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REVISTA BRASILEIRA DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO / BRAZILIAN JOURNAL OF BEHAVIOR ANALYSIS, 2006, VOL. 2, N°.

2, 287-296

O QUE A PSICOLOGIA TEM A OFERECER À EDUCAÇÃO - AGORA!1


2, 3
WHAT PSYCHOLOGY HAS TO OFFER EDUCATION – NOW

SIDNEY BIJOU
UNIVERSIDADE DE ILLINOIS, USA
UNIVERSITY OF NEVADA, USA

RESUMO4
A resposta à questão sobre o que a Psicologia tem a oferecer à Educação depende quase inteiramente da
orientação particular do indivíduo a quem ela é dirigida, pois os psicólogos diferem muito quanto às suas concepções
sobre o objeto de estudo e objetivos de sua disciplina. Psicólogos também diferem notavelmente em suas escolhas
de metodologia de pesquisa, com um segmento valorizando os delineamentos estatísticos que comparam desempenhos
de grupos, enquanto outros enfatizam mudanças no comportamento de um organismo individual. Além disso, os
psicólogos variam muito em suas abordagens à construção de teorias, alguns preferindo o método hipotético-
dedutivo e, outros, os procedimentos empírico-indutivos. A despeito dessas grandes variações individuais haveria,
provavelmente, três abordagens básicas sobre a questão do que a psicologia tem a oferecer à educação: aquela que
seria tomada como a da grande maioria, aquela da ampla minoria e aquela da pequena minoria. Diante de um campo
da Psicologia dividido com base no que ela tem a oferecer à educação, eu gostaria de discorrer sobre a oferta do
último grupo de psicólogos mencionado, o grupo da análise do comportamento. Discutirei o que acredito ser a
promessa desta abordagem, sua influência no papel dos psicólogos escolares e o que os educadores podem fazer se
escolherem seguir as diretrizes oferecidas por esse grupo.
Palavras-chave: Análise do comportamento, aplicações educacionais, contingências de ensino, programação de
ensino, tecnologia de ensino

ABSTRACT4
The answer to the question about what psychology has do offer education depends almost entirely on the
particular orientation of the individual to whom the question is put, for psychologists differ enormously in their
conception of the subject matter and objectives of their discipline. Psychologists also differ markedly in their choice
of research methodology, with one segment stressing statistical designs that compare achievement of groups, and
others emphasizing changes in the behavior of an individual organism. In addition, psychologists vary greatly in
their approach to theory construction, with some favoring the hypothetico-deductive methods, and others, the
empirico-inductive procedure. In spite of these great individual variations, there would probably be three basic
approaches to the question of what psychology has to offer education: that which would be taken by the great
majority, that of the large minority, and that of the small minority. Faced with this complex state of affairs – a house
of psychology divided on what is has to offer education, I should like to elaborate on the offer of the last mentioned
group of psychologists, the behavioral analysis group. I shall discuss what I believe to be the promise of this
approach, its influence on the role of the school psychologist, and what educators can do if they choose to pursue
the leads offered by this group.
Key words: behavioral analysis, educational applications, teaching contingencies, programming teaching,
technology of teaching

1 Artigo originalmente publicado em 1970 no Journal of Applied Behavior Analysis, 3, 65-71, que autorizou a publicação da tradução (Copyright 1970 by
the Society for the Experimental Analysis of Behavior, Inc). Tradução realizada por Maria Ester Rodrigues (Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
mariaester.rodrigues@gmail.com), Paulo Sérgio Teixeira do Prado (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), e Estêvão Gonçalves Bittar
(Universidade Federal de Uberlândia). Revisor da tradução: Deisy das Graças de Souza
2 Invited address, Division of School Psychologists, American Psychological Association, 76th Annual Convention, September 1, 1968, San Francisco,
California. The analysis presented was generated in large measure from research supported by the U. S. Office of Education, Division of Research,
Bureau of Education for the Handicapped, OEG-0-9-2322030-0762(032).
3 Dedicado ao Professor B.F. Skinner em seu sexagésimo aniversário.
4 Extraído do texto pelos tradutores; a publicação original não incluía resumo.

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S. BIJOU

Algum dia, a questão: “O que a psicolo- análise de estímulos, sobre a psicologia da


gia tem, atualmente, a oferecer à educação?” aprendizagem simples e complexa e sobre a per-
será respondida por psicólogos com algum grau cepção; podemos oferecer um considerável cor-
de consenso. Mas, no presente, a resposta a esta po de conhecimentos em mensuração, constru-
questão depende quase inteiramente da orien- ção de testes e procedimentos estatísticos para
tação particular do indivíduo a quem ela é o estudo experimental de grupos; e podemos
dirigida, pois os psicólogos diferem muito oferecer algumas teorias promissoras de inteli-
quanto às suas concepções sobre o objeto de gência, socialização, personalidade, desenvolvi-
estudo e objetivos de sua disciplina. Alguns mento e psicopatologia”.
dizem que seu objeto de estudo é o âmbito da Os conceitos e princípios dessa grande
mente, outros, que é a interação observável do maioria provêm não somente da psicologia, mas
comportamento de um indivíduo com eventos também da sociologia, da antropologia e da
ambientais. Quando surge a questão dos obje- fisiologia. Eles evoluíram a partir de muitas te-
tivos da psicologia, alguns alegam que eles de- orias, sobretudo das teorias psicanalíticas,
vem ser a compreensão e a explicação do fenô- cognitivas e de aprendizagem. Eles se estabele-
meno psicológico, outros, a predição e o ceram com base em achados provenientes de
controle do comportamento. Psicólogos tam- muitos métodos de pesquisa, como o experi-
bém diferem notavelmente em suas escolhas de mental, o correlacional, o clínico e a observa-
metodologia de pesquisa, com um segmento ção de campo ou ecológica. Por conseguinte,
valorizando os delineamentos estatísticos que muitos dos conceitos e princípios não estão
comparam desempenhos de grupos, enquanto enraizados em dados brutos objetivamente
outros enfatizam mudanças no comportamen- definidos, nem são sistematicamente relaciona-
to de um organismo individual. Além disso, os dos uns com os outros. Aqueles com esta
psicólogos variam muito em suas abordagens à orientação são ecléticos a respeito de um método
construção de teorias, alguns preferindo o de pesquisa. De forma geral, delineamentos
método hipotético-dedutivo e, outros, os experimentais de grupo servem para testar
procedimentos empírico-indutivos. teorias e hipóteses, ao passo que métodos
A despeito dessas grandes variações indi- correlacionais servem para avaliar traços e
viduais haveria, provavelmente, três abordagens habilidades. Posto que esses psicólogos, em sua
básicas sobre a questão do que a psicologia tem maior parte, vêem o ensino como uma arte
a oferecer à educação: aquela que seria tomada intuitiva, sua visão predominante é que a psico-
como a da grande maioria5, aquela da ampla logia pode oferecer aos educadores o tipo de
minoria e aquela da pequena minoria. A grande informações e de idéias que os auxiliarão a avaliar
maioria provavelmente poderia dizer que a suas filosofias de educação, podendo ainda
psicologia atualmente oferece à educação algo inteirar os professores quanto aos achados de
como: “Nós temos a oferecer uma coleção im- pesquisas recentes e suas possíveis implicações
pressionante de fatos acerca das habilidades da para o ensino.
criança, seu crescimento e desenvolvimento; Por outro lado, se fosse perguntado a um
podemos oferecer uma ampla literatura sobre a outro grupo de psicólogos, a quem chamare-

5 NT: grifos no original.

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O QUE A PSICOLOGIA TEM A OFERECER

mos de ampla minoria, sobre o que a psicolo- noria, respondendo à questão sobre que contri-
gia tem a oferecer à educação, a resposta pode- buição a psicologia pode oferecer à educação
ria ser: “Podemos oferecer algumas idéias sobre agora, diria: “Podemos oferecer um conjunto
a natureza da criança; podemos apresentar de conceitos e princípios derivados exclusiva-
firmes convicções sobre os estágios de mente da pesquisa experimental; podemos
desenvolvimento cognitivo e intelectual; e po- oferecer uma metodologia para a aplicação
demos oferecer formulações teóricas sobre desses conceitos e princípios diretamente às
percepção, aprendizagem, a vontade de apren- práticas de ensino; podemos oferecer um
der e os mecanismos gerais de enfrentamento e delineamento de pesquisa que lida com
defesa. Podemos também oferecer uma filoso- mudanças em crianças individuais (ao invés de
fia da ciência que postula que o comportamen- inferi-las de médias grupais); e podemos oferecer
to é determinado tanto por variáveis observáveis uma filosofia da ciência que insiste em
quanto por variáveis internas hipotéticas”. explicações objetivas acerca das relações entre o
Subgrupos nesta ampla minoria tentam comportamento individual e suas condições
relacionar seus conceitos e princípios de modo determinantes.”
sistemático. Entretanto, os conceitos e princí- Ante este complexo estado de coisas – um
pios desenvolvidos por um grupo não estão em campo da Psicologia dividido com base no que
sincronia com aqueles desenvolvidos pelos ela tem a oferecer à educação – eu gostaria de
outros, sobretudo porque os sistematizadores discorrer sobre a oferta do último grupo de
não ancoram todos os seus termos em dados psicólogos mencionado, o grupo da análise do
objetivamente verificáveis. A pesquisa, como no comportamento. Discutirei o que acredito ser
primeiro grupo, é delineada predomi- a promessa desta abordagem, sua influência no
nantemente para testar uma teoria ou uma papel dos psicólogos escolares e o que os
hipótese e consiste, em sua maior parte, na educadores podem fazer se escolherem seguir
comparação de desempenhos entre grupos. as diretrizes oferecidas por esse grupo.
Aplicações práticas quase sempre envolvem
termos e processos que não estão relacionados A OFERTA DA PEQUENA MINORIA
aos princípios aplicados. Isto é, tentativas de
aplicar os achados da pesquisa em práticas de A oferta da análise comportamental será
sala de aula são, com freqüência, sustentadas apresentada em termos de sua filosofia da ciên-
por variáveis ou preceitos hipotéticos. Uma vez cia, conceitos e princípios, a essência do método
que variáveis e processos hipotéticos são centrais de pesquisa e procedimentos para a aplicação
para as teorias desse grupo, educadores que de conceitos e princípios ao ensino.
aderem a esta abordagem tendem a atribuir as
falhas da escola a presumíveis condições internas A Filosofia da Ciência
[do aluno], tais como falta de motivação, dis- A filosofia da ciência (pressupostos) de
túrbios perceptuais ou danos cerebrais clinica- qualquer abordagem merece ser avaliada de perto
mente inferidos. porque ela influencia os tipos de problemas
Ainda outro grupo de psicólogos, que selecionados para estudo, o método básico de
atualmente constitui apenas uma pequena mi- coleta de dados, as formas pelas quais os dados

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S. BIJOU

são apresentados e a interpretação dos resultados. conceitos e princípios, tais como controle de
Para o propósito deste artigo, devo limitar estímulos momentâneo, variações sutis nas
minha discussão a apenas cinco concepções condições estabelecedoras e intrincados
básicas de uma análise comportamental. esquemas de reforçamento.
Explicações mais detalhadas podem ser 5. Uma teoria psicológica e sua tecnologia
encontradas em Kantor (1959) e Skinner são sistemas abertos e flexíveis. Isto é, um novo
(1947, 1953 e 1963). conceito, um novo princípio ou uma nova
1. O objeto de estudo da psicologia é a técnica podem, a qualquer momento, ser
interação entre o comportamento de um orga- adicionados à lista já existente, desde que exibam
nismo integral com eventos ambientais. Essas as credenciais apropriadas: devem estar
interações são analisadas em termos observáveis, inequivocamente vinculados a eventos
mensuráveis e replicáveis e, portanto, são passíveis observáveis; devem ser funcionais e não devem
de investigação científica. se sobrepor aos conceitos, princípios ou
2. As interações entre o comportamento técnicas já catalogados.
de um indivíduo e os eventos ambientais são
reguladas. Dado um indivíduo com sua dota- Os conceitos e princípios
ção biológica única, alterações em seu compor- Os conceitos da análise comportamental
tamento são função de sua história interacional referem-se somente a eventos comportamentais
e da situação atual na qual ele se comporta. e condições ambientais observáveis e às relações
3. Como em todas as ciências, o objeto entre eles. Além disso, esses conceitos, derivados
de estudo da psicologia apresenta continuida- inteiramente de investigações experimentais, são
des. Admite-se que existem continuidades nos funcionais em essência; em outras palavras,
estágios do desenvolvimento, nas taxas de eventos comportamentais são definidos por seus
desenvolvimento (normal, atrasado e acelera- efeitos no ambiente, como a produção ou a re-
do), nas relações entre desenvolvimento normal moção de um estímulo, e eventos ambientais
e patológico, nos problemas e procedimentos são definidos pelos seus efeitos no comporta-
da pesquisa básica e aplicada e na análise de mento, como o estabelecimento de uma ocasião
fenômenos psicológicos desde o dado bruto até para uma classe de comportamento operante.
a formulação teórica. Os conceitos comportamentais desta
4. Interações complexas evoluem de abordagem são, em sua maior parte, divididos com
interações simples e começam com as relações base em sua sensibilidade a eventos estimuladores
iniciais do bebê com pessoas e objetos. Isso não antecedentes ou a eventos estimuladores
significa que comportamentos complexos sejam conseqüentes, os primeiros referidos como
considerados como a soma de comportamen- comportamento respondente e, os últimos, como
tos simples. O modo como uma forma específica comportamento operante. Entre os adeptos dessa
de comportamento complexo - a resolução de abordagem, há uma reconhecida atração pela
problemas matemáticos, por exemplo – se mensuração do comportamento respondente em
estabelece, constitui um problema para estudo termos de sua latência ou magnitude e do
experimental. A análise final de qualquer classe comportamento operante em termos de sua taxa
de comportamento complexo envolveria muitos ou freqüência de ocorrência (Skinner, 1966a).

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O QUE A PSICOLOGIA TEM A OFERECER

Os conceitos ambientais também se en- A tática de pesquisa aplicada orientada


quadram em duas categorias: estímulos com ao ensino não consiste em delinear um estudo
propriedades funcionais e fatores situacionais. para determinar se o Método A é melhor que
Um estímulo condicionado em uma interação o Método B para o ensino da matéria X. Ela
respondente e um estímulo discriminativo em é, em vez disso, uma busca por caminhos para
uma interação operante são exemplos de fun- projetar um ambiente educacional no qual
ções de estímulo. Saciação e privação de estí- cada criança possa aprender determinadas
mulos reforçadores, interrupção de ciclos de tarefas e, então, depois de atingido o objetivo,
sono e intervenção com drogas são exemplos de comparar as conquistas alcançadas nesta
fatores contextuais. situação projetada com realizações em alguma
Os princípios de uma abordagem outra situação escolar.
comportamental são enunciados que descrevem
relações demonstradas entre variáveis Aplicações à Educação
comportamentais e ambientais. Estes enuncia- Os conceitos e princípios da análise
dos, os quais têm se acumulado consistente- comportamental são aplicados diretamente à
mente ao longo dos últimos sessenta anos, são situação de ensino em sala de aula: ao com-
os fatos da ciência psicológica enquanto gerados portamento observável do aluno em relação
por uma análise experimental do comportamen- às técnicas de ensino do professor, aos mate-
to. Eles foram organizados de várias formas, mas riais de ensino, às contingências de
com ligeiras diferenças entre elas (Ferster & reforçamento e às condições contextuais. A
Perrot, 1968; Millenson, 1967; Reynolds, análise do ensino e a aplicação da
1968; e Skinner, 1953). Reynolds (1968), por metodologia são claramente apresentadas por
exemplo, agrupa os princípios da seguinte Skinner em Tecnologia do Ensino (1968).
maneira: aquisição e extinção do comportamen- Ensinar, de acordo com Skinner, é uma
to operante, controle de estímulos do compor- situação na qual o professor arranja as contin-
tamento operante, reforçadores condicionados, gências de reforçamento para promover a apren-
esquemas de reforçamento, comportamento dizagem da criança. O professor é o arranjador
respondente e condicionamento respondente, e, dado que ele geralmente trabalha sozinho na
controle aversivo, emoção e motivação. sala de aula, podemos pensá-lo como um
“arranjador solitário”. O professor arranja as
Pesquisa contingências para desenvolver comportamen-
A análise experimental das interações tos de estudo apropriados, por exemplo,
entre mudanças no comportamento individual organizando os conteúdos a serem aprendidos,
e eventos ambientais é a essência das táticas de e faz isso com a esperança de que aqueles
pesquisa (Sidman, 1960). Aqui, a pesquisa não comportamentos tornem-se parte da maneira
é planejada para testar uma teoria ou uma da criança lidar com futuras tarefas de estudo.
hipótese, mas para demonstrar relações O professor também arranja contingências
funcionais (Skinner, 1966b), ou para avaliar programando os assuntos acadêmicos formais
uma aplicação prática de conceitos e princípios (os programas visíveis), bem como hábitos e
(Baer, Wolf, & Risley, 1968). comportamentos éticos e morais (os programas

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S. BIJOU

invisíveis) de tal forma que cada criança faça do ensino não é a incorporação de mais e mais
progressos em seu próprio ritmo e com o novos reforçadores, mas a utilização efetiva
mínimo de frustração ou de conseqüências daqueles já disponíveis ao professor.
aversivas. Por vezes, ele considera necessário Voltemo-nos à programação de
também arranjar contingências para reduzir ou materiais didáticos. O fato de uma tarefa escolar
eliminar comportamentos que competem com poder ser aprendida com um mínimo de
a aquisição de comportamentos acadêmicos e frustração e baseada em reforçamento positivo
sociais desejados. por meio de um programa de reforçamento
Dois comentários sobre o arranjo de diferencial de aproximações sucessivas à forma
ambientes educacionais são apropriados neste final de uma resposta (habilidade) ou à resposta
ponto; um pertinente à programação de desejada na situação apropriada (conheci-
contingências de reforçamento; o outro, à mento), tem levado a uma ênfase exagerada
programação de material instrucional. O fato sobre o papel das máquinas de ensinar e a uma
de comportamentos acadêmicos e sociais serem concepção equivocada acerca dos conteúdos
operantes e, portanto, sensíveis à estimulação escolares que podem ser apropriadamente
conseqüente, tem levado muitos professores e programados. As máquinas de ensinar, da mais
pesquisadores a usar, indiscriminadamente, primitiva à mais sofisticada, são valiosas para o
conseqüências inventadas tais como brindes ensino somente na medida em que ajudam o
(tokens), doces, pontos, estrelas, etc. Tais professor a arranjar contingências que
reforçadores artificiais nem sempre são promovam aprendizagem, isto é, auxiliam o
necessários e, em muitos casos nos quais têm professor a apresentar o material
sido usados, não tem se mostrado funcionais. adequadamente, a fornecer respostas explícitas
Em outras palavras, a taxa de aprendizagem de e a arranjar ajustes temporais ótimos para
uma criança não aumenta pelo uso de balas ou contingências de reforçamento eficientes. A
pelo que mais ela tenha recebido em troca de programação de qualquer assunto acadêmico
uma coleção de brindes ou uma soma de para uma criança é clara: (1) enunciar, em
pontos. Reforçadores arbitrários são apropriados termos objetivos, o comportamento alvo ou
somente quando os reforçadores comuns terminal desejado, (2) avaliar o repertório
aplicados em sala de aula (confirmação, comportamental da criança relevante para a
indicações de progresso, privilégios, trabalho tarefa, (3) seqüenciar o material didático ou os
preferido, aprovação e assemelhados) não são critérios comportamentais para o reforçamento,
significativos para uma criança. Se, às vezes, (4) iniciar a criança naquela unidade da
reforçadores arbitrários são considerados seqüência na qual ela consegue responder
necessários para iniciar a aprendizagem, pode- corretamente 90% do tempo, (5) gerenciar as
se programar sua substituição gradual por contingências de reforçamento com a ajuda de
reforçadores naturais à situação e à atividade máquinas de ensinar e outros dispositivos para
que está sendo aprendida. Estes são chamados fortalecer aproximações sucessivas ao
por Ferster (1967) de reforçadores “naturais”, comportamento final e construir reforçadores
“intrínsecos” ou “automáticos”. Como indicou condicionados que sejam intrínsecos à tarefa e,
Skinner (1968), a tarefa crítica na maior parte (6) manter registros das respostas da criança

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O QUE A PSICOLOGIA TEM A OFERECER

que possam servir de base para modificações em são aplicados ao ensino. Em outras palavras, o
materiais e procedimentos de ensino. psicólogo escolar engajar-se-ia na modificação
Os dados de pesquisa, até o momento, do comportamento ou assessoria em serviço
sugerem que princípios comportamentais conforme descrito e praticado por Krumboltz
podem ser aplicados à situação de ensino com e seus colegas (1966).
resultados gratificantes. Avanços subsequentes Em terceiro lugar, o psicólogo escolar
em conhecimento básico e tecnológico poderão, auxiliaria os professores a lidarem com proble-
é claro, conduzir a aplicações ainda mais efetivas. mas de manejo de sala de aula e programação
de conteúdos. Seus esforços em relação ao
IMPLICAÇÕES PARA O PSICÓLOGO ESCOLAR manejo seriam comparáveis ao trabalho de
Thomas, Becker e Armstrong (1968). A pedi-
Agora, olhemos brevemente para a oferta do do professor, ele observaria o comportamento
da mini-minoria de psicólogos no que diz res- de uma criança-problema ou de um grupo de
peito aos psicólogos escolares. Suponhamos que crianças em sala de aula e, com base nos dados
temos uma escola na qual os professores estejam coletados, ele poderia analisar as contingências
aplicando, de modo bem-sucedido, os que estão operando na situação, desenvolver um
princípios comportamentais a todos os aspec- curso de ação com o professor e avaliá-lo em
tos da educação. Em tal situação, o psicólogo termos dos dados obtidos com os procedimentos
escolar exerceria ao menos quatro funções. observacionais. Dados que indicassem a inefi-
Primeiramente, ele trabalharia em estrei- cácia do novo procedimento conduziriam a uma
ta cooperação com professores de pré-escola e nova avaliação e à alteração do plano, até a
de primeira série para ajudar as crianças solução satisfatória ser encontrada. Ao ajudar o
recém admitidas a fazerem uma transição su- professor a programar material didático, a tarefa
ave de suas casas para a sala de aula, com o do psicólogo escolar consistiria em analisar os
objetivo de prevenir atraso escolar e proble- registros acadêmicos diários de cada criança,
mas de comportamento. Especificamente, o modificando os procedimentos de ensino, o
psicólogo escolar ajudaria esses professores a arranjo das contingências e a seqüência de
avaliar os repertórios de suas crianças e os materiais. No que diz respeito a ajudar o
ajudaria a arranjar programas individuais ade- professor a desenvolver e manter outros
quados aos alunos. Ele também ajudaria es- comportamentos acadêmicos essenciais, tais
ses professores e seus assistentes a modifica- como prestar atenção, seus procedimentos
rem os programas quando a criança encontra seriam similares àqueles descritos por Hall,
dificuldades e a avaliarem suas práticas de Lund e Jackson (1968).
contingências de reforçamento. Finalmente, em quarto lugar, o psicólogo
Em segundo lugar, ele trabalharia com escolar conduziria treinamento em serviço para
supervisores, professores, assistentes sociais os assistentes dos professores. Em muitos casos,
escolares e pais na atenuação ou eliminação de essas pessoas poderiam ser auxiliares, como os
problemas de comportamento, instalando secretários do programa de material didático
programas de remediação que se baseariam no da Universidade de Pittsburgh; ou poderiam
mesmo conjunto de conceitos e princípios que ser pessoal de apoio que conduziria tutoria para

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indivíduos ou pequenos grupos. O psicólogo referenciais; (2) a metodologia de aplicação


escolar seria responsável por manter informados prática e a literatura básica sobre a tecnologia
os professores e a equipe pedagógica sobre os comportamental de ensino; (3) a metodologia
avanços na tecnologia do ensino e as formas es- de pesquisa individual; e (4) as convicções da
pecíficas de incorporá-los ao sistema escolar. análise do comportamento e suas implicações
É óbvio que o psicólogo escolar descrito para as práticas educacionais.
aqui não estaria simulando o papel de um Em segundo lugar, os profissionais devem
psiquiatra infantil, não estaria atuando como obter experiência na aplicação desses princípi-
psicólogo clínico de meio período e não seria os. Aqueles que pretendem usar esta aborda-
um psicometrista em tempo integral; ao invés gem deveriam planejar a observação de demons-
disso, ele seria uma pessoa informada e habili- trações em contextos educacionais reais e
tada na aplicação de princípios comporta- deveriam procurar oportunidades de praticar
mentais a todos os aspectos do ensino, tanto de as técnicas sob supervisão. Tais experiências em
crianças normais como daquelas com primeira mão proporcionam ocasiões nas quais
necessidades especiais. deve-se enfrentar e lidar com problemas de
manejo de contingências e programação de
REQUISITOS PARA EDUCADORES QUE DESEJAM conteúdos, além de prover oportunidades para
ACEITAR A OFERTA que seus esforços sejam reforçados por
mudanças visíveis, que resultam deles. Na
Gostaria agora de sugerir o que os educa- impossibilidade de aulas de demonstração
dores podem fazer se desejarem aceitar a oferta acessíveis em pré-escolas ou escolas elementa-
dos psicólogos com orientação analítico- res, os educadores que lecionam em faculda-
comportamental. des e universidades podem aplicar esses prin-
Primeiramente, eles deveriam aprender cípios em suas aulas (Ferster, 1968; Keller,
com precisão os aspectos mais específicos dessa 1968). Podem fazer isso mesmo se houver
abordagem. Uma fundamentação completa é oportunidades para observar a aplicação de
necessária porque a análise do comportamento princípios comportamentais à educação de cri-
não oferece uma pedra de toque. É necessária anças pequenas. Isto não apenas daria a eles
porque a abordagem tem uma aparente uma nova fonte de satisfação; seus alunos pro-
simplicidade que pode ser ilusória, além de vavelmente também apreciariam uma aborda-
muitas características sedutoras que podem ser gem de ensino centrada no aprendiz.
enganadoras. Por último, ela é necessária porque
aplicações eficientes requerem uma minuciosa RESUMO E CONCLUSÕES
análise da situação de ensino e engenhosidade
no rearranjo de contingências para eliminar Um grupo de psicólogos pequeno, mas
dificuldades e facilitar o estabelecimento e a rapidamente crescente, pode agora oferecer aos
manutenção do comportamento desejado. É, educadores (1) um conjunto de conceitos e
por conseguinte, essencial que o profissional princípios derivados inteiramente da análise
aprenda de fontes primárias: (1) a natureza dos experimental do comportamento, (2) uma
conceitos e princípios e os dados de suporte metodologia para aplicação prática desses con-

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O QUE A PSICOLOGIA TEM A OFERECER

ceitos e princípios, (3) um método de pesquisa Que tipos de mudanças poderiam ser
que lida com mudanças no comportamento in- esperados como resultado de uma aceitação
dividual e (4) uma filosofia da ciência que diz: dessa oferta? É difícil antever todos os detalhes
“Olhe cuidadosamente para as relações entre das mudanças, mas certas indicações de caráter
eventos ambientais e eventos comportamentais amplo são claras. Em primeiro lugar, o professor
observáveis e suas mudanças”. provavelmente derivaria nova satisfação em
A aplicação de princípios comporta- ensinar porque estaria em uma situação que lhe
mentais à educação poderia mudar o papel do permitiria ver de modo concreto o progresso
professor, que poderia se tornar um hábil de cada criança em sua classe e saberia o que
gerenciador de contingências de reforçamento fazer quando uma criança não estivesse obtendo
e um eficiente programador de ensino. A um progresso razoável. Poderia não só ajudar
aplicação também mudaria o estilo da pesquisa mas conquistar nova confiança em si mesmo
educacional da comparação de desempenho de como professor porque saberia o que está fazendo
grupos de crianças para a análise de condições e porque está fazendo. Poderia, além disso, estar
e processos específicos no ensino de um mais seguro com o conhecimento de que suas
conteúdo particular, na medida em que práticas de ensino estão baseadas em princípios
estejam relacionados ao comportamento de já demonstrados e que, com a ajuda do psicó-
um aluno individual. A aplicação desses logo escolar, poderia refinar e estender seus
princípios poderia mudar o papel do métodos em concordância com novos achados
psicólogo escolar. Ele se tornaria um especi- de pesquisas. Finalmente, o professor teria
alista em tecnologia comportamental de oportunidades para tentar novas formas de
ensino. Como tal, ele colaboraria com pro- ensinar conteúdos padrão e explorar modos de
fessores de pré-escola e de primeira série para ensinar conteúdos ainda não programados.
prevenir problemas escolares, arranjando Em segundo lugar, colocar essa oferta em
procedimentos de remediação para crianças prática provavelmente forneceria uma base
individuais. Ele também atuaria como um comum para a discussão de problemas entre
consultor para todos os professores, a respei- aqueles que trabalham com o professor – o
to de problemas no manejo da sala de aula e diretor, o psicólogo, o orientador e o assistente
na programação de ensino, e durante as ati- social escolar. Não faria diferença se o problema
vidades, como um treinamento em serviço, fosse o persistente comportamento desviante de
auxiliaria os professores e seus ajudantes a uma criança, dificuldades curriculares, turmas
alcançarem seus objetivos. turbulentas, pais não cooperativos ou o
Para atuarem com base nessa oferta da comportamento de grupos de crianças na
pequena minoria de psicólogos, os educadores lanchonete ou no pátio. Uma abordagem
são aconselhados a aprender os detalhes desta comum a todos os aspectos da educação, em
abordagem a partir de fontes primárias. Além especial uma baseada em conceitos e princípios
disso, eles deveriam buscar experiências em experimentais, certamente promoveria o ensino
primeira mão na aplicação de técnicas, para que como uma profissão.
possam compreender os problemas envolvidos Em terceiro lugar, a aplicação sistemá-
e suas possibilidades de solução. tica de princípios comportamentais poderia

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S. BIJOU

ser eficaz em reduzir dramaticamente o Kantor, J. R. (1959). Interbehaviorial psychology. (2a ed.
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