocorreu.

Muitas pessoas têm suas vidas arruinadas com a "auto-exposição inconsciente" que em
determinado momento torna-se consciente e caminham para a ruína.

Muitas pessoas estão dependentes do "lago" chamado redes sociais, e fazem delas o oxigênio
para sua vida.

Muitas estão alienadas, paralisadas, envolvidas neste "lago" sem conseguir discernir entre
ficção e realidade.

Que sejamos ao contrário de Narciso, que fora arrogante e orgulhoso, levando sua vida a
ruína, sábios, prudentes e ponderados em expor quem somos e o que fazemos!

Que possamos amar a nós mesmos, mas sem exageros e que possamos atentar para quem
está em nossa volta, desconectados do virtualismo frio e inanimado, para o realismo afetuoso
e vívido!

Sem. Thyerre de Oliveira Sá