Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
O cinema é uma construção, um mundo próprio, uma arte. Como obra de arte,
parte do domínio da representação para se tornar uma experiência. Não é a
realidade objetivamente percebida e independentemente existente, nem um
além metafísico, mas sim uma presença, real e virtual, no processo de devir.
Assim, apesar do retrato aparentemente realista do mundo atingido pela pobreza
e corrupção, a realidade construída nos filmes não é a do realismo social, nem
é a representação de eventos históricos, mas uma exploração criativa da
realidade sob a forma de um imagem pensante, onde o real não é uma
representação da realidade e o virtual não é uma negação do real. É arte e
filosofia.
Neste mundo alucinatório da vida das cidades, sem começo e sem fim, o tempo
não significa que está fora de sintonia. Em longos, monótonos e repetitivos,
passado, presente e futuro se fundem ou trocam, gerando uma sensação de
vertigem ou um sonho. No final do filme, estamos despertando de um pesadelo
que está prestes a recomeçar (Romney 2001, 8). As andanças dos filmes,
avançando, não levam a lugar algum. Existe apenas a imagem emoldurada e a
emoção torturante detida no tempo. Nem espaços nem personagens revelam
nada, nem apontam para algo fora da própria situação. Em vez disso, o
espectador pode ler o quadro de congelamento e as contradições contidas nele
como uma imagem aberta. Os personagens de Tarr são visionários, mas é uma
visão labiríntica, nem subjetiva, nem objetiva, onde o diretor, o espectador e o
exterior coincidem e interagem. A cada passo, a esperança de resolução é
frustrada.