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net/publication/237842667
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Kuruvilla Joseph
Indian Institute of Space Science and Technology
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J OSÉ A. S. PADILHA 2 , ROMILDO D. TOLÊDO FILHO 3 , PAULO R. L. LIMA 4 ,
KURUVILLA J OSEPH 5 , ANTÔNIO F. LEAL 6
RESUMO: No presente trabalho avaliouse a potencialidade de uma argamassa leve contendo
vermiculita e polpa de sisal como material de alto isolamento térmico para utilização nas edificações
rurais. Para tanto, foram realizados ensaios de condutividade térmica, resistência à compressão e à
flexão, densidade aparente, absorção de água e porosidade visando a caracterizar e classificar o
material. Dois tipos de moldagem, vibração e prensagem foram utilizados para produzir os compósitos
que foram curados em água ou autoclave. A densidade dos compósitos variou de 1.150 a 1.700 kg m 3
com índice de vazios variando de 26,1 a 45,6%. As resistências à compressão e à flexão variaram de,
respectivamente, 1,69 a 34,8 MPa e 0,57 a 3,13 MPa, enquanto a condutividade térmica variou de 0,16
a 0,44 W m 1 K 1 . Os resultados indicam que o compósito obtido pode ser utilizado tanto como
material isolante quanto estrutural, sendo uma alternativa segura, ecológica e de baixo custo para
fabricação de blocos, painéis de alvenaria e de placas planas e corrugadas para uso nas edificações
rurais.
PALAVRASCHAVE: compósito leve, polpa de sisal, condutividade térmica.
LIGHTWEIGHT SISAL PULPMORTAR COMPOSITE: MATERIAL OF LOW THERMAL
CONDUCTIVITY FOR RURAL CONSTRUCTIONS USE
SUMMARY: In this paper it was evaluated the potentiality of a lightweight mortar composite
containing vermiculite and sisal pulp as a material of low thermal conductivity to be used in rural
construction. The thermal conductivity, compression and flexural strength, density, water absorption
and porosity were determined to characterise the material. Two production techniques, vibration and
pressure, were used to produce the composites that were cured in water or autoclave. The density and
porosity of the composites ranged from, respectively, 1150 to 1700 kg m 3 and 26.1 to 45.6% whereas
the compressive and flexural strength varied from 1.69 to 34.8 MPa and from 0.57 to 3.13 MPa,
respectively. The thermal conductivity presented values ranging from 0.16 to 0.44 W m 1 K 1 . The
results indicate that the developed lightweight composite can be used as insulating and structural
material. Furthermore, this material can be considered as a safe, lowcost and ecological alternative to
the production of structural elements for use in rural construction.
KEYWORDS: lightweight composite, sisal pulp, thermal conductivity.
1
Trabalho apresentado oralmente no CONBEA 2000.
2
Mestre em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal da Paraíba, email: jasptche@zaz.com.br
3
Professor do Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ, Centro de Tecnologia, Bloco B, Caixa Postal 68506, 21945.970, Rio de
Janeiro, Tel: 0XX212560.5315, email: toledo@labest.coc.ufrj.br
4
Professor do Departamento de Tecnologia da UEFS, Feira de Santana, BA, e aluno de doutorado no PEC/COPPE/UFRJ, email:
paulolop@uefs.br
5
Professor do Department of Chemistry, St. Berchmans’ College, Changanacherry, Kerala, India.
6
Professor do Departamento de Engenharia Agrícola, UFPB, Campina Grande, PB, e aluno de doutorado em Engenharia de Processos
do CCT/UFPB, email: leal@deag.ufpb.br
Recebido pelo Conselho Editorial em: 1º/9/00
Aprovado pelo Conselho Editorial em: 31/5/01
Eng. Agríc., Jaboticabal, v.21, n.1, p.111, jan. 2001
José A. S. Padilha et al. 2
INTRODUÇÃO
Os materiais de construção geralmente têm sua utilização vinculada as suas características de
resistência, durabilidade e custo. Nas edificações para criação animal é recomendável que os materiais
apresentem, adicionalmente, uma baixa condutividade térmica de forma a contribuir para o conforto
térmico das instalações e, conseqüentemente, aumentar a produção animal.
Na criação de suínos, por exemplo, é comprovado que a sensação de conforto térmico eleva o
número de animais por leitegada (NÄÄS, 1989). No caso de aves de postura, se houver desconforto
térmico ocorrerá uma queda no consumo de ração e no ganho de peso das aves, além de uma redução
na espessura da casca, número, peso e volume de ovos (TINÔCO, 1998). O conforto térmico
ambiental é, portanto, um fator determinante no dimensionamento de construções para criação animal.
O acondicionamento térmico de uma instalação pode ser conseguido de forma natural ou
artificial. O acondicionamento artificial consiste nas diversas operações de tratamento do ar tais como
purificação, aquecimento, umidificação, refrigeração, desumidificação, etc. O acondicionamento
natural, normalmente mais barato, pode ser obtido fazendose uma orientação adequada da construção,
colocandose vegetação em seu redor, fazendose a localização correta de entradas e saídas de ar e
utilizandose materiais de construção com boa capacidade de isolamento térmico (BAÊTA & SOUZA,
1997).
O conforto térmico de uma edificação depende de fatores como o calor interno produzido pelos
animais, calor que penetra na construção por incidência solar, calor trocado por condução através das
paredes e teto e trocas térmicas de aquecimento ou resfriamento provocadas pelo ar de ventilação.
Segundo TINÔCO (1998), a principal causa de desconforto térmico em galpões avícolas no verão é a
insolação que contribui, durante o dia, com a parcela mais substancial de calor que penetra na
construção. A utilização de materiais de alto poder de reflexão e que acarretem grande amortecimento
térmico é recomendável, pois será reduzida a carga térmica e se retardará a penetração de calor na
edificação. A seleção do material para cobertura é, portanto, de grande importância para o conforto
térmico das instalações.
Materiais como a telha cerâmica, de cimentoamianto, de alumínio, a chapa zincada ou de aço
galvanizado, o isopor entre duas lâminas de alumínio e o sapé, têm sido utilizados como elementos de
cobertura. Os mais eficientes do ponto de vista de conforto térmico são o isopor entre duas lâminas de
alumínio, o sapé e a telha cerâmica. Entretanto, eles apresentam desvantagens como custo elevado,
baixa durabilidade e exigência de uma estrutura de suporte mais cara e dificuldade de limpeza
(BAÊTA & SOUZA, 1997; TINÔCO, 1998).
Uma alternativa para os elementos de cobertura é a utilização de telhas à base de cimento
reforçado com polpa vegetal. O concreto com fibras de celulose tem sido utilizado com sucesso na
produção de elementos de cobertura, revestimento e vedação em edificações residenciais e comerciais
(COUTTS, 1988; SOROUSHIAN et al., 1994).
No presente trabalho foi desenvolvida uma argamassa leve contendo vermiculita e polpa de sisal,
visando à produção de um material de alto isolamento térmico para ser utilizado na produção de
elementos de cobertura e fechamento para utilização nas edificações rurais. Foram utilizadas duas
técnicas de produção, vibração e prensagem, e dois métodos de cura água e autoclave no
desenvolvimento dos compósitos. Ensaios de resistência à compressão e flexão, condutividade
térmica, densidade aparente, absorção d’água e porosidade foram realizados para caracterizar e
classificar o material.
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Argamassa leve reforçada com polpa de sisal: compósito de baixa condutividade térmica 3
MATERIAL E MÉTODOS
Utilizouse o cimento Portland CP II F32 e uma areia proveniente do leito do Rio Paraíba com
módulo de finura de 1,75, na produção dos compósitos. Vermiculita expandida, agregado leve com
massa específica de 60 a 130 kg m 3 e condutividade térmica de aproximadamente 0,07 W m 1 K 1 , foi
utilizada como substituta parcial da areia em algumas misturas. O módulo de finura da vermiculita foi
de 3,8.
O elemento de reforço utilizado foi a polpa de sisal obtida a partir do resíduo de beneficiamento
da bucha da fibra de sisal por meio do cozimento em meio alcalino. O licor utilizado tinha composição
de 5 litros de água + 250 g de hidróxido de sódio (NaOH) para cada quilo de bucha de sisal. A
polpagem foi feita em autoclave a uma temperatura de 170 o C. O tempo decorrido para atingir essa
temperatura assim como o tempo de cozimento foi de 1 hora. O esfriamento até a temperatura de cerca
de 80 o C deuse em duas horas. Após o esfriamento, a polpa foi removida da autoclave e seca ao ar. O
rendimento do processo foi de 62%. Como a polpa seca apresentou aglomerações, ela foi desagregada
utilizandose um liquidificador doméstico. Na Figura 1 mostrase a microestrutura obtida utilizandose
microscopia eletrônica de varredura (MEV), da vermiculita expandida e da polpa de sisal.
(a) (b )
FIGURA 1. Micrografia eletrônica de varredura da vermiculita expandida (a) e polpa de sisal (b).
A mistura dos materiais foi realizada em uma argamassadeira de 5 litros. Vibração externa foi
usada para compactar as amostras moldadas sem energia de prensagem. Moldagem sob compressão foi
realizada a fim de produzir compósitos com menor índice de vazios e, conseqüentemente, maior
resistência mecânica. A pressão de moldagem utilizada na produção dos corpos de prova cilíndricos de
50 mm de diâmetro e 100 mm de altura, usados na determinação da resistência à compressão, foi de
12,25 MPa, enquanto a pressão utilizada na produção dos corpos de prova de flexão, com dimensões
de 300 mm x 60 mm x 12,7 mm, foi 1,33 MPa.
Os corpos de prova moldados sem energia de prensagem foram curados em água ou autoclave,
enquanto os prensados foram curados apenas em água. Em ambos os casos a cura foi iniciada 48 horas
após a moldagem das amostras. Durante esse período, os corpos de prova foram mantidos nos moldes
cobertos com panos úmidos. A cura em água foi realizada até a idade de 28 dias a uma temperatura de
25 o C. A cura em autoclave, por sua vez, foi realizada a uma temperatura de 180 o C e pressão de
1,0 MPa. O ciclo de autoclavagem correspondeu a um período de 9 horas, sendo 2 horas gastas para
atingir a temperatura e pressão de serviço, 6 horas nas condições de trabalho e 1 hora de esfriamento.
Após a autoclavagem, as amostras foram colocadas em água até a idade de 28 dias quando foram
ensaiadas. Três corpos de prova por mistura, tipo de moldagem e cura foram ensaiados.
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José A. S. Padilha et al. 4
A Tabela 1 apresenta os traços da mistura na qual as seguintes abreviações são utilizadas: c
cimento; a areia; v vermiculita; w/c fator água/cimento e PS polpa de sisal. Informações
adicionais sobre o método de produção e cura dos compósitos são apresentadas em PADILHA (1999).
Os ensaios de resistência à compressão e flexão em quatro pontos foram realizados em uma
prensa MTS de 10 toneladas de capacidade a uma velocidade de deslocamento do travessão de
0,16 mm min 1 , seguindose as recomendações da NBR 7215 (ABNT, 1987) e do RILEM (1984),
respectivamente. Os ensaios de densidade aparente, índice de vazios e absorção de água foram
realizados segundo a NBR 9778 (ABNT, 1987).
TABELA 1. Traços das misturas utilizadas.
Traços das Misturas em Peso
Identificação
(c : a : v : w/c : p)
M1 1 : 1,5 : 0 : 0,50 : 0
M2 1 : 0,75 : 0,75 : 1,50 : 0
M1PS 1 : 1,5 : 0 : 1,75 : 2%
M2PS 1 : 0,75 : 0,75 : 1,75 : 2%
M3PS 1 : 1,125 : 0,375 : 2,0 : 2%
A capacidade de isolamento térmico do material foi verificada por meio da determinação da
condutividade térmica (k) e da resistência térmica (R), utilizandose o método da placa quente
protegida ASTM (1976). Dois corpos de prova de 250 mm x 250 mm x 13 mm foram moldados sob
vibração e curados em água até a idade de 28 dias, quando foram realizados os ensaios. A Figura 2
mostra o aparato experimental.
FIGURA 2. Detalhes do ensaio de condutividade térmica. 1 placa quente; 2 amostra; 3 placa fria;
4 e 5 termômetros para medição de temperatura da placa fria; 6 termômetro para medir
a temperatura da seção de medição; 7 medidor de temperatura do anel de guarda.
A condutividade térmica (k) foi calculada usando a eq.(1), na qual Qx é o fluxo de calor que
passa através da área A normal ao fluxo; e é a espessura da amostra e t1 e t2 as temperaturas nas faces
quente e fria, respectivamente, do corpo de prova. A resistência térmica é dada pela relação entre a
espessura da amostra e a condutividade térmica.
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Argamassa leve reforçada com polpa de sisal: compósito de baixa condutividade térmica 5
Q x e
k = (1)
A (t 1 - t 2 )
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As propriedades físicas e mecânicas das argamassas e dos compósitos estão apresentadas na
Tabela 2. Os resultados obtidos indicam que a introdução da vermiculita e polpa de sisal na argamassa
provocou um aumento no índice de vazios e na absorção de água do material e, como conseqüência,
uma diminuição na densidade aparente e resistência mecânica das misturas.
TABELA 2. Propriedades físicas e mecânicas das misturas cimento, areia, vermiculita e polpa de sisal.
Densidade Índice de Vazios Absorção Resistência Resistência
Mistura Moldagem/Cura
(kg m 3 ) (%) (%) à Compressão (MPa) à Flexão (MPa)
Vibração/água 2130 21,4 10,9 26,17 3,83
M1 Vibração/autoclave 1970 21,2 10,7 39,11 4,60
Pressão/água 2260 16,4 7,8 39,30 5,87
Vibração/água 1190 43,5 39,1 1,69 0,64
M2 Vibração/autoclave 1160 40,8 35,0 4,28 1,05
Pressão/água 1220 36,5 30,0 4,62 2,03
Vibração/água 1460 41,2 31,7 3,83 1,11
M1PS Vibração/autoclave 1390 39,8 28,7 5,23 1,92
Pressão/água 1700 26,1 15,3 34,80 3,13
Vibração/água 1180 45,6 50,3 1,36 0,57
M2PS Vibração/autoclave 1160 43,6 40,9 2,20 0,84
Pressão/água 1200 42,7 38,5 7,20 1,01
Vibração/água 1210 42,0 39,4 1,75 0,79
M3PS Vibração/autoclave 1150 41,2 38,5 4,05 1,13
Pressão/água 1230 37,1 29,7 14,65 1,94
Na Figura 3 mostrase a variação da absorção de água com a densidade aparente para os
resultados do presente estudo e para os obtidos por COUTTS & WARDEN (1992) para argamassas de
cimento reforçadas com polpa de sisal, moldadas sob pressão e por SOROUSHIAN et al., (1994) para
argamassas reforçadas com polpa de celulose. Uma relação exponencial, com coeficiente de regressão
de 0,97, foi ajustada aos conjunto de resultados, indicando a boa concordância dos dados obtidos no
presente estudo com os da literatura. A forte influência da energia de prensagem na redução da
absorção de água e aumento da densidade é claramente observada a partir dos resultados apresentados.
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José A. S. Padilha et al. 6
70
polpa sisal autoclave (presente estudo)
polpa sisal pressao (presente estudo)
60
polpa sisal água (presente estudo)
polpa sisal pressão (Coutts e Warden,1992)
50 polpa de celulose kraft (Soroushian et al, 1994)
Absorção (%)
0,0017 g
40 Abs (%) = 287 e
R = 0,97
30
20
10
0
800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
Densidade aparente (kg/m 3 )
FIGURA 3. Relação entre absorção de água e densidade aparente para argamassas de cimento
reforçadas com polpa de sisal e de celulose.
A redução das propriedades mecânicas, causada pela introdução da polpa de sisal e vermiculita
na matriz de referência (M1), pode ser observada na Figura 4. Isso ocorreu porque a resistência do
compósito é afetada tanto pela porosidade dos próprios materiais constituintes quanto pelos vazios
existentes em seu interior, sejam eles ar aprisionado, poros capilares e poros do cimento gel.
40 40
Resistência à compressão (MPa)
Resistência à compressão (MPa)
Água Água
COMPRESSÃO COMPRESSÃO
35 Autoclave 35 Autoclave
Pressão Pressão
30 30
25 25
20 20
15 15
10 10
5 5
0 0
M1 M1PS M2 M2PS M3PS M1 M1PS M2 M2PS M3PS
Misturas
Misturas Misturas
Misturas
FIGURA 4. Influência da polpa de sisal e da vermiculita na resistência à compressão e flexão da
matriz M1 para as diferentes condições de moldagem e cura.
Na Figura 5 mostrase a microestrutura do compósito curado em água, na qual se observa a
presença de grandes vazios provocados por bolhas de ar aprisionadas próximas aos grãos de
vermiculita e da polpa sisal. Esses vazios podem ser atribuídos às dificuldades observadas durante a
mistura e vibração dos corpos de prova. Aglomerações da polpa de sisal podem ser também
observadas indicando que o processo de desagregação utilizado não foi bastante eficiente,
prejudicando a distribuição da polpa na matriz e aumentando o índice de vazios do compósito.
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Argamassa leve reforçada com polpa de sisal: compósito de baixa condutividade térmica 7
Polpa
Ver miculita
Vazios
FIGURA 5. Micrografia eletrônica de varredura do compósito com indicações dos vazios provocados
pela vermiculita e polpa de sisal.
Com relação aos métodos de moldagem dos compósitos, observouse que a utilização da energia
de prensagem melhorou as propriedades mecânicas do material (Figura 4). Para a mistura M1PS, por
exemplo, observouse acréscimo de 16,4% na densidade, redução de 36,6% no índice de vazios,
elevação de 808% na resistência à compressão e de 182% na resistência à flexão quando procedeuse a
prensagem das misturas. A mistura M2PS, por sua vez, apresentou incremento de 429% na resistência
à compressão e de 77% na resistência à flexão. Os maiores incrementos observados na mistura
contendo apenas polpa de sisal podem ser atribuídos à dificuldade de recompactar a estrutura esfoliada
lamelar da vermiculita (Figuras 1 e 5).
Nas Figuras 6 e 7 são apresentadas curvas típicas obtidas dos ensaios de resistência à
compressão e flexão, respectivamente. Apesar de diminuir a resistência mecânica, a adição de polpa de
sisal aumentou a tenacidade das matrizes que deixaram de apresentar comportamento frágil, com
ruptura brusca. Esse comportamento do material aumentará a capacidade de manuseio e resistência ao
impacto dos elementos de construção que vierem a ser produzidos com esse tipo de reforço.
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José A. S. Padilha et al. 8
Com relação ao tipo de cura, os resultados obtidos indicaram que a cura em autoclave produziu
compósitos com resistência mecânica superior àqueles curados em água. As matrizes M1 e M2, por
exemplo, apresentaram acréscimo na resistência à compressão de 49% e 350% , respectivamente. Esse
tipo de cura é mais efetivo para o concreto com agregado leve porque ele possui menor capacidade
calorífica e maior capacidade de isolamento térmico do que o concreto normal. O resultado final é um
aumento na temperatura interna do concreto leve com conseqüente aceleração da velocidade de
hidratação do cimento e elevação da resistência do material. Devese mencionar que os produtos de
hidratação do concreto autoclavados são estáveis e não apresentam regressão com o tempo
(NEVILLE, 1983).
40
Resistência à compressão (MPa)
M1
35 M1 1:1,5:0,50
M1PS 1:1,5:1,75:2%
Resistência à Compressão (MPa)
M2 1:0,75:0,75:1,50
30 M2 1:0,75:0,75:1,75:2%
M3PS 1:1,125:0,375:2:2%
M1PS
25
20
15
M3PS
10
M2PS
5
M2
0
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000
Deformação (με) Deformação ( me )
FIGURA 6. Curvas tensãodeformação típicas, em compressão, dos compósitos moldados com energia
de prensagem.
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Argamassa leve reforçada com polpa de sisal: compósito de baixa condutividade térmica 9
Carga (kN)
0.4
0.35 M1 1:1,5:0,50
M1PS 1:1,5:1,75:2%
M2 1:0,75:0,75:1,50
M2PS 1:0,75:0,75:1,50: 2%
0.3
M3PS 1:1,125:0,375:2:2%
M1
Carga (kN)
0.25
0.2
M1PS
0.15
0.1
M2
0.05 M3PS
M2PS
0
0 1 2 3 4 5
Deslocamento (mm) Deslocamento (mm)
FIGURA 7. Curvas cargadeslocamento típicas, em flexão, dos compósitos moldados com energia de
prensagem.
As propriedades térmicas dos compósitos estão apresentadas na Tabela 3. Os resultados indicam
que a adição da polpa de sisal e vermiculita ao concreto reduziu significativamente sua condutividade
térmica. Por exemplo, a substituição de 50% de areia por vermiculita, mistura M2, reduziu a
condutividade da mistura M1 em cerca de 60%, enquanto a adição de 2% de polpa, mistura M1PS,
reduziu a condutividade térmica da mistura M1 em 40%. Quando ambos, polpa e vermiculita, estavam
presentes na mistura a redução atingiu 74% para a mistura M3PS e 79% para a mistura M2PS.
Dos resultados apresentados nas Tabelas 2 e 3 observase que a redução na condutividade
térmica foi acompanhada por um acréscimo na porosidade e por uma redução na densidade e
resistência mecânica dos compósitos. Uma relação não linear entre essas propriedades pode ser vista
na Figura 8 e esse comportamento está em concordância com as observações feitas por NEVILLE
(1983) para o concreto leve e por SARJA (1988) para argamassas reforçadas com polpa de celulose.
TABELA 3. Propriedades térmicas das argamassas e dos compósitos.
Mistura Condutividade Térmica (W m 1 K 1 ) Resistência Térmica (m 2 K 1 W 1 )
M1 0,74 0,016
M2 0,29 0,048
M1PS 0,44 0,027
M2PS 0,16 0,086
M3PS 0,19 0,08
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José A. S. Padilha et al. 10
Índice de vazios (%)
21,4 41,2 42 43,5 45,6
30 1
Resistência à compressão(MPa)
Condutividade térmica (W/mK)
Resistência à flexão x 5 (Mpa)
compressão
25 flexão 0,8
condutividade
20
0,6
15
0,4
10
0,2
5
0 0
1840,02 1218,21 1112,28 955,94 871,74
Densidade (kg/m3)
FIGURA 8. Variação da condutividade térmica das misturas com as suas propriedades físicas e
mecânicas.
Com base nos valores de resistência à compressão, densidade e condutividade térmica do
material é possível classificálo para diferentes aplicações nas edificações rurais. A Tabela 4 apresenta
a classificação estabelecida pelo RILEM (1978) para concretos leves isolantes, estrutural/isolantes e
estruturais.
TABELA 4. Classificação dos concretos leves.
Classe e Tipo
Propriedades
I Estrutural II Estrutural/isolante III Isolante
Resistência à compressão (MPa) > 15,0 > 3,5 > 0,5
Condutividade térmica (W m 1 K 1 ) N/A < 0,75 < 0,3
Densidade aparente (kg m 3 ) 16002000 < 1600 << 1450
Com base na Tabela 4, os compósitos desenvolvidos no presente estudo podem ser
caracterizados como sendo do tipo I, II ou III dependendo das condições de cura e moldagem. Os
compósitos vibrados e curados em água, por exemplo, atendem às condições estabelecidas para
material isolante enquanto o material prensado pode, adicionalmente, ser usado estruturalmente. A
argamassa com polpa de sisal pode ser, então, utilizada na fabricação de elementos estruturais como
blocos ou painéis para alvenaria e telhas planas ou corrugadas para uso nas edificações rurais. Ele pode
também ser utilizado para produzir placas leves para servir como forros sob coberturas, melhorando
sua capacidade de isolamento térmico.
Uma comparação das propriedades térmicas do material desenvolvido com a dos materiais
tradicionalmente utilizados nas construções rurais é apresentada na Tabela 5. Observandose os
resultados, notase que o compósito contendo vermiculita e polpa de sisal apresenta uma maior
capacidade de isolamento térmico, o que contribuirá para o conforto das instalações e produtividade
animal.
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Argamassa leve reforçada com polpa de sisal: compósito de baixa condutividade térmica 11
TABELA 5. Coeficiente de condutividade térmica de materiais de construção para alvenaria e
cobertura.
Densidade Condutividade
Material
(kg m 3 ) Térmica (W m 1 K 1 )
Compósitos Argamassa 1:1,5:0,5 2130 0,74
desenvolvidos Argamassa com polpa de sisal 1460 0,44
Argamassa com polpa de sisal e vermiculita 1160 0,16
Cimentoamianto 1600 0,95
Material de Telha cerâmica 0,93
cobertura Zinco 7130 112
Alumínio 2700 230
Bloco de concreto celular 450600 0,050,20
Material para Bloco de concreto celular autoclavado 400 0,12
alvenaria Tijolo maciço prensado 1600 0,92
Bloco de terra comprimido 1,15
CONCLUSÕES
A utilização de polpa de sisal e vermiculita nas argamassas de cimento Portland permitiu a
obtenção de um material com características de resistência, densidade e condutividade térmica que
situamse dentro dos valores práticos recomendados internacionalmente para uso como material
isolante ou estrutural. Acreditase que a elevada capacidade de isolamento térmico apresentado pelo
material contribuirá significativamente para o conforto das instalações rurais e, conseqüentemente,
para o incremento da produtividade animal.
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