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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUIZA DE


DIREITO DA 3º VARA PENAL DA COMARCA DE
PARAGOMINAS DO ESTADO DO PARÁ

“Conceitos muitos diferentes, ainda que semelhantes aos nossos,


podem nos parecer muito estranhos, como desvios do comum numa
direção insólita. E outros possuem conceitos que se cruzam com os
nossos. Eu quero dizer que uma educação muito diferente da nossa
pode também servir de base a conceitos bastante diferentes.”
Ludwig Wittgenstein

SUMÁRIO:

REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. DA


COMPETENCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. DA
VIOLAÇÃO DOS INTRUMENTOS NORMATIVOS
DE DIREITOS HUMANOS. RESIDÊNCIA FIXA.
CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA.
INEXISTENCIA DOS REQUISITOS QUE
JUSTIFICAM A PRISÃO CAUTELAR.
INDÍGENA. LEGISLAÇÃO PROTETIVA.
TENTATIVA DE HOMICÍDIO. VÍTIMA-
PARENTE DO ACUSADO. RESPEITO AS LEIS
DA ETNIA INDÍGENA.

OSVALDINO TEMBÉ, já qualificado nos autos em epígrafe,


vem, sob o patrocínio da Defensoria Pública do Estado, até à presença de
V.Exa., com fundamento no artigo 316 do CPP, requerer:

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REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA


A prisão do acusado, em síntese, ocorreu sob a fundamentação
de garantia da ordem pública e para garantia da instrução processual, nos
termos do artigo 312 do Código de Processo Penal.

Todavia, esses motivos ensejadores da custódia preventiva,


PRECISAM SER URGENTEMENTE REVISTOS, sob pena de uma gritante
INJUSTIÇA. Senão vejamos:

Dispõe o artigo 312 do Código de Processo Penal:


“A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia
da ordem publica, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria”
(grifos nossos).

O requerente foi preso em flagrante em 26/03/2013, tendo o


delegado de polícia deste município requerido à conversão do flagrante em
prisão preventiva decretada, tendo sido indiciado pela suposta prática do
crime tipificado no art. 121, c/c art. 14, inc. II do CPB.

O indiciado desferiu vários golpes de facão contra seu padrasto,


também indígena no último dia 26 de março, enquanto bebiam juntos em
sua residência na aldeia indígena do Alto Rio Guamá, nesta cidade de
Paragominas.

No entanto, não obstante a respeitável decisão de fls., prolatada


por este Juízo, não existem motivos que justifiquem a manutenção da
segregação cautelar do requerente.

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DA COMPETÊNCIA

Primeiramente, urge destacar que o presente Juízo é competente


para apreciação desta medida, já que é há vasta jurisprudência já
sedimentada que afirma que compete à Justiça Estadual processar e julgar
crimes em que o indígena figure como autor ou réu na ação.

Vejamos:
Processo Penal. Índios. Competência da Justiça Federal.

A competência da Justiça Federal para


processar e julgar crimes envolvendo
índios configura-se quando a
motivação do delito relaciona-se com
os direitos indígenas em sentido
amplo, não bastando que tenha sido praticado por vários

índios ou que se dado no interior de reserva ou em terras


tradicionalmente ocupadas (TRF 4ª R. - 8ª T. - AP
2006.72.02.008176-2 - rel. Luiz Fernando Wowk Penteado - j.
03.06.2009 - DJU 10.06.2009).

Crime contra índio: competente é a Justiça


estadual 
"Constitucional - Competência - Crime -
Silvícola (vítima) - Reserva índigena.
"A competência da Justiça Federal está consagrada no art. 109
(Constituição da República). O objeto jurídico é o referencial.

Não obstante a tutela da União aos


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índios, competente é a Justiça Comum


do Estado para processar e julgar
crimes de homicídios e lesão corporal,
ocorridos em área de reserva indígena,
ainda que a vítima seja índio." 
(Conflito de
competência nº 4.469-7, 3ª Seção, Rel. Min. Vicente
Cernicchiaro., j. 17.6.93, v.u., DJU 2.8.93, p. 14.172)

Homicídio. Crime praticado contra índio, como indivíduo


determinado e não contra o grupo indígena.

"Inocorrendo o envolvimento de direitos


indígenas (art. 109, XI, da CF), o crime
praticado é de competência da Justiça
Comum Estadual (Súmula 140/STJ).
Precedentes (CC nº 21.402/MS, Rel. Min. Félix Fischer).Conflito
conhecido para declarar competente o Juízo de Direito de Feijó-
AC."
(CC nº 21.794/AC, 5ª Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, j.
27.09.00, v.u., DJU 18.12.00, p. 154).

Em razão disso, o Superior Tribunal de Justiça elaborou o


seguinte verbete de súmula:

STJ Súmula nº 140 - 18/05/1995 - DJ 24.05.1995

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Competência - Crime - Índios - Processo e Julgamento.

Compete à Justiça Comum Estadual


processar e julgar crime em que o indígena
figure como autor ou vítima.

Portanto, não havendo qualquer outro motivo que não o acima


destacado, deve a presente matéria ser analisada por esse douto Juízo.

DA VIOLAÇÃO DOS INTRUMENTOS NORMATIVOS DE DIREITOS


HUMANOS E DOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS

O devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório são


normas jurídicas, que não admitem flexibilização, devendo ser aplicadas seja
no processo judicial, seja no procedimento administrativo. Sua inobservância
não viola apenas a legislação pátria e a Constituição Federal, viola também
normas de direitos internacionais, suscitando o respectivo controle de
convencionalidade das decisões judiciais e administrativas, bem como,
possibilita sejam os casos individuais ou coletivos que envolvam as violações
atacadas, levas ao Sistema ONU, ou ao Sistema Interamericano de Direitos
Humanos.

Necessário trazermos a baile as normas de direito


internacional que garantem a proteção dos direitos processuais dos
indivíduos em situação de cárcere:

CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS


HUMANOS. (ASSINADA NA CONFERÊNCIA
ESPECIALIZADA INTERAMERICANA SOBRE

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DIREITOS HUMANOS, SAN JOSÉ, COSTA RICA, EM 22
DE NOVEMBRO DE 1969).

Artigo 5. Direito à integridade pessoal

1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua


integridade física, psíquica e moral.

2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou


tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada
da liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade
inerente ao ser humano.

3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente.

4. Os processados devem ficar separados dos condenados,


salvo em circunstâncias excepcionais, e ser submetidos a
tratamento adequado à sua condição de pessoas não
condenadas.

5. Os menores, quando puderem ser processados, devem


ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado,
com a maior rapidez possível, para seu tratamento.

6. As penas privativas da liberdade devem ter por


finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos
condenados.

Artigo 8. Garantias judiciais

2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se


presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente

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sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em
plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:

DIREITOS HUMANOS NA ADMINISTRAÇÃO DA


JUSTIÇA - TRATAMENTO DOS DELINQUENTES.
REGRAS MÍNIMAS PARA O TRATAMENTO DE
PRISIONEIROS. ADOTADAS PELO 1º CONGRESSO
DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE PREVENÇÃO DO
CRIME E TRATAMENTO DE DELINQÜENTES,
REALIZADO EM GENEBRA, EM 1955, E APROVADAS
PELO CONSELHO ECONÔMICO E SOCIAL DA ONU
ATRAVÉS DA SUA RESOLUÇÃO Nº 663 C I (XXIV),
DE 31 DE JULHO DE 1957, ADITADA PELA
RESOLUÇÃO Nº 2076 (LXII) DE 13 DE MAIO DE
1977. EM 25 DE MAIO DE 1984, ATRAVÉS DA
RESOLUÇÃO Nº 1984/47, O CONSELHO ECONÔMICO
E SOCIAL APROVOU TREZE PROCEDIMENTOS PARA
A APLICAÇÃO EFETIVA DAS REGRAS MÍNIMAS.
Registro

7. 1.Em todos os lugares em que haja


pessoas detidas, deverá existir um livro
oficial de registro, atualizado, contendo páginas

numeradas, no qual serão anotados, relativamente a cada


preso: a. A informação referente a sua identidade; b. As razões
da sua detenção e a autoridade competente que a ordenou; c.
O dia e a hora da sua entrada e da sua saída. 2.Nenhuma
pessoa deverá ser admitida em um estabelecimento prisional
sem uma ordem de detenção válida, cujos dados serão
previamente lançados no livro de registro.
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Locais destinados aos presos

9. 1.As celas ou quartos destinados ao


isolamento noturno não deverão ser
ocupadas por mais de um preso. Se, por razões

especiais, tais como excesso temporário da

população carcerária, for indispensável que a administração


penitenciária central faça exceções a esta regra, deverá evitar-
se que dois reclusos sejam alojados numa mesma cela ou
quarto individual. 2.Quando se recorra à utilização de

dormitórios, estes deverão ser ocupados por


presos cuidadosamente escolhidos e
reconhecidos como sendo capazes de serem
alojados nessas condições. Durante a noite,

deverão estar sujeitos a uma vigilância regular, adaptada ao


tipo de estabelecimento prisional em que se encontram
detidos.

10. Todas os locais destinados aos presos, especialmente


aqueles que se destinam ao alojamento dos presos durante a

noite, DEVERÃO SATISFAZER AS


EXIGÊNCIAS DA HIGIÊNE, LEVANDO-
SE EM CONTA O CLIMA,
ESPECIALMENTE NO QUE CONCERNE
AO VOLUME DE AR, ESPAÇO MÍNIMO,
ILUMINAÇÃO, AQUECIMENTO E
VENTILAÇÃO.

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11. Em todos os locais onde os presos devam viver ou

trabalhar: a.As JANELAS DEVERÃO SER


SUFICIENTEMENTE GRANDES para que os

presos possam ler e trabalhar com luz natural, e deverão estar

dispostas de modo a permitir a entrada de ar


fresco, haja ou não ventilação artificial.
b.A luz artificial deverá ser suficiente para os

presos poderem ler ou trabalhar sem prejudicar a visão.

12. As instalações sanitárias deverão ser

ADEQUADAS para que os presos possam satisfazer suas


necessidades naturais no momento oportuno, de um modo
limpo e decente.

13. As instalações de banho deverão ser adequadas para que


cada preso possa tomar banho a uma temperatura adaptada
ao clima, tão freqüentemente quanto necessário à higiene
geral, de acordo com a estação do ano e a região geográfica,
mas pelo menos uma vez por semana em um clima temperado.

14. Todos os locais de um estabelecimento penitenciário


freqüentados regularmente pelos presos deverão ser mantidos
e conservados escrupulosamente limpos.

C. PESSOAS DETIDAS OU EM PRISÃO PREVENTIVA


84. 1.As pessoas detidas ou presas em virtude de acusações
criminais pendentes, que estejam sob custódia policial ou em
uma prisão, mas que ainda não foram submetidas a
julgamento e condenadas, serão designados por "presos não

julgados" nestas regras. 2. OS PRESOS NÃO


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JULGADOS PRESUMEM-SE
INOCENTES E COMO TAL DEVEM
SER TRATADOS. 3.Sem prejuízo das normas legais
sobre a proteção da liberdade individual ou que prescrevem os
trâmites a serem observados em relação a presos não

julgados, estes deverão ser


beneficiados por um regime
especial, delineado na regra que
se segue apenas nos seus
requisitos essenciais.

85. 1.Os presos não julgados serão


mantidos separados dos presos
condenados. 2.Os presos jovens não julgados serão

mantidos separados dos adultos e deverão estar, a princípio,


detidos em estabelecimentos prisionais separados.

86. Os presos não julgados


dormirão sós, em quartos
separados.

87. Dentro dos limites compatíveis com a boa ordem do


estabelecimento prisional, os presos não julgados podem, se
assim o desejarem, mandar vir alimentação do exterior às
expensas próprias, quer através da administração, quer
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através da sua família ou amigos. Caso contrário, a
administração fornecer-lhes-á alimentação.

88. 1.O preso não julgado será autorizado a usar a sua própria
roupa de vestir, se estiver limpa e for adequada. 2.Se usar
roupa da prisão, esta será diferente da fornecida aos presos
condenados.

89. Será sempre dada ao preso não julgado oportunidade para


trabalhar, mas não lhe será exigido trabalhar. Se optar por
trabalhar, será pago.

90. O preso não julgado será autorizado a adquirir, às


expensas próprias ou às expensas de terceiros, livros, jornais,
material para escrever e outros meios de ocupação compatíveis
com os interesses da administração da justiça e a segurança e
a boa ordem do estabelecimento prisional.

91. O preso não julgado será autorizado a receber a visita e


ser tratado por seu médico ou dentista pessoal, desde que haja
motivo razoável para tal pedido e que ele possa suportar os
gastos daí decorrentes.

92. O preso não julgado será autorizado a informar


imediatamente à sua família sobre sua detenção, e ser-lhe-ão
dadas todas as facilidades razoáveis para comunicar-se com
sua família e amigos e para receber as visitas deles, sujeito
apenas às restrições e supervisão necessárias aos interesses
da administração da justiça e à segurança e boa ordem do
estabelecimento prisional.

93. O preso não julgado será autorizado a requerer assistência


legal gratuita, onde tal assistência exista, e a receber visitas do
seu advogado para tratar da sua defesa, preparando e
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entregando-lhe instruções confidenciais. Para esse fim ser-lhe-
á fornecido, se ele assim o desejar, material para escrever. As
conferências entre o preso não julgado e o seu advogado
podem ser vigiadas visualmente por um policial ou por um
funcionário do estabelecimento prisional, mas a conversação
entre eles não poderá ser ouvida.

DIREITOS HUMANOS NA ADMINISTRAÇÃO DA


JUSTIÇA - TRATAMENTO DOS DELINQUENTES.
CONJUNTO DE PRINCÍPIOS PARA A PROTEÇÃO DE
TODAS AS PESSOAS SUJEITAS A QUALQUER FORMA
DE DETENÇÃO OU PRISÃO. ADOTADOS PELA
ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS NA SUA
RESOLUÇÃO 43/173, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1988.
Princípio 1

A pessoa sujeita a qualquer forma de detenção ou prisão deve


ser tratada com humanidade e com respeito da dignidade
inerente ao ser humano.

Princípio 24

A pessoa detida ou presa deve beneficiar de um exame médico


adequado, em prazo tão breve quanto possível após o seu
ingresso no local de detenção ou prisão; posteriormente, deve
beneficiar de cuidados e tratamentos médicos sempre que tal
se mostre necessário. Esses cuidados e tratamentos são
gratuitos.

Princípio 33

1. A pessoa detida ou presa, ou o seu advogado, têm o direito


de apresentar um pedido ou queixa relativos ao seu

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tratamento, nomeadamente no caso de tortura ou de outros
tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, perante as
autoridades responsáveis pela administração do local de
detenção e autoridades superiores e, se necessário, perante
autoridades competentes de controlo ou de recurso.

Princípio 36

1. A pessoa detida, suspeita ou acusada da prática de infração


penal presume-se inocente, devendo ser tratada como tal até
que a sua culpabilidade tenha sido legalmente estabelecida no
decurso de um processo público em que tenha gozado de todas
as garantias necessárias à sua defesa.

2. Só se deve proceder à captura ou detenção da pessoa assim


suspeita ou acusada, aguardando a abertura da instrução e
julgamento quando o requeiram necessidades da administração
da justiça pelos motivos, nas condições e segundo o processo
prescritos por lei. É proibido impor a essa pessoa
restrições que não sejam estritamente necessárias para
os fins da detenção, para evitar que dificulte a instrução
ou a administração da justiça, ou para manter a
segurança e a boa ordem no local de detenção.

Princípio 37

A pessoa detida pela prática de uma infração penal deve ser


apresentada, presente a uma autoridade judiciária ou outra
autoridade prevista por lei, prontamente após a sua captura.
Essa autoridade decidirá sem demora da legalidade e
necessidade da detenção. Ninguém pode ser mantido em
detenção aguardando a abertura da instrução ou
julgamento salvo por ordem escrita da referida
autoridade. A pessoa detida, quando presente a essa

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autoridade, tem o direito de fazer uma declaração sobre a
forma como foi tratada enquanto em detenção.

Princípio 38

A pessoa detida pela prática de infração penal tem o direito de


ser julgada em prazo razoável ou de aguardar julgamento em
liberdade.

Princípio 39

Salvo em circunstâncias especiais previstas por lei, a pessoa


detida pela prática de infração penal tem direito, a menos que
uma autoridade judiciária ou outra autoridade decidam de
outro modo no interesse da administração da justiça, a
aguardar julgamento em liberdade sujeita às condições
impostas por lei. Essa autoridade manterá em apreciação a
questão da necessidade da detenção.

RELATORIA ESPECIAL SOBRE TORTURA E OUTRAS


FORMAS DE TRATAMENTOS CRUÉIS, DESUMANOS
OU DEGRADANTES DE PUNIÇÃO, 20 DE AGOSTO A
12 DE SETEMBRO DE 2000. RELATOR: SR. NIGEL
RODLEY. REFERÊNCIA DO DOCUMENTO OFICIAL:
E/CN.4/2001/66/ADD.2.

3. As pessoas legitimamente presas em flagrante delito não


deveriam ser mantidas em delegacias de polícia por um
período além das 24 horas necessárias para a obtenção de um

mandado judicial de prisão provisória. A superlotação


das cadeias de prisão provisória não
pode servir de justificativa para se

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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
deixar os detentos nas mãos da polícia
(onde, de qualquer modo, a condição de superlotação parece
ser substancialmente mais grave do que até mesmo em
algumas das unidades prisionais mais superlotadas).

7. A ORDEM JUDICIAL DE
PRISÃO PROVISÓRIA NUNCA
DEVERIA SER EXECUTADA EM
UMA DELEGACIA DE POLÍCIA.

15. Se não por qualquer outra razão que não a de pôr


fim à superlotação crônica dos centros de
detenção (um problema que a construção de mais

estabelecimentos de detenção provavelmente não poderá

resolver), faz-se imperativo um programa de


conscientização no âmbito do Judiciário a fim
de garantir que essa profissão, que se encontra no coração do
Estado de Direito e da garantia dos Direitos Humanos,

TORNE-SE TÃO SENSÍVEL À


NECESSIDADE DE
PROTEGER OS DIREITOS
DOS SUSPEITOS E, COM
EFEITO, DE PRESOS
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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ

CONDENADOS, QUANTO
EVIDENTEMENTE O É A
RESPEITO DA NECESSIDADE
DE REPRIMIR A
CRIMINALIDADE. Em particular, o

Judiciário deveria ASSUMIR ALGUMA


RESPONSABILIDADE PELAS
CONDIÇÕES E PELO
TRATAMENTO A QUE FICAM
SUJEITAS AS PESSOAS QUE O
JUDICIÁRIO ORDENA
PERMANEÇAM SOB DETENÇÃO
PRÉ-JULGAMENTO OU
SENTENCIADAS AO CÁRCERE.
Em se tratando de crimes ordinários, o Judiciário, nos casos em
que existirem acusações alternativas, também deveria ser
relutante em: proceder a acusações que impeçam a concessão
de fiança, excluir a possibilidade de sentenças alternativas,
exigir custódia sob regime fechado, bem como em limitar a
progressão de sentenças.
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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ

23. A assustadora situação de


superpopulação em alguns
estabelecimentos de prisão
provisória e instituições prisionais
precisa acabar imediatamente; se

necessário, mediante ação do Executivo, exercendo clemência,


por exemplo, com relação a certas categorias de presos, tais
como transgressores primários não-violentos ou suspeitos de
transgressão. A lei que exige a separação entre categorias de
presos deveria ser implementada.

PRINCIPIOS Y BUENAS PRÁCTICAS SOBRE LA


PROTECCIÓN DE LAS PERSONAS PRIVADAS DE
LIBERTAD EN LAS AMÉRICAS. (OEA DOCUMENTOS
OFICIALES; OEA SER.L) (OAS OFFICIAL RECORDS
SERIES; OEA SER.L). INTER‐‐AMERICAN
COMMISSION ON HUMAN RIGHTS.
RAPPORTEURSHIP ON THE RIGHTS OF PERSONS
DEPRIVED OF LIBERTY .

Princípio I

Tratamento humano

Toda pessoa privada de liberdade que esteja sujeita à


jurisdição de qualquer dos Estados membros da Organização

dos Estados Americanos SERÁ TRATADA


HUMANAMENTE, com irrestrito
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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ

respeito à sua dignidade própria e


aos seus direitos e garantias fundamentais e com estrito apego
aos instrumentos internacionais sobre direitos humanos.

Em especial, levando em conta a posição especial de garante


dos Estados frente às pessoas privadas de liberdade, terão elas

respeitadas e garantidas a vida e a


integridade pessoal bem como asseguradas

condições mínimas compatíveis com sua dignidade.

Princípio III

Liberdade pessoal

2. Excepcionalidade da privação preventiva da liberdade

A lei deverá assegurar que os procedimentos judiciais ou


administrativos garantam a liberdade pessoal como regra geral
e se aplique a privação preventiva da liberdade como exceção,
conforme dispõem os instrumentos internacionais sobre
direitos humanos.

No âmbito de um processo penal, deverão existir elementos de


prova suficientes que vinculem o acusado ao fato investigado,
a fim de que se justifique uma ordem de privação de liberdade
preventiva. Trata‐se de exigência ou condição sine qua non no
momento da imposição de qualquer medida cautelar, que, no
entanto, já não será suficiente após o transcurso de
determinado período.

A PRIVAÇÃO PREVENTIVA DA
LIBERDADE, COMO MEDIDA
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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ

CAUTELAR E NÃO PUNITIVA,


DEVERÁ ADEMAIS OBEDECER
AOS PRINCÍPIOS DE
LEGALIDADE, PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA, NECESSIDADE E
PROPORCIONALIDADE, NA
MEDIDA ESTRITAMENTE
NECESSÁRIA NUMA
SOCIEDADE DEMOCRÁTICA,
QUE SOMENTE PODERÁ
PROCEDER DE ACORDO COM
OS LIMITES RIGOROSAMENTE
NECESSÁRIOS PARA
ASSEGURAR QUE NÃO IMPEÇA
O ANDAMENTO EFICAZ DAS
INVESTIGAÇÕES NEM SE EVITE
A AÇÃO DA JUSTIÇA, SEMPRE
QUE A AUTORIDADE

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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ

COMPETENTE FUNDAMENTE E
ATESTE A EXISTÊNCIA, NO
CASO CONCRETO, DOS
REFERIDOS REQUISITOS.

Nítido está a necessidade de fundamentação da


manutenção da prisão cautelar, pautada em fatos concretos, fatos este que
não se encontram presente nos autos.

DOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS

Diante de um quadro de desconsideração cultural e legal

para com as populações indígenas, configura-se um estado

de violência para com esses povos, pois o

Estado contemporâneo e seu aparato jurídico

positivo, vem negando a possibilidade de convivência de sistemas

jurídicos diferentes, como no caso o direito consuetudinário dos povos

indígenas e o direito nacional, “não-indígena”.

Cada povo, etnia e comunidade indígena possui seu

próprio sistema jurídico, baseados em práticas de direito consuetudinário,

onde muitos problemas podem ser solucionados a partir de suas

experiências cotidianas, bem como diversas lições podem ser retiradas daí,
20
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
como a utilização de meios sancionadores próprios para

infrações cometidas por um membro da

comunidade ou aldeia. Como bem indica a Convenção n°169 da

OIT, de 1989, que enfatiza a garantia dos povos

indígenas em conservar sua cultura e seus

costumes, de utilizar suas próprias instituições,

inclusive jurídicas, de direito consuetudinário,

(desde que não firam os direitos humanos e o

direito interno do país).

A Convenção n° 169 da OIT – ONU sobre povos indígenas

e tribais estabelece, quanto a aplicação do Direito Penal ao Direito

Indigenista, que:

ARTIGO 8º:

1. Na aplicação da legislação nacional aos povos

interessados, seus costumes ou leis

consuetudinárias deverão ser levados

na devida consideração. 2. Esses povos terão

o direito de manter seus costumes e


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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ

instituições, desde que não sejam

incompatíveis com os direitos

fundamentais previstos no sistema jurídico

nacional e com direitos humanos internacionalmente

reconhecidos. Sempre que necessário, deverão ser

estabelecidos procedimentos para a solução de conflitos

que possam ocorrer na aplicação desse

princípio. 3. A aplicação dos parágrafos 1º e 2º

deste artigo não impedirá que membros desses povos

exercitem os direitos assegurados a todos os cidadãos e

assumam as obrigações correspondentes.

ARTIGO 9º:

1. Desde que sejam compatíveis

com o sistema jurídico nacional e

com direitos humanos

internacionalmente reconhecidos,

os métodos tradicionalmente adotados por esses povos

para lidar com delitos cometidos por seus membros

deverão ser respeitados. 2. Os costumes desses


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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
povos, sobre matérias penais, deverão ser levados em

consideração pelas autoridades e tribunais no processo de

julgarem esses casos.

ARTIGO 10:

1. No processo de impor sanções penais previstas na

legislação geral a membros desses povos,

suas características econômicas,

sociais e culturais deverão ser levadas

em consideração. 2. Deverá ser dada

preferência a outros métodos de

punição que não o encarceramento.

A Constituição Federal de 1988, trouxe como finalidade da

República Federativa do Brasil, transformar e reconhecer as sociedades

indígenas, garantindo-lhes o preceito constitucional como sujeitos do

tratamento diferenciado, como bem se pode verificar a seguir:

A Constituição Federal de 1988 consolida o marco da


mudança de paradigma na política indigenista oficial
brasileira, fornecendo os elementos norteadores do
respeito à diferença cultural dos povos. Dois artigos foram
dedicados especificamente à determinação dos direitos
indígenas: Art.231. São reconhecidos aos índios a sua
organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à união demarcá-

23
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
las, e fazer respeitar todos os seus bens. (CTI, 2008, p.
23).

A constituição, portanto considerou os direitos dos povos

indígenas, como parte indissociável dos direitos humanos.

A Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou, em junho

de 2006, a Declaração das Nações Unidas sobre os

Povos Indígenas, que embora não possua força jurídica obrigatória,

tem incontestavelmente um grande peso político e moral, ainda mais no

continente americano. Sabe-se que as declarações, que são resoluções

recomendatórias de organizações internacionais, são classificadas como

instrumentos de soft law, o que significa, ao invés da hard law e apesar da

sua natureza solene, que não possuem caráter vinculante. Isto verifica-se

perfeitamente na prática, nomeadamente da ONU, onde a declaração

apresenta-se como um instrumento oficial, adequado para ocasiões muito

especiais, e servindo para enunciar princípios de

importância permanente.

Sabe-se que os direitos reconhecidos por declarações

podem transcender a falta de força obrigatória do seu suporte formal,

criando uma prática geral aceita como juridicamente vinculante, ou seja,

passando a converter-se em direitos consuetudinários. Isso, a fortiori


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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
quando tais direitos protegem interesses comuns do

género humano considerados como fundamentais e

dotados de carácter juris cogentis.

Artigo 4º.

Os povos indígenas, no exercício do seu direito à

autodeterminação, têm direito à autonomia ou

ao autogoverno nas questões relacionadas a seus

assuntos internos e locais, assim como a disporem dos

meios para financiar suas funções autônomas.

Artigo 5º.

Os povos indígenas têm o direito de conservar

e reforçar suas próprias instituições

políticas, jurídicas, econômicas, sociais

e culturais, mantendo ao mesmo tempo seu direito

de participar plenamente, caso o desejem, da vida

política, econômica, social e cultural do Estado.

Artigo 7º.

1. Os indígenas têm direito à vida, à integridade física e

mental, à liberdade e à segurança pessoal. 2. Os

povos indígenas têm o direito coletivo de viver em


25
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
liberdade, paz e segurança, como povos distintos, e não

serão submetidos a qualquer ato de genocídio ou a

qualquer outro ato de

violência, incluída a transferência forçada de

crianças do grupo para outro grupo.

Artigo 9º.

Os povos e pessoas indígenas têm o direito de

pertencerem a uma comunidade ou nação indígena, em

conformidade com as tradições e costumes da

comunidade ou nação em questão. Nenhum tipo de

discriminação poderá resultar do exercício desse direito.

Artigo 34º.

Os povos indígenas têm o direito de

promover, desenvolver e manter

suas estruturas institucionais e

seus próprios costumes, espiritualidade,

tradições, procedimentos, práticas e, quando existam,

costumes ou sistema jurídicos, em conformidade com as

normas internacionais de direitos humanos.

Artigo 35º

26
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
Os povos indígenas têm o direito de

determinar as responsabilidades dos

indivíduos para com suas

comunidades.

Segundo o relatório do Centro de Trabalho Indigenista

(CTI) de 2008, “Situação dos Detentos Indígenas do Estado do Mato Grosso,

Brasília, 2008”, os indígenas processados por delito de homicídio, crime

sujeito ao procedimento do júri, devido à defesa insuficiente acabam sendo

pronunciados e, quando julgados por pelo Tribunal do Júri, cujos

jurados e juradas muitas vezes desconhecem os

modos de percepção e práticas sociais indígenas,

estes são condenados. Somado a isso o fato de que não se

concede ao processado indígena o devido acompanhamento jurídico.

No que tange a aplicação da legislação específica inerente

aos indígenas, nota-se que o do Poder Judiciário, principalmente local, ainda

possui uma grandiosa resistência, e até mesmo falta de conhecimento,

encontrando-se muitas das vezes contaminado pelos estereótipos e

preconceitos históricos relativos aos povos tradicionais. A comunidade

jurídica ao aplicar as legislações específicas, protetivas e garantidoras de

direitos aos indígenas, o fazem justificando, em razão do indígena


27
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
supostamente estar “integrado” à comunhão nacional, não levando em conta

o ordenamento Constitucional e as normativas de direito internacional.

Cumpre salientar que conforme preceitua o art. 56,

parágrafo único, da Lei n. 6.001/73 (Estatuto do Índio), nos casos de

condenação do sílvicola as penas aplicadas a indígenas serão cumpridas, se

possível, em regime especial de semiliberdade, no

local de funcionamento do órgão federal de assistência aos índios mais

próximos da habitação do condenado.

Art. 56. No caso de condenação de índio por infração

penal, a pena deverá ser atenuada e na sua aplicação o

Juiz atenderá também ao grau de integração

do silvícola.

Parágrafo único. As penas de reclusão e de detenção

serão cumpridas, se possível, em regime especial

de semiliberdade, no local de funcionamento

do órgão federal de assistência aos índios

mais próximos da habitação do condenado.

Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos

tribais, de acordo com as instituições

próprias, de sanções penais ou disciplinares contra os


28
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou

infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte.

Logo, como se vê, cumprirá pena em regime menos


gravoso do que o atual aprisionamento cautelar, ferindo de toda a sorte o
princípio da razoabilidade e, consequentemente, a dignidade da pessoa
humana.

A determinação do regramento do art. 56, parágrafo


único do Estatuto do Índio é norma que se impõe, independentemente do
aculturamento do mesmo. Neste sentido a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal:
Decisão: Vistos. Habeas corpus, com pedido de liminar,
impetrado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em
favor de Leonizio Martina Ortiz, buscando a revogação da
prisão preventiva do paciente. Aponta como autoridade
coatora a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça,
que denegou a ordem no HC nº 185.102/MS, impetrado
naquela Corte, Relatora a Ministra Laurita Vaz. Sustenta a
impetrante, em síntese, a falta de fundamentação apta a
justificar a necessidade da medida constritiva do paciente,
bem como a ausência dos pressupostos previstos no art.
312 do Código de Processo Penal. Assevera, ainda, que:
"(...) o paciente efetivamente exerceu as funções de
jurado no Tribunal do Júri da Comarca de Amambai-MS,
condição essa que implica o seu recolhimento cautelar em
quartel ou prisão especial, a teor do art. 295, X, do
Código de Processo Penal. Do mesmo modo, o Paciente
também possui diploma de Curso Superior emitido por
Instituição de Ensino Superior da República (e-STJ fl. 52),
29
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
fazendo jus ao mesmo tratamento citado no parágrafo
anterior conforme preceitua o inciso VII do art. 295 do

CPP. Não bastasse isso, o Estatuto do Índio


(Lei n. 6.001/73, no parágrafo
único do seu art. 56, estabelece
que as penas aplicadas a
indígenas serão cumpridas, se
possível, em regime especial de
semiliberdade, no local de
funcionamento do órgão federal
de assistência aos índios mais
próximos da habitação do
condenado. Impede destacar que
o Supremo Tribunal Federal já
entendeu que esse benefício deve
ser conferido pela simples
condição de se tratar de indígena
(HC 85198/MA, Rel. Min. EROS GRAU, 1ª Turma, DJ 09-
12-2005, p. 16), o que, in casu, resta demonstrado às fl.

54eSTJ. Ora, se a condenação


definitiva do indígena já implica
esse regime especial de
30
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ

cumprimento de pena, não se


pode aceitar que uma medida
cautelar, de natureza efêmera e
acessória, acarrete o
encarceramento do Paciente em
condições mais gravosas do que
aquela. Desta forma, mister se faz que seja

determinado ao juízo de origem a observância das regras


processuais que estabeleceu um regime de
encarceramento do ora Paciente" (fls. 13/14 da inicial -
grifos no original). Requer, liminarmente, a revogação da
prisão preventiva do paciente ou que "seja observado o
regime jurídico previsto no art. 56, parágrafo único, do
Estatuto do Índio (lei n. 6.001/73), ou, que o Paciente
seja posto em cela especial, a teor da previsão elencada
no art. 295, VII, e V, do CPP; ou ainda, por qualquer
motivo entenda-se pela impossibilidade da apreciação
dessas questões no presente writ, seja concedido habeas
corpus de ofício para sanar essas ilegalidades" No mérito,
pede a confirmação. Indeferi o pedido de liminar e
solicitei informações ao Juízo de Direito da 2ª Vara da
Comarca de Amambai/MS e ao Tribunal de Justiça do
Estado de Mato Grosso do Sul. As informações foram
devidamente prestadas. O Ministério Público Federal, em
manifestação da lavra da ilustre Subprocuradora-Geral da
República Dra. Cláudia Sampaio Marques, opinou pela
prejudicialidade da impetração. Examinados os autos,

31
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
decido. Com razão o Parquet Federal, pois conforme
afirma o parecer, "segundo se extrai do andamento
processual da Apelação Criminal n. 0003374-
56.2010.8.12.0004, seu julgamento ocorreu em
30/1/2012, sendo parcialmente provido para absolver o
paciente de duas das condutas imputadas, reduzir a
pena-base e aplicar o crime continuado a todos os crimes
do art. 217-A", sendo que "o paciente não impugnou o
acórdão, que transitou em julgado em 21/3/2012". Nesse
contexto, a notícia de que a segregação do paciente
decorre de condenação já transitada em julgado, o
alegado constrangimento ilegal aventado na impetração
encontra-se superado. Assim, nos termos dos arts. 21,
inciso IX, do RISTF e 38 da Lei nº 8.038/90, julgo
prejudicado o presente habeas corpus. Publique-se.
Brasília, 14 de junho de 2012.Ministro Dias Toffoli Relator
Documento assinado digitalmente 312 Código de Processo
Penal 295 X Código de Processo Penal VII 295 CPP
Estatuto do Índio 6.0015656 parágrafo único Estatuto do
Índio 6.001295 VIIV CPP388.038
(111164 MS , Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de
Julgamento: 14/06/2012, Data de Publicação: DJe-119
DIVULG 18/06/2012 PUBLIC 19/06/2012)

O Superior Tribunal de Justiça também possui


jurisprudência no mesmo norte, vejamos:

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE


HOMICÍDIO QUALIFICADO. PACIENTE INDÍGENA.
INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL NÃO
DEMONSTRADA ANTE A AUSÊNCIA DE SUBSTRATO
32
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
FÁTICO QUE AMPARE A ALEGAÇÃO. PRISÃO PREVENTIVA
SATISFATORIAMENTE FUNDAMENTADA NO REQUISITO
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL, POIS O ACUSADO SE
ENCONTRA FORAGIDO DESDE A PRÁTICA DO DELITO.

POSSIBILIDADE DE
CUMPRIMENTO DA CUSTÓDIA
CAUTELAR EM ÓRGÃO FEDERAL
DE ASSISTÊNCIA AO ÍNDIO, EX
VI DO DISPOSTO NO ART. 56,
PARÁGRAFO ÚNICO,DA LEI
6.001/1973.1. A base empírica embasadora da
denúncia não evidencia, de plano, a existência declarada
de disputa sobre direitos ou terras indígenas como fonte
motriz do crime ora apurado, razão pela qual não se
pode, nesse momento, a competência da justiça
estadual.2. A fuga do réu do distrito da culpa, é causa
suficiente, por si só, para justificar a decretação da prisão
preventiva como forma de garantia do cumprimento da lei
penal.3. A tese de nulidade da citação editalícia do réu
não merece sequer ser conhecida, pois a presente
alegação não foi suscitada pela defesa, na impetração
originária. Assim, resta, na hipótese, impossibilitado o
exame da referida tese pelo Superior Tribunal de Justiça,
sob pena de se incorrer em vedada supressão de

instância. 4. Sendo assegurado aos

33
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ

silvícolas o benefício de
cumprimento de penas
privativas de liberdade em
órgão de assistência ao índio,
tem-se como plenamente
plausível a concessão de tal
benefício ao paciente para que
cumpra a prisão provisória no
referido estabelecimento. 5.

Habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa parte,


concedido tão-somente para assegurar ao paciente, índio
pataxó, que permaneça durante o período da prisão
preventiva, recolhido junto à órgão federal de assistência
ao índio mais próximo de sua aldeia ou residência.
(55792 BA 2006/0049520-8, Relator: Ministra LAURITA
VAZ, Data de Julgamento: 28/06/2006, T5 - QUINTA
TURMA, Data de Publicação: DJ 21.08.2006 p. 267)

Importante também a manifestação da Procuradoria da


República no habeas corpus acima destacado que tramitou no Superior
Tribunal de Justiça, eis o trecho:

"De referência ao lugar da custódia, parece-me que o


paciente tem o direito de recolher-se, em regime de
semiliberdade, ao órgão federal de assistência aos índios
34
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
mais próximo de sua residência, como, aliás, recomenda
e quer a Lei 6.001, de 1973, art. 56, parágrafo único. É
exato que o preceituado pelo diploma legal em comento,
art. 56, parágrafo único, concerne às decisões trânsitas
em julgado, eis que, doutro modo, não haveria expressa
alusão aos cumprimentos das penas de detenção e de
reclusão, que não deve dar-se na ausência de condenação
definitiva, a menos que se deseje elidir a força da
presunção de inocência, que, entre nós, encontra-se
alçada à dignidade constitucional. Não é menos exato,
contudo, que das penas privativas de liberdade e
restritivas de direito (prestação de serviços à
comunidade, interdição temporária de direitos e limitação
de fim de semana) devem ser descontados os períodos de
prisão provisória, que compreende, dentre outras, as
prisões em flagrante, temporária, preventiva, e aquela
imposta à ocasião da pronúncia. Pois bem: se a pena
definitiva deve ser cumprida nas condições aqui
apontadas, parece razoável que nas diversas modalidades
de custódia cautelar, que nela serão computadas, o
recolhimento dê-se no órgão federal de assistência ao
índio, que guarde maior proximidade da residência do
paciente, para que na prisão processual e a execução da

sentença observem um mesmo rigor carcerário. É


dizer: não se afigura razoável que
o paciente, enquanto índio,
permaneça em estabelecimento
penal comum ou em delegacia de

35
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ

polícia, para viabilizar a efetivação


de prisão preventiva, se lhe é
assegurado o cumprimento da
reclusão em órgão especial de
assistência, porquanto a isso
equivaleria, em derradeira análise,
submetê-lo a condições mais
gravosas, quando ainda é precário
o título legitimador da constrição,
para, só após e sobrevinda da
condenação, assegurar-lhe as
vantagens instituídas pela regra
inserta na Lei 6.001, de 1973, art.
56, parágrafo único." (fl. 294)

Excelência, o direito ao tratamento diferenciado é


benefício legal garantido a essa pequena minoria cada vez mais segregada
de nossa sociedade. Desrespeitar tais prerrogativas é ferir de morte a sua
dignidade enquanto pessoa humana e indígena.

Logo, em não sendo possível a revogação da prisão


preventiva do sílvicola, outra saída não poderá tomar Vossa Excelência que
não seja a tese supra exposta, devendo o índio ser encaminhado

36
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
imediatamente ao órgão especial de assistência (FUNAI) mais próximo de
sua tribo indígena.

INDÍO É ÍNDÍO, O DIREITO AO SEU RECONHECIMENTO:

Outro ponto que merece destaque é a questão do


aculturamento indígena.

As malfadadas frases, fruto da ignorância cultural do


branco, como: Ele não é índio, sabe ler e escrever, tem até título de eleitor!

– revelam uma ideologia assimilacionista,


segundo a qual a tendência natural do índio é integrar-se a cultura branca,
não índia, consumindo os seus valores e, deixando aos poucos, de ser índios
tem matiz etnocêntrica e monista.

A Constituição Federal de 1988 procura romper com essa


cultura conservadora e excludente reconhecendo o direito dos índios à sua
organização social, a seus costumes, línguas, crenças, tradições, bem como
garantindo e valorizando a difusão das manifestações culturais indígenas.
Assim, tem-se uma política de respeito e garantia à diversidade cultural,
mais relacionada com um Estado pluralista.

A Convenção nº 169 da Organização Internacional do


Trabalho, ratificada pelo Brasil pelo Decreto Legislativo nº 143 de 2002 e

promulgada pelo Decreto 5.051 de 2004, garante a


autodeterminação dessa minoria e segue o
mesmo perfil ideológico de nossa Constituição Federal.

37
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
O Estatuto do Índio define o índio como sendo “todo
indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana que se identifica e é
identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características
culturais o distinguem da sociedade nacional.”

Do acima exposto, se tem apenas uma conclusão lógica,

O ÍNDIO JAMAIS DEIXARÁ DE SER ÍNDIO EM


RAZÃO DO LUGAR ONDE SE ENCONTRA.
ÍNDIO É ÍNDIO EM SÃO PAULO, EM
PARAGOMINAS E NA TRIBO TEMBÉ, AINDA
QUE DE VEZ EM QUANDO TENHA HÁBITOS DE
NOSSA CULTURA OCIDENTAL.

Sobre o tema, segue as lições de LUIZ FERNANDO


VILLARES:

“A experiência traz que o simples contato de grupos


étnicos não faz um absorver o outro, numa integração
necessária, mas proporciona uma mudança cultural, que
não tira do índio sua identidade. Ela lhes foi roubada
muitas vezes por uma integração forçada, violenta, uma
política levada pela sociedade, pela igreja e pelo Estado
para transformar o índio em indivíduo pobre que habita e

coloniza o meio rural. A perda da


identidade indígena, sob
38
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ

qualquer aspecto, não pode


ser admitida pelo direito.”1

Portanto, em decorrência do fato de ser índio deve-se na


imposição de sanções a membro de povos indígenas, se deva dar
preferência a tipos de punição outros que o encarceramento.

DA SÍNTESE JURÍDICA

A regra constitucional estabelece a liberdade como


padrão, sendo a incidência da prisão processual uma excepcionalidade, só
tendo espeque quando se fizer imprescindível, conforme obtempera, dentre
outros, TOURINHO FILHO (Processo Penal, v. 3., 20. ed., São Paulo,
Saraiva, 1998, p. 451).

O Direito Penal Constitucional, de acordo com um


verdadeiro Estado Democrático de Direito, exige que se aguarde o
desenrolar normal do processo, para que, havendo condenação, possa o
acusado ter sua liberdade segregada, como resposta do ius puniendi do
Estado ao ilícito praticado.

Nesta esteira, em um Estado que tem como corolário


o princípio da presunção de inocência, toda prisão cautelar, dentre elas a
prisão em flagrante, tem caráter de provisoriedade, somente justificável
em situações extremas, sendo, pois, medida de exceção.

1
VILLARES, Luiz Fernando. Direito e Povos Indígenas. Curitiba, ed. Juruá, 2009, p. 17.

39
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
A jurisprudência pátria é categórica no entendimento de
que a custódia provisória só se faz necessária, quando estiverem presentes
as hipóteses autorizadoras da prisão preventiva. Senão vejamos:
TACRSP: “A nova sistemática legal (Lei nº 6.417/77) não
se satisfaz mais, para a subsistência da prisão em
flagrante, com um auto revestido de todas as
formalidades legais, exigindo, além disso, que se
demonstre de forma satisfatória, a necessidade
dessa prisão em face dos requisitos objetivos e
subjetivos autorizadores da prisão preventiva.” (RT
510/365).

TJSP: “Embora preso em flagrante por crime inafiançável,


pode o réu ser libertado provisoriamente, desde que
inocorram razões para a sua prisão preventiva.” (RT
523/376).

Como cediço, em decorrência do princípio da presunção


de inocência, a prisão processual não pode significar antecipação de pena,
pois somente o provimento jurisdicional definitivo "é fonte legítima para
restringir a liberdade pessoal a título de pena2“.

No mesmo sentido, GERALDO PRADO3 observa que isso


ocorre porque, face o princípio constitucional, "não é possível antecipar a
providência de direito material que somente uma sentença de mérito, no
final do processo pode prover", sendo que, somente é admitida a prisão do
imputado, durante a persecução, "por conta da comprovação de duas
situações fundamentais processuais: toda vez que a liberdade do imputado
puser em risco o conteúdo de verdade que o processo penal terá que buscar,

2 TOURINHO FILHO, Fernando. Prática de Processo Penal, p. 365.


3 PRADO, Geraldo. Prisão e liberdade, www.geraldoprado.com/prisão.htm, capturado em 10.10.03).
40
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
ou vier a inviabilizar a aplicação da lei penal, deixando em perigo a
efetivação da sanção criminal".

Destarte, inexistindo necessidade efetiva da intervenção


cautelar, qualquer investida do Estado contra o direito de liberdade de
cidadão constitui constrangimento ilegal, em violação ao basilar princípio da
presunção de inocência, como bem destaca TOURINHO FILHO: "toda e
qualquer prisão provisória, sem que haja laivos de cautelaridade, é
desnecessária e afronta o princípio da presunção de inocência, dogma
4
constitucional.” .

Aliás, não se pode ignorar o espírito da lei, que na


hipótese da prisão preventiva ou cautelar visa à garantia da ordem pública;
da ordem econômica; por conveniência da instrução criminal; ou ainda, para
assegurar a aplicação da lei penal que, no presente caso, não estão
ameaçadas, senão vejamos:

1)Garantia da Ordem Pública. Esse requisito visa a


garantia da ordem na sociedade, quando essa é abalada pela prática do
delito. Segundo a lição do jurista Guilherme de Souza Nucci, em sua obra
Código de Processo Penal Comentado, “a garantia da ordem pública deve ser
visualizada pelo binômio gravidade da infração + repercussão social”.

O indeferimento da liberdade provisória com base nesse


requisito deverá ser fundamentado por motivos que levem a crer que o (a)
requerente poderá voltar a delinquir, o que não é o presente caso, pois não
representa qualquer ameaça à sociedade.

Portanto, impedir que o (a) requerente retorne ao meio


social para mantê-lo em uma cela convivendo com detentos de maior

4 Ob. Cit., p. 368.


41
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
periculosidade, apenas em razão da natureza do delito, que até o presente
momento há apenas indícios, vem de encontro a princípios constitucionais,
como o da presunção de inocência e necessária fundamentação das
decisões, sendo imprescindível que se resguarde o direito do (a) requerente
em responder ao presente processo em liberdade até o trânsito em julgado
da presente demanda.

2)Conveniência da Instrução Criminal. Tal


pressuposto tem a finalidade de garantir o correto desenvolvimento do
devido processo legal, com a lisura do procedimento. Esse requisito também
não está presente no caso em tela, pois o (a) requerente não representa
risco ao normal desenvolvimento do feito, conforme relatado alhures, não
havendo notícia nos autos que contrarie essa assertiva.

3)Asseguração da Aplicação da Lei Penal. Esse


requisito busca garantir a finalidade útil do processo, assegurando o direito
de punir do Estado. Ocorre que tal pressuposto não se aplica à presente
situação, pois o(a) peticionante não representa ameaça ao Estado, no caso
de uma futura condenação, sendo incabível previsões futurísticas de que se
evadirá do distrito da culpa ou do endereço informado perante a autoridade
policial. Vale destacar os seguintes julgados sobre a matéria:
Os argumentos relativos à garantia da aplicação da lei
penal, consistentes no alegado não-comparecimento do
réu ao interrogatório e na ausência de demonstração de
possuir ele residência fixa e ocupação lícita, do mesmo
modo, não são fundamentos suficientes para a medida
constritiva. Com efeito, a espécie dos autos é do réu revel
que, citado por edital, não comparece ao interrogatório
para evitar a consumação de uma prisão injusta, não se
confundindo, portanto, com as hipóteses em que fica
evidente a intenção do acusado de perpetuar sua
42
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
ausência do distrito da culpa, com o fito de frustrar a
aplicação da lei penal. (STF – HC 80.805 – Ministro
Ilmar Galvão – DJ 19/10/2001).

HABEAS CORPUS. FURTO DE UM APARELHO CELULAR E


DE R$20,00. Imediatamente recuperados. Liberdade
provisória negada em primeira instância sob o
fundamento de que a ré não trouxe aos autos,
comprovante de residência. Pareceres do Ministério
Público de 1ª e 2ª instâncias pela concessão da Ordem.
Ré assistida pela Defensoria Pública. A Assistência
Judiciária não dispõe de estrutura material para atender
requisitos processuais desta natureza e, mesmo que
tivesse, seria impossível o cumprimento da exigência, eis
que a ré é moradora de rua (fls. 29). Nas circunstâncias,
impõe-se o atendimento do requisito legal, com a
substituição do comprovante de residência por uma
declaração da ré do local em que poderá ser encontrada;
e com o compromisso de comparecer a todos os atos do
processo, sob pena de revelia. Ordem Concedida. (TJDFT
- 20080020056818HBC, Relator JOÃO TIMÓTEO, 1ª
Turma Criminal, julgado em 05/06/2008, DJ
23/06/2008 p. 120).

Ressalte-se que o requerente não pretende de


nenhuma forma perturbar ou dificultar a busca da verdade real, no
desenvolvimento processual. Tenciona tão somente defender-se da
acusação que contra ela vem sendo proferida, razão pela qual não
deve prosperar a prisão sob este argumento, posto que a requerente
possui emprego definido, possui endereço fixo, podendo ser
localizado a qualquer momento para a prática dos atos processuais,
43
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
sendo domiciliado no distrito da culpa, juntamente com seus
familiares.

É do total interesse do Requerente permanecer no


local, responder ao processo e defender-se.

Ademais, a Constituição Federal em seu artigo 5o. inciso


LXVI, assim dispõe: “NINGUEM SERÁ LEVADO À PRISÃO OU NELA
MANTIDO,QUANDO A LEI ADMITIR LIBERDADE PROVISÓRIA, COM OU SEM
FIANÇA”.

E conforme preceitua o art. 5º Inciso LVII da Constituição


Federal:

“NINGUEM SERÁ CONSIDERADO CULPADO ATÉ O


TRANSITO EM JULGADO DE SENTENÇA PENAL
CONDENATÓRIA”.

CONCLUSÃO

Termos em que, cumpridas as formalidades legais,


requer que o presente seja recebido e processado, e ao final, DEFERIDA A
REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA DO ACUSADO, expedindo-se o
referente alvará de soltura, tornando-se assim, uma medida de direito,
revestida da mais cristalina JUSTIÇA!

Caso este juízo entenda pela impossibilidade da


revogação da preventiva, que conceda a LIBERDADE PROVISÓRIA
SEM FIANÇA EM FAVOR DO INDICIADO, visto que inexistentes os
motivos ensejadores da prisão preventiva, com a conseqüente expedição de

44
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ
Alvará de soltura, após a oitiva do ilustre representante do Ministério
Público.

Logo, em não sendo possível a revogação da prisão


preventiva ou liberdade provisória do sílvicola, outra saída não poderá
tomar Vossa Excelência que não seja a tese supra exposta, devendo
o índio ser encaminhado imediatamente ao órgão especial de
assistência (FUNAI) mais próximo de sua tribo indígena.

Nestes Termos
Pede Deferimento.
Paragominas/PA, 25 de março de 2013.

Johny Fernandes Giffoni Fabiano José Diniz Lopes Júnior


Defensor Público do Estado Defensor Público do Estado
Mat. 808459485

Marco Aurélio Vellozo Guterres Ana Alice Neves Caldas Figueiredo


Defensor Público do Estado Defensor Público do Estado

Adonai Oliveira Farias


Defensor Público do Estado

5
Art. 4º, § 6º LC80\94. A capacidade postulatória do Defensor Público decorre exclusivamente de sua nomeação e posse no cargo público. (Incluído pela Lei
Complementar nº 132, de 2009). Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello “Para que o defensor público disponha de capacidade postulatória não é
necessário que, havendo estado inscrito na OAB, por ocasião do concurso para o cargo ou da posse nele, permaneça inscrito no álbum profissional, pois sua
capacidade postulatória decorre exclusivamente de sua nomeação e posse no correspondente cargo público”.

45

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