Sie sind auf Seite 1von 52

1

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS

COMUNICAÇÃO SOCIAL – HAB.: JORNALISMO

Andanças: uma discussão sobre os métodos de apuração para a


elaboração de narrativas sob o espectro do jornalismo literário

LIVRO-REPORTAGEM

FILHOS DO BRASIL

ROBERTO CAMARGO FURUYA

VINICIUS ALVARENGA DA SILVA

SÃO PAULO

2010
2

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS

COMUNICAÇÃO SOCIAL – HAB.: JORNALISMO

Andanças: uma discussão sobre os métodos de apuração para a


elaboração de narrativas sob o espectro do jornalismo literário

LIVRO-REPORTAGEM

FILHOS DO BRASIL

ROBERTO CAMARGO FURUYA

VINICIUS ALVARENGA DA SILVA

Relatório do Trabalho de Graduação


Interdisciplinar apresentado ao
Centro de Comunicação e Letras da
Universidade Presbiteriana
Mackenzie como requisito parcial
para obtenção de graduação no
curso de Comunicação Social –
Habilitação: Jornalismo.

Orientador: Profº Ms. Carlos Eduardo Sandano Santos

Professor de T.G.I. II: Profª Ms. Márcia Detoni

SÃO PAULO

2010
3

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, a nossos pais, pois sem eles não teríamos sequer a
oportunidade de concluir esse projeto.
Ao professor Carlos Sandano, por esclarecer os caminhos a serem seguidos.
Aos profissionais parceiros, que contribuíram com talento na concepção do
livro.
À Daniela, pelas leituras e críticas frequentes.
À Roberta, pela paciência e companheirismo.
Aos colegas de trabalho, pelos espaços abertos e compreensão ante a nossa
falta de tempo.
E a Deus, pela saúde e força.

Filhos do Brasil é tão nosso quanto de vocês.


4

RESUMO

O jornalismo periódico peca na ausência de maior aprofundamento das


pautas e na superficialidade das suas técnicas de apuração, ofertando aos leitores,
ouvintes e telespectadores, produtos informativos com baixo grau de
contextualização pela quase inexistência de pontos de ligação entre o fato da hora e
os outros eventos anteriores, necessários à sua real compreensão. O livro-
reportagem surge como uma alternativa a essa efemeridade da imprensa diária, já
que permite ao profissional da informação explorar seu potencial limite na busca por
um relato holístico sobre determinado tema. Ancorado pela ideia da observação
participante, conceito explorado com vigor por Cremilda Medina e Edvaldo Pereira
Lima no trato das técnicas de apuração, a obra Filhos do Brasil faz da biografia do
presidente Lula um roteiro para narrar histórias semelhantes às vividas por Luiz
Inácio Lula da Silva, de seu nascimento à atuação no movimento sindical, nos
mesmos locais, mas em épocas distintas. Para tanto, empresta elementos típicos do
novo jornalismo para tornar o texto algo enriquecido pelas impressões dos autores,
bem como pelo proveito de elementos literários na composição do relato final.

Palavras-chave: livro-reportagem, observação participante, novo jornalismo,


presidente Lula.
5

ABSTRACT

The periodical journalism failure in the absence of further clarification of the


guidelines and the shallowness of its techniques of investigation, offering readers,
listeners and viewers, information products with a low degree of contextualization for
almost no points of connection between the fact of the hour and the other previous
events, necessary for its real comprehension. The journalism book appears as an
alternative to the temporary feature of the daily press, as it allows the information
professional to explore its potential limit in the quest for a holistic story about a
certain topic. Anchored by the idea of participant observation, a concept explored
vigorously by Cremilda Medina and Edvaldo Pereira Lima in dealing with counting
techniques, the book Filhos do Brasil turns the biography of President Lula a script to
tell similar stories to those experienced by Luiz Inacio Lula da Silva , of his birth until
the performance at the union movement, in the same locations but at different times.
Then, lends typical elements of the new journalism to make the text something
valued by the views of the authors, as well as the advantage of literary elements in
the composition of the final report.

Keywords: journalism book, participant observation, new journalism, President Lula.


6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................ p.6

1. REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................... p.9

1.1 UMA EXTENSÃO DA PRÁXIS JORNALÍSTICA: o livro-reportagem ..... p.9

1.2 FATO E LITERATURA: possibilidades para a narração jornalística .... p.13

1.3 APURAÇÃO APROXIMADA: observação participante ......................... p.16

1.4 ELDORADO BRASILEIRO: migrações e jornadas................................ p.22

2. APRESENTAÇÃO DA PEÇA .................................................................. p.29

2.1 CONCEPÇÃO ....................................................................................... p.29

2.2 EXECUÇÃO .......................................................................................... p.32

2.3 FINALIZAÇÃO ................................................................................... p. 44

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... p.46

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ p.48


7

INTRODUÇÃO

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, encerra seu segundo


mandato no cargo mais importante do Executivo brasileiro a 31 de dezembro de
2010. A trajetória política do operário que chegou ao Palácio do Planalto, no entanto,
teve início muito antes, em cima dos palanques e no chão frio das metalúrgicas do
ABC paulista. Fenômeno de popularidade na condução do país, o “cara” foi parar
nas telas do cinema, talvez por ironia do destino, exatamente no primeiro dia do ano
que marcaria sua saída do posto de cidadão número 1.

Naquele primeiro de janeiro, entrou em cartaz em centenas de salas de


cinema do país o filme Lula, o filho do Brasil, do diretor Fábio Barreto, uma obra que
narra, de maneira romanceada, a trajetória de um migrante pernambucano que
conseguira suplantar as dificuldades e vencer na vida; um sonho de tantos outros
iguais, que saem pelo mundo em busca de um futuro melhor, longe da fome e das
mazelas do descaso.

Luiz Inácio da Silva, o Lula, e sua mãe, Dona Lindu, recriados no drama de
Barreto, são representações dos milhares de migrantes nordestinos que deixaram
sua região de origem em busca de melhores condições de vida, fugindo da violência
familiar; do abandono das autoridades; da fome e da falta de esperança que
convivem de forma contígua aqueles viventes e sobreviventes da seca, sem água e
sem comida. O percurso até a cidade grande é narrado como uma epopeia de
conhecimento e luta, no qual os contatos humanos intensificam-se, criando uma
relação de quase irmandade com os outros tantos que seguem na caçamba de um
pau-de-arara rumo a uma realidade em que não seja preciso depender da boa
vontade de governos indiferentes aos interesses dos excluídos, ou de favores
interessados dos proprietários e patrões, sem nenhuma garantia de melhora em seu
futuro.

Esse “Lula” retratado por Barreto é o símbolo de um caso raro de crescimento


pessoal de um homem que nasceu com o destino traçado pela dificuldade, não
obstante, conseguiu alcançar suas metas, alçando-se ao posto mais alto da política
nacional. Elevados às raias do misticismo, os dados utilizados na construção da
8

imagem em torno do presidente da República desconsideram que a história de Lula


é suficientemente bela, e que não é preciso floreá-la com matizes quase olimpianas.

Porém, quantas outras vidas tão doloridas ou vitoriosas existem e sequer são
recontadas pelos diretores em suas películas, mas, sobretudo, pelos jornalistas,
caçadores vorazes de bons relatos? Sendo assim, quantos brasileiros anônimos têm
contos tão interessantes e elucidativos sobre a realidade político-econômica por que
passa o país, não desconsiderando os institutos de pesquisa, mas revelando quando
e onde os números transformam-se em seres humanos?

No âmago das respostas aos questionamentos impera a necessidade, no


jornalismo, da produção de uma grande reportagem capaz de explicitar e
compreender os relatos dessas pessoas. São esses viventes que dão vida aos
números e estatísticas, personagens preferidas da imprensa periódica, sobretudo
dos informativos diários, quaisquer que sejam as mídias onde estejam comportados.
No entanto, esses mesmos brasileiros têm desconsideradas as suas subjetividades,
seus sentimentos, suas percepções e opiniões, raramente tratadas como objeto de
interesse dos escrevedores de texto.

Tolhido por mecanismos quase industriais em seu trabalho, o profissional da


informação tornou-se um caçador de aspas. A rua, seu território preferido, fora
solertemente esquecido, perdendo espaço para os bancos das redações, atulhadas
de computadores e telefones, os novos grandes apuradores desse fazer notícia
interessado em apenas informar primeiro, e não melhor, de maneira aprofundada;
um reportar holístico, que abarque todas as vertentes de um acontecimento, por
mais efêmero e insignificante ele possa parecer.

A pesquisa busca entender como o livro-reportagem, tipo de

veículo de comunicação impressa não-periódico que apresenta


reportagens em grau de amplitude superior ao tratamento costumeiro
nos meios de comunicação jornalística periódicos (LIMA, 2004,
P.26),
9

pode elevar o potencial do jornalista a limites jamais vistos, fazendo com que esse
homem da informação alcance as motivações e implicações mais profundas de
determinado fato, atingindo assim um relato carregado de sentido, ultrapassando os
limites do tempo presente, por meio de um bem acabado texto, beirando a boa
literatura de ficção.

Esse trabalho justifica-se na tentativa de preencher, como afirma Edvaldo


Pereira Lima, o “vazio que a imprensa deixa, muitas vezes, por não querer ou não
poder mergulhar em profundidade em temas para os quais existe público
interessado” (2004, p.41). Dessa maneira, lastreada nas teorias elaboradas para a
estruturação e produção da grande reportagem, por meio do livro-reportagem, além
de conceitos ligados à ideia de new journalism, a realização desse projeto é uma
busca pelo aprofundamento da práxis jornalística e um distanciamento do modus
operandi da imprensa periódica.

Resultado final desse arcabouço teórico voltado para a melhoria da atividade


do jornalista, que contou com notável contribuição das pesquisas de Cremilda
Medina no campo da análise dos modos de atuação dos repórteres, Filhos do Brasil,
obra com 14 capítulos distribuídos em 196 páginas, busca narrar outras histórias,
localizadas no mesmo contexto espacial presente na biografia do presidente Lula,
levando-se em conta os locais e instituições que marcaram a trajetória de Luiz Inácio
Lula da Silva antes da fundação do Partido dos Trabalhadores. A obra é uma clara
tentativa de aferir que noção de realidade pode ser construída a partir das nossas
vivências junto às pessoas com experiências semelhantes às do presidente,
tomadas em outra época, mas no mesmo espaço, o Brasil de Lula.
10

1. REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 UMA EXTENSÃO DA PRÁXIS JORNALÍSTICA: o livro-reportagem

O jornalismo periódico é composto pelos dados, pela informação oficial, pela


nota fria, vestida com a noção de objetividade jornalística, e despida do humanismo
e da subjetividade intrínsecos ao pensamento e às relações humanas. A sociedade
é formada por pessoas; os consumidores, os clientes, os objetos do jornalismo
diário. No entanto, essa reportagem impessoal não é capaz de explicitar e interpretar
o elemento formador da pesquisa, da análise técnica, da estatística, do
levantamento divulgado por meio de números; as “personagens” preferidas do
jornalismo diário.

A imprensa comercial periódica pauta seus repórteres pela agenda oficial dos
institutos de pesquisa, das agências do Governo, dos balanços das empresas, no
fato diário desumanizado. Não há nesse processo um interesse pelo
aprofundamento dos temas, uma vez que, quanto mais rápido uma informação é
publicada, maior a competição entre as empresas jornalísticas e seus “escrevedores
de texto” para a publicação de novas informações, carentes de uma apuração mais
elaborada, em que outros elementos além do lead sejam verdadeiramente
considerados como parte importante do trabalho noticioso. Dessa forma, como é
possível entender o contexto no qual os fatos e acontecimentos surgem e tornam-se
notícia, se o processo de elaboração do relato jornalístico é cada vez mais
superficial e efêmero, afastado das minúcias que permeiam os dados presentes na
velha fórmula do quê, como, onde, quando e por quê?

Os problemas financeiros são um grande empecilho para a prática de um


jornalismo mais elaborado, com pesquisa e apurações aprofundadas, o que
transforma a prática da grande reportagem um desafio para poucos.

De fato, os veículos impressos, hoje, no Brasil, encontram-se em


crise de identidade e de receita. Dispõem de pouquíssimo poder de
11

fogo para bancar extensa e qualificada equipe de repórteres, voltada


prioritariamente para a apuração de boas matérias, salvo exceções
raras e honrosas. Com edições reduzidas e equipes limitadas, fica
difícil abrigar tantos assuntos, ainda mais com qualidade (BELO,
2006, p.14).

Nesse universo de efemeridade e distanciamento informativo do jornalismo


comercial, surge o livro-reportagem, com o claro propósito de

informar e orientar em profundidade sobre ocorrências sociais,


episódios factuais, acontecimentos duradouros, situações, ideias e
figuras humanas, de modo que ofereça ao leitor um quadro da
contemporaneidade capaz de situá-lo diante de suas múltiplas
realidades, de lhe mostrar o sentido, o significado do mundo
contemporâneo (LIMA, 2004, p.39).

Milhares de acontecimentos ocorrem ao mesmo tempo, muitos deles capazes


de interferir de forma avassaladora no próprio processo de produção dessa peça
jornalística. Quantos desses eventos considerados comuns e desinteressantes pelos
grandes meios passam despercebidos aos nossos olhos e ouvidos? Um simples
atropelamento, retirado de seu contexto, torna-se apenas mais um pequeno acidente
para a imprensa periódica. No entanto, como fatos corriqueiros nas grandes
metrópoles, relegados a ocorrências de menor importância, podem indicar as
mazelas e doenças da sociedade urbana nas quais estão inseridos? Como ressalta
Lima, falta aos veículos informativos periódicos uma fuga do “reducionismo míope
da atualidade e do aspecto vesgamente mecanicista dos acontecimentos, para
encontrar um contexto completo de explicações da complexa realidade [...]” (1998,
p.15).

Essa limitação temática e de construção do jornalismo diário, elementos dos


quais buscamos fugir durante a apuração e redação do texto de Filhos do Brasil,
está ligada, entre outras características, à relação de extrema proximidade com o
tempo presente, a tão propalada e idolatrada atualidade, período de tempo em que
todos os fatos noticiáveis ocorrem, segundo os critérios da imprensa convencional
12

periódica. Exemplo claro dessa rapidez por que os assuntos entram e saem das
esferas de interesse do jornalismo periódico são as coberturas de casos de teor
policialesco, tais como a morte da menina Isabella Nardoni, em março de 2008,
atirada do oitavo andar de um prédio em São Paulo, no qual o pai e a madrasta da
criança foram acusados pelo crime. À época, toda a imprensa voltou-se para o tema,
muito por conta da comoção gerada pelo ocorrido, mas principalmente pela
possibilidade de ganhar audiência e informar à frente dos concorrentes, em uma
procura incessante pela informação de momento, muitas vezes desconexa e sem
lógica no contexto do fato em questão. O foco da ação de repórteres e veículos
informativos era somar apenas algum novo elemento à informação original. Com
raras exceções, buscou-se uma compreensão do universo familiar e psicológico em
que o assassinato foi cometido; uma tentativa de trazer à luz motivações mais
intrínsecas ao todo social no qual esse crime está inserido, e que forças externas
atuam sobre ele. Desvirtua esse processo informativo a ausência de conexão entre
o fato da hora e eventos anteriores da mesma natureza. Uma preocupante
constatação é a de que,

para a imprensa tradicional, esse mergulho no passado é trabalho


para a história, não para o jornalismo. Por se recusar muitas vezes a
esse resgate do tempo histórico, a reportagem fica mutilada no
esforço de trazer explicações para o presente (LIMA, 1998, p.13).

Esse mergulho de que fala Edvaldo Pereira Lima pode valer-se de recursos
ligados a pesquisa jornalística, as técnicas mais elaboradas de entrevista, assim
como de elementos ligados à sociologia e antropologia, formando um conjunto de
elementos capazes de revelar e contextualizar as possíveis razões para a ocorrência
de determinado fato, aplicados até o limite permitido durante as idas aos locais pré-
estabelecidos e no contato com nossas fontes.

Na década de 1960, ao escrever A sangue frio, no qual relata o assassinato


de quatro integrantes da família Clutter, em uma pequena cidade do interior do
estado do Kansas, nos Estados Unidos, o jornalista e escritor Truman Capote entra
no universo psicológico dos dois assassinos, entrevistando parentes e amigos dos
13

criminosos; pesquisando documentos oficiais; visitando o ambiente onde as mortes


foram cometidas, em mais de cinco anos de minuciosa apuração, alcançando as
motivações de um crime tão violento, capaz de abalar uma sociedade. O relato de
Capote ultrapassa o mero elemento factual, buscando um jornalismo holístico em
sua produção, além de uma abordagem contextualizada e dinâmica do real (LIMA,
1998, p.16).

Eventos diários e momentâneos são parte integrante fundamental na


composição do escopo informativo da imprensa tradicional. Todos querem saber
quem venceu o jogo; o que foi dito na sessão do Congresso; qual foi a decisão
tomada pela justiça; quem é o protagonista do novo filme. Porém, há, nesses
acontecimentos, dados e matizes capazes de revelar traços do todo social em que
estão inseridos os fatos cotidianos, e que os modifica de maneira incessante e,
algumas vezes, de forma avassaladora. Não obstante, o jornalismo periódico peca
na tradução desses fatos como parte integrante de um contexto mais amplo,
afastado da simples noção de atualidade; uma falha na construção de um relato
informativo calcado em um tipo de tempo mais abrangente, no qual os
acontecimentos não perdem a validade no dia ou no minuto seguinte ao que foram
publicados, mas que mantém sua força pela ideia de contemporaneidade,

um conceito muito mais elástico do tempo presente, que transcende


o meramente atual para focalizar com grande pertinência as
implicações, hoje, de eventos que não se deram apenas ontem, mas
sim há anos, décadas [...]. Isso porque a contemporaneidade
abrange, muito mais do que meros fatos, tendências que se formam
ao longo do tempo nas mais diversas esferas da vida social, muitas
vezes combinando-se e se relacionando nesse desenrolar (LIMA,
1998, p.20).

O livro-reportagem toma para si a missão particular e honrosa de preencher o


vazio informativo do jornalismo diário e/ou periódico, revitalizando-o e dando cor a
temas muitas vezes relegados pela grande imprensa, ou tratados de maneira
absolutamente superficial. Na busca de um jornalismo capaz de abarcar todas as
veredas por que se embrenham determinados eventos, o profissional da notícia, que
14

opta pela grande reportagem, tem à sua disposição recursos e propostas de estilo
raramente vistas e permitidas na imprensa convencional. Alguns desses elementos
que integram esse fazer jornalístico mais elaborado, tais como novas possibilidades
de construção do texto e técnicas de captação de informações inseridas em uma
produção jornalística que busca inspiração na arte para alcançar a mínima
compreensão da verdade, foram empregadas por nós na elaboração de Filhos do
Brasil, dando forma à ideia de contemporaneidade nas histórias sobre os lugares
percorridos e pessoas encontradas.

O estilo jornalístico conhecido como new journalism; seu corolário ilimitado de


modos de atuação para o repórter, permeou todas as fases de produção da
reportagem, produto final desse projeto. Mais elementos desse bem acabado meio
de informar são vistos a seguir, evidenciado alguns dos conceitos entronizados na
prática pela dupla.

1.2 FATO E LITERATURA: possibilidades para a narração jornalística

O leitor mais atento, ao abrir os jornais pela manhã, pode constatar como é
cada vez mais padronizada a linguagem empregada na elaboração de seus textos e
manchetes. O jornalista, tolhido pelas regras e preceitos dos manuais de redação;
preso a fórmulas e modismos negativos, tem obstáculos para a elaboração de um
relato mais lastreado e verdadeiramente capaz de informar e contextualizar o leitor
ou ouvinte ou telespectador. Pelo contrário, esse profissional do texto, controlado
pelo efeito arrasador da eterna falta de tempo nas redações dos grandes veículos de
comunicação, cada vez mais preocupados com os patrocinadores e financiadores,
perde a oportunidade de oferecer um serviço de qualidade ao seu cliente, o
consumidor de informação. Isso compromete a qualidade do jornalismo produzido
nessas organizações, provocando um aumento exponencial da oferta de relatos
compostos apenas pelos dados básicos de determinado fato, desvirtuado do
elemento básico do jornalismo, a apuração. Segundo Ricardo Noblat, a “pressa”
enraizada no trabalho de repórteres e pauteiros
15

é a culpada, nas redações, pelo aniquilamento de muitas verdades,


pela quantidade vergonhosa de pequenos e grandes erros que
borram as páginas dos jornais e pela superficialidade de textos que
desestimulam a reflexão. Apurar bem exige tempo. Escrever bem
exige tempo (2007, p.38).

Essa tendência à redução do processo informativo do jornalismo periódico


afasta o leitor/consumidor das possíveis implicações que determinados eventos
podem ter em sua rotina. Ao abandonar a lógica de múltiplas causas, variantes e
consequências presentes na notícia, o repórter retira o relato noticioso de um
contexto mais amplo, criando um organismo informativo isolado, sem relação com
eventos anteriores ao fato em questão, o que reflete de maneira decisiva na
qualidade de seu texto, uma vez que, pela falta de espaço e com prazo curto, o
profissional da notícia se vê obrigado a empregar as regras básicas do lead e da
pirâmide invertida, enquadrado no paradigma da objetividade jornalística, uma
espécie de

camisa-de-força para o desempenho profissional dos jornalistas. Na


medida em que sua feição determinante passa a ser a economia de
palavras, imagens e sons, o trabalho do jornalista burocratiza-se
rapidamente (MELO apud LIMA, 2004, p.100, grifo do autor).

Retornamos, assim, ao ponto de partida para a produção de qualquer material


de cunho informativo, ligado a qualquer tipo de comunicador social, nesse caso, com
maior ênfase ao jornalista, diga-se repórter, que deve agir frente ao fato primeiro
como a porta de entrada para um universo amplo de outros eventos, inseridos em
contextos sociais e culturais amplos, uma vez que

ao lidar com a pauta e construí-la até o ponto de a executar na


reportagem, sua cosmovisão será fundamental. Se agir frente à
pauta com critérios reducionistas (verdade absoluta, causa e efeito,
sujeito e objeto, universo sólido, massa indestrutível, substância e
acidente etc), encaminhará todo o trabalho para provar o que
16

antecipadamente já está provado na sua mente (vale dizer, muitas


vezes, na concepção das chefias hierárquicas ou empresariais). Se
agir de modo complexo, não terá teses (em geral, uma tese)
apriorísticas, mas abrirá a lente de sua cosmovisão para as múltiplas
possibilidades que informa a pauta (MEDINA, 1996, p.220, grifos da
autora).

O texto menos trabalhado não consiste em si um tipo de irregularidade


jornalística, não obstante, o uso de um formato ausente de maior apelo estilístico
não só provoca um desestímulo à leitura, mas compromete o entendimento, e a
ligação do fato narrado ao mundo de outras informações e matizes histórico-sociais
no qual está inserido.

Essa prática informativa ávida de maior rigor textual é o inverso da proposta


de elaboração da grande reportagem, na qual a criação do texto liberta-se dos
limites impostos pelos manuais de estilo, e leva o jornalista a múltiplas
possibilidades. Para Lima, nesse formato é que

o jornalismo lapida o brilho do seu potencial-limite, por vezes


transcendendo-o, antecipando experiências de ponta que avançam
para o território do até então desconhecido, incorporando-o, como
conquista inovadora, ao universo em expansão onde gravita a
elástica transmutação recicladora do jornalismo (2004, p.143).

Ao longo de todo processo de produção de Filhos do Brasil, notamos quão


grande é a variedade e riqueza de informações presentes em eventos corriqueiros.
Das conversas durante a viagem entre Garanhuns e São Paulo, ao caminhar atento
pelas vielas da Vila Carioca, constatou-se a infinidade de possibilidades para o bom
jornalista, aberto a apreender bem mais do que os elementos do lead, de engendrar
um relato de grande rigor informativo, enriquecido por um trato mais artístico do
texto.

Essa liberdade temática e de produção, comprovada pelo trabalho do grupo


ao longo de toda captação de informações e tessitura do material final, faz com que
as grandes reportagens, por meio do livro-reportagem, cheguem, muitas vezes, às
17

raias da boa literatura. Essa opção pelo uso da palavra trabalhada permite ao
jornalista/autor empregar sua marca no texto, revelando as subjetividades presentes
ao longo da apuração, no contato com as fontes e na descrição dos ambientes. A
narração das percepções e dados levantados pelo jornalista por meio do texto,
permeado este por elementos literários, permite maior absorção da mensagem, de
maneira clara e elucidativa do evento exposto, isso porque

reportagem e literatura pertencem ao gênero das narrativas e podem


se imbricar num mesmo texto. Numa reportagem, esse
entrecruzamento pode favorecer a melhor captação dos fatos,
mostrando-os de forma mais integral. Quebra-se nesses momentos o
mito da objetividade que pauta o texto jornalístico tradicional
(ABDALA JUNIOR apud DANTAS, 1998).

Não obstante, a grande diferenciação entre o jornalismo convencional e o


praticado por meio da produção de um livro reportagem não está apenas na
qualidade textual apresentado ao final do trabalho de elaboração. Técnicas mais
elaboradas de apuração e captação de informações são fundamentais, pois
permitem ao jornalista revelar traços imperceptíveis dos fatos e personagens
narrados, suas características psicológicas mais profundas; dados fundamentais
para uma prática mais elaborada do fazer notícia. Algumas delas, discutidas em seu
âmago a seguir, foram constantemente utilizadas por nós ao longo desse trabalho.

1.3 APURAÇÃO APROXIMADA: observação participante, pesquisa jornalística e


técnicas de entrevista

A elaboração do livro-reportagem e a liberdade de atuação e posicionamento


diante de fontes, lugares, eventos e fatos, permitem ao autor/jornalista utilizar
diferentes técnicas de captação de informações. O trabalho de apuração faz uso de
métodos aprofundados e elaborados de investigação, com recursos retirados
inclusive da antropologia, permitindo uma maior inserção no contexto em que estão
localizados fatos e personagens.
18

As Ciências Sociais e seus métodos de pesquisa emprestam importantes


elementos ao fazer jornalístico, sobretudo para a produção do livro-reportagem, tais
como o recurso da observação participante, técnica que

pressupõe a integração do investigador ao grupo investigado, ou


seja, o pesquisador deixa de ser um observador externo dos
acontecimentos e passa a fazer parte ativa deles. Esse tipo de coleta
de dados muitas vezes leva o pesquisador a adotar temporariamente
um estilo de vida que é próprio do grupo que está sendo pesquisado
(BONI; QUARESMA, 2005, p.71).

O método permite uma relação de extrema proximidade entre jornalista e


fonte ou evento a ser apurado, propiciando um “relato minimamente viciado pela
interferência do autor, na medida em que se busca respeitar ao máximo a cultura e a
linguagem dos personagens sobre os quais se quer trabalhar” (LIMA, 1998, p.38).

Esse conceito reforça a necessidade de uma apuração mais acurada, ligada à


ideia de contato direto entre repórter com fato, personagem e todos os sujeitos,
humanos ou não, dessa narrativa. Evidenciado sobremaneira na descrição do
processo de apuração da peça e mediante a leitura atenta do livro, o método ganha
força uma vez que o

alargamento de perspectiva da pauta deve corresponder à


abrangência da observação participante do mediador social (nesse
caso, o jornalista). A observação do repórter não pode ser o
resultado de espontaneísmo, inspiração divina ou ingenuidade
ideológica (MEDINA, 1996, p.220, online, grifo nosso).

Ainda de acordo com Medina,

o que se torna imperativo é deixar abrir os poros e se deixar embeber


de um tônus participativo, ao contrário dos que pregam os arautos da
fria objetividade. Com isso, não quero dizer que um emocional e
desgovernado repórter saia a fazer na reportagem política, ou
pratique a prostituição para desenvolver uma matéria sobre a vida
19

das prostitutas. [...] Observação participante é, pois, uma abertura


para a compreensão destes comportamentos (1996, p.221).

Juntamente à aplicação do conceito de observação participante, essa fuga do


conservadorismo e reducionismo do jornalismo periódico, empregada no processo
de elaboração do livro-reportagem, tal qual visto em Filhos do Brasil, deve se
fundamentar em diversos níveis de trabalho e diferentes técnicas; meios mais
verticais na captação da informação, relacionadas ao fazer jornalístico.

O ponto de partida para a produção dessa grande reportagem, assim como


de qualquer outro processo de interação social com objetivo primeiro de comunicar,
é uma aprofundada pesquisa bibliográfica,

uma vez que a reportagem de profundidade exige um bom trabalho


de documentação, isto é, de estabelecimento de relações entre fatos
isolados e situações globais, de interpretação dos significados da
contemporaneidade para o leitor (LIMA, 2004, p.88).

Não há uma boa reportagem sem fundamentação teórica; desligada de


pesquisa bibliográfica e documental. O acúmulo de conhecimentos e informações,
por meio de cuidadosa e criteriosa pesquisa anterior ao ato de apuração, é
imprescindível para a realização de um trabalho jornalístico realmente eficiente. Por
conseguinte, a atuação bem fundamentada do repórter beira, na busca por um real
sentido da notícia calcado na contemporaneidade, o trabalho do pesquisador, que
não pode desprezar o conhecimento elaborado pela intelectualidade humana
apenas pelo empirismo, característico do bom exercício do jornalismo. Apesar dessa
constatação, Maria Margarida de Andrade aponta para essa defasagem no trabalho
de pesquisa prévia, e expõe a importância dessa etapa na produção jornalística,
uma vez que

apesar de todo o avanço tecnológico, observado na área de


comunicações, principalmente audiovisuais, nos últimos tempos,
20

ainda é, fundamentalmente, através da leitura que se realiza o


processo de transmissão, aquisição da cultura ( 2003. p. 17).

Pesquisa e observação participante são elementos do currículo elementar do


bom repórter, e foram muito utilizados no contexto do new journalism, modelo de
produção noticiosa que teve seu ápice em meados da década de 1960, nos Estados
Unidos, e definido por Gay Talese, um dos maiores expoentes dessa corrente, como
um fazer noticioso

tão verídico como a mais exata das reportagens, buscando, embora,


uma verdade mais ampla que a possível através de meras
compilações de fatos comprováveis, do uso de citações diretas e da
adesão ao estilo rígido mais antigo. O Novo Jornalismo permite, na
verdade, exige, uma abordagem mais imaginativa da reportagem e
consente que o escritor se intrometa na narrativa se o desejar,
conforme acontece com frequência, ou que assuma o papel de
observador imparcial[...] ( 1973 apud DANTAS, 1998, p.157).

Mais conhecido pela nomenclatura em inglês, o new journalism agrega em


seus quadros autores e teóricos como Tom Wolfe, Gay Talese, Truman Capote,
Norman Mailer, John Hersey, Joseph Mitchell, entre outros. Esse tipo mais bem
acabado do que hoje se denomina jornalismo literário, tem entre seus mais
destacados representantes no Brasil as figuras de Joel Silveira, Marcos Faerman,
Ricardo Kotscho, Audálio Dantas, Fernando Morais, personalidades ímpares desse
fazer notícia mais elaborado, que oferece ao caçador de boas histórias e estórias
uma gama de possibilidades de melhoria no trato da informação, por conter noções
que vão além da observação participante, conceito tratado anteriormente, mas
também um tipo de linguagem mais elaborada, permitindo a exposição de fatos de
maneira aproximada ao bom romance de ficção realista.

Em grande monta, mais notadamente nos autores norte-americanos, esse


modelo moderno de jornalismo buscou clara inspiração na literatura desenvolvida no
final do século XIX, e por quase todo século XX, com especial destaque para a obra
de Balzac, representante maior do realismo francês. Essa maneira romanceada e
21

quase ficcional de apresentar a notícia ao público revela-se no grande trunfo de tal


práxis jornalística, raramente encontrada na grande mídia periódica. A guinada
estética promovida por esse novo jeito de informar eleva o jornalismo a outra
categoria, libertando-o das amarras do corolário de técnicas das redações e seus
guias de como escrever. Tal movimento pode ser percebido, e apreciado, no
seguinte excerto da reportagem A milésima segunda noite da Avenida Paulista, de
Joel Silveira:

“A mais bela festa do Brasil” não foi, contudo, apenas espetáculo.


Mais do que isso, foi uma sucessão de espetáculos e
acontecimentos mundanos. Nenhum paulista poderá esquecer
aquela semana, um desfilar ininterrupto de recepções, jantares,
ceias, bailes e festas. O Jequiti e o Roof foram tomados de assalto, o
Esplanada viveu seus dias mais intensos e brilhantes, nunca havia
lugar para nós (falo dos mortais comuns) no Papote ou no Spadoni.
Era, a bem dizer, o congresso da grã-fineza nacional, antes tão
dispersa nos seus movimentos e que, agora, atraída pela força
magnética do conde Matarazzo, se confundia num bloco
interestadual, poderoso e aurifulgente. “Os próprios cronistas sociais
se acharam numa trapalhada louca para identificar os granfas”, me
informou um rapaz paulista, e eu mesmo tive ocasião de ver, numa
das fases preparatórias do casório, o lapsinho nervoso sobre o
caderno de notas, no meio da complicada floresta de elegância
(2003, p.31, grifos do autor).

Para finalizar os elementos básicos da apuração, é imprescindível tratar da


técnica mais conhecida de captação de informações no ato da produção jornalística,
a entrevista. Levando em consideração a definição de entrevista como “um processo
de interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por
objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado” (HAGUETTE
apud BONI; QUARESMA, 2005, p. 72), a discussão que permeou todo esse trabalho
residiu no seguinte ponto: como conseguir extrair informações relevantes ou
histórias interessantes por meio dessas inúmeras entrevistas? Segundo Medina, em
casos como esse, nos quais a reportagem flerta com os aspectos psicológicos dos
personagens a serem narrados, a entrevista jornalística torna-se muito mais um
diálogo, mais precisamente uma conversa aberta, revelando nossa intenção de
trabalhar esse dispositivo jornalístico em prol da comunicação humana, uma vez que
22

a entrevista pode ser apenas uma eficaz técnica para obter


respostas pré-pautadas por um questionário. Mas certamente não
será um braço da comunicação humana, se encarada como simples
técnica. Esta – fria nas relações entrevistado-entrevistador – não
atinge os limites possíveis da inter-relação, ou, em outras palavras,
do diálogo (MEDINA, 2008. p. 5, grifo do autor).

Medina denomina essa técnica jornalística de diálogo possível; a aproximação


com a fonte, esse laço criado pela pessoalidade é importante no processo da busca
pelo aprofundamento da pauta. O sair às ruas, parte fundamental na produção de
Filhos do Brasil, dá importante subsídio ao ideário de Medina. Os contatos entre
repórter e fonte, afastados dos recursos industriais da produção da notícia, atuam
como fator aproximador; uma ferramenta para que a entrevista/conversa/diálogo não
se torne um processo tomado pela tensão, mas uma espécie de relato pessoal
aproximado, possibilitado pelo contato entre repórter e entrevistado/personagem.
Constatação básica,

a entrevista como instrumento de relação pode se esgotar na


objetividade de perguntas feitas e respostas empossadas, ou pode
ingressar na aventura da subjetividade, um processo de interação
social criadora. Este, o horizonte em que venho me exercitando, por
ser um processo cuja riqueza justifica todas as mazelas do cotidiano
profissional. [...] Numa fértil osmose, ambos se modificam, o “eu”
sabe um pouco mais do “outro”, o “eu” se ilumina nas diferentes
faces do “outro” (MEDINA, 1996, p.223, grifos da autora).

Por conseguinte a essa humanização da abordagem, abandonada a


mecanização do processo, e calcados em um espectro horizontal pela busca de
saberes prévios, “povo e personagem certamente se enlaçarão e então, ao
descobrirmos isto nas páginas literárias, nós, jornalistas, ficamos mais preparados
para a viagem.” (MEDINA, 1996, p. 224)

Utilizando recursos das técnicas expostas até aqui, atuamos ao longo de seis
meses de produção direta do livro-reportagem buscando compreender e revelar com
23

maior riqueza de detalhes as histórias, as sensações e sentimentos de nossos


entrevistados; muitos mais amigos e companheiros, pois

[...] não há como retratar a realidade senão com cor, vivacidade,


presença. Isto é, com mergulho e envolvimento total nos próprios
acontecimentos e situações; os jornalistas tentando viver, na pele, as
circunstâncias e o clima inerente ao ambiente de seus personagens
(WOLFE apud LIMA, 2004, p. 122).

O resultado da soma de todos esses elementos pré-textuais às etapas de


seleção do material formam o conteúdo do livro-reportagem Filhos do Brasil, uma
produção de cunho notoriamente autoral; não pense aqui em um relato
simplesmente floreado, mas desvirtuado de sentido para o embelezamento do texto.
Ao final do trabalho, permeado pelas emoções da apuração e dos contatos
humanos, procuramos desvelar quem são, o que sentem e que ocorrências e
matizes da nossa sociedade ganham forma nas experiências das personagens.

1.4 ELDORADO BRASILEIRO: elementos para um roteiro do livro-reportagem

A elaboração de Filhos do Brasil seguiu um roteiro geográfico delimitado,


como explicitado previamente na introdução deste relatório, a partir da história de
vida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde seu nascimento até sua
participação nos movimentos sindicais do ABC paulista, nesse caso, com maior
destaque para a segunda metade dos anos 1970, antes mesmo da fundação do
Partido dos Trabalhadores.

Como mencionado anteriormente, a peça jornalística teve como mote inicial,


espécie de estalo de consciência, o lançamento do filme Lula, o filho do Brasil, no
primeiro dia de 2010, no qual é retratado o percurso de Lula como migrante
nordestino, oriundo do sertão de Pernambuco, entre outras passagens importantes
na vida desse homem. Com o claro objetivo de narrar histórias semelhantes às
vividas pelo protagonista via livro-reportagem; uma tentativa de elaborar um
24

panorama da sociedade brasileira atual a partir dos relatos descobertos ao longo do


ambiente geográfico presente em parte da trajetória do presidente Lula, faz-se
necessário demonstrar alguns elementos de ligação entre os eventos vividos pelo
presidente e seus entremeios, e as rotinas e vivências das pessoas encontradas ao
longo da apuração, uma vez que a história de Lula é semelhante, em muitos
momentos e pontos, à vida de milhões de brasileiros que deixaram seus Estados de
origem rumo ao Sudeste do país, fugindo das adversidades por que passavam em
suas regiões. Antes, porém, carece apresentar uma parte da própria biografia do
presidente do Brasil, disponibilizada pelo Governo Federal, que de forma fria, mostra
como se deu essa etapa da vida do dono do maior cargo político do país.

Luiz Inácio Lula da Silva nasceu em 27 de outubro de 1945,


na cidade de Garanhuns, interior de Pernambuco. Casado com
Marisa Letícia, desde 1974, tem cinco filhos. Lula, por sua vez, é o
sétimo dos oito filhos de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira
de Mello. Em dezembro de 1952, a família de Lula migrou para o
litoral paulista, viajando 13 dias num caminhão "pau de arara". Foi
morar em Vicente de Carvalho, bairro pobre do Guarujá.
Foi alfabetizado no Grupo Escolar Marcílio Dias. Em 1956, a
família mudou-se para São Paulo, passando a morar num único
cômodo, nos fundos de um bar, no bairro de Ipiranga. Aos 12 anos
de idade, Lula conseguiu seu primeiro emprego numa tinturaria.
Também foi engraxate e office-boy.
Com 14 anos, começou a trabalhar nos Armazéns Gerais
Columbia, onde teve a Carteira de Trabalho assinada pela primeira
vez. Lula transferiu-se depois para a Fábrica de Parafusos Marte e
obteve uma vaga no curso de torneiro mecânico do Senai - Serviço
Nacional de Aprendizagem Indústrial. O curso durou 3 anos e Lula
tornou-se metalúrgico.
A crise após o golpe militar de 1964 levou Lula a mudar de
emprego, passando por várias fábricas, até ingressar nas Indústrias
Villares, uma das principais metalúrgicas do país, localizada em São
Bernardo do Campo, no ABC paulista. Trabalhando na Villares, Lula
começou a ter contato com o movimento sindical, por intermédio de
seu irmão José Ferreira da Silva, mais conhecido por Frei Chico.
Em 1969, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do
Campo e Diadema fez eleição para escolher uma nova diretoria e
Lula foi eleito suplente. Na eleição seguinte, em 1972, tornou-se
primeiro-secretário. Em 1975, foi eleito presidente do sindicato com
92 por cento dos votos, passando a representar 100 mil
trabalhadores.
25

Lula deu então uma nova direção ao movimento sindical


brasileiro. Em 78, Lula foi reeleito presidente do sindicato e, após 10
anos sem greves operárias, ocorreram no país as primeiras
paralisações. Em março de 79, 170 mil metalúrgicos pararam o ABC
paulista. A repressão policial ao movimento grevista e a quase
inexistência de políticos que representassem os interesses dos
trabalhadores no Congresso Nacional fez com que Lula pensasse
pela primeira vez em criar um Partido dos [...] (BRASIL, 2006,
online).

No excerto breve e formal, o primeiro grande entrevero ao pequeno Lula foi a


viagem entre Pernambuco e São Paulo; trajetória igual a de milhares de outros
conterrâneos do presidente, que deixaram o Nordeste e seguiram para as regiões
metropolitanas do Sudeste do país, onde formariam e formam contingente
expressivo das sociedades urbanas, mais notadamente na capital paulista e
entornos.
A biografia oficial esquiva-se, porém, de episódios não tão grandiosos para a
história do país, mas que deixaram cicatrizes, muitas delas literais, na vida do
presidente. Exemplos fortes e necessários ao bom entendimento das razões para as
mudanças de rumo decididas ao longo dos anos são a violência e o abandono da
figura paterna durante a infância e adolescência; as dificuldades enfrentadas no
acesso básico ao direito elementar à educação e melhores condições de moradia. A
trajetória do presidente Lula é repleta de fatos dessa natureza, sendo que um deles
pode ser visto e vivenciado, devido à qualidade do texto, nas palavras de Audálio
Dantas, ao descrever uma passagem da convivência do menino Lula com o pai,
Aristides Ferreira da Silva:

Certa vez, além do costumeiro jornal embaixo do braço,


Aristides chegou em casa com um pacote diferente, que foi logo
desembrulhado. Era uma caixa cheia de picolés. Tinha picolé de
todas as cores, a meninada ficou encantada.
Nesse dia, os meio-irmãos mais velhos de Lula, o Beto e o
Rubens, estavam na casa de D.Lindu. Foi para eles que Aristides
primeiro deu sorvete. Um picolé vermelho, outro amarelo.
Lula seguia com os olhos os movimentos do pai. Nunca tinha
visto sorvete na vida, aguardava, ansioso e salivando, que chegasse
a sua hora. Os outros irmãos, um a um, foram recebendo os seus
26

picolés. Até que, finalmente, o pai lhe estendeu um picolé verde. Mas
recuou, recolhendo o sorvete:
- Não vou te dar sorvete, não. Você não sabe chupar.
A mão do menino ficou parada no ar. E o choro, sufocado na
garganta (DANTAS, 2009, p.77).

Esses pequenos recortes de realidade revelam a crueza das relações


familiares e como eventos considerados passageiros são capazes de moldar
personalidades, deixando marcas profundas no imaginário dos que passam por tais
situações. Quando trazidos à tona, esses episódios são capazes de esclarecer as
motivações por trás das grandes aventuras e projetos da vida de cada indivíduo.
Isso posto, o fenômeno da migração nordestina revela a clara busca por uma
solução contra a precariedade das condições de vida em sua região de origem,
marcadas pela ausência do poder público; por formas de controle político arcaicas e
abusivas para com os alijados dos benefícios auferidos pelo dinheiro, escasso para
a maioria; pelas condições precárias de saúde, habitação e educação, responsáveis
pela marginalização e esquecimento de milhões de brasileiros.

Apesar da migração interna de grande vulto ser um marco contemporâneo na


nossa sociedade, a propaganda em torno do eldorado brasileiro é mais antiga. Ao
retornarmos na história do Brasil, deparamos com casos de imigrantes europeus que
vieram ao país com aspirações de encontrar um novo mundo, repleto de
oportunidades e, principalmente, terras fartas. A mesma ideia se aplica ao migrante
nordestino, que aspirava um lugar no qual a fome não era uma constante; na qual as
autoridades trabalham em prol de seus representados, e não de interesse escusos;
na qual o bem-estar não seja apenas uma ideia vaga e sem o menor fundamento em
um futuro próximo.

O boom da migração nordestina no Brasil ocorreu há poucas décadas, como


explica a professora Rosana Baeninger, da UNICAMP, já que,

embora os movimentos migratórios rural-urbano fossem a principal


força redistributiva da população, principalmente nos anos 50 e 60, o
panorama dos movimentos migratórios no Brasil foi se ampliando a
partir de então, [...] com a migração rural urbana em direção às
grandes cidades do Sudeste, particularmente para a Região
Metropolitana de São Paulo (2002, p. 2, online).
27

Hoje, no entanto, a figura do migrante é parte integrante no contexto das


cidades. Apesar disso, houve uma espécie de acomodação quando se aborda a
fragilidade socioeconômica com a qual esse cidadão convive. A situação das
grandes metrópoles, desenvolvidas sob a lupa do crescimento desordenado, muitas
vezes é bastante desanimadora ao migrante. Esses cidadãos encontram obstáculos
para sobreviver às mazelas da sociedade urbana do centro-sul do país, em um
convívio muito próximo com o desemprego, a marginalização urbana e social,
preconceitos internos, relegados à própria sorte, dado que pode ser constatado na
biografia do presidente Lula, assim como nas de milhões de anônimos espalhados
pelas metrópoles; pelos caminhos incompletos entre nordeste e sudeste, quando
não retornaram, marcados pela desesperança.

Ligado à temática da migração, estudo recente do Instituto de Pesquisa


Econômica Aplicada (Ipea) traz um detalhamento aprofundado do movimento
migratório brasileiro. Lastreado nas pesquisas feitas pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), o trabalho do Ipea revela ainda que,

muitos migrantes voltam. Outros mantêm comunicações por palavras com


parentes, amigos e familiares. Há ainda os que estendem essas
comunicações ou as reduzem ao envio de recursos econômicos, silêncio
motivado pelo sofrimento das saudades, pela vergonha, pelo orgulho duro
das atividades e das situações de vida experimentadas, pela expectativa
de reencontro.
Em todo caso, o migrante nem sempre é um sem lugar,
inclassificável. Ele ocupa posições no mundo do trabalho; é objeto de
especulações como “nordestino, nortista, paraíba”, “é feito para trabalhar
na construção civil como pedreiro ou ajudante de pedreiro”; ou
simplesmente suscita, como nos designativos citados, reações de rejeição
e preconceito (IPEA, 2010, p.3, online, grifos dos autores).

O contexto desafiador ao migrante, muitas vezes, transforma seus sonhos de


eldorado em uma realidade de marginalização, mas também enseja um caminho de
vitória e conquista. Na região litorânea do estado de São Paulo, a estrutura social
imposta a essas pessoas não é diferente. Quem conhece as ricas cidades da
baixada santista, cujo melhor exemplo no contexto deste trabalho é o Guarujá, pode
falar com propriedade sobre a clara distinção entre as áreas atulhadas por pessoas
28

de maior poder aquisitivo e aquelas onde vivem os marginalizados das benesses


propiciadas pelos níqueis inesgotáveis. As favelas, localizadas na periferia do
município, e a região portuária são as regiões mais pobres da cidade. O distrito de
Vicente de Carvalho, antigo Itapema, onde Lula viveu quando criança, simboliza
essa distinção.

A elaboração do livro-reportagem remete ainda às cidades de São Paulo e


São Bernardo do Campo, onde o presidente desempenhou papel revolucionário a
frente do movimento sindical. Em São Paulo, vide biografia, Lula morou num
pequeno distrito industrial do Ipiranga e formou-se no curso de torneiro mecânico do
Senai; duas fases e locais absolutamente interessantes para a procura de novas
histórias, conforme descrito a seguir neste relatório. Já o período no qual Luiz Inácio
Lula da Silva integrou o Sindicato é, reconhecidamente, tido como uma reviravolta
no papel do sindicalismo no Brasil e uma afronta aos mandos do regime militar
vigente na época.

Na década de 70, mais precisamente à partir de 1978, a classe


operária e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo
e Diadema deram provas de que um movimento unificado,
consciente e, mais do que isso, com a classe operária realmente
envolvida em todas as etapas de manifestação, poderia ser capaz de
abalar as estruturas da ditadura militar e denunciar seus pilares
constitutivos. (SCOLESO, 2008. p. 2, online)

O vagalhão operário insurgente contra os ditames do regime ditatorial,


principalmente na região do ABC nas décadas de 1970 e 1980, ficou para trás.
Atualmente, as lutas promovidas pelo Sindicato dos Metalúrgicos não mais são
tratadas como caso de polícia. Novas frentes de discussão e de reivindicação
surgem e exigem renovados meios de deliberação, permeados sempre pelo diálogo
aberto e franco entre patrões e empregados. Esse momento de calmaria do
movimento sindical, abordado em Filhos do Brasil, merece estudos sociológicos
aprofundados e de elevado rigor metodológico. Não é função deste trabalho fazê-lo,
mas reascender a discussão sobre o tema e suas implicações nas vidas das
pessoas, direta ou indiretamente envolvidas.
Os locais e processos mencionados compõem os ambientes narrativos da
peça. Cada processo e fundamento descrito estiveram presentes em todas as
29

etapas de produção do livro, tornando-o algo lastreado no que concerne à teoria do


jornalismo e da comunicação; uma obra capaz de informar e emocionar ao mesmo
tempo, além de enriquecer o espectro de conhecimentos do leitor sobre o Brasil,
alguns de seus lugares e personagens. É vital assinalar, por fim, que cada ideia e
análise trazida neste referencial foram comparadas ao processo de apuração,
escrita e edição do livro, a fim de dar uma sólida base empírica aos conceitos aqui
expostos.
30

2. APRESENTAÇÃO DA PEÇA

2.1 CONCEPÇÃO

O ponto de partida para a produção do livro-reportagem Filhos do Brasil foi a


escolha de seu tema, antes mesmo do formato. O atual presidente do Brasil, Luiz
Inácio Lula da Silva, é uma figura fundamental na trajetória do país – de sua infância
humilde e sofrida em Pernambuco ao passado como metalúrgico; da formação de
sua personalidade ao fenômeno de popularidade no exercício do cargo mais alto da
política brasileira. A preferência pela história do presidente, apesar de tentadora por
sua dramaticidade, não nos seduziu a ponto de optarmos pela elaboração de uma
nova biografia. Ficou estabelecido a partir das orientações que os relatos já
existentes sobre a vida e trajetória da figura do presidente Lula serviriam como
motivação inicial e roteiro para buscarmos outras pessoas, em outra época, mas que
vivem onde Lula vivera há algumas décadas. A partir disso, narraríamos as
experiências e contos dessas personagens e os nossos pontos de vista ante tais
histórias e vivências; uma tentativa de traçar um perfil mais aprofundado possível
dos lugares e relatar os cotidianos dessas pessoas, buscando compreender, pelo
menos em parte, como é o Brasil e quem são os brasileiros de hoje.

Um fator determinante e inspirador na definição do tema a ser abordado no


trabalho foi o lançamento da obra cinematográfica, a qual não nos cabe julgar sua
qualidade técnica, de Fábio Barreto, intitulada Lula – O filho do Brasil, baseado no
livro homônimo de Denise Paraná. O título de nosso livro faz clara alusão ao filme e
ao livro, mas com uma abordagem completamente distinta, uma vez que contamos
histórias de outros “filhos do Brasil”, tão filhos dessa terra quanto Lula, no entanto,
que seguiram e seguem caminhos que podem ou não levar à Presidência da
República.

Isto decidido, a dúvida ficou por conta do formato. Em principio, a ideia era
criar, como peça jornalística, um vídeo-documentário. Esse tipo de mídia consegue
mexer com o emocional dos telespectadores, o que nos apontaria para um caminho
de tons dramáticos e forte apelo imagético. Entretanto, um vídeo de 21 minutos
31

apenas não conseguiria abarcar todo o material possível a ser descoberto em


relação ao tema proposto. Não desconsiderando o potencial informativo desse
formato, não obstante ele seria insuficiente para as histórias que pretendíamos
contar, diferente do livro-reportagem, meio definido após as deliberações, no qual
tivemos a oportunidade de expor muitas de nossas impressões e vivências, aliando-
as aos registros fotográficos colhidos durante o processo de apuração, capazes de
explicitar a riqueza cultural e geográfica dos locais visitados.

Para a melhor compreensão dos fundamentos de uma práxis jornalística mais


aprofundada, mote norteador de todo processo de elaboração do livro-reportagem,
buscamos apoio teórico nas pesquisas de Edvaldo Pereira Lima, fonte fundamental
para a análise e produção dessa mídia no escopo dos estudos de comunicação no
país. A linha tênue entre o jornalismo e a literatura era um campo interessante a ser
explorado; não se desconsidera a noção do fato como ponto de partida para a
elaboração do relato noticioso, no entanto, cai por terra a ideia da pirâmide invertida,
do obtuso jornal diário, da notícia como produto de um processo quase industrial.
Em seu lugar, técnicas literárias como a construção cena a cena, o discurso direto e
a acurada descrição dos acontecimentos e personagens dão ao jornalismo um
aspecto mais humano e aproximado ao leitor.

Outra importante contribuição teórica para a concepção da peça e, sobretudo,


do trabalho de apuração e pesquisa, foi a obra de Cremilda Medina, na qual são
apresentados novos caminhos para uma melhoria do comportamento de repórteres,
além de apresentar modos de escrever capazes de aproximar leitor, jornalista e
personagem, conceito esse definido como narrativa da contemporaneidade. Em sua
obra, Medina faz uso desses mecanismos humanizados de apuração, alcançando
um bem acabado relato, carregado de sentido e emoção; uma nova maneira de se
fazer notícia, descolada da práxis jornalística habitual, tolhida pelos fatores
limitadores da imprensa periódica.

As chamadas narrativas da contemporaneidade foram descritas pela autora


como relatos impregnados de polissemia e polifonia; personagens capazes de
revelar múltiplos sentidos da realidade por meio das minúcias presentes em suas
vidas e no âmago de seu universo psicológico. Tal técnica foi aplicada, segundo o
planejamento prévio da apuração, na busca de informações sobre os assuntos mais
32

importantes abordados durante a fase de captação de dados e realização das


entrevistas.

Estabelecidos o tema e as maneiras de abordagem dos futuros personagens


e fontes, definimos os lugares a serem percorridos e sentidos. Levando-se em conta
os critérios ligados ao conceito de observação participante expostos no referencial
teórico, seria impossível realizar uma reportagem de tamanho fôlego apenas com o
uso do telefone e e-mails, itens comuns aos diários e às grandes redações, mas
inviabilizadores de uma apreensão e compreensão aprofundadas das pautas
estabelecidas. Imperava a necessidade de ir até os lugares mais destacados e
marcantes na história do presidente Lula.

A constatação básica provocou uma mudança de rumo na escolha do material


que compõe o escopo informativo do trabalho. Com a profusão de localidades
existentes em todos os relatos referentes à trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva,
sobretudo após o processo de redemocratização do país, era impossível, em
decorrência do tempo exíguo, percorrer todos. Dessa forma, delimitamos o espaço
de abordagem às cidades e instituições presentes na vida de Lula até o final da
década de 1970, antes inclusive da fundação do Partido dos Trabalhadores. São
eles Garanhuns e Caetés, em Pernambuco, onde Lula nasceu; Vicente de Carvalho,
distrito do município paulista do Guarujá, local onde o presidente viveu quando
criança; a unidade Roberto Simonsen do Senai (Sistema Nacional de Aprendizagem
Industrial), no qual concluiu o curso de torneiro mecânico, e o bairro da Vila Carioca,
em que vivia com a mãe e os irmãos, ambos em São Paulo; e o Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, onde deu início à vida pública.
Somaram-se a essas etapas os relatos colhidos ao longo da viagem entre o agreste
pernambucano, onde está localizada Garanhuns, e São Paulo, realizada de ônibus,
meio mais adequado para simularmos a viagem realizada por Lula, ainda menino,
em 1952.

O ambiente da reportagem foi ser percorrido, na medida do possível, em


consonância com a cronologia dos acontecimentos presente na biografia de Luiz
Inácio Lula da Silva, formando assim três macro ambientes ou fases: Nordeste,
viagem, São Paulo. Nesses espaços físicos foram encontradas as personagens que
dão forma e vida a Filhos do Brasil. No entanto, excetuando os contatos prévios com
33

o pessoal da administração pública de Garanhuns; uma primeira sondagem sobre a


possibilidade de entrevistarmos os principais secretários, realizada ainda em São
Paulo, todas as outras fontes foram descobertas ao longo das estadas nos referidos
locais.

Essa declarada necessidade da nossa presença física nos lugares


estabelecidos pode ser explicada, como visto anteriormente no referencial teórico,
como uma busca, nas mais variadas frentes, pelo modus operandi do Novo
Jornalismo, tipo mais bem acabado de reportar surgido na década de 1960 nos
Estados Unidos. Tom Wolfe, ao analisar a conduta dos homens do texto que se
embrenhavam nessa maneira aprofundada de fazer notícia, traz um fundamental
subsídio ao pretendido por nós na elaboração desse trabalho. Segundo Wolfe,

parecia absolutamente importante estar ali quando ocorressem cenas


dramáticas, para captar o diálogo, os gestos, as expressões faciais, os
detalhes do ambiente. A ideia era dar a descrição objetiva completa, mais
alguma coisa que os leitores sempre tiveram de procurar em romances e
contos: especificamente, a vida objetiva ou emocional dos personagens
(WOLFE, 2005, p.37, grifo do autor).

2.2 EXECUÇÃO

A fase de apuração propriamente dita teve início na segunda semana de


junho de 2010, com a ida da dupla para Garanhuns, cidade no agreste meridional de
Pernambuco. Nossa estada na região durou quase cinco dias, tempo considerado
razoável para um significativo processo de apreensão das informações relacionadas
ao cotidiano dos moradores do lugar no período. Isso posto, já desde a chegada ao
aeroporto de Maceió, em Alagoas, terminal mais próximo ao destino final da primeira
etapa de captação, foi entronizado em nosso modo de atuação o que definimos
como elemento mais importante a ser seguido durante todo o tempo de realização
das entrevistas e das idas aos lugares pré-estabelecidos no projeto inicial do livro: a
observação participante.
34

Segundo Boni e Quaresma, a técnica citada anteriormente exige dos


repórteres uma espécie de entrega, de adoção dos costumes das populações e
sociedades locais (2005, online); uma tentativa de absorver o máximo de informação
possível sobre personagens e locais percorridos para se transmitir ao leitor um relato
minimamente viciado pela interferência dos autores (LIMA, 1998). Como bem traduz
Medina, “o que se torna imperativo é deixar abrir os poros e se deixar embeber de
um tônus participativo, ao contrário dos que pregam os arautos da fria objetividade”
(1996, p.221).

Sabedores de como se posicionar diante do que viria pela frente, cada


evento, por mais desinteressante que pudesse parecer, foi abordado como algo
capaz de revelar um aspecto fundamental das pessoas, grupos e entidades
existentes nos locais visitados. Para isso, as anotações descritivas de lugares,
ações, visões, conversas e sensações tornaram-se ferramenta básica, assim como o
incessante trabalho de captação de imagens, não apenas para ilustração da futura
obra, mas também como um registro fundamental para a redação da peça.

Tomados por esse espírito de imersão na cultura local, cada interlocutor


tornava-se imediatamente uma fonte, vide o capítulo inicial de Filhos do Brasil,
Primeira jornada, quando narramos a passagem referente ao taxista que nos levou
do aeroporto da capital alagoana até a rodoviária local. O homem traça um breve
perfil da cidade, revelando aspectos importantes do dia-a-dia de seu ofício e como o
problema do aumento do consumo do crack pelos jovens maceioenses o afligia em
sua jornada nas ruas e avenidas. A mesma conversa serviu para que o sujeito nos
contasse sua versão para a ocorrência das enchentes em Alagoas e Pernambuco
semanas antes, quando dezenas de pessoas morreram e cidades inteiras foram
arrasadas pela força das águas.

Os dias que antecederam nossa chegada ao Nordeste foram marcados por


uma grande cobertura da mídia nacional da catástrofe das cheias nos dois Estados
vizinhos. Algumas das cidades mais afetadas, como União dos Palmares e
Branquinha, em Alagoas, ficavam na rota até Garanhuns, cujo percurso foi feito de
ônibus. As impressões dessa segunda viagem (a primeira ocorreu entre Campinas
(SP) e Maceió) resultaram no escopo informativo do primeiro capítulo, abarcando
histórias e estórias de alguns passageiros; dados referentes às cidades nas quais
35

ocorreram paradas, tais como o Produto Interno Bruto (PIB); número de escolas e
unidades de saúde; frota e população; e relatos acerca do próprio deslocamento,
realizado num precário veículo da Autoviação Progresso.

Tônica iniciada logo no começo do trabalho de redação do texto final de


Filhos do Brasil, o enriquecimento da narrativa com números oficiais relacionados a
questões econômicas e sociais do país mostrou-se importante via de complemento
das informações obtidas durante as entrevistas e na própria interação com as
cidades e seus moradores. Isso porque os relatos humanizados e fortemente ligados
aos sentimentos dos autores precisavam ser calcados em levantamentos capazes
de dar credibilidade às informações e, sobretudo, revelar como as histórias contadas
significavam os números oficiais, tendo em vista que o objetivo primeiro do trabalho
era compreender o Brasil a partir das experiências dos personagens encontrados
em alguns dos locais em que viveu o presidente Lula até o final da década de 1970.
Sendo assim, os subsídios ao todo informativo foram retirados de pesquisas e
estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); Confederação Nacional do Transporte (CNT);
secretarias de governo dos Estados e do governo federal; Ministério Público Federal;
e entidades da sociedade civil, de ilibada reputação.

A sequência da produção da reportagem representou a principal etapa da


fase de apuração; a bem da verdade, uma real descoberta e ampliação dos
horizontes dos integrantes da dupla. Passamos quatro dias e meio em Garanhuns,
uma vez que no último dia se iniciou a viagem de volta a São Paulo. Com a
declarada pretensão de percorrer todos os cantos possíveis e apreender o máximo
dos costumes e raízes locais, praticamente cada pessoa com quem mantínhamos
um contato mais perene convertia-se quase que imediatamente em fonte de
informação e bons “causos”. Em decorrência dos limites impostos pelo tempo,
obstáculo comum à imprensa periódica, e pelas intercorrências normais da produção
da reportagem, alguns lugares e instituições não puderam ser visitados, assim como
muitas das pessoas com quem conversamos não se tornaram, efetivamente,
personagens ao final da elaboração dos textos.

Não desconsiderando que nosso foco estava “na rua”, era preciso
compreender como pensavam e agiam alguns dos representantes do poder público
36

garanhuense. Apesar dos contatos mantidos ainda em São Paulo indicarem que não
seria tarefa das mais difíceis entrar nos gabinetes, não nos foi autorizada uma
entrevista com o prefeito da cidade, Luiz Carlos de Oliveira. Pretendíamos tratar de
temas ligados à economia e política com o chefe do executivo municipal.

No entanto, ainda imbuídos na busca de um panorama mais completo de


áreas vitais no cotidiano local, conseguimos, por intermédio da Secretaria de
Comunicação da prefeitura de Garanhuns, com relativa facilidade, entrevistas com
os secretários de Direitos Humanos, Alfredo de Gois Neto; Educação, Maria Edilene
Vilaça; e, sobretudo, com os representantes das pastas do Turismo, Milena Notaro
de Albuquerque, e Desenvolvimento Econômico, Ornilo Lundgren. Os dois últimos
se mostrariam personagens fundamentais na composição do segundo capítulo do
livro, Garanhuns, no qual tratamos de vários aspectos da cidade, suas
características, problemas, virtudes, desafios e projetos, além de relatarmos nossas
vivências e percepções conforme interagíamos com os moradores.

Em muitos momentos, como nas andanças nos moto-táxis, um dos principais


meios de transporte do lugar, agíamos como qualquer outro pernambucano ali,
voltando do trabalho ou seguindo para algum compromisso. Ou quando
percorríamos as inúmeras lojas da região central da cidade, apesar de atentarmos
para as situações que mais chamassem a atenção aos olhos “de fora”,
procurávamos não parecer turistas. Era preciso, de acordo com a proposta
elaborada, penetrar até o limite permitido nas vidas daquelas pessoas, embora isso
nem sempre fosse plausível devido ao receio de alguns em se abrir a dois
estranhos, ou até mesmo diante do olho da câmera.

Na entrevista; muito mais uma conversa franca com o secretário Ornilo


Lundgren, abordamos temas como desemprego, geração de renda, peculiaridades
da economia local, além de percepções para o futuro da cidade de mais de 130 mil
habitantes. Responsável por um programa de apoio ao empreendedorismo, Ornilo
promoveu uma ida nossa às comunidades mais pobres de Garanhuns, locais tidos
como perigosos aos “estrangeiros” de ocasião, onde tivemos a oportunidade de
conhecer personalidades fantásticas e intrigantes, como José Monteiro, ou
simplesmente seu Monteiro, homem famoso pelo gênio forte e pelas histórias de
violência com os moradores do bairro aonde vivia, como nos relatou um amigo de
37

Ornilo, Roberval Nunes, funcionário da secretaria de Desenvolvimento Econômico e


líder comunitário, cujas histórias auxiliaram na tessitura do livro.

Pudemos vivenciar ainda a rotina de mulheres como Dona Marlene e Dona


Socorro, responsáveis por pequenas fabriquetas, que nos revelaram a dureza da
rotina nas comunidades mais carentes, mas enfrentadas com extrema alegria e vigor
ante a possibilidade da fuga dos preconceitos e barreiras invisíveis impostas pelo
machismo. O resultado dessas interações e contatos próximos pode ser visto em O
dono da Várzea, terceiro capítulo do livro-reportagem, cujo título faz clara alusão à
figura de José Monteiro. No mesmo capítulo trazemos as análises realizadas por
Maria Edilene Vilaça e Alfredo de Gois Neto, respectivamente os responsáveis pelas
pastas da Educação e Direitos Humanos, com relação à situação das duas áreas na
cidade. Nossa principal abordagem junto aos dois secretários tratava da situação de
um grupo de crianças em clara situação de vulnerabilidade a fatores como uso de
drogas e trabalho infantil, encontradas num dos principais pontos turísticos da
cidade, o Cristo do Magano.

O turismo é uma das atividades econômicas mais importantes de Garanhuns.


A cidade exibe alcunhas como “Suíça pernambucana” ou “Cidade das Flores”,
motivadas pelo clima surpreendentemente frio durante boa parte do ano e pela
paisagem sempre verde e colorida. Os dias de nossa estada no município
antecediam o mais importante evento cultural da região, o Festival de Inverno, um
dos mais prestigiados acontecimentos de Pernambuco. Esses e outros aspectos
foram tratados na entrevista com Milena Notaro, chefe de Divisão, Fomento e Lazer
da Secretaria de Turismo. A servidora apresentou números referentes à atividade,
além de expor o porquê da arraigada fama europeia aos costumes locais.

Durante sua fala, Milena revelou também a existência de dois personagens


típicos: Bacalhau, torcedor símbolo do Santa Cruz, importante clube de futebol do
Recife, e João Capão, pedreiro pobre que construiu um castelo fruto de um sonho
de criança. Os dois homens e suas respectivas “casas” eram representações
ímpares na sociedade garanhuense. As conversas que tivemos com eles, talvez as
mais animadas e enriquecedoras na busca pela compreensão do país em que
vivemos, mote inicial de Filhos do Brasil, resultaram no quinto capítulo da obra, cujo
título remete diretamente a um deles, Bacalhau, e no epílogo do livro, Sua
38

Majestade, o pedreiro, no qual a narrativa é permeada por estrofes de um cordel em


homenagem ao protagonista, João Capão, de autoria de um artista local, Gonzaga
de Garanhuns.

Sua majestade, o pedreiro é a melhor exemplificação da aplicação de alguns


conceitos do new journalism na produção de Filhos do Brasil. Os excertos do poema
entremeados ao texto remetem aos artifícios visuais aplicados pelo americano Tom
Wolfe em suas reportagens. Ao analisar as técnicas de um dos nomes mais
destacados dessa maneira estilizada do fazer notícia, Santos define o uso de
pontuação variada como a tentativa de passar a ideia de “alguém não só falando,
mas também pensando. Graficamente é também uma maneira de incorporar um
ruído visual e mexer com a mente do leitor” (apud WOLFE, 2005, p.241).

Em todo texto, elementos típicos do new journalism, ou novo jornalismo, na


nomenclatura em português, são aplicadas na construção da narrativa, tais como o
uso de diálogos e descrições completas de cenas, permitindo ao leitor uma
visualização total da situação narrada, “e mais alguma coisa que os leitores tiveram
de procurar em romances e contos, como a vida subjetiva ou emocional dos
personagens” (SANTOS apud WOLFE, 2005, p.241). Como já evidenciado no
referencial teórico, a guinada estética permitida pelo novo jornalismo, no Brasil
conhecido ainda como jornalismo literário, liberta o profissional da informação dos
ferrolhos impostos pelos manuais de redação, itens cerceadores da criatividade de
repórteres na rotina da imprensa periódica.

A existência do Cine Eldorado, único cinema da cidade e um dos poucos em


todo interior do Estado, mereceu especial atenção durante a apuração e redação da
peça. A audiência do lugar, formada por pessoas elegantes, destoava por completo
do que se vê nas grandes metrópoles, onde o ir ao cinema tornara-se algo
corriqueiro e voltado quase que exclusivamente para os frequentadores de grandes
centros comerciais. A conversa com os funcionários e o olhar atento às falas e
gestos dos clientes comporiam O cinema, quarto capítulo de Filhos do Brasil.

Segundo a biografia do presidente da República, transcrita em parte no


referencial teórico deste relatório, Lula nasceu no território do município
pernambucano de Caetés, em outubro de 1945. À época, o lugar era um distrito de
Garanhuns, o que explica nossa escolha formal pelo município do agreste como
39

ponto de partida na produção do trabalho. No entanto, mostrava-se imprescindível,


mesmo que brevemente, conhecer Caetés, município a 20 quilômetros de
Garanhuns. Além de belíssimos registros fotográficos captados nessa pequena
viagem, conhecemos pessoas muito representativas das gritantes diferenças entre
as regiões do país, como Dona Maria Ferreira, prima distante do conterrâneo mais
ilustre, e que revelaria detalhes da vida no sertão e as barreiras impostas pelo
analfabetismo.

Além dela, três outros caeteenses ilustrariam com surpreendente realismo os


contrastes entre sul e norte. Os relatos carregados de emoção de Maria Cícera,
Pedro José da Silva e Fernando José dos Santos davam mostras claras do lento
passar do tempo por aquelas terras, além de indicarem quão duros eram os
cotidianos de boa parte dos moradores da região. Nossas impressões sobre Caetés
e as histórias citadas integram o sexto capítulo, Filhos do sertão.

Encerraria a fase de apuração direta em Pernambuco o acompanhamento da


noite de estreia do 20º Festival de Inverno de Garanhuns, principal festa da cidade.
O evento permeava absolutamente todas as conversas e tomava as atenções dos
moradores durante os quatro dias e meio que estivemos no lugar. Tal fato pode ser
facilmente comprovado com a leitura dos primeiros capítulos do livro-reportagem,
em que referências à celebração estão em quase todas as passagens narrativas e
diálogos. Em Festival de cores, sétimo capítulo da obra, traçamos um perfil do início
dos festejos sob a ótica dos principais personagens apresentados até então.
Complementa o texto nossas sensações ante os movimentos e visões da festa. Era
preciso, como nunca antes, elevar ao máximo o ideário da observação participante e
deixar-se tomar pelo espírito das milhares de pessoas ali presentes, horas antes de
iniciar a segunda fase da apuração: a viagem de ônibus entre o agreste e São
Paulo.

No dia 11 de julho de 2010, demos início à segunda etapa da apuração para a


produção de Filhos do Brasil. O deslocamento de ônibus entre Garanhuns (PE) e
São Paulo (SP) legitima-se como etapa fundamental da fase de captação de
informações ao tentar recriar, não desconsiderando as profundas diferenças de
época, as condições da viagem realizada pelo presidente Lula quando menino, junto
da mãe, em 1952, vide biografia no referencial teórico. Nosso intento ao percorrer
40

esse trajeto foi descobrir que razões levavam os passageiros; nossos companheiros
por mais de 45 horas, a cortar o país dormindo em condições desconfortáveis, em
turnos longuíssimos nas sinuosas e, algumas vezes, esburacadas rodovias do país.

Das centenas de conversas, dores nas pernas e milhares quilômetros de


estrada, cruzando sete Estados, surgiu Fabiana, capítulo único que representa essa
etapa de transição da reportagem de seu primeiro macroambiente, o Nordeste, para
o período de investigação e ida às ruas em alguns locais e entidades paulistas. O
título remete à personagem principal, Fabiana, que voltava para casa após uma
temporada no sítio dos pais, no município de Capoeiras, próximo a Garanhuns. Mãe
de duas meninas, Isabela e Sofia, a mulher estava acompanhada da irmã e do
sobrinho. Permeado aos relatos sobre a viagem em si, um perfil, estilo jornalístico
explorado muitas vezes ao longo da peça, descreve a vida de andanças daquela
pernambucana, que fora obrigada a trabalhar ainda menina para ajudar os pais, e
que conseguira ir ao México em decorrência do ofício de babá.

Essa radical mudança de plano de atuação, vivenciada ao máximo pela dupla


por conta da viagem, está intrinsecamente relacionada aos relatos e informações
referentes ao processo migratório do país. Os dados alusivos a esse importante
fenômeno social brasileiro, simbolizado em Filhos do Brasil pela jornada entre norte
e sul, ilustram e dão força ao relato sobre José Alaílton, alagoano de 17 anos, que
seguia pela primeira vez para São Paulo no mesmo veículo da viação São Geraldo
que nos trouxe de volta à metrópole. Nota-se ainda, mediante leitura da peça, que o
uso do ponto de vista exterior ao do repórter, típico artifício do jornalismo literário,
torna mais interessante e elucidativa a explanação dos sentimentos que moviam o
adolescente Alaílton para um lugar tão longe da alagoana São Miguel dos Campos.

As exposições das condições das estradas percorridas durante o trajeto foram


objetivamente atreladas às descrições dos estados físico e emocional dos ocupantes
do veículo, uma vez que as intercorrências do terreno ocasionavam mudanças de
humor nos mesmos. A escolha pela viagem por via terrestre nos deu a oportunidade
ainda de atestar a qualidade de uma importante parcela do sistema viário do país,
precário em algumas partes, mas de excepcional qualidade em muitos pontos.
Sustentando e trazendo cor a todos esses elementos mencionados anteriormente,
em Fabiana apresentamos deliciosos diálogos e situações cômicas vivenciadas por
41

todos os amigos de ocasião; suas estórias são recontadas por meio de uma
linguagem mais fluída, às vezes lenta, outras vezes rápida, permitindo ao leitor
experimentar o mesmo ritmo das rodas e o soar constante do barulho do motor do
ônibus, além de induzirem os cheiros e visões de quem está preso em seu interior.

Encerra a fase de apuração, vale ressaltar, sempre calcada na ideia da


presença dos repórteres nos locais estipulados pelo planejamento da peça como
meio mais adequado para uma profunda compreensão dos mesmos e de seus
viventes, as buscas por bons contos impregnados de emoção em quatro locais no
Estado de São Paulo. São eles o distrito de Vicente de Carvalho, no município
litorâneo do Guarujá; a escola Roberto Simonsen do Senai – Sistema Nacional de
Aprendizagem Industrial; o bairro Vila Carioca, na zona sul da capital paulista; e o
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, sediado em São Bernardo do Campo. Os
pontos enumerados integram o macroambiente São Paulo, última parte de nossa
fase de apuração.

Estivemos duas vezes em Vicente de Carvalho, distrito de cerca de 130 mil


habitantes no Guarujá, litoral sul de São Paulo. Dentre as principais paragens e
personagens destacados na exposição do lugar, primeiro é preciso discorrer sobre
as inúmeras referências físicas mencionadas no texto que forma o capítulo,
intitulado Rede de pescadores, necessárias para situar o leitor que tipo de ambiente
ele vai encontrar pela frente na narrativa. Sendo assim, as menções à
movimentação no sistema de barcas entre a localidade e o porto de Santos, do outro
lado do canal que separa os dois mundos ali; ao frenesi de compras na principal
avenida do distrito; ao centro de diversões para aposentados fincado na região
central inserem o leitor de Filhos do Brasil no âmago de impressões e experiências
dos moradores, sob o ponto de vista dos repórteres e das próprias pessoas
narradas.

O título do capítulo remete diretamente a dois personagens fundamentais: os


pescadores Rogério Vilas Nunes, de 41 anos, e Edmundo Ramos, 62. Ao
conversarmos com eles, transpareceu como as diferenças socioeconômicas
coexistem lado a lado na sociedade brasileira. Os dois vivem e guardam os
apetrechos para o ofício no mar na mesma vila, no bairro pobre do Jardim Santense.
Das palafitas onde habitavam era possível visualizar os enormes navios de carga no
42

porto de Santos, encarregados de transportar parte das riquezas do país. No


entanto, o resultado daquilo mal influenciava suas vidas, que seguiam ao sabor das
águas e dos ventos. Procuramos destacar as vozes e, sobretudo, os sentimentos
desses dois homens, que mal viam o resultado daquelas operações vultosas ao
longe surtir efeito prático em seu cotidiano. Esse contraste evidencia, de maneira
indireta, a quase separação entre Vicente de Carvalho e a região central do Guarujá,
muito mais rica e desenvolvida que o distrito, percorrido em grande parte durante
quase três dias inteiros; seriam mais não fossem as obrigações do trabalho.

Na capital paulista, destacamos dois lugares de fundamental importância na


história do presidente Lula. O primeiro a integrar o processo de apuração na maior
cidade do país foi a escola Roberto Simonsen do Senai, no bairro do Brás. Com
apoio da assessoria de imprensa da instituição, conseguimos entrar em contato com
a direção da unidade, possibilitando nosso acesso à Tamires Barreto da Silva, de 16
anos, aluna do curso de marcenaria; em alguns casos, por lidarmos com crianças e
jovens, foi preciso seguir alguns ditames e regras para não ultrapassar limites
aceitáveis ou sobrepor preceitos éticos do ofício de bem informar.

Em longa entrevista, Tamires mostrou como é a rotina de uma jovem às


vésperas do primeiro vestibular, seus medos, a convivência com a mãe e a
aceitação da morte precoce do pai. Em Tempos de escola, trazemos o relato de uma
pessoa cheia de afazeres antes da maioridade legal, mas ainda repleta de dúvidas
quanto ao próprio futuro. Sob o olhar de Tamires, discorremos sobre o trato entre
alunos e professores dentro da escola. Para isso, buscamos ainda a palavra do
diretor da unidade Roberto Simonsen, professor João Roberto Campaner, que
detalhou quem são e o que pensam e média dos alunos na mesma faixa etária de
Tamires, além de fazer uma análise das motivações dos estudantes na busca pelo
ensino técnico não só em São Paulo, como em todo país.

O capítulo que trata do Senai e suas peculiaridades traz também um breve


apanhado histórico sobre a entidade no Brasil, e como ela se mantém
financeiramente, detalhando as origens dos recursos, os cursos oferecidos e o
número de escolas e alunos; dados obtidos por meio das entrevistas com Tamires e
Campaner, além do próprio portal da instituição na internet, ferramenta
indispensável para consultas e complementações ao longo da redação do livro.
43

Importante ressaltar que o texto segue a mesma linha de todo volume, com o
proveito qualitativo de descrições e de uma linguagem leve; uma tentativa de
prender a atenção do leitor.

Esse texto diferenciado; uma fuga incessante dos manuais e amarras das
redações dos jornais diários, foi alcançado também após as andanças e
experiências na Vila Carioca, pequeno bairro bem no meio do Ipiranga, na zona sul
da capital paulista. Antes mesmo de sairmos à procura de pessoas capazes de
elucidar como era a vida no local mais de 50 anos após a chegada por ali do menino
Lula, levado pela mãe, era preciso percorrer as ruas de pedra, sentir o clima da
região, aspirar o cheiro de ferro fundido das pequenas metalúrgicas. Tomados pelo
espírito pacato e quase acolhedor do lugar, conseguimos adentrar uma das casas e
conhecer a mulher que dá nome ao capítulo. Dona Zaíra trata não só das grandes
mudanças na rotina das famílias, como a inauguração de uma moderna estação do
Metro; um impressionante recorte de cimento e aço em meio aos galpões e moradas
nos entornos da Avenida Presidente Wilson.

Zaíra Carleti vive no bairro há mais de cinco décadas. Ao abrir as portas de


sua casa a dois “estranhos”, foi como se um vagalhão de emoções penetrasse pelas
almas dos repórteres. Em algumas horas de conversa consentida após inúmeras
ligações ao longo de uma semana, já em outubro de 2010, indagamos sobre tudo:
família, segurança, problemas, medos. Mas ao tratar de seu marido falecido, a
senhora foi às lágrimas, demonstrando com arrasadora força como o coração pode
muito melhor informar e deixar ver o que realmente se passa na mente das pessoas,
seus sentimentos, suas dores.

Por fim, o trabalho direto de captação de informações e relatos para a


elaboração de Filhos do Brasil volta-se finalmente para o Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC, órgão que representa mais de 100 mil trabalhadores da região, distribuídos
em grandes montadoras nas cidades próximas. Para este capítulo, especificamente,
decidimos dar voz à entidade, tão representativa nos tempos de luta contra os
desmandos dos patrões e no processo de redemocratização do país. Para isso,
fizemos uma longa entrevista com o secretário-geral da instituição, Wagner Santana,
de 48 anos; no atual cargo desde 2008, o homem iniciou a militância em 1987.
44

Peões, título do capítulo, é uma alusão ao termo utilizado pelo próprio


sindicalista para se referir aos companheiros de chão de fábrica. Após um breve
excerto composto por um histórico de atos e realizações, recentes ou do período do
próprio Lula na presidência do Sindicato, uma longa entrevista, realizada na sede do
Sindicato, e sem cortes, traz uma análise da atuação do movimento hoje, suas
mudanças em relação ao período das grandes mobilizações dos tempos da ditadura
militar, as críticas ao modo de atuação do organismo, entre outros assuntos. Não
tomamos partido de nenhuma causa na elaboração de Peões. Apenas procuramos
trazer à tona a palavra da entidade que projetou o presidente Lula para a vida
política, na tentativa de compreender o que é esse movimento atualmente,
sinalizando as perspectivas para os próximos anos.

É importante assinalar ao final da descrição do processo de apuração e


captação de registros fotográficos para a composição de Filhos do Brasil, bem como
do detalhamento dos preceitos seguidos durante a redação do texto final, que as
deliberações junto ao nosso orientador, professor Carlos Eduardo Sandano Santos,
foram fundamentais para a escolha do tema e das abordagens a serem realizadas
na produção da peça. Sandano alertou, sobretudo, para um melhor proveito de
referências ao presidente Lula ao longo do texto, visto que a história do presidente
foi a base para a composição da peça. Dessa forma, os apontamentos da figura de
Lula podem ser encontrados, mediante leitura rápida, em todos capítulos do livro.

Faz-se necessário ainda ressaltar que nem tudo que se passou com a dupla
foi descrito neste relatório, uma vez que foi preciso priorizar as partes mais
relevantes, nas quais notam-se a presença marcante do embasamento teórico
compilado ao longo de todo ano para a devida produção da reportagem. Não há
nisso uma tentativa de desqualificar o que ocorreu além do relatado até aqui; as
outras partes formam, juntamente com as mais simbólicas da reportagem, um
organismo cerrado, enriquecido pelas experiências dos alunos, das personagens e
por tudo que envolveu a feitura da peça.

Ao final do processo de redação, viu-se que a parte referente aos


acontecimentos e passagens ligados ao Nordeste tinham um maior número de
capítulos e histórias ante os outros dois macroambientes de ação. Essa
característica deve-se, em muito, pelo fato de termos passado mais tempo
45

embrenhados naquela região, se comparado ao período dedicado a São Paulo e à


viagem. Outro fator capaz de explicitar as causas dessa diferença estão no, que
para nós, efetivou-se como um verdadeiro processo de descoberta, não só do país,
mas de pessoas absolutamente interessantes; figuras humanas com potencial para
fazer brilhar o trabalho do jornalista, elevando o texto às raias da boa literatura,
como nas obras de nomes como Fernando Morais, Audálio Dantas e Caco
Barcellos, representantes tupiniquins do new journalism, conjunto de trejeitos do
fazer notícia que a todo o momento buscamos entronizar em nosso modus operandi,
a fim de elaborar uma obra de qualidade. O resultado de todas as etapas
enumeradas é o texto bruto de Filhos do Brasil.

2.3 FINALIZAÇÃO

Após o processo de redação, o texto passou por uma minuciosa revisão. As


preocupações com as novas normas do Português, muitas ainda desconhecidas ou
confusas para nós, fez com que requisitássemos a avaliação e correção de um
profissional especializado, já que a matéria-prima básica do jornalismo impresso é o
vernáculo, exigindo dos seus arautos, os repórteres, todo o rigor possível em seu
tratamento. Verificada a existência de pequenos erros, logo os mesmos foram
corrigidos, sem prejuízos ao estilo e à coesão do texto.

O fim da apuração deixou ainda algumas dúvidas, posteriormente sanadas


por contato telefônico, e-mail ou nova visita a alguns dos locais. Contatamos a
Secretaria de Turismo de Garanhuns para confirmar determinadas informações e
solicitar a cessão de uma foto do Relógio das Flores, conhecido ponto turístico da
cidade. O mesmo expediente foi aplicado na obtenção de uma foto do secretário-
geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, impasse solucionado
pela assessoria de imprensa da instituição. Por último, voltamos até a Vila Carioca
para nova conversa com moradores, e também para a obtenção de imagens da
personagem principal, Dona Zaíra.

A diagramação da peça ficou a cargo de um profissional da área, que


desenvolveu todo projeto gráfico da obra, mediante nossas indicações e
46

preferências. Era consenso entre a dupla o envio de textos e imagens para um


especialista, tão grande revelava-se o temor de que o tempo escasso e a pouca
prática em planejar tecnicamente uma peça no formato livro-reportagem
prejudicasse o produto final e inviabilizasse os prazos estipulados junto à gráfica.
Portanto, acreditamos que terceirizar o projeto gráfico a um terceiro não reduziu a
qualidade do trabalho jornalístico para concepção da obra. Ao final, a atuação do
diagramador deixou o livro limpo, de leitura fácil em decorrência do bom uso de
espaço em branco e melhor proveito das imagens.

O produto final, o livro-reportagem Filhos do Brasil, possui 14 capítulos


(contabilizando prelúdio e epílogo) distribuídos em 196 páginas, divididos em três
grandes partes: O começo – Impressões acerca do agreste meridional; O meio –
Sobre a longa viagem de volta; O fim – Fragmentos de São Paulo. O papel utilizado
na produção é o sulfite 90g para o miolo e couché para a capa laminada com brilho.
A gráfica Imagem Digital, com sede na Rua da Consolação, 1689, São Paulo, foi
contratada para impressão das cópias exigidas pela coordenação do Centro de
Comunicação e Letras no ato da entrega do TGI.
47

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percorrer uma parte do Brasil para descobrir e narrar histórias semelhantes


às vividas pelo presidente Lula nos mostrou quão falho tem sido a atuação da
grande imprensa na cobertura de temas mais cálidos às vidas dos brasileiros.
Fincados nas redações, os profissionais da informação não conseguem captar com
cor e vivacidade os matizes que compõem o todo social brasileiro. Pelo contrário,
limitam-se a repassar ao consumidor de notícias, informes que beiram os relatórios
de rendimento das empresas e do setor público, divulgados ao final de cada mês.
Não há qualquer indício de subjetividade no modus operandi da imprensa periódica,
imbricada na disputa entre concorrentes para saber quem informa mais rápido,
objetivando apenas o lucro gerado por missão tão inglória.

As percepções ao longo da apuração e redação de Filhos do Brasil


mostraram como é possível arriscar viagens aos rincões do subconsciente humano
para se descobrir os verdadeiros fatores por trás dos acontecimentos tidos como
corriqueiros, mas reveladores das reais condições de vida de pessoas nos mais
diferentes lugares do país. Ideal aplicado em todo trabalho de produção da obra, a
observação participante, analisada com brilhantismo por Cremilda Medina e Edvaldo
Pereira Lima, mostra-se como alternativa mais do que urgente para a grande mídia
deixar o marasmo intelectual provocado por suas narrativas frias, mastigadas e
incapazes de fazer refletir, nos entediados leitores/ouvintes/telespectadores.

O livro-reportagem, do qual Filhos do Brasil é o mais novo representante,


revelou-se, ao final desse profundo e, por vezes, cruel trabalho de absorção de
conhecimentos, por meio não apenas das análises de mídia, mas também pelo
fundamental sair às ruas; exigência maior do exercício da reportagem, uma porta
escancarada aos homens do texto impresso para o espaço sempre acolhedor da
criatividade, propiciada pela experimentação no momento de apurar e relatar o que
foi apreendido, deixando vir à tona as emoções e impressões do jornalista/autor.

Não há nesse trabalho uma busca pela desqualificação da grande mídia


periódica. Honrosos representantes desse fazer notícia aproximado em todas as
suas etapas, muitas vezes com incomum esforço, conseguem sobressair em meio
48

ao limbo informativo onde se encontram importantes veículos, antes berço de


grandes caçadores de boas histórias, mas que foram obrigados a baixar a guarda
ante o poderio dos patrocinadores. No entanto, ao final desse projeto, notamos
como é importante aos controladores dos periódicos, abrir novo espaço aos mais
talentosos e corajosos repórteres de seus veículos, permitindo que eles possam
buscar um novo jeito de reportar.

As andanças e vivências pelas localidades mais importantes da trajetória do


presidente Lula antes da fundação do Partido dos Trabalhadores permitiram, como
nunca antes em nossas breves vidas de repórter, perceber como o Brasil guarda
histórias belíssimas; figuras, lugares e situações inimagináveis aos jovens habitantes
da metrópole. Ao nos deixarmos levar pelas emoções e sensações nos lugares
percorridos, compreendemos com inimaginável clareza como as pessoas, seus
problemas, erros e acertos, visões e opiniões simbolizam o que há de mais belo e
interessante no país, o povo.

Relatadas como uma pontinha de inspiração nas obras dos grandes nomes
do jornalismo literário brasileiro e de outras paragens, as histórias colhidas e
apresentadas com o absoluto propósito de informar e emocionar são humildes
exemplos de como é possível reinventar o modo de fazer notícia, libertando-o dos
dogmas dos manuais e elevando-o a uma nova categoria dentro do processo
comunicacional; um jornalismo total, sensível e atento, interessado e capaz de
emocionar, sem perder sua capacidade fundamental de provocar indagações e
tentar compreender o mundo como um ambiente mutável, habitado não por
números, mas pelos verdadeiros causadores das notícias, os seres humanos,
nossos iguais, filhos da terra, filhos do Brasil.
49

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABDALA JÚNIOR, Benjamin. In: DANTAS, Audálio. São Paulo: Editora Senac, 1998.

ANDRADE. Maria Margarida de. Introdução à Metodologia do Trabalho Científico.


São Paulo: Atlas, 2003.

BAENINGER, Rosana. Expansão, Redefinição ou Consolidação dos Espaços da


Migração em São Paulo?: Análises a partir dos primeiros resultados do Censo 2000.
Campinas, 2002. Disponível em:
<http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2002/GT_MIG_ST9_Baeninger_
texto.pdf>. Acesso em: 24 mar. 2010.

BELO, Eduardo. Livro-reportagem. São Paulo: Editora Contexto, 2006.

BONI, Valdete; QUARESMA, Sílvia Jurema. Aprendendo a entrevistar: como fazer


entrevistas em Ciências Sociais. In: Revista eletrônica dos pós-graduandos em
sociologia política da Universidade Federal de Santa Catarina. Volume 2. 2005.
Disponível em: <http://www.emtese.ufsc.br/3_art5.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2010.

BRASIL. Presidência da República. Biografia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Presidência da República. Brasília, DF, 2006. Disponível em:
<http://www.presidencia.gov.br/presidente/>. Acesso em 29 mar. 2010.

______ Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Migração interna no Brasil. 2010.


Disponível em:
http://agencia.ipea.gov.br/images/stories/PDFs/comunicado/100817_comunicadoipe
a61.pdf. Acesso em: 17 set. 2010.

CAPOTE, Truman. A sangue frio: a história dos quatro membros da família Clutter
brutalmente assassinados. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

DANTAS, Audálio. O menino Lula: a história do pequeno retirante que chegou à


presidência da república. São Paulo: Ediouro, 2009.

_______________ (Org.) Repórteres. São Paulo: Editora Senac, 1998.


50

FERREIRA, Carlos Rogé. Literatura e Jornalismo: Práticas Políticas. São Paulo:


EdUSP, 2004.

GUIA DE MÍDIA. Folheto elaborado para divulgação do filme Lula, o filho do Brasil.
Rio de Janeiro: Primeiro Plano Assessoria de Imprensa, 2010.

HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologias qualitativas na Sociologia.


Petrópolis: Vozes, 1997. In: BONI, Valdete; QUARESMA, Sílvia Jurema.
Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais. UFSCAR. In:
Revista eletrônica dos pós-graduandos em sociologia política da Universidade
Federal de Santa Catarina. Volume 2. 2005. Disponível em:
<http://www.emtese.ufsc.br/3_art5.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2010.

HIPÓLITO, Lúcia. Por dentro do governo Lula: anotações em um diário de bordo.


São Paulo: Futura, 2005.

KOTSCHO, Ricardo. A Prática da Reportagem. São Paulo: Editora Ática, 1995.

LAGE, Nilson. A Reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística.


Rio de Janeiro: Record, 2002.

LIMA, Edvaldo Pereira. O que é livro-reportagem. São Paulo: Editora Manole, 1998.

__________________ Páginas Ampliadas: O Livro-Reportagem Como Extensão do


Jornalismo e da Literatura. São Paulo: Editora Manole, 2004.

MEDINA, Cremilda. A arte de tecer o presente: narrativa e cotidiano. São Paulo:


Summus, 2003.

_______________ Entrevista: o diálogo possível. São Paulo: Summus, 2008.

_______________ Povo e personagem. Canoas: Editora da ULBRA, 1996.

MELO, José Marques de. A questão da objetividade no jornalismo. Cadernos


Intercom, 1985. In: LIMA, Edvaldo Pereira de. Páginas Ampliadas: O Livro-
Reportagem Como Extensão do Jornalismo e da Literatura. São Paulo: Editora
Manole, 2004.
51

MITCHELL, Joseph. O Segredo de Joe Gould. São Paulo: Companhia das Letras,
2003.

MORAIS, Fernando. A ilha: um repórter brasileiro no país de Fidel Castro. São


Paulo: Companhia das Letras, 2004.

NOBLAT, Ricardo. A Arte de Fazer um Jornal Diário. São Paulo: Editora Contexto,
2007.

PARANÁ, Denise. Lula, o filho do Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu
Abramo, 2008.

PEREIRA, Luiz Costa. A Apuração da Notícia: Métodos de Investigação na


Imprensa. Petrópolis: Vozes, 2006.

SCOLESO, Fabiana. Sindicato dos Metalúrgicos do ABC: as novas relações entre


capital e trabalho na década de 1990. Google Acadêmico. In: Simpósio: Lutas
Sociais na América Latina. Londrina, 2008. Disponível
em:<http://74.125.155.132/scholar?q=cache:UAVFJ3Fm9DkJ:scholar.google.com/
+Sindicato+dos+Metalúrgicos+do+ABC:
+as+novas+relações+entre+capital+e+trabalho+na+década+de+1990&hl=pt-
BR&as_sdt=2000>. Acesso em: 28 mar. 2010

SILVEIRA, Joel. A milésima segunda noite da Avenida Paulista: reportagens, perfis e


entrevistas do repórter que mudou o jornalismo brasileiro. São Paulo: Companhia
das Letras, 2003.

TALESE, Gay. Aos olhos da multidão. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1973. In:
DANTAS, Audálio. Repórteres. São Paulo: Editora Senac, 1998.

WOLFE, Tom. Radical chique e o novo jornalismo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2005.

___________ The New journalism. Nova York: Harper & Row, 1973. In: Páginas
Ampliadas: O Livro-Reportagem Como Extensão do Jornalismo e da Literatura. São
Paulo: Editora Manole, 2004.
52

Das könnte Ihnen auch gefallen