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Argamassa leve reforçada com polpa de sisal: compósito de baixa condutividade


térmica para uso em edificações rurais

Article · January 2001

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5 authors, including:

Romildo Dias Toledo Filho Paulo Lima


Federal University of Rio de Janeiro Universidade Estadual de Feira de Santana
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Kuruvilla Joseph
Indian Institute of Space Science and Technology
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ARGAMASSA LEVE REFORÇADA COM POLPA DE SISAL: COMPÓSITO DE BAIXA 
CONDUTIVIDADE TÉRMICA PARA USO EM EDIFICAÇÕES RURAIS 1 

J OSÉ A. S. PADILHA 2 , ROMILDO D. TOLÊDO FILHO 3 , PAULO R. L. LIMA 4 , 
KURUVILLA J OSEPH 5 ,  ANTÔNIO F. LEAL 6 

RESUMO:  No  presente  trabalho  avaliou­se  a  potencialidade  de  uma  argamassa  leve  contendo 
vermiculita e polpa de sisal como material de alto isolamento térmico para utilização nas edificações 
rurais.  Para  tanto,  foram  realizados  ensaios  de  condutividade  térmica,  resistência  à  compressão  e  à 
flexão,  densidade  aparente,  absorção  de  água  e  porosidade  visando  a  caracterizar  e  classificar  o 
material. Dois tipos de moldagem, vibração e prensagem foram utilizados para produzir os compósitos 
que foram curados em água ou autoclave. A densidade dos compósitos variou de 1.150 a 1.700 kg m ­3 
com índice de vazios variando de 26,1 a 45,6%. As resistências à compressão e à flexão variaram de, 
respectivamente, 1,69 a 34,8 MPa e 0,57 a 3,13 MPa, enquanto a condutividade térmica variou de 0,16 
a  0,44  W m ­1 K ­1 .  Os  resultados  indicam  que  o  compósito  obtido  pode  ser  utilizado  tanto  como 
material  isolante  quanto  estrutural,  sendo  uma  alternativa  segura,  ecológica  e  de  baixo  custo  para 
fabricação  de  blocos,  painéis  de  alvenaria  e  de  placas  planas  e  corrugadas  para  uso  nas  edificações 
rurais. 

PALAVRAS­CHAVE: compósito leve, polpa de sisal, condutividade térmica. 

LIGHTWEIGHT SISAL PULP­MORTAR COMPOSITE: MATERIAL OF LOW THERMAL 
CONDUCTIVITY FOR RURAL CONSTRUCTIONS USE 

SUMMARY: In  this  paper  it  was  evaluated  the  potentiality  of  a  lightweight  mortar  composite 
containing  vermiculite  and  sisal  pulp  as  a  material  of  low  thermal  conductivity  to  be  used  in  rural 
construction.  The  thermal  conductivity,  compression  and  flexural  strength,  density,  water  absorption 
and porosity were determined to characterise the  material. Two production techniques, vibration and 
pressure, were used to produce the composites that were cured in water or autoclave. The density and 
porosity of the composites ranged from, respectively, 1150 to 1700 kg m ­3  and 26.1 to 45.6% whereas 
the  compressive  and  flexural  strength  varied  from  1.69  to  34.8  MPa  and  from  0.57  to  3.13  MPa, 
respectively.  The  thermal  conductivity  presented  values  ranging  from  0.16  to  0.44  W m ­1 K ­1 .  The 
results  indicate  that  the  developed  lightweight  composite  can  be  used  as  insulating  and  structural 
material. Furthermore, this material can be considered as a safe, low­cost and ecological alternative to 
the production of structural elements for use in rural construction. 

KEYWORDS: lightweight composite, sisal pulp, thermal conductivity. 


Trabalho apresentado oralmente no CONBEA 2000. 

Mestre em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal da Paraíba, e­mail: jasptche@zaz.com.br 

Professor do Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ, Centro de Tecnologia, Bloco B, Caixa Postal 68506, 21945.970, Rio de 
Janeiro, Tel: 0XX21­2560.5315, e­mail: toledo@labest.coc.ufrj.br 

Professor  do  Departamento  de  Tecnologia  da  UEFS,  Feira  de  Santana,  BA,  e  aluno  de  doutorado  no  PEC/COPPE/UFRJ,  e­mail: 
paulolop@uefs.br 

Professor do Department of Chemistry, St. Berchmans’ College, Changanacherry, Kerala, India. 

Professor do Departamento de Engenharia Agrícola, UFPB, Campina Grande, PB, e aluno de doutorado em Engenharia de Processos 
do CCT/UFPB, e­mail: leal@deag.ufpb.br 
Recebido pelo Conselho Editorial  em: 1º/9/00 
Aprovado pelo Conselho Editorial em: 31/5/01 
Eng. Agríc., Jaboticabal, v.21, n.1, p.1­11, jan. 2001
José A. S. Padilha et al.  2 

INTRODUÇÃO 
Os  materiais  de  construção  geralmente  têm  sua  utilização  vinculada  as  suas  características  de 
resistência, durabilidade e custo. Nas edificações para criação animal é recomendável que os materiais 
apresentem,  adicionalmente,  uma  baixa  condutividade  térmica  de  forma  a  contribuir  para  o  conforto 
térmico das instalações e, conseqüentemente, aumentar a produção animal. 
Na criação de  suínos, por exemplo, é comprovado que a sensação de conforto térmico eleva o 
número de animais por  leitegada (NÄÄS, 1989). No caso de aves de postura, se houver desconforto 
térmico ocorrerá uma queda no consumo de ração e no ganho de peso das aves, além de uma redução 
na  espessura  da  casca,  número,  peso  e  volume  de  ovos  (TINÔCO,  1998).  O  conforto  térmico 
ambiental é, portanto, um fator determinante no dimensionamento de construções para criação animal. 
O  acondicionamento  térmico  de  uma  instalação  pode  ser  conseguido  de  forma  natural  ou 
artificial. O acondicionamento artificial consiste nas diversas operações de tratamento do ar tais como 
purificação,  aquecimento,  umidificação,  refrigeração,  desumidificação,  etc.  O  acondicionamento 
natural, normalmente mais barato, pode ser obtido fazendo­se uma orientação adequada da construção, 
colocando­se  vegetação  em  seu  redor,  fazendo­se  a  localização  correta  de  entradas  e  saídas  de  ar  e 
utilizando­se materiais de construção com boa capacidade de isolamento térmico (BAÊTA & SOUZA, 
1997). 
O conforto térmico de uma edificação depende de fatores como o calor interno produzido pelos 
animais, calor que penetra na construção por incidência solar, calor trocado por condução através das 
paredes  e  teto  e  trocas  térmicas  de  aquecimento  ou  resfriamento  provocadas  pelo  ar  de  ventilação. 
Segundo TINÔCO (1998), a principal causa de desconforto térmico em galpões avícolas no verão é a 
insolação  que  contribui,  durante  o  dia,  com  a  parcela  mais  substancial  de  calor  que  penetra  na 
construção. A utilização de materiais de alto poder de reflexão e que acarretem grande amortecimento 
térmico  é  recomendável,  pois  será  reduzida  a  carga  térmica  e  se  retardará  a  penetração  de  calor  na 
edificação.  A  seleção  do  material  para  cobertura  é,  portanto,  de  grande  importância  para  o  conforto 
térmico das instalações. 
Materiais como a telha cerâmica, de cimento­amianto, de alumínio, a chapa zincada ou de aço 
galvanizado, o isopor entre duas lâminas de alumínio e o sapé, têm sido utilizados como elementos de 
cobertura. Os mais eficientes do ponto de vista de conforto térmico são o isopor entre duas lâminas de 
alumínio,  o  sapé  e  a  telha  cerâmica.  Entretanto,  eles  apresentam  desvantagens  como  custo  elevado, 
baixa  durabilidade  e  exigência  de  uma  estrutura  de  suporte  mais  cara  e  dificuldade  de  limpeza 
(BAÊTA & SOUZA, 1997; TINÔCO, 1998). 
Uma  alternativa  para  os  elementos  de  cobertura  é  a  utilização  de  telhas  à  base  de  cimento 
reforçado  com  polpa  vegetal.  O  concreto  com  fibras  de  celulose  tem  sido  utilizado  com  sucesso  na 
produção de elementos de cobertura, revestimento e vedação em edificações residenciais e comerciais 
(COUTTS, 1988; SOROUSHIAN et al., 1994). 
No presente trabalho foi desenvolvida uma argamassa leve contendo vermiculita e polpa de sisal, 
visando  à  produção  de  um  material  de  alto  isolamento  térmico  para  ser  utilizado  na  produção  de 
elementos  de  cobertura  e  fechamento  para  utilização  nas  edificações  rurais.  Foram  utilizadas  duas 
técnicas  de  produção,  vibração  e  prensagem,  e  dois  métodos  de  cura  ­  água  e  autoclave  ­  no 
desenvolvimento  dos  compósitos.  Ensaios  de  resistência  à  compressão  e  flexão,  condutividade 
térmica,  densidade  aparente,  absorção  d’água  e  porosidade  foram  realizados  para  caracterizar  e 
classificar o material.

Eng. Agríc., Jaboticabal, v.21, n.1, p.1­11, jan. 2001 
Argamassa leve reforçada com polpa de sisal: compósito de baixa condutividade térmica  3 

MATERIAL E MÉTODOS 
Utilizou­se o cimento Portland CP II F­32 e uma areia proveniente do leito do Rio Paraíba com 
módulo  de  finura  de  1,75,  na  produção  dos  compósitos.  Vermiculita  expandida,  agregado  leve  com 
massa específica de 60 a 130 kg m ­3  e condutividade térmica de aproximadamente 0,07 W m ­1 K ­1 , foi 
utilizada como substituta parcial da areia em algumas misturas. O módulo de finura da vermiculita foi 
de 3,8. 
O elemento de reforço utilizado foi a polpa de sisal obtida a partir do resíduo de beneficiamento 
da bucha da fibra de sisal por meio do cozimento em meio alcalino. O licor utilizado tinha composição 
de  5  litros  de  água  +  250  g  de  hidróxido  de  sódio  (NaOH)  para  cada  quilo  de  bucha  de  sisal.  A 
polpagem  foi  feita em autoclave a uma temperatura de 170  o C.  O tempo decorrido para atingir essa 
temperatura assim como o tempo de cozimento foi de 1 hora. O esfriamento até a temperatura de cerca 
de 80 o C deu­se em duas horas. Após o esfriamento, a polpa foi removida da autoclave e seca ao ar. O 
rendimento do processo foi de 62%. Como a polpa seca apresentou aglomerações, ela foi desagregada 
utilizando­se um liquidificador doméstico. Na Figura 1 mostra­se a microestrutura obtida utilizando­se 
microscopia eletrônica de varredura (MEV), da vermiculita expandida e da polpa de sisal. 
(a)  (b ) 

FIGURA 1. Micrografia eletrônica de varredura da vermiculita expandida (a) e polpa de sisal (b). 
A  mistura dos  materiais  foi realizada em  uma argamassadeira de 5  litros. Vibração externa  foi 
usada para compactar as amostras moldadas sem energia de prensagem. Moldagem sob compressão foi 
realizada  a  fim  de  produzir  compósitos  com  menor  índice  de  vazios  e,  conseqüentemente,  maior 
resistência mecânica. A pressão de moldagem utilizada na produção dos corpos de prova cilíndricos de 
50 mm de diâmetro e 100 mm de altura, usados na determinação da resistência à compressão, foi de 
12,25 MPa, enquanto a pressão utilizada na produção dos corpos de prova de flexão, com dimensões 
de 300 mm x 60 mm x 12,7 mm, foi 1,33 MPa. 
Os corpos de prova moldados sem energia de prensagem foram curados em água ou autoclave, 
enquanto os prensados foram curados apenas em água. Em ambos os casos a cura foi iniciada 48 horas 
após a moldagem das amostras. Durante esse período, os corpos de prova foram mantidos nos moldes 
cobertos com panos úmidos. A cura em água foi realizada até a idade de 28 dias a uma temperatura de 
25 o C.  A  cura  em  autoclave,  por  sua  vez,  foi  realizada  a  uma  temperatura  de  180  o C  e  pressão  de 
1,0 MPa. O ciclo de autoclavagem correspondeu a um período de 9 horas, sendo 2 horas gastas para 
atingir a temperatura e pressão de serviço, 6 horas nas condições de trabalho e 1 hora de esfriamento. 
Após  a  autoclavagem,  as  amostras  foram  colocadas  em  água  até  a  idade  de  28  dias  quando  foram 
ensaiadas. Três corpos de prova por mistura, tipo de moldagem e cura foram ensaiados.
Eng. Agríc., Jaboticabal, v.21, n.1, p.1­11, jan. 2001 
José A. S. Padilha et al.  4 

A  Tabela  1  apresenta  os  traços  da  mistura  na  qual  as  seguintes  abreviações  são  utilizadas:  c  ­ 
cimento;  a  ­  areia;  v  ­  vermiculita;  w/c  ­  fator  água/cimento  e  PS  ­  polpa  de  sisal.  Informações 
adicionais sobre o método de produção e cura dos compósitos são apresentadas em PADILHA (1999). 
Os  ensaios  de  resistência  à  compressão  e  flexão  em  quatro  pontos  foram  realizados  em  uma 
prensa  MTS  de  10  toneladas  de  capacidade  a  uma  velocidade  de  deslocamento  do  travessão  de 
0,16 mm min ­1 ,  seguindo­se  as  recomendações  da  NBR  7215  (ABNT,  1987)  e  do  RILEM  (1984), 
respectivamente.  Os  ensaios  de  densidade  aparente,  índice  de  vazios  e  absorção  de  água  foram 
realizados segundo a NBR 9778 (ABNT, 1987). 

TABELA 1. Traços das misturas utilizadas. 
Traços das Misturas em Peso 
Identificação 
(c : a : v : w/c : p) 
M1  1 : 1,5 : 0 : 0,50 : 0 
M2  1 : 0,75 : 0,75 : 1,50 : 0 
M1PS  1 : 1,5 : 0 : 1,75 : 2% 
M2PS  1 : 0,75 : 0,75 : 1,75 : 2% 
M3PS  1 : 1,125 : 0,375 : 2,0 : 2% 

A  capacidade  de  isolamento  térmico  do  material  foi  verificada  por  meio  da  determinação  da 
condutividade  térmica  (k)  e  da  resistência  térmica  (R),  utilizando­se  o  método  da  placa  quente 
protegida ASTM (1976). Dois corpos de prova de 250 mm x 250 mm x 13 mm foram moldados sob 
vibração  e  curados  em  água  até  a  idade  de  28  dias,  quando  foram  realizados  os  ensaios.  A  Figura  2 
mostra o aparato experimental. 

FIGURA 2. Detalhes do ensaio de condutividade térmica. 1 ­ placa quente; 2 ­ amostra; 3 ­ placa fria; 
4 e 5 ­ termômetros para medição de temperatura da placa fria; 6 ­ termômetro para medir 
a temperatura da seção de medição; 7 ­ medidor de temperatura do anel de guarda. 

A  condutividade  térmica  (k)  foi  calculada  usando  a  eq.(1),  na  qual  Qx  é  o  fluxo  de  calor  que 
passa através da área A normal ao fluxo; e é a espessura da amostra e t1  e t2  as temperaturas nas faces 
quente  e  fria,  respectivamente,  do  corpo  de  prova.  A  resistência  térmica  é  dada  pela  relação  entre  a 
espessura da amostra e a condutividade térmica.

Eng. Agríc., Jaboticabal, v.21, n.1, p.1­11, jan. 2001 
Argamassa leve reforçada com polpa de sisal: compósito de baixa condutividade térmica  5 

Q x e 
k =  (1) 
A (t 1  - t 2 ) 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
As  propriedades  físicas  e  mecânicas  das  argamassas  e  dos  compósitos  estão  apresentadas  na 
Tabela 2. Os resultados obtidos indicam que a introdução da vermiculita e polpa de sisal na argamassa 
provocou um aumento no índice de vazios e na absorção de água do material e, como conseqüência, 
uma diminuição na densidade aparente e resistência mecânica das misturas. 
TABELA 2. Propriedades físicas e mecânicas das misturas cimento, areia, vermiculita e polpa de sisal. 
Densidade  Índice de Vazios  Absorção  Resistência  Resistência 
Mistura  Moldagem/Cura 
(kg m ­3 )  (%)  (%)  à Compressão (MPa)  à Flexão (MPa) 
Vibração/água  2130  21,4  10,9  26,17  3,83 
M1  Vibração/autoclave  1970  21,2  10,7  39,11  4,60 
Pressão/água  2260  16,4  7,8  39,30  5,87 
Vibração/água  1190  43,5  39,1  1,69  0,64 
M2  Vibração/autoclave  1160  40,8  35,0  4,28  1,05 
Pressão/água  1220  36,5  30,0  4,62  2,03 
Vibração/água  1460  41,2  31,7  3,83  1,11 
M1PS  Vibração/autoclave  1390  39,8  28,7  5,23  1,92 
Pressão/água  1700  26,1  15,3  34,80  3,13 
Vibração/água  1180  45,6  50,3  1,36  0,57 
M2PS  Vibração/autoclave  1160  43,6  40,9  2,20  0,84 
Pressão/água  1200  42,7  38,5  7,20  1,01 
Vibração/água  1210  42,0  39,4  1,75  0,79 
M3PS  Vibração/autoclave  1150  41,2  38,5  4,05  1,13 
Pressão/água  1230  37,1  29,7  14,65  1,94 

Na  Figura  3  mostra­se  a  variação  da  absorção  de  água  com  a  densidade  aparente  para  os 
resultados do presente estudo e para os obtidos por COUTTS & WARDEN (1992) para argamassas de 
cimento reforçadas com polpa de sisal, moldadas sob pressão e por SOROUSHIAN et al., (1994) para 
argamassas reforçadas com polpa de celulose. Uma relação exponencial, com coeficiente de regressão 
de 0,97, foi ajustada aos conjunto de resultados, indicando a boa concordância dos dados obtidos  no 
presente  estudo  com  os  da  literatura.  A  forte  influência  da  energia  de  prensagem  na  redução  da 
absorção de água e aumento da densidade é claramente observada a partir dos resultados apresentados.

Eng. Agríc., Jaboticabal, v.21, n.1, p.1­11, jan. 2001 
José A. S. Padilha et al.  6 

70 
polpa sisal ­ autoclave (presente estudo) 
polpa sisal ­ pressao (presente estudo) 
60 
polpa sisal ­ água (presente estudo) 
polpa sisal ­ pressão (Coutts e Warden,1992) 
50  polpa de celulose ­ kraft (Soroushian et al, 1994) 

Absorção (%) 
­0,0017 g 
40  Abs (%) = 287 e 
R = 0,97 

30 

20 

10 


800  1000  1200  1400  1600  1800  2000 
Densidade aparente  (kg/m 3 ) 

FIGURA 3. Relação  entre  absorção  de  água  e  densidade  aparente  para  argamassas  de  cimento 
reforçadas com polpa de sisal e de celulose. 
A redução das propriedades mecânicas, causada pela introdução da polpa de sisal e vermiculita 
na  matriz  de  referência  (M1),  pode  ser  observada  na  Figura  4.  Isso  ocorreu  porque  a  resistência  do 
compósito  é  afetada  tanto  pela  porosidade  dos  próprios  materiais  constituintes  quanto  pelos  vazios 
existentes em seu interior, sejam eles ar aprisionado, poros capilares e poros do cimento gel. 

40  40 
Resistência à compressão (MPa) 

Resistência à compressão (MPa) 

Água  Água 
COMPRESSÃO  COMPRESSÃO 
35  Autoclave  35  Autoclave 
Pressão  Pressão 
30  30 

25  25 

20  20 

15  15 

10  10 

5  5 

0  0 
M1  M1PS  M2  M2PS  M3PS  M1  M1PS  M2  M2PS  M3PS 

Misturas 
Misturas  Misturas
Misturas 

FIGURA 4. Influência  da  polpa  de  sisal  e  da  vermiculita  na  resistência  à  compressão  e  flexão  da 
matriz M1 para as diferentes condições de moldagem e cura. 

Na  Figura  5  mostra­se  a  microestrutura  do  compósito  curado  em  água,  na  qual  se  observa  a 
presença  de  grandes  vazios  provocados  por  bolhas  de  ar  aprisionadas  próximas  aos  grãos  de 
vermiculita e da polpa  sisal. Esses  vazios podem  ser atribuídos às dificuldades observadas durante a 
mistura  e  vibração  dos  corpos  de  prova.  Aglomerações  da  polpa  de  sisal  podem  ser  também 
observadas  indicando  que  o  processo  de  desagregação  utilizado  não  foi  bastante  eficiente, 
prejudicando a distribuição da polpa na matriz e aumentando o índice de vazios do compósito. 

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Argamassa leve reforçada com polpa de sisal: compósito de baixa condutividade térmica  7 

Polpa 
Ver miculita 

Vazios 

FIGURA 5. Micrografia eletrônica de varredura do compósito com indicações dos vazios provocados 
pela vermiculita e polpa de sisal. 

Com relação aos métodos de moldagem dos compósitos, observou­se que a utilização da energia 
de prensagem melhorou as propriedades mecânicas do material (Figura 4). Para a mistura M1PS, por 
exemplo,  observou­se  acréscimo  de  16,4%  na  densidade,  redução  de  36,6%  no  índice  de  vazios, 
elevação de 808% na resistência à compressão e de 182% na resistência à flexão quando procedeu­se a 
prensagem das misturas. A mistura M2PS, por sua vez, apresentou incremento de 429% na resistência 
à  compressão  e  de  77%  na  resistência  à  flexão.  Os  maiores  incrementos  observados  na  mistura 
contendo apenas polpa de sisal podem ser atribuídos à dificuldade de recompactar a estrutura esfoliada 
lamelar da vermiculita (Figuras 1 e 5). 
Nas  Figuras  6  e  7  são  apresentadas  curvas  típicas  obtidas  dos  ensaios  de  resistência  à 
compressão e flexão, respectivamente. Apesar de diminuir a resistência mecânica, a adição de polpa de 
sisal  aumentou  a  tenacidade  das  matrizes  que  deixaram  de  apresentar  comportamento  frágil,  com 
ruptura brusca. Esse comportamento do material aumentará a capacidade de manuseio e resistência ao 
impacto dos elementos de construção que vierem a ser produzidos com esse tipo de reforço.

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José A. S. Padilha et al.  8 

Com relação ao tipo de cura, os resultados obtidos indicaram que a cura em autoclave produziu 
compósitos  com  resistência  mecânica  superior  àqueles  curados  em  água.  As  matrizes  M1  e  M2,  por 
exemplo, apresentaram acréscimo na resistência à compressão de 49% e 350% , respectivamente. Esse 
tipo  de  cura  é  mais  efetivo  para  o  concreto  com  agregado  leve  porque  ele  possui  menor  capacidade 
calorífica e maior capacidade de isolamento térmico do que o concreto normal. O resultado final é um 
aumento  na  temperatura  interna  do  concreto  leve  com  conseqüente  aceleração  da  velocidade  de 
hidratação  do  cimento  e  elevação  da  resistência  do  material.  Deve­se  mencionar  que  os  produtos de 
hidratação  do  concreto  autoclavados  são  estáveis  e  não  apresentam  regressão  com  o  tempo 
(NEVILLE, 1983). 

40 
Resistência à compressão (MPa) 

M1 
35  M1 ­ 1:1,5:0,50 
M1PS ­ 1:1,5:1,75:2% 
Resistência à Compressão (MPa)

M2 ­ 1:0,75:0,75:1,50 
30  M2 ­ 1:0,75:0,75:1,75:2% 
M3PS ­ 1:1,125:0,375:2:2% 
M1PS 
25 

20 

15 
M3PS 
10 

M2PS 

M2 

0  1000  2000  3000  4000  5000  6000  7000  8000 

Deformação (με)  Deformação ( me ) 

FIGURA 6. Curvas tensão­deformação típicas, em compressão, dos compósitos moldados com energia 
de prensagem. 

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Carga (kN) 
0.4 

0.35  M1 ­ 1:1,5:0,50 
M1PS ­ 1:1,5:1,75:2% 
M2 ­ 1:0,75:0,75:1,50 
M2PS ­ 1:0,75:0,75:1,50: 2% 
0.3 
M3PS ­ 1:1,125:0,375:2:2% 
M1 
Carga (kN)

0.25 

0.2 

M1PS 
0.15 

0.1 
M2 
0.05  M3PS 
M2PS 

0  1  2  3  4  5 

Deslocamento (mm)  Deslocamento (mm) 

FIGURA 7. Curvas carga­deslocamento típicas, em flexão, dos compósitos moldados com energia de 
prensagem. 

As propriedades térmicas dos compósitos estão apresentadas na Tabela 3. Os resultados indicam 
que a adição da polpa de sisal e vermiculita ao concreto reduziu significativamente sua condutividade 
térmica.  Por  exemplo,  a  substituição  de  50%  de  areia  por  vermiculita,  mistura  M2,  reduziu  a 
condutividade  da  mistura  M1  em  cerca  de  60%,  enquanto  a  adição  de  2%  de  polpa,  mistura  M1PS, 
reduziu a condutividade térmica da mistura M1 em 40%. Quando ambos, polpa e vermiculita, estavam 
presentes na mistura a redução atingiu 74% para a mistura M3PS e 79% para a mistura M2PS. 
Dos  resultados  apresentados  nas  Tabelas  2  e  3  observa­se  que  a  redução  na  condutividade 
térmica  foi  acompanhada  por  um  acréscimo  na  porosidade  e  por  uma  redução  na  densidade  e 
resistência  mecânica dos compósitos. Uma relação não linear entre essas propriedades pode ser vista 
na  Figura  8  e  esse  comportamento  está  em  concordância  com  as  observações  feitas  por  NEVILLE 
(1983) para o concreto leve e por SARJA (1988) para argamassas reforçadas com polpa de celulose. 

TABELA 3. Propriedades térmicas das argamassas e dos compósitos. 
Mistura  Condutividade Térmica (W m ­1  K ­1 )  Resistência Térmica (m 2 K ­1  W ­1 ) 
M1  0,74  0,016 
M2  0,29  0,048 
M1PS  0,44  0,027 
M2PS  0,16  0,086 
M3PS  0,19  0,08 

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Índice de vazios (%) 
21,4  41,2  42  43,5  45,6 
30  1 

Resistência à compressão(MPa) 

Condutividade térmica (W/mK) 
Resistência à flexão x 5 (Mpa) 
compressão 
25  flexão  0,8 
condutividade 
20 
0,6 
15 
0,4 
10 

0,2 

0  0 
1840,02  1218,21  1112,28  955,94  871,74 

Densidade (kg/m3) 

FIGURA 8. Variação  da  condutividade  térmica  das  misturas  com  as  suas  propriedades  físicas  e 
mecânicas. 

Com  base  nos  valores  de  resistência  à  compressão,  densidade  e  condutividade  térmica  do 
material é possível classificá­lo para diferentes aplicações nas edificações rurais. A Tabela 4 apresenta 
a  classificação  estabelecida  pelo  RILEM  (1978)  para  concretos  leves  isolantes,  estrutural/isolantes  e 
estruturais. 

TABELA 4. Classificação dos concretos leves. 
Classe e Tipo 
Propriedades 
I ­ Estrutural  II ­ Estrutural/isolante  III ­ Isolante 
Resistência à compressão (MPa)  > 15,0  > 3,5  > 0,5 
Condutividade térmica (W m ­1  K ­1 )  N/A  < 0,75  < 0,3 
Densidade aparente (kg m ­3 )  1600­2000  < 1600  << 1450 

Com  base  na  Tabela  4,  os  compósitos  desenvolvidos  no  presente  estudo  podem  ser 
caracterizados  como  sendo  do  tipo  I,  II  ou  III  dependendo  das  condições  de  cura  e  moldagem.  Os 
compósitos  vibrados  e  curados  em  água,  por  exemplo,  atendem  às  condições  estabelecidas  para 
material  isolante  enquanto  o  material  prensado  pode,  adicionalmente,  ser  usado  estruturalmente.  A 
argamassa com polpa de sisal pode ser, então, utilizada  na  fabricação de elementos estruturais como 
blocos ou painéis para alvenaria e telhas planas ou corrugadas para uso nas edificações rurais. Ele pode 
também  ser  utilizado  para  produzir  placas  leves  para  servir  como  forros  sob  coberturas,  melhorando 
sua capacidade de isolamento térmico. 
Uma  comparação  das  propriedades  térmicas  do  material  desenvolvido  com  a  dos  materiais 
tradicionalmente  utilizados  nas  construções  rurais  é  apresentada  na  Tabela  5.  Observando­se  os 
resultados,  nota­se  que  o  compósito  contendo  vermiculita  e  polpa  de  sisal  apresenta  uma  maior 
capacidade  de  isolamento térmico, o  que  contribuirá  para  o  conforto  das  instalações  e  produtividade 
animal.

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TABELA 5. Coeficiente  de  condutividade  térmica  de  materiais  de  construção  para  alvenaria  e 
cobertura. 
Densidade  Condutividade 
Material 
(kg m ­3 )  Térmica (W m ­1  K ­1 ) 
Compósitos  Argamassa 1:1,5:0,5  2130  0,74 
desenvolvidos  Argamassa com polpa de sisal  1460  0,44 
Argamassa com polpa de sisal e vermiculita  1160  0,16 
Cimento­amianto  1600  0,95 
Material de  Telha cerâmica  ­  0,93 
cobertura  Zinco  7130  112 
Alumínio  2700  230 
Bloco de concreto celular  450­600  0,05­0,20 
Material para  Bloco de concreto celular autoclavado  400  0,12 
alvenaria  Tijolo maciço prensado  1600  0,92 
Bloco de terra comprimido  ­  1,15 

CONCLUSÕES 
A  utilização  de  polpa  de  sisal  e  vermiculita  nas  argamassas  de  cimento  Portland  permitiu  a 
obtenção  de  um  material  com  características  de  resistência,  densidade  e  condutividade  térmica  que 
situam­se  dentro  dos  valores  práticos  recomendados  internacionalmente  para  uso  como  material 
isolante  ou  estrutural.  Acredita­se  que  a  elevada  capacidade  de  isolamento térmico  apresentado  pelo 
material  contribuirá  significativamente  para  o  conforto  das  instalações  rurais  e,  conseqüentemente, 
para o incremento da produtividade animal. 

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