Sie sind auf Seite 1von 20

ISSN 1982-3541

Belo Horizonte-MG
2007, Vol. IX, nº 2, 175-194

Análise do comportamento
verbal segundo B.F. Skinner: um estudo

B. F. Skinner’s analysis
of verbal behavior: a chronicle

Ernst A. Vargas
Julie S. Vargas
B. F. Skinner Foundation
Terry J. Knapp
University of Nevada, Las Vegas

Resumo

Uma linha do tempo do trabalho de Skinner em comportamento verbal deve ter como ponto
de partida o princípio de sua carreira científica. Já em sua tese, Skinner estabeleceu o modelo
conceitual de sua Teoria do Comportamento. Ele desenvolveu seu trabalho experimental dentro
deste modelo e dependeu de resultados de pesquisa para ajustar e modificar a sua teoria. Ao mesmo
tempo, ele deu início a tentativas de interpretação do comportamento verbal de acordo com suas
formulações teóricas e com base nas relações operantes descobertas em laboratório. Os trabalhos
em relações mediadas e não mediadas permeiam toda sua carreira. Lenta e indutivamente ele
descobriu as relações verbais básicas durante um período de vinte e cinco anos de empenho.

Palavras chave: Skinner, Comportamento verbal, História, Teoria.

Abstract

A time line of Skinner’s work on verbal behavior must start at the very beginning of his scientific
career. Skinner laid down the conceptual framework of his Theory of Behavior as early as his
thesis. He developed his experimental work within this framework, and depended on research
results to adjust and modify his theory. At the same time, he initiated efforts to interpret verbal
behavior within his theoretical formulations and upon the operant relations he discovered in the
laboratory. Work on both mediated and nonmediated relations entwined throughout his career.
He discovered the basic verbal relations slowly and inductively over a twenty-five year span of
effort.

Key words: Skinner, Verbal behavior, History, Theory.

 As contribuições dos autores foram feitas na ordem dada. Agradecemos em particular a revisão do manuscrito feita pelo Dr. Jerome
Ulman.
 Ph.D. Vice-presidente da fundação B.F.Skinner. E-mail: eavargas@bfskinnerfoundation.org
 Ph.D. B. F. Skinner Foundation.
 Ph.D. University of Nevada.

175
Ernst A. Vargas - Julie S. Vargas - Terry J. Knapp

Introdução bre o qual ele era bem explícito quando afirma


em uma carta a Fred Keller, “O que eu estou
Os escritos de Skinner sobre Compor- fazendo é aplicar os conceitos os quais tenho
tamento Verbal aconteceram durante muitos trabalhado experimentalmente a esta área
anos,em ambientes diferentes e com revisões não experimental (mas empírica.) .” (Skinner,
contínuas. Mas antes de tudo ocorreram den- July 2,1934). Contudo as suposições diretivas
tro do modelo implícito da sua teoria com- da sua teoria do comportamento já estavam
portamental, primeiramente baseado no pro- presentes. Com a sua tese de doutorado em
cesso de seleção comportamental. 1930, o esforço teórico começou cedo e con-
Igualmente significante é o fato de que tinuou até o final. Porém somente levamos a
o seu desenvolvimento derivou de um entre- história até 1957 e apenas a respeito do seu
lace de observações experimentais e natura- esforço em analisar o comportamento verbal.
lísticas. Desde o começo, a integração entre A figura 1 fornece uma visão geral
hipótese não percebida e fatos observados se resumida do entrelace do trabalho experi-
mostrou consistente. mental e naturalístico dentro da sua teoria.
Skinner insinua a dupla presença Por toda a sua carreira, Skinner abordou te-
quando no começo de Comportamento Ver- mas na área de linguagem e na área do tra-
bal, ele afirma que:“A presente extensão do balho operante feito em seu laboratório. O
comportamento verbal é mais um exercício leitor pode perceber que em 1957, o ano do
de interpretação do que a extrapolação quan- seu trabalho sobre contingências das ações
titativa de resultados experimentais rigoro- da linguagem,Comportamento Verbal, foi pu-
sos.” (Skinner,1957,p.11). Mais adiante , ele blicado também no mesmo ano em que ele,
declara nitidamente o tipo de análise ao dizer em conjunto com Charles Ferster, publicou a
que: “A ênfase está na disposição ordenada grande obra sobre contingências controladas
de fato conhecidos, de acordo com a formula- em laboratório, Programas de Reforço. O leitor
ção do comportamento derivado de uma aná- pode também perceber que desde o começo
lise experimental de uma forma rigorosa.” Skinner perseverou concomitantemente na
(Skinner,1957,p.11). sua analise do comportamento lingüístico e
Desde o começo, foi um empenho so- não lingüístico .

176 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194
Análise do comportamento verbal segundo B.F. Skinner: um estudo

Trabalho Inicial: Fins dos anos 20 até mea- liberdade no comportamento dos organis-
dos dos anos 30 mos” (Skinner,1930,p.-ênfase sublinhada de
Skinner). Ele apontou que a concessão seria
Apesar de não estar fixado de uma devido a
forma ordenada nem necessariamente de
uma maneira explicita, o trabalho inicial de Uma crise na história dos conceitos metafísi-
cos que lidavam com o mesmo fenômeno.
Skinner, incluindo a sua tese, lança as hipóte-
[O] movimento de um organismo havia sido
ses através das quais ele mais tarde interpre- assumido como coexistente com a sua vida e
ta suas observações experimentais e natura- necessariamente relacionado com a ação de
lísticas. Ele é orientado por várias premissas alguma entidade , assim como a mente. Es-
ou temas. (Veja Holtan[1973/1988] para uma tava explícito, por exemplo,o relacionamento
necessário entre ação da mente e a contração
discussão técnica em como premissas guiam de um músculo. Por conseqüência, foi pertur-
uma teoria científica). bador averiguar experimentalmente , que um
Skinner faz referencias a elas mais tar- músculo poderia ser contraído depois de ter
de em suas interpretações das observações sido separado de um organismo vivo ou mes-
mo após a morte (Skinner,1930,p.10)
experimentais do comportamento e nas ob-
servações naturalísticas do comportamento
verbal. Estas premissas formaram a base da Skinner rejeitou tal concessão. Desde
estrutura da sua teoria do comportamento in- o começo, ele desconsiderou qualquer noção
completamente articulada. Todo o seu traba- de uma mente como uma força norteadora no
lho sobre comportamento verbal se encaixou comportamento de qualquer organismo. Tra-
na estrutura da sua teoria. balhos pioneiros (por exemplo, Descartes, e
depois até evolucionistas como Wallace) co-
Princípios temáticos da teoria locaram uma linha divisória entre seres hu-
manos e outros animais. Mas como Darwin,
Skinner defendeu sua tese em dezem-
 O “mesmo fenômeno” referido a movimento animal.
bro de 1930. A primeira metade era teórica, e
segunda experimental. A parte teórica era na  Como o leitor pode notar, na análise do comportamento lin-
gual, outros agentes redundantes continuam a ser promovidos,
forma de uma revisão da história do reflexo. tais qual o “ser” ou “o locutor” ou uma construção equivalente
Ele apontou a idéia central para a revisão nes- mais sutil como “uma sentença gerando uma estrutura”. Skin-
te ponto: Todos os trabalhos pioneiros sobre ner usa o termo locutor para localização. Ele não deveria ser
interpretado como uma força de origem.
reflexo,desde Descartes passando por Mar-
shall Hall e outros,foi uma tentativa de “so-  René Descartes (1596-1650) o fez ao separar “mente” de “ma-
téria”. Depois ele afirma que a qualidade da “mente” era o
lucionar, por comum acordo, o conflito entre que separava os seres humanos dos animais, sendo os últimos
necessidade observada e pressuposição de nada menos do que meras máquinas complexas. Descartes de-
finição de “mente” (e o seu dualismo associado) constituem o
cerne de grande parte da ciência behaviorista atual especial-
 Um equilíbrio similar de trabalho intelectual continuou du- mente quando se refere a assunto de linguagem. A “teoria da
rante toda a sua carreira científica. Para Skinner, a teoria é tão mente” ainda ressoa nos tempos presentes. Alfred R. Wallace
importante quanto o trabalho no laboratório, ele até mesmo (1823-1913) co- autor do processo de seleção natural que dirige
escreveu um artigo (Skinner, 1950), “São as teorias sobre o a evolução, concordou com Darwin que havia uma continui-
aprendizado importantes?” ao qual ele responde com um ‘sim dade entre a vida dos humanos e dos outros animais exceto
‘ categórico. Ele enfatiza que as teorias devem ser feitas na mes- em relação á mente humana. O leitor deste ensaio sem duvi-
ma dimensão estrutural da ciência em questão de modo que, da conhece Descartes, mas para os que o estão encontrando
por exemplo, fenômenos comportamentais não possam ser pela primeira vez, provavelmente o melhor inicio seria com
interpretados utilizando-se explicações psicanalíticas. Qual- Discurso sobre o Método. Wallace assim como Darwin tem a
quer representação de fenômenos comportamentais deve ser felicidade de ser uma leitura clara e interessante. Apesar dos
compreendida dentro do sistema de seleção de contingências, nomes dos lugares terem que ser mudados, O Arquipélago
desde os eventos neurofisiológicos até os de atividade lingual Malaio (1869/192) ainda agrada o leitor interessado em histo-
de uma cultura. Apesar do conteúdo temático e empírico da ria natural. Para maior informação sobre a cisão entre Darwin
sua teoria ser implícito em seus trabalhos escritos, Skinner faz e Wallace no assunto continuo “cérebro e comportamento”, o
caracterizações explicitas da sua teoria em artigos e livros tais leitor interessado pode começar com Richards, R.J.(1987). Para
como Seleção por Contingências (1981) e Contingências de Reforço, a implicação deste assunto nas ciências comportamentais veja
Uma Analise Teórica (1969). Vargas, E.A.(1996).

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194 177
Ernst A. Vargas - Julie S. Vargas - Terry J. Knapp

Skinner manteve a continuidade de caracte- tarde descreveu requerem uma analise simi-
rísticas compartilhadas entre a espécie huma- lar, por exemplo, “Um mando é caracteriza-
na e outras espécies. do por uma relação única [acrescido itálico]”
Ele estava já preparando para a noção (Skinner,1957/1991p.36).A ligação entre dois
do locutor como um lócus e não como inicia- eventos caracteriza e determina a sua relação,
dor. a relação pode ser classificada de acordo com
Como ele mais tarde afirma no final suas propriedades. A operante, sobre a qual
do seu livro Comportamento verbal (p.460), ele construiu toda a analise recente , é a re-
“Eu acho que seja necessário de tempos em lação correlativa baseada no controle entre o
tempos questionar conceitos tradicionais que posterior conjunto de eventos e um grupo de
assumem um controle espontâneo sobre o ação anterior. Relações correlativas fornecem
ser interior chamado de locutor”.Todo o seu o sistema de referência em que os eventos são
trabalho lidou com relações de contingências interpretados.
.Como esclarecimento, contingência substi- O sistema de referência em que os even-
tuiu agencia. tos acontecem ,fornece o seu significado.
O termo contingência aparece ape- Skinner lida com o problema de sistema de
nas mais tarde, após o trabalho na sua tese. referência elipticamente, mas em relação a
Inicialmente em sua tese, Skinner enfatizou sua filosofia de ciência,ele insinua-se de uma
correlação, mas não a correlação no sentido forma sofisticada. “A definição de um tema
estatístico e sim relação correlativa entre dois delicado em qualquer ciência... é determina-
(ou mais) eventos. Como ele explicitamente do enormemente pelo interesse do cientista ...
afirmou (Skinner,1930,p.37) “...uma discipli- nós estamos interessados principalmente no
na específica...deve descrever o evento não movimento do organismo em um sistema de
apenas por ele mesmo mas a sua relação [itá- referência.” Como parte de sistema de refe-
lico acrescentado] com outros eventos.” Esta rência , Skinner inclui eventos internos. “Nós
relação determina o significado de um evento estamos interessados em qualquer mudança
pela forma de como ele conectou com outro interna que possa ser observada e em qual-
evento. Ele forneceu um exemplo claro. quer efeito significante sobre este movimen-
to. Em alguns casos especiais nós estamos
Quando nós dissemos... que Robert Whytt des- especificamente interessados em atividade
cobriu o reflexo pupilar, nós não queremos di-
glandular”. (Skinner,1930,p.37).Ele continua
zer que ele descobriu nem a contração da íris
ou o impacto da luz na reina, mas sim que ele dando ênfase ao sistema de referencia em
foi o primeiro a observar a relação necessária O Comportamento dos Organismos (1938,p.6),
(nosso itálico) entre os dois eventos.(Skinner, descrevendo e ampliando o seu significado
1930,p.24). para o tema delicado de ciência do compor-
tamento . Então por comportamento eu me
Em nenhum evento um estímulo é refiro simplesmente ao movimento de um
independente da sua relação com um outro organismo ou as suas partes em um sistema
evento chamado de resposta,e nenhum evento de referencia fornecido pelo próprio organis-
é uma resposta independente da sua relação mo ou por uma variedade de objetos exter-
com um outro evento chamado de estímulo. nos ou campos de força [itálico acrescentado].
Cada um destes eventos poderia ser descri- O quadro é colocado de forma a considerar
to fisicamente, e dentro de uma estrutura di- qualquer tamanho,nível e tipo de relação de
mensional do sistema físico de observação. contingência tanto interna o como que envol-
Uma luz não é um estimulo a não ser que e ve o organismo e a interação entre estes dois
a menos que uma ação ocorra em relação a ambientes. Como Vargas aponta:
ela e então a ação possa designar uma res-
posta.Todas as relações verbais que ele mais A extraordinária variedade e flexibilidade do
comportamento verbal ocorrem através da in-

178 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194
Análise do comportamento verbal segundo B.F. Skinner: um estudo

dução de propriedades justapostas dos even- do de uma resposta,ele quer dizer que pode
tos comportamentais, biológicos e físicos que inferir algumas variáveis das quais a resposta
envolvem tanto o interior quanto o exterior
do corpo.A alternante variabilidade destas
é normalmente uma função”.(Skinner,1957/
propriedades e desta forma, de suas relações, 1992,p.14).
assegura que a relação entre os termos não Função ocupa um lugar especial na
seja linear e nem mecanicista; e outras ocor- analise de comportamento verbal de Skinner.
rências do sistema de relações verbais de Skin-
Ele não atribui intenção ou padrão ou qual-
ner também fazem a probabilística das ocor-
rências verbais. Os termos podem se juntar quer outro tipo de tom doutrinário. Como
como um par ( como um operante) ou fazer ele mais tarde afirma, “A força do compor-
parte de outras relações ( o mesmo operante tamento foi determinada pelo que já havia
dentro de uma relação de três , quatro ou N acontecido do que pelo que iria acontecer no
significados ) .Para que um episodio de fala
aconteça, vai depender da probabilidade de
futuro”. (Skinner,1979,p.203). É claro que há
ocorrência qualquer das relações agrupadas. presumidamente um “que irá acontecer” pois
(Vargas,1992,p.xx) apesar de podermos prever o futuro, não há
como saber.( Infelizmente é um movimento
Como a reflexão aponta, comporta- para um significado teológico que está come-
mento verbal é uma relação de contingência çando a acontecer na literatura analítica do
de quatro termos que se constrói baseada nos comportamento,especialmente na literatu-
dois ou três termos anteriores.Estas relações ra ligada à prática com clientes.Analistas do
de contingências são os pares das variáveis comportamento deveriam se opor a interpre-
correlativas em que se baseia a interação lin- tação baseada em função do comportamento).
güística. Skinner utiliza a expressão função no mesmo
Um sistema de referencia indica que sentido que ela é usada em matemática,como
são as categorias das variáveis que são o pon- uma expressão de um conjunto de valores
to quando se analisa comportamento, não o correlacionados entre variáveis dependentes
agente causal. Na análise do comportamen- e independentes.Esta definição o levou a ,ou
to verbal, o sistema de referencia obtém seu surgiu da filosófica posição de Ernst Mach,
exercício operacional através da definição de que ele adotou inicialmente. “[N] os pode-
Skinner de significado. “ Mas significado não mos agora assumir que... a visão explicativa
é propriedade do comportamento em si ,mas e causativa que parece ter sido primeiro su-
de condições sob as quais o comportamento gerida por Mach... onde...a explicação é redu-
acontece. Tecnicamente, significados são en- zida a descrição... “(Skinner,1930,p.38). Cer-
contrados entre variáveis independentes fun- tamente aquele tipo de explicação acontece
cionais, mais do como propriedades de variá- se todos os valores observados de variáveis
veis dependentes”. (Skinner,1957/1992,p.14). dependentes e independentes são fornecidos
Exemplos deste tipo de sistema estão presen- e suas relações de correlacão forem especifi-
tes em todo Comportamento Verbal . Por exem- cadas.Como Skinner chama a atenção, o con-
plo, a palavra fogo muda o seu significado de- ceito de função fica substituído pela noção de
pendendo da circunstância do discurso, um causalidade. Ele leva o posicionamento de
pelotão de fuzilamento ou madeira que está Mach para além. A descrição simples relata
queimando.Trocadilhos e outros artifícios a topografia do comportamento. A explica-
para jogos de linguagem dependem da tensão ção contudo é uma tarefa mais complexa.Ela
entre a topografia da variável dependente e o pergunta: “quais são as condições relevantes
seu significado implícito, com o significado para a ocorrência do comportamento- quais
real dado pela circunstancia da fala. Locuto- são as variáveis das quais ele é uma função?”.
res e ouvintes estão sempre presentes nestas (Skinner,1957/1992,p.10).Não é por coin-
circunstancias. Como Skinner aponta, “Quan- cidência que o Capítulo 1, na “Parte I : Um
do alguém diz que pode entender o significa- Programa”, seja intitulado : “ Uma Analise

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194 179
Ernst A. Vargas - Julie S. Vargas - Terry J. Knapp

Funcional do Comportamento Verbal”. apertar a alavanca , produzindo uma ótima


Dentro destes limites temáticos, todas as ob- curva de extinção. Não levou muito tempo
servações posteriores, tanto naturalísticas para que Skinner percebesse que enquanto a
quanto experimentais foram no mínimo im- terceira variável de escassez era importante,
plicitamente explicadas. a verdadeira influência sobre a freqüência de
resposta estava na relação em como os con-
O Começo experimental da teoria seqüentes imediatos estavam programados.
Skinner estava animado com a sua descober-
A tese de Skinner começou com um ta e como nitidamente ela se diferenciava da
exame da correlação de reflexo, mas logo foi psicologia tradicional. Ele evidentemente es-
além. A correlação de reflexo consiste em creveu para o seu melhor amigo Fred Keller
um estímulo antecedente a subseqüente res- sobre suas implicações conceituais.A carta
posta, e enfatizava um controle subseqüente. de Skinner não existe mais. Mas Keller res-
Ele designou uma série de experimentos que pondeu; “A única coisa que me incomoda
passaram por ver uma resposta a botões ca- sobre a sua carta muito bem vinda e cheia
librados.Quando nada interessante aparecia, de noticias é a fala sobre uma nova teoria de
ele inutilizava o equipamento e construía aprendizagem”.(Keller, 2 de outubro de 1931).
outro aparato para um procedimento dife- Com a descoberta do controle conseqüente (
rente.Um grande passo foi dado quando ele o “operante”, como Skinner posteriormente
automatizou a anotação em uma plataforma o denominou), o primeiro vislumbre de uma
retangular de forma que o organismo e não nova teoria havia sido avistado.( Como na
o pesquisador começava cada série. Isso per- base da “cesta”, ele depois mostrou a sua po-
mitiu a medição da freqüência da resposta, derosa aplicação para as relações verbais).
impossível em procedimentos por “tentati- A primeira menção a um tipo operan-
vas”.Quando Skinner estava no segundo ano te de relação aparece no artigo de Skinner,
da pós-graduação, os “eventos” dispostos “Dois tipos de reflexo condicionado e pseu-
haviam ido de um estímulo momentâneo de do- tipo” (Skinner,1935). Ele fez um rascunho
um botão para horas de falta de alimento.Sua provisório de uma série de distinções entre
variável dependente se tornou freqüência de diferentes tipos de procedimentos de condi-
alimentação. Cada empurrão na porta de ali- cionamento, dos quais os detalhes não são de
mento do aparelho produzia um movimento nossa preocupação no momento.Um questio-
para cima de uma agulha em cima de um pa- namento por parte de Konorski e Miller em
pel esfumaçado que se movia regularmente. 1937 sobre suas considerações iniciais fez com
O resultado do “registro cumulativo” mos- prontamente respondesse, “As diferenças en-
trou a freqüência sob o ângulo de uma linha. tre os tipos mencionados em meu artigo...que
O comportamento em tempo real também foi não precisam de ser repetidas aqui , não são
anotado. O resultado deste aparelho deu a mais úteis para se definir [itálico é nosso]os ti-
Skinner dados suficientes para a sua tese. pos, mas servem como marcos convenientes
Continuando a pesquisar, Skinner ”.(Skinner,1937,p.274). Nesta resposta ele deu
substitui a porta por uma alavanca;mudando ênfase a distinção entre condicionamento res-
de conferir a “ingestão” para apertar a ala- ponsivo e operante, e primeiramente nomeou
vanca. Com a alavanca, cada ação não mais o último de “operante”. “Eu irei chamar tal
produzia automaticamente um pouco de co- unidade de um operante e o comportamen-
mida. Agora mais de uma resposta poderia to em geral de comportamento operante”
ocorrer antes que a comida ficasse disponível. (Skinner,1937,p.274). Era o ponto de apoio
O significado deste procedimento começou a da sua teoria do comportamento, pela qual
ficar claro quando o mecanismo de alimen- ele iria interpretar todos os fenômenos de
tação ficava preso e o animal continuava a comportamento, incluindo comportamento

180 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194
Análise do comportamento verbal segundo B.F. Skinner: um estudo

verbal. Foi elucidado um projeto o qual ele já 1979,p.151). Mais ou menos um ano depois
havia começado. em outra carta datada de 18 de janeiro, 1935,
ele escreve, “ Eu agora estou entrando em afa-
O Começo da Análise da “Linguagem” sia , lado patológico da linguagem.” A cerca
de meses mais tarde, em uma carta de 15 de
O início específico de Skinner na lin- março de 1935, evidentemente como resposta
guagem se deu acidentalmente.Ele começou a um como um convite de Keller para a apre-
um sério e sistemático esforço em seguida sentação de um artigo, Skinner fornece uma
a uma amigável e leve discussão acerca dos dica sobre a complexidade do seu trabalho
méritos relativos do comportamentalismo lingüístico , “Eu penso que o assunto deve-
com Alfred North Whitehead. Whitehead fi- ria ser experimental. Eu não poderia falar o
nalmente aquiesceu durante a discussão que suficiente sobre linguagem no tempo de uma
o comportamentalismo poderia lidar efeti- hora e conseguir me fazer entender” (Skin-
vamente com todos os aspectos do compor- ner,15 de março de 1935).Ele já estava bem
tamento com exceção de um , a linguagem. consciente da posição radical que ele estava
Após o jantar , eles permaneceram à mesa e tomando. Como ele afirma em outra carta a
Whitehead desafiou Skinner a prestar escla- Fred Keller em 21 de junho de 1935,
recimento sobre o que Whitehead estava di-
zendo, “Nenhum escorpião negro está caindo O livro vai ser bom. Os lingüistas vão rir dele-
-a maioria deles-- e os psicólogos não vão ter-
sobre esta mesa”. Na manhã seguinte Skinner
miná-lo. Mas é bom. Por trás do que parece
começou suas primeiras linhas sobre sua aná- muita complexidade ( o que não é nenhuma
lise de linguagem.Era então 1934. novidade ) existem linhas de imensa simplici-
Nós pegamos alguns extratos dos seus dade.
esforços, e do seu entrelaçamento do trabalho
experimental e de linguagem. Em 2 de julho Ele também mencionou que naque-
de 1934, no meio de uma carta a Fred Keller, le momento ele estava trabalhando cerca de
Skinner menciona “...fazendo um único expe- seis horas por dia no livro. Ele sentiu que es-
rimento, mas antes de tudo escrevendo um tava fazendo progresso suficiente , então po-
livro sobre linguagem sob o ponto de vista deria começar a falar sobre sua análise “Em
do comportamentalismo... e agora tenho dez novembro eu estava adiantado o suficien-
capítulos esboçados” (Skinner, 2 de julho de te para começar oferecer um seminário na
1934). O seu procedimento era Baconiano. universidade Clark sobre ‘Linguagem como
“ Em meu quarto em Winthrop House ,eu Comportamento” (Skinner,1979,p.158). Ele se
amarrei com prendedores umas folhas gran- envolveu não apenas com o trabalho teórico
des de cartolina e comecei a formular o que em linguagem como também empreendeu
eu chamava de comportamento verbal... Eu no comportamento de linguagem. Ele infor-
peguei exemplos de comportamento da mi- mou Keller em uma carta, “ Eu estou também
nha leitura e de falas que foram escutadas...e construindo um aparelho bastante elaborado
as coloquei em um estranho e constantemente para experimentos com seres humanos. Eu o
mutável esquema de classificação”(Skinner, chamarei de Somador Verbal” ( Skinner, 25
de setembro de 1935).Ele posteriormente pu-
 A. N. Whitehead (1861-1947) foi um renomado matemático e blicou um artigo baseado neste trabalho de
filósofo que ocasionalmente comparecia a jantares na Socieda- laboratório(Skinner,1936).
de da Universidade de Havard. Ele co escreveu com Bertrand Concomitantemente com seu trabalho
Russell, Princípios Matemáticos, um esforço em colocar os fun-
damentos matemáticos através de símbolos lógicos. Nos seus em lingüística, Skinner prosseguiu com a sua
últimos anos (aos sessenta), ele lecionou na Universidade de pesquisa sobre operante. Um número de ar-
Harvard . Seu reconhecimento aos méritos do comportamen-
talismo aparece como uma grande concessão ao jovem Skinner
tigos baseados em trabalho experimental em
que parecia estar em disputa com o “processo de filosofia” de relações de contingências foi publicado jun-
Whitehead.

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194 181
Ernst A. Vargas - Julie S. Vargas - Terry J. Knapp

to com os sobre linguagem.Ele agora tomou não tiver minuciosamente examinado várias”
uma atitude que ele chamou de “estratégica”. ( Stott, 2003,p.243). Darwin assim o fez e
“Eu tenho tido um longo e cansativo percur- montou o seu trabalho, ainda canônico sobre
so em experimentos...muita informação nova. a cirripedia . O mesmo conselho foi dado ao
Em janeiro eu vou dar forma a isso junto com jovem Skinner por Crozier11, seu mentor. “ A
um esboço do livro experimental. Vou publi- abordagem teórica destas questões será mui-
car este trabalho antes do livro sobre lingua- to mais poderosa e eficaz quando estiverem
gem por várias razões estratégicas”.(Skinner embasadas por uma análise profunda dos
carta para Keller, 6 de dezembro de 1936). novos resultados experimentais”, e um dia
Podemos apenas fazer especulações depois escreveu, “... as pessoas provavelmen-
sobre o motivo. Uma noção plausível seria te vão pensar que tal tratamento tenha sido
que ele queria estabelecer uma reputação de dado para meramente representar a ativida-
um cientista comprometido antes de avançar de de “outro teórico” (Crozier, 3 e 4 de junho
em análises altamente teóricas e com certeza de 1931). Obviamente Skinner aceitou o con-
controversas. Este tipo de cuidado não é inco- selho de Crozier.
mum.Um século antes , Darwin havia enca- A análise do comportamento verbal
rado o mesmo problema de aceitação da sua está na base da análise de comportamento
teoria de seleção natural. Seu amigo, Joseph operante. Para compreender o primeiro, o se-
D. Hooker10, recomendou que ele não publi- gundo tem que ser conhecido.Apesar de se-
casse até que ele tivesse estabelecido uma re- rem os mesmos processos, a distinção crítica
putação de autenticidade como renomado e entre os dois é de que comportamento ope-
comprometido biólogo por produzir um tra- rante não mediado tem contato direto com o
balho em classificação taxionômica. Hooker seu ambiente (interno ou externo) enquanto
escreveu para Darwin, “ninguém tem o di- no comportamento verbal o contato com o
reito de examinar a questão das espécies se
11William John Crozier (1892-1955) era chefe do Laboratório
10Joseph Dalton Hooker (1817-1911) foi biogeógrafo e o pri- de Psicologia da Universidade de Harvard na qual Skinner
meiro botânico da sua época. Como curador dos Jardins de possuía a sua bolsa. Crozier foi a influencia mais poderosa
Kew, ele foi um conhecido e importante defensor das ideias sobre Skinner no seu começo como mestrando. Para maiores
de Darwin. detalhes veja Skinner (1979) e Vargas (199).

182 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194
Análise do comportamento verbal segundo B.F. Skinner: um estudo

meio é mediado. Como Skinner enfaticamen- riores, incluindo sua análise interpretativa da
te coloca no inicio de Comportamento Verbal, linguagem.
“O homem age de acordo com o mundo, e o Como havia feito anteriormente, Skin-
modifica e é por sua vez modificado em con- ner prosseguiu concomitantemente tanto os
seqüência de suas ações”(Skinner,1967,p.1). fundamentos experimentais de sua ciência
Ele compara esta descrição de comportamen- quanto com o seu exame do comportamento
to operante que tem contato imediato com verbal.
o ambiente com o de contato alternado do Evidentemente foi um esforço para
comportamento verbal na próxima pagina. ele realizar os dois ao mesmo tempo. Ele ex-
“Comportamento que é efetivo apenas atra- pressou certo grau de frustração por não con-
vés da mediação de outras pessoas possui seguir estabelecer a formulação básica e então
tantas propriedades diferenciadas dinâmi- continuar com aplicação explicativa da lin-
cas e topográficas ,que um tratamento espe- guagem. Como ele escreve a Fred Keller perto
cial é justificável e sem dúvida, necessário.” do final de O Comportamento dos Organismos,
(Skinner,1957,p.2). “Eu receio que vá reduzir as considerações
A figura 2 resume o entrelaçamento finais por desespero para conseguir terminar
do seu trabalho de linguagem e sem lingua- o maldito livro.Eu estou muito ansioso para
gem. trabalhar com linguagem. Tive um seminá-
rio sobre isso este trimestre, e várias pesso-
Período Médio: 1936 até o final dos anos 40 as aqui estão interessadas”. (Skinner, 19 de
abril de 1937). As ‘várias pessoas aqui’ eram
De Linguagem para Comportamento Verbal evidentemente membros do seu próprio de-
partamento em Minesota, já que no verão de
Em 1936 e 1937, Skinner estava traba- 1937, o ano anterior a publicação de O Com-
lhando em O Comportamento dos Organismos. portamento dos Organismos, e no verão de 1939
Este trabalho apresentou os fundamentos da o ano seguinte a publicação de O Comporta-
sua ciência. Ele não os estabeleceu já que o mento dos Organismos,ele deu um curso cha-
escopo completo da sua teoria do compor- mado “Psicologia da Literatura”. Ele parecia
tamento não foi vista , mesmo pelo próprio ter se entretido com a abordagem psicológica
Skinner.(Ela foi interpretada, pelo menos por da linguagem. O curso conteve entre outros
outros cientistas do comportamento , como tópicos, “Processos fundamentais envolvidos
uma das teorias sobre o aprendizado daquela na criação e apreciação de trabalhos literá-
época para ser tomada com seriedade junto rios...bases psicológicas do estilo; natureza e
com meia dúzia de outras.) Mas ela forne- função da metáfora;técnicas do humor,etc.”
ceu o conceito de operante, e seus suportes (Skinner,1979,p.207).Naquele verão de 1939,
experimentais . A sua teoria posteriormente ele também deu um curso de radio na Psico-
relacionou esta relação conseqüente de dois logia da Literatura e antes disso, havia feito
termos a outros processos comportamentais uma palestra no Clube das Mulheres de Mi-
tais como discriminação e indução.A relação neapolis.Tal atitude aponta para um esforço
de contingência de dois termos, com o seu de sua parte para fazer-se entender pelo pú-
controle conseqüente, mudou completamente blico em geral.Mas ainda era amplamente um
o enfoque analítico no qual fenômenos com- ponto de vista tradicional, pois em seus cur-
portamentais eram interpretados.Ela se sepa- sos e palestras ele fazia análises tais como: “O
rou radicalmente da formulação de estímulo- amor materno edipiano em Margaret Ogivly”
resposta ,baseada em controle antecedente, e “O Ódio edipiano paterno em Os Irmãos Ka-
que havia dominado a psicologia americana. ramazov” (Skinner,1979,p.208).Durante este
Skinner construiu ,a partir desta relação sele- mesmo período , ele publicou um artigo sobre
tiva poscedente, todas as formulações poste- a aliteração em Shakespeare (Skinner,1939).

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194 183
Ernst A. Vargas - Julie S. Vargas - Terry J. Knapp

Curiosamente, o ponto de ataque conceitu- que eu havia me envolvido quando um ini-


al do artigo foi estatístico.Pouco aparece de ciante...” (Skinner,1979,p.248); ou seja, não
seu fundamento teórico é mostrado.Poderia era o tipo de análise que ele havia começado
ter sido escrito por qualquer um que tivesse quando desafiado por Whitehead. Ele conti-
a tendência para contar o uso das palavras nuou ensinando no curso de língua durante o
em discurso poético para entender o seu sig- semestre regular da primavera de 1941.Mas a
nificado.Aparece como análise estrutural. sua descrição agora diferia consideravelmen-
Mas repercutiu um pouco em sua análise de te da anterior.
comportamento verbal que é a distinção entre Este abrangia , como Skinner afirmou,
controle temático e formal.Ele estava tentan- “a natureza e as formas do comportamento
do, como mencionou na carta para Fred Kel- verbal; influências motivacionais e emocionais
ler, “Um estudo estatístico da perseverança na emissão da fala...” (Skinner,1979,p.248).
formal e temática.” (Skinner, 14 de novembro Ele estava neste momento movendo a análise
de 1938).Ele não foi bem sucedido. para o seu embasamento teórico.
Evidentemente havia duas forças em Este rapidamente se mostrou explici-
direções diferentes em seu repertório. Ele ain- tamente. Ele analisou o processo envolvido
da mostrava uma tendência em analisar lite- em suposições repetidas , ‘repeated gues-
ratura da forma tradicional. Ao mesmo tem- sing’, e objeta indiretamente ao estruturalis-
po, havia também seus esforços alternativos mo. Ele mais tarde afirma a sua objeção expli-
de construir um modo novo para analisar lin- citamente, “o Comportamento é visto como
guagem se manifestando.O dilema se refletiu tendo certos princípios organizacionais que
claramente na sua tentativa de escrever suas são usados para explicar aquele comporta-
palestras para o rádio e publicá-las , talvez mento.” (Skinner,1979,p.251). O que é inte-
um pequeno livro como sugerido por Harry ressante sobre o artigo sobre “suposições” é a
Murray. explicação alternativa desenvolvida por Skin-
Apesar de não ser um material todo ner em comparação com a estruturalista. As
original, ele trabalhou bastante “e escre- pessoas estavam supondo padrões de proba-
veu por três a quatro horas toda manhã.” bilidade como se joga moedas. Para Skinner,
(Skinner,1979,p.243).Ele finalmente desistiu. “suposições eram simplesmente uma forma
Como ele disse em seu manuscrito: de comportamento verbal diferenciado pelo
fato de que as respostas não estavam sob o
Mas eu estava cansado daquilo. Eu havia pego controle de estímulos identificáveis e distin-
da psicanálise de Lewis Carrol, J.M.Barrie,
tos.” (Skinner,1979,p.251). Skinner então pro-
D.H.Lawrence e Dostoievski de outros autores
e meu próprio trabalho em aliteração e metá- põe um tipo de controle de contingência sobre
fora estava preocupado mais com a decoração o comportamento de suposição. Ao invés das
do que com o conteúdo do comportamento razões para ações estarem embutidas nas pró-
verbal...Seis meses depois ele escreveria “Eu prias ações, é o controle sobre as ações que dá
estou quase pronto para assumir um progra-
ma de cinco anos e transformar tudo em uma
origem às formas observadas.E Skinner, pela
completa investigação sobre Comportamento primeira vez na seção de referencia de um ar-
Verbal ao invés de manifestações literárias.(Sk tigo publicado (1942), lista o manuscrito não
inner,1979,p.245). publicado sobre Comportamento Verbal.
A curva da carreira de Skinner teve en-
Skinner estava próximo a abandonar tão um desvio. Os Estados Unidos entraram
completamente o enfoque psicológico tradi- para a Segunda Guerra mundial em dezem-
cional para a literatura. Como ele disse, “Eu bro de 1941. Skinner se jogou na atividade da
estava claramente indo em direção a um li- guerra. O Projeto “Pigeon”, um projeto para
vro sobre o comportamento verbal como um desenhar mísseis guiados para os seus alvos
todo.A psicologia da literatura não era a área por pombos, consumiu o seu tempo desde o

184 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194
Análise do comportamento verbal segundo B.F. Skinner: um estudo

outono de 1942 até a primavera de 1944. Para Enquanto Skinner estava em Indiana
a sua decepção contudo, o projeto foi inter- (1945 a1948), Fred Keller convidou Skinner
rompido.( Naquele tempo, o radar estava em para dar um curso de verão na universidade
desenvolvimento , mas era classificado de de Columbia sobre comportamento verbal.
super secreto. Skinner não foi informado da Era um momento importante no empreendi-
razão da interrupção do projeto). mento de Skinner em atingir um enunciado
No entanto,o projeto mostrou aplica- coerente da sua posição teórica sobre com-
ções bem sucedidas de engenharia dos com- portamento verbal. Isso proporcionou uma
plexos empreendimentos comportamentais oportunidade de apresentar uma visão geral
originários da sua formulação científica bási- da sua análise de linguagem a uma audiên-
ca.Quase meio século depois, aquela mostra cia simpatizante e instruída; uma audiência
ecoou no ensino da linguagem baseado em que iria dar retorno a ele e oportunidade de
evidencia em sua formulação do comporta- conferir a firmeza das novas fundamentações
mento verbal.Com ambos os efeitos,o imedia- das relações de linguagem que ele estava in-
to e depois o de engenharia, ele estava pre- vestigando. Este foi a primeira declaração
enchendo os objetivos propostos por dois de pública de seu posicionamento.(O chefe do
sues mentores cientistas,Bacon e Mach – evi- departamento de psicologia da universidade
dencia de uma ciência válida e viável foi o seu de Columbia queria chama-lo de “A psico-
resultado. logia da Semântica” e Skinner mudou-o para
Como o Projeto “Pigeon” perdeu a “Interpretação Psicológica do Comportamen-
força, no verão de 1944, Skinner afirma que to Verbal”.) O material do curso “foi tirado
“me foi concedida uma licença sabatica para dos meus cursos de Psicologia da Lingua-
completar o manuscrito sobre Comportamen- gem e Psicologia da Literatura,e também das
to Verbal” (Skinner,1944). O novo nome do Palestras de William James que estavam em
trabalho demonstra um comprometimento andamento”(Skinner,1979,p.332).Skinner pa-
bem mais forte com o fundamento de análise lestrou baseado no seu material que estava
da tradicional formulação lingüística ou psi- preparado,mas não forneceu apostilas. Con-
cológica. tudo um jovem mestrando,Ralph Hefferline
É como se o foco central agora emer- conseguiu reproduzir quase na integra o que
gisse de forma clara para ele.Logo ele está foi dito.Hefferline havia desenvolvido uma
lecionando, não cursos de “psicologia da forma de escrita rápida que capturou exata-
linguagem” mas curso de “comportamento mente a palestra da aula.
verbal”,como ele fez na universidade de In- Pelas anotações de Hefferline(de agora
diana.Ele pegava fragmentos do que ele es- em diante chamadas de Anotações) nós con-
tava fazendo de terceiros.Em uma carta de seguimos observar o pensamento de Skinner
R.M.Elliot para E.G.Boring,Eliot escreve, sobre comportamento verbal naquele tempo,
e principalmente,as mudanças que ocorreram
Skinner foi trabalhar no seu adiado projeto desde esta primeira apresentação publica e a
Guggenheim , o livro sobre linguagem, agora
publicação dez anos mais tarde de Comporta-
ele anunciou ser de dois volumes.Ele não fez
nenhum esforço para ir para outro lugar a fim mento Verbal.Através deste espaço, as Ano-
de terminá-lo,dizendo que ele poderia muito tações fornecem a ponte.
bem trabalhar nele de sua casa e evitar o tu-
multo dos tempos de guerra que ele encontra- As Anotações de Hefferline
ria nas grandes bibliotecas do país (Elliot,R.M.
9 de janeiro de 1946).
Como já foi dito, as Anotações (1947)
Este fato aparentemente se refere ao foram baseadas em um curso de cinco sema-
ano em que Skinner colocou uma escrivani- nas, Psicologia s247 Interpretação Psicológica
nha no porão de sua casa em Minnesota. do Comportamento Verbal, ministrado por

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194 185
Ernst A. Vargas - Julie S. Vargas - Terry J. Knapp

Skinner na universidade de Columbia no co- termos das “condições que levaram a emissão
meço de julho de 1947. No relatório de verão do comportamento verbal” (Anotações,p.2).
da universidade de Columbia ele descreveu Skinner então introduz as agora estabeleci-
o curso como “uma análise dos processos das categorias de relações verbal tais como
básicos no comportamento do locutor e do mando, tato, e intraverbal.Portanto, o que
ouvinte.Contribuições lógicas, lingüísticas e se encontra nas Anotações está mais tar-
literárias são consideradas...” (Skinner,verão de refletido no livro Comportamento Verbal
de 1947). (Skinner,1957/1992). Mas existem algumas
Ralph Hefferline mais tarde ,teve um diferenças entre o conteúdo da sinopse das
papel importante no desenvolvimento da Anotações e o referido livro.Estas justificam
gestalt terapia e na tecnologia de biofeedba- um comentário.Alguns conceitos das Anota-
ck (Knapp,1986), mas ele também fez contri- ções são mais tarde renomeados, alguns são
buições valiosas para a análise experimental adotados com outras palavras por Skinner ,
do comportamento.Como Skinner explicou, e outros aparentemente foram descartados
“Ralph freqüentou minhas aulas sobre com- completamente.Por exemplo, em Anotações,
portamento verbal em Columbia em 1947 e já uma grande seção (XIX) é intitulada “Com-
que ele era um estenógrafo muito veloz ele portamento Verbal Secundário” e se relacio-
fez uma completa anotação estenográfica. na em parte com o que se torna auto-clítico
Ele então assimilou o material e publicou um em Comportamento Verbal. Uma outra grande
longo resumo do meu curso” (Skinner, cor- seção (XXVI) discute “O controle de um indi-
respondência pessoal, 27 de janeiro de 1975). viduo por ele mesmo e pela sociedade”; aqui
Skinner disse que as Anotações “abran- Skinner apresenta as técnicas de autocontrole
gem muito mais conteúdo do que minhas Pa- elaboradas em Ciência e Comportamento Huma-
lestras William James”(Skinner,1979,p.332). no (Skinner,1953).
Tal observação deve ser recompensada pelo Os tópicos abandonados ou mudados
disparate em extensão.As Palestras Willliam Ja- podem ser os mais interessantes. Em Ano-
mes possuem 176 paginas com espaço simples tações, Skinner usou a expressão ouvinte ao
e as Anotações possuem 76 paginas com espa- invés da ultima interlocutor. Ele explicou a
ço similar. “Detalhado” deve significar,neste mudança em Moldando um Behaviorista (1976):
contexto, algo relacionado com nível de dis- “Em meus trabalhos iniciais e em meu curso
cussão ou número de exemplos por página. em Columbia, eu usei a expressão ouvinte ao
As Anotações não contém resumos da literatu- invés de interlocutor .Russell a usou na sua
ra em um sentido comum da expressão. Não revisão de O significado do Significado em Dial.
existe uma citação sistemática ou referen- É um termo mais abrangente...mas é mais
cias. Mas existe uma grande quantidade de difícil de pronunciar e interlocutor estava se
exemplos e ilustrações de respostas verbais firmando.” O conceito de contrato é introdu-
espalhadas pelas 30 divisões das 606 sequen- zido para explicar circunstâncias nas quais
cialmente numeradas seções desiguais.Estas “exista a condição que requer um compor-
variam em tamanho desde sentenças únicas tamento...Nós podemos chamar isso de con-
a parágrafos de diversas dúzias de sentenças. tratos” (Anotações,p.40).O contrato fala sobre
A tabela 1 apresenta os títulos de cada uma o comportamento esperado, mas não nos dá
das divisões das Anotações. o comportamento.Por exemplo, “nós sim-
As Anotações começam com um repú- plesmente queremos ser um escritor mas não
dio a forma tradicional de lidar com as pala- temos nada a dizer ou ainda,nós queremos
vras e o seu significado dualístico, e requer preencher um incomodo silencio.Não existe
por sua vez, uma “abordagem naturalística” uma pista sobre o que deve ser dito – sim-
na qual “variáveis onde o comportamento plesmente a pressão por uma fala a qualquer
verbal seja uma função” são analisadas em preço” (Anotações,p.40). Uma grande parte de

186 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194
Análise do comportamento verbal segundo B.F. Skinner: um estudo

Tabela 1. Índice das 76 páginas de Anotações por Ralph Hefferline sobre o curso dado por
Skinner em 1947- Uma análise psicológica do comportamento verbal.(XVII é repetido por um
erro na numeração original.

I A abordagem tradicional dualística do Problema do Significado


II A abordagem naturalística ao Estudo do Comportamento Verbal
III Maneiras de registrar o Comportamento Verbal
IV A Unidade do Comportamento Verbal
V O Mando
VI O Tato
VII Extensões e generalizações de SD (estímulos discriminativos)
VIII Relações de SD com o Comportamento Verbal
IX A unidade de correspondência entre a Situação e a Resposta Verbal
X Distorções da relação do tato
XI A Audiência
XII A Resposta Verbal Textual
XIII A Resposta Verbal Ecóica
XIV Respostas Intraverbais
XV Causação Múltipla dos Operantes Verbais
XVI Sugestão e Sondagem
XVII Distorções, Deslocamentos e Intrusões do Comportamento Verbal
XVIII O ‘Conhecimento do Locutor’ Sobre o que Ele Está Dizendo
XIX Comportamento Verbal Secundário
XX Comportamento Verbal que Executa Tarefas
XXI O Comportamento do Ouvinte
XXII Estilo
XXIII Pensamento
XXIV Características gerais do Comportamento Verbal
XXV Função Geral do Comportamento Verbal na Sociedade Humana
XXVI Controle do Indivíduo Por Ele Mesmo e pela sociedade
XXVII Utilidades Literárias do Comportamento Verbal
XXVII Análise Funcional versus Análise Correlacional do Comportamento Verbal
XXVIII Diferenças Individuais do Comportamento Verbal
XXIX Aspectos variados do Comportamento Verbal.

Anotações (XXVIII) é dedicada a “Diferenças contínuo do organismo individual é compara-


Individuais em Comportamento Verbal”.Este do com o seu próprio parâmetro de compor-
assunto é completamente abandonado em tamento em um estagio anterior ou posterior.
Comportamento Verbal.Ele nem mesmo apare- (A teoria de Skinner sobre comportamento
ce nas Palestras de William James. Na verdade, examina as propriedades do comportamen-
poucas discussões sobre diferenças individu- to, não dos indivíduos.) Quando Skinner se
ais aparecem em algum lugar do corpus do refere a locutor e interlocutor em Comporta-
trabalho de Skinner, e por uma razão obvia:O mento Verbal, ele esta se referindo as ações
conceito de diferenças individuais surge so- de um organismo individual em relação a
mente quando um organismo é comparado a contingências controladoras de reforço,puni-
outros organismos em uma característica ou ção,discriminação ou indução, não em relação
traço medido por forma métrica.Quociente de a traços de qualidade dos locutores ou inter-
Inteligência é um exemplo clássico na histó- locutores.Em uma ampla seção de Anotações,
ria da pratica psicológica.As diferenças indi- Skinner explica, “nós poderíamos mencionar
viduais não surgem em analise experimental centenas de diferenças entre pessoas em rela-
do comportamento,já que o comportamento ção ao comportamento verbal, para as quais

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194 187
Ernst A. Vargas - Julie S. Vargas - Terry J. Knapp

testes poderiam ser programados se quisésse- de Comportamento Verbal (Skinner,1983,p.84).


mos”.(Anotações,p.70). Mas na seção anterior Hoje o valor de Anotações reside no seu regis-
(XXVII) ele havia descartado a analise de cor- tro da análise de Skinner e esta análise fez a
relação do comportamento verbal– defenden- transição da forma falada para a representa-
do, pelo contrário, a “sua análise funcional”. ção escrita com Comportamento Verbal 10 anos
Esta distinção talvez tenha sido um ponto depois em 1957.A figura 3 fornece uma visão
forte no repertório de Skinner da época pois geral do trabalho no Período Médio.
um dos seus primeiros alunos,John Carroll,
havia estado sob a influencia da análise de Trabalho Final: Fim dos anos 40 até 1950
características, e por conseguinte, da análi-
se de comportamento através de correlações Em uma carta a Fred Keller na prima-
múltiplas de vários testes que poderiam ser vera de 1947, Skinner escreve,
aplicados em locutores individuais (Skinner
,1976,p.213-214).Apesar de ter sido através de Você deve ter visto uma comunicação da mi-
nha designação como palestrante William Ja-
um escrevente, Anotações (1947) fornece o pri-
mes em Harvard no próximo outono. Eu entre-
meiro registro escrito da análise funcional do guei o meu laboratório para os meus assisten-
comportamento verbal de Skinner. tes de pesquisa e [sic] estou passando muitas
As Anotações foram logo substituídas horas por dia em minha mesa trabalhando e
por Palestras de William James (Skinner,1948). eu estou certo desta vez que será a versão final
de Comportamento Verbal. Boring fez meia
Quando um segundo registro da análise de volta e está fantasticamente amigável de todas
Skinner foi publicado em um livro pioneiro as formas.
da ciência do comportamento (Keller&Schoe
nfeld,1950), foi Palestras de William James que Boring e Skinner haviam tido um re-
constituiu a sua base.No início dos anos 50, lacionamento tenso quando ele era um aluno
Skinner mencionou a disponibilidade de tan- de graduação e Boring o chefe do Departa-
to Anotações quanto de Palestras e a necessida- mento de Psicologia.Skinner era um defensor
de urgente de um livro para Ciência Natural fervoroso do comportamentalismo e Boring
114( seu curso de graduação em Harvard) um defensor ardente do estruturalismo.Mas
como as razões para adiar uma versão final agora tudo era passado.Por mérito de Boring,

188 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194
Análise do comportamento verbal segundo B.F. Skinner: um estudo

ele reconheceu a contribuição de Skinner para cipais.Quando as pessoas falaram , escreveram


a ciência do comportamento.Ele tomou a ini- ou gesticularam, elas não estavam expressan-
do idéias ou significados ou comunicando
ciativa de levar Skinner de volta a Harvard informação;eles estavam se comportando de
como membro docente e arranjar sua indica- maneiras determinadas por certas contingên-
ção como palestrante em William James. Era cias de reforço mantidas por uma comunidade
a grande oportunidade de Skinner de apre- verbal.As contingências possuíam proprieda-
des responsáveis pela natureza do comporta-
sentar sua teoria de comportamento verbal
mento verbal.P.334).
para uma das mais importantes comunidades
acadêmicas e intelectuais do país. Ele deu o
No outono de 1947,ele escreve para
melhor de si e fez disso o melhor conjunto de
Fred Keller outra vez,
circunstancias para terminar o seu livro em
Comportamento Verbal. As palestras estão indo bem.Garry está satisfei-
As palestras William James deram a to.A minha audiência tem se mantido melhor
Skinner a oportunidade e o incentivo para do que as palestras de WJ, e umas tantas pes-
novamente mergulhar profundamente no soas estão muito entusiasmadas (Larichards
por exemplo [sic]).Eu estou escrevendo cerca
assunto. Como ele depois escreveu em sua de 10.000 palavras por semana – e indo dor-
autobiografia, A Formação de um Behaviorista mir às 8:30 para dar conta. Mas eu estou com
(1979), “Obviamente meu assunto seria com- as energias revigoradas e a não ser por motivo
portamento verbal. Exceto por um seminário, de doença, vou terminar segundo a programa-
ção.Mais uns dois meses para ter o manuscrito
eu não havia feito nenhum trabalho sobre isso
pronto.
desde que vim para Bloomington;”(p.324).O
seminário a que ele se refere foi um que ele
Dez anos se passariam para que ele ti-
deu no verão anterior na Universidade de
vesse “o manuscrito (Ms) pronto.”
Columbia.(Bloomington se referiu a sua in-
Boring estava satisfeito (ele exigiu a
dicação para o Departamento de Psicologia
indicação de Skinner em Harvard), mas era
onde ele agora era presidente). “Eu poderia
factual sobre as palestras e o seu impacto, e o
me defender das exigências da presidência
que poderia ser feito com elas.
mas indubitavelmente eu havia divagado”(S
kinner,1979,p.324). A primeira palestra foi moderada, mas não
Em sua autobiografia , Formação de um muito bem planejada, pois a primeira parte
Behaviorista (1979), Skinner descreve bem a si- soou como se estivesse sendo lida(e foi) e a
tuação: ultima parte muito corrida pra ser compreen-
dida.Mas o Fred é inteligente o suficiente para
aprender e ele cortou cerca de vinte por cento
Semana após semana eu escrevi minhas pa-
da segunda Palestra.Leu bem devagar e teve
lestras, e Kitty Miler as datilografou. Eu as
a audiência completamente com ele.Houve
aderecei em sucessivas tardes de sextas-feiras.
uma pequena diminuição do primeiro para o
No primeiro dia minha audiência foi bastante
segundo dia – talvez 220 na primeira vez e
grande , e então se acomodou a um numero
210 na segunda. I.A.Richards veio e George
característico de uma seqüência de palestras.
Parker também , mas a maior parte era um
Ivor Richards…não apenas veio como leu
grupo desconhecido que assiste palestras em
minhas palestras enquanto eu as ministrava.
Cambridge…
Bridgeman veio e frequentemente tinha algo a
Ele as está deixando datilografadas e arruma-
dizer depois...Edna Heidbreder veio de Wel-
das para a publicação a medida que ele con-
lesley e enviou um bom relatório para Mike
tinua, e nós já conversamos com a Harvard
Elliot.
Editora que as quer. O planejamento é fazer
Mais de doze anos depois do desafio de Whi-
um livro de dez Palestras que compreenderá
tehead , eu estava presumivelmente terminan-
cerca de 80,000 palavras além de mais 20,000
do o meu manuscrito sobre comportamento
palavras de artigos secundários inseridos
verbal, mas partindo de uma visão muito mais
como apêndices.(E.G. Boring, 21 de outubro
ampla, e escrevi minhas palestras sabendo que
de 1947).
elas poderiam não ser publicadas tais como
eram.No entanto,elas cobriram os temas prin-

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194 189
Ernst A. Vargas - Julie S. Vargas - Terry J. Knapp

Aparentemente o atraso não foi por Este Índice de 1948 difere considera-
falta de oportunidade para publicar. Antes,a velmente do Índice da versão publicada em
Appleton-Century-Crofts havia mostrado Comportamento Verbal de 1957.
interesse em publicar um livro de Skinner Não foi apenas o nome dos capítulos
sobre comportamento verbal. Como Skinner que era diferente , também uma grande quan-
(1979,p.324) descreve, “Eliot escreveu dizen- tidade dos conteúdos.Por exemplo, a versão
do que Danna Ferrin ficaria feliz de ser libera- de 1948 começa assim:
da do compromisso implícito de publicar um
livro que teria um pequeno público leitor.” CAPÍTULO I: Comportamento Verbal- A Ida-
de das Palavras
Agora Harvard se interessa pela oportunida-
Nós chamamos isso a Idade Atômica, e por
de . A primeira página do manuscrito origi- uma boa razão; mas é possível que nós seja-
nal para o livro sobre comportamento verbal mos lembrados pela nossa preocupação com
se lê: expansivo mais do que com o extremamente
pequeno- por termos almejado as alturas ao
COMPORTAMENTO VERBAL invés das profundezas- e que nós estejamos
Por vivendo na Idade das Palavras.Nada é mais
B.F. Skinner característico dos nossos tempos do que o exa-
William James lectures me dos processos lingüísticos.É verdade,nós
Harvard University não podemos reivindicar que tenhamos des-
1948 coberto nem a potência ou a perfídia das
A ser publicado pela Editora da Uni- palavras,mas nós somos talvez os primeiros
versidade de Harvard a aceitar as conseqüências.Não apenas reco-
Reprodução com a permissão de nhecemos a importância da linguagem nas
relações humanas;de algum modo nós agimos
B.F.Skinner
de acordo.Isto é verdadeiro para todo aspecto
importante do pensamento humano.
Atualmente não se sabe o porquê des- Sendo um átomo ou uma palavra,as ciências
te acordo de publicação não ter dado certo. físicas tem tido um papel principal.Se o mate-
rialismo científico do século dezenove fracas-
O que é sabido é que o índice para a versão
sou, não foi porque alguma filosofia da natu-
de 1948 de Comportamento Verbal difere con- reza foi desaprovada, mas porque a questão se
sideravelmente da versão do final de 1947. O o homem poderia compreender por inteiro a
índice de 1948 era o seguinte: natureza nos termos de qualquer filosofia que
seja, é levantada .

Índice:
Capitulo Um Comportamento Verbal- A Idade das Palavras Pagina 1
Capitulo Dois Comportamento Verbal como um Tema Científico Pagina 20
Capitulo Três Tipos de Comportamento Verbal Pagina 37
Capitulo Quatro Palavras e Coisas- O Problema de Referencia Pagina 57
Capitulo Cinco Fonte Múltipla da Força Verbal Pagina 76
Capitulo Seis Fazendo Sentenças Pagina 94
Capitulo Sete O efeito Sobre o Interlocutor Pagina 115
Capitulo Oito Compreendendo,Real e Artificial Pagina 130
Capitulo Nove Pensando em Palavras Pagina 147
Capitulo Dez O Lugar do comportamento Verbal nos Relacionamentos Humanos Pagina 162

190 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194
Análise do comportamento verbal segundo B.F. Skinner: um estudo

As exigência da prática científica trouxeram caderno pessoal em agosto de 1952 simples-


este assunto as claras como uma questão de va- mente mostrando seus planos de reformular
lidação de enunciados.Algumas palavras cha-
ves – entre elas,é claro, os exemplos clássicos
o trabalho no livro de comportamento verbal.
como “espaço” e “tempo”-haviam sido exami- Estas mesmas anotações são aparentemente
nadas.Este foi o primeiro ataque embasado ao revisadas em maio de 1953 e abril de 1954
problema de referencia no espírito moderno. onde rabiscos indicam algum tipo de corre-
É curioso que tenha sido feito em uma área a
ção em andamento. Ele tirou uma licença de
qual deva ter parecido menos envolvida em
Harvard para terminar o manuscrito sobre
dificuldades de linguagem.(Skinner,1948,p.1).
comportamento verbal.No seu caderno pes-
soal ele escreve “5/13/55” em uma página
Mas a primeira sentença da primeira
que intitula “Inventário”:
pagina da versão publicada em 1957 de Com-
portamento Verbal mostrou um enfoque bem Redigindo. Comportamento Verbal quase ter-
diferente, “Os homens agem no mundo e o minado. Mudei caps.2&3, acrescentei 21 e 22 e
modificam, e são modificados por sua vez pela últimos 3, omiti epílogos ,reduzi apêndices &
conseqüência das suas ações” (Skinner,1957). seção em um capítulo et voila!
No primeiro capítulo agora intitulado “Uma
Análise Funcional do Comportamento Ver- A nota é quase um segredo já que é
bal”, a primeira sentença anuncia a auto con- escrita para ele mesmo. Mas os dois últimos
fiança de Skinner no seu posicionamento teó- termos insinuam um tipo de alegre alivio
rico.Ela aponta diretamente para uma análise combinado com um senso de satisfação por
que se foca nas contingências de seleção e que ter tido êxito em um desafio extraordinário.
começa com a unidade operante derivada de
maneira experimental. Conclusão
Na primavera de 1955 Skinner se en-
contra em Putney,Vermont,uma pequena Nós colocamos a figura 4, uma visão
vila em um dos menores estados dos Estados geral dos últimos dez anos antes da publica-
Unidos no extremo nordestino. Nos prévios ção de Comportamento Verbal, na conclusão
oito anos , ele havia evidentemente estado para enfatizar mais uma vez o entrelaçamen-
revisando suas análises anteriores de com- to do trabalho de Skinner com comportamen-
portamento verbal. Uma carta de D.H.Ferrin to verbal com o trabalho em comportamento
– um editor da Appleton-Century-Crofts edi- que era não mediado. Como mostrado ante-
tora – para R.m.Elliot, datada de 5 de abril de riormente, o mesmo ano (1957) em que ele
1948,fornece mínimos vislumbres isolados terminou Comportamento Verbal , ele também
da sua atividade em comportamento verbal, terminou o seu e de Ferster trabalho monu-
“Na ultima sexta-feira Whitefield viu Keller mental em programas de contingências (Pro-
e Schoenfeld e este último lhe disse que Skin- gramas de Reforço) . Skinner se envolveu e pu-
ner havia deixado para ele ler o que White- blicou outro trabalho experimental, tal qual
field supôs ser pelo menos o primeiro rascu- o com Morse (Morse &Skinner,1957a,1957b).
nho do seu falado livro sobre Comportamen- Além do mais, dentro do seu fundamento
to Verbal.Se isso é verdade eu estou bastante teórico, ele considerou uma quantidade de
surpreso já que eu não tinha conhecimento assuntos culturais e profissionais, por exem-
que Skinner estava trabalhando tão ativa- plo, “Liberdade e controle dos homens” (Ski-
mente neste projeto.”Parece provável que o ner,1955-1956) e “Crítica aos conceitos psica-
que Skinner havia deixado seria uma cópia nalíticos” (Skinner,1954).
de As Palestras de William James.Nós não acha- Da sua teoria do comportamento, ele mais
mos nenhuma documentação dos seus esfor- adiante estendeu as suas aplicações de enge-
ços durante estes oito anos além de algumas nharia, que começaram durante a segunda
anotações rabiscadas apressadamente em seu guerra mundial para a área de treinamen-

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194 191
Ernst A. Vargas - Julie S. Vargas - Terry J. Knapp

to de animais – “Como ensinar os animais” tural – operaram dentro do seu fundamento


(Skinner,1959/1999), e em instituição so- teórico da sua teoria do comportamento; uma
cial da educação – “ A ciência de aprender teoria que também compreendeu o seu tra-
e a arte de ensinar”(Skinner,1959/1999).O balho com comportamento não mediado. Os
primeiro, treinamento de animais,explodiu dois operaram sob os mesmos princípios. O
de uma forma extraordinária em cada esfe- próprio Skinner mostra o seu ponto de vista
ra de cuidados e treinamento com animais não uma mas duas vezes nas páginas finais
,de administração de zoológicos a empre- do seu livro sobre comportamento verbal.
sas comerciais.O segundo, a extensão para a
educação,especificamente começou como ins- Não há nada exclusivamente ou essencial-
mente verbal no material analisado neste li-
trução programada. Mas os seus princípios e
vro. É tudo parte de um campo mais amplo
características se tornaram parte de toda cor- (Skinner,1957,p.452).
rente educacional tanto que aquelas fontes de
instruções programadas não são mais nem re- A principio pareceu que uma completa formu-
conhecidas.Instrução programada se derivou lação em separado seria necessária, mas com
o passar do tempo, e com trabalho simultâneo
diretamente da analise de comportamento na área de comportamento geral provando ser
verbal de Skinner, assim como a maioria do bem sucedido, foi possível chegar a uma for-
treinamento efetivo de linguagem com crian- mulação comum (pp.454-455).
ças autistas.
O resumo acima deixa claro e nos faz pen- A história do trabalho de Skinner com
sar ,mais uma vez,que a análise de Skinner de comportamento verbal é a história de todo o
comportamento mediado – comportamento seu trabalho dentro do fundamento da sua te-
verbal do qual formas são moldadas sob um oria do comportamento.
controle específico por uma comunidade cul-

192 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194
Análise do comportamento verbal segundo B.F. Skinner: um estudo

Referências Bibliográficas

Boring, E. G. (October 21, 1947). Letter to R. M. Elliot. Harvard University Archives.


Crozier, W. J. ( June 3, 1931). Letter to B. F. Skinner. Harvard University Archives.
Crozier, W. J. ( June 4, 1931). Letter to B. F. Skinner. Harvard University Archives. Quoted in
Vargas, E. A. 1995, Prologue, perspectives, and prospects of behaviorology. Behaviorology,
3, p. 108-109.
Elliot, R. M. ( January 9, 1946). Letter to E. G. Boring. Harvard University Archives.
Ferrin, D. H. (April 15, 1948). Letter to R. M. Elliot. Harvard University Archives.
Ferster, C. and Skinner, B. F. (1957/1997). Schedules of Reinforcement. New York: Appleton-
Century-Crofts.
Holtan, G. (1973/rev. ed. 1988). Thematic origins of scientific thought: Kepler to Einstein. Cambridge:
Harvard University Press.
Keller, F. S. & Schoenfeld, W. N. (1950/1995). Principles of psychology: A systematic text in the
science of behavior. New York: Appleton-Century-Crofts/Cambridge, MA; B. F. Skinner
Foundation.
Knapp, T. J. (1986). Ralph F. Hefferline: The Gestalt therapist among the Skinnerians or the
Skinnerian among the Gestalt therapists? Journal of the History of the Behavioral Science, 22,
49-60.
Morse, W. H. and Skinner, B. F. (1957a). A second type of “superstition” in the pigeon. The
American Journal of Psychology, 70, 308-311.
Morse, W. H. and Skinner, B. F. (1957b). Concurrent activity under fixed-interval reinforcement.
Journal of comparative and physiological psychology, 30, 279-283.
Richards, R. J. (1987). Darwin and the emergence of evolutionary theories of mind and behavior. Chicago:
University of Chicago Press.
Skinner, B. F. (1930). The concept of the reflex in the description of behavior. Doctoral dissertation,
Harvard University. Cambridge, MA.
Skinner, B. F. (October 2, 1931). Letter to F. S. Keller. Harvard University Archives. Cambridge,
MA.
Skinner, B. F. (July 2, 1934). Letter to F. S. Keller . Harvard University Archives.
Skinner, B. F. (1935a). Two types of conditioned reflex and a pseudo type. Journal of General
Psychology, 12, 66-77.
Skinner, B. F. (January 18, 1935). Letter to F. S. Keller. Harvard University Archives.
Skinner, B. F. (March 15, 1935). Letter to F. S. Keller. Harvard University Archives.
Skinner, B. F. (June 21, 1935). Letter to F. S. Keller. Harvard University Archives.
Skinner, B. F. (September 25, 1935). Letter to F. S. Keller. Harvard University Archives.
Skinner, B. F. December 6, 1936). Letter to F. S. Keller. Harvard University Archives.
Skinner, B. F. (1936). The verbal summator and a method for the study of latent speech. Journal of
Psychology, 2, 71-107.
Skinner, B. F. (1937). Two types of conditioned reflex: A reply to Konorski and Miller. Journal of
General Psychology, 16, 272-279.
Skinner, B. F. (April 19, 1937). Letter to F. S. Keller. Harvard University Archives.
Skinner, B. F. (1938/1991). The behavior of organisms: An experimental analysis. New York: Appleton-
Century-Crofts /Cambridge, MA; B. F. Skinner Foundation.
Skinner, B. F. (November 14, 1938). Letter to F. S. Keller. Harvard University Archives.
Skinner, B. F. (1939). The alliteration in Shakespeare’s sonnets: A study in literary behavior.
Psychological Record, 3, 186-192.
Skinner, B. F. (1942). The process involved in the repeated guessing of alternatives. Journal of

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194 193
Ernst A. Vargas - Julie S. Vargas - Terry J. Knapp

Experimental Psychology, 30, 495-503.


Skinner, B. F. (1944). Handwritten chronology written in preparation for his autobiography.
Personal collection.
Skinner, B. F. (January 7, 1947). Letter to F. S. Keller. Harvard University Archives.
Skinner, B. F. (Summer, 1947). Hefferline Notes. Transcription of Skinner’s course on verbal behavior
at Columbia University, New York.
Skinner, B. F. (Fall, 1947-no month or day indicated). Letter to F. S. Keller. Harvard University
Archives.
Skinner, B. F. (1948). Verbal Behavior. Unpublished manuscript. Personal Collection.
Skinner, B. F. (1950). Are theories of learning necessary? Psychological Review, 57, 193-216.
Skinner, B. F. (1953). Science and Human Behavior. New York: Macmillan.
Skinner, B. F. (1954). A critique of psychoanalytic concepts. Scientific Monthly, 79, 300-305.
Skinner, B. F. (1955-56). Freedom and the control of men. American Scholar, 25, 47-65.
Skinner, B. F. (1957/1992). Verbal Behavior. New York; Appleton-Century-Crofts/Cambridge,
MA; B. F. Skinner Foundation /Cambridge, MA; B. F. Skinner Foundation.
Skinner, B. F. (1957/1997). Schedules of Reinforcement: New York: Appleton-Century-Crofts/
Cambridge MA; B. F. Skinner Foundation.
Skinner, B. F. (January 27, 1975). Letter to T. J. Knapp. Personal collection.
Skinner, B. F. (1999) How to teach animals. In Cumulative Record, Definitive Edition. B. F. Skinner
Foundation. 605-612. Originally published in 1959.
Skinner, B. F. (1959/1999). The science of learning and the art of teaching. In Cumulative Record,
Definitive Edition. 179-191.
Skinner, B. F. (1969). Contingencies of Reinforcement; a theoretical analysis. Appleton-Century-Crofts,
New York.
Skinner, B. F. (1979). The Shaping of a Behaviorist. New York; Alfred A. Knopf.
Skinner, B. F. (1981). Selection by consequences. Science, 213, 501-504.
Stott, R. (2003). Darwin and the Barnacle. New York; W. W. Norton & Co.
Vargas, E. A. (1992). Introduction II to Verbal Behavior. Cambridge, MA: B. F. Skinner Foundation.
pp. xiii-xv.
Vargas, E. A. (1995). Prologue, perspectives, and prospects of behaviorology. Behaviorology, 3, pp.
107-120.
Vargas, E. A. (1996). Explanatory frameworks and the thema of agency. Behaviorology, 4, pp. 30-
42.
Wallace, A. R. (1869/1922). The Malay Archipelago. London; Macmillan & Co.

Recebido em: 12/11/2007


Primeira decisão editorial em: 21/11/2007
Versão final em: 26/11/2007
Aceito para publicação em: 16/04/2008

194 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 175-194

Das könnte Ihnen auch gefallen