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Asociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann Armin Mathis” "O que o Senhor esta fazendo, esta tudo crrado, mas tem qualidade." (G. Habermas sobre Niklas Luhmann) “E, 0 qué, tem aris disso? Atris disso, tem nada!” (N. Luhmann sobre a teoria dos sistemas sociais) “As seguintes investigagdcs arriscam a transigao a um conccito de sociedade radicalmente anti- humanista, radicalmente anti-regionalista ¢ anti-radical construtivista” (N, Luhmann: Gesellschaft der Gesellschaft). Introdugao presente trabalho é uma tentativa de apresentar para as ciéncias sociais no Brasil alguns aspectos da teoria dos sistemas de Niklas Luhmann, Luhmann (1927-1998), professor da Universidade de Bielefeld entre 1966 e 1993, & considerado hoje, junto com Jurgen Habermas, o mais famoso representante da sociologia alema'. Considerando 0 caracter introdutério desse texto, a maneira que escolhi de apresentar 0 pensamento de Luhmann foi através do conceito da sociedade. Decisto esta, que nao se explica pela importancia da referida categoria na arquitetura de sua teoria, mas pelo seu cardter emblematico de poder mostrar as singularidades do seu pensamento dentro da teoria sociolégica, Jusiamente esta singularidade e a complexidade da teoria elaborada por Luhmann, que torna a sua leitura inicialmente muito ficil. © texto aqui apresentado se coloca como facilitador dessa aproximago com a teoria dos sistemas sociais, que hoje ocupa um lugar de destaque nas ‘grandes’ teorias da sociologia. Luhmann jou sua carreira académica como socidlogo no inicio dos anos 60 com uum estégio em Harvard, onde foi aluno de Talcott Parsons. Nessa época trabalhava como assessor juridico” no ministério de educagao e cultura do Estado da Baixa Saxdnia. Apés sua volta dos Estados Unidos comecou a lecionar na escola superior de administragao de Cientista Politico, Prof. Adjunto do NAEA/UFPA, email: armin amazon.com br Diferente de Habermas, poucas obras de Luhmann foram traduzidos para o portugués. Embora Luhmann ppublicou quase 60 livros. * A formagao acadén de Luhmann é de diteito, “Armin Mathis: A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmana. 2m Speyer, para depois assumir uma cétedra de sociologia na recém criada Universidade de Bielefeld, onde trabalhou durante trinta anos no seu “inico” projeto de pesquisa: uma teoria da sociedade, Em 1984 Luhmann publicou o “capitulo introdutério", a obra: Soziale ‘Systeme. Grundri einer allgemeinen Theorie’. Depois seguiram-se varios estudos sobre sistemas funcionais especificos da sociedade modema* e, em 1997, ele apresentou com Die Gesellschaft der Gesellschaft’ 0 ponto final desse projeto gigantesco. "A teoria da sociedade conforme o pensamento a ser elaborado a seguir ¢ a teoria do sistema social mais abrangente, aquele que inclui todos 0s outros sistemas sociais" (GdG 78). Isso é 0 ponto de partida na descrigao da sociedade de Luhmann, Nesta visdo estio implicitos alguns pressupostos que merecem um esclarecimento prévio, para que possamos seguir 0 caminho a que cle se propée. Sociedade como sistema Luhmann interpreta a sociedade como um sistema: isto é, ela é observada através da distingdio sistema/meio. Sendo assim, cabe inicialmente recorrer aos instrumentos da teoria geral dos sistemas, sobretudo as mudangas paradigméticas que ocorreram nos anos 70 € 80, ‘em fungio de novas descobertas nas ciéncias exatas ¢ biolgicas. A teoria geral dos sistemas apresenta-se hoje como teoria de sistemas auto-poiéticos, auto-referenciais © operacionalmente fechados. Mudangas paradigmaticas na teoria geral dos sistemas Como marco inicial dessa mudanga paradigmitica, considera-se On Self-Organizing Systems and their environment de Heinz. von Foerster, publicado em 1960, uma obra ainda fortemente influenciada pela cibernética e pelos conceitos de informagao de Shannon. Quase no mesmo tempo, um quimico, Iya Prigogine, que tabalhava em Bruxelas sobre processos da termodindmica ndo-linear, formula pela primeira vez 0 conceito das estruturas dissipativas: descrevendo processos de auto-organizagao longe do equilibrio > Traduedo espanhol: Sistemas sociales, Lineamentos para uma teoria general, Barcelona: Anthropos, México: Universidade Iberoamericana; Santafé de Bogota: CEA. 1998. + Até agora ela apresentou monografias sobre os scquintes sistemas funcionais: a dircito (1993), a ante (1997), a ciéneia (1990), a economia (1988), a educagio, os meios de comunicagZo de massa (1996b) No cespélio de Luhmann encontram se ainda varios manuseritos, eujo destino ainda nio esta definido, ‘Armin Mathis: A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann 32 termodinamico, usando energia, ¢ produzindo entropia. Mas a termodinémica nZo-linear nao ficou restrita aos trabalhos de Prigogine e Glansdorff em Bruxelas. Também na Europa oriental, sobretudo em Berlim (Ebeling), Moscow e Kiew, trabalhavam quimicos ¢ fisicos ‘com fendmenos da auto-organizago - nem sempre bem vistos pela ciéncia oficial dos antigos regimes socialistas. ‘Também durante os anos 60, um fisico alemdo, Hermann Haken, usou 0 conceito de auto-organizagio para claborar uma teoria sobre o laser. Essa teoria, em seguida mais aprofundada, ficou conhecida como sinergética, e logo foi ampliada para outros processos de formagao espontinea de ordem na fisica, quimica ou biologia. Manfred Eigen, um bidlogo cujo interesse de pesquisa era uma teoria da selegio no nivel molecular, publicou em 1971 Molecular self-organization of matter and the evolution of biological macromolecules, onde interpreta a origem da vida e a evolugio como resultado de um proceso de auto-organizacao, ou a transformagio do caos molecular em vida ordenada. No campo da ecologia, Holling, através da introdugo dos conceitos stability e resilience, tentou fornecer uma explicagio nova sobre o processos dindmicos de sistemas ecolégicos frente a uma perturbagdo extema. Embora a maioria das teorias sobre auto-organizagio nas diversas disciplinas ter nascido durante os anos 60, somente na primeira metade dos anos 70 foi dado o seu reconhecimento mituo, 0 que levou a uma discusstio mais profunda sobre as categorias e a tentativa de formalizagao. Autopoiesis e fechamento operacional Como mencionado, Luhmann assimila em sua teoria as mudangas que aconteceram no plano da teoria geral dos sistemas. Uma das mudangas principais foi a substituigao do conceito sistema aberto /fechado pelo conceito de autopoiesis*. Autopoiesis significa que uum sistema complexo reproduz. os seus elementos e suas estruturas dentro de um processo Essa obra, eujo ainda nfo foi waduzido, Luhmann fo foi o Gnico cientista social que se utilizou da idéia da auopoiesis, Para uma adaptagao diferente veja por exemplo Gorlitz (1995: L06f1) lo programitico: "a sociedade da sociedade", ficari mais claro apés leitura do texto, an operacionalmente fechado com ajuda dos seus proprios elementos’. Enquanto Maturana / ‘Varela restringem o conceito da auiopotesis a sistemas vivos, Luhmann o amplia para todos 68 sistemas em que se pode observar um modo de operagio especifico e exclusivo, que so, 1na sua opinigo, os sistemas sociais e os sistemas psiquicos. As operagbes bisicas dos sistemas sociais so comunicagdes € as operagdes basicas dos sistemas psiquicos sdo ensamentos. As comunicagdes dos sistemas sociais se reproduzem através de comunicagdes, e pensamentos se reproduzem através de pensamentos. Fora dos sistemas sociais, no h comunicagao e fora dos sistemas psiquicos no h4 pensamento, Ambos os sistemas operam fechados, no sentido que as operagbes que produzem os novos elementos do sistema, dependem das operacdes anteriores do mesmo sistema e so, ao mesmo tempo, as condigdes para fururas operagées, Esse fechamento é a base da autonomia do sistema. Ou em outras palavras, nenhum sistema pode atvar fora das suas fronteiras. E valido ressaltar que 0 conceito da autopoiesis em nenhum momento ver negar a importincia do meio para o sistema, pois, lembrando, sem meio no hd sistema. Autopoiesis refere-se & autonomia, que nao significa autarquia, Essa diferenga se expressa na categoria acoplamento estrutural, que denomina a relagio de dois sistemas auto-poiéticos, que precisam para seu funcionamento da presenga de outros sistemas. Como exemplo podemos citar a relagio entre sistemas sociais sistemas psiquicos; comunicagao nao é possivel sem a presenga de sistemas psiquicos. A relagio sistema meio caraterizada por um acoplamento estrutural significa que sistemas autopoiéticos - isto é, sistemas de estrutura determinada e autoregulativos - no podem ser determinados através de acontecimentos do meio, esses acontecimentos somente podem estimular operagdes intemas préprias do sistema, cujo resultado, na maneira como ele se mostra para o meio, ndo & previsivel, mas contingente. As estruturas seménticas intenas organizam as operagdes comunicativas intemas de maneira recursiva ou autoreferencial. Desta maneira, podemos chamar aquele sistema de auténomo - que baseado em regulagdo ‘autopoiética - mantém relagdes com 0 seu meio guiado pela sua diferenciagdo principal e Por seu modus de operagdo. Assim, um sistema auténomo é independente do seu meio, 0 que diz respeito a estrutura basica de sua orientago intema, ¢ a forma de processar ‘A negagito de autopoiesis & allopoiesis, categoria usado por Neves (1996) para caraterizar o sistema do direito no Brasil, devido as imterferéncias externas que o sistema sofre ‘Armin Mathis: A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann sn complexidade, mas dependente do seu meio no que diz respeito a dados e constelagdes que servem como base de informacio para o sistema. Sociedade como sistema social A teoria dos sistemas sociais ¢ a teoria que tem como objeto de estudo sistemas autopoiéticos sociais. Isso fax necessirio definir a operagio basica através da qual o Processo autopoiético separa esse sistema dentro do seu meio. Além da sociedade, organizagdes ¢ interagdes fazem parte dos sistemas sociais e assim tém carateristicas comuns e sdo comparaveis entre si." O principal fator em comum entre os sistemas sociais é 6 fato de que a sua operagio bisica é a comunicagio. A comunicagao é a (\inica) operagio genuinamente social, ¢ ela € autopoiética porque pode "ser criada somente no contexto recursivo das outras comunicagdes, dentro de uma rede, cuja reprodugao precisa da colaborago de cada comunicacao isolada” (GdG 83). Sistemas sociais como forma de reduzir a complexidade do mundo Sistemas sociais se formam autocataliticamente para reduzir a complexidade do mundo. O mundo que representa a unidade entre sistema e meio, e que contém todos os sistemas todos os meios. A fungdo principal dos sistemas sociais ¢ a de reduzir a complexidade do mundo de tal maneira que ela possa ser entendida pelas pessoas ou sistemas psiquicos - na linguagem da teoria dos sistemas, Complexidade & assim definida: um conjunto de elementos que devido a restrigdes imanentes capacidade de enlace, toma impossivel ys 46). Ou em outras combinar cada elemento a0 mesmo tempo com cada elemento (Sor: palavras, complexidade é o conjunto dos possiveis estados e acontecimentos de um sistema, Assim, a complexidade do mundo & sempre maior do que a complexidade de um sistema, que por outro lado, precisa de um grau de complexidade que Ihe permita a redugdo da ‘complexidade no seu meio, Para sistemas sociais a reduedo da complexidade do mundo se traduz no problema de como enfrentar a dupla contingéncia, [Nas suas itimas publicagBes Luhmann mostra a tendéneia de adicionar um quarto tipo de sistema social, ‘0s movimentos sociais, sem alids fornecer um referencial tedrico de comparivel complexidade como fez para as organizagées ou para a sociedade, Veja por exemplo (Lumann 1996) ‘Armin Mathis: A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann 6n2 Redugao da complexidade do mundo é enfrentar a dupla contingéncia Contingéncia, nas palavras de Luhmann, é “algo que ndo é necessério nem impossivel, algo entio que é (era ou serd) assim como é mas também poderia ser diferente” (SozSys 152). Traduzido para sistemas psiquicos ou sociais, o problema da dupla contingéncia se transforma no dilema que Ego nio sabe como Alter reagir4 em resposta a um dada atuagao do Ego. Alter ¢ Ego dispéem de varios altemativas de atuagio. Um sistema social, ou um individuo, tende a interpretar 0 problema da contingéncia, isto é, da variedade de altemativas de atuagio como um grau de liberdade: liberdade de escolher entre varias altemativas de atuagio. No papel de observador de um outro individuo ou sistema social, 0 problema da contingéncia se coloca totalmente diferente, a liberdade de escolha do sistema se transforma para 0 observador desse sistema em fonte de insegurangas ¢ surpresas. A existéncia eo relacionamento das contingéncias dos diversos sistemas ao seu redor constitui para o sistema focal a complexidade do seu meio. Para poder enffentar essa complexidade no seu meio, o sistema é obrigado a corresponder com a elaboracio de estruturas complexas, que por sua vez, podem aumentar a contingéncia do sistema e assim 1 um processo evolutivo”. Sentido como fator ordenador do mundo A complexidade interna do sistema possibilita através do uso de critérios de relevancia a redugo da complexidade do seu meio, onde dados relevantes esto sendo selecionados. Esses dados esto sendo processados intemamente de forma a gerarem varias alternativas de atuagio Isso faz necessério a selegao intema de uma altemativa de atuagdo frente ao meio do sistema, Resta agora saber, qual ¢ o critério (ou a forga intema) que regula esse procedimento, Ou, em outras palavras, 0 que substitui 0 instinto ¢ a mera vontade de sobreviver? A resposta da nova teoria dos sistemas € simples e complexa a0 mesmo tempo. Conforme essa teoria, 0 critério que regula os sistemas sociais e os sistemas psiquicos é 0 sentido”, ou seja, eles se organizam baseados no sentido. Vale ressaltar que complexidade © contingéncia nfo sio dirctamente relacionadas dentro de uma administragio piblica - allamente formalizada e complexa - as relagBes internas no slo de pouca contingéncia enquanto a relae30 entre Robinson ¢ Sext ccomplexidade mas de alta contingéncia (Willke 1993: 32) "© Sentido (Sinn) € uma categoria chave na teoria de Luhmann e em varias partes da sua obra ele faz referéneia a ela, Veja por expemplo Lubmann (1984 92-148), (1997: 44-59), (1971 25-100). Sobre a ‘Armin Mathis: A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann 7 ‘A nogdio comum de sentido ¢ 0 critério que define os limites do sistema, um entendimento comum sobre um sentido divide 0 mundo em algo com sentido e algo sem sentido. Mas sentido como a razo da selego nao é suficiente, ele precisa do apoio de outros fatores como normas, valores, metas; um conjunto que crie uma ordem de preferéncias de uma sistema social, um complexo de mecanismos regulativos constituido simbolicamente e com sentido. Desta forma podemos entio responder a pergunta de uma maneira diferente: a regulagiio da sele¢do de dados do meio, por via de uma ordem de preferéncia formada por critérios de sentido, é a condi¢o da possibilidade da formagio de ‘um sistema Como jé foi dito, sistemas nao-triviais tém a capacidade de reflexdo, 0 que significa capacidade para elaborar internamente um modelo do seu meio uma identidade propria, Sendo assim, o sistema também tem a capacidade de definir e redefinir intema- mente 0 que é 0 sentido, que depois se toma a base da sele¢o para redugfio da complexi- dade do meio e da contingéncia interna. Sistemas sociais sto assim constituidos por sentido € constituem sentido ao mesmo tempo Auto-referénciahetero-referéncia como re-entry da diferenca sistemafmeio no sistema A interpretagio de sistemas sociais como sistema constituido por sentido © como algo que ‘a0 mesmo tempo constitui sentido, expressa a mudanga paradigmatica na teoria geral dos sistemas, onde a distingdo parte /todo foi substituido pela diferenca sistema /meio, ea distingao sistema aberto/sistema fechado cedeu lugar a0 modelo da autopoiesis. Isso fica claro quando nos enfocamos a operagdes que usam € produzem sentido, So aquelas que permitem distinguir © sistema do meio ou distinguir entre auto-referéncia € hetero- referéncia. A diferenga sistema / meio aparece duplamente; primeiro como diferenca produzida pelo sistema, e segundo como diferenga observada dentro do sistema. Introduzir 2 distingio (no nosso caso meio sistema) naquilo que foi distinguida por ela (no nosso caso sistema), é chamado re-entry usando uma expresso de Georg Spencer Brown”. O re-entry tem como consequéncia légica que o sistema nfo é mais calculavel por si mesmo, ele se importincin da categoria sentido para a teoria de Luhmann € as diferengas em relago a Husserl e Habermas ver Horster (1997: 78 ff) e mais geral ( BaraldiCorsidisposito 1997) HN" Essa definigao de sentido deixa clara o lado construtivista da teoria, que se distancia assim da visio ontoldgica da tradigao européia de pensamento. Veja sobre o construtivismo radical os trabalhos de Glasersfeld e Siegftied S. Sehinidt ‘Armin Mathis: A sociedade na tcoria dos sistemas de Niklas Luhmann 8n2 encontra em um estado de indeterminagdo que tem como base no a imprevisibilidade da influéncia extema (varidvel independente), mas 0 proprio sistema, que pode sair dessa situago somente através de uma meméria. Uma meméria que disponibilize para ele, resultados de selegdes feitas no pasado (GdG: 45). Isso modifica radicalmente a visto de mundo, que deixa de ser algo composto por coisas, objetos, idéias, etc. : "Ao contranio, 0 mundo é um potencial imenso para surpresas, & informaedo virtual, que necessita de sistemas para gerar informaco, ou mais preciso: atribuir as irritagdes escolhidas 0 sentido de informagao.” (GAG 46). Referénci mostrou como sentido com sentido, referem-se a operagdes contingentes, € no a origens feitas em diregio ao passado, isto é, algo que se fundamentadas. Da mesma forma, referéncias que visam 0 futuro, referem-se ao imenso do mundo virtual, no entanto sem saber se, ¢ quais das possibilidades de observagao o sistema, através das suas operagdes de observagao introduz no sistema. Sociedade como sistema social mais abrangente © ponto de partida da abordagem de Luhmann sobre a sociedade & a constatagdo de que cada tentativa de descrever a sociedade acontece dentro da sociedade. Sendo assim, teoria da sociedade como deserigio da sociedade é auto-légica, isto ¢, a descrigo da sociedade tem que incluir uma descri¢o da propria teoria, que é a base da descrigo da sociedade. A descrigdo da sociedade ¢ um fenémeno social e sendo assim, faz parte da sociedade. A sociedade é da sociedade. Esse componente auto-légico em conjunto com a falta de metodologias adequadas para analisar sistema de alta complexidade ¢, na opinigo de Luhmann, a razao da escassez, de uma teoria da sociedade na sociologia contempordnea. Na sociologia comum, o obsticulo epistemoldgico que impede a descrigAo da sociedade, tem como base quatro hipéteses (GdG 23ss ) — A ssociedade é composta de seres humanos concretos e das relagoes entre eles; =e, por isso, sociedade somente pode ser constituida ou integrada como resultado de um ‘consenso entre os seres humanos, através da concordancia de suas opiniGes e objetivos; — sociedades existem como unidades regionais ou territoriais, — _ sociedades podem, como grupos, ser observados de fora. © Uma discussie mais profunda sobre o trabalho de Spencer Brown encontra-se em Baecker (1993a, 1993b,) ‘Armin Mathis: A socicdade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann, 9n2 Contra esse entendimento de sociedade, Luhmann apresenta a sua descri¢do da sociedade como sistema social que envolve a totalidade das comunicagdes. Sem ‘comunicagao nfo ha sociedade, ¢ fora da sociedade nao hd comunicago. Os limites da sociedade sio 0s limites da comunicacdo; limites estes, que variam historicamente, Baseado esse entendimento, a sociedade moderna se constitui como sociedade global; ndo é mais possivel isolar dentro da sociedade socialmente comunicagao. Tudo que nfo é comunicagdo, nao faz parte do sistema, passando a ser alocado fora do contomno deste, N3o sendo comunicagilo, os seres humanos - enquanto sistemas psiquicos - nfo fazem parte da sociedade, ¢ sim do seu meio. Na sociedade eles esto presentes apenas como pessoas, pontos de enderecamentos para a comunicacao. O que existe é um acoplamento estrutural entre a sociedade como sistema social ¢ os individuos como sistemas psiquicos. Um nfo pode existir sem 0 outro. ‘A concepgaio tedrica de interpretar 0 ser humano como algo fora da sociedade foi, e ainda é, um dos pontos mais criticados, ou menos entendidos da teoria dos sistemas. Sem entrar em detalhes nesta polémica, somente alguns esclarecimentos: nés estamos falando de uma construgo teérica, ¢ nfo de uma manifestagio ontolégica’®. O valor de uma teoria tem {que se mostrar na sua capacidade explicativa, no cabendo um julgamento partindo de uma visio moralista'*, A diferenga sistema /meio néio implica numa preferéncia dada para um dos lados, pelo contrério, o sistema ¢ meio, somente existem juntos'*. Somente a alocagao do individuo fora da sociedade possibilita uma analise da sociedade, sem necessidade de interpreté-la através de comportamentos desviantes dos individuos, e das influéncias da sociedade sobre estes. "> Tal diferenga (sistema ~ meio, A.M.) nlo é ontoligica, ¢ai residem as dificuldades da compreensio. Ela no divide a realidade global em duas partes: aqui sistema ¢ li meio, A altemativa nio é absoluta, cla se ‘plica somente relativa ao sistema, mas, nfo obstante, objetivamente. & 0 correlato da operagio observar, que introduz essa distingo (como todos as outras) na realidade.” (So7Sys 244) NU 'sDesta maneira, a afirmagio que seres humanos pertencem a0 meio de sistema sociais, no contém nenhuma atribuicdo valorativa sobre a imporlancia de seres humanos para si mesmo ou para outros. Somente 1 sobrestimagzo, que esté inclusa na categoria de sujeito, expressa na tese da subjetividade da consciéncia, esta servo revisada. Sistemas sociais tém como base noo sujeito’, mas o ambiente, ¢ ter como base significa fentio somente que existem condigdes da diferenciago de sistemas sociais (entre outras pessoas como portadoras de conscincia) que nlo estio sendo difcrenciados" (SozSys 244). Veja sobre a mesma diseussio ‘os artigos em Fuchs£iobel (1994), de ambiente nifo deve ser entendido como uma eat para a formagHo do sistema." (SozSys 242) ia residual, Antes a relago com 0 Armin Mathis: A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann on A interpretagao de Luhmann da sociedade como sistema social que envolve toda a comunicago, fica mais clara quando se leva em consideragao o significado da categoria comunicagdo, dentro da teoria dos sistemas. Comunicagao como elemento da sociedade Luhmann define comunicagao como a sintese de trés selegdes: mensagem, informagao € compreensio da diferenga entre mensagem ¢ informagao. Comunicagao ¢ 0 fato que Ego compreende que Alier transmitiu uma informagao, e que essa informagdo pode ser atribuida ao Alter. Vamos ilustrar isso através de um exemplo™® Alter diz; Esté chovendo, Isto é a mensagem, que é resultado de uma selegio. Ele poderia ter dito outro coisa, ou poderia ter ficado calado. Esta chovendo, a informagio, & “também uma selecdo, porque divide 0 mundo entre aquilo que foi dito, € aquilo que est excluido (esta fazendo sol). Essa informagao nao é resultado de uma transmissdo - como no ‘entendimento comum da comunicagdo - que passou de um (que deixou de té-la) para outro (que passou a té-la) , mas sim, produto da constru¢do de uma seleco especifica. A compreensio da diferenga entre mensagem (Alter diz) e a informagao (esta chovendo) realiza a comunicagdo, que se toma um acontecimento de curto duragdo. Tudo © que acontega em seguida, j4 no faz parte da unidade da selegio do ato comunicativo”. A comunicagdo sobre a comunicagdo (uma pergunta de esclarecimento por exemplo) jé ¢ outra comunicagao. No processo de comunicagao, comunicagdo produz constantemente comunicagao © mantém assim o sistema social. No mesmo lado, comunicagiio & sempre comunicagdo dentro do sistema social. Ela é operagao intema e, por isso, no ha comunicagdo entre sistemas sociais ¢ 0 meio, assim como o sistema néo recebe informago do meio. © que existe é comunicagio do sistema, tendo como referéncia o seu meio. Nesse caso, 0 sistema constr6i intemamente - através da observagao - a sua informagao sobre 0 seu meio’* ° O exemplo segue BaraldiCorsifEsposito (1997: 89ss) "Um quarta selegao: aceitar ou nio das sclegSes feitas no ato de comunicagio como condigdo da. atuae30 ‘propria € algo fora do ato comunicativo (SozSy' 203) As conseqaéncias disso para 2 discussZo ecolégica nfo sto nada animadoras, como Lubmann tents ‘mostrar (Luann 1986), uma critica dessa visio em Metzner (1993). ‘Armin Mathis: A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann una ‘Comunicagio como acontecimento é algo improvavel de acontecer"”. Isso devido a trés raz5es. Primeiro, é improvavel que a comunicagdo se realize através da compreensio da diferenga entre mensagem e informagio; segundo, é improvavel que a mensagem atinga © destinatario; terceiro, é improvavel que a comunicagdo esteja sendo aceita. Para enfrentar as trés improbabilidades e tomar a comunicagio provavel existem meios. A lingua para reduzir 0 problema da compreensio, os meios de difusio, para facilitar o alcance do destinatério © os meios de comunicagao simbolicamente generalizados, para fa aceitagdo da comunicagao. Meios de comunicagio como facilidadores da comunicacio Luhmann substitui 0 uso da categoria transmissdo na sua teoria de comunicagao pela diferenciagio de meio ¢ forma (GdG 190). Luhmann usa as categorias meio e forma na tradigaio de Heider (1926). Meio e forma corresponde a diferenciagio entre elementos desapertadamente acoplados e elementos rigorosamente acoplados. Certos meios de percepgao como luz ou ar, podem condensar em uma forma através de um organismo que 0 percebe, Um outro cxemplo seria a areia (elementos = graos de areia desapertadamente acoplados) como meio e a escultura ou a impressio de um pé na arcia como forma (elementos = graos de areia rigorosamente acoplados), No caso da comunicagdo, a lingua & um meio (palavras como elementos desapertadamente acopladas) que condensa na forma de frases (palavras rigorosamente acopladas) sem, alias, destruir 0 meio. O meio de comunicagao ¢ assim definido como o uso operacional da diferen¢a de meio como substrato ¢ forma. Comunicago ¢ o processamento dessa diferenga. Enquanto o meio fica constante a forma se atualiza em cada operacdo de comunicagao. A comunicagao na sociedade produz dentro do seu processo evolutivo formas diferentes de meio /forma, conforme o problema que a comunicagdo enfrenta. Meios de difusdio aumentam o nimero dos destinatarios de uma comunicagao. Aumentando o grau da difusdio da comunicagdo, aumenta também a redundincia da informagdo, A informagao pode ser usada como confirmagao de conjun¢ao social, mas ndo serve mais como informagdo de um ato comunicativo, porque sempre pode-se esperar que a informagao ja seja conhecida, Nesse estagio, os meios de comunicagio podem surgir e assumir para sia © oja sobre isso: Luhmann (1981). ‘Armin Mathis: A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann 1m tarefa de produzir informacio. Em geral, 0 aumento da capacidade de difusio de informagdo leva a um aumento dos enderegos da comunicagao, ¢ cada vez fica mais aumenta a dificuldade para se saber 0 que motiva uma comunicagdo, para qué, e quais as comunicagdes que esto sendo aceitas na sociedade. Uma saida para essa situagdo é a elaboragdo de um novo tipo de meio de comunicagao: os meios de sucesso - meios de comunicagao simbolicamente generalizados. Esses meios de comunicagio conseguem juntar condicionamento e motivagao. Eles estabelecem, na esfera da sua vigéncia, condigdes que aumentam a probabilidade da comunicagdo. Poder, por exemplo, é um meio de comunicagao simbolicamente generalizado, que aumenta a aceitagéo de uma ‘comunicago dentro da politica; o mesmo se aplica para o dinheiro na economia, Sem mais aprofundamentos no pensamento de Luhmann sobre os meios de comunicagao simbolicamente generalizados, resta somente lembrar, que a constituiglio da sociedade como sistema auto-poiético, operacionalmente fechada na base de comunicagio, coloca para Luhmann a evolucdo da sociedade como o problema da evoluedo da autopoiesis da comunicaglo, uma evolugao que por si, é influenciada pela evolugao da sociedade. A evolugio da sociedade Teorias de evolugdo trabalham em geral com os conceitos de variagdo, selecio © re-estabilizagio. © contomo que separa um conceito do outro ¢ 0 acaso. E 0 acaso - a negagio da causalidade - que define se variagdes levam a uma selego negativa ou positiva de uma novidade, ¢ é imprevisivel se a re-estabilizago de um sistema apds uma selegdo positiva ou negativa seré possivel. Seleeo no garante bons resultados. A teoria de evolugdo néio é uma teoria do progresso, nem de intervengio, ¢ néo hi como fazer prognésticos. Evolugio de sistemas auto-poiéticos significa que qualquer mudanga nas estruturas do sistema tem que acontecer em conseqiéncia de operagdes internas do sistema. [sso modifica a antiga visio da evolucio de que sistemas se adaptam ao seu meio, Pelo contrario © sistema tem que ser adaptado para poder evoluir. 0 meio somente tem a capacidade de perturbar o sistema que conforme suas estruturas percebe essa perturbagdo ¢ modifica dentro da sua propria aufo-poiesis as suas estruturas. Que essa modificago acontega no ‘Armin Mathi z A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann 13722 uma necessidade, mas sim uma possibilidade, A selegdo das variagdes geradas em conseqiiéncia de uma perturbacdo extema somente tera como resultado uma nova re-estabilizagao do sistema, se as novidades podem ser incorporadas dentro das carateristicas estruturais do sistema. Para a sociedade como sistema social na sua relagio com o seu meio, a evolugao se coloca da seguinte maneira (GdG 454): a variagio modifica a comunicagao como elementos do sistema. Traduzido para a sociedade isso significa a comunicagao (elemento) comunica (=processo) comunicagdio nova © surpreendente (= elemento variado). A selegdo diz respeito as estruturas do sistema, no caso da sociedade, as expectativas que conduzem a comunicago. A selecdo procura os sentidos que prometem capacidade de formar estraturas, que so capazes de ser usado novamente, que so capazes de formar e condensar expectativas. A re-estabilizago define o estado de um sistema em evolugdo apds uma selegdo, seja positiva ou negativa. Como exempios dessas mudangas evolutivas no nivel da sociedade podemos citar a formagdo da agricultura permanente, ou a sua ndo-formagao em povos némades, No entanto, a evolugao da sociedade como sistema social ‘nico nfo conseguiu se assegurar como tinico meio de garantir a capacidade de reduvir o crescente aumento da complexidade no seu meio, Um outro meio que se mostrou capaz de assumir essa fungao foi a diferenciagao intema da sociedade. A diferenga sistema/ meio que formou a sociedade, comegou a ser aplicado dentro da propria sociedade na formacio de sistemas dentro do sistema, Diferenciagao da sociedade como re-entry Cada diferenciagao de um sistema, isto € a constituicio da diferenga sistema /meio dentro de um sistema, cria novos sistemas e novos meios dentro do sistema, A diferenciagiio de um sistema em sub-sistemas substitui na nova teoria dos sistemas a diferenga partes todo. © sistema se diferencia no em varias partes, mas sim em diversas diferengas sistema meio, Para cada sub-sistema se forma dentro do sistema original, meios diferentes, tendo como limites finais o li ite do sistema original. A modificagio de um sub-sistema se constitui assim sincronicamente como mudanga de meio para varios outros sub-sistemas dentro do sistema original. Uma mudanga que por si pode iniciar um processo evolutivo nesses sub-sistemas. Os sub-sistemas estabelecem acoplamentos estruturais entre ‘Armin Mathis: A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann 14n2 sie co-evoluem. O acoplamento estrutural entre os sub-sistemas é 0 que define estrutura da sociedade como sistema social mais amplo e 0 que constitui a forma da diferenciagio do sistema” ‘As formas de diferenciagao do sistema significam estados e possibilidades diferentes na evolugao do sistema. Cada forma de diferenciagao do sistema incorpora somente restritas possibilidades de desenvolvimento, Esgotadas essas possibilidades, a continuidade da evolugio requer uma nova forma de diferenciagao. Dentro de uma dada forma de diferenciagio nenhum sub-sistema pode ser substituido por um outro, isso devido a necessiria diferenga entre os sub-sistemas como fator constitutive. Para que, apesar disso, evolugdo se toma possivel, precisa-se dentro do sisteraa, formas latentes de uma possivel nova ordem, Formas que no decorrer da formagio da sociedade podem se tomar dominante. Isso significa que evolugao precisa varias formas de diferenciagdo ao mesmo tempo, para germinar opgdes de selego. Embora a evolueao coloque a necessidade de varias formas de diferenciag4o ao mesmo tempo, existe sempre uma forma de diferenciagao principal. Essa forma de diferenciago primaria, se destaca pela sua capacidade de regular as possibilidades das demais formas de diferenciagdo. Historicamente, quatro formas de diferenciagéo sao demonstraveis. — Diferenciagiio segmentiria; os sub-sistemas da sociedade so iguais entre si, por ‘exemplo grupos tribais, que vivem sem muito contato entre si. = Diferenciagio através da diferenga contro /periferia; agora existe um caso de desigualdade (= centro), mas 0 principio da segmentagao se mantém (varios ‘segmentos no centro e na periferia). — Diferenciago estratificada; a sociedade é dividida em camadas e existe um diferenciagio hierérquica. Normalmente existem pelo menos trés camadas diferentes. — A quarta forma de diferenciago, que comega se formar no século 16 ¢ desde 0 século passado se constitui como forma completa, & a diferenciagio funcional. Diferenciago funcional significa que a sociedade se divide em sub-sistemas que assumem uma fund especifica na reproducio da sociedade do seu meio. % A definigio dada por Luhmana é *Falamos entlo de forma da difecenciaedo do sistema, quando - partindo da visio de um sub-sistema - consegue se distinguir um outro sub-sistema, € quando o sub-sistema se determina através dessa diferenga." (GG 610) [Armin Mathis: A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann, isn Essas formas nao constituem uma sequéncia linear, pelo contrario, a historia mostra a convivéncia das diversas formas ao mesmo tempo. A sociedade modema como sistema de diferenciacgdo funcional Na sociedade global, interpretada como sistema mais amplo de comunicagdes, diferenciagao do sistema significa também, diferencia¢ao da comunicagio. Os sub-sistemas se diferenciam através da elaboragio de uma estrutura propria para sua comunicacio, usando para isso aquisigdes especificas da evolugio: meios de comunicagao simbolicamente generalizados e cédigos bindrios. Podemos enumerar alguns sistemas funcionais” e seus cédigos bindrios™: — politica que usa 0 cédigo bindrio poderfao-poder ou governar/ndo-govemar, = aciéncia com o cédigo binario verdade*io-verdade, = aeconomia com o cédigo binario pagar/ndo-pagar ou propriedadenio-propriedade, — arte com o cédigo binério bonitoffeio ou — direito com 0 cédigo binario licitoAlicito. A introdugao do cédigo bindrio tem varias conseqiiéncias para o sistema funcional. ‘Através do cédigo binario, o sistema consegue a duplicagao do mundo, tudo que é colocado em um lado do cédigo, carrega consigo, o outro lado como possibilidade. A atribui¢ao de uma comunicagdo a um dos lados do cédigo bindrio ¢ regulamentada através de programas. No sistema funcional da cigncias as teorias cientificas formam os programas que estabelecem as regras para poder decidir sobre a verdade mao-verdade de uma comunicagao cientifica. "Através da diferenciagio de cédigo e programa o sistema ganha entao a possibilidade de operar ao mesmo tempo como sistema fechado (= cédigo bindrio A.M) sistema aberto (= programas possibilitam modificagSes das estruturas, A.M.)". (Okom 91). © cédigo representa uma visdo totalitéria do mundo, que passa a ser observado, pelo sistema funcional somente através da diferenca especifica que 0 seu cédigo estabelece.”* A -visdo do mundo de um sistema funcional é aquela que o seu cédigo Ihe permite ver. E como * Grande parte da produgdo cientifiea de Luhmann se refere a analise de sistemas funcionais. Veja referencia 4 2" Mais detalhes sobre codificago bindria em Luhmann (1986: 75-88), Armin Mathis: A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann 1622 cada sistema funcional tem um cédigo especifico, cada sistema funcional tem sua versio especifica do mundo, ¢ consegue no maximo observar que existem no seu meio - nos outros sistemas funcionais - visées diferentes do mundo, A unidade da sociedade se constitui ‘como poli-contexturalidade dos mundos especificos dos sistemas funcionais™. Nao hd mais ‘um lugar que possa representar a identidade do sistema. Os sistemas funcionais sao iguais na sua diferenga. A unidade da sociedade se constitui no nivel do sistema funcional como unidade da auto- e hetero-referéncia da sua observagao. Observando os sistemas funcionais observar Observar é uma operagio com dois momentos: distinguir e designar (SozSys 596) *. Usando a distingdo homem - mulher, bonito - feio ou sistema - meio podemos designar un dos dois lados da distingao e chamar isso de observagio. O que nds é vedado, € dois lados ao mesmo tempo. Somente na préxima operagdo, e isto significa usando o designar os tempo, podemos designar 0 outro lado, Essa definigdo de observaedo tem conseqiiéncias epistemolégicas™*. Cada observacao depende da distingdo que se usa para observar, A observacdo somente pode observar aquilo que cla enxerga com a distingdo por ela escolhida, Ela nfo consegue ver o que ela ndo consegue ver com a distingio por ela escolhida. A escolha da distinedo ¢ contingente, ou existem varias possibilidades de distinguir, e assim de observar. A observacao é uma operagao dentro do sistema que combina auto-referéncia (por exemplo teorias cientificas) com referéncia externa, isto é, a sua referéncia a seu meio (por ‘exemplo o objeto de uma pesquisa). Cada observag3o tem uma mancha obscura. O observador, no nosso exemplo, sistema da ciéncia, usa uma distingo, que ele nao pode > Luhmann usa - na tradigSo da Wégiea de Spencer-Brown ¢ Gotthard Gunther - para esse fendmeno © categoria da contextura. Uma contextura é um espago bivalent, perfetamente contingente, formado por uma distingao bindria. Ver por exemplo Fuchs (1997: 98:3) "As visbes diferentes do sistemas funcionais nfo podem ser juntados para formar um todo. sp definigao de observagao Lubmann toma emprestado de George Spencer Brown que formula dessa maneira: *We take as given the idea of distinction and the idea of indication, and that we cannot make any indication without drawing a distinction. We take, therefore, the Jorm of distinction for the form.” (Spencer Brown 1972: 1) 2 Veja por exemplo KneerNasschi (1997: 97), Sutter (1997) Armin Mathis: A soci jade na teoria dos sistemas de Niklas Lubmann a indicar qual a distingdo que cle usa. Mas, como sem distingdo nao existe observagiio, 0 observador nao é capaz de observar a distingfo, que ele usa para observar”. Enquanto é impossivel observar a sua propria observacao, a observacao de uma observaciio é possivel. Em referéncia a cibemética, essa observacdo é chamada observa¢io de segunda ordem, Como observagao de segunda ordem também ¢ observacao, ela também tem a sua mancha obscura, e ndo representa uma visdo privilegiada. Mas ela tem uma vantagem. O observador pode, observando um outro observador observar, deduzir ‘algo para sua observaco, Primeiro, ele pode ver a mancha obscura da observagdo observada, ¢ assim deduzir, que a sua propria observacdo também tem uma mancha obscura ou em outras palavras: ele pode ver que no pode ver o que nao pode ver. Embora nés falemos de observador, vale lembrar que nés estamos falando de sistema, observando sistemas. Sistemas cuja maneira de observar o seu meio é determinada pela sua auto-referéncia. Modernizago regional Vamos fechar a nossa abordagem com uma reflexdo sobre o processo da modemizag’o no Brasil, sob a luz da teoria acima apresentada. Concentramos em dois aspectos a integragao do sistema e a integragio social, © primeiro aspecto se traduz na linguagem da teoria dos sistemas na forma da diferenciagdo da sociedade e o segundo abrange a relagio sistema psiquico, sistema social, e sera tratado pela distingdo incluso /exclusio, Na sociedade modema a ordem social ¢ resultado da autonomia dos sistemas funcionais, que exercem fungées exclusivas dentro de um meio, que é formado pelo conjunto dos outros sistemas funcionais, que desta maneira restringem a atuagio ¢ a abrangéncia das suas fungdes. Integragao se apresenta, assim, no nivel do sistema funcional como redugao de grau de liberdade, em fungao da existéncia de outros sistemas funci nas. Devido ao acoplamento estrutural entre os sistemas funcionais, um aumento da integragao da sociedade, representa no somente ordem, mas também um risco. A sociedade € extremamente irritavel frente a inexisténcia de uma instncia controladora e as maltiplas ‘conseqiténcias da atuago dos sistemas funcionais estruturalmente acoplados. Enquanto no (© mesmo se apliea para nds e a nossa teoria. Veja sobre as manchas escuras da teoria dos sistemas Schulte 993) Armin Mathis: A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann 18722 nivel global da sociedade a ordem é colocada em risco devido a sobre-integragto dos sistemas funcionais, no nivel regional dessa mesma sociedade a ordem no se estabelece devido a sub-integrago dos sistemas funcionais. ‘A modemizagdo se processa como instituigo da diferenciago funcional da sociedade global no nivel regional. Ela se implanta assim com caratateristicas regionais ¢ conforme a maneira como 0 Estado nacional se comporta na concorréncia das nagdes. O Estado nacional se coloca assim entre o nivel regional e 0 nivel global”, sem muita liberdade de aco, porque a diferenciago funcional da sociedade global define as estruturas em que 0 Estado nacional pode condicionar a regitio para o seu ingresso na modemidade, A modemizagao, no nivel regional, se processa dentro das estruturas da sociedade funcional- mente diferenciada, e vale lembrar que na sociedade global ndo h4 uma distincia de coordenagio, nem a necessidade de uma evolucdo para um equilibrio. Isso tem diversas ‘conseqiéncias para a forma da moderizagaio no nivel regional © que se observa no nivel regional ¢ um duplo obsticulo que impede a formagéo de ‘ordem. Primeiro, a formagdo dos sistemas funcionais ¢ resultado de um processo evolutivo, € por isso no h4 como planejar, ou repetir no nivel regional 0 que aconteceu no nivel global durante o processo da formacio da sociedade modema, Evoluedo no nivel regional significa que a modificagao da estrutura da sociedade, sempre é modificagdo de estruturas antigas, através da sele¢o de altemativas que se incluam dentro dessas estruturas antigas. © novo sempre carrega consigo o velho, Nada garante que a improvavel formagao de sub-sistemas como fungdes exclusivas aconteca Muito mais provavel que se formam, temas funcionais corruptos, no sentido de nao conseguirem para si a exclusividade de uma fungio dentro da sociedade regional. Expressio clara disso é a meta-diferenciago incluso /exclusdo que corta verticalmente os sistemas funcionais ¢ que transforma a sua competéncia, que devia ser universal - em algo sujeito de uma decis4o contingente dos sistemas sociais da sociedade”. Desta maneira ndo ha uma contengao mitua dos sistemas funcionais, a sua integragdo & muito baixa. A formagio corrupta dos sistemas funcionais € mais acentuada naqueles sistemas que ainda conseguem evitar a sua integragao total nas regras do jogo do sistema funcional da sociedade global. O sistema funcional da politica = Eu mostre isso em um trabalho anterior, tomando por exemplo a gurimpagem como forma de valorizag30 ‘da AmarOnia, mas usando as categorias espagos funcionais (Mathis 1995), Mathis (1997) Armin Mathi sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann 1922 com a sua segmentagdo em Estados Nacionais ¢ por isso, muito mais propicio do que a economia ou a ciéncia. Mas a integragao também nao é uma garantia de ordem ou de modernizagao. Pelo contrario, tudo indica, que para os sistemas funcionais manterem as diferencas no nivel global é de grande vantagem e interesse. Bom lembrar, que cédigo da economia € pagar /ndo-pagar; nflo-propriedade ¢ to importante para a autopoiesis da economia como a propriedade. Apés essas reflexes sobre a integragdo do sistemas vamos agora seguir com 0 outro aspecto: a integragtio social. O processo de modemizagdo acontece como mudanga de uma diferengiagdo estratificada para a diferenciacdo funcional. A diferenciagao estratificada que define o destino de um individuo é a sua camada de origem. Isso em um duplo sentido. A origem que marca a posigao dentro da sociedade nfo existe - fora do conto de fadas - a transigo de uma camada social para outra camada. Nao hé possibilidades de formagao de carreiras individuais. Na comunicagio isso se expressa em uma valorizagdo da dimensio social acima da dimensdo objetiva, importante ¢ quem iz algo € nao o que foi dito. A ‘camada de origem marca também a visio da sociedade, que é vista através da diferenciagao principal acima /embaixo. Por outro lado, 0 conhecimento da prépria camada social em conjunto com o conhecimento do ‘seu lugar’ na sociedade - em conjunto com o papel da religido como interpréte exclusive do mundo - oferece para 0 individu seguranga no sentido de capacidade de entender a sociedade em que vive. Inclusio /exclusio existe ¢ se processa no nivel da camada social e dentro da unidade familiar ou da categoria de trabalho, Diferente das sociedades tribais exclusdo nao é mais possivel com exclusio total do individuo através da liberagtio por morte ou desterro, A diferenga incluso /exclusdo ¢ reconstruida dentro da sociedade. E como a sociedade moderna resolve 0 problema da incluso /exclusao? A primeira vista, nao ha mudangas profundas com a transi¢o para a diferenciago funcional. Os sub- sistemas (agora em vez das camadas, os sistemas funcionais) ficam responsaveis pela incluso na sociedade. Para que isso possa funcionar a sociedade parte de um pressuposto: a possibilidade de que todos os individuos possam participar de cada sistema funcional. » “Para os amigos tudo que & possivel, paras inimigos o rigor da lei” Armin Mathis: A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann 2012 Inclusio, e muito ligado a isso a formagao da individualidade, se forma através da participago das possibilidades de comunicagao que cada sistema funcional oferece. Esse ‘mecanismo nutre a ilusdo de inclusfio sem exclusdo. Mas isso é somente ilusto, porque na realidade se formam esferas de exlusio. Exclusio que normalmente nfo é somente exclusio de um sistema funcional porque a exclusdo de um sistema funcional normalmente leva 4 exclusdo de outros sistemas*'. Exclusao social hoje ¢ quantitativamente diferente (maior) & outras formagdes da sociedade, Na sociedade qualitativamente diferente daquela modema, exclusdo & consequéncia direta da diferenciagao funcional da sociedade™, ¢ ao mesmo tempo inclusio somente é possivel com a existéncia de sistemas funcionais, que funcionam. Esse fenémeno se mostra em toda a sua dramética na regides periféricas do mundo, onde a variivel incluso /exclusio se estabelece como uma meta-diferenga acima dos cédigos dos sistemas funcionais (GG 632). Isso nao significa somente exclusio do acesso a um sistema funcional, mas também a decisdo sobre a sua inclusio no sistema funcional. Na pritica isso se traduz, por exemplo, nas decisdes sobre 0 uso ou ndo do sistema de direito para decidir um litigioso, Claro que essa decistio de ndo entrar em um sistema funcional requer recursos para impor a sua vontade sem recorrer a autoridade do Estado, seja porque faz parte dela (caso da policia, das forgas armadas), seja porque ndo ha presenga ou vontade politica de atuagao do Estado™. Diferente das sociedades estratificadas que possuiram mecanismos de integragao a0 lado da exclusio (por exemplo caridade, mosteiros, a marinha, as provincias, a pirataria nos navios) a sociedade no conhece mais esses mecanismos, isso devido a falta de uma ‘instancia central’ que pode representar a sociedade como um todo. Enquanto nos paises centrais, um sistema de assisiéncia social tenta assumir essa fungdo, nos paises periféricos nao ha uma equivaléncia funcional para isso. O problema da incluso se coloca meramente 2 Cada individuo agora & responsdvel por sua carreira, como resullado da sua formagao propria. isso mo sentido duplo de formago dentzo do sistema educative, ¢ de formagio conforme um plano e desejos individvais. A camada social de origem no determina (claro que ainda tem influéncia que diz respcito a0 acesso a educayio por exemplo) mais o lugar na sociedade, nem a carrera alcangada diz algo sobre a origem dda pessoa. O individuo agora tem que mostrar para a sociedade quem cle & Veja mais exemplos em Fuchs (1997) 3” Nilo precisa-se de muita fantasia para iustrar iss. 2 Nao hi espago para aprofundar esse argumento © mostrar as ligagdes entre exclusio/inelusfo e integragio/ desintegragdo, Veja sobre inelusfo exclusio Luhmann (1997: 619-634), Fuchs (1997), Nassehi Nolimann 1997), ‘Armin Mathis: A sociedade na tcoria dos sistemas de Niklas Luhmann 2n2 como problema individual, Exclusdo pode ser interpretada também como perda de endere¢o social’, O individuo nao é mais notado como pessoa, ele est sem papel social ¢ em geral, sem os lagos sociais das sociedades estratificadas (oikos, famili que foram desestruturadas logo no inicio do processo da modemizagao. Despido da sua sociabilidade ele € somente corpo, € © corpo e suas necessidades bésicas determinam o seu comportamento na sociedade, que se reduz a mera reproducao desse corpo, a sobrevivencia (Luhmann 1996b: 189), Reduzido a0 corpo, a tinica maneira de regressar na sociedade, de incluso nos sistemas funcionais, € 0 uso desse corpo, seja na prostituigao, seja como modelo, seja como vendedor de seus érgios ou das suas criangas, seja como jogador de futebol. ® Vontade politica tanto no sentido de colocar a lei em pratica como vontade politica de nfo imped privado de forga Veja sobre a categoria ‘enderego social’ Fuchs (1997). ‘Armin Mathis: A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann 2m Bibliografia Heider (1926). Ding und Medium, Symposium 1 (1926), 109-157. Buecker, D. (Org) (1993a). Kall! der Form. Frankfurt a M. (Suhtkamp). Bacoker. D. (Org.). (19930). Probleme der Form, Frankfurt aM. (Subzkamp), Baraldi, C. (Corsi, G. Esposito, E, (1997). GLU. 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