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Projeto

PERGUNtE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE

Apostolado Veritatis Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Bettencourt. osb
(in mamariam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-LlNE
Diz São Pedro que devemos
estar preparados para dar a razão da
nossa esperança a todo aquele que no-Ia
pedir 11Ped,o 3,15).
Esta necessidade da darmos
conta da nossa esperança e da nossa fé
.' . .. hoje é mais premente do que outrora•
~ .: visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrárias à lé católica. Somos
assim Incitados a procurar consolidar
nossa crença católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste slte Pergunte e
Responderemos propõe aos seus leitores:
aborda questOes da atualidade
controvertidas. elucidando-as do ponto de
vista crlstAo a lim de que as dúvidas se
.:... ,.. ; dissipem e a vivência católica se fortaleça
_ .1 ... no Brasil e no mundo. Queira Deus
abençoar este trabalho assim como a
eQuipe de Ventalis $plendor que se
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. Estevlo BeHencourl, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convênio com d, Estevão Bettencoun. e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica ·Pergunte e
Respond9remos~ . que conta com mais de 40 anos de publicação.

A d. Estêvão Benencourt agradecemos a oonfiaça


depositada em nosso trabalho. bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
280

A",," At6mica, p.... Imptdlr


• Guerrl?

Nov•• T'cnlcall de Procrl.çio


Miado da Mulher I Sacerdócio
" Quem • • Bnll do Apocalipse?"

O &mho d. aatlur o Mln:ltmo


"O qUI é anUir?"

"Prull Crbt.i U"


;<Igrel_: C.rismIi • Poder" (I)

" .greJ. : C.rilma a Pode1" (11)

Editora " Voz_" de p,erópolll

MAIO.JUNHO - 1985
PERGUNTE E RESPONDEREMOS MAIO-JUNHO - 1915
PubUC89lo blmnftl NO 280

DlretGr-RnpoMtveI: SUMARIO
D. Eatjvio geUencouri OS9
AU10r , Redator de toda a matéria
publlCllda nesta periOdIco INTENSA ORACAO . ..... ""... ..... . 181
Dftetor-Admlnll;tta. No Ano l....,.acJolUll da .Iu-nlucle:
O HWdebrandCI P. MarUns osa O PAPA AOS JOVENS "..... .... ... 182
Ou. . . de CoMCllneia:
Adrnln"'''~1o e d"tri1Iu~:
ARMAS A.TOMICAS PARA IMPEDIR A
GUERM? ••••.••••••••••.•••• . •• 1110
Edl~ lumen Chllsti
Ou. dlz:er1
Dom O,rardo, <40 - 5' andar, Sl501 NOVAS rECNICAS OE PROCRIAÇAO 2QO.
Tel .: (021) 291-7122
Caiu postal 26&6
A mulher "a IIINIa:
MISSA.O DA MULHER E SACERDóCIO 212
20001 - Rio de Janeiro - RJ
Uno ..~tfo;
-QUEM E A BESTA 00 APOC#.UPSE?" 229
leduk)f •••
Para pagamento da assinatura O SONHO DE BATIZAR O MARXISMO 237
de 1965 queira depositar a im- u"n livro plOhllllante:
portância no Banco do Brasil "O QUE E AMAR? 243
para c rédito na Conta Corrente Tealo,l. MonIl Hoje:
· PRAXIS CRISTA" li"
n9' 0031 304·1 em nome do Mos'-
UIM palnn qu.. . . esperava:
teiro de São Bento do Aio de
-IGREJA.: CARISMA l: PODER- (1) 257
Janeiro, pag6vel na Agência da
Na ordam do dlll:
Praça Mauá (n9 0435) ou VALE - IGREJA: CARIS,..A E PQOER- (11) 2U
POSTAL na Agência Central do TiraMo. lInisc:ara :
Rio de Janeiro. EDITORA "VOZES- DE PETROPQUS 288

HO PR6X1MO HOMERO
RENOVE QUANTO ANTES
A lUA ASSINATURA 281 _ Julho-Agosto - 1985
- Reconciliaç'o e Panll.nc!a". - "Pode-
mOI confiar no Novo Taatamenlo?" por J .
COMUNIQUE-NOS QUALQUER Robln.on. - Por que um calónco nlo pode
N r maçoo? - "Pslcolerapla e senlldo da'
MUDANÇA DE ENDEREÇO vida - por V. Frankl. - "Sulcldlo: modo de
usar· por Gulllon a La Bonnl8C.
e.... nlçlo e ""preMio:
-Marques. Saraiva- ,
sanlos Rodrigues, 140
Rio de Janeiro Com aprOvação eclesillslica
INTENSA ORAÇÃO
Os últimos tempos foram de intensa oração pelo Presi-
dente Tancredo Neves. . . Acontecê, porém, que multos se jul-
garam. frustrados, porque não foram atendidos segundo os seus
desfgn1os.
A propôsito é preciso lembrar que Jesus, como homem.
rezou. no horto das OJiveiras, pedindo ao Pai que o isentasse
do cálice da Paixão e da morte; não obstante, padeceu a cruci-
ficação e os seus antecedentes (Mt 26.39.42). Eis. porém. que
a eplstola aos Hebreus nos diz: cNos dias de sua vjda terres-
tre, Jesus apresentou pedidos e suplicas, com veemente clamor
e lágrimas, àquele que o podIa salvar da morte e foi ..tendido
por O&QS& da. sua. rewxêncb.~ (Hb 5,7). Perguntamos: como·
1'01 atendido? ... Atendido, porque recebeu mals do que a isen-
ção da morte de Cruz; atravessando a Paixâo e a morte, Jesus
ressuscitou e tomou-se o Senhor dos vivos e dos mortos (cf.
Ap 1,18; 2,8; 3,7) j é O xartos (Senhor) proclamado por todas
as criaturas (cf. F1 2.11).
Assim. se confirma a sent.enca do mesmo Senhor Jesus:
cPedi e recebereis; buscai e achareis; batei e abriNle..vos-â:t
(Mt 7,78), Nenhuma oração dirigida ao PaI em unlAo com
Cristo (em comunhão com OS sentimentos de Cristo no Get-
sêmanl) é perdida, pois, se Deus não nos éoneede aquilo que
nós lhe sugerimos (saúde, trabalho, sucesso ... ) como possivel
vhH1co para a nossa caminhada na terra, Ele nos dá o que
mais nos convêm. Nossa visão é sempre lintitada e sujeita a
erros: por Isto pedimos gracas Que nem sempre correspondem
ao nosso verdadeiro bem; todavia o Pai, que sonda os cora-
ções, sabe que, em ti1tima instância, queremos ser seus filhos
c chegar à plenitude da Vida na casa do Pai; por isto, se não
nos dá o que lhe propomos, dA-nos o que realmente nos leva à
Vida.
Aliãs, aprofundando o tema, tomamos consciência de que
a oração não pode ser algo de mágico, nem pode constranger
a Deus, que é o Senhor soberano e santo. - Mas então por
que rezar! Deus quer que rezemos porque deseja que colabo-
remos com Ele na distribuição das graças que nos são neces-
sãnas e que Ele certamente nos quer dar; a planta e o pássaro
recebem o seu necessário sem colaborar; o homem, porém,
deve recebé-Io como criatura consciente; por isto a oração dos
homens foi incluída por Deus no seu sábio plano como sendo
a maneira pela qual os homens cooperam com a Providência
Divina no derramamento das gracas necessArlas à salvação
do mundo. Vemos, pois, que a oração, em vez de adaptar Deus
às exIguas categorias da vontade humana, eleva o homem ao
plano de Deus e o faz, de certo modo, co-autor da sua Redençã.o.
E.R.
-1Bl-
.PERCiUHTE E RESPONDEREMOS.
Ano XXVI - N9 230 - Maio-Junho de 1985

No Ano Intemaclonal cI. Juventude:

O Papa aos Jovens


Em.llnl"e: A 19/01lB5 o Santo Padre, aprO'itlllando o 8ns&lo do Dra
Mundial da Pu. dirigiu ao. Jovens do mundo Inteiro uma mensagem Intitulada
"A paz e os Jovens caminham luntos-. Deste lmportaJlte documento mere-
cem especial r..lce os ugulnt.. tópicos:
1) A procul'l di paz exige cll'. noçlo a respeito do que seja o
homem: coisa, In,llumanlo ou pano. digna de r..pello?
21 A mposta • esta pergunta IUp6I nllide:r. 8 re. pelto de 0,,11'11
quostlo: quem , o '101'0 Deus? O homem foi lello par. o Absoluto ou
Plfa Deus, .. 16 poder' ser devlcSamenle Itnlandldo 88 lor colocado sob
• fur. de DeUI.
3) Procur., poli,. j\MInlude opfa, pelos valores que mais condigam
c om .... noçlo â .. r humano; 8 descoberta de 'a" VIIlor.. e xIge pureza
d. eoraçao e humildade.
4) Em panlcular. a Juventude cattl1lea pode estar confiante qUllnto ao
luluro, pois o Sennor lha assista com a sua pu 9 a apola na lua tarafa 0111
tranemlllr asaa pu: ao mundo.
• • •
A Organlzaçãi) das Nações Unidas (ONU) declarou o ano
de 1985 cAno Internacional da Juventude_. Esta iniciativa
tem em mira despertar o mundo para os problemas e as espe-
ranças que a juventude traz 80s povos de nossos dias: quais
seriam esses problemas? Que ~stas lhes podem dar os
adultos? . . e os própriOS jovens? Que diz a juventud~ à socie-
dade de hoje? Que pode deixar prever para o futuro?
Precisamente tais questões foram consideradas pelo
Papa João Paulo fi em sua mensagem comemoraUva do Décimo
Oitavo Dia M:W1dJaI da paz (1/ 01/ 85) com o titulo cA paz e os
Jovens caminham juntos.. Este importante documento será,
a seguir, apresentado em suas linhas prrnc!pais. a fim de que
os nossos jovens e educadores o possam utilizar com facilidade.
1 Apr"anta"mM tJO$I.rlormanta _ Carta do Papa aoa JovallS 8 .h
Jovens datada do 31/03/85.
-182 -
o PAPA AOS JOVENS 3

A PAZ E OS JOVENS CAMINHAM JUNTOS

1. Problemas e esp.ronsas I nt 1)

A MenJOgern cometo, como de coslulJle, com um levanlCIIIIlC1110


do situoção mundiol em que vivemos ,

São muilas os ome oc:os do violando delll"uidoro e da gueno =con-


flilas entre grupos sociai. e nacões. repressõo dos d ire itos fundamentais
da pessoa humana, totalitarismos '" ideologias, discriminacão racial,
cxilio forçado, lor1ura, fome fi dOtento, perseguição religiosa .. _

Imp iSe-se-nos procurar os causal de tal e510do de coisos poro lhes


aplicormos a remédio radical. Oro é no coração de cada individuo
que o viol&nda e a injustiça têm roius profundcn; é c dentro de cada
um de nós, nas formos cotrdianos de pensor e de ogir dos pessoas».

Todovla d ionte de tanlos moles não devemos perder a .. peronço,


cpcls 160 grandes os energias qUe irr-ompem conlinuomenle do c;orocão
daqueles que acreditam na jUltiça e na pa%. A crise aluo I pode. deve
tomar-se ocosiõo para se converterem e renovarem OI mentalidades.
O tempo e m que vivemos, não é apenos tempo de pe..igol e de
Inquietude».

2. A Pa:z _ os Jovens caminham lunto$ In' 21

o futuro da humanidade e stá dependente, de modo especial, das


opções éticas que a nova geração é chamado a farer. São os jOye nl
de ho je que ornonhã assumirõo as tespansobilidodes nOI f(lmilios e
nas noc3t1. Eles se interrogam a respeito do CJ'.Ie hõo de forer poro
dar loluções novos a problemas antigas e construir uma noyo civilizacõo
assentada sobre a solidariedade fraterno . Estes onleiol nos levam o
refletir iemtos.

3. «Jovens, não tenhais medo da.vossa pNiprfo juvefttudo!» In' 3)

cO primeira apelo que vos quero dirigir, •. • iovenf de hoi., 6


este: não tenhais medol Não tenhais medo do vosso pr~p ..io juventude:.
e das luas aspiraçOel à verdade, ao amor, à bele lO e li felicidade
duradouros. Embora a pr6pria sociedade olhe te merosa pora os o.pira_
cõe, cand'lI.teJ dos lovens, não percom estes o ânlmol cO futuro de
boa parte do .fculo que se aproxima, 0116 na. voual miiol,.
-183 -
4 .r:PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 230/1985

Muitos iovens em nossos dias sôo tenlados o cair no delespero,


julgQndo que a vida tem pauço ,enlido. moldo5C1 e violenlo como elo
é. Nõo poucos opelam pora o mundo do álcool e dos drogo, ou paro
efêmeros relo(ões sexuai, sem compromiuo ou mes",o marcado. pelo
i"diferenço e o cinismo. O ••XplofCldores eslõo oi poro manipulor os
energias e o generosidgde dos jovens de50rienfodol, Toda";o não .ão
"ules OI caminhos do reconstrução. Esta só poderé. sef obtida se a
iuvenludt!! ~onceber profundo confitlnco no homem e nCl grtlndeza dei
lUa VOCQCÕO, q1Je há d. ser realizada com respeito pela verdade. pelo
dignidade. pejo. direito. inviol6vel. do pessoa humana.

4. A questão Inevit6vel: que Idéia t",de. do hollUlm? Cftl 4'

Entre as questões que otuolmenl. surg.m no espírito dos fove"s,


o primo.ira é esla: qual é o "'OSJa idéia do homem'? Que é que constitui,
na vossa opinião, a dignidade e a gronde:ro do s.r humano?

Quem t.nta r.sponder a .llas perguntai, verifica .que muita$ famí-


lias • penaas $e paulam por concepções meramenle malerialislas.
c N60 é ".rdad. que os pais criem. par ....;tes. ler cumprido S.UI d.·
... eres para com os filhos só por.que lhes ofereceram .. . abundãncio
d. hen. mat.rioQis. muito embora nCia lhes lenham dada '.'POIIOI paro
o ...ida? Não é .... rdade que. proc:edendo assim, ellão a Iran.mll!r lIs
novos o.raeões um mundo qUe terá poLre q"'l;mlo ao. "alor., eSpiri-
tuah euenciais. pobre de pcI:r: e pobre de iuslic:a?~

As Ideolo.gias. por sua ve:r::. de forma fascinante e ilusória. apre-


lentOm 001 jovenl a heronça de novos formas de ell:rovidi5a, sem a
liberdade nec.ssária para buscorem os valores que enobrecem Q ... ida.

Dlont. desle o;oniunto de propostos materialistas, fo;t- .e mister que


o. lavens perguntem o si mosmos que tipo de p.ssaas querem ser e
que tipo d. cultura que,.m conttruir...JaJ:oi-vos estas pergunta s., não
t.nhai, medo das respollal, melmo .que elas .xliam de vás uma
mudança de direcêío nos ...ona' penscmenta, • .

5. A. quetfóo funcbnental: qc.,em , o vosso DINIS? (n' 51

c A primeiro "iri. de perguntas condu~ a outra ainda meds h6srca


• fundamental: quem' o vosso Deus?» Na Yerdade, o homem não
poda definir o si mesmo sem rer.rlnda ao Absolulo ou à plenitude
da verdade e da bondade, ta qual era aspira e,ponlclneementa; ora

-184 -
o PAPA AOS JOVENS 5

este Absoluto , Deul: em conleqüência, <EO ler humano, imagem


visivel de Deus invisível, nôo pode responder ó pergunta acerc=a da
lUa identidade sem diz.er 00 mesmo tlmpo quem é o seu Deun.

Infe lizmente nota-I' que hoje em d ia hó peuoos tentodol o


reieitor Oeul em nome da sua pr6pria humanidade. . Onde quer que
le dê eda reieieão, o sombra da medo I5lende cada vez mais o s.eu
monfo te n.broso. O medo oparece quando Deus morre no consciência
dos homens. Todos sabem, embora confusamente e com temor, que,
qUClndo Deus morre na consciência da pessoa humana, ai se dá inevita-
velment. o lIIorte do homem, imagem de Oeun.

6. A 'Iossa N'POsta: Op~ÕH bos.adas em volorll Int 6)

eQuem é o homem? E quol a leu Deus? Eil as ducl quesl6es


cujos ,esposlas determinam 'odo o vido de um ser humano e norleiom
o fuluro do juventude : esta enfrentem:' os desafios do paz e do jUlliça
no base dOI lual concepcões referenles o Deus e 00 homem. eSe
decidirdes fozer de VÓI mesmos o vos$o Deus, sem preocupação com
OI outrOI, fornor·vol·eis inltrumentOs de divisõo e de inimizade, e olé
mesmo instrumenlol de guerra e de violênciCl~.

O s autênticos ideais e as opções aptos a construir o homem e o


15ociedode b05lioR\.se em volQ(es. Por conseguinte, cé preciso definir
quois os yolore, com que quereis construir a sociedade:.. Os valores
elcolhidos pelos joyons decidirõo se as noções continuorôo em conflito,
subjugando leUI cidadãos mediante regimes em q4Je Deus nõo conto
e a dignidade humano é socrificado a uma ideologia que pretende
di'l'in i~or .a coletividade. As opcõcs feitas pelos jovens repercutirõo no
futuro do sociedade, q,ue recebe o herança de um panado de Qçlio
e violência a sufocor o amor e o reconciliocõo.

7. O valor da paz 'n' 71

A causo do paz, nobre e urgente é, sugere a OI jovens lério


reflexõo poro que escolham os volores que a 'ovorecem e não se
deixem iludir por conlos de lereio que aliciam os homens à bUKCI dos
próprios Inlareues. Q..,em de5ejo ler arllfice do paz, deve ró praticar
o conversão da corocõo e abandonar toda formo de egoismo; deveró
também compromeler-se CI um diálogo hoftesto em clima de respeito
mútuo e atenção 001 htgltimos inll-rellll dOI portes em causo. Devera
lancor ponles culturail, econômical, sociais e pollticQI. renunciando (I
estribilhol .q ue dividem ou aeões que acendem inutilmente as paixões.

-185 -
G cPERGUNTE E RESPONDEREMOS. 230/19$5

Os horrores do ódio e do violência são motivos lobeios paro incentivar


lo! çonversão; cenOlmos ,.cunol materiais e lalenlO$ inlel~luoi s são
dedicados e xclusivamente G prl;lduçõo d e almas».

8. O valor ela Iuslisa In' 8)

A promcx:êio do paz eslã muito ligada à da julliça. O conmlo


Este-Oeste. de ordem polllico, nôo 6 o única ameaça à paz; levem-u~
em conto também as lens(Ses Mar1o-Sul, qUlI decorrem do subdesenvol~
vimento Cnão (oro CClusodo por injustiças gfa"es I dos povos do hemidé·
,ia Sul. Sendo onim, o procuro do paI: será ocompanhada d. procuro
de jusl ico paro os povos subdesenvolvidos; em vez de se oplicCl r tania
d inheiro no fobric;oç(io de armamentos, seria d esejóvel que l e pro-
moveue o desenvolvime nto dos noçÕes do Tercei ro Mvndo; eue desen-
volvimento não hó de ser meromente econômico e tecnológico. mo.
levoró em consideraçiio o mistério da peSlDO humana. que nõo foi
fei to OpelltlS parG o bem-estar material. mos, onles do mais, paro
Deul e OI valores definitivos.

9. O valor da portidpaS;ão In' 9)

Um mundo de justiça CI pOJ'. nSo pode ser criado opengs com


polClvrgl, mCl. deve resullClr dos esforços e dg colaboração de todos
OI inte,,"odos. cf: euendal qve cada ser humgno lenho o sentido
do portidpgção ou de ser parle oli"CI ngs decisões qve forjam o destino
do mundo. No patsodo, o violência e o injustica li...erol'll freqÜente-
mente G sua raiz na sen sação que os pessoas experimentavam. de eltal
privados do direito de plasmar OI suas prõprias 'lidou. Todavia este
direito h6 de ser ell.. rcitado com disce rnimento; com efeito, a complexi-
dade do 'lido na sociedade moderna exige que o povo dele9ue oos
.eul dirigentel (I poder de lomor decisões; é poro dosolar que e .. es
dirigentes o foçam para o mgiar bem do mesmo povo e de todos OI
povos.
Além disto, nole-se que o direito de parlicipor '<lmb.m impliça
obrigaç6el COmo (I de respeitar o dignidade do pessoa humano e (lS
legitimo. deci~s dOI concidadãos.

10 . A vida: um cominho de d"cobertas (n' 10)

Conltruir (I vida humana Individuolmenle e em sociedade é. ./I'rar


POI um tltmint!o de descoberlos: cdescoberla doquila qu....6. sois,
deJCob@llo dos volorel que plosmam a vossa vid<l, descoberta dos

-186 -
o PAPA AOS JOVENS 7

povos o do.$ naeões aos quais Iodos estão ligados. por laços de soli.
doriedade»_ Aliás, deICobrir .,olores não é alilude eKclusivo do idade
j""enil, mos e al.Qo que o homem deve praticar durante o vida inteiro.

«o mundo preciso de jO'f'enl que lenham bebido com lodo o serie.


dade nos fontes do verdade. Tendes de 'os pôr à escuto da verdade,
e pora isto necessilai$ da p",rUa do coracão; haveis de compreender
a verdade, e pora isto precisoi, de profundo humildode; londo do Vai
submeter a elo e de a partilhor, e poro isto precisois de forca para
redstir às tentacões do orgulho, da aulo-suficil!ncia e dos manipula-
eões. Deveis desenvolver em vós mesmas \Im profunda sentido
d. responsobilidade:D.

11 . A responsobllidode da jvventude cristã In' lU

c:E meu desejo recomendar,,,ol vivamenle este sonlido de respon·


,obitidode e de compromisso poro com os \lolores ,"orais o vós, jq.,ens
calólicas; e, juntamente convosco, CI todos os irmãos li irmãs que (on-
fessom ° Senhor Jesus.

Como cristãos, estail conscientes de ser filhos de Deus e de


participor da naturela divina ... em Cristo Icf. 1Jo 3 ,2, 2Pd I,";
EI J,19). Cri~ to Ressuscitado dá-vos o paI e G reconciliação como leU
primeiro dom . .. Esla paI foi derramado nos naSlos coroçêSel e aí
edá o habitar mais entranhado menta do que todos OI inquietude s do
nOllo menle e do que lodos os tormentos do nosso COlOÇaa . .. Mas
Dells vos dá Q sua paz: como um bem que ponais gUQrdar apenas
poro '16" mCls como um te,o",ro que pOlliuis lomente quando o parti-
lhais com os outrol.

Em Cristo podeis acreditar na luturo, mesmo que nao panais dis.


cernir a forma .que ele reveslir6; ... superarei, assim o desalento
peronl. o magnitude dCl lar.fa e do preÇ:a o pClgar_ Aos dlsdpulos
desonimados no caminho d. Emous o Sennar disse , 'Não linho o
Messias dI! lofrer essas coisal e assim entrar no sua glári01' {lc 2", 261.
O Senhor dirige estas me ,mal polovras o oodCl um de vás. Por isso
nóo tenhais medo de comprometer a vouo .,ido ao I.r..icq da paz:
e do Iustiea. poil sabeil que o Senhor está convosco ao longo d.
todos os \lOUOs cominhol:t In' 11 J.

-187
8 "PERCUNTE E RESPONDEREMOS" 230/1985

1.2. O Ano InlernocionoJ do Juveml,ld. (n' 121

ct~esle ano que o ONU declarou Ano Internacional da Juventude.


~ujs dir~ir a minha J'IIeO$ogem anuol pelo Dia Mundial da POOL o
todos vós, jovens do mundo inteiro .. . Que esl. ano seja poro coda
UII d. v6s um ano de mais profundo empenho pela por e pelo
justiça I. • . Sejo quol fOf o cominho que tomendes, percotrei-o com
elperanco • confianeo , esperança no fuluro que, com .a ajudo d. Deus,
podereis forjOt'I e (onfiontO ..... Deul, que velo por lodos .,ó, •
pOl"
tudo O que dizeis • foteis .. .
o desartO do paz: é grande, maio reCOmpensa ê oindo moior,
porque o vauo empenho em tOlfar do paz vos levoró a deKobri, o que
e melhor poro vós mesmOl, ao procurordes aquilo que ê melhor para
os demais. Estofeis a cre5cer e a paz. e5tarcÍI a crescer conVOKO».

Esle Ano Internacional da Juvenludf! seja também para OI pois


e educadores ocasiõo fayoráyel para uma revisão de suas responlabili·
dades para com as jovens. ACOntece que muitas vezes os leus con-
selhos são recusados, e o que fazem é posto em causa. No enlanlo,
eles lêm muilo para dar aOI jovens em maléria de sabedoria, coragem
e experiência. A lUa mislõo de acompanhar os jovens no busca de
orientocão nao pode ser ossu",ida por ninguém oulro. Todavia «os
vaiarei e os modelai que apresentam 001 jovens, hõo de se espelhar
claramente na vida dOI mais velhos: d. oulro modo, os suas palauas
ficariam privadas de poder de persuasiio, e a sua vida marcado por
um.g contradi ~ão quo os jove ns com toda raxõo "õO aceitariam»
In' 121.
oS. Pad'e tetlnino oSlegufondo aos jovens as luas orações e
pede aos irmõos 11 i,mós que se aSSOciem Os suas preces, paro que o
Pai ilumine a todos . foco 'lu. « os Jovens e a Paz na v.,dade co·
minhem juntou!

• • •
Em poucas palavras, a Mensagem de .loão Paul() II a os
Jovens poderia ser assim compendiada:
I} As desgraças geradas peta violência incitam os ho-
mens, especialmente os jovens (esperança d() futuro) , a cons-
truir um mundo novo de paz.
2) A procura de paz exige clara n<>cão a respeito do que
seja o homem : coisa, Instrumento ou pessoa digna de respeito?
-188-
o PAPA AOS JOVENS 9

3) A resposta a esta pergunta supõe nitidez a respeito


de outra questão: quem é o vosso Deus? O homem. rol feito
para o Absoluto ou para Deus, e só poderá ser devidamente
entendido se for colocado sob a luz de Deus.
4) Procure, po[s, a juve ntude optar pelos valores que mais
condigam com essa nocão de ser humano; a descoberta de tais
valores exige pureza de coração c humildade.
5) Em particular, a juventude catôlica pode estar con-
fiante quanto ao futuro, pois o Senhor lhe assiste com a sua
paz e a apola na sua tarefa de transmitir essa paz ao mundo.
6) Colaborem os mais velhos com os jovens, dando.lhcs
algo da sua experiência e sabedoria, não somente por palavras,
mas também por seu t~temunho de vida.
7) Todas estas Intenções sejam conriadas ao Pai do eCu
em instante ()r~o.

• • •
CUESOS I'OR CORRESPONDl':NCIA
Prcmdo lottor, para consolidar soa fornt~o, você te m à
dislM»sfrão dois Cursos por Corl'CSJlOlldência:

1) Curso Bibllco (Introdu('ão Geral.lntrodut.ão ao Antigo


Testamento, Introdução ao Novo Testamento, Exegese de
Gn 1-11) em quarenta '& um módulos, ao preço de Cr$ 41.500,
1~'''Cis em parcelas, ã. medida. que o eu.TSist..'\ vai I.rogre-
dindo. Se possiveI, utitizar a conta bancária n' 70-789-2 do
BRADESCO. Agêacln 3019, RJ.

2) Curso do lnicl~ Teológica (estudo de Deus. da


Criaçio~ do Pecado, de Jesus Cristo ... até ns NOvlss{m(5) e m
trintA e cinco módulos. Os dez primeiros módulos fic.am por
Cr$ 10 .000. Se possível, utlUzar a conta. bancária D" 70-888-7
do BRADESOO, Agênda. SOl9, 1tJ.

As inscrições podem ser feitas em qualquer época do an'O.


sem prazo para. terminar. A quem concluir. se dará. um Cer-
tificado da FAooIa. de Fé e Categuese «Mator EocIesiae_. Eu·
dtlreoo úntoo: Escola «M&ter EccIesIa.eD. Rua. Benjamin Com-
tan~ 28, 20:141 - Rio (RJ).

-189 -
Armas Atômicas para Impedir a Guerra 1
Em a'''''"= As arm .. atômicas 11m suscitado sérios probfema. d,
eoftscl'ncia. De um lido, aabe-se qUI' guerra nuclear' Inlqua, pois nlt
auJelta a .letar populaçoes civis 8 provocar o quasl-suicldio da humanidade;
de outro lado, a po$H de armas al/)mlcu por parte da. naçoes podaroau
li o unlco maio .flcaz par. Imp&dir li próprIa guerra atOmlca mediante a
chamada ~polftlca.
de dI88U••lo nuclea''', Diante do paradol«) •••lm IIIxl,-
lenl., I Igreja, alr."'" do "u magilltérlo, reconhece lob Ctlnd~, •
legltlmklade da dlssut'lo nuclear: .a" um melo provl:s6rio de evllar I
guerra, Entr.rnanlê$ procuram os dirigentes da, naç6ea, com • pONI....1
breYlctacM, chegar a acordo aobre o dnarmamenlo; este h6 d, ser sempre
bilateral. oonlrolh.l. A16m disto •• IgreJa pacla que 0$ palses possuidores
de arma. nucleares fIA0 procurem a auptlrlorldada ou • he~onla neala
parllcular, mas mantantlam o equlllbrlo entre 81, só fabricando as armas
neeess6rlas para estar !li aUura da potência b6l1ca dos oUlrO$ povos.

• • •
A Imprensa tem noticiado as tentativas de conversações
entre dirigentes russos e norte-americanos a respeito de anna-
mentos atômicos, que têm o poder de destruir toda a popula-
ção da terra. Dizia o próprio cientista Prot. Albert Elnstein
(t 1955) , um dos pioneiros da conquista da energia atômica:
eO poder do átomo tudo mudou, exceto a nossa mentalidade.
Ê preciso que pensemos de modo essencialmente novo, se
queremos que a humanidade subslsta ~ . Com estas palavra,>
Einsteln queria aludir ao enonne alcance da energia atõmica
aplicada. li. guerra e ao fato de que os homens não haviam
tomado plena consciência do poderiO destruidor e homicida de
tal recurso bélico. Como se compreende, o emprego de tais
annas suscita sérios problemas à consciência cristã e, por isto,
tem levada as autoridades e os teólogos da Igreja a se pro-
nunciar sobre o assunto. Os defensores do uso das armns
nucleares evocam a edissuasão nucleau, isto é. o tato de que
a posse de armas nucleares por parte de a1guma naeio dis-
suade as demaLs de Qualquer agressão bélica; por conseguinte,
a posse (não o uso) de armas nucleares seria indiretamente um
elemento mantenedor da paz neste mundo; seria, sim, uma
tática de Intimidação, com efeitos pslcol6gicos e nio violentos.

-190 -
________________~A~R~M~A~S~A~T~O~M~I~C~A~S~?______________ U

Examinemos a proP(Slto alguns pronunciamentos da Igreja,


aos quais se acrescentara. breve arrazoado teológico.

1. Pronunciament05 da Igreja
Mencionaremos as declarações do Concilio do Vaticano n,
a mensagem do Papa João Paulo II à Organiza~ão das Na·
ções UlÚdas e textos de duas Conferências Episcopais.

1.1. O Concilio do Vaticono 11 11962-19&51


A Constituição Gaudiwn et Spes (1965). sobre a Igreja no
mundo moderno, n' 81, abordou a questão das annas nucleares.
Antes de considerannos diretamente os dizeres do texto, três
observações parecem oportunas:
1) O Concilio não usa a expressão «armas nucleares»,
mas cannas cientificas., para dar à sua posIcão a máxima
abrangência; é claro, porém, que tem em mira principalmente
as armas atômicas.
2) Muitas vezes os Padres conciliares receberam a soli-
citacão de condenarem «a bomba atômica». É de notar, p0-
rém, que nAo o fizeram. porque se trata de um Instrumental
Que não pode ser sujeito de moralidade i o que faz a morali-
dade das annas nucleal'C$, são as intenções c fi. conduta dos
homens que as usamj estas, sim, como atos humanos e res-
ponsáveis, são passivas de moralidade.
3) Ao considerar a ccorrida 'às armas», a Igreja nio
tencionou aludir a alguma nação em particular, mas, sim. no
pl'OC'e$SO armamentiSta como tal. Ela deseja lembrar que não
se deve julgar facilmente que tal processo seja uma fatalidadej
antes. é preciso procurar atentamente os meios de o remover.
Todas as naeões poderosas estão implicadas nisto. Em suma,
a Igreja deseja contribuir para uma tomada de consciência do
problema, único meio de evitar catãstrofes fatais para a huma-
nidade.
Eis, a seguir, o texto do Concilio que nos interessa:
ce .....rdod. qU41 as armas científicas não se ocumlllom openos
paro ser aplicados no tempo do guerra. S8ndo opinião corrente que
Q forço defensiva de cada lado depende do capacidade fulminante

-- 191 --
12 cPERCUNTE E RESPONDEREMOS:. 230/1985

em repelir o odvenório, e,la acumulacão de armas, cada ano mois


volumosa, eurce uma influência incomum poro Cltemarizar paulveis
adveu6rios. Muitol conlideroll'l iSlo corno o mois eficaz de lodos OI
ucurSOJ para garantir hoje uma cerlo paz. entre os naeões.

Se ja quol for o puo deste rgciodnio, con"en/Oom'se os ho ... enl


de que Q corrido CllmOll'lentista, pala a qual não poucos na/Oões apelam,
não é CClminho i"'Clli"el paIO ouegUlor firmemente ° paz; nem o
ouim chamado equilíb,io que ,.,ulto deda corrido é o paz estóvel
e verdadeiro. Bom longe de eliminar OI COUSOs de guerra que doi
surgem, antes aos pOUCOI os agravam, Enquanto se goslom enormes
SOInOS no confltCcão de armas sempre nOVaI, não se pode dor rem'dio
sufidente o lonlos misérias que hoje granom no mundo Inleiro. Em
vez de se sono rem em verdade o pelo base os conflitos entre as na/Oões,
oulros porles do mundo sõo por .Ies conleminados. I: preciso procurar
novas ceminhos que procedem de uma refOrmo dos espiritos, a f1m de
quo HI removo esle escândalo, e ao mundo, libertado do pavor que
O oprime, pano ser resliluldo o paz vorderdoira,

Por Islo mois umo voz: devemos decloro" o corrido armomenlilto


é o praga mais grove do humanidade, que lesa intoleravelmente os
pobres. E de se temer muitíssimo que, le perdurar, ela produto um
dia todas as rulnas "efastas, cujos Inltrumentos jé. prepara ~ (Gaudit.mt
el Spes n' 811.
o texto pode ser assim resumido:
1) O Concilio reconhece que a estratégia do. dissuasâo
contribui realmente - no contexto histórico atual - pnra im-
pedir certas guerras (as mais desastrosas que possamos ima-
ginar),
2) Acrescenta, porém: cMultos pensam que tal seja o
meio mais eficaz para garantir atualmente uma certa paz entre
as naçóes'O. Note-se que () texto apenas refere esta opinião
(ou convleção) sem a aprovar. A continuação do texto mostra
que o Concilio não foi favorável à tese segundo a qual o recurso
mais eficiente para manter a paz é a posse das armas nudeares.
3) O Conelllo não se pronunciou diretamente sobre a dis-
suasão nuclear, pois, após referir-se a ela. prosseguiu: eSeja
qual for o peso deste raciocínio:., Esta reserva significava que
o problema. extremamente novo e grave, exigia reflexão apro-
fundada, que os padres conclllan!S não tiveram o tempo de
realizar. Parece evidente, porém. que o Concilio não quis COR-
-192 -
ARMAS ATóM I CAS? 13

siderar a dissuasão como meio sôlido e habitual de manter a


paz; antes. encarou-a d entro do quadro da corrida aos arma-
mentos, que o Condllo julgou com severidadc. O texto con-
ciliar enlaUza a necess idade de 5(! procurarem <vias novas ins-
piradas pela reforma dos espíritos para que se ponha fim a
tal escândalo c se possa libertar o mundo de uma a ngUstia
que o oprime. oCerecendo-se-lhe uma paz verdadei ra~ . Tais
palavras referem-se, .sem duvida, ã substituicio das armas pOI'
recursos mais humanos para assegurar a boa convivência entre
os povos, A propósito deste texto conciliar escreve o Padre
Dubarle:

_$o menlCJ depois de longa men te d iscutido e ponderado em :ua$


dilleual foceteu, o queltõo dOI ormclS nucleares foi redigido e 1I0tado
1'10 Concilio. As hesiloçõel e objeções de grande número de podres
conciliorel por ocasiao do 11010,60 re llelam que o assunto ero espinhoso.
Foi ell. tolvez o ponto sobre o qual o teologia moral ma is dificuldodes
encontrou poro emil it um julgomento evitondo certo limplismo d e ro·
cioclnios (elo sDuvoQgDrde de lo PC;'( el lo condruction <le lo com-
munout! des nOlion u, em .. Voticcn 11 . t'Eglise danl 1ft monde de ce
tempI:', f, li, Comm entQi rC$, Pcr;s 1967, p. 5811.

1 .2 . Mensagens d. João Poula 11

Aos 11/ 06/1982 O S. Padre João Paukt II c!nviou Mensa·


gero â 11 Sessão Especial da Assembléia Geral das Noçócs
Unidas sobre o Desarmamento.

A tônica deste texto se encontra na seguinte passagem,


que nem sempre tCm ~ido IlC!vnda nn devida conta :

. 0 enlinamento do Igreio é, pOt'tonla, doro e cOeren te. los-


tima o eo,.1da aos ormaln8nlol ; pede progressiva red ução mútuo e
conlrol6vel dos mesmos, auim çamo mais caulelo conlra 01 ponivcil
enOl no uso das ormos nUclearel, Ao mesmo tempo, o !.grejo pede
relpaito li independêncio, li liberdade e o legitimo segurança de
coda noção. O. sejo tornor- IIOI cienles do prcocupo.;õa candonte do
Ig reja Cal61ico • dOI esforçol que Elo flÕO deixotô de desenvolver
enquonto os ormomenlol não ellive rem inteifomcnle sob conlrole, o
seguron( a de lextol oi nocõel gafonlida, e enquonto 0$ coroçoel de
lodos 01 homens não eltillerftm voltadOl paro opções é rico I que pro-
piciem uma paI duradoura '.

- 193 -
14 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS.. 230/1985

o S. Padre lembra ainda a necessidade de se entabularem


conversações sobre o desarmamento e de não se perder de
vista que as armas nucleares não são os únicos meios de guerra
e de destrulcão.

Feitas estas observações, João Pa ulo n passa a considerar


diretamente a. d issuasáo nuclear usando a seguinte linguagem:
«Nos oluois condicões, uma diuuolão bos.ado sobre o equil!-
brio, não como fim em si, mas como elopo no via de um dcsarma-
menlo pro9renivo, pode oinda ler tido como morolmctnle oceilõvel.
Todovia, para assegurar a paI, é indisperuóvel q ue o s povos nõo SfI
contentem com um m(nimo, sempre omeaçado por real perigo de
explosão •.

Nestas arlnnaçôes. é certo Que cada palavra roi cuidado-


samente ponderada. A dissuasão e reconhecida como moral-
mente aceitável, desde que se preencham quatro condi ÇÕC5:
1) cnBS a tuais condlcões», ou seja, nas circunstâncias
desta fase da história;
2) cuma dissuas,ão baseada sobre o CQuilibrio:t, isto 6,
sem procura de superioridade de uma parte sobre a outra, pois
isto alimentaria sem fim a corrida aos armamentos;
3) cnão como fim em si, mas como etapa na via de um
desarmamento progressivo,.. Aqui é considerada n intenção de
Quem recorre à dissuasão, como tambem o carnter provisóriO
desta;
4) cnão se contentem com um minimo ... " em mali!ria
de desarmamento nuclear, pois 8 existência mesma de armas
nucleares, qualquer que seja o volume destas, constitui uma
ameaça lX'nnancnte às nações, inclusive a populações civis, que
poderiam ser vitimas dos desvarios de um chefe poderoso.
Como $C VC, a dlssuasão nuclear 6 reconhecida como licita
na medida em que é um mal menor na atual co njuntura inler-
nacional e sob a condição de que todos os esforços sejam envi-
dados para tirar a humanidade do trágico impasse em que foI
precipitada. Assu mindo tal posição, João Paulo lI, de um Indo,
se recusava a ceder às instâncias (a ele freqüentemente diri-
gidas) de condenar categoricamente a dissuasão nuclea r ; o
S. Padre, nas pegadas do Concilio do Vaticano 11, estima que
-194 -
ARMAS ATOMICAS? 15

tão grave problema deve ser considerado dentro da situac:ão


histórica do momento: de outro lado, também na perspectiva
do Concilio, o P.apa quis ver na dissuasão nuclear apenas um
meio provisório, não definitivo, de assegurar a paz. Entre a
posição do Concilio do Vaticano 11 e a do Papa João Paulo 11
existe uma explicitação e um amadurecimento, provocados por
numerosos estudos de teólogos.

1 _3 . D.darasôes d. Conferincios Episcopais

Três Conferências Episcopais tomaram posi~ão em tennos


assaz desenvolvidos frente à dlssuasáo nuclear: a da Alemanha
Ocidental, a da França e a dos Estados Unidos. A seguir, pro-
poremos o conteúdo da primeira e da última destas declarações.

1 .3 . I . Conf.rência Episcopal da Alemanha Ocidental

Em abril de 1983, os Bispos da Alemanha Federal publi·


caram 8 Carta Pastorallntllulada <A Justiça trla a paz...
Este documento lembra a ameaça permanente que os
Estados totalitârios fazem pesar sobre o mundo inteiro. Isto
obriga as nacôes a procurar desenvolver sábia politica que pro-
mova a paz; este objetivo, porem, não pode ser atingido no
momento presente sem contribuleão militar:
c Esto contribuição, em illtima instância, é a conseqüência dQ mio
striCl resultante dCl quebro do homem, que torna necessório Q d.feso
contra o injustiço. Reconhecer a forço militar como elemento do polí-
tico de le.sJuronco nõo significa rec usar o procura de sotuc:õo dOI con -
flitos por "ia n60 "lolenta •.

o que se deve ter em mira, é impedir a guerra : cO rear-


marnento e a estratêgia militar hão de ser julgados moralmente
a partir deste objetivo _.. Tal exigência se toma mais aguda
$C levamos em conta o Cato de que estão em causa armas de
extermlnlo nuc1ean.

Pro~em OS bispos: cA tolerância moral da dissuasão,


dado que não se pode l'énunciar a ela imediatamente (pois ela
possibilita as conversações sobre o desarmamento) ... está
ligada às mais severas condições». E quais seriam tais con·
dlções? - EHas :
-195 -
16 cPERCUN1'E E RESPONOEREMOS ~ 2301l9S5

1) o objetivo supremo de todas as providências a ser


tomadas serã sempre evitar a guerra. Em conseqüência, dodo
recurso a cstratêgias e armas nucleares que não leve em conta
esta fin alidade, sã poderá merecer uma eondenacão radlcah;
2) os metos militares já existentes ou por ser ainda fabri·
cados não devem tornaI' a guel'l'tl. nem mais realizávC!J nem mais
verossimil;
3) só se deve adotar o tipo e o número de recursos mili·
tal"eS necessários para que a dlssuasão possa ser eficiente;
4) todos os recursos militares hão de ser compalivels com
OS objetivos de um desarmamento e ficaz e bilateral;

5) ê necessário cuidar sempre de imunizar as populacõcs


civis rrente às ameaças nucleares;
6) tenha·sc consciência de que a dissuasão nuclear não ê.
n longo prazo, um Instrumento a pto a evitar a guerra.

1 . 3 . 2. A Conferinda Epb,opal Nol1e-aJhricana

A Carta Pastoral do episcopado dos Estados Unidos inti·


tulada .0 desario da Paz. resultou de dois anos de estudos c
debates qUe terminaram em maio de 1983; taiS debates ultra·
passaram mesmo as frontei ras dos Estados Unidos nâo somente
por causa do seu conleüdo. mas porque os ante.projctos II e l i
foram entregues ao públiCO pelos próprios Bispos. O próprio
ante·projcto I foi amplamente divulgado. Ê inten:ssante acom-
panhar a evolução dos arrazoados do primeiro ao último texto
discutido.
Eis as linhas principais do anlc·projclO I :
. Um abandono u:'pido. brUJ(O o uniloteral de lodo dinuasê'ia
n u<loor poderia 9 flrar no mundo perlgCll(l instabilidade político e Mi.
litor. Ai armas nucleares sovió tico s constituem uma omeo(o para O
ginero humano tão grande quanto .as nDSSOS. Hõ Q\lem nos chame
insistentemente a otençôo poro o lato de que, se os Estodolo Unidos
,enundCllleM unilal.rolmenle O" IUOI armas. isto dil'llinuirio d . muilo
o .sUmulo pora a União So... iética negociar a reduc;ão e o eliminocão
dai IUOI ormos. Todoyia uma tolerância temporária da di nuosõo
nucleor não de ...., ser confundido com a aprovação da mtl ~ma ••

_196 -
ARMAS ATOMICAS? 17

E o texto acrescentava:
« Por moi, insatisfatório que seio a prática ome,itona da dil-
suasõo, cremos que a cessacõa desta seria ainda pior. Verificomol
anim o paradoxo da diuuasõa no mundo mode,no ~ .
Como se vê. a tomada de posicão deste texto ainda é insu-
ficientemente elaborada.
O ante-projeto 11 Inspirou-se na Mensagem de .roâo Paulo 11
à ONU. baseando-se sobre duas afirmações da mesma: 1) a
dissuasão. mesmo que mantida sob controle e equilibrlo. não
pode ser aceita como um objetivo final; 2) seja, antes, uma
etapa na via do desannarnento progressivo.
O novo texto se detém no enunciado dos aspectos negati-
vos da dissuasão: 1) a existência de armas estl"atégicas nuclea-
res pode sempre dar margem a que se violem os princípios da
discriminação (ou da imunidade da população civil) e da pro-
porcionalidade (procura de superioridade de uma das partes
em causa); 2) são Imprev:1sivels os limites da destrulcão que
ocorreria caso a dissuasão fracassasse; 3) as relações polltlcas
vigentes entre os povos que praticam a dissuasão, são as de
desoonfianc;a mútua, acentuada ao extremo; 4) os gastos exi-
gidos pela dissuasáo poderiam Sc:r aplicados à oblen~ão de
outros fins, de indole diretamente pacifica (alimentação, edu·
cação, saÍlde ... ).
A seguir, o tcxt1l considera Que, como recurso provisório,
ditado por circunstâncias momentâneas, a dissuasão é aceitã-
vcl; determina, porém. mais precisamente as condições de tal
aceitação:
1) a dissuasâo exisla tão somente pal·a impedir o USO de
armas nucleares por parte de outras nações; pel' conseguinlt!,
qualquer proposta para ir além deste obctivo deve ser rejeitada;
2) se a dissuasâo é o objetivo, é preciso l-esistir a qual-
quer tentativa de conseguir a superioridade em matéria de
armamentos nudc-ares;
3) se a dissuaSrão é uma etapa na via do desarmamento
progressivo, todo projelo de mudança na política nuclear há de
ser cuidadosamente examinado para se averiguar se CQndlz ou
não' com esse objetivo final.
Como se vê, o principio da dlssuasão nuclear é reconhecido
como válido. mas cercado de cautélas para se reduzir a sua
apllcaçio ao mlnlmo indispensável.
-197 -
18 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS _ 230/1985

o ante-projeto III _ l'6ultado de novas sessões de estu-


dos realizadas com representantes de outras Conferencias Epis-
~p8is e da CUria Romana - manteve-se fie) ao esquema do
anterior, tomando sempre por base a posiçâo do Papa João
Paulo U ; atenoou, porém, um pouco o seu espírito critico. Eis
um tópico significativo de tal documento:
«Se bem que reeonllflcamos a necessidade da diuuasõo, nem
lodol ai formal desto são moralmente oceitóveis _ _ _ Em particular,
não 6 ",olalmente ocoit6vel (I intençôo de matar inocentes .•. Um\'!
de nossal preoc... pacõe, concretos foi precisamente a q .... ltão d •
• ober se a prótico de diUUOJão nuclear dos Eslodos Unidos ilnptico
ou nôo 111 intencão de alingir populocõel civtli~_

Os Bispos concluem aeeitando a dissuasão nuclear sob con·


dições bem definidas; observam ainda que não pode ser tida
como tâtica adequada, a longo prazo, para se manter a paz;
é preciso aspirar eficazmente a uma paz sustentada por moti-
vos mais humanos e fraternos do que o poderio das annas.
Tal é a posição definitiva do episcopado norte-americano.

2. Reflexão final
::t vasta a blbllografia publicada sobre o assunto tanto por
parte de teólogos católicos como por protestantes e outros
pensadores.
Encontram·sc aqueles que se oJlÕcm peremptoriamente ao
uso das annas nucleares, argumentando, por exemplo, do se-
guinte modo : Se ê moralmente condenâvel, em todo e qualquer
caso, o uso de armas nucleares, então também é condcnâvcl a
ameaça de utili7..1-las. Ora a posse de armas nucleares vem a
ser uma ameaça de utilizã-las. Por conseguinte, ê moralmente
condenAvel, como também moralmente condenãvel é a produ-
ção ou a fabricação de tais e.nnas.
Este argumento, porém. não é válido segundo outros auto-
res, pois parte de premissa falha; com efeito, não se pode dizer
que o recurso às armas nucleares seja sempre condenável, pois
elas poderiam seI." aplicadas contra objetivos espeCificamente
militares, sem danos colaterais desproporcionados. Uma nação
que renunciasse unilateralmente a todas as armas nucleares,
expor-se-ia às a~aças e agressões daqueles que as tivessem
conservado.
-198 -
ARMAS ATOMICAS?

o Que toma espinhosa a questão, e o caráter paradoxal


da dissuasão nuclear: segundo esta. as nações ameaçam reali-
zar estratégias que não podem ser mora)mcntt! justificadas.
Ao mesmo tempo. porém. tcm a intenção de evitar a guerra
medlantt! tais a meaças de guerra_ Movt!m-se. pois, em d1rec..'ÕCS
antitéticas a intenção e a ação: aquela visa a impedir a guerra,
esta prepara o mais virulento aparato bélico, com todos OS
riscos de desencadeamento que lhe são inerentes. Ê este para-
doxo que angustia a consciência cristã e que um perito do
cStockolm International Pcace Resea.rch InstilulC» assim for-
muja: cAs armas nuc1eares são úteis a um sô objetivo: o de
assegurar que jamais serão utilizadas • .
Neste contexto, o Pe. Mac Comick, ramoso teólogo mOra-
lista, chega a conclusões muito sábias, que resumem quanto
ioi até aqui ex.posto:
, Não exisle escolha que não lenl10 algum aspecto lomenlóvol
e deslruidor. Nêio podemos juUilicot nem o utilização nem CI$ ameQ'
lOas de utilizor armas nucleares. Doulro lado, porém, nêio nos é
licito favorecer OI chance. do emprego de armol nucleores que pare-
cem decorrer de um desarmamento unilotefClI. Tal situaçgo é para-
doxal. A delgra<a que deve ser evilQda a lodo preço, .6 o pode
ser atuolmente le 10 mantém os pOS5ibilidades de 101 de$graça. Exis.
tem riscos no pOlle de ormas nucleores. Mos também existem riKOI
no abondono unIlateral da, me$mas d.nlro do otuol momento histó'
rico . .. A pereepeõ o e a avalioçõo d. lois riscos variam d. penoa
a pessoa, mesmo entre oquelos que lim boa vontode ou enlre oque-
las cujo espírito e coroção estõo firmemente voltados poro a preser-
yação da paz. Em tal silvação . .. a clClreza moral é algo de exlre'
mamente difícil. (c Noles no Moral Theology: Nuclear Delerrence Clnd
Nucleor Wan, em cTheologico l Studies:» 1983, P. 112,.
O mesmo autor, porém, reconhece a Iiceidade da dissuasão
nucJcar como táticn provisória, utillzilvel enquanlo os dirigen·
tes das nações desenvolvem as negociações desannamenUstas.
O desarmame nto unilateral não pode ser tido como imperaUvo
da consciência cristã.
Na verdade. tais eonclusóes coincidem com a posição
assumida tanto pelo S. Padre João Paulo 11 como pelas Con-
ferimcias Episcopais citadas.
Este artIgo multo deve ao esludo do te610go francês Pe. Ron6 Costo,
J)rolessor do lnslllulo Católico de Toulouse, publicado com o titulo "Lo pro-
bl6me 'Ihlquo da La dluUIIllo n nucl6alre", em "Esprll el vte", ano 93,
n'? 39, 29/0911983. pp. 513-52B.

-199 -
Que dlz.r?

Novas Técnicas de Procriacáo


Em .lnIH.: Slo numerO$" as lecnlces utlllzadas pela Engellharla.


Genétlc. par. produzir Crranç.lS por via arllnelal; tanto !n ....0 qUlnlo
In yftro 16m-ae mul1lpllcado, com hllo, as experl6nclu. De modo o"al,
porém. observ..... qua tais realluç6es que Ifveram origem no gado. radu·
zem a procrlaçlo humana a um processo de bloqulmlca , ao qual nlo Inte·
re&Sa o amor dos doadores de 118mente \/Ital; assim a pessoa humena •
degradada, o que ocorre de modo especialmente pungente no caso das
"ml.. de aluguel- e ~mles da s ub5li1ulçlo·.

A única modalidade de Insemlnaçlo arllncial que pode merecer alen-


çlo mais favorável por pana da consciência moral crlslA, é a que se dj
entre marido e mui.,., In vWo; em tal ca.o, a Intervençlo *nlca tam em mira
prlel.amenll secundar ou lorl.lecer a netureza dentro do .au amblenle
de lamltla adequado. A fecundaçio ,,!lticlal homóloge (enlra marido e
mulher) com recurao a proveta lem provocado o aacrmclo de nlo poucos
ombrl6es lidos como dlslormes ou lndesejllvels pelos lnlerestados; li o
que Iorna tal operaç.lo moralmente condenAvel.

em 8uml, perguntl'le II na reaUdada prética hé vantagem em aumen·


tar o numero dI N,clmenlOl no mundo quando, por um lado. le reglllra
a IJlploslo demogrélica porladOfa do l.rlOl problemas a, por outro lido,
e Inorme o número de Mbebês da •• rjela· ou de crlança, sem lar.

A Engenharia. não somente a do mundo mecánko, inrra·


-humano, mas a Engenharia Genética humana, tem evoluido a
passos largos, lançando cada vez maior número de Interroga'
ções ao obsenrador. Os cientistas, no seu afã d@ descobrir' e
dominar os segredos da natureza, não têm recuado diante de
algum tipo de experiência, obtendo resultados surpreendentes,
que fatem pensar. .. A consciência reflete sobre a ciência.
Nas paginas seguintes, proporemos uma resenha dos prin'
clpals avanços da Engenharia Genética aplicada ao homem e
à mulher. - Após a exposição, serão formuladas considera-
ções éticas sobre tais operações.

- 200
NOVAS TECNICAS DE PROCRIAÇAO 21

1. Fecundas:ão «in vmo» I

Distlnguem-5e cinco modalidades de fecundação em pro-


veta:

1.1. Oenlro do UlICI11 181ft COfIgelornmlo


Aos 25/ 07/ 1978. nascia Loulse Brown, denominada co pri-
meiro be~proveta . _ Tal experiência, tecnicamente bem suce-
dida, provocaria novas e novas tentativas cada vez mais requin-
tadas.
Sabe-sc que a Sra. Brown sofria de obstrução das trom-
pas e, por isto, era estéril. Em conseqüência, os Drs. Edwards
e Steptoe recorreram a um processo revolucionArio: retiraram
do ovário da paciente um óvulo maduro e o puseram dentro
de wna proveta em presenca da semente vital do marido. A
fecundação se efetuou: dentro de três dias, o ovo fecundado
se divIdiu em duas partes, em quatro, em oito. .. Nestas con-
dições, o embrião rol colocado no ütero materno, onde se fIxou
nos dias seguintes. Começou então a gestação que daria seu
fruto na data indicada. Tal técnica foi denominada FIVETE
(Fecundação In Vitro e Transferência do Embrião).
A façanha dos Drs. Edwards e Steptoe supunha dez anos
de experimentação; muitas sementes vitais masculinas e femi-
ninas. assim como numeN>SOS embrióes, haviam sido sacrifica-
dos. Com efeito; veriCicou-se que espermatozóides recém-emi-
tidas pelo organismo nâo são aptos para a fe<:undação; preci-
sam de passar por um tratamento chamado ccapacitação. , que
nonnalmente ocorre durante o trajeto dos mesmos nos órgãos
femininos. Os médicos tambem têm que observar um certo
sincronismo, de modo qu~ a transferência do embrião se dê no
momento exato em que o muco uterino está em condições de
o aceitar. Alêm disto, requerem-se circunstâncias de tempera-
tura, atmosfera, escurIdâo . . . para o bom êxito da operaçio.
Conscientes disto, os pesquisadores procuram, de maneiras
diversas, melhorar a recnica e seu rendimento. Logo após o
nascimento de Louise Brown (julho 1978), conseguiam sete
ou oito bebês sobre cem fecundações. Era preciso, vez por vez,
extrair um óvulo, o que redundava sempre em tarofa penosa
e delicada. Em conseqüência, resolveram e-stimular os ovários:

1 Em provei• .

-201-
22 "'-_ _ _~
.. PEnGUNTE E RESPONDEREMOS".'-2.1O""'"/ ',,...

de modo a recolher de três a dez óvulos de cada vez. Eram


fecundados; alguns destes eram logo utilizados para implanta-
ção no útero, ao Pa5S() que os outros eram c()ngclado3. Os
ginecologistas australianos verificaram que, colocando no úlero
dois, três ou mesmo Quatro embriões de cada vez, aUrrlCntav3m
consideravelmente a probabilidade de obter o nascimento de
um bebê; em tais circunstâncias, um dos embriões se fixa e
os outros são eliminados em brevc. Aconteceu, POrem, entre
outros casos, que uma mulher se viu gravida de quatro crian-
ças simultaneamente; ora, como só quisesse uma, jlcdiu a03
médicos a extirpação dos excedenlC'S, que foram então abor-
tados.

1. 2 e 3. Congelamento

I . Depois de recundados vários óvulos em proveta, alguns


embriões são implantados, ao passo que oulros são, por' vezes,
congelados para ser posteriol1l)(!nle utili2ados. Na vel'dade, os
dentistAS hoje realizam o congelamento e o descongelamento
de um embrião COm habilidade; Implantam-no no útero após
meses de vida inativa 1 e obtêm assim o nascimento de uma
crlanta . O primeiro bebê .. vindo do frio » nasceu em 1984.
2 . A Implantação pode ser feita na mãe dGadorn do
óvuJo, como também em outra mulher, à qual o óvulo não
pertença; pode ocorrer após breve praz:() de congelamento como
também após longa espero, quiçá de anos. Donde se entreve a
perspectiva de se criarem Bancos de embriões (destinados a
finalidades diversas), como, aUãs. já, há vários anos, existem
Bancos de espermatozóides! Na sua tentativa de aperfeiçoa-
rem a recundacão lA vltro. Slcploe e Edwards têm em menle
algo de mais ousado ainda, como se dcprcemdc dn seguinte
noticia do jornal O GLOBO:

«Médicos querem gerar bebê em útero animol »


.. LONDRES - O, maiores elpcdoUltQS do mundo em fecundClçõo
em laborat6rio, o : méd leo, Potrick Slcptoe fi' Robort Edward$, $olici-
farom ontem 00 Con ' elho Superior de Medicina do Inglaterra pcr.

10 conOllamento significa I pilfilllSaçlo das lunçtes vitais devida lO


frio: a aima humana, porem, tntundlda por OoU5 do5d1 • fecundaçio do
óvulo por parll do espermatozóide permanece presento no embrião con·
gelado • Inarta.

- 202-
__________~N~'O~V~A~S~T=EC~N~'~IC~A~S~D~E~p~n~OC~R~I~A~Ç~·Á~O~______~ID
minõo para transplantar embr iões humanos pora o ülero de coelhol
e porCOl, com o objetivo de aperfeiçoar 0$ suai técnicas de ieracõo
de bebês de proveta ,

o pedido pro"ocou grande indigno(õo enlre O~ méd:cal do pois,


.",boro OI doi, pione iros tenham feito qu.estãn de la lientOI que 11
experiência lerio (amo principal resultado minimizar o perigo de' pos-
si ...,,;, deformações fís icos nos bebês fe<:undados em laboratório.

_ E incrível que alguém l enho feito uma pr o po1'o deue tipo.


Is,o • monstruoso e demon ~ lro o pouco respe ito de algun s cillnlt,lol
pelo ",ido humono - dedarou, indignado, o Preside nte do Seccõo
Inglesa do Federação Mundial dos Módicos q ue Respeitam o Vida
Humano, Dr. Peggy Norris.

A fcdtl ro~ao fi integrodo por cem mil tlspcciali: las de pelo "me-
nos trinta poisel e sua secçõo in91e~0 conta com cerca de quinhen-
tal membros. Ao 0pf.lento, ontem o 58U pedido ao Con~elho Supe-
rior de Medicina , Sleptoe o Edwords ~oranlirom que a CJ.periênc;o
oindo nôo foi reCllizodo:a.

Os prognósticos relativos a este procedimento são rormu-


lados pelos pesquisadores nos seguintes termos:

«Moda do futuro»
cEm New Homen, Estados Unidos, o 0,. Alon Oechorbey, diretor
do pr~romCl de FettilixClçõo dCl Ho,pilClI de Yelo previu que o con-
gelamento de emb,iõei h",manos po :o sue i"'plantaçõo posterior no
útero setó o 'moda da fufuro' . Ele lembrou que CI tecnologia do con·
gelaCão tem e.todo d ispon(vel poro o programo do beb i s d. pro ·
velo hó algum te mpo, ma l que Ie linho odiado o seu emprego devido
OI conlro vé niol- O médic:a progna ;licou que: os embriões congoladas
serõo muila usados parque permitirõo lenlolivo., d e grovidel em ftlU -
Iheres qve n50 pode m co nceber normalmente ,. {<I A Folh(l de Sõo
Paulo,., 611 / 85, p. 81.

1 .4 . . Mãe de 0("'9".1»
Certas mulhel't?-S fecundas não conseguem ser gestantes
por razões diversas (insuficiên9.8 cardíaca. deClciência honno·
nal, litero doente ... ). Então, ~t\epois que um de seus óvulos é
fecundado em proveta, o embnão é transferido para o útero
-- 203 --
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 230/1985,_ _ __

de uma «mãe portadora ~. cincubadora ~. ou «de aJugueb. Esta


se compromete, mediante pagamento, a gestar a criança du-
rante os nove meses ne<:essârios e a entregá-la aos pais bioló-
gicos depois de nascida. Algumas dessas mulheres já decla-
raram pUblicamente: ... Não tenho problema ético; SOU apenas
uma incubadora humana!. Os que se servem dos serviços de
uma de tais mulheres (ou alugam o respectivo útero) conside·
ram-na como instrumento, aparelho ou objeto. Enganam-se,
porém: embora a criança assim nascida não tenha nenhum
cromossomo da mãe de aluguel, sabe-se que, entre a gestante
e o tUho que ela traz, existe um intercambio muito intimo:
além de receber calorias, a criança respira e se alimenta me-
diante o organismo da gestante; a partir do sexto mês, ela per-
cebe a voz de quem a traz e a reconhece; em suma, é marcada
pela gestante tanto para o bem como para o mal.

Leve-se em conta ainda o seguinte: do ponto de vista psi-


cológico, pode uma mulher, sem mais, renunciar ao bebê que
durante nove meses ela carregou. sentindo-o desenvolver--se e
me xer dentro do seu (Itero? Não Implica isto uma desuma-
nação ou uma mecanlcização violenta para a mulher? Nos Es-
tados Unidos várias .. mães de alugueb recusaram-sc a entregar
aos pais biológicos a criança gerada.

Em suma, pode-se dizer que o recurso a ... mãe de alugueb


importa uma tríplice anomalia: para a criança, que vem a ser
biologicamente falando, filha de duas mulheres; para a ges-
tante, que aceita a condiCio de aparelho alugado de maneira
totalmente impessoal. talvez sem que tenha algum relaciona-
mento especial com os pais biológicos, os quais lhe impõem a
entrega do froto de seu vent.re e têm interesse em mantê-la dis-
tante e desconhecida em relação à criança gestada; pa["8 os
pais, que recebem seu (ilho .. fabricado. por outrem.

1 .S . Mãe "Doadora.

MA casos em Que a esposa não é capaz de ovular. Pede


então a outra mulher que forneça um óvulo, o qual é fecun-
dado em proveta por um espermatozóide do marido da pri-
meira. Três dias depois, o embriâo resultante é colocado no
útero da referida esposa, que realiza a g~tão e dá li. luz um
bebê que, do ponto de vista genético. lhe é totalmente estra-
nho; dos 46 cromossomos. 23 são do marido e 23 da «doadora ~.
-204 -
NOVAS TtCNICAS DE PROCRIACAO 25

Para ativar esta técnica, em alguns países existem Ban·


cos de óvulos. como os hã de espermatozóides. que sem demora
°
Comecem material desejado. :e claro, porém, que a crianca
na.sclda em tais circunstâncias não é filho do casal, mas filho
de um dos cônjuges e de um terceiro (homem ou mulher) que
intervém na fecundidade do casal.

2. Fecundação «in vivo» I

Trata·se agora de inseminação artificial estritamente dita,


que a partir do século XIX foi sendo mais e mais praticada
em se~ humanos, depois de exe rcitada no gado. Pode decor·
rer ou com o sêmen do cõnjuge (LA . C.) ou com o de um
doador (LA .D.). O doador pode ser o esposo, que dA a uma
estranha (_mãe de sUbstituicão_), OU pode ser um estranho
que di à esposa. Vejamos cada um desses casos de per si.

2 . 1. Fecunda~õo artlflgal homóloga


Este é o caso mais simples, que assim se configura: entre
marido e mulher não pode haver cópula fecunda por deficiên·
eia do organismo do esposo ou da esposa. Em tais cireunstãn·
eias, O médico extrai o sêmen vital do marido e o injeta den·
tro da esposa, reaUzando aquIJo que a natureza por si SÓ não
poderia fazer: a técnica, no caso, secunda e corrobora a natu·
reza, de acordo com as finalidades mais genuinas desta. - Esta
operação tem sido muito estudada sob diversos pontos de vista;
cf. PR 122/ 1970. pp. 51-59.

2 .2 . Fecvnda~õo artificial heterólogG


Conslderem--se duas possibilidades:
1. Supondo-se que determinada mulher casada seja esté·
rit, O seu marido insemlna uma estranha, que acaba conee-
bendo. Três ou quatro dias depois, por lavagem das trompas e
do utero, extrai-se o embrião antes que se possa fixar no útero
da mu1her inseminada; esse fruto é transferido para o útero
da esposa estéril, que leva adiante a gestação e dá à luz um
filho. - Este caso difere do que foi apresentado sob o ti·
tulo 1 .5, pois se trata agora de fecundação in vivo.

1 T,atll.. a agorl dI Insemlnaçlo dent,o do organlltmo \/lvo , li nlo


In vNro (Im proveta).

-205 -
26 ., PERGUNTt:: E RESPONDEREMOS. 23J/1985

A gestante, tendo dado à luz, , adota ) a criança resul-


tante da semente vital de uma desconhecida; accntece, porém,
que ela não é estranha a essa criança, pois a carregou, ali-
mentou e marcou em seu Otero. Isto lhe causa grande ale-
grla .. , alegria, porém, talvez perturbada pela consciência de
que a s ua maternidade é tambêm a da mâe cooadora:a; terá
ela a coraGem de revel<lr Isto à crian~a?

2. Pode ocorrer o opoSlO: a inrecundidade do casal se


deve ao marido, e não à mulher. Em tais casos, há recurso a
um doador de esperma, que, geralmente sob anonimato. loma
fecunda a esposa, pennilindo-Ihe a gestação e o parto de uma
criança. Essa genltora é plenamente mãe no sentido biológico
da palavra, mas o marido não ê senão pai adotivo; há, por-
tanto, desigualdade de posição do esposo e da esposa frente â
criança; ela está mais ligada à -criança do que ele - o que
pode gerar connitos dentro do casal. Ao contrãrio, quando
marido e mulher resolvem adotar uma criança estranha. tor-
nam-sc ambos pais adotivos, colocando.sc em pé de igualdade
diante da crlan-ca.

Mais: o doador de esperma pode ser um desconhecido.


mantido à distancia; não obstante, ele permanece presente ao
casal na pessoa do rIlho, que lhe deve a metade do seu patri-
mónio hereditârio; dentro do casal haverá sempre um terceiro.
como quc a violar a Intimidade do lar, suscilando talvez
latente mal-estar ou mesmo aberta diSCÔrdia.

2 .3 . «Mãe de subltihtiçáu

Há ainda casos em que a mulher não somente não pode


ovular, mas também não pode (ou não quer ter o incõmodo de)
gestar. Recorre então a urna mulher cujos serviços hão de
ser bem pagos: o marido da esposa esl.eril reeunda essa estra-
nha, que leVa 8. gestacão até dar -ã luz. com o compromisso
de entregar a erianca à mãe estéril.

o jornal ~A Folha de São Paulo:a. aos 06/ 01/85. p. 8 pu-


blicou a propósito a seguinte noticia, que bem evidencia a com-
plexidade dessa. operação genêtlca:

-206 -
NOVAS TÉCNICAS DE PROCRIAÇÃO 27

uAluguel de ventre gero polêmico na Inglaterra ))


. 0 nascimenlo do primeiro bebê inglês gerado no 'fenlre de urno
mge de aluguel eslo geron:fa polêmito no Ingloterro. A mõe, I(;im
Coflon, de 28 anos, deu li lu:z: uma menino do 3,6 quilos no Vitlorio
Malornity Hospital, de Londres . Pelo aluguel de seu ventre, recebeu
6 . 500 libras 10m torno de 25 milhões do cru:r.:eiros). Ela foi fecun ·
dada artificialmente pelo semen d o um homem cosado e sem filhos.

Um porto-vc:z: da Previdência Social inglesa ofirmou que O: le


tipo do aluguol é ilegal diante do Lei de AdOÇão vigente no pais
de,de 1958. A. lei prl!v! uma peno de seis meus de prisõo e
multo. O casal sem filhos, que permanece deseonhecido, pagou 14
mil librOI o unlO agência especio li:r.odo em descobrir m5el de aluguel
AO cidade d I! $uHOY, Sul da Inglotorra. Segundo OI outoridodes, o
uionça nc"cida seda-feira sero declarada filha iiegitimo, constando
no certidão como filho nolurol de Kim Colton e de pai d O$Conhecido
lo homem que forneceu o espermal.

o debate sobre a quostõo jõ chegou o Cõmaro dOI Comuns,


onde parlamentares pediram uma le9i~ lacão especial que impeça o
lacocõo de m.c;es. As ovtoridodcs do luburbio londrino de Bornel,
onda fico a Maternidade, jó conseguiram uma ordem judicial paro
manterem o bebê num local leguro até que sev futvro seio decidido
pelo, iuízes durante a semana.

I(;im Collon leve 0110 do Hospil al na manhã de o ntem e voltou


poro co ~o. mo! se m o beb ê. Elo saiu do MOlernidodo com repre-
sentonlos do jornal " Doil r SIar», que pogorõo 20 mil d610res pelos
d ire itos de publicoçõo do hil tória da sua inedilo gravidez c por'o.
Com o dinheiro IIx: ebido. o caiai Colton pretende trocar o mobilia
de IUO cal a ...

Sabemos que finalmente os tribunais resolveram entregar


a criança ao casal promotor da operação.

2 .4 . FeC\lndos:õo e"ranha (om ge5to~ÕO _. _


Rcgislram·se também as siluacÕCS em que marido e mu·
lhe r são estéreis; mas querem absolutamente ler filho. Va·
lem..se então dos serviCOS de um doador de espenna que fe-
cunda uma mulher estranha. Esta, em tempo oportuno. poderá
entregar o embrião li esposa, que aceitará ao menos ser ges·
tante. Ou a estranha levará ela mesma a gestaçlo a termo
-207 -
28 ... PERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 2JO/1985

com o compromisso de entregar a criança. à mãe estérll, que


em absoluto nada terá em comum com essa criança; a estra-
nha haverá rclto uma criança para tal mulher casada. Tem-se
aqui o auge da acrobacia das novas técnicas.
Seja ainda registrado que a tática. de «alugar» vai tão
longe na Europa que fá existe a Associação das Mulheres que
a isto se prestam. Veja-se a seguinte notícia:

«Cegonhas» de ,aluguel

_ESTR... SBURGO - foi fundado no França, em Esluuburgo, a pri.


meira Anociaçõa de 'mões de empristimo' com o nome de •... s Cego.
nhas', .egunda informou o secretária da Auociaçi'io Claudine Kuhn.
de 26 anos de idClde ti môe de dV05 crianças. 'As Cegonhas' jó slio
on18 lócial efetivol li conlom com moil vinle simpalilonlel. Sua pr.·
sldenlo li Palrida la\liue, 11:1 primeiro 'mÕe de empréSlimo' 101,1 d.
aluguel, como querem alguns I do Fronço. que e516 05peroonda um
bebê poro um Caiai IIstéril. A Auodoção conlo com Ireilenlos pedi.
dos nOI suas IIslal d. espero. OI médicol froncllses sCio conho o
iniciotivo, mOI nada há no lei que o impeco» I «O Estado de São
Paulo. , 24 / 01 / 85, p. 8).

Todos estes casos têm levado os pensadores - fI16soros,


juristas, moralistas, teélogos... - a refletir profundamente
sobre o valor ou desvalor do que se tem feito até agora e do
Que ainda estA por ser efetuado. Digamos algo a respeito.

3. Que pensar?

Eis algumas obscrvaçõe$ que a consciência cristã formula


diante de tais avanços da ciência.

3 . 1. As origeft. .. .

A intervencão no processo genital do homem e da mulher


é a transposição de técnicas aplicadas primeiramente ao gado.
Os animais Irracionais, desUtuldos de personalidade ou da gran.
dcza decorrente da esplrltua.lldade, podem ser passiveis de ma-
-208 -
NOVAS TtcNICAS DE PROCRIAÇ.{Q 29

nipulações bioquímicas e de tratamento mecanícistas sem des.


douro para a sua identidade; dados â serventia do homem,
estão sujeitos aos interesses superiores I da pessoa humana,
Nesta, porém, a genitalidade está naturalmente associad3.
ao amol' ou li autodoacão que entre si homem e mulher quei.
ram realizar; a prole e a conseqüência desse IIltertilmblo, que
primeiramente se realiza no plano espiritual e aretlvo, para
oportunamente, após fjrmada a estabilidade conjugal, se tra~
duzlr também no consórcio marital. Qualquer intervenção de
estranhos nessa intimidaoe do homem e da mulher não pode
deixar de derrogar à identidade de Uln e outro, e quicâ susci·
tar problemas oe ordem psicológica.
Eis um primeiro motivo por que, de modo gera l, a COIlS~
~iência cristã é avessa a tais práticas. Na medida em quI.!
lazem violência à natureza e às suas leis ou, mais ainda, à
dignidade e identidade humana, são contrárias à lei de Dl!'us.
Descarnos agora a aspectos partic:ulares.

3 .2. InsemInação artifidcd homóloga uin vivo»


Este é o caso menos complexo dentre os muitos que a
Engenharia Genética propõe. Secundar ou apoiar e corrooorar
a natureza é certamente legitimo; Ol'a C isto que parece inten~
clonar a inseminação artificial dentro do casal. Acontece, po-
rem, que a obtenção dos espermatozóides, em tal caso, se raz
gt!ralrnente por via artificial ou, mais precisamente, por mas~
turbação, A respeito desta hã. graves restricões por parte da
Igreja católica: em 02/08/ 1929, o S. Otício declarou Ilicita a
masturbação, O Papa Pio XIl contll'mou esta posição, asseve~
rando que a genitalidade há de ser exercida dentro do C4SQ~
menta segundo as suas leis pr6pt'la.s: a ejaculação, por exem-
plo, há de ser dirigida à inseminação da mulher. Ultimamente.
porem, alguns moralistas católicos têm ponderado que, no caso
da fecunda('ã() artificial h()móloga. a masturbação, embora não
seja Imediatamente dirigido à Inseminação, é certamente orien·
tada para tanto; ê produzida estritamente em 'lIsta deste tlm; a
partir desta consideração. talvez a Igreja Católica possa acei-
tar a Inseminação artificial homóloga; deve-se reconhecer que
O fruto da Inseminação artificial homóloga é realmente a ex-
pressão do amor mútuo de esposo e esposa.

I Superiores aqui op(le-te ao. InlUntos passionais . cogos 011 I"aei&-


nal., que podem dominar o homem.

- 209-
3 .3 . Fec",ndo~ão ortifi,iol u.in vitro»

o caso de Louise Bl'OWn pa\~ poder equiparar-se ao anle-


I'iol'. Acontece, porem. que a Ct.ocundação, realtzando-se [ora do
organismo feminino ou etn proveta, tem suscitado lntervencÕeS
dos médicos nos embriões que 6C vão formando no laboratorio:
quando julgam que algum vai evoluindo em termos disformes
ou ê, a aljUm titulo, indesejãvel. eliminam-no. matando um ser
humano como se extinguissem um mero processo fisico-qUimlco.
Para chegar a um resultado positivo, os pesquisadores tem que
manipular a vida humana como se fosse a de um animal ou
.coisa.. Embora o embrião seja ainda uma ccabeça de alfi-
nete», contêm todo o potencial de um ser humano; basta dei-
xar que se desenvolva para se ter uma autêntica pessoa hu-
mana; dai merecer pleno respeito.

3 ,4 . InMminacão artifidal het.róloga

Este procedimento d espersonal~a ou meeamcaza profun-


damente a função genital. O cdoador» quer e deve ser man-
tido em anonimato; toma-se um comerciante quando recebe
pagamento. Notemos ainda:
a) há uma diferença entre doar sangue, rim, medula ...
e doar gametos, pois com aqueles elementos ninguém produ-
zirá um novo ser humano, Ao contrário, quem doa gametos.
doa um pouco mais de si mesmo ou doa o que tem de mais
intimo e autênUco; nada ê tão portador da Identidade do su-
jeito quanto a sua semente vital. Por conseguinte, tal individuo
participa, como pai ou mãe biológico. da procl·ia!.:ão de um sei'
humano, frulo Sl"U, que lhe ficará desconhecido; apnga-se assim
a paternidude ou a maternidade no seu sentido especiJicarnentc
hwnano. Mais ainda: esse doador anônimo, alé m de destruir
sua Identidade. passa a interferir onde não lhe compele, ou
seja, na intimidade de um la r. su jeltando-se a deslocar incons-
cientemente a pessoa de wn dos cônjuges,
b) A criação de Bancos de sementf'- vital humana é a
expressão mais pungente da degradação do processo genital;
é o cancelamento de todo o aspecto de mistério. que exige res-
peito e reverência e que caracteriza o amor e a fecundidade
humanos. Desde a fundação de tais Bancos na França em 1972,
já nasceram mais de 10.000 crianças de pai anônimo, susci-
tanto problemas de ordem jurldlea. moral, psicológica. etc.
- 210-
_ _ _ 31

Qualquel' des:sas imagens rebaixa especialmente a mulher,


pois li I'OOUZ à condição de maquina ou coisa; aJém do que,
Inflige violt:ncla e traumas profundos a quem realize lal 1ul1·
ção. O proprlO casal que (:ontrata a mãe ele aluguel, não se
redime aa L-ulpa pelo lato de pagar - muito ou pouco - u
essa mUlher-máqUina, mas, ao contrãrio. concon~ gL'avemente
para desvaJol'tzal' a ligUltt da mulher na socjcdad~ contcmpo-
t'inea.
Se. de um lado, e legitimo, e talvez até necessiLrio, a um
casal ter !ilhos, de OUlro lado é mister que esposo e esposa
não consiaerem (ne m impllcitamenteJ ~ prole como um
objeto a ser adquirido ou como um produto a ser obtido como
se conseguiria uma boneca ou uma «coisa:.. Ser pai e mãe nâo
e Questão de mera técnica ou de dinheiro. A expressão eter
um filho. lembra der um auto., «ter urna casa. e pode suge-
rir procedimentos paralelos, propiciados pela ciência e as tóc-
nicas modernas, Todavia a crlanca é da ordem do se.. co não
do tel'; é o r..ul.O do amor que une duas pessoas" _, amor que
se exprime pela doação recLpl'OCa dos corpos, o que excJUL U
intervenção de um terceiro na procriação_
Por certo, a consciência cristã não ignora o sofrimento dos
asais estcrels; ela reconhl.'re a alegl'ia que estes experimentam
quando podem scgunr umu criança nos bra;;os e a dOL' de
quem deve L"enunciar li isto, Mas li precisamente o Interesse
pelo bem de todos que leva o cristão a se pl'C"OCupar quando
ve a lguns a procurar a felicidade em vias perigosas, A satis·
{ação do desejo legitimo de uns acarreta, por vezes, o l-jS(.'O do
sofrimento c do d(!Sprezo para os outros,
Estas pondeL'oÇ'ÕeS são tanto mais oportunas quanto mujo!'
C O número de crianças hoje em dia abandonudas õ nascidas de
{ammas pobres, compartilham o exíguo pão dos seus Irmãos,
pesando sobre os ombros dos pais, quando muilos esposos c
esposas as poderiam acolher com alegria em seus lares, Daí
apregoar-se, com plena razão, a adoção de filhos por parte de
casais estéreis. J á existe uma explosão demogrt'lfica no mundo,
para a qual se devem procurar l'emcdios em vez de se Ih\!
aumentarem as proporções.
EsLI .rtlgo mulLo deve a o ntltdo de Jee,...Marie MoretU S ,J .: ·Pro-
creatlon : nouvel," techniqllls· em NEIUdl.ls· 36116, dezembro 1984 ,
pp, G09-611.

-211-
A mulher na Igreja:

Missão da Mulher e Sacerdócio


Em Ilnl... : o problem. do Icesso di m"lh.r ao ucardOelo mlnl.-
'*
tarilll alualmente mullO daballdo_ H' quem o qUll ra rHolver I; luz di
razoe. hlatÓfic:as e IOcIoIÓiic,,; a legam que o prOprlo J.,uo, quando cha-
mou a pen.. homens para o l acerdOeIo••1 adaptou lOS preClltOI lotilemi-
nlsta da lua 6poca; o mtsmo leria leilo a ·1radiçlo da Igreia ate holl.
- ara quam ,. alentamente 0111 EvangelhOS, verifica qUI Jesus não hesitou
em violar o anlllemlnlamo do. seus contemporaneos. pedinoo I CQllooraçio
de mulhere. ILc 8,1-3; Jo 2O,17sJ ou an,rltendo-se publicamente com a
Samarilana (Jo 4,211; n'o se pode, portanto, dlzar que ",o chamou mu·
lheres para parllclpar da ultima ceia por motivos momantaneos ou .aclo-
IÓik:oa.. Outra. razOes InspirAram o comportamento do Senhor, enll8 a.
quaisI' poda assinalar a analogia com o mill'rio da Encarnaçao: o Fltho
de Deus se lez homem, e nlo mulher; Ofa o min istro de Cnsto age em
nome de Cristo, repretenlando o Cristo. - E por qUI o Varbo se l u .
hotnIm, e nlo mulher? tom rasposta, assinala-se o '110 de que Cristo velo
para .or C«tltÇl da Igrela: ora o tipo masculino t, por sua natureza mllma,
especlalmenltl Chamado 1;. lunçOes de chelia. tais lunç6es Mo dlvelll
se. antendldas como honrarias ou superioridades, mas como .ervlço a .Ir
prestado com humildade. A mulhe r loca papal aUvo delUro da Igreja,
papel Indbpelll6vel ao 'a(ia daa funçOe, ..cerdollla: Imponl que a kSen-
Ildade feminina seja devidamente preaervada, em vel de se "promovlI ~ a
mutller por auemelhaçlo às luoç6e:s m..cullnasl

• • •
São notórios os clamores contemporâneos que reivindicam
para as mulheres a ordenação sacerdotal. Em suas viagens
apostólicas, o S. Padre João Paulo U tem sido, não raro, inter-
pelado neste sentido - o que multo tem avivado os debates
em torno da questão. Eis por que, nas páginas subseqüentes,
abordaremos: 1) os dadas do problema; 2) os elementos da
S. Escritura e da Tradição; 3) a reflexão da Teologia hoje.

1. Os dados do problema
1 _1 • A orguma ntoçéio r-'vindlcal6ria
O acesso das mulheres ao sacerdócio é, pelOS seus Cauto·
res, fundamentado, antes do mais, sobre o principio da igual-
dade dos sexos. Este, dizem, exige a eliminação de toda discr-i-
- 212-
MUUlER E SACERDóCIO 33

minação tanto no plano civil como no religioso ; dai a identi-


dade de direitos do homem e da mulher no tocante à orde-
nação sacerdotal.

Mais : observam que nenhuma raü o teológica se opóe a tal


perspectiva. São Paulo mesmo declarou que diante de Cristo
não ha homem nem mulher (cf. GI 3.28). Não desconhecem
a praxe contrária de quase vinte séculos da Igreja. mas ale-
gam que essa tradição se explica por preconceitos antiCemi-
nistas, que deveriam ceder às conce~ da sociedade contem-
porãnea.

o próprio Jesus. aliás, ao confiar unicamente aos homens


a missão sacerdotal, ter-se-ia adaptado à mentalidade dos ju-
deus de sua época, de modo que a conduta de Jesus. dizem.
não pode ser tida como nonnativa. A propósito a Ir. Valen-
tina Bulsseret escreveu aos participantes do Sínodo dos Bispos
d.1971:

«e clara que Cristo I 0$ ApóJlolo$ "60 podiam agi, contraria-


mente o eha co"cepçãa da suo época ou conlro o estruturo , ócio-
-cultural do SéU lempo; eles se teriam arriscod o (I UI'II f,acauo im. ·
diata. Precisavam de ie in!erjr neue contexlo» (La fem",e .t I'aveni,
d. I·EgU.... fichermonl-Walerlaa 1971, p. 9).

o fato de que Maria não foi invcstida no ministério sacer·


dotal, é interpretado à luz de tais preconceitos (Ia época. De
resto, a Imagem de Ma ria ê tida como muito dis lante das exi·
gênclas do atual feminismo.

MA autores que professam uma noção secularizada do


sacerdócio e, por Jsto, ainda vão mais longe em sua argumen-
tação. Com efeito; rejeitam qualquer valor normativo do Novo
Testamento e consideram a organização das funcÕE!S ecleslãs·
tlcas como mero produto das condições sociol~lcas de outrora.
Por conseguinte, atribuem a cada comunidade o direito de Ins -
tituir seus ministros, entre os quais poderia haver tanto mu-
lheres como homens.

Acrescentam-se razões de ordem prática: a ordenação de


mulheres supriria a penúria de sacerdotes e daria o pleno coroa-
mento ao trabalho de muitas e dedicadas apOstolas existentes
em tantas dioceses.
- 213-
31 cpE:RGUNn; E RESPONDEREMOS. 230/ 1!JS5

1 .2 . Q". dizem os cristãos s.poRldos?

Crescente número de denominações prolcstn.ntes tem-se


aberto ã inovação. O movimento começou no século xrx en t r~
os congregncionalistali norte-americanos e no século XX se
propagou. Nos palses escandinavos, onde a Igreja luterana é
unida ao Estado, foram a dotadas medIdas favo ráveis pelos Par-
lllmcntos da Nomega (938), da Dinamarca (1947) . e da Sué-
cia (1959) . Os metodistas, presbiterianos e reCormados (cal-
vinistas) aderiram à nova praxe, ao passo que os a ng licanos
estão divididos a respeito, mas tendentes a areitâ-la cada vez
mais.

o Conselho Mundial das Igrejas, mediante a sua Comissão


de cFó e Constituição:t. enfre ntou a questão num documento
que chegou à sua redacão final em Accra (Gana) no ano de
1974: verificou o progresso do movimento e, sem tomar pDsi-
Cão oficiai, recomendou a cada denomina~ão que considerasse
o problema com Cranquezn; observou a inda que as diversas opi-
niões das comunidades não deveri am constituir obstáculo ao
mútuo reconhecimento dos m inistérios. Em sua assemblé ia
plenária de 1975 reaJizada em Nairobi (Africa Oriental). o
mesmo Conselho Mundial foi mais adiante, estimula ndo as
denomlnaç6cs que praticam a ordenação sacerdotal de mulhe-
res, a não se deixarem impressionar por objeocõcs de ordem
ecumeniCl1; a ntes continuassem a praticar O diálogo sobre o
Assunto.

Eis, porém, que as comunidades orlodoxns ol'lentais não


compartilham tais dirctrI1..C:s. A Igreja Ortodoxa Russa, por
exemplo, manifestou seu desacordo em carta do Santo Sínodo
de Mescou ao P residente e ao Secretário do Conselhe Mundial
das Igrejas: afirmou que a vocação de lodos à santidade e ao
apostolado não implica sejam todos chamados ao ministério
sacerdotal; a divina sabedoria de Cristo já t rac:ou uma linha
de conduta definitiva ao escolher apenas homens: é inadmis-
slvel que Jesus. assim proeedendo. t enha simplesmente feito
uma concessão à mentalidade da sua época. Por outro la do. o
Sinodo russo juJga que, nas comunidades que não reconhecem
o ministério presbiteral como sacramento, não há problema em

-214-
MUUiER E SAC~RDóCIO 35

atribuir o paslorado às mul her es '. Como quel' que seja, o Si.
nodo Russo receia que as lnovaçãcs jã realizadas neste setor
prejudiquem a causa do ecumenismo, Aponta o secularismo
como responsãveJ pelas inovações protestantes; razões de ordem
sociolôgica estariam prevalecendo sobre os motivos teológicos
derivados da Biblia e da Tradição. - Aliás, também certos
teólogos hIteranos, presbiterianos e anglicanos protestaram
contra a argumentação dos colegas liberais, lembrando que a
ordenação de mulheres não tem justificativa nem no Novo
Testamento nem na Tradição dn Igreja; seria, antes, o resul-
tado de uma capitulação diante da pressáo feminista secula-
rizada ou dessacralizada,

, .3 . O pronunciamento da S, COlIgregação para a Doutrine


da Fé

Diante dos debates assim suscitados, a Igreja Católica,


atingida pela problemática, manifestou mais de uma vez sua
posição oficiai,

Em 30/11/1975 e 25/03/1916 respectivamente, duas car-


tas do Papa Paulo VI ao arcebiSpo anglicano de Cantuárla,
DI'. F. D. Couan, reafirmaram a clássica atitude catôlica fun-
dada sobre a S. Escritura e a Tradição constante da Igreja;
lembravam outrossim que a ordenação sacerdotal de mulheres
poderia abrir novas distA.ncias entre as dcnomina~es cristãs
(! assim criar obstácuJos ao movimento ecumênico.

Em 15/10/1976. a S, Congrcga~ão para a Doutrina da Fé


promulgou uma longa Declara<;âo (dada a público em 27 de
janeiro de 1977), em que expunha detidamente a doutrina da
Igreja, Eis os seus principais traços:
A Igreja Católica nunca admitiu que as mulheres pudes·
sem receber validamente o ministério presbiteral ou episcopal
nâo por prreonceitos antlfemlnistas, mas paro manter-se fiel
ã instituicão que Cristo lhe entregou. Com efeito; Jesus não
chamou mulher alguma para o colégio apostólico; ora tal ati-

1 cam efeito: 8 malorl8 di' danomfn.~s proleslantes afirma q~ o


pastol.do ou o sacerdócio n'o deco". dI sacramento pr6pllo (o ela Oro
dem). me' , .imp lesmenla uma funC;1o lundamenlad. pelo ,.clama"to dO
BatIsmo; por conseguinte, I mulher balizada eslA perfeitamente habllllada
para lJeercar as Incumbêncles do plslorado.

- 215-
36 . PERGUNTE E IlESPONI>EIlEMQS. 230/ 1985

tude não se deve a conformismo com os costumes da época,


pois Cristo soube romper com os preconceitos da sua nação,
inrrlngindo as discriminações praticadas em relação às mu·
Iheres.
Os Apóstolos percc~ram o yolor normativ() dessa atitudc,
pois também eles não ordenaram senão varões. A fidelidadc
dos Apóstolos veio a tornar·se a fidelidade da Igreja. De modo
especial, convém notar que, de acordo com Pio XII, ca Igreja
não tem poder sobre a substância dos sacramentos, isto é, sobre
aquilo que Cristo Senhor, segundo as fontes da Revelação, quis
fosse mantido como sinal sacramentala (Sa.eramentum Ordinis,
em cActa Apostolicae Sedis. 1948, p. 5) . Por conseguinte, a
Igreja se sente obrigada pelo comportamento de Cristo a não
alterar os elementos essenciais dos sacramentos.
A estas ponderações da S. Congregação scgue-se ainda a
observação: o bispo e o sacerdote representam Jesus Cristo
agindo em nome dele (in penona Cbt1stt); tal função tem seu
ponto culminante quando o ministro pronuncia 8S palavras de
Cristo na cons8gra~Ao eucaristlca: cIsto é o meu corpo . . .
Isto é o meu sangue ... :t Esta capacidade de representar o
Cristo é reservada aos homens, nio por motivos antropológicos,
mas por razões biblicas : a S. Escritura propõe o plano de Deus
sob a imagem de aliança nupcial, em que Javé esposa a filha
de Sion ou o Cristo esposa a Igreja (cf. Is 62,5 ; Os 1·3; Jr 2,2;
Ef 5,23-32). Ora o Esposo. autor da nova aliança, é um ho-
mem; por conseguinte aquele que faz as vezes do Cristo, o
sacerdote, há de ser um homem . A reprcsentac;ão sacramental
implica esta semelhança tísica ou a masculinidade inerente â
qualidade de esposo.
Todavia alguém pod~rá Objetar que o sacerdote representa
a Igreja, especialmente nas celebrações litúrgicas, e que a
Igreja, simbolizada pela esposa, bem poderia ser representada
por uma mulher. - A esta proposição a S. Congregação res-
ponde que o sacerdote só representa a Igreja porque representa
o Cristo. Cabeça e Pastor da Igreja. Conforme o ConeiUo do
Vaticano lI, é caracterlstica essencial do ministério sacerdotal
«exercer a função de Cristo, Pastor e Cabeça» (Const. Lumen
Gruttium n9 28) ou «agir fazendo as vezes de Cristo Cabeça »
(Decreto Presl(viel'Orum Ord1nis n' 2) .
A Declaração acrescenta que considerações de ordem me·
ramente humana ou filosófica não bastariam para resolver os
problemas de Ecleslologia e de Teologia sacramentária. Na
- 216-
____________-2M~U~LH~E~R~E~S~A~C~E~R~DOC~I~O~__________~

verdade. a Igreja é uma sociedade diferente de todas as outras


e a sua missão pastoral não se pode equiparar à5 tarefas de
governo ocorrentes em alguma nação; a luz e os enfoques tra-
zidos pela Revelação Oivlna (através das Escrituras e da Tra-
dição) têm valor essencial. Em conseqüência, não se pode fala r
d e cdlrelto 80 ministério sacerdotal» i este só pode resultar de
vocacão divina totalmente gratuita; o ministério sacerdotal
nâo integra os direitos da pessoa humana, nem pode ser con.
siderado como termo de desabrochamento de uma personali-
dade ou como objetivo de promoção social. Deve. antes. ser
visto como uma concretização do mistério de Cristo e da Igreja.

De reslO, a igualdade dos cristãos batitados não significa


Identidade: as funções na Igreja sâo diferentes sem, por isto.
implicar superioridade de uma pessoa sobre outra. O único
carisma superior aos demais, que pode e deve ser desejadO
ardentemente, é o da caridade (cf. 1Cor 12s).

À luz destas verdades, .. a Igreja faz votos para que as


mulheres cristãs tomem plena consciência da grandeza da sua
missão~.

Como se vê, o problem a da ordenação das mulheres não


é meramente sociológico ou histól"lco, mas é, antes do mais,
questão de ordem teológica. Com efeito. o ministério sacerdG-
1al não é produto de criação humana, mas foi instituido por
Cristo. segundo moda lidades que Ele mesmo determinou ; é um
dom de Deus, integrado na Igreja que Cristo fundou, e ao qual
o Senhor chama quem Ele quer, sem que possamos enquadrar
esse chamamento dentro de eategorias juridicas ou filosóficas;
à Igreja toca o dever de obedecer às intenções de Cristo, sem
presumir retocar a insütuiCio recebida do Senhor. Por con-
seguinte, para dirimir a questão do acesso das mulheres ao
sacerdOcio, faz-se mister, antes do mais. examinar os documen-
tos da Revelação, pelas Quais se manifesta a vontade do Se-
nhor. Dai o titulo abaixo.

2. Analisando os derdos da Revelas:ão


Percorreremos o Evangelho, que nos manifesta a intenção
de Cristo, e os tratos principais da Tradição cristã.
- 217-
~ «PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 230/ 1985

2.1 . A inltn~iío de C,illo

2.1.1. Ao instituir o sac;:erdócio minisleriol


1: certo que Jesus só cscolh~ homens pnra o sacerdó·
cio ministerial: os nomes dos doze Apóstolos são bem conhe-
cidos; quanto aos setenta e dois dlsclpulOS enviados em missão
(Lc 10.1-12), também eram homens, pois, na linguagem do
Evangelho, o termo «discIpulo. nunca designo. mulher, apesar
de afirmaÇÔC5 protestantes, gratuitas ou não comprovadas, de
alguns autores modernos. Aliâs, ao falar das mulheres que
acompanhavam Jesus, São Lucas se limita a dIzer que ajuda-
vam Jesus co a comunidade dos Apóstolos, sem mencionar al-
gum envio em missão.
A presença dessas mulhcl"CS no séquito d e J esus bem mos·
tra que a questão se punha para o Mestre. Ele as CJllet'ia
junto a si, abrindo assim u ma inovação ousada no arnbjen1.~
dos judeus. Se Cosse da sua vontade, teria incluldo nessa. ino-
vatão a concessão do sacerdócio às mulheres. Mas não o
fez, ... e nâo o lez porque queria confiar à mulhel' uma lun-
~ão direl'ente nu propagação do Reino de Deus,

A vontade de reservar unicamente aos homens O mlnisWl'io


sacerdotaJ manifesta·se com mais clareza nu ultima ceio.. A
refeição pnscal era, na Tradicão judaica, a ceia de CamBia, em
que mulheres e crianças ocupavam o seu lugar nonnal. Toda-
via, longe de convidar mulheres para a última ceia, Crislo
lImilou-a estritamente aos doze Apóstolos, e não por descuido,
pois Jesus mostrou que previra cuidadosamente as circunstân-
cias dessa l'efeição (cf. Me 14,12-16 ; Mt 26,17-19; Lc 22,1-13) .
Por conseguinte, foi aos doze, e somente a estes, que J esus
quis transmitir a faculdade de consagrar a Eucaristia.
Após a r cssurrt!lção, J esus encarregou Maria Madalena de
comunicar u mensagem aos Apóstolos, mas Coi somente a esles
que J esus qu is enviar como o Pai o enviara, e quis entregar o
poder de perdoar os pecados (cf. Jo 20,21-23).
Aos doze quis J esus confi ar também a tarefa de evange-
lizar todos os povos (ef. Mt 28,16-20). Foi esta a ultima dis·
posição tomada por Jesus antes da Ascensão (cf. Me 16,14s;
Lc 24,45-53; At 1,2-11); revela um desígnio referente a todo
o futuro dn Igreja c, por Isto, dotado de vaJor permanente.
O rato de que' Jesus não formulou regras explicitas a res-
peito do sacerdócio das mulheres, não pode servir de argu-
mento contra 8S considerm;õCs ató aqui propostos. A Intenção
- 218-
_. ___ _ _ _-.!'!!'!'.U!,LH!!!;ER E SACERDóCIO

ue Jesus é suficientemente manifestada pelas dispostcOcs que


dão estrutura à ação pastol"al da Igreja. A propósito Obsclva
o ex~eta Prol. Settimio Cipriani:
cEsta cloro que ludo o que Cristo fel, vole lunlo ou mois do que
aquilo que fie podia ler dilo. No vordade, ncio ~e pode olirmar, <amo
foum olguns, que por ,eu , ilindo Crillo quis deiJlor õ IgrCIO Q l.ber-
dade de proceder de acordo (om In d i"erSO$ $Iluo(õ(!1 nilt6rical que
Elo otro ... euorio » (11 ,ourdozio 0.141 donne, em c Hiyillo dei clero
iloljClno ~ . 1918, p, ô69).

Em síntese: Jesus não se exprimiu em lerm(lS jurídk:os,


formulando regulamentações, mas revelou com suficiente cla·
reza a sua vontade falando e agindo de maneira concreta.

2 . 1 .2 . A atitude de Cristo diante dos mulher••


O grande argumento em favor do sacerdócio das mulheres
consiste em relauvizar o valor dos tiatios atrás apl'eSCnlUdos,
considcrando-os como condicionados pelas concep!..'ôes socioló-
gicas dc uma época que jâ vai longe, Nossos tempos exigiriam,
pois, uma revisão do legado entl'cgue pai' Jesus i:t Igreja,
Muitas vezes aqueles que apt'escntam tal observação. nem
pensam em justificá-lu mediante o estudo dos Evangelhos;
t..Ião-na por evklentt= sem a fundamental' no texto sagrado, Ora
a análise dos Evangelhos mostra que JI.>SUS nunca fez conces-
sôes aos preconcei.tos judaicos relativos às mulhcres, Não s0-
mente nunca atrilluiu ti. mulher um lugar inferior, como o fa-
riam os judeus seus contemporâneos, mas nunca aceitou manl-
resta,-'Ôes. leis ou costumes que eXPl'imissem mentalidade anti-
feminista, E o que se- dcprecndc das seguintes verificações:
Jesus quis aproveitar todaS as ocasiôes para incuth' a
igualdade do homem e da mulher, Assim, por exemplO, aboliu
os privilégios de que gozava O marido no casamento judaico e
arirmou a mesma obrigaç.ão de fidelidade para ambos os côn-
juges;
dodo aquele que se divorciOI da plóprio mulher e 'e cosor cam
outra, cameteró odullirio em re lação õ primeira, E, le a mulher se
divorciar do marido e se caJOr com outro, comelera odullé rio »
(Me 10,1151 I ,

IObservomas, no le.lo acima, que J esus lata de adultério cometido


contra a esposa, 80 passo que, IGgundo a lei jud&lca, o adultério .ra
cometido conlfa um homem.

- 219-
40 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 230/ 1985

Mais: Jesus quis eximir a mulher das impurezas legais,


como mostra o caso da mulher hemorroissa (cf. Me 5,25--34) .
Defendeu a mulher adúltera contra os seus arusadores, que
abusavam do seu titulo de masculinidade (cf. Jo 8,3~11). ln·
fringiu os costumes que tendiam a afastar a mulher do con·
vivio social (cf. Jo 4,27): Jesus, fdando com a Samaritana à
margem do poço ou em lugar público, podia mesmo estar
escandalizando os seus dlsclpulos. Os rabinos censuravam seve·
ramente os homens que se detinham em conversas com mu·
Iheres, e os ameaçavam com punições (cf. Plrque AboUt 1.5).
Nas pat'ãlx>las, Jesus não pôs em primeiro plano homens
apenas, mas fez da mulher o slmlx>lo freqüente de realidades
transcendentais (de acordo, aliás, com toda a tradicão bibllca,
que fazia da mulher a esposa de Javé) : observe--se, por exem·
pIo, que a vigilância é incutida peja parábola dos servidores
(léis e também pela das virgens que aguardam o Esposo (cf.
Lc 12,35-37; Mt 25,1·13). A perseverança na oração é reco·
mendada de maneira multo mais eloqUcntne pela figura da viúva
que clama corajosamente diante do juiz cinico, do que pela
imagem do amigo importuno (el. Lc 18,1.s; ll,S..a). Na pari·
bola da dracma perdida, a mulher representa o próprio Deus
que deseja a conversão do pecador, ao lado da parábola do
pastor Que encontra a sua ovelha (el. Lc 15,3·10). Donde se
vé Que a mulher nl o é menos capaz que o homem de repre-
sentar Deus e seu plano de salvaçio.
Vãrlas vezes Jesus reagiu contra o desprezo dc que eram
vitimas as mulheres na sociedade judaica; demonstrou para com
elas uma estima sincera. Assim, por exemplo, tez o elOgiO da
vluva que levava o seu óbulo ao templo (Me 12,43), e chamou
a atençio dos disclpulos para ela; tomou a defesa de Maria
de Betânia. censurada pel05 d1scipulos por haver ungido a ca-
beça de Jesus ; o gesto dessa mulher seria divulgado no mundo
inteiro (cf. Me 14,9).
Não se poderia citar em contrário nenhum episódio do
Evangelho. Jesus sempre rejeitou os preconceitos dos seus
contemporâneos; não hesitou em opor.se àqueles que queriam
manter ti mulher em sltuacão InterIor, tencionando assim mu·
dar a mentalidade e o comportamento da sociedade em que
vivia.
- 220-
MUlJiER E SACERDOCIO 41

Duas conclusões se seguem de quanto acaba de ser dito.


Primeira: não se pode atribuir à mentaUdade judaica antiga a
atitude, de Jesus, de só chamar homens para () ministério
sacerdotal. Segunda: esta atitude não pode ser interpretada
como afinnação de superioridade do homem sobre a mulher.

2 , 1 ,3. Ao missão da mulher no Igreta

A run~o da mulher na Igreja não pode ser avaliada ape-


nas do ponto de vista do seu acesso ao ministério sacerdotal.
Positivamente, Jesus atribuiu à mulher uma missão de alto
valor no Reino, embora diferente da do presbítero.
Antes do mais, merece atenção o lugar ocupado por Ma-
ria SS. Por ocasião da Anunciação, wna mulher foi chamada a
dar o seu consentimento à vinda do Salvador, de tal sorte que
o misteério da Encarnação está ligado ao Sim de Maria (c!.
Lc 1,26-381. Em Canã, o primeiro sinal de Jesus foi realizado
a pedido de Maria: o Inicio da missão pública de Jesus foi
assim marcado pela Intervenção de uma mulher (cf. Jo 2,1-11).
No Calvário, Jesus confiou a Maria uma nova maternidade,
que diz respeito à Igreja Jnteira e a toda a história desta (cf.
30 19,25-27); é missão exclusiva da mulher, pois é maternal.
mas não se identifica com a Cunção sacerdotal.
Já Cai registrado o gesto inovador de Jesus (cf. Lc 8,1-3),
que chamou um grupo d~ mulheres para segui-lo. Mostrou
assim a sua intenção de associar as mulheres às tarefas do
Reino. De modo especial, nole-se a Samaritana, a quem Jesus
não somente se revelou como Messias, mas que Ele constituiu
mensageira do Evangelho na Samaria (cC. Jo 4,39-42).
8,êja ainda mencionada a prioridade dada )X)r Jesus às
mulheres, quando se tratou de anunciar a ressurreição. Ma-
ria Madalena recebeu a lncumbencla de comunicar a mc-nsa-
gem 80s dlsclpulOS (cf. Jo 20,17). Assim o senhor quiS pre-
servar a autoridade pastoral dos discípulos. pois a Ma.dalena
foi enviada a eles para que se tomassem os arautos universais
do Evangelho; mas, ao mesmo tempo, indicou aos discípulos a
necessidade que teriam da colaboração feminina na obra de
evangelizacão, pois a primeira mensagem do Ressuscitado lhes
foi transmitlda por uma mulher; vê-se assim Que a colabo-
ração entre os dois sexos é necessârla para Que a Igreja. possa
preencher a sua missão e diCundlr o Evangelho no mundo.

- 221-
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 230/1985

Note-se a coragem da atitude de Jesus. É muito evidente,


no caso da Samaritana, que o senhor a quis assumir como sua
mensageira junto aos siquemitas, i:!mbora não parecesse pre·
destinada a tal missão. No caso de Maria Madalena. verifi·
ca·se que Jesus rez da mulher a primeira testemunha da sua
ressurreição, embora os judeus não atribuissem valor ao depoi·
mento de uma mulhcr: os discipulos mesmos se mostraram
Incrédulos diante das not~ias a eles levadas pelas mulheres
(cf. Lc 24.11).

2: . 1 . 4 . A emandpa!íão crblã da mulher

Uma anó.Jlse atenta dos Evangelhos ainda permite perce-


ber em Que termos Jesus entendeu a emanclpacão da mu-
lher, ... termos assaz diferentes dos que propõem certos movi-
mentos feministas da atualidade.
Com erelto. Há quem julgue que, para ser plenamente
emancipada, a mulher há de fazer ludo o que o homem raz;
à mulher dC!ver-S(!-ia reconhecer o direito de !ter igual ao ho--
mem em seu comportam~nto; a diferença entre os sexos seria
utilizada pelos antlfeminislas como pretexto pnrn mfmtcr li
mulher em situação Inferior. Ora nesta posição feminista per-
siste a tendência a subordinar a mulher ao homem. pois o
ideal proposto ã mulher é o de se tornar uma cópia do homem.
Só se pode evitar esta deformação se se admite como nalmal
a diferença entre os sexos; estes constituem dois modelos de
rcnlizaçflo do ser humano. dos quais nenhum é superior ao
outro; por conseguinte. o Ideal para uma mulher é ser plena·
mente mulher Cc ni\o cópia do homem) como o ideal para
um homem é ser plenamente homem.
Ora Jesus evitou assemelhar a funcão da mulher â do
homem. Quis, sim, afinnar a i~ldade bãsica entre os sexos.
mas respeitando 8!; peculiaridades de cada Qual. Por isto /ltn·
bulu à mulher na Igreja uma mis..,ão que é não o sacerdócio
ministerial, mas, sim. a colaboracão com este; tal colaboração
poc;Jerâ D,SSumlr diversas modalidades. mobilizando sempre os
ricos recursos da personalidade feminina.
Nâo se deve considerar a missão própria da mulher como
Inferior à do homem. O exemplO de Maria basta para mos·
trã·lo; ela não recebeu o ministério sacerdotal, mas foi reves·
tida de missão MO inferior ao sacerdócio; corno Mãe do Verbo

- =-
MULHER E SACERDOCIO 43

Encarnado, exerceu o mais alto grau de cooperacão com o


Sa)vador. - Verdade é que cerlos grupos f(!ministas consl~
deram Maria qual figura de pouco significado, porque muito
tranqüila. Nisto há um julgamento injusto, pois Maria não
foi uma figura confinada aos afazeres domesticos; colaborou,
por sua fé e sua fidelidade heróicas, parn a transformação da
sociedade e a salV8('ão da. humanldadc.

Afinal o sacerdócio minis terial não deve ser considerado


como cxaltação do sa~erdotc: Jesus o instituiu como serviço,
e pediu aos seus dlsclpulos que o exercessem convictos disto,
à sernclha nca do Filho do Homem, cquc veio não para ser
servido, mas para servir:. (Mc 10,45; Mt 20,28). Por conse-
guinte, não ê na perspectiva de superioridade ou de inferiorl~
dade que se deve colocar o problema da relação da mulher
com o sacerdócio.

·2 . 2 . O pentatrlMfo d. São Paulo

São Paulo annnou o principio da igualdade do homem e


da mulher, fundamentando-o especia lmente sobre a obra de
Cristo:

.. Vós sois todos , jlhos de Deus pela M ~"' Cristo JOSUIi . Poili
todos os que fostes batizodos ~I'II Cristo, revestistes o Cristo. NCio
hei judeu ne m groga , nem elCfOVO riem livre, nem homem nem mu·
Ihor, porque sois todos um sO elA Cristo Jesuu IGI 3,26·281.

Para a igualdade assi m professada, podemos distinguir


dois motivos : primeiromentt!, a dign.idade da filiação divina
conferida pelo Ba tismo: esta dignidade ê a mesma para todos,
quaisquer que sejam a naclonalldadee, a condição social ou o
sexo. Em segundo lugar, mencione-se a unidade instiluida por
Cristo na sua obra de reconciliação i esta unidade bãslca não
exclui as diferenças pessoais; judeus e gregos, homens e mu·
Iheres guardam suas nolas diferenciais. O que em Cristo foi
exc1uldo, é a Inferioridade de alguma categoria, especialmente
da mulher.

Esta afirmaçÃo de São Paulo revela a evolução que se


realizara na mente de Paulo, educado em ambiente antifeml~
nlsta.
-223 -
44 .. PERCUNTE E RESPONDEREMOS» 230/1985

Encontram·se, porém, no epistolário paulino textos que


parecem ainda exprimir resqulcios da mentalidade anterior à
conversio: 1Cor 11,7-9 ; Ef 5,21-25; lTm 2.11-15 ; teor 14,33lr35.
A respeito destes dois ultimos trechos, Que prescrevem à mu-
lher calar-se nas assembléias de culto. alguns exegetas julgam
que nla sáo de origem pauJina, pois lTm seria carta posterlor
-à morte do Apóstolo (embora carta canônica) e os verslculos
de 1Cor 14 seriam Interpolados. Não nos cabe aqui discutir
questões de autenticidade. Fique registrado apenas que São
Paulo, embonl herdeiro de tradições antiCeministas, soube per-
ceber o alcance da obra de Cristo, que quis de igual modo
dignificar o homem e a mulher.

2 .3 . A Tradlçáo
A Tradição cristã estã em continuidade com as disposições
de Cristo. A Igreja não admitiu o sacerdócio feminino,
No fim do século IH o Concílio regional de Laodicéia
rejeitou expUcitamente a ordenacão de mulheres:
« Na Igreia nõo lenh<l lug<lr <I ordenaçõo de presbitidos ou pr.,
lidenleu I cônon 111 .
Estes textos parecem aludir à prática de seitas hetero-
doxas. como as dos Montanistas e dos Colirldlanos. em que as
mulheres exerciam funções sacerdotais; todavia essas inlcla-
tivas suscitaram Cortes reações criticas. Ta.mbém em a.lgumas
comunldades cristãs ortodoxas houve, embora raramente. ten-
tativas de chamar mulheres ao ministério sacerdoW; contudo
as autorida.des da Igreja nâo as abonaram. Pode-se citar aqui
uma carta do Papa Gelaslo I aos bispos da Itália meridional
em 494. em que o Pontlfiee chama a atenção dos preladOs por
haverem deixado mulheres servir ao altar e exercer fullÇÕCS
sacerdotais.
S. Epifânio (t 403), bispo de Salamina. tevf" em vista espe-
cialmente os Coliridianos. que exerciam um culto caracterizado
por sacrifício análogo ao da S. Eucaristia. Observava então o
santo que na Antiga Alianca "nunca alguma mulher exerceu
o sacerdócio:.; e acrescentava:
«s. na l,gr.ia OI mulherel tocane a mini'lério locerdolol. . . ,
de preferêncio Maria tena sido investida deuo funçêio; foi elo quem
teve.a haMa de ocelh~r ell\ u:u préprie leio o Deus celeste, Rei uni-
versal, Filho de Deus. . . Mas tol não foi o desígnio do Pai~ 'Pano-
rion 79, 2,4·61.

-224 -
MULHER E SACERDóCIO

Epifânio oota que nenhuma outra. mulher mencionada no


Evangelho Coi chamada ao sacerdócio. Quanto às diaconisas
existentes na Igreja antiga, o S. Doutor afinna que não desem-
penhavam funções sacerdotais e que nunca na Igreja roi insti-
tuida a ordem das sacerdotisas.
Não há dúvida, muitos escritores da Igreja antiga rejei-
tavam o sacerdócio feminino por razões anlifeministas. que
eram tranqüilamente aceitas na antigüidade. Alem disto, po-
rém, referiam-se à vontade de Cristo expressa nos Evange-
lhos e ao fato de que Maria SS. não recebera o ministério
sacerdotal.

3. Refle)(ão teológica
Sobre as considerações de base até aqui propostas p0de-
mos lmtltuir uma reflexão teológica, que terã por Objetivo
penetrar mais a fundo nos motivos do plano divino. eviden-
ciando o alcance e o significado do mesmo.

3.I . Convenlinclol

Por que é que Jesus Cristo reservou aos homens o minis-


lêl-iO sacerdotal? - Ele não o rt!velou, assim como não expli-
cou por que escolheu os doze e instituiu o primado de Pedro.
Não obstante. Jesus abriu pistas para nossa reflexão, que desen-
volveremos nos cinco itens abaixo:
1 . JftUS quis acentuar o liame existente entre a sua
própria missão sacerdotal e a dos discipulos: «Como tu. Pai.
me enviaste ao mundo. assim também. eu os enviei ao mundo_
(Jo 11.18). Desta maneira, o envio do Filho pelo Pai constitui
o fundamento e o modelo do envio dos dlscipulos pelo Cristo.
2 . Além do modelo e do paralelo assim realçados, pode-
mos apontar um motivo de representação. Com efeito; Jesus
(lUis que seus discipulos atuassem em nome de Cristo e como
representantes de Cristo: entregou-lhes um ministério sacra-
mental a ser executado in penou Cbristi. ou seja. por Inter-
vençio da pessoa de Cristo.
Por conseguinte. é a partir da figura de Cristo e do mis-
têrio da Encarnação que se deve e'J,:plicar a atribuição do mi-
nistério sacerdotal ao 'sexo masculino. A Encarnação Implicou
-225 -
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 230/1985

a escolha deste sexo; embora pudesse ter assumido a femini.


Iidade, o Filho de Deus se fez homem. Isto não se deu por
acaso, mas certamente houve razões de conveniência para tanto.
Perguntamos então: quais seriam essas conveniências?
3 . Não se deve alegar que o homem, por sua indole pró-
pria, é mais apto a representar Deus. Segundo o relato bíblico
da criação, homem e mulher foram feitos à imagem e seme-
lhança de Deus (cf. Gn 1,26·28), Mais: o Antigo Testamento
descreve a misericórdia divina servindo-se da figura da mãe e
do seu carinho (cf. [5 49,14s; 40,11). Conforme certas pará-
bolas do Evangelho, a mulher que procura e encontra a moeda
perdida (cf. Lc 15,8-10) e a que põe fermento na massa (cf.
Mt 13,33), são tão capazes de representar Deus Quanto o ho-
mem que aparece em parãbolas paralelas (cf. Lc 15,3·7.11-32),
Por conseguinte. não se pode dizer Que o sexo masculino está
mais perto de Deus ou é mais semelhante a Ele ou mais evo-
caclor da perfeição divina. OS dois sexos são fundamentalmente
iguais no seu relacionamento com Deus.
~ preciso, pois, procurar a conveniência da Encarnação do
Verbo não na superioridade do sexo masculino. mas nas flpti·
dõcs funcionais próprias do varão. Sim: Cristo devia Rssumlr
uma missão de 9utorldBde ou de Cabe(a do Corpo Mlstico: ora
o saccrdote prolonga essa tarefa de Cristo na Qualidade de
pastor da comunidade eclesial; ele o faz em nome de Crl!'ito.
ou seja, exercendo a missão que Cristo. Cabeca da Igreja, lhe
confiou. Por conseguinte. o mf!St1lo desimtio divino que se vol-
tou para o sexo masculino na Encarnacão, assinala a este sexo
também o ministério sarerdotal. Se. pois, o sacerdócio é rer.er·
vado aos homens. isto não se deve .a uma deci~o acidentai ou
circunstancial. mas 8 uma ot"ientatão essencial concretizada
no mistério da Encarnacão.
4 . Tal decisão pode ser Ilustrada pelo fato de que o ho-
mem é naturalmente capacitado para as funções do governo
_ o que até hoje se pode observar nas sociedades civis. l!:
certo que várias mulheres ultimamente tém·se distinguido por
suas aptidões governamentais; todavia fica sendo fato óbvio
que espontaneamente as sociedades civis tendem a atribuir ao!>
homens as responsabilidades de chefia das nações e de outras
sociedades. Ainda que se possa discutir se o presente costume
deve ser mantido ou não no futuro. pode-se dizer que na Igreja
existe. da parte de Cristo, uma determinação evidente, contra
a qual razões sociológicas e históricas não tém eficácia.
-226 -
5 . Convém frisar ainda que, segundo as intençãcs de
Cristo, o cxcrcicio da autoridade não hã de ser concebido como
afirmação de superioridade. It, antes, um serviço, Que implica
a virtude du. humildade. Nisto consiste o cunho de novidade
que Cristo imprimiu ao ministé rio pastoral. Donde .se deve
concluir mais uma vez CJue a questão do acesso ao sacerdócio
não se reduz a conquistar uma superioridade ou a suprimir
uma inferioridade.

3 .2 . A promoSão da missão da mulket- na Igreja

o verdadeiro problema não é o da vocação da mulher ao


ministério sacerdotal, mas, sim, o da promoção da mulher nas
atividades. da Igreja.

Se Cristo reservou aos homens o ministêrio sacerdotal, foi


precisamente para permitir â. mulher o cumprimento de uma
missão mais adequada ã sua personalidade. Compete, pois, à
Igreja favorecer a promoção da atividade feminina, que é uma
das expressões do sacerdócio universnl dos fiéis.
A complementaridade dos sexos há rte S~ maniC"slar na
cooperação 00 servico da Igreja . Maria SS. é o p'·ot6tipo d($,.1;(!
serviço feminino, que eslá na origem mesma da e~isténcia ter·
restre de Jesus e que se prolonga na maternidade que Marin
ex-erce em relação à Igreja. Igualmente a figura de Mnrin
Madalena lembra que o sacerdócio min!slerial não pode ror·
mar um bloco fechado em si mesmo, que dispensaria n cola·
boracão feminina; uma mulher foi a pl"imcira mcosageira da
ressurreição, incumbida d~ comunicar a Boa-Nova aos Após-
tolos.
Para que a complementaridade recíproca do homem e da
mulher na Igreja se possa exercer salutarmente, é preciso que
se edinga qualquer preconceito em contrãrio e não se iden-
tifique 8 Igreja com a sua hierarquia: antes, e n~rio sus-
citar de maneira concreta a espontaneidade e a originalidad~
da conulbuicão da mulher.
A este propósito há quem sugira a instauração de um
diaconato permanente feminino , alegando que tal instituição
vigorou durante sécUlos na Igreja Oriental. Todavia ê mister
lembrar que as diaconisas da Igreja antiga não eramcqulpa-
radu seS diáconos (pergunta-se se recebiam o sacramento da
-227-
48 .. PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 230/ 1985

Ordem), mas ocupavam o ultimo lugar na escala de servicos


da Igreja; por isto esse diaconato feminino não ê a expressão
adequada da valomação da mulher. Em nossos dias, o diaco-
nato feminino (como quer que fosse concebido) poderia dar a
crer que a mulher é sujeito do sacramento da Ordem; de outro
lado, seria uma forma de cclericalizars a mulher, numa época
em que se fala multo de cdesclericallzaçâos; ~rja outrossim
um meio de cpromoven a mulher, Cazendo-a assemelhar-se ao
homem. em vez de se cultivarem as ricas vlrtualidades tipicas
do sexo Ceminino.

Em conclusão: a Igreja hã de atribuir à mulher atividades


adequadas li. sua personalidade feminina. Em vista disto, as
mulheres são convidadas a assumir no ampla leque de ser-
vJCOS da Igreja os caminhos que lhes são ma is apropriados.

Es'e ilrHgo multo da ... lO ,,,!)alho do Pa. Jun Galol S .J . Intllulildo


"MiMlon de .. Femme oi Sacerdoce -, em "Esprll 81 Via" n9 34-38, 25/05
a 6/09/1983, pp. 466-475.

• • •
lconUnuaçlo da p. 66 (246])

se deriva do fato de que o homem só se realiza plenamente


saindo de si para se entregar ao Absoluto; o homem não encon-
tra em si mesmo a sua resposta, pois ê pequeno demais para
satisfazer às suas aspiraÇÕC5 ao Absoluto; o homem não pode
ser referencial para si mesmo, mas Deus ou o Absoluto é o
seu referencial; por isto ele não é autônomo, mas heteronomo
ou, melhor, teônomo. Pode ser, à primeira vista, duro rec0-
nhecer esta verdade, mas ela é penhor da única e verdadeira
felicidade que o homem possa alcançar.

4. Em suma, a leitura do livro de- Grimm dá a impres~


são de est..annos não diante de uma obra de teologia ou de
Moral cristã, mas, sim, perante um tratado de 1.:tica conjugal
Inspirado pela filosofla existencialista e freudiana, e omamen·
tado com alusões à Blblla e a lemas de fé - t: lamentável
que isto seja oferecido pela Editora Santuário,
-228 -
Uvro .Vr."lvo:

"Quem é a Besta do Apocalipse?"


por 8rlzol.r Jardim

.Em ,ifttHa: o opõ&culo ·Ouem , a Besta do Apocali pse?" par1e di.


leM da que o Quar10 animai descrito am On 7,7 é Roma (dos César" ,
dos Pa~1 1. Sobre esle pino de lundo Inlerprata a prima Ira Besta do Apo·
callpse 03.2·101 como sendo o C.lollclsmo ou o Papado; e legunda Bell,
113,11-17) seriam os Es.tados Unido! • o Prol•• tanU,mo norte-amarlcano.
O aulor • edYflnllsta d o 79 dIa .

o opilsculo se ressente de numerOlU falhe, nlo 'O da redaçio pOf·


tuguesa a de cUaçAo de lontes, mal tlmb'm, a principalmente, da con·
leOdo exag61lco. O leu erro lunctamanlar conslsle em confundir apocallp"
e profecia; ora o gênero lIIar.rlo apocal/pllco nilo é pravlslo de aconte-
c imentos MUIOS, mas • a apre!Ulnllçlo di história Ploada li! presente
como 1190 regido pall Pro"lldéncll Ol'llne e destlnldo a consumar-se na
vitória do Bem lobre o mal. Em plr1leullr, On 7,1 Rio alude a Roml ,
mas lO. ,1110& que domlneram Isra.1 no alculo 11 a .C., qUllndo o Il'Iro dII
Daniel 101 nçritoj qUlm aalta do Império pel$l. (vencido em 323 a .C. para o
«Iomlnlo da Roma (Iniciado na Paleslina e m 63 a . C.), comale uma felha
hlsloriogr"ICII Clbra um hiato na hISlórla); além do qui, neglI-
gencia a finalidade do livro de Daniel, que era propor aos ludeus da
século \I a . C., atribulados perol 11rlos , uml pala"lra da "contorto.

Vke qua um "elltor que Incide em tlls efrOS a cade I tlnloe pracon·
caitOl, nlo lem aulorldade plra dellnlr quem leia a BKtl do Apoca·
lipse 13.13.

• • •
Nâo raro chegam â redação de PR cartas de leitores que
sugerem artigo sobre tal ou tal ponto de doutrina protestante.
Pannetos e Colhas volantes invadem os ambientes da Igreja e
provocam a necessidade de esclarecimento. Eis por que o pre-
sente artigo será dedicado a tal tarefa: teré. como reCerencial
o opÚSCulO cQuem é a Besta dD Apocalipse'!» , da autoria de
Bri20lar JanUm. crente adventlsta. O assunto eBesta do Apo-
calipse. já foi abordado em PR 251/ 1980. pp. 469-478. To-
davia. já que volta freqUentemente à baila, obrigando os fiéis
católicos a resposta pronta. tornam<ls a comentá-lo.

-229 -
50 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 230/ 1985

Examinaremos sumariamente o eonleúdo do livro; a se-


guir, propor·lh~mos alguns comenlârios.

1. O conteúdo do livro

1.1. Obse."oscóes a.ruis


Quem folheia o opúsculo, verifica logo que encerra sérios
erros de grafia portuguesa, que não parecem ser meras Calhas
tipográficas; assim:
P. 7; cQual deles, se já houveram mais de duas cen·
tenas e mela?:t
P. 9: Assenção, em lugar de AscensOO.
P. 35: ascenclooal, em lugar de asoenSiortal.
P. '27: pretençõe&. em lugar de pretelL5lÕes.
P. 33: expanelonbla, em vez de expaasionlstn.
P. 13; despresando, em lugar de desprezando.
pp. n. 20 ... a abreviatura AO não ê brasileira. Utili-
zada pelos anglófonos, deriva-se do latim Ama0 Dominl (no
ano do SCnhor}e designa os anos da era cristã. Em português,
usa-se d .C., depois de Cristo. Allãs, para designar os anos
anteriores a Cristo, Bl'izolar Jardim recorre à abreviatura AC
(= antes de Cristo; cf. p. 3). Lógico ser-lhe-ia utilizar d . C.
para significar edepols de Cristo • .
Além disto, observa-se que a bibliografia utilizada por Bl'i~
zolar e inadequada para rundamentar conclusões que preten-
dam ser científicas: Rui Barbosa, por exemplo, C aduzido para
corroborar dados de historiografia (o que nno é o campo de
trabalho específiCO de Rui Barbosa). À p. 20 é citado um
..texto de juramento dos jesuitas., todavia sem indicação de
fonte - o que toma nulas a citação e a argumentação cor·
l'eSpondente.
 p. 13 hã um anacronismo flagrant.e assim formul ado:
eVirgiliO ou Vergillo, protegido por Teodoro, foi Investido
do pontificado por Belizárlo em 539. Confirmado em seu posto
pelo clero em 538, acabou despresando sua protetora. _. •. Con-
firmado em 538. antes de ser Investido em 5397 Alêm do mais,
o nome do personagem é Vigilio, e não outro.

-230 -
A DESTA DO APOCALIPSE
"
1 .2 . O raciocínio de 8rbolot

Segundo o autor em pauta. a Besta do Apocalipse 13.18


há de ser entendida sobre o fundo de cena de Do 7,1-14 . Nesta
secção aparecem quatro animais monstruosos que, confonne
Bdzolar, representam sucessivamente a Babilônia, o lmpério
Medo-pérsico, a Grécia de Alexandre M. e Roma (a dos Césa-
rcs e a dos Papas). O chifl"e pequeno do quarto animal, men-
cionado em Dn 7,8, «nada mais é do que a Besta do Apocalipse.
Multas características dele encaixam-se perfeitamente nela..
(p. 4).

Disto isto, Brizolar passa a analisar a Besta do Apocalipse


(13,18). que ele identifica com a Roma dos Papas ou, mais
precisamente, com o Papado: . A Besta Apocaliptica é o Cato-
licismo Romano, o Papado ou o próprio Papall (p. 7). O autor
procura interpretar os traços que o Apocalipse atribui a tal
animai C()mo se significassem acontecimentos da história do
Papado ou da Igreja. Conhece superficialmente a história da
Igreja, servindo-se da obra de César Cantu, d ·IlstórJa Unlvcr-
s"b (cel. das Américas 1956, 32 volumes); não cita uma só
vez Ludwig von Pastor, Geschlehte der Piipstc, a obra mais
abalizada referente à história do Papado, nem algum tratado
ou compêndiQ de História da Igreja. Donde !;C pode concluir
que assaz superficial e preconcebido é o recurso de 81'120101'
aos fatos da história.
A leitura do opúsculo em paula sugere ao estudioso um
conjunto de obsclvaçócs, das quais duns principais serão abaixo
propostas.

2. Comenlórios

2.I . Prefetia e Apocalipse

o livro (alha basicamente por confundir profecia e apoca-


lipse. Estes são dois gêneros literarias diferenlC's um da outro.
A profecia ê a palavra que, em nomt" de Deus, interpreta
o presente ou prediz o futuro. - O apocalipse é um gênel'O
literãrio que o juda1smo cultivou nos últimos séculos antes de
Cristo. Pode ser assim descrito: imaginemos uma populac,;ão
- 231-
52 . PERCUNTE E RESPONDEREMOS .. 230/ 1985

duramente provada por calamidades. $co um dos membros


dessa população se dirigir aos seus contemporâneos para tran-
qüilizã·los, arriscar·se-á a ter pouco êxito, pois talvez lhe falte
autoridade. Mais sucesso terã, se atribuir suas palavras de
consolação e reconforto a famoso personagem do passado; este,
séculos atrás. jâ teria predito os acontecJmentos calamitosos
do prest!nte, apresentando-os como envolvidos no siblo plano
de Deus, Que terminará eorn a vitória plena do Bem sobre o
mal. Tal gênero Iiterârio tem o nome d@ apocanpse. (em gregfJ,
revelação), porque parece profecia; na verdade, não é predi-
ção de acontecimentos futuros, mas alusão a acontecimentos
próximos passados e contemporâneos ao autor como se tives-
sem sido preditos por personagem distante.
Ora a secção de Dn 7-12 pertence ao gênero 1I1erãrio apo.-
calíptico e não 11 profecia. Teve origem no século li a .C.,
quando o povo judeu estava Cortemente abatido pelo jugo dos
sírios, que lhe queriam impor pnUlcas pagãs. Foi entãD que
um escritor de Israel, querendo consolar seus compatriotas, lhes
propôs sob forma de sim bolos (animais monstruosos) os trés
reinos da história anterior aos slrlos:
- o leão, com asas de âguia, simboliza o reino da Babi-
lônia ;
o urso, com três costelas na boca, significa o reino dos
Medos;
o leopardo é identificado com o reino dos Persas.
Quanto ao quarto animal, é precisamente aquele reino que
na história sucede ao dos Persas. Ora estes foram vencidos
por Alexandre Magno da Macedônia (336·323) na batalha de
Arbelas em 331. Todavia o Imperlo de Alexandre Magno foi
efêmero; após a morte do monarca, os seus generais (diádo-
cos) dividiram entre si os seus territórios, de modo que a
Palestina caiu sob o domlnio dos egipclos (lágidas) em 319;
passou para o dominlo dos sírios (antiocos ou selêucldas) em
200. Alexandre Magno e seus dlâdocos inauguraram a era
dita .helenista"" que em Dn 7,7s é simbolizada pelo quarto
animal. Par Isto, este tem dez chifres, que significam os reis
da dinastia síria; o chifre peq,ueno que surge dentre OS dez
outros, figura o rei Antioco IV EpiCanes (175-163), da Slria,
que SÓ aqulriu preeminênela quando se desembaraçou de seus
concorrentes; foi tremendo perseguidor dos judeus. Ora o autor
de Do 7 esereveu precisamente sob o dominlo slrlo; para recen-
-232 -
A BESTA 00 APOCALIPSE 53

forlar seus irmãos, propôs· lhes, sob fonna de símbolos, a his·


tória desde o século VI (domínio babilônico) até o sCculo 11;
mencionou os Impérios que preencheram esse ).apso de tempo,
para poder assegurar aos seus leitores quE' as perseguições de
AnUoco IV ccnlra os judeus no século II não estavam fora dos
deslgnios de Deus, mas, ao contrArio, ia haviam sido preditas
no século VI por Daniel, famoso sãbiG de lsrael'; se as doml.
nações de povos estrangeiros (babilônicos, persas, macedônios)
sobre 05 judeus haviam passado, passaria também a dominação
dos sirios; o Senhor, que abarca a história inteira com seu
poder, estaria para dar alivio e salvaçãO ao seu povo subju·
gado pelos sírios.

Donde se vê que é despropositado interpretar o quarto


unlmal de Dn 7 como sendo o Império Romano (ou a 'Roma
dos Césares e dos Papas), pois
- na sucessio dos reinos antigos, após os Persas ocorrem
os gregos (Alexandre e seus continuadores}, e não os romanos.
Estes SÓ em 63 a.C., mediante o general Pompeu, começaram
a ~minar a Palestina ;
- falar dos romanos após 05 persas serin preclsamenlc
omitir a época mais Importante para os le itores de Daniel
(século U a .C.) : nesse século n é que viviam o autor e 05
primeiros leitores de Dn, procurando um reconrorto para '"
nas duras tribulações; Que padeciam por parte dos sirios. Oml·
tindo tal epoca, a seção 7 ,1-14 de Daniel não teria sentido ime-
diato para o POVo judeu perseguido.
Eis por Que a Interpretacão Que Brl.7.olar fiá a Dn é falhR .
Ressente-se de um preconceito ou parte dt' umR tese nredefi-
nida : Roma (11. dos Césares e a dos Papas) estaria condenada
pelo livro de Daniel.
Este, aliás, é o erro em que mais freqüentemente incorrem
certos Intêrpretes da S. Escritura: tencionam descobrir nesta
concepções que eles alimentam de antemão. Na verdade, po.
rém, a Bíblia não é um livro «caldo do céu»; é obra que pas·
sou por mentes humanas orientais antigas. dotadas de sua cul-

I Como .. depreenda. Daniel, que viveu no léculo VI a .C .. nlo , o


lulOl' do livro de Daniel. Esta obra é do .éculo 11, eGmO consta de vitlos
Indiclosi alu aulor é In6nlmo; recorre 1 Daniel como 88ndo o personagem
que, IblM Intn, tlrta predllo a história da lare,' e es peei.lmente as cata·
",Idadel do ,.culo 11.

-233 -
54 . PF:KGUNTE E RESPONDEREMOS. 23!l/ 19S5

tUl'a própria e inseridas em situaÇÔCS históricas; foi dentro


deste contexto, movidos por problemas de sua época. que os
autores sagrados escreveram. Em conseqüência, para interpre-
tã-Ios dev,idamcnte. temos de reconstituir as circunstâncias em
que viveram. e entender seus escritos a partJr de tais cIrcuns-
tâncias. Isto implica, entre outras coisas. que. antes de ana-
lisar um texto. temos de identificar o seu gênero llterárlo:
será poesia! Será profecia? Serã apocalipse! Será parábola?
Será crônica histórica! Serã texto de leis! .. . Se não faze-
mos isto, corremos O risco de Introduzir nossas idéias dentro
do texto sagrado em vez de eduzir do texto a sua santa men-
sagem. Ora Dn 7-12 não é- seção profética, mas seção apoca-
líptica.
Não é dificil, aliás, diferenciar apocaiipse (O profecia:
A profecia nem sempre versa sobre o ruturo; pode ser
uma palavra de Deus a respeito de situação pl'eSênte. Quando
voltadas para o futuro. as profecias emergem do contexto his-
tÓrico do profeta e têm sempre caráter um tanto vago; cf. Is
7.14s; 8,23-9,6: 11,1-9; Jr 31,31·34. As profecia'i não costumam
descer a ponnenores, nem são precisas em suas indicações cro-
noJógicas, pois geralmente colocam no mesmo plano a salda
do Egito sob Moisés (sêc. xm a .C.), o retorno após o exUio
babilônico sob Ciro (séc. VI a.C. l , a primeira e a segunda vin-
das do Messias. Por isto não é fácil ~ntender tertas profecias.
Ao contrãrio, Os t~xtos apocalípticos usam imagens cujos
pormenores costuma m corresponder a fatos históricos : o autor
de texto apocaliptioo descreve o passado como se ele fos.tre
fuluro ou a partir de tlm nt!rsonagem famoso da antlgiiidade
(ê o que acontece em Dn 7.1&14) . Os apocalipses apresentam
geralmenlc a luta final do Bem e do Ma) e o juizo de Dem;
sobre os homens ; d($CI"Cvem O abalo da natureza em termos
majestosos e dramáticos : recorrem a rico simbolismo, Inc1u!'!lve
ao dos números (gematria) . Em conseqüência , são Inconfun-
diveis apocalipse e profecia.

2 .2 . As Sestas de Ap 13
Em Ap 13,2-10 e 13,11-17 aparecem duas Bestas. Con-
forme Brizolar. representam a Roma dos Paoas ou o CAtoli-
cismo e o Protestantismo respectivamente 1. TaJ interpretação

I -Quem • • 11 Best. do APOCIllose? A resposta . : os Estados Unidos


d. América. ou melhor, o Protellantllmo norte-amerleano" Cp. 32).

-234 -
é deveras estranha; significa que durante quinze séculos (ate
o surto do Protestll.ntismo) os cristãos estavam impossibilitados
de identifica r a segunda Besta do Apolalipsc; esta figura nada
lhes dizia ...

1 . A exegese -objetivo. c dcstituída de preconceitos vc na


primeira Besta do Apocalipse o Poder civil ou politioo hostil
à 19reja; ê simbolizado pelo [mperudor Nero, o primcü'O per·
seguidor dos cristãos a partir do ano 64: cf. Ap 17,10.12-14,
se~o Que explica diretamente o significado da primeira Besta.
A figura de Nero ainda estava multo viva na recordação dos
cristãos. O seu nome QeSaR NcRVN (César Nero) escl'ito em
caracteres hebraicos tem o valor numérico 666 (cf. Ap 13,18) :

N V R N R s Q'
50 + 6 + 200 + 50 + 200 + 60 + 100 = 666
No século li S. Ircneu observava que OS manuscritos bibli·
cos oscilavam. pois alguns apresentavam o numero 616 em vez
de 666. Tal oscilacão se explica bem, pelo falo de que o nome
Neron se pode escrever também sem o li final - o que Implica
em subtrair 50 de 666.

Comprecndc·sc que a intcrprctaçflo do numero da Besta


deva ser procurada entre OS personagens conhecidos de S. Joito
e dos imediatos leitores do Apocalipse, ou seja, no sCculo 1 c
no ambiente do Império Romano antigo. onde S. João vivia;
este autor queria transmitir uma mensagem reconfortante aos
cristãos da Ásia Menor perseguidos; queria, sim, dizcl'-Ihes que
() poderio imperial inimigo estava fadado a perecer, visto que
666 era sim bolo de imperfeicão (6 é 7 - I, é a perfeicão trun·
cada, cortada, denciente), Por conseguinte. São João não podia
ter em vista um personagem do futuro (Hitler, Mussolíni, Sla·
IIn ... ), nem podia ter em mira o Ululo cVICARIUS FlLlI
DEb (Vigãrlo do Filho de Deus), que, sendo latino, não exis-
tia no $Óculo I (até o sCculo nI a Jlngua de Roma era o grego,
e não o latim).
O intérprete que nAo leve em conta a situação dos cris-
tãos do sécul() I necessitados de uma palavra de estimulo, hã
de procurar em qualquer época da histõrla um nome cujas

I Ler da direita para a esquerda.

-235 -
56 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 230/ 1985,_ _ __

lelras perfaçam a soma 666. Ora, assim como os advenlislaJ:;


arbitrariamente afirmam CJue tal nome ê cVICARIUS FILII
DEb, assim os estudiosos não adventistas poderão (lambém
arbitrariamente) responder-lhes que tal nome é o de

E L L E N G O U L D WH I
5050 5 50 500 5+5 I = 666
Tal ~nhora é a grande doutora do Adventlsmo; seria.
portanto, também a primeira Besta do Apocalipse!

2 . A segunda Besta do Apocalipse certamente não é o PI'O-


testantismo. Designada pelo nome de dalso proreta ~ (Ap 16,13;
19,20; 20,10), vem a ser o poder I"eligioso colocado a serviço
do poder Imperial ou político no ImpériO Romano. Sabe-se que
o cu1to ou o endeusamento do Imperador resumia todo O s is-
tema religioso do paganismo romano: Júlio Cêsar, quando vivo
(t 44 a .C.), teve seus sacerdotes; a SUa imagem aparecia com
as dos deuses nas procissões solenes; e o Senado, depois de o
ter proclamado cum semi-deus~, decretou que era o própriO
Júpiter ou IUPlliter JuUus e que se construiria um templo em
sua honra ... ! Os cristãos que se quisessem subtrair ao culto
imperial, eram boicotados; o ingresso nos mercados era·lhes
proibido (cf. Ap 13,17) . - Pois bem; tendo e m vista tal reali-
dade, que muito amgia os fiéis, São João quis dizer a estes,
no Apocalipse, que também o poder religioso falso, associado
80 poder imperial, .estava condenado a desaparecer; cf. Ap
19,20; 20,10.

Estas observações mostram quão despropositadas são as


interpretações adventistas.
Brlzolar se detém ainda, C!m seu livro, sobre a questão
cSábado ou Domingo? » e sobre o tema cInquisi(ão. Ares·
peito da primeira jã foram publlcados alguns artigos em PR:
cf., por exemplo, 158/1973, pp. 63--73. A respeito da Inqulsi.
ção, ver 8(1957, pp. 23-26; 158/1973, p. 57; 134(1971, p. 86.

Não é intenção nossa deter-nos mais loniamente sobre o


livro de Brlzolar, que fica aquém do nível da exegese cientl-
fica, inspirado como é por numerosos preconceitos. Possam as
consideracões até aqui apresentadas contribuir para í1ustrar o
leitor sincero a respeito dos pontos de interpretacão blblica
abordados pelo autor do opúsculo e m foco!
-236 -
Sedu1or ...

o Sonho de Batizar o Marxismo

Em Ilnlese: o arllgo segulnle, divido I um Ix·mlmanla comunista


J)olonls, põe em tvl1l6ncia a Incompatibilidade absoluta "dltenle Inlre
(;tilllanlsmo I marxismo. O Crbtl~nl$mo apregoa o 'l. peltO A pessoa.
humlna I .. C)(dem éllc:a; eXll1a os conclUos di jusllça, amor I compllxlo.
Orl tlis noç6Is nlo enlrlm na IiIOlOrla de vldl fI1 andsta: Ilém dislo, o
marxisfl10 nlo tem em vista os Indlvlduos e SUIS up"eç6es, mas eslatiza
OU eolltlv lza Ilm~m as pessoasi o Eatldo , O pl,nlpollnctarlo absoluto, ao
qUlt IOCI planejlr I economia I . . demais I tlvldad.. da nlçAo; a exprlsslo
mais lIel d ISse II.tlml • da IUI relUzaçlo • o campo de çonçentraçlo ou
I) çampo de Ir.balhos forçados ; o marxismo 'rlZ em seu. próprios prinçlplos

os fundamentos da ,scrav!zOlçJo dos povos.

• • •
o artigo abaixo deve-se ao ProL Leszek Kolakowski. fel·
10\Y do Ali SouJs College de Oxford. e professor de Filosofia da
Universidade de Chicago (U .S.A.l . Nasceu em Radom (Polô-
nia) no ano de 1927. Em 1968 foi expulso da Universidade de
Varsãvia por ocasião das depurações que se sucederam ao mo-
vimento dos estudantes contra a censura. Foi um dos expoen-
tes da intetligentzia polonesa critica diante do regime mar·
xista. Desde 1969 vive no estrangeiro. Os seus livros mais
famosos são: cA Filosofia do POSitivismo., cO Espirito Revo-
lucionário e a TI'Uogia: Nascimento. Desenvolvimento e Dis-
solução do Marxismo •.
Aos 7/ 10/ 1984. o jornal italiano .Corricre deJla Sem .
publicou o artigo de Kolakowsld intitulado clt Sogno di bat·
tezzare iI Marxismo., Dada a oportunidade da matéria. escrita.
aliás. por alguem que foi militante marxista. julgamos conve-
niente difundi-Ia e m português.

- 237
58 eP[RGUNTF.: E RESPONDEIlEMOS, 230 / 1!)85

o SONHO . . .
Aquelas que sustantam a possibilidade de um «morxismo cristãOIl
011 de fraternidade entre cristãos e mQuistos, gerolmenle professo,"
reservos 110 lo<onle 00 compromisso teórico ou polltico. Oit.ern : cNCio
obro~omOI o marxismo no suo totalidade, com a suo filosofia maioria·
litlo e oléio ; o nlm1lomos apenas olgu,"ol portei do morxis mo., QuI!'
porles uriom ouol1 - olguns respondem: «I>. teorio do lula d.
clouen. OulrOI: /l à normo de e5larmos do lado dOI pobres • . OutrOI
aindo; c A filo$ofia marxi11a da hhl6rio :t ou «A Me-todolagjQ marxillO.
ou lombé", cO malerioliuno histÓl'ico, qlle pode ser fac:ilmenle separado
do mole,iolillno filosófico . I .

Reflitamos um pouco !.obre o que significo eua ouimito C'õo


.-parcial ,. do marxismo.

1. Luta de classes e CristianiSMO


Oue significo e oceitor a teoria da lUla de clauon?

Se essa leorio comito!. em reconhecer que na sociedade concrela


uoislern clos1es COIl'l inlerenes conlr0110nles e quo o seu conflito I.
Iroduit em luto, muitas vezes sangrenta e cruel, euo teo ria
ta era ple namente conhecida por Tucídides It 395 a .C.) e iilo
lôvio It 17 d.C.I . nela nado em absoluto h6 que seja mon;i,ta. No
suo famoso corto o JOle ph Weydemeyer, om 1852, Marx afirmava
que elo nôa invontara o exillencia dos dossel, rnCls dOll'lonslraro ~ que
a uisl~n(ia das dassel estó ligado 00 deSenvolvimento do prod!Jtõo ...
que o lula de closses leria como conseqüência ti d ito duro do prolalo-
riodo e, por fim, urna sociedade sem clo ~ les . Por con$egvinle, torno-so
tlOIO que nôo hó necessidade do morllilll'lO poro le admitir o reolidude
dos conflllos de dono,; tcunbém fico cvidonlo que o oceilocüo porciol
do morxlsmo, lem o dito.duro do prol etariado~, é simplesmente
impossível.

I ~ ~alerialismo lIIosOfico· 50rla o alstema q ue proll!$$a IIÓ e lliSUr


malArla como recusa do esplrito li dos valores propriamente espirituais. -
Ao inds, o malerlaUsmo hlstOrlco abstrai da edstOnçl. ou nlo do e,plrlto
e ensina .que na realldada hlstOrica é a matória ~ou OI bens materiais) que
rege o eu'", ISos 8conteclmentos (Nata do tradutor) .
! NIo 8a saua bem em qua tuto anterio r a 1852 Marli tenha demons-
Irado Isso.
] Dll.ad ura do prolatarlado' sistema que ninguém lamals viu: sO ul.te
como nome, poli é o nome dIIdo * ascravatura comuAlslll.

-238 -
BATIZAR O MARXISMO?

2. Uma paródia

Quanlo 00 eompromiuo e", prol da causo dos pobres, nao é, em


absoluto, tnoOlislo; no ve ldode , e algo de genuinomente crislão. Ao
conlrario dos utopislos que ele olocovo, Moro; nunca dividiu o sociedade
Im ericon e e pobres :., ou seja . tomando por critório O e$Colo dos
rendOI. O que imporlovo o Morl, ero o conllilo de umo doue conho
a oulra, e não o dos pobre, conlro 0$ ,icol. O movimento em d irecêio
do ~ocjoli,mo, 'segundo Marx, tem suos origens na luto de classes, e
ntio no miserio, Um mor.ist a deve compromeler·se em prol do causo
do ' proletariodo industrial dos poises oltomente desenvolvidos, e nõo
em favor do mono indiferenciado dos pobres I.

Alé", disto, o horizonte de Marx era doromente europeuj poro


com OI civilizoçi5es n50 européias, ele s6 011menlovo despreõlo, de
modo que um marxismo voltado poro OI poisel subdesenvolvidos do
Tefaifo Mundo é uma monstlUOlidade no conleJllo da doutrino de
MCHJI. Este ofirmovo enfaticamente que todo o progres~o do humani·
dade se faria inevitavelmente às custos do. individuos, ou mesmo da
'moioria da sociedade.

Por urlo, dizia Marx, o lociolismo hé. de mudor ludoj o p'09rf:SSO


' étnico já não dependerá da miséria deu mo ~ sos . Todavia, ao propor
hlO, Marx nôo julgo que seja umo questão de c jusliçoll, menos ainda ...
de «(:ompaixão:t ou de 4amor,,; e.lel .rê, conceilOS absolulamenle nóo
IÕO rnarJlislal. MalJl rejeitava conlide ror a histôrio do ponlo de viUo do
Moral ; por iSlo é uma parõdio quase incrivel imaginaI Icomo fOõlern
olgunl orou los do e rnofxilmO crill60" 1 que a lula de elaSS«l no sentido
mO( Jli,lo seio uma expreuão de amor. A quem o imagino, pervunlore-
mos le leram alguma vex c O Copito!'. , OI o.ligol de MorJl lob.e o
coloniol1,mo, os refluõel de Engoli loblC o problema nacional, poro
não falar dos «GtundriS5e :t I Troços fundamentais). Na verdade,
ceslOf do Jodo dos pobren é um principio cristõo; deriva·se dali
Evongelho s, nCio do Manifesto Comuni$la e ê intompolíve l com a
mensogem fftonislo .

t Aqui KOlakowski se r.fele a uma dislinçiio que 0$ esludloo:sos coso


tumam Illel : os Mpobrss" de Marx nlo do 0& pobres ~ linguagem comum.
mal ..ao os Ual».lhadores doi pIII.e. fOl lemenle Indusula1ilado.; ao conl:,rio,
no..a linguagem comum tem em vl. la as missas carente.: .. gunda a Blblla,
essas malSas carentes .10 1161. a DIUI, consllrvando profundo .enSO religioso,
lO passo que o p!'"ole"rlo de Mal. 6 ateu o malerialllta (Noll do IrtClulof/.

-239 -
3. A filosofia marxisla da hislória

Quonto o filosofia moolino do história, não se vi bem q\lC"


plincípios OI cristãos lhe podoriom tomor de empréstimo; com ereito,
o Ctistionismo não oceita o teoria de que todo: os p,odutos cu ltur ois
do homem linclusive o religiõo e o próprio Cristianismo) devom sei
lidtll como instrumenlol do luto do tlaues e, om última instôncia ,
tomo um reflexo .. . das ,elaeões d~ produeão. Sem dúvido , um cristõo
poderá adotar essa filosofia morxilito, mas enlãc ser6 obrigado o
d iur: cO (mico sentido dOI "onçol IlIpetlticiosol qU8 profeao con·
vidomente, é o de apoiar o ell pl%çã o dOI mouos IrQbolhodoros
por parte das dasuu prop'ietóriQU au, na melhor dos hi póteses, d:ró :
cAs minhos crenços religiasol exprimem o 19no,ôn tio e a imoturiéade
e spiritual do povo •. Se tol cris'õo não 81t6 disposto o rcconhe: er islo
e perside e m a coitar o . filosofio morlll$to do hist6r1o . , cai em pleno
(onlrodição.

A atitude anticristà do morxi'lntl, lon,ge de ser uma oberroc;ão,


"'1110 falso interpretação ou um vicio oca~ionol. constitui o prôp,io cerne
do doutrino morxiSlo, Hó 00 monos doil principiaI básicos do CrU.a·
nilmo que sôo absolulomente intompotíveis com O marxismo (qualquor
que sojo o IUQ modolidodel, e .em OI quo is o Cristianismo perde o seu
'entido. Primeiro : o C,islianismo, oindg que odmiro o reol idod e do
vida terrellre e dos be ns temporQ is, deve considerar a elles como
secundários eln re locõo com o VOCOt;õo do hOQlem pala o etern idade.
Segun do~ o so lvoçõo, em lermol cristõos, e obro do Deus fi qualquer
' .n'ol ~va de tundar o Reino de Oeu~ por oçõu do homem não é opena~
deslinado o fo tir, mQS é o sI/premo produto do orroogândo humano. -
Ao Conllólío, o monismo é antropocên trico; crê que Q humanidade
pode perfeitamen te lolvor o si me .mo, medionte o domínio sobre os
elemenlos do naturu:o e sobre OI condic;&es do vido do ~ocjedode. O
marxismo rejeito os fundome ntO$ ontol6gicos do mo i ou, melhor,
re jeito o ptôprio conceilo d e moi, aquilo que é d ito c mol . , vem o sor
mera imp erfeicão loulrolo ;noviróv e ll das institu :cõe, socia is é poderó
ser 101.1 mesmo será) inteiramente e liminodo no decoHer dos lempos.
Apesor do qUe tom sido repetidomonte af irmado, o: marxismo não é
uma creliglão soculol .; é, sim, uma caricatura de religião.

Os odeplos do conlrodilÓlÍo . mor.ismo cri.tãtl » não goslom df'


falar do mOlxismo re al, ou seio , do coml'ni.mo que govell'lo lo ntas
povo s. Se alguém insiste com el.s em obOf'dat este alSunto, afostom o
problema como sendo desproposilodo ou repetem os frale$ hobiluois ~
.. ES1a real idade nada tem que .,er com O autêntico humanismo morJlislo;

- 240-
BATIZAR O MARXISMO? 61

é uma distorção da men.agem origínório., etc. MOI, se se trata de


umo diitorçi5o, perguntamos: como foi pouível que tania gente no
século panado, espedolment. os anarquislos, tenham predito COrl\
muito precisão que ql,lolquer reconstrução do sodedode bosegd<l nOI
princípiol morxiltol produxirio inevitavelmente Uma novo formo d.
escrovidão ou um sistemo no qual OI peuOQI seriam redUlidos õ
~"diçõo de inerle pfopriedode de UI\"I Estado lodo·poderoso? Tais
pre'f'Jsões .ram muito lógicos e fOfom rigorosamente confirmodos pelo
experiêncio.

4. A propriedade particular
Foi Marx quem declarou que lod<l ° doutrin<l do comunismo se
poderio resumir numa únko expreuõo : «aboliçôo do propriedode
porticulor.. Foi ele que m disse que numa sociedClde sociolisto todo
o proceuo de produçõo e distribuição eslori-o concentrado nos mãos
do Estado. Também afirmou que o Edodo perderia a 'unçõo de governo
pclftico • I. transformorio em «administrador de COr'ou leapreuõo
tirada dOI escritos de Saint·SimonJ: mas Karl Morx não explicou coma
o codmlnillroçCio daI COiIOI:l, isto é, a gestão econômico poderia ser
exercida sem ,«orrer 6 otividode dOI pe uoos; afinal de conlol, OI
CoiSOI nõo scio produsidos nelll sCio tronsportadol por li mesmos, mOI
por leres humanos.

Se O Estado se encarrega de lodos os elementol moleriois da


IIroducão linclusiv~ os melas de in'ormoc;ão e do comunicoc;ãol, se o
Eslado nodonoliJ:o tudo, nocionalizará também OI ser81 humanos. Por
lI,e<llamenle islo que oeantec:eu nos países comunistas, em c;onformi·
dode absolulo com ° doutrino morailto. Isto nao qver diur que O
lo ... i~lilmo lenha sido produzido casvalmente pelo Ideologia morAisto,
pois nenhuma ideologia' por si capaz de mudar o lociedode. N60
obston'e, o marxismo, lem ler di.torcldo, mostrou que pode ler
Cldoplado de modo ° servir como inllrull'lento ideológico paro o pro·
mocãl) do noyCl clClsse de I)p,essore. nOI 11011•• cOlllvoi"ol.

o tipo de concentro~õo de poder.s existentes nOI países ~mu'


nislol nunca teve antecedentes iguols na hil16rio paliado: um ;overrlO
comunista reune em suas mãol os instrumentos politicos. policiai.,
eton6micol .. ideol6gicol do poder, o legillodor, o policiol, o lulz, o
°
corrolCO, socerdole e o proprietário de lodos o. riqueJ.ol tornarOIll· le
uma só enlidade: elta é o unieo ena.rnocão praticável do ideei do
perfeito unidade que o marxismo opregoo desde os seus primórdios. O
Gl,ll~ Icampo de c;on,enlroç60) 10...16lico, longe de ler um de, ... io do

-241-
62 , PERGUNTE E RESPON DEREMOS' 230/ 1995

sã doutrina morxi,la, Ó Q (jnica atuaç(io ponivel deua doutrino. A


unidade perfeilo só pode ser obtido lob forma de dupotismo totalitó-
rio, Conforme o marxismo, se desejamos inslitucionoli:l::or o frole,nidgdeo
humano, 'emas que crior DEitado policiol. A único formo de $. con -
ceber UIII planejamento que tudo obranjo , " um compo de trabalhos
forçodos, O, criticos onclrqu;slol e liberois do ",or_bmo tomaram
ecnlciência dilfo. de m(lneira inequívoco, muitos decinios onles do
revolução fuua . Não soa OI intenCOeI pessoois do Mor. que contom,
mas é a lógica irresistível da sua doulrina.

5. Escravidão
e verdade que no Cristianismo nó um pOlencial totalitório, A
tenlação de usor o violincio no d e mondo do salvação foi forle no
hislória da Cristianismo . .. Todovia ede, abslrocãa feita de algumos
seitas marginais, nóo produz.iu forlllOl d. governo totalitários •
teocráticos. Na história da Igreja sempre houve uma barreiro que
impediu eua tentoçiio de onumir formas extrem'õu: e OSlo borreira" o
convicção outenticamente cristã de quo a pena0 humano ~ uma roa li_
dode ontológica inconfundlvol, um yalor absoluto li insubstitulvel, e
por bla nenhuIII ,er humano pode scr prOpriedade d. outra p~uoa ou
do Estado. Co," oulreu palavras : o principio bó,ico do Cristianismo
exclui a escravidão.

o marxismo, reduzindo 05 pOUOOI humanos a conjuntos socioi"


destrói·as no plano teórico; se ele forn ece uma ideologia e o legitimi.
dade a um Estado lociolisla , destrói_os lambém no ordem priltico. O
marxismo não somente não possui correireu conho o escravidão, mas
promove-o ativomenle. A ultimo palavra do marxiJmo e (lo canlpo de
trabalhol forçados !Trotsky talvez o lenho percebido melflor do que
qualquer político mafxi,IG) .

Em sumG, o " marxismo c,istôo:t é ou 11 umG modalidade de


marxismo, na qual o objetivo c ai' lão. é deslituído de significado li
enganador, au 21 a elCpreuóo contraditório da surpreendente ingenui.
dade doqueles que, com rótulos cristãos, eltôo dispostos a tornar-se
o fertililonte de uma titania. E as~im temos «o diõlogo entre um
bastão e as n6dego u , como di!: um provêrbio polo~o.

-242-
Um livro .protestante:

li O que é amar? J'

por Roberl Grimm

Em .Inlu.; Robert Grlmm 6 pa stor pl"otestante da França que pro.-


pugna o divórcio nu:n livro traduzido e publieado pela Edilora Sanluiario de
...parecida. li!: iamentavel que uma EdUora cat6l1ca laça ISIO, sabedora de
que o magiat6rio da Igreja conscientemente tem rejeitado o di vórcio, poil
este fara • InsUtulçJ.o divlnt do matrlmOnlo (cf. FamlJianis eonsorUo nt 20) .
AI6m do quf. o livro parece mais um tratado de éUca conjugal inspirado pele
filosofia exillonçilli$la e pelo hedonismo do F.eud do que um livro de leolo-
gia e de exegese bIbHCII; a fé ai é esvaziada do leu c:ontelldo radical e lotali.
unle, par. lornar--se algo da lIellvel e "suave", ragldo pelas tendências
eub}etlval do homem. e nlo regente d. conduta do homem.

• • •
Rolx!rt Glimm é pastor protestant€! da Franca, que cset'f!·
"eu uma obra sobre o casamento, publicada em português pela
Editora Santuário. dos PP. Redentoristas de Aparecida 1. ~ta
obra, destinada ao grande público, propugna o divórcio, usando
de uma linguagem biblica e religiosa que lcnde a tornar a
. tese mais aceitável ao leitor desprevenido. Eis por que nos
....oltaremos para uma análise do livro, à qual acrescentaremos
breves re(l€!xõcs.

1. O livro: sim ao divórcio


o aut or começa por expor as mudanças ocorrentes no
pensamento moderno com relação ao matrimônio. R-ealça que
um dos cri térios mais adotados hoje em dia para reger a con·
duta humana ê o do prazer.

I Robert Grlmm, o qu. 6 emu? Tr. duçAo de Celeste Campos. - Ed,


Sanlu6rlo, Aparecida, 138 I( 208 mm, 200 pp,

- 243-
64 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 230/ 1985

<lHouo torpo falo e Co precisa dar-lhe a pc:llovro. E (I que ele


diz ê tão forle que diminui o forço do que dizem nonOI palavras ...
001 o orgoni:r.o~ão de numerosos cuuos de expressão .. de liberação
corporal•... de eltponlão JeJluol, Enfim nós devemos aprender Q.
viver noUo corpo, o fozi·lo falo I, o dei:.r.â· lo dizer lUa "erdode. t
por isso que nóo é precis.o ler vergonha de vê.lo e de contempló.lo:
A nudez i6 não é um tabu , .,

Plicólogos e moralistas convidam o ,edes(ob,ir a impoftãncio do


prole' pata o homem, 'A questão do prazer atinge o que há de m(lil
profundo no homem', elcre"e D. VauO:t Ipp. 18ul.

Sobre este fundo de cena R. Grimm não vê como se possa


defender a Indlssolubilldade do casamento. Desde que este não
acarrete mais prazer para os cônjuges, perde o seu sentido.
O casamento depende do amor: desde que este cesse. o casa·
mento cessa (pp. 89 .92). Afinne--se a primazia da afetividade
sobre a instituição, da autenticIdade sobre a observância de
um principio. do amor sobre a lei. da l1berdBde sobre a coer·
ção (p. 95), O autor reconhece que a Escritura não favorece
tal posição. mas julga que a BIblla apenas propõe um Ideal
e não uma norma.
c No caso de leporoçóo, não devem se cOlor de novo. O Novo
Testamento, ell'l nenhumó pauggem, autoriza de forma e:.r.plícito um
novo calomento parQ divordodOI. E O princípio. o ideal. o irnperolivo
do amor. Mal. seria legitimo imp6·lo como dogma e como disciplina
atada ,asa me nta de cristãos? Pode,s(I pelrifiçar a palavra bíblica
num c06digo legal? Ip. 971 .

Em suma, o livro todo se desenvolve em torno da tese


divorcista, de modo que passamos a comentA-Ia.

2. Refletindo. ..
1. Antes do mais. ê estranho que uma Editora católica.
atê agora bem conceituada, publique obra de tal teor. Ap~
senta a mentalidade protestante. segundo a qual o matrimônio
não é sacramento e. por isto. a Igreja não pode legislar a res-
peito (p. 89). A Editora divulga assim um livro que está em
flagrante contradição eom O magistério da Igreja; este, diante
das modernas instAndas divorclstas. realizou um Sínodo Mun·
dlal de Blspos em 1980. do qual resultou a InstruCão Farnll1arls

-244 -
oIO QUE É AMAR? ) ..
Con50rtiO; neste documento. o S. Padre Joio Paulo lI. fazendo
00) à sentença dos Bispos sinodais e do Concilio do Vati-
cano lI, reafinna:

cA comunh ão coniugol coroclerizo· 'e não 56 pela unidade,


mas também pelo suo indiuolubllidade. 'Esta união intima, 16 quo é
dom r.ed praca de- duas peuaOl, exige, do mesmo modo .q ue ° bem dos
filhol, a inloeiro fidelidade dos c6njuges e a indi$$olubilidode do união'
!Goudium ot Sp.5 "'8)11 IFamlllaril Consorflo n' 20).

Os §f 79-84 do mesmo documento examinam as situações


irregulares resultantes de infidelidade ao amor conjue:a1. Não
pode haver dúvida, portanto, de que o pensamento da Igreja,
para ser fiel a Cristo, continua sendo conscientemente contri.-
rIo ao divórcio.

2. Todo o livro em {oco, como vários outros de Teologia


Moral de nossos dias, rejeita o objetivismo da Moral, propondo
uma. ética. dita «personallstall, que, no entender dos seus fau-
tores, ê subjetividade, isto é, orienta-se por critérios partlcula-
~ pessoais, entre os quais o da procura do prazer; ora, como
este pode ser avaliado diversamente por diversos Lndividuas,
hã tantas éticas quanto imUviduos dados à procura do prazer.
Robert Grimm apela para o conceito de fé, a fim de corroborar
as suas asserções: cA fé é fidelidade livre, um amor de reco-
nheclmento. Ela não poderia prender-se a uma interpretação
literal da Biblia, de um código de leis, de uma disciplina ecle-
sibUca ou de uma noção de sacrifício e de heroismo, à qual
um dos cõnjuges não poderia aderir... A fé não torna o
divórcio impossiveb (pp. 90s).

Na verdade, estas palavras de Grimm, tornando a fé


amorfa, extinguem a especificidade do Evangelho. E é algo de
radical. a exigir radicalidade da parte dos seus seguidores;
sim, Jesus mandou arrancar olho, mão e pés desde que estes
sejam motivo de tropeço para os seus disclpulos (cf. Mt 5,29;
18,85); embora estas palavras não devam ser tomadas ao pó
da letra, elas incutem oU absoluta necessidade de aCastar qual-
quer obstáculo no caminho para Deus - mesmo que prove-
nha das coisas legitimas e naturais que Deus deu ao homem,
desde que se tornem ocasião de queda para o cristão.

-245 -
liI,j ~ PEHGUNTE1:: ItI!SPOND.EIlJ::MOS ~ 230/ 1985

Mais: em Mt 19,12, Jesus fala dos eunucos que se fizeram


tais por causa do Reino dos cêus, Aqui não estão em mira os
celibatários espontâneos, mas o contexto nos diz que se trata
de pessoas às quais o Senhor deu vocação matrimonial. Com
efeito, o discul"SO anterior de Jesus incutia B indlssolubllidade
do matrlmõnio; ao ouvirem-no, os Apóstolos se surpreenderam
e exclamaram: cEm tais c<mdiÇ'Ões, não vale 3. pena casar-se»
(Mt 19,10). Jesus não lhes respondeu que de fato era melhor
não se casar, mas chamou a atenção para a seriedade do casa-
mento. Sim; as pessoas que se casam, mas são infelizes no ma-
trimõnio, têm o direito de separar-se, mas se tornam eunucos
ou passam a viver a vida una (embora tenham vocação matri-
monial) para ser fiêis ao Evangelho ou por amor do Reino dos
céus.

Esse radicalismo do Evangelho escandaliza. a mentalida.de


subjetivista e hedonista que as escolas modernas insuflam; em
conseqüência, hâ quem pl'Ctenda fazer da fé uma atitude livre,
suave, regida pelo homem e não regente da vida do homem;
·0 homem seria o centro ou o referencial, e · não Deus. Tal
posição esvazia por completo o Evangelho. Precisamente o que
no ~vangelho atrai tantas pessoas não cristãs, é o caráter de
plenitude e de radicalidade que o marca; Gandhi, por exem-
no, confessou Que se teria feito cristão ao tomar contato com
as bem-aventuranças evangélicas, mas sentiu-se decepcionado
pelo modo de viver cmuito suave:t dos ingleses da Inglaterra,
Bergson, o judeu que quase se fez cristão, dizia que o que o
impressionava no Evangelho era a norma, dada ao cristão, de
nunca parar ou de se ultrapassar constantemente na procura
do Absoluto. Ora tal proerama de vida exige sacriCicio e he-
roismo. sem dúvida,. . . saerificio e hCI'Oismo que Robert Grimm
.quer excluir da vivê:ncia da (é.
3. O conceito de lei Objetiva e universal não ê simpâ-
tico a correntes do pensamcnto moderno. A propósito reconhe-
cemos que há leis contingentes, sancionadas em vista de sllua-
C'Ões que passaram, de tal modo que tais leis têm de ser
ab-rogadas a Cavar de outras mais condizentes com novas
situações (tais são as leis eJeitorais, as leis do ensino, dos im-
postos, do trânsito ... ). Existem outras leis, porém , que têm
seu fundamento não em Situações momentâneas, mas na pró-
pria natureza humana ou na expllcita determinação do Senhor
Deus; são leis naturais ou leis positivas divinas; estas tcm cará-
ter absoluto, embora Incômodas: para o homem: este incômodo
(\.,.,..1". na p. 41 (UI]

- 246-
T~ogl. Moral hoje:

1/ Praxis (ristã 11"


por lópez Azpllarte e oulroa

Em ai". . . : O IloIro de Moral ref.renle • vida e la lmor, de alltorll


de E. Lopez Azpltarte, F. J. Ellzarl e.slefr. e R. Rlocon Orduna. ao lado de
p'glnl' val10sas sobre o amor • I "'~lIarldade. apresenta ."p!«naçoes t
c onelus6el quo liestoam da MOIII Cltótica: tenta legitimar. por Ixomplo. I
pr'UcI homO.UlllUII, .. lellçOea pre-rnatllmonllls. a lecundeçlo artificial
het8rÓIOlla. o aborto .. . Estaa potlç6es desabcnam 8 obra aos olhOi do
leitor católico.

• • •
Apresentamos, a seguir. o volume I[ de uma série de três.
intitulada cPRAXIS CRISfA.. O volume I trata de cMoral
Fundamentab; o volume 11 aborda a OIQpção pela vida e pelo
amor_, ao passo Que o 111 considera a cOptáo pela jusUça e
pela liberdade_o O conjunto deve-se a três autores de IIngua
espanhola: E. López Azpital'le, F. J, Ellzari Basterr8 c R. Rin-
cón Ol'duna I .

. O volume n merece atenção pela densidade de seu con-


teudo e pelas posicôes que assume diante de problemas atuais.
Eis por que lhe dedicamos as páginas seguintes.

O volume em foco compreende duas partes: 1) Moral da


vida e da saúde; 2) Moral do amor e da sexua lidnoo. Na pri-
meira seção vém abordados problemas como o aborto. o sui-
cidio, a greve de fome, a eutanásia, a pena de morte, a tor-

I Edlç6cs PauUfllS, Sio Pavio 19~, 160 x .230 mm, -496 pp. Traduçlo
de Alvaro Cunha. O votume I I' 101 tlrevemenle analisado om PR 276'1984.
p . 440.

- 247-
68 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 230/ 1985

lura, a viQlência bélica. e terrorista, a ecologia, o l1S() da ener·


gla nuclear, os transplantes, a experimentação humana. a euge-
nema, a engenharia genética, as drogas. Na segunda parte,
são encarados temas como a masturbação, o homossexualismo,
as relacÕts pre-matrimoniais, o controle da natalidade, a indis·
solubilidade do matlimlmio. a virgindade e o celibato.

Como se ve, o leque de abordagens é variado e candente.


Cada assunto é considerado com ampla fundamentação bíblica.
teológtca e filosófica; os autores citam vasta bibliografia, de
modo que o livro se torna importante fonte de informaeões
para o leitor.

A obra apresenta ao estudioso uma série de questões étl·


cas novas. colocadas ao cristão pelas circunstâncias da vida
moderna. Trata·se de problemas complexos, dotados de várias
facetas. Os autores do livro, ao tentar traçar pistas para
resolvê-Ios. parecem oscilar entre critérios objetivos e crlt~
térios ditos cpersonalistas:., que vem a ser subjetivos. Por
causa disto, muitos cap1tulos da obra propõem princípios gerais
muito válidos e bem fundamentados. mas, pouco depois, abrem·
·Ihes exceções em nome de pontos de vista SUbjetivos ou per·
sonallstas. Ê o que torna ambiguo ou mesmo desacreditado o
conteúdo de vários capítulos do livro. Passamos a citar alguns
exemplos.

1. Homossexualismo Cpp. 349-3711

Os autores tecem longas C interessantes conslderacóes S()oo


bre a homossexualidade, estudando a gênese c a explicação do
problema. Depois Indagam:

cSeró que não cab.,iCl a panibilidode de Cldmilir coma Ilotm umo


reloção homoneAuCll, pelo menol em determinados situoçõel? Se de·
terminado pe-uao é anim, por qu.. elCl nao pode vi ...., de .acordo com
suo inclinQcõo7 S@ró humano exiair um comportamento que se '8'1810
l"ollnllllv.1 parca!anlos individuol?

••• A pcrmlllividade ~Iico d .. 0101 homossexuais, em uma te-Ioeão


pena0 1 de afeto e carinho, se fundamcnlClria em uma conliderocão de
fundo que (I seouir eApr.nomos bem sudnlomenle,

- 248-
"PRAXIS CRISTA II ~ co
o homossexualismo, como qualquer instinto, não deue ser repri.
FIIido. mal também nôo dcyc Icr vivido como um simples proler cgoista.
Colocado entre 0$ dois extremos, podcrio $<Cr Qceito como expreuão
de ornar, pois, embora tenho o!pe(tos ne90livo$ - nôo 01;n9_ o ideal
do SOIlO - , manifesto sem dúvida olouns aspectos positivos, no medido
em que se ofosto de outros comportamentos, bastante piores. Por iuo,
os exiolndos objetivos do moral deveriam Q(omodar-se os situo(õtlS
c pOllibllidQdes (onaetas de cado individuo·

Não considero incorrelo que o elicidode de uma condula também


seja analisada por luas can:eqüêndol. . . Se, em 5-eU conjunto, um
comportamenlo provoco muito mah efeitos benêfkos e positiVOS do que
lomentÔvei,. cntôo elc não poderio lef considerado como pecaminosa.
l'IIIesmo não c:onstituindo tombam nenh",m modelo o se r imitado _
Ip. 362" .

Dito isto, OS autores mostram quo, mesmo para os homos-


sexuais, resta a perspectiva de terapia c o ideal da hetcrossc-
xuaUdade; seguir o instinto pode não ser legitimo: «Se o s im-
ples instinto fosse um critério suficiente para regular a con-
duta, a MoraJ ficaria reduzida a um biologismo brutal e anár-
quiCO) (p. 364). Estas observações, porém, não excluem a legi-
timacão da prática homossexual. movida por afeto e carinho,
proposta à p. 363 do livro.

A propósito sejam feitas algumas observações:

1) A posição dos autores ê conlraditÓrla. Com e feito,


em primeira instância, é afirmado de maneira categórica o
principio fre udiano segundo o qual nenhum instinto deve ser
reprimido. Ptluco adiante. porém. o autor do texto verifica
que tal afirmativa levaria li bestialidade ou a comportamentos
cegos e irracionais. A Moral cristã apregoa o burilamento
(nlo o apagamento) dos Instintos. a fim de se Integrarem na
sintese harmoniosa de uma personalidade regida pela CO e pelo
amor de Cristo; a perspectiva de d.i2:er Não aos instintos e de
carregar a Cruz. na seqüela de Jesus será sempre Inerente ã
Moral cristã.

2) A ~tica da Situacão é apregoada claramente, apesar


da condenatão da Igreja. Esta não ignora o peso das circuns-
tAnclas para se avaliar o comportamento de alguém, mas aflnna
que existem normas perenes da Moral.

-249 -
70 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS_ 230 / 1985

3) O autor julga que o comportamento de alguém hâ de


ser avaliado eticamente também por suas conseqüências prá-
ticas. Parece estar subjacente a esta afirmativa o principio
marxista segundo o qual a pra.xb (a conduta prática e suas
conseqüências concretas) prepondera sobre o logos ou a dou-
trina e os princípios intelectuais. Ora o Cristianismo assevera
qu~ o Logos e anterior à pram e deve iluminá-la, abrindo-Ihe
os caminhos, de modo que haja coerência entre o agir c o
pensar do cristão.

4) Em hipótese nenhuma a consciência cristã pode legi-


timar a prâtica do homossexualismo. Isto não quer dizer que
se deva imaginar que todos os homossexuais poderão um dia
viver como heterossexuais; o homossexualismo é uma cruz,
que pode exigir do sujeito a abstenção sexual para que nAo
ceda a aberratões. A verdadeira amizade aos que sofrem do
homossexualismo, não consiste em querer legitimar uma autên-
tica anomalia, mas em corroborar-lhes a vontade para que
não se desfigurem em concessões aberrantes. Esta doutrina
tem seu fundamento mais recente na Declaração . Persona Hu·
mana. da S. Congregação para a Doutrina da Fé (30/12/1975):
a Moral católica considera o homossexualismo como tendência
anormal ou contrâria à natureza; segui·la equivale a adotar
comportamento errôneo. - Deve-se re<!onhecer, porem, que
muitos homossexuais são vitimas do ambiente em que foram
-educados e não têm culpa de padecer lal anomalia; devem ser
tratados com compreensão e fortalecidos em sew propósitos
de levar vida reta. Todavia a benevolência para com OS indi-
víduos homossexuais não implica que o seu comportamento
seja legitimado; a prática homossexual não pode assumir foros
de liccidade.
São estas as palavras da Declaracão . Pcrsona Human a"
n' 8:
c Se8undo a ordem moral objetiva, as relocõcJ homoueJ.uoh ,ôo
atos Mstiluidos da l Ua regra eSlien<:iol e indispensável. Elas são
<:ondenadas na Sogredo Escri'uro como iraye, deprayoções e apresenta.
das 01 também como uma conseqüincia Iriste de uma reieicCio de Deus
Id. Rm 1,2"·271. Eile jub.o exarado na Esc:ritura Sograde noo per-
mile c:oncluir que lodos aqueles que sofrem de tal anomalia sôo pOl'"
iuo penoolmente ,esponuÍlyeili mas atedo qUe ali otos de hOmosu~ltuo·
lidode 160 intrinsicomente desordenadas e que eles não podem, em
hipóte•• nenhuma, ,e,.b.t quolq\tCr oproygçêio».

-250-
. PRAXIS CRISTA. Ih 71

2. Retações pré-matrimoniais (pp. 373·3971


Também neste particular merecem sérios reparos os dize..
res dos autores.
A p. 394 lemos:
~Con,idero,"os ocer'odo o segllinte ofirmoc;õo: 'I: preciso con-
fenor que ti reflexõo ético nõo ~ncontro roz:ões opodílicos poro con·
cluir qlle todo relo(ão 'nlima pré-matrimonial é desumaniz:adora e
pecaminosa , Fica daro apenas que lua excl u5õo, como norma gcnero-
liurda, se impõe pora o bem objetivo do 50c;iedClde a 'Qmbém dos
interessa dos, pejo menos no ma ior pOlte dos casai'» Icito(ão de
Cuyás M., «Relaciones premotrimonioles . , em cROlon y Fé"
n' 199, 1979, p. 5801.

Ainda à p. 397 Iê-se que a norma da abstenção sexual


antes do matrimônio .continua tendo pleno valor e vigência,
sem negar a possibilidade de alguma exceção por motivos
sérios e justificados:..
Como se vê mais uma vazo a ambigüidade ou o Sim e o
Não simultâneos caracterizam a linha dos autores em pauta.
- Na verdade, a posição acima também é inaceitâvel: as rela-
ções sexuais pré-matrimoniais vêm a ser a antecipação de algo
que supõe a estabiliddae do amor dc esposo c esposa ou O
consórcio matrimonial. A genitalidadc, sendo a maneira mais
intima de doação mutua do homem e da mulher, significa a
consumaeão do amOT, e não pode ser tida como etapa de um
amor crescente. Não há t'xcec;ão que justifique o uso prema-
turo da genilalidade. € o hedonismo inspirado pelo pens3-
mento de Freud que aos olhos de muitos justirica tal compor·
tamento.
Assim se exprime a propósito a Declaração cPersooa Hu-
mana~ n' 7:
. sao nllllUtrOSOI oqlle les ql/e em no uos dioli rei ... indicam o direito
li uniCio se.llol onles do matrimônio, pelo menos naqueles coliOS em
qlle 11",0 lntenc;ão firme de o contrair " limo oleic;Cio de algum ,"odo
já conlllgal "1l11tenle no psicologia de ambos os penool d" ",o"do m
ene complemento qlle elo$ replllc:un canoturol; iuo, principalmente
qUClndo a cele bracõo do matriMônio se acho impedido pelai circunstôn-
cial e e"o relo(áo inlima ,. afigura necessário paro qUe o amor seio
con lervado,

- 251-
72 ,PERGUNTE E RESPONOEREMOS~ 230/ 1985

Umo 101 opinião opãe·se â dOulrina crislã, segundo a qual é no


contuto do matrimônio que se deve ,iluor lodo a to genital do homem.
Com efeilo, seio qual for Q grau de firmezQ de propó,ilos dgque-Ies
que .e entregam o eSlo. rolo(61' premoluras, permanece o falo de
lois "Iações não permitirem .garontir no lUa sinceridodo e no .ua
fidelidode o reloçõo Interponaol de um homem e d e uma mulller, e
principalmenle o foto de os não protegerom conha os veleidades e os
coprkhOI dos paixões ... A união cornol, por conleguinle, não é legi.
timo se entre o homem e o mulher não se tiver instaurado, primeirQ
e de maneiro definitivo, uma comunidode de vido~

3. rnsemina~õo Grtifi(iGI (pp. 205-217)


À p. 210, OS autores de(enOOm a inseminacão artificial
não somente quandO ocorre d entro de um casal (Inseminação
hom6Joga), mas também quando se dá por intervenção de um
terceiro, desconhecido, doador que deposita em um Banco de
esperma (inseminação heteróloga):

«o. fatos provom COm eloqüancia qUe os lemorel otumulodos


sobre O inseminação helerólogo como deslruidora do casal sôo
infundados. Assim acho que essa posu;aa, como justificaçôo para
dl1Cf\1olificar moralmente toda inseminocõo heterólogo, corc<:, de
fundamento . .•

Zelar pelo bem do filho que podetó nOKer exige obviomenle o


cumprimento de certos condições: condiç6e$ por porte do doador do
esperma e, eventuolmenle, por porte dos Banco$ de esperma, paro
que le assegure no medido do ponivel o exclusõo d, larol e deli-
cléndol importontel. Como j6 IndicClrtloi, uma inlom;na(õo o.lir.c:ial
responsóvel pressupõe uma onâlise do casal poro procurar identificar
OI pou/"'eis problemol que poderiom surgir dessQ interven(ÕO e lhes
dor uma solutõa humano . Ip. 210).

Os autores vão mais Jonge : à. p. 214. aceilam a fecundação


fora do seio materno, ou seja, In vitro. desde que esta prática
uenha solucionar O problema de casais que nâo possam ter
filhos por via natural.

Todavia à p. 216 0$ autores reconhecem que «8 posição


oficial da Igreja Católica condena a inseminacão artificial e a
fecundação em laboratório••

- 252
cPRAXIS CRISTÁ Ih 7J

A posjcão da Igreja jã foi explanada às P;J. 208·211 deste


fasciculo. ~ estranho que os autores sistematicamente negU·
cenciem as declarações oficiais da Igreja para lhes substituir
opiniões pessoais subjetivas, relativistas. Na verdade, a teolo-
gia - e também a teologia moral - é o aprofundamento das
verdades da fé, ... dessa fé cujo conteúdo Cristo entregou à
sua Santa Igreja com a garantia de sua assistência infalível
para que nunca o magistério da Igreja deturpe o patrimônio
da ré (cC. Jo 14.26; 16,13). Por conseguinte, Quem esquece as
declarações emitidas pela Igreja em nome da fê com carâter
decisório, já não está fazendo teologia, mas um sistema filcr
sónco ao lado de outros muitos já existentes.

4. Divorciados em nova união e Comunhóo Eucarística


Ipp. 431-4581

~te ponto, assaz debatido em nossos dias, é resolvido, na


obra em pauta, de modo que destoa da praxe oficial da Igreja;
os autol'eS aceitariam à Mesa Eucarlstlca os divorciados uni-
dos em novo enlace não sacramental:

.0 folo s.e apte'enla I!!m loda o suo agude:zo quando eno, situa·
cões saa juridicamente insolúveis pela l!!:Ilistêncio de um matrimônio
ontl!!rior. So I!!SSOS pl!!naos lamenlam o Il!!nlido 'rõgico de n a onormali·
dade, .stão profundamente ortepl!!ndidas dos pOllÍvels reJponsobili.
°
dodes que ponam ler em sua criacão I!! desejam recebl!!r perdão e o
Eucaristia, será que nõo podem abtet um novo acesso aos socramentol?
Alé agora, nao havia oulto rcmêdio olém da prévio separaç60. Mos
nõa setó muilo pior ° dl!!slruiçõo de um lor e das vidas nell!! I!!nyolyido'
do que a mi51!!ricordio e o lolerõncio em relaçõo a um falo 10ml!!nlóvl!!l?
A elllstênch:l dI!! compromiuo. fomiliare, 001 quois jó não le pode
fl!!nuncior, t-onlo por iustico como por razões afetivos, tomo difícil I!!
incomp,.enslvel essa uniul allernativo, cama SI!! o valor juridi(o. cuja
obrigotoril!!dade Qceitamos e defendemos, li'teue que conslituir sempre
a volor definitivo.

e verdade quI!! se deve evitor lodo pos,iYI!!I I!!scõndofa I!! nunca


dor o ifnpteuõo dI!! qUI!! SI!! facilitam ou aprovam os infidl!!lidodl!!s 00
compromisso conjugal. Cada coso concreto, conJidl!!rando·se a s múlli-
pio.• drcunslêmdo$ pl!!uooi, e comunitários, I!!xigiria o busco de uma
loluçõo adequada poro e"con.lror comin.hos humanos e evangélicas
que defendam o ideal e se mostrem compreensiyos paro com a falto
ou O engano» (p. 453) .

-253-
74 c.PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 230/1985

A posição assim esbotada é estranha ou mesmo incoe-


rente. Na verdade, o matrimônio sacramental vãlido e consu-
mado ê indissolúvel; por conseguinte, nenhwna razão pessoal
ou sub}etiva o pode dissolver; os divorciados c.ro-casados) vi-
vem ilegitimamente e assim se excluem da vida sacramental.
Observa-se mais uma vez na obra a tendência a fazer preva-
lecer o subjeUvo. - O S. Padre João Paulo li tem reafir-
mado sucessivamente 8 neressidade de não se ministrarem os
sacramentos a tais pessoas enquanto vivem irregu)annente;
tenham-se em vista a última palavra de João Paulo n a pro-
pósito:

c '" Igreja nóo pode mais do que convidor os seus filhos, que le
encontrom nenas situações dolorosos, o oFlroxi marem-se do misericór-
dia divina por Gulras viGs, mos nao pela via dos Socromentos, espe<:iol.
mente da Penitência e da Eu<:aridia, 01' que possom olconçcu os
,ondil;óes requerido •.

Âcort a dnla matéria, que angvttio profundometlle lomb'm o nouo


<:oroção de poslores, pareceu-me ser mou pre-ciso dever, ió no Exorlo-
...óo .A.post6lico Familiorl. Consortio, di:r.er pOlayrOI ... Iaras pelo que se
refe,e 00 clno dos diyorciodos novamente <:ol oda. ou de crislóos que,
de quolquer moneiro, conyiyem coniugolmenle de modo irreg ular:.
(Exorlo,ao Apadólko «Reconciliação e Penitência ) n' 3.4) .

A Igreja deseja oferecer aos casais irregularmente uni-


dos os seus cuidados pastorais: convlda-o:s a participar da vida
Jittirgicn (sem comungar), chama-os à prática da acão sociol
dentro da Igreja, exorta-os a guardarem o cspirito de oratão
e de generosidade, e a educarem seus filhos na fé católica.
Confiem seus anseios à misericórdia de Deus e tcmham grande
confiança no Senhor, que não abandona s quem o p rocura sin-
ceramente; isto. porém, não impllca que freqüentem os sacra-
mentos enquanta vivem conjugalmente.

5. Aborto (pp. 73·93)

Embora a Tradição e a magist ério da Igreja se pronun-


ciem nitidamente contr.nrios no aborto direto, os autores do
manual afirmam que tal prática pode ser justificada, :ao menos
em certos casos (esta cláusula é clAssica na obra em foco).
E is os tennos do seu pronunciamento:

- 254-
t: PRAXIS CRISTÁ Ih 75

eResto uma certa margem de liberdade para que os crislãos


poSSam adotor uma posicão ou ovtta conforme receberem penoal.
mente a forca das argumenta,. Esra último obserllação 'ella a não
se lIer coma incompalillel com CI odelão o Cristo CI pref.rência por
posieMs Cf\.Ie difiram da pOlieão oficialmente adotada pelo Igre jCl .
Ip. 88).

São palavras dos autores:

eDenlro do Igreja, é uniforme a 1'0111:00 oficial sobr~ o aborto


em nível episcopal. Mas o mesmo noo ocorre co nlvel dOI leólcgos;
Cllguns teólogos bos'onte significotillos do ponto de vista do competên·
cia e do amor à Igreja ocreditam que podem defender le,g itimamente
posicão um tania divergente do oficial. Elel coincidem COfl'l o pOlição
oficiei no idéio d e que, enquanto eliminação de uma vida humano, o
aborto ê uma siluocõo que não deveria ocorrer em uma visão ideal do
realidade. No e nlonlo, ICllondo em (onlo dados cientifiCai como a
perdo esponlôneo de um elevado número de óyulol fecundados nOI
fouu iniciais, considerando CI obscuridade existente no que se ref.re
Q aplicação do conceito de ' pena0' à vida humena inicial e om virtude
de situocões particularmente conflitillal, elel oc.reditom que, havendo
enal convergências, olgun. abortos podem não ser imorClis _ natural-
mente, não tantos quantos as que se reali:zom no mundo por motillos
tõo fúteis:. Ipp. sasl.

Mais uma vez percebe-se uma atitude indefinida ou ambl·


gua da parte dos autores do texto. Não se vê bem qual a fron-
teira entre o licito e o i1icito, pois esta fica entregue a critérios
subjetivos. - Ensina a Teologia Moral que, na incerteza de
estar para matar ou nâo um ser humano inocenlc, a ninguêm
ê lícito atirar ou correr o risco d~ matar; quem aceita con.~­
cientemente a possibilidade de csta r matando, 6 culpado, pais
de certo modo aceita cometer um homicídio. Além do mais,
l! de lembrar que o novo Código de Direito Canônico, embora
tenha dlminuldo consideravelmente os casos de excomunhão
al'K!xa a determinado crime, conservou esta censura para aque-
les que provocam o aborto, ~indo-sc o efeito (cC. cãn. 1938).

Jt de lamentar Quc o livro em foco ceda o posições não


condizentes com o ensinamento da Igreja ou ceda a certo exis-
tencialismo ético. Na verdade, a Moral católica não ignora o
significado das circunstâncias em Que o sujeito age; ao con-
trário, estuda-as atentamente segundo a fOrmula clássica «Quis.
quld, ubi, quibus auxiliis, cur, quomodo, quando~ (quem, o q~,

- 255-
7G otPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 230/ 1985

onde, com que auxílios, por que, como, quando); sim, é pre-
ciso levar em conta o tipo de pessoa que age, o local, 8 época,
n causa ... do seu agir", para avaliar a moralidade do res-
pectivo ato. Todavia a Moral católica julga que essas circuns-
tâncias subjetivas não definem plenamente a moralidade do
comportamento; hã também normas objetivas., de valor univer-
sal e perene, às quais o sujeito deve procurar submeter-se tanto
qua.nto possivel; não é licito â pessoa furtar-se ao imperativo
de- tais normas sem ter razões sérias e ponderáveis. Ora o
livro em pauta não parece atribuir o devido peso às nonnas
objetivas, mas, antes, valoriza excessivamente critérios subje-
tivos, que não raro podem tornar-se alimento para a covardia
ou o fechamento mesquinho do sujeito sobre si mesmo.
A Moral católica tem em vista as normas do sermão da
montanha (Mt 5-7), segundo as quais o homem só se realiz.1
ultrapassando infinitamente a si mesmo; a grandeu. da pessoa
cstã em sair, tanto quanto possivel, das dimensões mesquinhas
do seu .eu para assumir novas e novas proporções. que a voca-
Cão dlvJna vai assinalando a cada um. Por Isto os critérios da
Moral católica não são SUbjetivistas ou não aceitam fazer do
sujeito o referencial dos valores éticos. ~ para Deus qu~ o
homem Col feito; é para o Absoluto que ele tende espontanea-
mente e, por conseguinte, é SÓ na demanda constante do Ab-
soluto que o homem vai encontrando sua realização,
Dito isto, não podemos ignorar belas passagens do livro
em pauta, que correspondem fielmente ao ideal da vida cristã.
Tenham·se em vista, por exemplo, as seções de Cundamentaçáo
ou colocaCáo de principios gerais às pp. 10-42; 45-72; as refle-
xões sobre pena de morte, tortura, legitima defesa Cpp. 111-
-124), violência bêlica e terrorista (pp. 125·142), agressão con-
tra a natureza (pp. 143-155), transplantes (pp. 183-192) ...
Todavia estas páginas de- valor não são suricientcs para rcdi·
mir o livro das grandes falhas que comete c que tenciona
transmitir.

-256-
Uma palma que 18 elperava:

•. Igreja: Carisma e Poder" (I)


da Leonardo Solf

Aos 21/03, pp. (oi publicada uma Notificação da Sagrada


.Congrega(áo para a Doutrina da Fi! aprovada pelo S. Padre
João Paulo U. que aponta os graves erros teológicos do livro
de Frei Leonardo 8orf: dgreja: Carisma e Poders. Segue-se
o teor de tal texto, cujo conteUdo, corno se vem, é profundo e
sabiamente elaborado.

NOTIFlCAçAO soaRE o UVRO


«IGUJA: CARISMA E PODER.
ENSAIOS DE EClBIOlOGIA MIUTANTED
DE FREI LEONARDO BOFF, O.F.M.
I"h'od...§áo
No dia 12 de fevereiro dI! 1982, frei Leonardo Bofl, OfM, tomou
°
o iniciativa de envior C. Congregação poro a Doulrina da Fé rflsposlo
que deu ô Comissõo cuquidiocetoflo poro o Ooulriflo do Fé do RIO de
Janeiro, quo criticoro o seu livro t: lgrejo , CoriJimo e Poder ». Declarava
que oquelo critico continha graves erros de leitura . d I:! interprelociio.
A Congregação, após ter estudado o livro nos seus Clspeclos dou·
trinois e pastorais, exp6s 00 Aulor, numa carlo de 15 de Moia de 198".
algumas relervaS, convidando-o °oceil6·las e oferecendo_lhe, 00
mesmo tempo, o possibilidade de um dié:rlogo de elclarecimento.
Tendo, p oré m, em vllto o re percunõo que o livro estava lendo entre
OI fi6is, CI Conorego(ão informou L. 80ff de que, em qualquer hipótese,
CI carla leria publicado, lavando eventualmente em con,iderotão o
posit;:õo q ue e le vieue o lomor por ocolião do d i6 10go.
No dia 7 de setembro de 198", L. Bofl foi recebido pelo Cordeol
Pr.'ello do Congregação, Clcompanhodo pelo Mons. Jorge Mejio, na
qu.olidode de Secret6rio. Foram obieto do colóquio alguns. problemos
eclesiol6$icos surgidos do leitura do livro dgreio; Corismo e Poder»
e ollh'olCldol no carla de 15 d e mc:lÍo d. 1984. A converso, que se
desenvolveu num cliMo frolerno, proporcionou 00 Autor ocosiCio de

• Editora Vozes, Petrópolis, AJ, Br•• II, 1981 .

- 'l!J7-
78 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS) 230/1985

expor seus el(lar-ecimenIOI peuoais, que ele quili também entregar por
escrito. Tudo isto foi explicado num comunicado finol publicado li!
redigido do comum acordo com L Bofl. Conduído o diálogo, forQm
recebidos pe lo Carde al Prefeito, e m oulro 5010, o. EminentíslimOI
Cardeal. AloIsio lorsdteider e Poulo Evaristo Arn., que se enconlrovom
em Rom(l pora esta oportunidade.
A Cong,egocõo exa minou, seguindo (I ptQ )\e que lhe ê próprio,
05 esetor.cimentos orais e eliailos forn ecidos por L 80ft O, e",boro
tomando nolo das boos inte nções • dOI re pelidas declaracões de
fidelidade à I,greio • 00 MClgislério por .Ie ."prenOI, . e nliu-se contudo
110 dever de . ofie nlor q ue OI reservos levontados ocerco do conteúdo
do livro e assinaladas na <arta 1\Cio poderlcun, no sua substânda,
considerar·se superadol. Julga, pois, "ecenário, assim como ~iloV(l
previsto, agora publicar, nos suas partes essenciais, o conteúdo dou·
trinal da mencionadCl CClrtQ,

Ptemi5$CI DOllfrinal
11. ec;:lcsiologia do U.".o clgreial Carisma te Poder. propõe-se ir 00
enconlro dos problemas do América La~ina e, em particular do Brasil,
com uma coletânea de .estudos e pe rspectivas Id. p . 131· Tal intençõa
ellig., de um lodo, uma atenção séria e aprofundada ôs situocõos
concretos, às quais O livro se refere e, por outro lado, - paro real.
mente corresponder 0 0 seu obte1ivo - o preocupação de ime ,ir·se no
arande tarefa do Igreja universal, no sentido de interpretar, desenvol-
ver e aplicar, sob o inspiração do Espírita Santo, (I heronç(l comum
do único Evon.gelho. entregue, umo vez paro sempr., pelo Senhor â
noua fidelidade, D.sl~ modo o "nicel fé do fvongelho crio e edifico,
00 longo dos séculos, a 19,e;a Cat61ica, .q ue permanece una no diver'
sidode dos tempos e no diferenco dOI situações pr6prias os múltiplos
Igreja. portiC\l lares. A Igre ja universol reolizo-se e vive nos Igrejos
particulares e e stas s60 Igre ja exalomenle enquanto continuam a ser,
num determinado temp o e lugQr, u preni'io e atua li toçõo da Igreia
universal. Deste modo, com o aelcimento e o progresso dos Ig rejal
parlic;ulorOI cresce e progride a Igreja universal; 00 pOISO que, debili-
tondo-se a unidade, diminuiria e decairia também a Igre ja particular.
Par iuo o verdadeiro d itc;urso teol6gico nóo pode jomais contentar'le
em apenas interpretar e animar o realidade de uma IgreJa parliculor,
mos deve, 00 conrrória. procurar aprofundar OI conteúdol do dep6sito
sagrado da palavra de Deul, depósito confiado â forela e autentica-
mente interpretado pelo Magidéno. A práxis e os experiôndas que
sempre 11m origem numa delerminado e limitada liluatão hillórico,
aludam o le610go c o abrigam a tornar o Evangelho ac;esdvel ao seu
tempo. A pr6xis, c:onludo, naa substitui, nem produt a verdade, mas

-258-
dGREJA : CARISMA E PODEJb (I) 79

8st6 o serviço da yerdode, que nos foi entregue pelo Senhor. O


teólogo é, pois, chamado a deciflor o linguogem dos diversas situo·
I;õel - os sinais dos tempos - e O cbrir elto linguage m à inteligêncio
da fé Icf. Enc. Redemptor hominis, n. 191 .
E;lIominodClJ g luz dos crilérios de um auténlico método teol6·
gico - aqui apenas brevemente auinolados - certos opça es do livro
de L. Boff mcmifeslom ·se inl ustenlÓ:veis. Sem pretender analisá-leu
todos, colowm-se em evidência apenos a s opl;ões eclesiológicos que
porecem decisivos, ou sejCl: o estruturc do Igreja, o concep"õo do
dogmQ, a luereicio do -poder lOgrado e o profetismo.

A hhutl.ll'a do Ig,"
L. Boff coloco-se, segundo os suos próprios polavros, dentro de
umo orienlocõo, na qual se ofirmc «quo a igreja como instituição nôo
eslaWl tias cogitações do Jesus histórico, mas que e la surgiu como
evolucão pallllriar à reuurreição, portirularme nte c.om o pronuo
progressivo de de~scolologi l.ocõo ~ Ip. 1231. Catlse.q üenlemenle, o
hierarqu ia é pClra ele c um ,esultado:t da c ferrea necessidade de se
instilucionClI;zCln, c uma mundanil.ac;õo :t. no «estilo romano e feudal»
(p. 71) . Dal d eriva o necenidode d e uma « mutoc;ã a permonente do
Ig reio» Cp. 109); hoje deve emergir uma c!grela nova » Ip. 107,
pau; m) , que seró: «umo novo encarnocõo dos imtituic;óes e<:Jesiais no
sociedode, cujo poder ~ erá pura 'unl;õo de servlço:t Ip. 1081 .
No lógico destas afirmac;ões explica -SCI também Q sua interpre to-
<;õo acerca dos relac;õel e ntre cotolic:ismo e protestantismo, « Parece ·nos
que ° cristianismo romano (catolicismol se distingue por ofirma'
corojalamente a identidade sacram enlal e o Cl'"isliani.mo protestonte
par uma afwmação desl e midc do nÕo·idenlidadu (P. 132; cf.
pp. 126 1S, 1401 .
Dentro dedo visão, ambos as confinões COtlstillliriam madiol;õe,
incompletas, pertencenl es ti um processo diolético de afirmoçôo e de
negocõo. Neslo dia tético «se mostra (I .q ue seja o "istianismo. Que
é ° cristianismo? Nóo sabemol. Somente sobemos oquilo que se
mostror no processo hilt6fico:t (p. 1311 .
Paro Jus tificar esla concepção relatiyiz.ante da Igreja - qUe se
enconlro no base dO I críticos radicais dirigidos conlro a estrutura
hierárquico do Igreja Col61ico - l. Boff apelo poro a Constituic;60
Lume" ge ntlum In. 81 do Concilio Votic-ona n. Do famol O eltpre nõo
do Concilio «Hote Ecclello lse. unica Christi Ecdesia) . _. subsistit i~
Et c/esia (alhaUca a, ele extrai unia tese exalamenle contrária li sig ni.
ficação oullnUca do lexlo conciliar, quando afirma I d. fato, «.,to
lista é, CI (lnlca Igrejo de Cristo) pode lubsislir també m em oulrelS

-259 -
. PERGUNTE E RESPONDEREMOS .. 230/1985

Igrejas ai'leis» {P . 125). O Concílio tinha, porém, escolhido a paiol/Ia


n ubsisti.. exot,omente poro esclarecer que hó uma único «Iubshtên,i\u
do I/erdadeira Igreja, enquanto fora de suo estruturo visí ...el exiltem
somente _elemento Ecdelioe ., que - por serem elementos da mesmo
Igreio - tendem e Condulem em direção ô Igreja católico ILG 81 .
O Decreto sobre a ecumenismo e.prime o Intuma do~trina IUIl 3-41.
que foi novamente reafirmada pelo Declaração Mysterium E,c1fl1oe,
n. 1 (AAS LXV (1973) . pp. 396·3981.
 subversõo do sIgnificado do texto concilior sobre a subsistência
da Igreia esl6 na bose do relativismo edesiolôgko de L. Baff, supro
delineado, no qual se desenvolve e se explico um profundo desenlendi·
menlo daquilo que a f6 católica professo a respeito da Igreja de Deul
no mundo.

Dogma .. Revelação
A mesmo IÓ,9icO relativizante encontra-te na concepçgo do dou·
'rina li: do dogma exprana por L Boft O Âulor aifica, dI! moda muita
severo, c o compreensão doutrinório do revelação . (p. 731. e verdode
que L_ Boff distingue enlre dogmatismo e dogma (d_ p. 1391. admi.
findo O segundo • releitondo o primeiro. Todavia, segundo ele, o
dogma, no suo lormulacõo, é válido somente cpora um determinado
tempo e c:ircunllândass (pp. 127·1281. cNum segundo momenlo do
mesmo processo dialélico o lula deve poder Sêr ultrapassado para
dor lugar Q outro lexlo do hoje da fh I p. 128 I. O relativismo qvo
r.,ulta do semelhontes ofirrnoçõe~ lornO-'e expliçito qUClndo L· 80ff
folo de posiçãe, doutrinórios contraditórias entre si, contidas no No ... a
Te,tomento (d. p . 128\. Conseqüentemente co atitude verdadeira-
mente católico. seria de _estar tundomontolm.nte oberlo o todas OI
direcõess Ip. 1281 . Na perspectiva de lo Boff a autêntico concopçôo
católica do doogmo coi sob o ..... redida do _dogmatismos: _Enquanto
perdurar a:te tipo de COIn"roflnsêi~ dagmática e do~trinária da revala-
cão e da $al ... ação de Jelus CrIsto dever·se-á ,onlar irretorquivelmente
com a repreuõo da liberdade de pensamento divergente dentro do
Igrejas (pp . 74-751 .
A esle propósito can ...ém reSlaltar que o contrório do r.. lativismo
não' o verbolismo O" o imobilism~. O conleôdo último da re ...elo,õo
, ~ prôpri~ Deu., Pai, Filho e Espifilo 5ent~, que nos convido li
comunhão com Ele; todos as pala... ros referem'le li PaloVl'O. ou _
como diz: Sêio J~ão do Ú'u:J.: C. •• o lU Hijo ... todo nos hobl6
jun~o y de uno ....1: en esta 1010 Palabra y no tiene méa. que hoblar.
(Subida d.1 Monte t.amtelo, 11, 22, 31. Mas nas palavras, .empre
analógkale limltodas, do Elt:riluro • do fé aulêntica do Igr.ja, baleado
na Elcrituro, eJlprime-le, d. modo dlgno de fé, CI ..... rdad. Qcef(a d.

-260-
dGREJA: CARISMA E PODER> m 81

Deu. e acerca do homem. A cOnstanto nC!C~ssidade de interpretar a


linguogem do ponodo, longe de .acrificor esta v~rdade lorna.o antes
oceuívet e de.envolYe o tique:za do. 'exlOs oulinlic~,. Ava~CQnda:
guiado pela Se nhor, que ê o COMinho e a verdade tJo '4, 161, o
Igreja, q". en.ino e que ctê, e.16 convencida de .q ue (] yerdode ex.
ptet.o pelas palavra. de fé não .ó nCio oprime o homem, mo. o
liberla IJo 8, 321 ~ é o único instrumento de yerdadoito comunhão
enlre os homens de diYerlol claues e opiniões, enquanto uma con-
cepçõo dialélico e roelotivizonte o expõe o um decisionismo atbilçório.
No passada, esla CongrevacCio leYe oco$iao de malhar que o
tenlidó dos fórmulclI dogmólicol permanece sempre yerdod.ira e
co.r,nte, determinado e irreformável, embora pono ser ulleriormcnle
eKlorecido e melhor comprundido Icf. Mvsteriurn Ecdeste., 11. 5,
AA$ LXV (.9731. pp. 403-404'.
Poro continuor no suo funçCio de sol do terra, que nunco perde
a leu ,abor, o «depositum fidei . deye ser fielmenle con ... rvodo no
suo pure.r.a, Jem deslizar no senlido de um pracesso dialético do histó-
ria e em direçõo 00 primado do próx:is.

o Exerclclo do Poder Sagrado


Umo . grave patologia . de que, segundo l. Boff, o Igreja ro",ona
deveria livrar-se, é pr<lyocoda pelo uerc:icio hegemônico do podeI
sogrado que, além de lornó-Ia uma sod~dade auimétrica , leria
també m sido defonnado em $i mel mo.
Dondo por cerlo que o eixo Of.ganizodor de uma sociedade
coincide com o modo elpec:ifico de produção que lhe é prôprio, e
aplicando este principio ô Igreja , l. Boff afirmo que houve um proceuo
hislórico de expropriação das meios de prodllcão religioso por parte
do clero em prejui"o do povo criltão que, em conseqü!nc:io, teria sido
privado de suo capacidade d e decidir, de ensinar elc. I d .
pp. 75, 215 n., 238·239) . AI'm diuo, apõs ler sofrido esta ellpro·
priacão, o poder logrado lerio também sido 9royemente d eformodo,
~i"do o (:oir desle modo nOl "'I'mot defeitos do pod~f profano em
' .rmas d. dominoc;ão. centraliza cão, triunfalismo I d . pp. 98, 85,
91 u.), Poro remediar estes inconvenientes, propõc·se um novo modelo
de Igreia, no quol o poder ... rio concebido sem priYiligios teológicos,
como puro ..ervlco or1kula do de acordo com os neceuidodes do comu·
nidode (d. pp. 207, 108) .
Hao se pode empobrecer <t realidade dos lacramenta5 C da pa-
loyro d. Deul enquadrando-a no esquema de . producão • consumo.,
reduzindo deste modo o comunhCio da fé CI um mero fen6meno ..acio-

-261-
82 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS:. 230/1985

16gico. Os sacrome ntOI não são , maleriol simbólico:.. (I suo adminis·


Iração nõo é produção, o lUa recepção ngo ê consumo. Os
saClamenlos sôo dom d. Deus. Ninguém os cproduu. Todol recebemos
por eles (I groça de Deus, os sinais do eterno amo r. Tudo isto estó
c:d6m de todo producê5o, al6m de lodo fo;ter e fabricor humono. A
único medidCl que corr.,ponde fi grandeza do dom é (I móximo fideli ·
dade à vontade do Senhor, de acordo com (I quo I todos ,eremos
julgados - laçoerdoles • leig05 - sendo lodo. nervos inúteis:.
!LI: 17, 10 J. Existe sempre, decerlo, o p eri,go de obusol; põe-se sempre
(I problema de tOnlO garonti, (I ocesso de lodo. OI fiéis õ plena pa,l i.

cipação no vida do Igreio e no l Ua fonl e, i.Io é. no vida do Senhor.


Mas interpretar a realidade daJ sacramentos, da hierarquia, da pala .
vra o de toda a vida da Igreja em lermos de produçõo e d e consumo.
de monopólio, expropriação, conflito com o bloco hegem6 nico, ruptura
• l)Casiõo parti um moda a ssimé trico de produção, e quivale a subverter
a realidade religlo'CI. Ao contrário de ajudar no solução dos \lerdo·
deirol problemas.. este procedimuto levo. antes, ã destruiçõo da $on·
tido autintico dos sacramentos e da palavra da fê·

o Profetismo na Igreta

o livro c lgreja : Carisma e Poder. denuncio a hierarquia e OI


instituições da Igreja (cf. pp. 65·66, 88, 239.2401 . CO"'lO cxpliçoção
• lustificação paro semelhante oUtude reivindico o papel dO$ corh mos
e, em porticular, do profot ismo (cf. pp. 237-240, 246, 247 1. A
hierarquia te ria o simples função de ccoordeno;~, de « propiciar o uni·
dade, o harmonia enlr. OI várias serviços. , do c nlante, o circularidade
o impedir as divisões. sobreposiçõou, descartando pois dedo função
co subordinação ime-diato do todos aos hierorco n (cf. p. 248).

Não h6 dúvida d. que lodo o povo de Deus participo do múnus


profético de Cristo td. LG 121; Cristo cumpr. o s.u múnus prof' ético
não só por meio do hierarquia, mos tombém por meio dos leigol
(cf. ib. 351. Mas é igualmente daro que a denúncia profé tico na
Ivreia, poro ser 1t!1Jllimo, deve permanecer lempre a serviço, para a
.dificocõo da própria Ig reja. Elta não só deve aceitar a hierarquia
• os Instituições, mal deve também colaborar positivamente para a
consolidação da suo cQmunhão inte rna; alé m d isso, perte nce à hiero'·
quia o critério supr.mo para j\llgor nõo s6 O exercido bem orientado
da donúnda profé tica, como lambêm o suo outenlicidado (cf. LG 121.

- 262-
dGREJA: CARISMA E PODERJo (I) 83

CONClUSÃO

Ao 'ornol publico o que odlllo ficou e.ltposlo, o Congregação


sen'e-ce na obrigo<õo de d~loror, outrósliim, que OI opcõe, oq.n
onalisodac de frei Leonardo BoH sôo de foi naturuQ que põem em
perigo Q só doutrino da fé, que esta mesma Congregação lem o dever
de promover e tutelcu.

o Sumo Pontífice Joóo Paulo 11, no decorrer d. uma Audllnc:ia


conCledida ao Cardeal Prefeito que subscl'O'We este documento, apro,"",
a presente NotlncasgO, deliberado em reunião ordinárla da Cong,....
QOi:ão poro o Doutdnc. da Fi, • orelenoU! que a mesma fone publicada.

Roma, Sede da Congregoçõo poro o Doutrina do Fé, 11 d. morço


d. lC1BS.
JOMflh Card. Ratzlns.r
Pntfeilo

Alberto lavone
ArcebIspo tlt. d. Cesarla de Numldla
Secrefório

Em conseqUêncla de tal Notificacão, o público se toma


ciente de que o livro em pauta não é de teologia católica, nem
pode ser tido como expressão do pensamento catóiico latino-
·americano. Mas é simplesmente o resultado de premissas
protestantes (Estrutura da IgreJa, O Profetismo na Igreja),
modernistas (Dogma e Revelação) e marxistas (O Exercido
do Poder Sagrado).

-263 -
Na ordem do dia:

"Igreja: Carisma e Poder" (11)


d. Leonardo Botl

Este é o livro que suscitou a última intervenção da S. Con-


gregação para a Doutrina da Fé na produção blbllogrãfica de
Frei Leonardo Bofr. - O Prof. Angelo Scola expõe, em lin-
guagem técnica, a1guns dos porquês dessa intervencio. Tra-
ta-se de uma recensão do livro publicada nB revista itaJiana
«30 GIORNb, Bno n, n 9 lO, novembro 1984, pp. 61-63; abaixo
propomos uma tradução brasileira da primeira parte dessa
recensão, à qual se seguirã breve slntese do pensamento do
Prof. Angelo Seara.

I. «Igreja: Carisma e Poder»


No seu livro 80ft retoma a sub'linela de teses protestantes
para lulgar a poslçlo católica. segue-se dai uma pelada
relallvlzação do conceito católico de AevelaçAo.
Treze enlaios lutõO agrupadal era lorno de um nó melodol6gico
no frogmenlório. desigual volume de Boft, 'Igr.ia , Carisma e Poder' I .
Eslo obra criou ramo reolmenl. excessivo $C! (I comporomol com os
numerclcs e d edsivomenlemail merilórlos enlaios eclesiológicos dos
vinle ano, pós-conciliares t 1965·19851 . O 'conlulo vit01' : do qual
nOlceu O livro, é a da dramatica situação de opreuEia em que , e vê
cbrigodo a viver a maioria da populaç6a do subconlinenle lalina·
-omericono, lal ,iluoçõo, por6m, nõo boslo poro desolo' O n6 do
livro . ..

I Esta obra .~receu pela primeira vu em '982 (Editor. Vo,n).


Tornou-.. o ponto nevr6lglc:o do rllltaclonamento entre seu a ulo r 11 a Santa
Sé: slo preclsam.nla alguma. tese. desse livro Que. S . Conll r&gaçlo pe ra
a Doutrina da F6 'Il/asUono", provocando I c:ham. dI de Leonardo Ball a
Roma em ..lembro de 11184 (Not. do tradutor).
, A expr"'lo 6 de Leonardo Bofl na 8ua deI... perante O Cardeal
Ratzinger publluda em 11 Regno Document!, XXIX, 51., p. 5'<'0.

-264 -
E qual seria tal nó que aglutino tais enlelios? - l: um núcleo de
semi.verdades • de lemi-erros concernenles à ,q uestão dos relac6es
enlre R....eloCâo 1 . . . . erdade, quellão fundamental paro o teologia
10nl0 no ,Europa como na América lalina, na Ásia e tiO África,

1 • A Re .... lot;õo , r. ...eloção de um Acont.cimento: o de Crlslo


crucificado e ressuscitado, que se proclamou 'o caminho, a verdade. o
"ida' (Jo 14.6). Esta afirmação fundamental, que s. Impõ. com
puiança no lealoiia católica dos últimos quarenta anal, impliea ne·
cenariamenle umo outra, que n60 tlã de 5f!r .JquecidClI o Aconted-
menta de Crislo, a Revelqcão-verdade, é Log05, , eminentemente
discurso, vi.ão o respeito do homem e do realidode que se comt,lnico
CI lodo homem medianle ClIi SUOI faculdades de conhecimento. Diz o
Constituição Del V.rbum nt 2, do Concilio do Vaticono 11: CÁ r..... lacão
de Deus oos homens foi feito ollCl...és de Clconledmenlos e pala""'(1I
estrilamentê relacionados entre si, de modo que os obros realizodos
por Deul na hlslllrlo do salvação esclarecem e reforcarn a doutrina e os
realidades significadar pelas palavras, e as palavras, por sua vez,
esdarecem as obras e elucidam o mistério nelas contido• . O Pe. Congar
O . p. comenlO .lIe t.xto ofirmondo que a ltewlaçSo pouul cum "olor
noético e operativo de sol...acão , (Fede e Teologia, p. 11) , A encor-
nat;ão . ... prlm. a cond"oend&nda de O.us, como di1 Leonardo Boff,
retomando o exprenóo dos !'adres da Igreja, exalo mente por.que
exprime a deicida de OeUi aos molde5 do lempc e do espaço, mas
também (Ias termos da linguagem humana.
Ora Bcff ma51ra precisamente que dá grande impcrtando aos
aspedol histllricos do Crisllonismc, mas parece deixar sempre na sombra
e relotl ...izar c ospecto no61ico do mesmo quando não chego o crilic6-lo
como sendo a 'compreenslia cfollldnâno da Re ...elClção', A palClVT'O
doutrina, no Cala, ref.re-Ie c., .... rdod.s dogm611cas propostas pelo
Magistério, verdades que 80ff conlfCIpi5e aOI folol ),ill6ricos, O(l'el'
eenlando umez traJe que também I: de Rllbem Alves: cO destino da·
queles que pretendem pouuir a verdade, é a intor. rando. ,
2 , O ombl,guo conceito dOI relacões entre a Re .... lação e a
Verdade' ouociado a outro noto coraclerlslica da obra de 8off, a
foltCl d. Cldequado método teológico. A pelquisa r6pida e opralClmo·
'ivo do copltulo 11 de ' Igrela: Carisma e Poder', longe de desotor o n6,
só serve para mais (I complicar, Escreve 80ff na sua def.sa diante do

1Por "Reve'açJc· enlende-se, e m todo ..Ie artigo. a comunlcaçlo que


Oeue fez de SI e do seu plano ~ ulvaç60 • humanidade, desde Ab,..o a l6
....u. erato, Compreende a Pala.".
(ou 81b1la) (NoII do trad.t).
o,., (ou TradlQla) e a P.levre ..crU.

-265 -
86 ..PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 230/1985

Cardeal Rol:dnger; ePor praxls entendo ... a vida concreta da loteja


com OI .euI problemos, com os seu. testemunhOI e as suas
pesquisas. Ante. do mais, 'roto-•• de v., o realidade, de vi· la em
pl"nill,ldo, dentro das horixont •• mois amplos da f6. . • feita Isto, é
predso inlerpre'ó-Ia à luz da RevelclI;áo, da Tradição, do mogisl6rio
e do reflexõo 'eolbgka. f A minha Defesa. op. dt .. p. 5481 . Boff
acrescenta .qUe a livro clgrejo: Carisma ti Poder. e, de modo verol.
O seu modo de culllvar a 'eologia seguem foi método.
101 •

Pergunta' M, porém: que 6 que Qoronle o autenticidade .elesial


do praxe Qssim concebido?.. Somente o RevelClt;:õo deve ellclr no
6mogo da vida do Igreia, Revelocõo qUe 6 o onvncio de Cristo morto
• rassuldtodo com todos as verdade, que le prendem a ello proposiç50
central do fé crlstlS. '.10, e nõo oulra coisa, deve eslrulurclr a praxe
da I,gr.ltt.

Mais. .. Pergunta mal, que é que le entende por fé e par teologkl?


fé é O obsé.quio da menle e do COJaCaO diante do mls16rio d. Crislo
,q ue entrou na no.UI hbtório e que, seAdo tranICendente, , (CIpa:: de
trandormar a história produzindo nela algo d. novCI. A fé gera o
homem novo, o homem espiritual, com ralUls no sobrenOlurClI, gero
lombém a Igreja como âmbito em ~ vivem OI homens novos. Por
conseguinte, o fé nao é limples premissa poro fundamenlar um com-
promisso ético em demando de IUllo Ironsformo(Óo da socledado, o
fé nõo pade IIr reduzidCl o uma prático de Indole polllico e moral.
Conseqüentem ente, CI teolooia ê o eo",proensõo .ictemálleo • critica
dos verdades depositadas na Bíblia e no Tradição e explicitados de
maneiro oullnlko pelo magislério do Igreja. Sendo assim, não se pode
reduzir o leolavio ô condição d. leorio que justifique um proceno de
liberto cão puromente político e desligadCl do indilpenl6"el raiz do
IIbertocão cristã, q\le é a Redenção.

Serio erróneo contestor os esforçaI dos. povos cot61icos latino-


_americanos que procuram cc"struTr uma lociedode Ilvre do violando
e das exploraçaes. Mas, de outro lado, nôo se pode deixar d. julgar
o pClrtir dos prindp~s pr6priol do teologia uma correnle que se diga
teológico; tanto mais que no mesmo situação latino-amerIcana existem
le610go1 que propugnam G libertação, mal conservam pleno respeito
à identidade criltéi e fidelfdode 00 Mogilt6rio da Igreio unlvenol edl-
fiCCldo sobre Pedra.

Sõo, porlanlo, os conuilos de Revelado, verdade, fé e teologia


auumidos por Boff na eloboracão do livro cJgre!ol Carisma e Poden
,q ue suscitam a crltiCCl de quem se dél ô leilura de tal obra.

-266 -
clGREJA: CARISMA E PODER, UI)

11. Em slnt8se

Em poucas palavras, podemos dizer que o Prof. Angelo


Scola aponta no livro 'lIgrcja: Carisma e Poder.. importante
erro básico, a saber:
A teologia é cl~camente lides quacrem 1n.teJJectum. fé
que procura compreender. O que quer dizer: ela procede da
fé, que relê a Palavra de De.us no seu teor objetivo e perene,
e procura compreender cada vez mais o sentido dessa Palavra
revelada aos homens, ficando em consonância com a Igreja
Universal. Dessa penetração ' inteligente da Palavra segue-se
a lttlca cristã. que procura, sim, cOnsiderar as situações con-
cretas dos Individuos e dos povos e indicar-lhes a maneira de
ser fiéis à Palavra de Deus dentro das suas circunstAncias de
vIdaj a lttica cristã asslm concebido ê. por certo, eJCigente,
como bem indica o sermão da Montanha (Mt 5-7).

Em resumo. a teologia proprIamente dita estuda primei-


ramente o Logos, a Palavra ou a doutrina revelada; depois
fonnula as normBS da praJd& ou do agir ético cristão.
Ao contrário. Leonardo SOU parte da realidade social que
clama por uanstonnações pol1ticas e, em função dessa situa-
ção sócio-polítlca, pretende ler 8 Palavra de Deus. Isto quer
dizer que esta não é estudada em si como tal na sua Identi-
dade objetiva, mas sob a luz parcial e preconcebida das ten-
sões 6Ócio-politicas dos povos latlno-amerioanos. Ê a prática
transfonnadora que condiclona a doutrina da fé. e não vice-
·versa, não é a fé que condiclona a acão social transforma-
dora. Ora tal inversão de posições: praticada por L.. BoCf e
pelos teólogos da libertação extremados merece severas criti-
cas, pois sob o rótUlo de teologia apresenta uma doutrina
s6clo-politica marxista envernizada de Cristianismo.

-267-
Tlrando • máscara:

Editora « Vozes» de Petrópolis


Há multo tempo o púbUco vem notando, com perplexi-
dade, que a Editora cVozes. de Petrópolis publIca livros das
mais diversas e contraditórias correntes de pensament(l, embora
passe por empresa. católica. Com eleito, além da Biblia e do
Missal Romano, há ali livros de filosofia neo-positivista mate-
riallata oomo o de Jacques Monod (. Acaso e Necessidade. ),
de rosmovisão pantelsta como os de Torres Pastarlno l «Minu-
tos da Sabedorlu} e J. Vasconcelos Sobrinho (cA Arte de
lr1orren), de orientação esplr1ta como o de H. A. de .Queiroz
(cOnde as Flores não Murcluun:t) I de pensamento marxJsta
como as Memórias de Luis Carlos PresteS (cPrestes - Lutas
e Autocrlticas.), de moral liberUna como (IS de Marta Supllc;y
(<<Conversando sobre Sexo~), de Anthony IKosnik (. A Sexua-
lidade Hwnana.), este último condenado duas vezes pela auto-
ridade da Igreja . . . Além disto, as estantes da Uvraria .Vo-
zes», no Rio de Janeiro, oferecem livros de outras Editoras.
incIuslve obras impressas em português na Rússia Soviética
em propaganda do rnarx.ismOj entre tais livros. encontfamos
vârios Que destroem a fê e a moral católicas, asscmelbando-se
a pasquins pornográficos.
Diante de tais fatos, um fiel católico cliente da Editora
o:Vozes. resolveu escrever à d1reçio desta, solicitando explica-
ção para o ecletismo ou a falta de coerência da empresa. Em
resposta, recebeu a carta que vai reproduzida em cfac-simile.
na 3' capa deste fas clcu1o.
Julgamos prestar wn servIço ao púbUco se lhe comunica-
mos esta declaraçio que não é de outra fonte senão da pró-
pria Editora cVozes_. Esta se identifica de tal modo que o
público já náo cairá na ilusão de que " Vozes._ tida como cató-
lica, oferece livros de oriente.çio cat6lica; na verdade, a Edi-

r.
tora se considera desUgada da Igreja e do pensamenw cató-
lico e por isto pubUca também obras contrárias a o conteúdo da
fé católlca: cDevem_ ~r ,'011 Editora. «Vozes» Uda.
Dio 6 uma empresa atrelada à. Igreja . " SODlOS uma EdI-
tora OoJdeealoaal_.
I!lIIêvãio - . . . . . 0 . 8 .B.
-268 -
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Con~.r ..... co<> Oa ,.. ~on ••••• • 11. 10 C~

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.. d. h_" • • n .. ~.'i0 de D""'5 c do. p~aprio. ~o.e,.._ N.o . oao. ~
_ (dit_" C... r. . .. ,_.I .
Agt".dooc._. " c_r.en.;. e ... n .... ""J:
-t" ....0C1Ít' .... ..... e ...... ~u"der •• cl ;cnh" o.;go ••

~:t'n--..;;~"""
111 .... 1 ç_. M....... o d. C•• tro
Oi~ . t_

---
-._.
-"'1.-'''_.
......
.......... -_.-._._.
·EDIÇOES "LUMEN CHRISTI"
MOSTEIRO DE MO BENTO
Rua Dom Gerardo 40, - 5C? andar - Sala 501
Caixa Postal 2666 - Tel. : (021) 291.7122
20001 - Rio de Janeiro - RJ

ANTROPOLOGIA E PRA..XIS NO PENSAMENTO DE JOiO PAULO 11.

Conlerlnel•• do Congr.sso Internacional r•• llzado no Rio de Janeiro de le


11 22 de outubro de 1914, patrocinado pela Arquldloceae " pelo Ponllflclo
Conselho para a CUUUf, hob li pre,kllncla executlvI do ree6m-c,lado
Cardeal Dom Paul POUPARO) , Visou despertar 11 8.ançAo de pensadores,
pe.,lores " l!tls par. I rlqueu do pensamenlo de Joio Paulo 11.
Cont6m o tido completo du 1I conl. r6neles , seguido de 23S clllç6es
-blbllog,jllcas de publlcaçOes de Karol Woityla e de .Iguns trabalhos
blolilra11cos ou esludos lobr. Joio Paul o 11. A ulr brevemente: 300
pi sln.,.

CONSTITUiÇÃO SACROSAHÇTUM CONCIUUM sobre a $aVIada UlUrgl••


Nova Idlclo (1985), vol. 6 da ColeçAo ..". Palavra do Papa"', em latim-
.portúguh.
O 19 documento aprovado peto Concilio com li expressiva votaçlo de 2 . 147
votos pró li apenas 4 contra. 1.4D piglnas .....:... Cr$ UI.OOO.

UTUAGIA DAS HORAS: tmlnti80 o.,.r.


"Juto da tnstruçAo Geral $Obr• • Oração do Povo dtt Deu.. INova
edlçlo 1982) . 104 pig!nll - Cf$ 10 . 000.
SALTtRIO - Os 1~ ulmol, I,aduzldo, pela CNBa com 53 canllcos do
A.,lIgo Testamento li 22 do Novo, traduzidos por O. Ma rcos &uboaa.
Para uso ' co'al ou Individuai. Iij)Ol bêm "glY61s, Incl uldOl (Im Itilico)
ot ver.lculos e os salmos impra~tórlo'. Formalo 21 li 14.
Edlçlo billngiie, 838 pigs.. . .. . .. .. .. .... . . . CIS 17 .6410
Ed. sO IIlIl...portugués, :>00 pAgs. Cr$ 14 .840
A REGRA D.E S~O BENTO - Ed . comemo'aliva dOI 1 .500 ano. de nascI-
mento do Patriarca S. Bento. Trad. li notas expllcatlv., por O. Joio
Evangelista Enoul, contando um IndIca lem6tlco. No conle:d o estio
Impressas as paaaagflns da A6guie Magialrl que secvfram a 5 . 8. no
Me. VI. Formato 19.5 li. 13,5.
Ed. blllngQe com anotaç6es, 212 p. •.. .... . ... • .. ... Cf$ & . • 00
Ec" ~ em por1!1guts, um anollçOes. 76 p. ... ....• .. Cr$ 4. 200
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feridas pelos prlmllivos Mongas do dosérto. 5entenç.. que pr0p6om
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uma doutrina, uma norma de vidII espiritual ou narram. um epfs6dlo
a.catas que vi.... ram no Egito
dos IIkulos IV e V. 262 p. - Cr$ 7.000.

AnNDE-SE PELO REEMBOLSO POSTAL

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