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Episclerite e esclerite
Episcleritis and Scleritis
ANATOMIA E FISIOLOGIA
diâmetro da fibra e elevada hidratação. A esclera pode se Quadro 2 - Diferenciação entre episclerite e esclerite
tornar transparente quando desidratada (conteúdo da água < Episclerite Esclerite
40%), como percebido nos afilamentos esclerais. Hiperemia Vermelha Vermelha-azulada
A estrutura colagenosa da esclera e o envoltório pela Biomicroscopia Inflamação Inflamação
episclera são comparados à constituição sinovial, sugerindo episcleral episcleral e escleral
analogia do olho com articulação esferoidal. Ressalte-se que Teste da fenilefrina 10% Diminui Sem alteração acen-
doenças que acometem estruturas articulares geralmente atin- a hiperemia tuada da hiperemia
gem a bainha escleral-episcleral(1). Mobilização do nódulo Nódulo móvel Nódulo imóvel
Dor Discreta Severa
Caráter da doença Benigna Grave
CLASSIFICAÇÃO Associação sistêmica 32% 75%
Complicações oculares Pouco freqüentes Freqüentes
As doenças clínicas mais freqüentes da esclera e episclera
são inflamatórias, ocorrendo ainda enfermidades metabólicas,
degenerativas, neoplásicas e por traumatismo. acometida auxilia o diagnóstico diferencial entre episclerite e
As inflamações da esclera são divididas, com finalidade esclerite. Na episclerite, há o deslocamento anterior da borda
didática, de acordo com a camada acometida (Quadro 1). A superficial do feixe de luz da lâmpada de fenda correspondente
episclerite é caracterizada por infiltração celular do tecido ao edema episcleral, porém não há elevação da borda profun-
episcleral superficial e a esclerite por infiltração dos tecidos da do feixe de luz, pois não há comprometimento escleral. Na
episcleral superficial, profundo e escleral. A classificação em esclerite há deslocamento anterior da borda superficial do
esclerite anterior e posterior identifica sua localização anterior feixe de luz (edema episcleral) e deslocamento anterior da
ou posterior ao equador do globo ocular (1). borda profunda do feixe de luz (edema escleral).
O teste da fenilefrina a 10% é utilizado na diferenciação
entre episclerite e esclerite, pois a fenilefrina apresenta maior
EXAME OFTALMOLÓGICO
efeito vasoconstritor no plexo episcleral superficial do que no
episcleral profundo. Na episclerite, como há congestão do
O exame oftalmológico do paciente com inflamação escle-
plexo episcleral superficial sem ou com pouco comprometi-
ral consiste na avaliação completa incluindo acuidade visual,
mento do plexo profundo, após 10 minutos de instilação de 1
motilidade ocular extrínseca, biomicroscopia e fundoscopia. O
gota de fenilefrina a 10%, a hiperemia ocular diminui significa-
quadro 2 mostra um roteiro auxiliar para o diagnóstico diferen-
tivamente. Na esclerite, por sua vez, o plexo episcleral profun-
cial das doenças inflamatórias.
do fica mais congesto que o plexo superficial e não se altera
A avaliação da episclera e esclera começa pelo exame exter-
com instilação tópica de fenilefrina 10%.
no a olho nu com boa iluminação: a episclerite apresenta olho
A instilação tópica de anestésico e mobilização do tecido
vermelho e a esclerite, exibe um tom vermelho-azulado. Se há
episcleral com cotonete permite o diagnóstico diferencial entre
necrose escleral, aparecem áreas azul-acinzentadas ou marrom
episclerite nodular anterior (nódulo móvel) e esclerite nodular
escuras, devido à visibilização do pigmento coroidal subja-
anterior (nódulo imóvel).
cente. Com a progressão da necrose escleral surgem áreas
avasculares esbranquiçadas que podem desprender-se (áreas
de seqüestro). QUADRO CLÍNICO
Na biomicroscopia à lâmpada de fenda, a avaliação das
bordas superficial e profunda do feixe de luz incidente na área
EPISCLERITE
arterite nodosa, lupus eritematoso sistêmico(3). As complica- e de meia-idade. Tem associação sistêmica freqüente com doen-
ções oculares são pouco freqüentes e geralmente leves. ças sistêmicas reumatológicas (75%), principalmente artrite
reumatóide, granulomatose de Wegener, panarterite nodosa e
Episclerite simples lupus eritematoso sistêmico. Calcula-se que 1 em 200 pacien-
Apresenta hiperemia setorial e, às vezes, difusa da episclera. tes com artrite reumatóide tenha esclerite. As complicações
Geralmente é recorrente, benigna e idiopática (Figura 1). oculares são freqüentes e severas, podendo evoluir para per-
da ocular por perfuração, descolamento de retina, edema do
Episclerite nodular nervo óptico, alterações corneanas, uveíte, glaucoma, entre
Inflamação episcleral localizada com hiperemia, edema e outras(5) .
formação de nódulo que pode ser movimentado sobre a
Esclerite anterior
esclera. Tende a recorrer no mesmo local. Pode estar associa-
da com doenças sistêmicas (Figura 2). Esclerite anterior difusa
ESCLERITE Apresenta hiperemia superficial e profunda associada a
edema escleral, envolvendo uma parte ou toda a esclera. A
A esclerite é doença inflamatória grave, que cursa com
distorção do plexo vascular é característica, com perda do
quadro gradual de dor ocular severa, com característica de
padrão radial normal. É relativamente benigna e raramente
irradiação para face ipsilateral(4). Acomete mais mulheres jovens
progride para forma nodular (Figura 3).
Esclerites
As esclerites geralmente apresentam doenças associadas
Figura 7 - Esclerite posterior (75% dos casos). As mais encontradas são:
48% - colagenoses (artrite reumatóide, granulomatose de retina também podem estar associadas à esclerite infecciosa.
Wegener, policondrite recidivante, espondilite anquilosante, O período de latência para infecção pode ser longo, com
síndrome de Reiter, artrite psoriática, artrite e doença inflama- relatos de 1 semana a 32 anos. O agente mais associado é a
tória intestinal, pan-arterite nodosa, angeíte alérgica de Pseudomonas aeruginosa, seguido de S. pneumoniae, Staphi-
Churg-Strauss, gota (7-9) lococcus aureus, Aspergilus, Mycobacterium fortuitum,
7% - doença infecciosas: Pseudomonas aeruginosa, H.influenzae, varicela-zoster, Treponema palidum, Acan-
Haemophilus influenza, Mycobacterium leprae, Aspergilus, tamoeba, Nocardia, Actinomyces ou agentes mistos(13-16).
Acanthamoeba, Herpes zoster, parasitas(10-11) O quadro clínico é de dor ocular de moderada à severa,
2% - rosácea, atopia, granuloma de corpo estranho, lesão edema palpebral, proptose, hiperemia ocular, lacrimejamento,
química fotofobia, associados ou não à baixa de acuidade visual. O
A avaliação diagnóstica é importante em todos os casos exame biomicroscópico pode evidenciar ulceração no local da
de esclerite e inclui avaliação clínica geral, com interrogatório exérese do pterígio associada ou não à ulceração corneana
dos sistemas e investigação laboratorial. O quadro 3 orienta a periférica, nódulos esclerais múltiplos com epitélio conjunti-
investigação laboratorial para doenças sistêmicas. O encami- val intacto. Acredita-se que os nódulos esclerais representem
nhamento para o reumatologista é aconselhável para coopera- disseminação intra-escleral da infecção ou resposta auto-imune.
ção no diagnóstico e tratamento. As doenças do tecido con- Pode haver uveíte anterior e/ou esclerite posterior associadas.
juntivo podem apresentar severidade variável. As espondilo- Após resolução da infecção, surgem afinamento e placas
artropatias (espondilite anquilosante, síndrome de Reiter, ar- esclerais.
trite psoriáticas, artrite e doença inflamatórias intestinais) ten- As complicações da esclerite infecciosa são freqüentes e
dem a cursar com esclerite mais benigna, a artrite reumatóide e graves. Há relatos de 75% de cegueira com ausência de per-
lúpus eritematoso sistêmico com esclerite de severidade inter- cepção luminosa. Pode haver perda do olho pela infecção,
mediária, enquanto a granulomatose de Wegener geralmente perfuração, cicatrização corneana, catarata, descolamento de
apresenta quadro severo de esclerite necrotizante e ceratite retina, descolamento de coróide, edema macular cistóide e
ulcerativa periférica(3). recorrência de infecção, inclusive na área não acometida pre-
As esclerites ou ceratoesclerites infecciosas são geral- viamente. A disseminação da infecção para o sistema nervoso
mente devastadoras e de difícil erradicação. Os fatores predis- central pode ser fatal.
ponentes são história prévia de cirurgia ocular, trauma local, O diagnóstico diferencial entre esclerite necrotizante infla-
doença escleral ou imunossupressão. A destruição tecidual matória e infecciosa é difícil. Os casos de esclerite infecciosa
pode evoluir para necrose e infecção secundária. A cirurgia descritos na literatura inicialmente foram tratados como escle-
mais associada à esclerite infecciosa é exérese de pterígio com rite inflamatória e diante da progressão da esclerite a despeito
uso de mitomicina, tiotepa, betaterapia ou cauterização exces- da terapia imunossupressora, foram posteriormente investiga-
siva (12). Cirurgias de catarata, glaucoma ou descolamento de dos e diagnosticados como esclerite infecciosa. Sugere-se
Quadro 4 - Terapêutica clínica das episclerites e esclerites cleral and scleral tissues. The association with systemic rheu-
Terapêutica clínica Posologia
mathological diseases requires systematic clinical approach
CORTICÓIDE TÓPICO of patients with scleral inflammation.
Acetato de dexametasona 0,1% 1 gota de 6/6 horas
Acetato de prednisolona 1% 1 gota de 6/6 horas Keywords: Scleritis/diagnosis; Scleritis/drug therapy; Inflam-
Fluormetalona 0,1% 1 gota de 6/6 horas mation; Sclera/pathology; Bacterial eye infections/diagnosis;
ANTI-INFLAMATÓRIO NÃO
Bacterial eye infections/drug therapy; Autoimmune diseases/
HORMONAL SISTÊMICO
Indometacina 75 mg, VO, 2 x/dia (adulto) diagnosis; Rheumatoid arthritis/complications; Adrenal
2-4 mg/kg/dia (criança) cortex hormones/therapeutic use; Prednisolone/therapeutic
Ibuprofen 200mg,VO, 2-3 x/dia (adulto) use; Differential diagnosis; Treatment outcome
10 mg/kg 6/6 horas (criança)
Diclofenaco 75 mg, VO, 2x/dia
Diflusinal 500 mg, VO, 2x/dia
REFERÊNCIAS
CORTICÓIDE SISTÊMICO
Prednisona 1-2 mg/kg/dia (adulto)
1-1,5mg/Kg/dia(criança)
QUIMIOTERAPIA SISTÊMICA 1. Foster CS, Maza MS, Sangwan V, Watson PG, Pavésio C. Scleritis diagnosis
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ANTIBIOTICOTERAPIA TÓPICA
and systemic disease association. Ophthalmology. 1999;106:729-31.
Cefazolina 50 mg/ml - 1/1 hora
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Gentamicina 15 mg/ml - 1/1hora cases. Ophthalmology. 1999;106:1328-33.
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ANTIBIOTICOTERAPIA SISTÊMICA 6. McCluskey PJ, Watson PG, Lightman S, Haybittle J, Restori M, Branley M.
Cefazolina - 1 g, EV, 8/8 horas Posterior scleritis: clinical features, systemic associations, and outcome in a
Gentamicina - 80 mg, EE, 8/8 horas large series of patients. Ophthalmology. 1999;106:2380-6.
Ceftazidime - 2 g, EV, 8/8 horas 7. Olivalves SMR, Petrille AMN, Martins MC, Kim MK, Abreu, MT, Hilário,
Ciprofloxacina - 500mg, VO, 12/12 horas ME, Rolim MAS.Uveíte associada a artrite reumatóide juvenil. Arq Bras
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ção cirúrgica (21). O uso do corticóide é controverso. Acredita- de uveítes, esclerites e episclerites de causa endógena [tese].Belo Horizonte,
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