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CURITIBA
2017
BRUNO DE OLIVEIRA CRUZ
CURITIBA
2017
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 4
2. CONSIDERAÇÕES BÁSICAS SOBRE OS DIREITOS HUMANOS............... 4
3. CONSIDERAÇÕES BÁSICAS SOBRE O MARXISMO.................................. 7
4. A PERSPECTIVA DE MARX......................................................................... 10
5. AS CONTRIBUIÇÕES A PARTIR DE GRAMSCI.......................................... 13
6. A ANÁLISE DE HOBSBAWM....................................................................... 16
7. A CRÍTICA DE ŽIŽEK.................................................................................... 19
8. A SUGESTÃO DE LYRA FILHO................................................................... 22
9. CONCLUSÃO............................................................................................... 23
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 24
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1. INTRODUÇÃO
Na obra de Marx há, conforme aponta Tomás Bastian de Sousa (2008, página
6), “uma crítica contundente aos direitos do homem, que está indissociavelmente
vinculada à sua crítica da política e, por isso, só pode ser devidamente compreendida
a partir desta”. O cerne semântico de tais palavras constituirá o escopo central do
presente trabalho, o qual procurará analisar, na medida do possível, o tema dos
direitos humanos a partir do marxismo. A perspectiva metodológica empregada para
o cumprimento desse fim envolveu, na elaboração desta produção, a pesquisa de
fontes bibliográficas diversas – artigos, livros e textos em geral –, a partir dos próprios
autores abordados (literatura primária) e também de seus comentadores (literatura
secundária), mediante uma organização de posições teóricas que levou em
consideração a relevância das mesmas bem como a possibilidade de fomento de um
debate frutífero acerca do tema abordado. É importante frisar, já de antemão, que a
escolha das posições e dos nomes aqui abordados se deu por uma impreterível
necessidade de recorte do tema trabalhado a partir de autores clássicos de maior
conhecimento do público, e não por uma negligência com as demais posições, visto
que há uma gama amplamente diversificada e positiva de autores e autoras de cunho
marxista. Dadas essas observações, serão elencadas considerações básicas sobre
os direitos humanos e o marxismo, tal como as teorizações de nomes como Marx,
Gramsci, Hobsbawm, Žižek e Lyra Filho.
Uma vez que o presente trabalho buscará tratar, na medida do possível, sobre
os direitos humanos a partir do marxismo, cumpre, em um primeiro momento, tecer
algumas considerações básicas sobre os direitos humanos. Em seu artigo
Características dos Direitos Humanos Fundamentais, Nestor Sampaio expõe que a
doutrina aponta as seguintes características para os direitos humanos fundamentais
mais acordadas pela doutrina: historicidade (apresentam natureza histórica),
universalidade (alcançam a todos os seres humanos indistintamente), inexauribilidade
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seu principal colaborador Friedrich Engels, como também as diferentes correntes que
se desenvolveram a partir do pensamento de Marx, levando a se distinguir, por vezes,
entre o marxismo (relativo a esses desenvolvimentos) e o pensamento marxiano (do
próprio Marx). A obra de Marx estende-se em múltiplas direções, incluindo não só a
filosofia, como a economia, a ciência política, a história etc.; e sua imensa influência
se encontra em todas essas áreas. O marxismo é, por vezes, também conhecido como
materialismo histórico, materialismo dialético e socialismo científico (termo empregado
por Engels). Esse conjunto de ideias foi gestado a partir de três tradições intelectuais
desenvolvidas na Europa do século XIX, a saber: o idealismo alemão de Hegel; a
economia política de Adam Smith; a teoria política do socialismo utópico, de autores
franceses.
Entende-se por Marxismo o conjunto das ideias, dos conceitos, das teses,
das teorias, das propostas de metodologia científica e de estratégia política
e, em geral, a concepção do mundo, da vida social e política, consideradas
como um corpo homogêneo de proposições até constituir uma verdadeira e
autêntica "doutrina", que se podem deduzir das obras de Karl Marx e de
Friedrich Engels. A tendência, muitas vezes manifestada, de distinguir o
pensamento de Marx do de Engels surge dentro do próprio Marxismo, ou
seja, ela própria se constitui numa forma de Marxismo. (BOBBIO, 1998,
página 738).
Em seu texto “Lendo Marx à luz de Marx”, presente na obra Marxismo como
ciência social, Adriano Codato (2011) pensa que o econômico pode ser entendido
mais exatamente como: (i) o interesse geral da classe burguesa – o ordenamento
capitalista – que deve ser garantido sempre; (ii) a variável que em última instância
determina – o condicionamento, portanto – as ações políticas, as representações
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ideológicas etc. dos agentes sociais; (iii) a realidade última – o fundamento – dos
conflitos políticos entre as classes.
4. A PERSPECTIVA DE MARX
Das obras de Marx, “A Questão Judaica” é a que dá maior atenção aos direitos
humanos. Em Os direitos humanos na perspectiva de Marx e Engels, José Damião de
Lima Trindade (2010) aponta que, em A questão judaica, Marx enfrenta pela primeira
vez, de modo direto, a crítica aos direitos naturais do homem, tais como tinham
existência em seu tempo, isto é, apenas como direitos civis e políticos e, mesmo
assim, socialmente restritos.
países, considerados Estados laicos, a liberdade religiosa está presente (ou seja, há
emancipação política), entretanto, sem significar necessariamente a emancipação
humana em relação à religião. (FERNANDES, 2014).
direitos humanos são direitos políticos, direitos que só podem ser exercidos
na comunidade [Gemeinschaft] com outros. A participação na comunidade
[Gemeinwesen] e, decerto, na comunidade só podem ser exercidos, no
sistema de Estado, forma o seu conteúdo. Caem na categoria da liberdade
política, na categoria dos direitos cívicos, as quais de modo algum
pressupõem, como vimos, a supressão positiva, e sem contradição, da
religião, portanto, também porventura [a] do judaísmo. Resta considerar a
outra parte dos direitos humanos, os droits de l´homme [direitos do homem –
francês], na medida em que eles são diferentes dos droits du citoyen [direitos
do cidadão – francês]. (MARX, 2009, página 61).
Nesse sentido, Marx dirá que os “direitos do homem” são direitos do “membro
da sociedade civil”, do “homem egoísta”, do “homem separado do homem da
comunidade”, do “burguês”. Por outro lado, o “verdadeiro homem”, homem “concreto”,
o ser humano “genérico” é apenas reconhecido como cidadão em abstrato.
(FERNANDES, 2014).
Conforme pondera Fernandes (2014), para Marx a crítica vai muito além do
discurso formal referente aos direitos humanos, pois pretende alcançar os
pressupostos que são intrínsecos a tais direitos. Dadas essas observações, que
procuraram esclarecer, ainda que de forma breve, a crítica de Marx aos direitos
humanos, o presente trabalho investigará, a seguir, o que se pode inferir desses
direitos a partir da perspectiva de Gramsci, um dos mais importantes continuadores
do legado marxista, e cujos conceitos podem ser atualmente úteis.
6. A ANÁLISE DE HOBSBAWM
Ora, a principal relação entre a história dos movimentos operários, que são
um fenômeno bastante recente do ponto de vista histórico, e os direitos
humanos reside no fato de que os movimentos operários geralmente são
compostos de pessoas que são “subprivilegiadas”, nas palavras de F. D.
Roosevelt, e que se preocupam com seus problemas. (HOBSBAWM, 2000,
página 418).
7. A CRÍTICA DE ŽIŽEK
da igualdade formal dos “direitos”, que igualam os diferentes e, neste caminho, aponta
para a dinâmica que há nesta formalidade que vem a impedir suas promessas de
serem efetivadas. Em seu artigo O contrário dos direitos humanos (explicitando Zizek),
José Augusto Lindgren Alves se vale das palavras do próprio teórico marxista:
...não vivemos nós na era dos direitos humanos universais, que se afirmam
até mesmo contra a soberania estatal? O bombardeio da Iugoslávia pela
OTAN não foi o primeiro caso de intervenção militar realizada em decorrência
de pura preocupação normativa (ou, pelo menos, apresentando-se como
assim realizada), sem referência a qualquer interesse político-econômico
“patológico”. Essa nova normatividade emergente para os ‘direitos humanos’
é, entretanto, a forma em que aparece seu exato oposto. (ALVES, 2002,
página 92).
Havia certa esperança nos direitos humanos encabeçados pela ONU, que
tentava, a partir dos estertores do século XX, chegar a uma “justiça internacional”
legítima através do julgamento pela corte de Haia de Milosevic e pelas tentativas de
julgar os crimes de Pinochet no Chile; porém, estas mostraram-se como tentativas vãs
e frustradas de se estabelecer um poder de justiça global, que antes disto é
instrumento ideológico-militar dos países ocidentais membros da OTAN, pois dado o
momento em que se perquiri a necessidade de também se julgar tal organização por
seus crimes de guerra, a mesma se nega ao fato. (ALVES, 2002).
Isto está emergindo cada vez mais como direito humano central da sociedade
capitalista avançada: o direito a não ser assediado, isto é, a se manter a uma
distância segura dos outros. O mesmo vale para a emergente lógica do
militarismo humanitário ou pacifista. A guerra é aceitável na medida em que
procura trazer a paz, ou a democracia, ou as condições para distribuir a ajuda
humanitária. E o mesmo não é válido para a democracia e para os próprios
direitos humanos? Está tudo bem com os direitos humanos se eles são
“repensados” para incluir a tortura e um Estado de emergência permanente.
(ŽIŽEK, 2010, página 17).
Após as críticas anteriores aos direitos humanos, cabe, neste momento, expor
brevemente a proposta do escritor brasileiro e de orientação marxista, Roberto Lyra
Filho, precursor do movimento conhecido como Direito Achado na Rua. Em seu artigo
“O que é Direito” de Roberto Lyra Filho: uma abordagem contemporânea, Thiago Rais
de Castro (2014) observa que a concepção de Direito proposta por Lyra Filho, além
de incluir as transformações históricas decorrentes das manifestações sociais, dá
destaque especial aos Direitos Humanos. Tal enfoque deve-se ao fato de que esses
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direitos são responsáveis por projetar o Direito para o futuro. Dessa forma, os Direitos
Humanos promovem transformações no Direito vigente. Hoje em dia, ao interpretar as
normas tendo como base os Direitos Humanos, fica praticamente impossível
fundamentar de forma coerente uma argumentação que restrinja direitos de minorias,
como os homossexuais. Assim, o Direito Achado na Rua encontra-se atualmente
engajado em causas sociais, como a defesa dos direitos humanos, além de
desenvolver pesquisas que visam à disseminação de conhecimentos correlatos a
esse assunto.
Em seu texto “Direito e lei”, presente na obra O que é Direito, Roberto Lyra
Filho relaciona a efetivação dos direitos humanos ao fim da exploração econômica,
sugerindo uma atuação mais incisiva do próprio Direito para tal:
9. CONCLUSÃO
todos, e essa parcialidade foi percebida por correntes teóricas críticas como o
marxismo. No que concerne à abordagem dos direitos humanos sob o viés do
marxismo e salvaguardadas as diferenças das perspectivas marxistas que dialogam
com a temática – como aquelas elencadas ao longo deste trabalho –, é possível
avaliar os direitos humanos para além do paraíso jurídico formalista, atentando às
influências da vida material – e cuja concretude vai muito além das meras relações
econômicas – para, desse modo, possibilitar o exercício genuíno da humanidade
desses direitos de maneira vívida, para além do discurso e da lei.
REFERÊNCIAS
ALVES, José Augusto Lindgren. O contrário dos direitos humanos (explicitando Zizek).
Revista Brasileira de Política Internacional, volume 45, número 1, páginas 92-116,
2002.
ARANHA, Guilherme Arruda. Direitos humanos. In: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda;
MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo:
Moderna, 2009. Páginas 275-284.
ARRUDA JUNIOR, Edmundo Lima de. Gramsci e direito: reflexões sobre novas
juridicidades. In: ARRUDA JUNIOR, Edmundo Lima de; BORGES FILHO, Nilson.
Gramsci: Estado, Direito e Sociedade. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1995.
Páginas 27-42.
CASTRO, Thiago Rais de. “O que é Direito” de Roberto Lyra Filho: uma abordagem
contemporânea. Brasília, 2014. Disponível em:
<http://odireitoachadonarua.blogspot.com.br/2014/06/o-que-e-direito-de-roberto-lyra-
filho.html>. Acesso em: 20 de novembro de 2017.
FERRAZ, Cristiano Lima. Marxismo e Teoria das Classes Sociais. Politeia: História e
Sociedade (UESB), Vitória da Conquista, volume 9, número 1, páginas 271-301, 2009.
LYRA FILHO, Roberto. Direito e lei. In: LYRA FILHO, Roberto. O que é Direito. 11ª
Edição. São Paulo: Brasiliense, 1990. Páginas 3-6.
MARX, Karl. Para a questão judaica. São Paulo: Expressão Popular, 2009.
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SILVA, Paulo Henrique Tavares da; SOBREIRA FILHO, Enoque Feitosa. Direitos
Humanos e revolução passiva: crítica a partir das categorias de Gramsci. Trabalho
apresentado no III Encontro PROCAD – O judiciário e o discurso dos direitos
humanos, João Pessoa, 2012.