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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA


SOCIAL

DISCIPLINA: Estado Brasileiro e os Povos Indígenas


DOCENTE: Victor Ferri Mauro

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO “NOVO” ESPÍRITO DO


CAPITALISMO E DO CAPITALISMO ARTISTA NO CONTEXTO
ECONÔMICO DOS PAITER SURUÍ

Ivani Marques da Costa Grance

Resumo

O presente artigo tem como objetivo, apresentar uma breve análise da atuação
dos Paiter Suruí dentro do contexto do “novo” espírito do capitalismo e do
capitalismo artista. A partir das informações obtidas no artigo “A monerarização da
vida social dos Paiter Suruí”, pretende-se investigar quais práticas e ações
econômico financeiras deste povo, demonstram os efeitos ou a atuação destas
transformações do sistema capitalista em vigência.

Palavras-chave: capitalismo, economia, capitalismo artista.

Campo Grande- MS, 09 de Julho de 2019.

1
O sistema econômico capitalista vem de longa data trazendo mudanças e
transformações nas culturas indígenas do nosso país, desde a chegada dos europeus
em nosso continente até os dias atuais, levando diversos grupos indígenas
remanescentes a se organizarem e se adaptarem às configurações deste sistema
econômico global.
Dentro deste contexto, se propõe fazer uma análise dos esforços dos Paiter
Suruí indígenas da região norte do país, em se adaptarem aos avanços do capitalismo
sobre sua cultura, tradição, organização, manutenção e desenvolvimento ao longo das
últimas décadas do século XX e início de XXI. Conforme SILVA & FERREIRA (2014),
desde seu primeiro contato com o não índios em 1969, iniciado pela Fundação
Nacional do índio (FUNAI), os Paiter Suruí vem buscando se adaptar às mudanças e
transformações causadas em sua cultura e tradição, pelo avanço do capitalismo em
suas terras através do sistema econômico vigente no nosso país
Mudanças, transformações e adaptações observadas por Luc Boltanski & Eve
Chiapello (2009), que perceberam a ação de um “novo espírito” do capitalismo, que
transita sem barreiras nosso mundo globalizado e Guilles Lipovetsky & Jean Serroy
(2015), que dentro desta perspectiva de transformações, observaram que a
comercialização de bens e valores passou a ser norteados pela estética e a arte,
conferindo ao capitalismo algumas ferramentas de adaptação, permitindo com isso
sua hegemonia no sistema econômico global.
Embora o contato com os Paiter Suruí tenha ocorrido em 1969, suas terras já
sofriam com as ações do período de maior atividade econômica pelo qual passou o
norte do país, durante o ápice da extração da borracha. Esta expansão conduziu uma
forte colonização da região implementada e apoiada pelo governo federal, que
possibilitou a chegada de colonos, agricultores, extratores, posseiros e até invasores
que se aproveitando da extensão e falta de fiscalização, adentravam as terras
indígenas daquela região, conforme SILVA & FERREIRA (2014):
As mudanças populacionais em Rondônia se desdobraram em novas
configurações territoriais, que, por sua vez, provocaram
transformações também nas comunidades indígenas, inclusive nos
Paiter Suruí. Ainda que este povo tenha tido o contato iniciado em
1969 pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), com a presença dos
sertanistas Francisco Meirelles e Apoena Meirelles, grandes
defensores dos povos indígenas, é neste contexto de expansão das
fronteiras geográficas e econômicas, marcado por disputas e
conflitos, que a Terra Indígena Sete de Setembro passa a sofrer forte
pressão e invasão de colonos, pois o PIC Gy Paraná foi implantado
no entorno do território dos Suruí. Por isso a demarcação dos limites
da Terra Indígena foi realizada em 1976. Em 1983. A demarcação foi
homologada. (p. 166).
Estas circunstâncias levaram os Suruí a se organizarem, ante as dificuldades que
esta expansão causou a sua comunidade. Divididos em quatro clãs patrilineares,
formaram associações representativas que pudessem negociar e reivindicar a
proteção de suas fronteiras, diante dos invasores de suas terras e dos conflitos
causados pela ganância desmedida, disfarçada no bojo do desenvolvimento e
progresso do país naquela região.
Com o contato com o não índio, os Suruí passaram a sofrer os efeitos danosos
desta relação não só em sua cultura, mas em toda a materialidade de sua
sobrevivência1. Dentro deste período que compreende desde o primeiro contato e o
desenvolvimento das relações dos Suruí com os não índios, o capitalismo fez-se
presente e fortemente atuante principalmente através dos aliciadores madeireiros, que
se aproveitavam da necessidade de os indígenas gerarem seus meios de
sobrevivência.
Os aliciadores passaram a pagar pela madeira da TI Sete de Setembro, fazendo
com que o próprio indígena participasse da degradação de sua própria terra, “A
exploração madeireira, aliada à ameaça de invasão dos não indígenas ao território
Suruí, trouxe efeitos perversos na vida social deste povo.” SILVA & FERREIRA (2014)
Considerando que o Brasil é um país relativamente novo, pudemos observar que
as ações exploratórias e extrativistas de madeira nas terras dos Suruí, remetem ao
capitalismo praticado na época anterior à primeira Revolução Industrial, em que suas
atividades consistiam preferencialmente em extração e comercialização maciça de
matéria prima.
Embora nos centros comerciais do país já se observavam as transformações do
capitalismo nascente, nas terras dos Suruí imperava a devastação da floresta em
nome do desenvolvimento e integração do indígena a cultura do não branco.
Com a criação do novo estado de Rondônia, o avanço do desenvolvimento
através de construção de estradas de ferro, chegada de colonos de todas as partes do
país, devido à implantação do PIC Gy Paraná, as terras indígenas passaram a ser
atacadas, invadidas e exploradas, fazendo com que os Paiter Suruí buscassem
alternativas de sobrevivência, deslocando-se em diversas direções. Vivendo em várias

1
“Para discutir a sobrevivência de uma sociedade indígena num país como o nosso, os Suruí
são um exemplo curioso. Com uma população de 340 pessoas, ocupando hoje um território de
220 mil hectares (menos da metade de sua área tradicional), vivem em duas aldeias, a Sete de
Setembro e a aldeia da Linha 14, a apenas 50 quilômetros de Cacoal e a poucos quilômetros
do projeto de colonização Ji-Paraná do INCRA. Trata-se de um dos casos mais flagrantes do
choque da vida tribal com a fronteira econômica em expansão da Amazônia, com a ocupação
empresarial e a devastação da Amazônia, com a explosão demográfica do novo estado de
Rondônia (Mindlin, 1985, p. 15)”.
aldeias ao invés de concentrados em uma só como anteriormente2 (SILVA &
FERREIRA, 2014).
Os Suruí só puderam se organizar com mais eficiência e garantir a expansão de
seu território que em 1981, quando finalmente começou a ser desocupado pelos
invasores e em 1983, sua demarcação foi homologada.
Diante de todo este período de lutas em defesa de seu território, e a convivência
constante com não brancos, os índios se viram em uma dificuldade em reproduzir sua
forma tradicional de manter sua cultura, seus modos alimentares, caça, pesca, coleta
e até moradias, tudo foi alterado por esta exposição excessiva à cultura do não índio.
Em meio a todas estas circunstâncias, surgem os aliciadores madeireiros
oferecendo ganho monetário sobre a extração da madeira do território dos Suruí,
“Nessa conjuntura, os indígenas se depararam com um processo no qual a natureza
passou a ser precificada. [...] dando início às trocas monetárias, sobretudo pela venda
de madeira.” Silva e Ferreira (2014).
Observa-se a partir daí o engajamento dos índios Suruí no sistema capitalista,
tendo que aprender a tirar de sua terra muito mais, do que tirariam antes do contato
com o não índio. Em seu período anterior ao contato, eles tiravam somente o
necessário para o dia a dia, não necessitando coletar, caçar ou produzir em larga
escala. Com a chegada do desenvolvimento, todo seu modo de produção de vida foi
substituído pelo modo capitalista, causando profundas transformações em seu modo
de vida, símbolos e significados de sua cultura.
O contato constante e necessidade de negociações financeiras com colonos,
madeireiros, posseiros, gerou nos Suruí a preocupação em resgatar elementos de sua
cultura a fim de que as futuras gerações pudessem dar continuidade às suas
tradições. Neste sentido, a forma de organização em associações clânicas, possibilitou
que suas lideranças buscassem meios de interromper a extração de madeira e buscar
novos meios de vida para sua comunidade na TI Sete de Setembro.
O “novo” espírito do capitalismo vigente na década de 1980, também afetou o
sistema econômico dos Suruí que, no sentido de aliar a preservação da floresta às
necessidades materiais da sua comunidade, viu no projeto de venda de biomassa da
floresta através do sequestro do carbono, a possibilidade de o ganho financeiro sobre
seus cuidados, como o reflorestamento das áreas degradadas pela extração de
madeira.

2
A exploração madeireira, aliada à ameaça de invasão dos não indígenas ao território Suruí,
trouxe efeitos perversos na vida social deste povo, isso porque, antes do contato, estes
indígenas viviam todos na mesma aldeia. (p. 168).
Neste sentido “o capitalismo devia incorporar um espírito capaz de oferecer
perspectivas sedutoras e estimulantes de vida, oferecendo ao mesmo tempo garantias
de segurança e razão morais para se fazer o que se faz.” Boltanski e Chiapello (2009).
Neste ponto, nota-se que os Suruí encontraram nas bases do “novo” espírito
capitalista um meio de aliar a recuperação do bioma de seu território à geração de
emprego e renda para a comunidade como um todo e para os indivíduos envolvidos
diretamente com o reflorestamento.
A associação Metareilá desempenhou um importante papel nestas negociações,
possibilitando que os Suruí pudessem unir a geração de meios de vida ao resgate de
símbolos importantes de sua cultura. Embora muitas de suas tradições culturais
tenham sido alteradas pelo contato massivo e constante com o não índio, não os
impediu de utilizar estas transformações em seu favor.
Uma de suas ações neste sentido é a realização de uma feira quinzenal na aldeia
Joaquim, pelos clãs Kaban e Gamir. Na feira, além das diversas formas de
negociações comerciais realizadas, são possibilitados as relações sociais que
reforçam a manutenção de sua cultura, sobretudo para as crianças e os jovens que
não vivenciaram a floresta como os mais velhos. Nestes eventos, são reforçados os
laços, costumes e transmissão de conhecimento das tradições do povo Paiter Suruí.
Além da estreita relação do cotidiano material dos Paiter Suruí com o capitalismo,
há que se considerar que as transformações do capitalismo no mundo globalizado,
também afetam os meios de vida deste povo. Não obstante a isso, os Paiter Suruí
encontraram uma forma de sobreviver, lançando mão de todos os recursos que este
sistema econômico em franca transformação pode oferecer.
Dentro deste contexto, podemos observar nas transações econômicas externas
através do sequestro do carbono, reflorestamento de áreas degradadas, produção e
comercialização de artesanato, as características do capitalismo artista modelando
cada uma destas transações.
Capitalismo artista é uma definição dada à capacidade de monetização ou
financeirização que o capitalismo desenvolveu ao possibilitar comercializar qualquer
tipo de coisa, palpável ou não como observou Lipovetski e Serroy (2014):
“(...) Na nova economia do capitalismo, já não se trata apenas de
produzir pelo menor custo bens materiais, mas de solicitar as
emoções, estimular os afetos e os imaginários, fazer sonhar, sentir e
divertir. O capitalismo artista tem de característico o fato de que cria
valor econômico por meio do valor estético e experiencial: ele se
afirma como um sistema conceptor, produtor e distribuidor de
prazeres, de sensações de encantamento.” (pg. 29).

Tendo em conta este novo paradigma econômico, podemos observar que as


atividades econômicas praticadas pelos Paiter Suruí, estão em consonância com as
bases desta nova forma de capitalismo. Dentro de um contexto de estetização, da
possibilidade de “embelezamento” ou estetização de questões outrora vistas como
negativas ou prejudiciais aos povos indígenas, tais como a extração de madeira e
desmatamento de mata nativa na TI Sete de Setembro.
O capitalismo artista vem de encontro à necessidade de prover renda, através de
ações que lancem mão do manejo sustentável dos recursos naturais, tal como foi o
programa de sequestro de carbono intermediado pela associação Metareilá e órgãos
ambientalistas. Estas ações possibilitaram não só a interrupção da degradação da
floresta, mas o ganho financeiro sobre o reflorestamento, por parte dos Suruí.
Temas como arte, cultura, sustentabilidade, natureza são tão monetizáveis
quanto uma plantação de café, o capitalismo artista ou transestético “mudou
inteiramente os objetos e os signos da vida cotidiana ao mesmo tempo em que os
olhares, a sensibilidade e as aspirações de grande número de pessoas.” Lipovetsky e
Serroy (2014). Embora os Paiter Suruí não tivessem ciência disso, suas ações
financeiras foram profundamente influenciadas por estas transformações. As tradições
indígenas outrora esquecidas na memória dos mais velhos foram sendo resgatadas
pouco a pouco, a cada feira realizada.
É possível perceber que o capitalismo e suas adaptações estão presentes nas
mais diversas atividades econômicas dos Paiter Suruí, desde o artesanato feito pelas
mulheres, produção agrícola, venda de crédito de carbono, projetos de
reflorestamento, de reprodução de plantas nativas, etc. Contudo, este contato
constante com o sistema econômico vigente, suas transformações e adaptações, não
impedem que sua cultura seja mantida e reforçada.
A cada evento coletivo tal como a feira, é oportunidade de reforçar suas tradições
antepassadas, que mesmo que não atuem da forma original, segundo Silva e Ferreira
(2014), acabam sendo ressignificadas e transmitidas para as gerações futuras:
Desde 2009, em sábados alternados de cada mês os Paiter Suruí dos
clãs Kaban e Gamir realizam a feira cultural na aldeia Joaquim,
evento criado como forma de resgatar traços de atividades
tradicionais entre os indígenas. Esta feira se constitui em um local
onde se fazem vendas, trocas de comida e artefato. Mostra-se,
sobretudo, como local da recriação da sociabilidade entre os Paiter,
que parecem reencontrar o significado do „mato‟, palavra usual entre
eles para se referirem à floresta e ao local de reprodução da vida
tradicional”(p. 169).

Com isso, as associações e o Parlamento Suruí através de sua organização e


atuação das lideranças nas negociações financeiras coletivas e individuais,
conseguem dar continuidade na manutenção de meios de vida para seu povo,
transmissão de sua cultura e tradições para os mais jovens, possibilitando a
recuperação do numero de indivíduos de sua população, apesar das grandes perdas
ocorridas no início do contato com o não índio.
Pode-se dizer que os Paiter Suruí, tem se desenvolvido dentro do contexto de
atuação do “novo” espirito do capitalismo e sob forte influência do capitalismo artista,
considerando que seu primeiro contato com o não índio, compreende o período
estudado por Boltansky e Chiapello (2009), demonstrando assim as evidências das
transformações e adaptações do capitalismo em sua própria trajetória.

1 Conclusão

Diante do exposto, podemos depreender que, os Paiter Suruí tiveram


sua trajetória econômica-financeira perpassada primeiramente pelo
capitalismo extrativista, colonialista, análogo ao sistema econômico anterior
à Revolução Industrial. No entanto, o sistema econômico vigente no mundo
globalizado das décadas de 1970 e 1980, já mostrava transformações
importantes, que não demoraram a influenciar as relações economicas e
finaceiras dos Paiter Suruí.

As características destes novos capitalismos tem sido úteis em certa


medida para os Suruí, pois tem permitido a reprodução da vida através de
ações coletivas implementadas por suas lidetanças e associações, no
sentido de fortalecer e possibilitar a manutenção de sua cultura e tradições.

Para finalizar, considerando as condições desfavoráveis de seu contato


inicial com o não índio, causando grandes perdas territoriais, conflitos
mortes, mobilidade, etc., os Suruí tem conseguido manter sua cultura,
tradições e território, utilizando-se das prerrogativas destes novos
capitalismos nas suas transações econômicas financeiras.

2 Referências
BOLTANSKI, LUC; CHIAPELLO, ÈVE. 2009. O novo espírito do capitalismo. São
Paulo: Editora WMF Martins Fontes.

LIPOVETSKY. G. & SERROY, J. A estetização do mundo: viver na era do


capitalismo artista.São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

SILVA, Nathália Thaís Cosmo da; FERREIRA NETO, José Ambrósio. A monetarização
da vida social dos Paiter Suruí. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências
Humanas, v. 9, n.1, p. 163-181, jan./abr. 2014.

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