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Informativo 651-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
 Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, o prazo prescricional do processo administrativo
será aquele que for previsto no art. 109 do CP, esteja ou não esse fato sendo apurado na esfera penal.

DIREITO URBANÍSTICO
 O art. 40 da Lei 6.766/79 prevê um poder-dever do Município de regularizar os loteamentos irregulares ou
clandestinos.

DIREITO CIVIL
PRESCRIÇÃO
 Prazo prescricional para a repetição de indébito por cobrança indevida de valores referentes a serviços de telefonia
fixa não contratados: 10 anos.

CLÁUSULA PENAL
 Cláusula penal moratória não pode ser cumulada com indenização por lucros cessantes.

DAÇÃO EM PAGAMENTO
 Determinada empresa deu ao credor um terreno como pagamento da dívida (dação em pagamento); se não foi
feita nenhuma ressalva, presume-se que a transferência do imóvel incluiu a plantação ali existente.

LOCAÇÃO COMERCIAL
 É possível que empresa de telefonia celular proponha ação renovatória (art. 51 da Lei nº 8.245/91) para renovar a
locação de imóvel onde está instalada a sua antena (ERB) considerando que isso também compõe seu fundo de
comércio.

CONDOMÍNIO
 Não se pode proibir o condômino inadimplente de usar as áreas comuns do condomínio.

SUCESSÃO
 A reserva da quarta parte da herança, prevista no art. 1.832 do Código Civil, não se aplica à hipótese de concorrência
sucessória híbrida.

DIREITO DO CONSUMIDOR
PRÁTICAS COMERCIAIS
 É válida a cláusula do contrato de “clube de turismo Bancorbrás” que prevê que o consumidor perde o direito às
diárias do hotel caso não as utilize no prazo de 1 ano.

COMPRA DE IMÓVEIS
 Cláusula penal moratória não pode ser cumulada com indenização por lucros cessantes.
 Prevendo o contrato a incidência de multa moratória para o caso de descumprimento contratual por parte do
consumidor, a mesma multa deverá incidir, em reprimenda do fornecedor, caso seja deste a mora ou o
inadimplemento.
Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1
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DIREITO EMPRESARIAL
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
 Plano de recuperação judicial pode prever que os credores serão pagos parceladamente e que o saldo devedor será
corrigido pela TR mais 1% ao ano.
 Aprovação do plano suspende os protestos tirados contra a empresa em recuperação, mas ficam mantidos os
protestos tirados contra eventuais coobrigados (ex: avalistas).
 Se houve a migração da concordata para recuperação judicial, o crédito em moeda estrangeira será calculado com
base no câmbio do dia do processamento da concordata.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


AGRAVO DE INSTRUMENTO
 Em caso de decisões interlocutórias complexas, qual critério será adotado para saber se cabe ou não agravo de
instrumento?

DIREITO PROCESSUAL PENAL


PROVAS
 É ilícita a prova obtida em revista pessoal feita por agentes de segurança particular.

DIREITO ADMINISTRATIVO

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR


Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, o prazo prescricional do processo
administrativo será aquele que for previsto no art. 109 do CP, esteja ou não esse fato sendo
apurado na esfera penal

Importante!!!
Mudança de entendimento!
Atualize o Info 502-STJ
O prazo prescricional previsto na lei penal se aplica às infrações disciplinares também
capituladas como crime independentemente da apuração criminal da conduta do servidor.
Para se aplicar a regra do § 2º do art. 142 da Lei nº 8.112/90 não se exige que o fato esteja
sendo apurado na esfera penal (não se exige que tenha havido oferecimento de denúncia ou
instauração de inquérito policial).
Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, deve ser aplicado o prazo
prescricional previsto na legislação penal independentemente de qualquer outra exigência.
STJ. 1ª Seção. MS 20.857-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes,
julgado em 22/05/2019 (Info 651).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João, servidor público federal, desviou, em proveito próprio, dinheiro de que tinha posse em razão do cargo.
Esse fato pode ser analisado sob três aspectos: o penal, o administrativo e o civil.
• Sob o aspecto penal: o agente pode responder a processo penal e ser condenado pelo crime de peculato-
desvio (art. 312, 2ª parte, do CP).
• Sob o aspecto administrativo: o servidor pode responder a processo administrativo disciplinar e ser
condenado a sanção de demissão (art. 132, I, da Lei nº 8.112/90).

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2


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• Sob o aspecto cível: João pode ser réu em ação de improbidade, estando sujeito às sanções previstas no
art. 12, I, da Lei nº 8.429/92).

Vamos nos concentrar aqui no aspecto administrativo e, mais especificamente, na prescrição.

Prescrição da infração administrativa


As infrações disciplinares, assim como as infrações penais, também estão sujeitas à prescrição. Logo, se a
Administração Pública demorar muito tempo para apurar uma falta cometida pelo servidor, ela perderá o
direito de punir.
A prescrição da pretensão punitiva é um direito fundamental do ser humano e está baseado na segurança
jurídica. Somente a Constituição Federal pode declarar que determinada infração (penal ou
administrativa) é imprescritível (exs.: art. 5º, XLII, XLIV; art. 37, § 5º).

Quais os prazos prescricionais aplicáveis às sanções administrativas?


O art. 142 da Lei nº 8.112/90 prevê os prazos de prescrição disciplinar:
Art. 142. A ação disciplinar prescreverá:
I — em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com demissão, cassação de aposentadoria ou
disponibilidade e destituição de cargo em comissão;
II — em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;
III — em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à advertência.
(...)
§ 2º Os prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam-se às infrações disciplinares capituladas
também como crime.

Veja, de forma mais didática, o tema nesta tabela abaixo:


Tipo de infração Prazo prescricional
Se a sanção prevista para essa infração administrativa for 5 anos
DEMISSÃO, CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA ou DISPONIBILIDADE e
DESTITUIÇÃO de cargo em comissão.
Se a sanção for SUSPENSÃO. 2 anos
Se a sanção for ADVERTÊNCIA. 180 dias
Se a infração administrativa praticada for também CRIME. Será o mesmo prazo da
prescrição penal (art. 109, CP)

Qual é o termo inicial dos prazos de prescrição das infrações administrativas? Em outras palavras,
quando se iniciam os prazos prescricionais previstos no art. 142 da Lei nº 8.112/90?
Na data em que o fato se tornou conhecido. É o que diz expressamente o § 1º do art. 142:
Art. 142 (...)
§ 1º O prazo de prescrição começa a correr da data em que o fato se tornou conhecido.

Esse tema é também objeto de um enunciado do STJ:


Súmula 635-STJ: Os prazos prescricionais previstos no art. 142 da Lei nº 8.112/1990 iniciam-se na data em
que a autoridade competente para a abertura do procedimento administrativo toma conhecimento do
fato, interrompem-se com o primeiro ato de instauração válido - sindicância de caráter punitivo ou
processo disciplinar - e voltam a fluir por inteiro, após decorridos 140 dias desde a interrupção.

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Prazo prescricional da infração administrativa se o fato praticado for também crime


Como vimos acima, o § 2º do art. 142 da Lei nº 8.112/90 afirma que se o servidor público cometeu infração
disciplinar que também é tipificada como crime, o prazo prescricional para apuração desta infração
administrativa não será o da Lei nº 8.112/90, mas sim o prazo prescricional previsto no art. 109 do CP para
aquele respectivo crime.
Veja novamente a redação do dispositivo:
Art. 142. (...)
§ 2º Os prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam-se às infrações disciplinares capituladas
também como crime.

Assim, em nosso exemplo, o prazo para que a Administração Pública apure a infração disciplinar praticada
por João será de 16 anos, com base no art. 109, II c/c art. 312 do CP:
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1º do
art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime,
verificando-se:
(...)
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze;

Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou
alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Exigência de que o fato esteja sendo apurado na esfera penal para se aplicar o prazo prescricional do
art. 109 do CP (superada)
O STJ adotava uma intepretação não literal do § 2º do art. 142 da Lei nº 8.112/90.
O STJ dizia o seguinte: o § 2º do art. 142 somente deve ser aplicado quando o fato, objeto do processo
administrativo, também estiver sendo apurado na esfera criminal.
Assim, somente se aplicava o prazo prescricional previsto na legislação penal quando houvesse sido
proposta denúncia ou ao menos houvesse sido instaurado um inquérito policial para apurar o fato.
Se não houvesse apuração na esfera penal, deveria ser aplicado o prazo prescricional de 5 anos, de acordo
com o art. 142, I, da Lei nº 8.112/90.
A mera presença de indícios de prática de crime sem a devida apuração nem formulação de denúncia
obstava a aplicação do art. 142, § 2º, da Lei nº 8.112/90, devendo ser utilizada a regra geral prevista no
inciso I desse dispositivo.
Desse modo, com base na antiga orientação do STJ, no caso de João, o prazo prescricional para apurar a
infração administrativa iria depender:
• Se já tivesse havido oferecimento de denúncia ou instauração de IP: o prazo prescricional seria de 16
anos (com base na prescrição penal);
• Se não houvesse propositura de ação penal nem instauração de IP: o prazo prescricional seguia a regra
geral, ou seja, seria de 5 anos (com base na legislação administrativa).

Esse entendimento ainda é adotado pelo STJ?


NÃO. Não há mais essa exigência de que o fato esteja sendo apurado na esfera penal.
O STJ agora entende que:
O prazo prescricional previsto na lei penal se aplica às infrações disciplinares também capituladas como
crime independentemente da apuração criminal da conduta do servidor.

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Para se aplicar a regra do § 2º do art. 142 da Lei nº 8.112/90 não se exige que o fato esteja sendo apurado
na esfera penal (não se exige que tenha havido oferecimento de denúncia ou instauração de inquérito
policial).
Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, deve ser aplicado o prazo prescricional
previsto na legislação penal independentemente de qualquer outra exigência.
STJ. 1ª Seção. MS 20.857-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado
em 22/05/2019 (Info 651).

Esse novo entendimento do STJ está baseado na independência das esferas administrativa e criminal. Em
razão dessa independência de instâncias, a existência de apuração criminal não pode ser um pré-requisito
para a utilização do prazo prescricional penal.
Além disso, “o lapso prescricional não pode variar ao talante da existência ou não de ação penal,
justamente pelo fato de a prescrição estar relacionada ao vetor da segurança jurídica.” (Min. Gurgel de
Faria). Em outras palavras, geraria uma enorme insegurança jurídica se o prazo prescricional da infração
administrativa fosse “decidido” com base na existência ou não de apuração criminal.

Também é a posição do STF


Vale ressaltar que esse entendimento mais recente do STJ é também adotado pelo STF:
(...) LEGITIMIDADE DA APLICAÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL DA LEI PENAL, INDEPENDENTEMENTE, DE
INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO NA ESFERA CRIMINAL. (...)
STF. 1ª Turma. MS 35631 ED/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, DJe 22/11/2018.

(...) Capitulada a infração administrativa como crime, o prazo prescricional da respectiva ação disciplinar
tem por parâmetro o estabelecido na lei penal (art. 109 do CP), conforme determina o art. 142, § 2º, da
Lei nº 8.112/1990, independentemente da instauração de ação penal. (...)
STF. 1ª Turma. AgRg no RMS 31.506/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe 26/3/2015.

DIREITO URBANÍSTICO
O art. 40 da Lei 6.766/79 prevê um poder-dever do Município
de regularizar os loteamentos irregulares ou clandestinos

Importante!!!

Atenção! PGM
Existe o poder-dever do Município de regularizar loteamentos clandestinos ou irregulares.
Esse poder-dever, contudo, fica restrito à realização das obras essenciais a serem implantadas
em conformidade com a legislação urbanística local (art. 40, caput e § 5º, da Lei nº 6.799/79).
Após fazer a regularização, o Município tem também o poder-dever de cobrar dos
responsáveis (ex: loteador) os custos que teve para realizar a sua atuação saneadora.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.164.893-SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 23/11/2016 (Info 651).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João era proprietário de uma grande extensão de terra, não edificada (“sem nada construído”), localizada
em área urbana.
Ele, então, teve uma “ideia”: decidiu lotear esse terreno e vender esses lotes.

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Para fazer isso, João deveria ter cumprido uma série de providências previstas na Lei nº 6.766/79 (que
dispõe sobre o parcelamento do solo urbano). Tais exigências, contudo, são difíceis e trabalhosas e, por
isso, João não as cumpriu.
Em resumo, João fez um loteamento irregular e passou a firmar com as pessoas compromissos de compra
e venda dos lotes.

Loteamento clandestino Loteamento irregular


Loteamento clandestino é aquele que não foi Loteamento irregular: é aquele que foi aprovado
aprovado pela administração pública municipal. pela administração pública municipal, mas que:
• não foi inscrito ou
• não foi executado em conformidade com o plano
e as plantas aprovadas.

Ação proposta pelo MP


O Ministério Público, ao tomar conhecimento, ajuizou ação civil pública contra João e o Município pedindo
que:
a) João seja condenado a promover a aprovação do loteamento perante o Município, devendo, para tanto,
atender as exigências da legislação municipal e federal;
b) o Município seja condenado, nos termos do art. 40 da Lei nº 6.766/79, a executar as obras de
infraestrutura necessárias para a regularização do loteamento irregular, caso o loteador, depois de
notificado, não tomar as medidas adequadas:
Art. 40. A Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, se desatendida pelo
loteador a notificação, poderá regularizar loteamento ou desmembramento não autorizado ou
executado sem observância das determinações do ato administrativo de licença, para evitar lesão
aos seus padrões de desenvolvimento urbano e na defesa dos direitos dos adquirentes de lotes.

O Município contestou a demanda afirmando que não teria esse dever e que o art. 40 acima transcrito é
muito claro ao dizer que o Município “poderá” regularizar. Logo, a regularização do loteamento é um ato
discricionário do poder público.

É possível condenar o Poder Público neste caso? O Município possui uma faculdade ou um dever de
regularizar o loteamento?
SIM. Não se trata de uma mera faculdade. O Município possui o poder-dever de regularizar o loteamento.
Para o STJ, o art. 40 da Lei nº 6.766/79 prevê o poder-poder do Município de regularizar loteamento não
autorizado ou executado sem observância das determinações do ato administrativo de licença,
configurando, portanto, ato vinculado da municipalidade.
O art. 30, VIII, da CF/88 afirma que:
Art. 30. Compete aos Municípios:
(...)
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e
controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;

Para evitar lesão aos padrões de desenvolvimento urbano, o Município não pode eximir-se do dever de
regularizar loteamentos irregulares se os loteadores e responsáveis, devidamente notificados, deixam de
proceder com as obras e melhoramentos indicados pelo ente público.
Desse modo, o procedimento previsto no art. 40 da Lei nº 6.766/79 é obrigatório (vinculante) para o
Município, não sendo meramente facultativo.
O Município tem, assim, o dever de promover o asfaltamento das vias, a implementação de iluminação
pública, redes de energia, água e esgoto, os calçamentos etc.

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Mas o Município fará isso com recursos públicos?


SIM. O Município deverá, ele próprio e às suas expensas, fazer as obras necessárias, cobrando depois, do
loteador, o ressarcimento pelos custos que teve com a regularização.

A regularização feita pelo Município deve obedecer à legislação


Vale ressaltar que o dever do Município, segundo a redação do art. 40, tem por objetivo “evitar lesão aos
seus padrões de desenvolvimento urbano e na defesa dos direitos dos adquirentes de lotes”.
Isso significa que não se exige do Município que faça a regularização de loteamentos clandestinos (não
aprovados pelo Município) em terrenos que ofereçam perigo imediato para os moradores lá instalados,
assim como os que estejam em Áreas de Preservação Permanente, de proteção de mananciais de
abastecimento público, ou mesmo fora do limite de expansão urbana fixada nos termos dos padrões de
desenvolvimento local.
A ordem judicial, nesses casos, deve ser apenas para exigir que o Poder Público faça a remoção das pessoas
alojadas nesses lugares insalubres, impróprios ou inóspitos, assegurando-lhes habitação digna e segura (o
verdadeiro direito à cidade).
Nesse sentido, veja o que afirma o § 5º do art. 40:
Art. 40 (...)
§ 5º A regularização de um parcelamento pela Prefeitura Municipal, ou Distrito Federal, quando
for o caso, não poderá contrariar o disposto nos arts. 3º e 4º desta Lei, ressalvado o disposto no §
1º desse último.

Os arts. 3º e 4º da Lei nº 6.766/79, citados no dispositivo acima transcrito, são exatamente aqueles que
definem os requisitos mínimos para a implementação dos loteamentos e impõem, como não poderia
deixar de ser, observância à legislação urbanística local.
Mesmo na hipótese de loteamentos irregulares (aprovados, mas não inscritos ou executados
adequadamente), a obrigação do Poder Público restringe-se à infraestrutura necessária para sua inserção
na malha urbana, como ruas, esgoto, iluminação pública etc., de modo a atender aos moradores já
instalados, sem prejuízo do também dever-poder da Administração de cobrar dos responsáveis os custos
em que incorrer na sua atuação saneadora.
Assim, por óbvio que o art. 40 da Lei nº 6.766/79 não autoriza que o Município descumpra a sua própria
legislação urbanística.

Em suma:
Existe o poder-dever do Município de regularizar loteamentos clandestinos ou irregulares. Esse poder-
dever, contudo, fica restrito à realização das obras essenciais a serem implantadas em conformidade
com a legislação urbanística local (art. 40, caput e § 5º, da Lei nº 6.799/79).
Após fazer a regularização, o Município tem também o poder-dever de cobrar dos responsáveis (ex:
loteador) os custos que teve para realizar a sua atuação saneadora.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.164.893-SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 23/11/2016 (Info 651).

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DIREITO CIVIL

PRESCRIÇÃO
Prazo prescricional para a repetição de indébito por cobrança indevida de valores referentes a
serviços de telefonia fixa não contratados: 10 anos

A ação de repetição de indébito por cobrança indevida de valores referentes a serviços não
contratados de telefonia fixa tem prazo prescricional de 10 (dez) anos.
STJ. Corte Especial. EAREsp 738.991-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/02/2019 (Info 651).

Repetição de indébito
Ação de repetição de indébito (ou ação de restituição de indébito) é a ação na qual o requerente pleiteia
a devolução de determinada quantia que pagou indevidamente.
A ação de repetição de indébito, ao contrário do que muitos pensam, não é restrita ao Direito Tributário.
Assim, por exemplo, se um consumidor é cobrado pelo fornecedor e paga um valor que não era devido,
poderá ingressar com ação de repetição de indébito para pleitear valor igual ao dobro do que pagou em
excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável (art. 42,
parágrafo único do CDC).

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


João percebeu que a empresa de telefonia fixa lhe cobrou durante 7 anos por vários serviços que não
foram contratados.
Diante disso, ele propôs uma ação de repetição de indébito por essa cobrança indevida.
A empresa de telefonia contestou a demanda alegando que João propôs, na verdade, uma ação de
enriquecimento sem causa. Logo, o prazo prescricional para essa pretensão seria de 3 anos, com base no
art. 206, § 3º, IV, do Código Civil:
Art. 206. Prescreve:
(...)
§ 3º Em três anos:
(...)
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;

A tese da empresa foi aceita pelo STJ?


NÃO.

Requisitos da ação de enriquecimento sem causa


A pretensão que busca o ressarcimento em razão de enriquecimento sem causa (também chamada de
ação in rem verso) possui os seguintes requisitos:
a) enriquecimento de alguém;
b) empobrecimento correspondente de outra pessoa;
c) relação de causalidade entre esse enriquecimento e o empobrecimento;
d) ausência de causa jurídica para esse enriquecimento e empobrecimento;
e) inexistência de outra ação específica que tutele essa pretensão. Assim, pode-se dizer que a ação de
enriquecimento sem causa tem caráter subsidiário (art. 886 do CC).

Previsão legal
A proibição do enriquecimento sem causa está prevista nos arts. 884 a 886 do Código Civil:

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8


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Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir
o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.
Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, quem a recebeu é
obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a restituição se fará pelo valor do bem na
época em que foi exigido.
Art. 885. A restituição é devida, não só quando não tenha havido causa que justifique o
enriquecimento, mas também se esta deixou de existir.
Art. 886. Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios
para se ressarcir do prejuízo sofrido.

Razões pelas quais essa pretensão não pode ser qualificada como ressarcimento em razão de
enriquecimento sem causa
Existem duas razões que justificam o não enquadramento desta pretensão como ação de enriquecimento
sem causa:
1) neste pedido de repetição de indébito (ressarcimento) existe uma causa jurídica, qual seja, uma relação
contratual prévia em que se debate a legitimidade da cobrança;
2) a ação de repetição de indébito é uma ação específica, de forma que não se deve buscar a ação
subsidiária (art. 886 do CC).

Orlando Gomes explicou, de forma certeira, que, se não fosse o caráter subsidiário, todas as ações seriam
absorvidas pela de ação in rem verso, ou seja, tudo seria ação de enriquecimento sem causa:
“A ação de enriquecimento cabe toda vez que, havendo direito de pedir a restituição do bem
obtido sem causa justificativa de aquisição, o prejudicado não dispõe de outra ação para exercê-
lo. Tem, portanto, caráter subsidiário. Só se justifica nas hipóteses em que não haja outro meio
para obter a reparação do direito lesado. A esta conclusão, aceita pela maioria dos escritores,
chegou o direito italiano no qual não cabe quando o prejudicado pode obter por meio de outra
ação, indenização do dano sofrido. Se não fora assim, todas as ações seriam absorvidas pela de in
rem verso, convertido o princípio condenatório do enriquecimento sem causa numa panaceia*.”
(GOMES, Orlando. Obrigações, 15ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 252)

* Na mitologia grega, Panaceia era a “deusa da cura”. Atualmente, a palavra panaceia é utilizada quando
queremos dizer que aquela coisa é o “remédio para todos os males”.

Desse modo, o prazo prescricional estabelecido no art. 206, § 3º, IV, do Código Civil deve ser interpretado
de forma restritiva, somente sendo aplicado para os casos subsidiários de ação de in rem verso.

Mas, afinal de contas, qual será então o prazo prescricional para essa pretensão?
Não existe um dispositivo específico no Código Civil tratando exatamente dessa situação. Em razão disso,
aplica-se o prazo de 10 anos, conforme preconiza o art. 205 do CC:
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

Em suma:
A ação de repetição de indébito por cobrança indevida de valores referentes a serviços não contratados
de telefonia fixa tem prazo prescricional de 10 (dez) anos.
STJ. Corte Especial. EAREsp 738.991-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/02/2019 (Info 651).

Por que não se aplica o prazo prescricional de 5 anos previsto no art. 27 do CDC?
Vamos relembrar o que diz o art. 27 do CDC:

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9


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Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do
produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a
partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

O prazo do art. 27 do CDC se aplica para as pretensões relacionadas com danos causados por fato do
produto ou do serviço. O art. 27 do CDC está, portanto, intimamente ligado ao art. 14 do mesmo Código,
tratando, assim, da responsabilidade do fornecedor pelo fato do serviço.
No caso apreciado, a pretensão não está relacionada com “defeito” na prestação de serviços, mas sim com
a restituição de valores de serviços cobrados indevidamente.

CLÁUSULA PENAL
Cláusula penal moratória não pode ser cumulada com indenização por lucros cessantes

Importante!!!
Mudança de entendimento!
Atualize os informativos 513 e 540 do STJ
A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da
obrigação, e, em regra, estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação
com lucros cessantes.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.498.484-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso
repetitivo) (Info 651).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João celebrou contrato de promessa de compra e venda de um apartamento com a construtora MRT
Engenharia.
A cláusula quinta do pacto previa que a construtora entregaria o apartamento no dia 31/03/2012,
podendo prorrogar a entrega para 30/09/2012 (prazo de tolerância).
Ocorre que a construtora, por mora imputável unicamente a ela, somente entregou o imóvel em 11/01/2013.
Diante disso, João ajuizou ação pedindo a condenação da construtora ao pagamento:
• da multa de 1% ao mês prevista no contrato (multa contratual); e
• dos lucros cessantes, correspondente à quantia que o adquirente poderia obter se estivesse alugando o
imóvel (valor do aluguel do imóvel atrasado).

O pedido era para que, tanto o valor da multa como dos lucros cessantes fossem pagos no período de
01/10/2012 até 11/01/2013 (quando ocorreu a efetiva entrega das chaves).

Em que consiste essa multa contratual? Qual é a sua natureza jurídica?


Trata-se de uma cláusula penal moratória.

O que é cláusula penal?


Cláusula penal é...
- uma cláusula do contrato
- ou um contrato acessório ao principal
- em que se estipula, previamente, o valor da indenização que deverá ser paga
- pela parte contratante que não cumprir, culposamente, a obrigação.

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10


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A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa contratual ou pena
convencional.
A cláusula penal é uma obrigação acessória, referente a uma obrigação principal.
Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista em instrumento separado.

Espécies de cláusula penal


Existem duas espécies de cláusula penal:
MORATÓRIA COMPENSATÓRIA
(compulsória): (compensar o inadimplemento)
Estipulada para desestimular o devedor a incorrer Estipulada para servir como indenização no caso
em mora ou para evitar que deixe de cumprir de total inadimplemento da obrigação principal.
determinada cláusula especial da obrigação
principal. É a cominação contratual de uma multa
para o caso de mora.
Finalidade: para uns, funciona como punição pelo Funciona como uma prefixação das perdas e
atraso no cumprimento da obrigação. Para outros danos.
autores, teria uma função apenas de inibir o
descumprimento e indenizar os prejuízos (não
teria finalidade punitiva).
Aplicada para o caso de inadimplemento relativo. Aplicada para o caso de inadimplemento absoluto.
Ex: em uma promessa de compra e venda de um Ex: em um contrato para que um cantor faça um
apartamento, é estipulada multa para o caso de show no réveillon, é estipulada uma multa de 100
atraso na entrega. mil reais caso ele não se apresente.
Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para
o caso de mora, ou em segurança especial de outra o caso de total inadimplemento da obrigação, esta
cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de converter-se-á em alternativa a benefício do
exigir a satisfação da pena cominada, juntamente credor.
com o desempenho da obrigação principal.

Multa moratória = obrigação principal + multa


Multa compensatória = obrigação principal ou multa

Em caso de atraso na entrega do imóvel, é possível a cumulação da indenização por lucros cessantes
com a cláusula penal moratória? Em nosso exemplo, será possível condenar a construtora ao
pagamento da multa e mais os lucros cessantes?
NÃO.
Para o Min. Luis Felipe Salomão, a natureza da cláusula penal moratória é eminentemente reparatória
(indenizatória), possuindo também, reflexamente, uma função dissuasória (ou seja, de desestímulo ao
descumprimento).
Tanto isso é verdade que a maioria dos contratos de promessa de compra e venda prevê uma multa
contratual por atraso (cláusula penal moratória) que varia de 0,5% a 1% ao mês sobre o valor total do
imóvel. Esse valor é escolhido porque representa justamente a quantia que o imóvel alugado,
normalmente, produziria ao locador.
Assim, como a cláusula penal moratória já serve para indenizar/ressarcir os prejuízos que a parte sofreu,
não se pode fazer a sua cumulação com lucros cessantes (que também consiste em uma forma de
ressarcimento).
Diante desse cenário, havendo cláusula penal no sentido de prefixar, em patamar razoável, a indenização,
não cabe a sua cumulação com lucros cessantes.

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11


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Em suma:
A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em
regra, estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.498.484-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso
repetitivo) (Info 651).

Mudança de entendimento
Vale ressaltar que a decisão acima explicada representa uma alteração de entendimento. Isso porque o
STJ entendia que:
A cláusula penal moratória não era estipulada para compensar o inadimplemento nem para substituir o
adimplemento. Assim, a cominação contratual de uma multa para o caso de mora não interferia com a
responsabilidade civil. Logo, não havia óbice a que se exigisse a cláusula penal moratória juntamente com
o valor referente aos lucros cessantes.
Desse modo, no caso de mora, existindo cláusula penal moratória, concedia-se ao credor a faculdade de
requerer, cumulativamente: a) o cumprimento da obrigação; b) a multa contratualmente estipulada; e
ainda c) indenização correspondente às perdas e danos decorrentes da mora.
Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1355554-RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 6/12/2012 (Info 513).

Se não houver cláusula penal, continua sendo possível a condenação por lucros cessantes
Nem sempre os contratos de promessa de compra e venda possuem cláusula penal estipulando multa
para a construtora em caso de atraso na entrega do imóvel. Assim, se não existir cláusula penal e se houve
efetivamente o atraso, será possível, em tese, condenar a construtora ao pagamento de lucros cessantes:
O atraso na entrega do imóvel enseja pagamento de indenização por lucros cessantes durante o período
de mora do promitente vendedor, sendo presumido o prejuízo do promitente comprador.
Os lucros cessantes serão devidos ainda que não fique demonstrado que o promitente comprador tinha
finalidade negocial na transação.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.341.138-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 09/05/2018 (Info 626).

Vale ressaltar, no entanto, que essa hipótese será cada vez mais rara na prática, considerando o que
decidiu o STJ no REsp 1.631.485-DF:
No contrato de adesão firmado entre o comprador e a construtora/incorporadora, havendo previsão de
cláusula penal apenas para o inadimplemento do adquirente, deverá ela ser considerada para a fixação da
indenização pelo inadimplemento do vendedor.
As obrigações heterogêneas (obrigações de fazer e de dar) serão convertidas em dinheiro, por
arbitramento judicial.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.631.485-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso
repetitivo) (Info 651).

Ampliando um pouco o debate: em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal
COMPENSATÓRIA, caso haja o inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula
penal e mais as perdas e danos?
Também não. Não se pode cumular multa compensatória prevista em cláusula penal com indenização por
perdas e danos decorrentes do inadimplemento da obrigação.
A finalidade da cláusula penal compensatória é recompor a parte pelos prejuízos que eventualmente
decorram do inadimplemento total ou parcial da obrigação. Não é possível, portanto, cumular cláusula
penal compensatória com perdas e danos decorrentes de inadimplemento contratual.
Com efeito, se as próprias partes já acordaram previamente o valor que entendem suficiente para
recompor os prejuízos experimentados em caso de inadimplemento, não se pode admitir que, além desse
valor, ainda seja acrescido outro, com fundamento na mesma justificativa – a recomposição de prejuízos.

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12


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Entendimento atual do STJ:


Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal, caso haja o inadimplemento, é possível que o
credor exija o valor desta cláusula penal e mais as perdas e danos?
NÃO. Isso tanto em caso de cláusula penal moratória como também compensatória.

Lei nº 13.786/2018
Em 28/12/2018, entrou em vigor a Lei nº 13.786/2018, que dispõe sobre a resolução do contrato por
inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária.
A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 43-A na Lei nº 4.591/64 para tratar sobre o inadimplemento
(parcial ou absoluto) em contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão
de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária ou de loteamento. Veja inicialmente o
que diz o caput:
Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada
contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimento, desde que
expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por
parte do adquirente nem ensejará o pagamento de qualquer penalidade pelo incorporador.

Assim, o caput do art. 43-A prevê agora expressamente a validade da cláusula de tolerância (que já era
admitida pela jurisprudência). Com isso, admite-se como tolerável (aceitável) um atraso de até 180 dias
em relação ao prazo previsto para a entrega.
Por outro lado, se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância, isso já será considerado
inaceitável e o adquirente poderá pedir cumulativamente:
• a resolução do contrato;
• a devolução de todo o valor que pagou; e
• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de
correção monetária. É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:
§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o
adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do
contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa
estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do
§ 8º do art. 67-A desta Lei.

O adquirente pode, no entanto, decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele
não quer a resolução do contrato, ou seja, ele permanece com interesse no imóvel.
Neste caso, este adquirente irá receber o imóvel e terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente
pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.
Veja a redação do § 2º do art. 43-A:
§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput
deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por
ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à
incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente conforme índice
estipulado em contrato.

Vale ressaltar que a multa do § 1º, vista acima, é decorrente da inexecução total da obrigação (houve a
resolução do contrato).

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13


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O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas
cumprido com atraso).
Assim, as sanções têm natureza jurídica e finalidade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme
prevê o § 3º do art. 43-A:
§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obrigação, em
hipótese alguma poderá ser cumulada com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da
inexecução total da obrigação.

Como fica a questão da aplicação da Lei nº 13.786/2018 no tempo? Essas regras da Lei nº 13.786/2018,
que acabei de explicar, podem ser aplicadas para os contratos celebrados antes da sua vigência?
NÃO. As regras da Lei nº 13.786/2018, que entrou em vigor no dia 28/12/2018, não podem ser aplicadas
aos contratos anteriores à sua vigência.
A nova lei só poderá atingir contratos celebrados posteriormente à sua entrada em vigor.
Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão:
“(...) a Lei n. 13.786/2018 não será aplicada para a solução dos casos em julgamento, de modo a
trazer segurança e evitar que os jurisdicionados que firmaram contratos anteriores sejam
surpreendidos, ao arrepio do direito adquirido e do ato jurídico perfeito.”

O que vale é a data da celebração do contrato (e não a data do inadimplemento). Desse modo, imagine
que o contrato foi celebrado em janeiro de 2017. Em janeiro de 2019, terminou o prazo de tolerância e a
construtora não entregou o empreendimento. Neste caso, não se aplicam as regras trazidas pela Lei nº
13.786/2018 porque o pacto é anterior a esse diploma.
Assim, podemos fixar as conclusões:
• contratos celebrados até 27/12/2018: em caso de inadimplemento, aplica-se a jurisprudência do STJ
firmada neste REsp 1.498.484-DF, não incidindo a Lei nº 13.786/2018.
• contratos celebrados a partir de 28/12/2018: devem ser aplicadas as regras da Lei nº 13.786/2018.

DAÇÃO EM PAGAMENTO
Determinada empresa deu ao credor um terreno como pagamento da dívida (dação em
pagamento); se não foi feita nenhuma ressalva, presume-se que a transferência do imóvel
incluiu a plantação ali existente

Na dação em pagamento de imóvel sem cláusula que disponha sobre a propriedade das
árvores de reflorestamento, a transferência do imóvel inclui a plantação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.567.479-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/06/2019 (Info 651).

Imagine a seguinte situação hipotética:


A sociedade empresária Refloral Ltda. é especializada em atividades de reflorestamento.
A empresa estava devendo João, seu antigo diretor.
Como forma de quitar a dívida, a Refloral transferiu para João a propriedade da fazenda “Areia Preta”,
uma extensa área de terra que era utilizada pela empresa para atividades de reflorestamento.
O que a empresa fez foi uma dação em pagamento.
Dação em pagamento é o ato pelo qual o devedor quita uma dívida vencida entregando ao credor uma
prestação diferente daquela que era a prevista inicialmente, desde que o credor concorde com isso (art.
356 do Código Civil).

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Ocorre que, logo depois de efetivada a doação, a empresa quis retirar do terreno as árvores que estavam
ali plantadas. A empresa alegou que transferiu por dação em pagamento a João exclusivamente o imóvel,
mas não a plantação ali existente e que constitui o produto do seu negócio.

A tese da empresa foi acolhida pelo STJ?


NÃO.

Acessão
A acessão é um modo originário de aquisição da propriedade, em virtude da qual fica pertencendo ao
titular tudo quanto se une ou se incorpora ao bem.
A acessão pode ocorrer de duas modalidades:
a) a natural, que se dá quando a união ou incorporação advém de acontecimentos da natureza, como a
formação de ilhas, o aluvião, a avulsão e o abandono de álveo; e
b) a artificial, resultante do trabalho do homem, como no caso das construções e plantações.

Transferência englobou a terra nua e as plantações


A empresa Refloral, mediante escritura pública de dação em pagamento, transferiu a João – sem ressalvar
as árvores ou os projetos de reflorestamento – a propriedade do imóvel.
Como não houve qualquer ressalva na dação em pagamento quanto à cobertura vegetal lenhosa plantada
no imóvel, a transferência englobou, além da terra nua, as plantações, em razão da máxima jurídica de
que o acessório segue o principal.
Devem ser aplicados aqui os arts. 79 e 92 do Código Civil:
Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.

Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja
existência supõe a do principal.

Assim, conforme os arts. 79 e 92 do Código Civil, salvo expressa disposição em contrário, as árvores
incorporadas ao solo mantêm a característica de bem imóvel. Isso porque são acessórios do bem principal.
Logo, em regra, a acessão artificial recebe a mesma classificação/natureza jurídica do terreno sobre o qual
é plantada.
Vale ressaltar que, em tese, seria possível considerar a cobertura vegetal lenhosa destinada ao corte como
bem móvel por antecipação. No entanto, para isso, seria indispensável que houvesse uma
anotação/observação no momento da dação em pagamento. Como não houve essa ressalva, deve-se
aplicar a presunção legal de que o acessório segue o principal, de forma que se deve concluir que as
árvores foram transferidas juntamente com a terra nua.

Em suma:
Na dação em pagamento de imóvel sem cláusula que disponha sobre a propriedade das árvores de
reflorestamento, a transferência do imóvel inclui a plantação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.567.479-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/06/2019 (Info 651).

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LOCAÇÃO COMERCIAL
É possível que empresa de telefonia celular proponha ação renovatória (art. 51 da Lei nº
8.245/91) para renovar a locação de imóvel onde está instalada a sua antena (ERB),
considerando que isso também compõe seu fundo de comércio

A “estação rádio base” (ERB) instalada em imóvel locado caracteriza fundo de comércio de
empresa de telefonia móvel celular, a conferir-lhe o interesse processual no manejo de ação
renovatória fundada no art. 51 da Lei nº 8.245/91.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.790.074-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/06/2019 (Info 651).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João (proprietário/locador) celebrou contrato de locação comercial com a Claro S/A (empresa de telefonia
móvel celular).
Por meio deste ajuste, João alugou, pelo prazo de 5 anos, um imóvel para que a Claro instalasse uma
antena de telefonia móvel, ou seja, para que no local funcionasse uma “estação rádio base” (ERB).
A estação rádio base (ERB) serve para fazer a conexão entre os telefones celulares e a companhia
telefônica. Veja como funciona uma ERB:

Locador não queria mais manter o contrato


Terminado o prazo do contrato, João anunciou que não mais queria renová-lo.
Diante disso, a Claro ajuizou uma ação renovatória pedindo a renovação compulsória do contrato.

Ação renovatória
A ação renovatória garante ao locatário o direito de renovar o contrato de locação empresarial, mesmo
contra a vontade do locador, desde que presentes certos requisitos.
Desse modo, a ação renovatória tem por finalidade a renovação compulsória, obrigatória, do contrato de
locação empresarial, estando prevista na Lei nº 8.245/91 (Lei de Locações).

Requisitos da ação renovatória


Segundo o art. 51 da referida Lei, nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito
à renovação do contrato, por igual prazo, desde que sejam cumpridos os seguintes requisitos cumulativos:
I - o contrato de locação a ser renovado deve ter sido celebrado por escrito;
II - o contrato de locação a ser renovado deve ter sido celebrado por prazo determinado;

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III - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos deve
ser de cinco anos;
IV - o locatário deve estar explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto
de três anos.

Ponto comercial
Algo muito importante na atividade empresarial é o “ponto comercial”.
Ponto comercial é a localização do estabelecimento empresarial.
Pensando nisso, o direito protege o ponto comercial. Uma das formas de proteção ocorre por meio da
ação renovatória.
Assim, a principal finalidade da ação renovatória é a proteção do fundo de comércio que foi desenvolvido
pelo empresário locatário. Isso porque durante um longo período o locatário desenvolveu sua atividade
empresarial naquele local, investindo na formação de uma clientela, na publicidade do ponto comercial e
na valorização do imóvel locado.
Por isso, o Estado reconhece ao locatário de imóvel comercial que busca a proteção do seu fundo de
comércio o direito à renovação compulsória do seu contrato de locação, uma vez atendidos os requisitos
elencados no art. 51 da Lei de Locações.

Voltando ao nosso exemplo:


O juiz extinguiu o processo sem resolução do mérito sob o argumento de que a ação proposta seria
inadequada, tendo em vista que não haveria fundo de comércio a ser protegido.
Para o magistrado, a ação renovatória tem por objetivo proteger o fundo de comércio do empresário e a
“estação rádio base” (ERB) não poderia ser considerada como fundo de comércio da empresa de telefonia
móvel celular.
A ação renovatória tem por objetivo proteger o locatário da perda da clientela.
Na opinião do julgador, a instalação de equipamentos de transmissão de telefonia não precisaria de
localização específica, podendo ser feita em outro local dentro da mesma área geográfica.

Agiu corretamente o juiz?


NÃO.
Segundo decidiu o STJ, a “estação rádio base” (ERB) instalada em imóvel locado caracteriza sim fundo de
comércio da empresa de telefonia móvel celular.

Fundo de comércio
O fundo de comércio é “um complexo de bens, cada qual com individualidade própria, com existência
autônoma, mas que, em razão da simples vontade de seu titular, encontram-se organizados para a
exploração da empresa, formando, assim, uma unidade, adquirindo um valor patrimonial pelo seu todo”
(CAMPINHO, Sergio. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2019, p.
302).
O fundo de comércio é formado por bens corpóreos e incorpóreos e todos eles, considerados em sua
totalidade, são objeto da proteção legislativa.
Dentre os bens incorpóreos destaca-se o ponto empresarial, que é o espaço físico eleito pelo empresário
para exercer sua atividade.
Conforme já explicado, por sua relevância econômica e social para o desenvolvimento da atividade
empresarial, e, em consequência, para a expansão do mercado interno, o fundo de comércio mereceu
especial proteção do legislador. Justamente por isso, o art. 51 da Lei nº 8.245/91 prevê que, para os
contratos de locação não residencial por prazo determinado, é possível o ajuizamento de ação renovatória
como medida destinada a proteger a empresa contra a decisão do locador de retomar, injustificadamente,
o imóvel onde ela se encontra instalada há muitos anos.

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Natureza jurídica da ERB


A Estação Rádio Base (ERB) serve para fazer a conexão entre os telefones celulares e a companhia
telefônica. São popularmente conhecidas como “antenas” e nelas são emitidos os sinais que viabilizam as
ligações por meio dos telefones celulares que se encontram em sua área de cobertura (célula).
A formação de uma rede de várias células – vinculadas às várias ERBs instaladas – permite a fluidez da
comunicação, mesmo quando os interlocutores estão em deslocamento, bem como possibilita a
realização de várias ligações simultâneas, por meio de aparelhos situados em diferentes pontos do
território nacional e também do exterior.
De forma simplista, é como se o celular se conectasse à ERB mais próxima, que encaminha a chamada
telefônica para a Central de Comutação e Controle (CCC), a qual, por sua vez, a depender do destino da
ligação, a encaminhará para outra CCC ou para uma ERB, que se comunica com o telefone celular a que se
destina a chamada. Observada essa dinâmica, se uma das antenas for desligada, o aparelho se conectará
automaticamente a outra ERB, mais distante (http://www.telebrasil.org.br/panorama-do-setor/mapa-de-
erbs-antenas). Isso significa que se uma ERB for desativada, não haverá, em tese, interrupção do serviço.
No entanto, provavelmente haverá uma perda de qualidade, já que a conexão terá que ser feita com uma
mais distante.
Desse modo, as ERBs são estruturas essenciais ao exercício da atividade de prestação de serviço de
telefonia celular, que demandam investimento da operadora, e, como tal, integram o fundo de comércio
e se incorporam ao seu patrimônio.

Ação renovatória não serve apenas para proteger o local onde o empresário recebe os clientes
O mais comum é que a ação renovatória sirva para proteger o imóvel onde o empresário recebe seus
clientes, ou seja, a localização em que o locatário desenvolveu sua atividade empresarial, investindo na
formação de uma clientela, na publicidade do ponto comercial e na valorização do imóvel locado.
Contudo, essa não é a sua única finalidade. Assim, o cabimento da ação renovatória não está adstrito ao
imóvel para onde converge a clientela, mas se irradia para todos os imóveis locados com o fim de
promover o pleno desenvolvimento da atividade empresarial, porque, ao fim e ao cabo, contribuem para
a manutenção ou crescimento da clientela.
Conforme explica Sylvio Capanema de Souza ao dar o exemplo do depósito de uma empresa:
“Também sempre se questionou se o locatário que mantém fechadas as portas do imóvel,
transformando-o apenas em depósito, sem acesso dos fregueses, poderia valer-se da ação
renovatória.
Entendemos que sim, desde que a prova produzida revele, extreme de dúvidas, que o depósito é
indispensável ao desenvolvimento da atividade empresarial do locatário, exercida em outro local,
próximo ou distante.
Neste caso, o depósito seria um prolongamento natural e necessário do estabelecimento
empresarial, a ele se estendendo a proteção especial, em obediência ao princípio de que o
acessório segue o principal.” (A Lei do Inquilinato comentada artigo por artigo. 1ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017, p. 229)

Em suma:
A “estação rádio base” (ERB) instalada em imóvel locado caracteriza fundo de comércio de empresa de
telefonia móvel celular, a conferir-lhe o interesse processual no manejo de ação renovatória fundada
no art. 51 da Lei nº 8.245/91.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.790.074-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/06/2019 (Info 651).

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18


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CONDOMÍNIO
Não se pode proibir o condômino inadimplente de usar as áreas comuns do condomínio

Importante!!!
O condomínio, independentemente de previsão em regimento interno, não pode proibir, em
razão de inadimplência, condômino e seus familiares de usar áreas comuns, ainda que
destinadas apenas a lazer.
Assim, é ilícita a disposição condominial que proíbe a utilização de áreas comuns do edifício
por condômino inadimplente e seus familiares como medida coercitiva para obrigar o
adimplemento das taxas condominiais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.030-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 9/8/2016 (Info 588).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.699.022-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/05/2019 (Info 651).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João mora no condomínio de apartamentos “Viva la Vida”.
Em virtude de dificuldades financeiras, ele se encontra devendo três meses da cota condominial.
Diante disso, o síndico proibiu que João e seus familiares utilizem o centro recreativo do condomínio
(piscina, brinquedoteca, salão de jogos, entre outros itens).
João foi reclamar com o síndico e este mostrou o regimento interno do condomínio que, expressamente,
proíbe os condôminos inadimplentes de utilizarem as áreas comuns.
Não satisfeito, João propôs ação declaratória de nulidade da cláusula do regimento interno cumulada com
indenização por danos morais.

Indaga-se: o regimento interno poderá determinar que o condômino inadimplente fique proibido de
utilizar as áreas comuns do condomínio? Esta previsão é válida?
NÃO.
O condomínio, independentemente de previsão em regimento interno, não pode proibir, em razão de
inadimplência, condômino e seus familiares de usar áreas comuns, ainda que destinadas apenas a lazer.
Assim, é ilícita a disposição condominial que proíbe a utilização de áreas comuns do edifício por
condômino inadimplente e seus familiares como medida coercitiva para obrigar o adimplemento das
taxas condominiais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.030-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 9/8/2016 (Info 588).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.699.022-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/05/2019 (Info 651).

Direito ao uso das áreas comuns decorre do direito de propriedade


O direito do condômino ao uso das partes comuns, seja qual for a destinação a elas atribuídas, não decorre
de ele estar ou não adimplente com as despesas condominiais. Este direito provém do fato de que, por
lei, a unidade imobiliária abrange não apenas uma fração ideal no solo (unidade imobiliária), mas também
as outras partes comuns. Veja o que diz o Código Civil:
Art. 1.331. Pode haver, em edificações, partes que são propriedade exclusiva, e partes que são
propriedade comum dos condôminos.
(...)
§ 3º A cada unidade imobiliária caberá, como parte inseparável, uma fração ideal no solo e nas
outras partes comuns, que será identificada em forma decimal ou ordinária no instrumento de
instituição do condomínio.

Art. 1.335. São direitos do condômino:

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19


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(...)
II - usar das partes comuns, conforme a sua destinação, e contanto que não exclua a utilização dos
demais compossuidores;

Em outras palavras, a propriedade da unidade imobiliária abrange a correspondente fração ideal de todas
as partes comuns. O proprietário do apartamento também é “dono” de parte das áreas comuns.
Dessa forma, a proibição de que o condômino tenha acesso a uma área comum (seja qual for a sua
destinação) viola o que se entende por condomínio, limitando, indevidamente, o direito de propriedade.
Portanto, além do direito a usufruir e gozar de sua unidade autônoma, os condôminos têm o direito de
usar e gozar das partes comuns, já que a propriedade da unidade imobiliária abrange a correspondente
fração ideal de todas as partes de uso comum.

Punições para o condômino inadimplente


Os condôminos possuem o dever de contribuir para as despesas condominiais, conforme determina o art.
1.336, I, do CC. No entanto, as consequências pelo seu descumprimento devem ser razoáveis e proporcionais.
No caso de descumprimento do dever de contribuição pelas despesas condominiais, o Código Civil impõe
ao condômino inadimplente sanções de ordem pecuniária.
Em um primeiro momento, a lei determina que o devedor seja obrigado a pagar juros moratórios de 1% ao
mês e multa de até 2% sobre o débito:
Art. 1.336 (...)
§ 1º O condômino que não pagar a sua contribuição ficará sujeito aos juros moratórios
convencionados ou, não sendo previstos, os de um por cento ao mês e multa de até dois por cento
sobre o débito.

Se o condômino reiteradamente, apresentar um comportamento faltoso (o que não se confunde com o


simples inadimplemento involuntário de alguns débitos), será possível impor a ele outras penalidades,
também de caráter pecuniário, nos termos do art. 1.337:
Art. 1.337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente com os seus deveres
perante o condomínio poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos restantes, ser
constrangido a pagar multa correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à contribuição
para as despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e a reiteração,
independentemente das perdas e danos que se apurem.
Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento anti-social,
gerar incompatibilidade de convivência com os demais condôminos ou possuidores, poderá ser
constrangido a pagar multa correspondente ao décuplo do valor atribuído à contribuição para as
despesas condominiais, até ulterior deliberação da assembleia.

Dessa forma, a lei confere meios coercitivos legítimos e idôneos à satisfação do crédito, descabendo ao
condomínio valer-se de sanções outras que não as pecuniárias expressa e taxativamente previstas no Código
Civil para o específico caso de inadimplemento das despesas condominiais. Em outros termos, não existe
margem discricionária para a imposição de outras sanções que não sejam as pecuniárias estipuladas na Lei.

Ausência de pagamento restringe o direito de votar


O legislador, quando quis restringir ou condicionar o direito do condômino em razão da ausência de
pagamento, o fez expressamente, como no caso do art. 1.335, III, do CC:
Art. 1.335. São direitos do condômino:
(...)
III - votar nas deliberações da assembléia e delas participar, estando quite.

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20


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Por questão de hermenêutica jurídica, as normas que restringem direitos devem ser interpretadas
restritivamente, não comportando exegese ampliativa.

Vedar acesso às áreas comuns viola o princípio da dignidade da pessoa humana


Além das sanções pecuniárias, a lei estabelece em favor do condomínio instrumentos processuais efetivos
e céleres para se cobrar as dívidas condominiais.
A Lei nº 8.009/90, por exemplo, autoriza que a própria unidade condominial (apartamento, casa etc.) seja
penhorada para o pagamento dos débitos, não podendo o condômino devedor alegar a proteção do bem
de família.
O CPC/2015, por sua vez, prevê que as cotas condominiais possuem natureza de título executivo
extrajudicial (art. 784, VIII), permitindo, assim, o ajuizamento direto de ação executiva, tornando a
satisfação do débito ainda mais célere.
Desse modo, diante de todos esses instrumentos colocados à disposição pelo ordenamento jurídico,
percebe-se que não há razão legítima para que o condomínio se valha de meios vexatórios de cobrança.
A proibição de que o devedor tenha acesso e utilize as áreas comuns do condomínio pelo simples fato de
que ele está inadimplente acaba expondo ostensivamente a sua condição de inadimplência perante o
meio social em que reside, o que, ao final, viola o princípio da dignidade humana.

SUCESSÃO
A reserva da quarta parte da herança, prevista no art. 1.832 do Código Civil,
não se aplica à hipótese de concorrência sucessória híbrida

Importante!!!
A reserva da quarta parte da herança, prevista no art. 1.832 do Código Civil, não se aplica à
hipótese de concorrência sucessória híbrida.
Concorrência sucessória híbrida ocorre quando o cônjuge/companheiro estiver concorrendo
com descendentes comuns e com descendentes exclusivos do falecido. Ex: José faleceu e
deixou como herdeiros Paula (cônjuge) e 5 filhos, sendo 3 filhos também de Paula e 2 de um
outro casamento anterior de José. Paula e cada um dos demais herdeiros receberá 1/6 da
herança.
Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge
quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta
parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.
Assim, essa reserva de um quarto da herança, prevista no art. 1.832 do CC, não se aplica em
caso de concorrência sucessória híbrida. A reserva de, no mínimo, 1/4 da herança em favor do
consorte do falecido ocorrerá apenas quando concorra com seus próprios descendentes (e
eles superem o número de 3).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.617.650-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/06/2019
(Info 651).

Se a pessoa morrer e for casada, o cônjuge terá direito à herança? O cônjuge é herdeiro?
SIM. O cônjuge é herdeiro necessário (art. 1.845 do CC).

O cônjuge será considerado herdeiro necessário mesmo que ele e o falecido fossem casados sob o regime
da separação de bens?
SIM. O cônjuge, qualquer que seja o regime de bens adotado pelo casal, é herdeiro necessário (art. 1.845).

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21


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Exceção: o cônjuge não será herdeiro se, quando houve a morte, o casal estava separado há mais de dois
anos, nos termos do art. 1.830 do CC:
Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da
morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois
anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do
sobrevivente.

O cônjuge irá herdar se o falecido deixou descendentes?


Depende. Aí teremos que analisar o regime de bens. A regra está no art. 1.829, I, do CC:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640,
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado
bens particulares;

Esse inciso é muito confuso e mal redigido, o que gera bastante polêmica na doutrina e jurisprudência. O
que se pode extrair dele é o seguinte: o cônjuge é herdeiro necessário, mas há situações em que a lei deu
primazia (preferência) para os descendentes do morto.
Assim, foram previstos alguns casos em que o cônjuge, a depender do regime de bens, não terá direito à
herança, ficando esta integralmente com os descendentes. Vejamos:
I – Situações em que o cônjuge herda em II – Situações em que o cônjuge não herda em
concorrência com os descendentes concorrência com os descendentes
 Regime da comunhão parcial de bens, se  Regime da comunhão parcial de bens, se não
existirem bens particulares do falecido. havia bens particulares do falecido.
 Regime da separação convencional de bens (é  Regime da separação legal (obrigatória) de bens
aquela que decorre de pacto antenupcial). (é aquela prevista no art. 1.641 do CC).
 Regime da participação final nos aquestos.  Regime da comunhão universal de bens.

Se o cônjuge for herdar em concorrência com os descendentes (lado esquerdo do quadro acima), quanto
ele receberá de herança?

Como é feita a divisão da herança entre o cônjuge herdeiro e os descendentes do falecido?


Se o cônjuge estiver concorrendo com filhos, Se o cônjuge estiver concorrendo com filhos,
netos ou bisnetos do falecido que também netos ou bisnetos do falecido que não sejam
sejam seus descendentes seus descendentes
(o cônjuge está concorrendo apenas com herdeiros comuns) (o cônjuge está concorrendo com herdeiros comuns e com
herdeiros exclusivos do falecido)
Em regra, o cônjuge deverá receber quinhão igual Em regra, o cônjuge deverá receber quinhão igual
ao que for recebido pelos herdeiros que ao que for recebido pelos herdeiros que
sucederem por cabeça. sucederem por cabeça.
Mesmo que sejam muitos herdeiros para dividir, o Não existe essa previsão de que o cônjuge deverá
cônjuge não poderá receber menos que 1/4 da receber, no mínimo, 1/4 da herança.
herança.
Ex1: João faleceu e deixou Maria (cônjuge) e dois Ex1: Rui faleceu e deixou Laura (cônjuge) e dois
filhos. Significa que Maria e cada um dos filhos terá filhos fruto de outro casamento. Significa que
direito a 1/3 da herança. Laura e cada um dos seus enteados terá direito a
1/3 da herança.

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Ex2: Pedro faleceu e deixou como herdeiros Rosa Ex2: José faleceu e deixou como herdeiros Paula
(cônjuge) e 5 filhos. Rosa receberá 1/4 da herança (cônjuge) e 5 filhos, sendo 3 filhos também de
e os outros 3/4 serão divididos entre os 5 filhos. Paula e 2 de um outro casamento anterior de José.
Paula e cada um dos demais herdeiros receberá
1/6 da herança.
Trata-se daquilo que Giselda Hironaka chama de
“concorrência sucessória híbrida”.

Essa previsão de que o cônjuge deverá receber, no mínimo, 1/4 da herança caso esteja concorrendo
unicamente com herdeiros que sejam seus descendentes encontra-se prevista no art. 1.832 do CC:
Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão
igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da
herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.

Vale ressaltar, portanto, que:


A reserva da quarta parte da herança, prevista no art. 1.832 do Código Civil, não se aplica à hipótese de
concorrência sucessória híbrida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.617.650-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/06/2019 (Info 651).

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


Francisco vive em união estável com Amanda. Eles tiveram um filho.
Antes deste relacionamento, Francisco foi casado com Rosângela, com quem teve seis filhos.
Desse modo, Francisco possui um total de sete filhos, sendo que 6 são fruto do relacionamento com
Rosângela (sua ex-esposa, já divorciados) e um deles é filho de Amanda.
Francisco faleceu e deixou, como herança, R$ 800 mil de bens particulares.
Amanda terá direito à herança? Qual é o dispositivo que rege essa situação?
O art. 1790 do CC prevê o seguinte:
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens
adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída
ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a
cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

É possível aplicar o art. 1.790 do CC?


NÃO. Isso porque o art. 1.790 do CC foi declarado, incidentalmente, inconstitucional pelo STF, quando do
julgamento do RE 878.694, sendo determinado que se apliquem também para a união estável as regras
do regime sucessório do casamento:
No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre
cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829
do Código Civil.
STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG,
Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864).

Assim, é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser
aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002.

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23


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Logo, a situação acima descrita envolvendo os herdeiros de Francisco deverá ser resolvida com base no
art. 1.829 e demais dispositivos do CC que tratam sobre a sucessão envolvendo cônjuges.

E quanto Amanda receberá neste caso? Qual é o quinhão hereditário a que faz jus a companheira,
quando concorre com um filho comum e, ainda, outros seis filhos exclusivos do autor da herança?
O STJ, interpretando o art. 1.829, I, do CC, entende que o cônjuge/companheiro, que vivia sob o regime
da comunhão parcial (que é a regra na união estável), somente irá concorrer com os descendentes do
morto quando o falecido tiver deixado bens particulares e essa divisão será somente sobre os referidos
bens particulares:
Nos termos do art. 1.829, I, do Código Civil de 2002, o cônjuge sobrevivente, casado no regime de
comunhão parcial de bens, concorrerá com os descendentes do cônjuge falecido somente quando este
tiver deixado bens particulares.
A referida concorrência dar-se-á exclusivamente quanto aos bens particulares constantes do acervo
hereditário do de cujus.
STJ. 2ª Seção. REsp 1368123/SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, Rel. p/ Acórdão Min. Raul Araújo, julgado em
22/04/2015.

Voltando ao nosso exemplo, o falecido deixou:


• R$ 800 mil de herança (bens particulares).
• herdeiros: companheira; 1 filho comum; 6 filhos exclusivos.

Como fazer essa divisão?


Divide-se a herança por igual entre os herdeiros, tratando-se todos os filhos como exclusivos.
Assim, a companheira e cada um dos sete filhos receberá 1/8 da herança.
Atribui-se a cada um dos filhos e à companheira R$ 100 mil.
Não há reserva de 1/4 da herança para a consorte supérstite. Isso porque, conforme já dito, essa reserva
de 1/4 da herança, prevista no art. 1.832 do CC, NÃO se aplica em caso de concorrência sucessória híbrida.
A reserva de, no mínimo, 1/4 da herança em favor do consorte do falecido ocorrerá apenas quando
concorra com seus próprios descendentes (e eles superem o número de 3).
Nesse sentido é o enunciado 527 da V Jornada de Direito Civil do CJF: “Na concorrência entre o cônjuge e
os herdeiros do de cujus, não será reservada a quarta parte da herança para o sobrevivente no caso de
filiação híbrida.”

DIREITO DO CONSUMIDOR

PRÁTICAS COMERCIAIS
É válida a cláusula do contrato de “clube de turismo Bancorbrás” que prevê que o consumidor
perde o direito às diárias do hotel caso não as utilize no prazo de 1 ano

É possível a convenção de prazo decadencial para a utilização de diárias adquiridas em clube


de turismo.
Mesmo em contratos de consumo, é possível a convenção de prazos decadenciais, desde que
respeitados os deveres anexos à contratação: informação clara e redação expressa, ostensiva
e legível.
Caso concreto: Bancorbrás é uma pessoa jurídica que presta um serviço chamado de “Clube de
Turismo Bancorbrás”. Por meio dele, o cliente paga um valor mensal (ex: R$ 500) e, depois de
1 ano, pode utilizar 7 diárias em um dos milhares de hotéis que a Bancorbrás tem convênio,

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24


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no Brasil e no exterior. Ocorre que o contrato prevê que o cliente deverá utilizar essas diárias
no prazo de até 1 ano. Caso o consumidor não as utilize nesse interregno, ele perde esse
direito. O STJ afirmou que essa cláusula é válida, sendo razoável, não podendo ser reputada
como abusiva.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.778.574-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 18/06/2019 (Info 651).

Bancorbrás
Bancorbrás é uma pessoa jurídica que presta um serviço chamado de “Clube de Turismo Bancorbrás”.
Por meio dele, o cliente paga um valor mensal (ex: R$ 500) e, depois de 1 ano, pode utilizar 7 diárias em
um dos milhares de hotéis que a Bancorbrás tem convênio, no Brasil e no exterior. É a chamada “rede
conveniada”.
Cláusula do contrato que prevê a perda das diárias se não utilizadas em determinado período de tempo
O contrato celebrado entre o consumidor e a Bancorbrás prevê que o cliente adquire o direito de utilizar
as 7 diárias após 1 ano pagando a mensalidade.
Essas diárias devem ser utilizadas dentro do prazo de 1 anos após serem “adquiridas”. Caso o consumidor
não utilize nesse prazo de 1 ano, ele perde esse direito.
Ex: João assinou o contrato em fevereiro de 2012, iniciando o pagamento das prestações; em fevereiro de
2013, ele adquire o direito de utilizar as 7 diárias; ocorre que o contrato prevê que o cliente tem até
fevereiro de 2014 (1 ano) para gozar dessas diárias; caso não as utilize, perderá esse direito.
Assim, pode-se dizer que contrato estipula um prazo decadencial para a utilização das diárias.
Essa cláusula contratual é válida ou abusiva?
É válida.
CDC não proíbe toda e qualquer cláusula que restrinja o direito do consumidor
O CDC prevê uma série de normas destinadas à proteção contratual do consumidor. Contudo, o legislador
não revogou a liberdade contratual. O que ele estabeleceu foi apenas a necessidade de que exista a
preocupação em se manter um maior equilíbrio entre as partes, já que a relação de consumo é
naturalmente mais desequilibrada em favor do fornecedor.
Assim, o que se quer dizer é que proteção contratual não é sinônimo de impossibilidade absoluta de
imposição de cláusulas restritivas de direito. A proteção contratual do CDC significa que as cláusulas
restritivas de direito deverão ser razoáveis e proporcionais, sempre se tomando em consideração a
natureza do serviço ou produto contratado.
Referida restrição é proporcional e o consumidor é previamente informado
O STJ entendeu que essa previsão é proporcional ao serviço em questão, além de terem sido atendidos o
dever de informação e a boa-fé na contratação.
Código Civil também permite
Embora o CDC regule a relação jurídica entre as partes, não há regramento especial neste diploma que
discipline os prazos decadenciais relativos às prestações voluntariamente contratadas, devendo-se
observar as regras gerais do Código Civil para o deslinde da controvérsia. O Código Civil, por sua vez,
permite a convenção de prazos decadenciais nos contratos, desde que respeitados os deveres anexos à
contratação: informação clara e redação expressa, ostensiva e legível.
Em suma:
É possível a convenção de prazo decadencial para a utilização de diárias adquiridas em clube de turismo.
Mesmo em contratos de consumo, é possível a convenção de prazos decadenciais, desde que
respeitados os deveres anexos à contratação: informação clara e redação expressa, ostensiva e legível.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.778.574-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 18/06/2019 (Info 651).

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25


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COMPRA DE IMÓVEIS
Prevendo o contrato a incidência de multa moratória para o caso de descumprimento contratual
por parte do consumidor, a mesma multa deverá incidir em reprimenda do fornecedor, caso seja
deste a mora ou o inadimplemento

Importante!!!
No contrato de adesão firmado entre o comprador e a construtora/incorporadora, havendo
previsão de cláusula penal apenas para o inadimplemento do adquirente, deverá ela ser
considerada para a fixação da indenização pelo inadimplemento do vendedor.
As obrigações heterogêneas (obrigações de fazer e de dar) serão convertidas em dinheiro, por
arbitramento judicial.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.631.485-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso
repetitivo) (Info 651).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Pedro celebrou contrato de promessa de compra e venda de um apartamento com a construtora MB
empreendimentos imobiliários.
A cláusula sexta do pacto previa que a construtora entregaria o apartamento no dia 07/12/2013 (já
considerando o prazo de tolerância de 180 dias).
Ocorre que a construtora entregou o imóvel com um atraso de 10 meses.
Pedro pegou o contrato para ler novamente, mas não encontrou nenhuma cláusula fixando multa para o
caso de atraso da construtora. No ajuste existe apenas a previsão de multa contra o adquirente na
hipótese de ele atrasar o pagamento das parcelas.
Explicando melhor: o contrato prevê um valor de juros e multa caso o comprador seja inadimplente. Por
outro lado, este pacto não estipula qualquer cláusula penal na hipótese da construtora/incorporadora
incorrer em mora.

Diante desse cenário, indaga-se: é possível a inversão da cláusula penal estipulada exclusivamente para
o adquirente (consumidor), nos casos de inadimplemento da construtora em virtude de atraso na
entrega de imóvel? É possível aplicar contra a construtora/incorporadora a cláusula penal fixada contra
o adquirente?
SIM.
É abusivo o contrato que estipula penalidade apenas ao consumidor para a hipótese de mora ou
inadimplemento contratual, ficando isento de tal previsão o fornecedor.
Assim, se o contrato prevê multa moratória para o caso de descumprimento contratual por parte do
consumidor, essa mesma multa deverá incidir contra a construtora caso esta incorra em mora ou
inadimplemento.
Segundo o CDC, as relações entre consumidores e fornecedores devem ser equilibradas (art. 4º, III). Além
disso, é direito básico do consumidor a “igualdade nas contratações” (art. 6º, II).
O art. 51 do CDC, ao enumerar algumas cláusulas tidas por abusivas, deixa claro que, nos contratos de
consumo deve haver reciprocidade de direitos entre fornecedores e consumidores:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento
de produtos e serviços que:
(...)
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor;
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja
conferido ao consumidor;

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 26


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XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual
direito lhe seja conferido contra o fornecedor;

De igual modo, a Portaria nº 4, de 13/3/1998, da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça


(SDE/MJ) prevê que são abusivas as cláusulas que:
6 - estabeleçam sanções em caso de atraso ou descumprimento da obrigação somente em
desfavor do consumidor.

Essa Portaria (ato infralegal) pode ser aplicada para esses contratos de compra e venda de imóveis
envolvendo consumidores porque o art. 7º do CDC prevê que os direitos previstos no Código não excluem
outros decorrentes de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes.

Desse modo, seja por força dos princípios gerais do direito, seja pela principiologia adotada no CDC, ou,
ainda, com base no imperativo de equidade, mostra-se abusiva a prática de estipular cláusula penal
exclusivamente ao adquirente para a hipótese de mora ou de inadimplemento contratual absoluto,
ficando isento de tal reprimenda o fornecedor em situações de análogo descumprimento da avença.

Em suma:
Prevendo o contrato a incidência de multa para o caso de inadimplemento por parte do consumidor, ela
também deverá ser considerada para o arbitramento da indenização devida pelo fornecedor, caso seja
deste a mora ou o inadimplemento absoluto.
Esta é a “primeira parte” da tese fixada pelo STJ:
No contrato de adesão firmado entre o comprador e a construtora/incorporadora, havendo previsão de
cláusula penal apenas para o inadimplemento do adquirente, deverá ela ser considerada para a fixação
da indenização pelo inadimplemento do vendedor.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.631.485-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso
repetitivo) (Info 651).

É equívoco inverter a multa contratual sem observar a técnica própria


O STJ fez, contudo, uma ponderação. Em alguns casos, não se pode simplesmente inverter a multa sem
que sejam feitas algumas adaptações.
Conforme explica a Min. Maria Isabel Gallotti:
“Devem ser consideradas, porém, as peculiaridades do caso, e se adequada e equitativa a forma
como está sendo determinada a inversão. Por exemplo, a multa moratória fixada para caso de
atraso do consumidor incide apenas sobre a prestação não paga no vencimento. A inversão, para
determinar a incidência do mesmo percentual sobre o valor total do imóvel, incidindo a cada mês
de atraso, parece não constituir uma mera inversão da multa moratória, podendo representar
valor divorciado da realidade de mercado, desestabilizador da relação contratual, ou ser
considerado razoável se entendido, cumulativamente, como sanção moratória e compensatória
da privação do uso do imóvel no período de atraso na entrega do empreendimento.”

Assim, é um equívoco simplesmente inverter, sem observar a técnica própria, a multa contratual referente
à obrigação do adquirente de dar (pagar), para, então, incidir em obrigação de fazer, resultando em
indenização pelo inadimplemento contratual em montante exorbitante, desproporcional, a ensejar
desequilíbrio contratual e enriquecimento sem causa, em indevido benefício do promitente comprador.
Explicando de forma mais simples:
• a multa prevista no contrato para o adquirente é relacionada com uma obrigação de dar (pagar).
• assim, o contrato prevê uma multa para o fato de o consumidor deixar de pagar a prestação.

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27


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• esta multa prevista em desfavor do consumidor é um percentual que incide sobre o valor da prestação
não quitada a tempo (ex: 1% da parcela que não foi paga).
• a obrigação da construtora/incorporadora, por outro lado, é uma obrigação de fazer (entregar o imóvel).
• logo, são obrigações heterogêneas, ou seja, de espécies diferentes.
• isso faz com que não seja possível determinar a incidência do mesmo percentual sobre o preço total do
imóvel, incidindo a cada mês de atraso. Não é possível aplicar, por exemplo, 1% de multa sobre o preço
total do imóvel, mensalmente, sob pena de gerar um valor divorciado da realidade de mercado, ensejando
enriquecimento sem causa.

O que fazer, então?


Nos casos de obrigações de natureza heterogênea (por exemplo, obrigação de fazer e obrigação de dar),
impõe-se a sua conversão em dinheiro, apurando-se valor adequado e razoável para arbitramento da
indenização pelo período de mora, vedada sua cumulação com lucros cessantes.
Assim, o juiz irá converter a obrigação de fazer da construtora/incorporadora em uma obrigação de pagar,
aplicando a multa. Essa cálculo da conversão em dinheiro deve ser feito mediante liquidação por
arbitramento.
Essa é a “segunda parte” da tese fixada pelo STJ:
As obrigações heterogêneas (obrigações de fazer e de dar) serão convertidas em dinheiro, por
arbitramento judicial.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.631.485-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso
repetitivo) (Info 651).

Duas observações finais:


• A multa compensatória fixada contra a construtora/incorporadora não poderá, por questão de simetria,
incidir sobre todo o preço do imóvel que deveria ter sido entregue (obrigação de fazer).
• Essa multa fixada contra a construtora/incorporadora não poderá ser cumulada com lucros cessantes.
Em outras palavras, o consumidor não pode receber a multa e mais a indenização por lucros cessantes
(STJ. 2ª Seção. REsp 1.498.484-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019).

Lei nº 13.786/2018
Em 28/12/2018, entrou em vigor a Lei nº 13.786/2018, que dispõe sobre a resolução do contrato por
inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária.
A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 43-A na Lei nº 4.591/64 para tratar sobre o inadimplemento
(parcial ou absoluto) em contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão
de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária ou de loteamento. Veja inicialmente o
que diz o caput:
Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada
contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimento, desde que
expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por
parte do adquirente nem ensejará o pagamento de qualquer penalidade pelo incorporador.

Assim, o caput do art. 43-A prevê agora expressamente a validade da cláusula de tolerância (que já era
admitida pela jurisprudência). Com isso, admite-se como tolerável (aceitável) um atraso de até 180 dias
em relação ao prazo previsto para a entrega.
Por outro lado, se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância, isso já será considerado
inaceitável e o adquirente poderá pedir cumulativamente:
• a resolução do contrato;
• a devolução de todo o valor que pagou; e
• o pagamento da multa estabelecida.

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 28


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A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de
correção monetária. É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:
§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o
adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do
contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa
estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do
§ 8º do art. 67-A desta Lei.

O adquirente pode, no entanto, decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele
não quer a resolução do contrato, ou seja, ele permanece com interesse no imóvel.
Neste caso, este adquirente irá receber o imóvel e terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente
pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.
Veja a redação do § 2º do art. 43-A:
§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput
deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por
ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à
incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente conforme índice
estipulado em contrato.

Vale ressaltar que a multa do § 1º, vista acima, é decorrente da inexecução total da obrigação (houve a
resolução do contrato).
O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas
cumprido com atraso).
Assim, as sanções têm natureza jurídica e finalidade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme
prevê o § 3º do art. 43-A:
§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obrigação, em
hipótese alguma poderá ser cumulada com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da
inexecução total da obrigação.

Como fica a questão da aplicação da Lei nº 13.786/2018 no tempo? Essas regras da Lei nº 13.786/2018,
que acabei de explicar, podem ser aplicadas para os contratos celebrados antes da sua vigência?
NÃO. As regras da Lei nº 13.786/2018, que entrou em vigor no dia 28/12/2018, não podem ser aplicadas
aos contratos anteriores à sua vigência.
A nova lei só poderá atingir contratos celebrados posteriormente à sua entrada em vigor.
Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão:
“(...) a Lei n. 13.786/2018 não será aplicada para a solução dos casos em julgamento, de modo a
trazer segurança e evitar que os jurisdicionados que firmaram contratos anteriores sejam
surpreendidos, ao arrepio do direito adquirido e do ato jurídico perfeito.”
O que vale é a data da celebração do contrato (e não a data do inadimplemento). Desse modo, imagine
que o contrato foi celebrado em janeiro de 2017. Em janeiro de 2019, terminou o prazo de tolerância e a
construtora não entregou o empreendimento. Neste caso, não se aplicam as regras trazidas pela Lei nº
13.786/2018 porque o pacto é anterior a esse diploma.
Assim, podemos fixar as conclusões:
• contratos celebrados até 27/12/2018: em caso de inadimplemento, aplica-se a jurisprudência do STJ
firmada neste REsp 1.631.485-DF, não incidindo a Lei nº 13.786/2018.
• contratos celebrados a partir de 28/12/2018: devem ser aplicadas as regras da Lei nº 13.786/2018.

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 29


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COMPRA DE IMÓVEIS
Cláusula penal moratória não pode ser cumulada com indenização por lucros cessantes

A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da


obrigação, e, em regra, estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação
com lucros cessantes.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.498.484-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2019 (recurso
repetitivo) (Info 651).

Veja comentários em Direito Civil.

DIREITO EMPRESARIAL

RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Plano de recuperação judicial pode prever que os credores serão pagos parceladamente e que o
saldo devedor será corrigido pela TR mais 1% ao ano

É válida a cláusula no plano de recuperação judicial que determina a TR como índice de


correção monetária e a fixação da taxa de juros em 1% ao ano.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.630.932-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/06/2019
(Info 651).

Recuperação judicial
A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a
superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e,
com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores.
A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado
um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência.

Fases da recuperação
De forma resumida, a recuperação judicial possui três fases:
a) postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento;
b) processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva;
c) execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial.

Plano de recuperação
Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar
em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de
recuperação em falência.
Este plano deverá conter:
• discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50);
• demonstração de sua viabilidade econômica; e
• laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional
legalmente habilitado ou empresa especializada.
Os credores analisam o plano apresentado, que pode ser aprovado ou não pela assembleia geral de
credores.
Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 30
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Atualização do saldo devedor por meio de TR + 1% ao ano


Imagine agora a seguinte situação hipotética:
Braga Indústria Ltda. é uma sociedade empresária que pediu recuperação judicial.
O plano de recuperação judicial previu que os credores desta empresa seriam pagos em um prazo de até
14 anos.
Durante esse período, o saldo devedor seria atualizado por meio do índice TR (Taxa Referencial) de
correção monetária, acrescido de juros de 1% ao ano.
Veja a cláusula do plano de recuperação que trata sobre o tema:
“7.5 JUROS E ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA
Os créditos sujeitos aos efeitos da recuperação judicial, inclusive os trabalhistas, serão atualizados e
remunerados pela TR – Taxa Referencial, criada pela Lei n° 8.177/91, 01.03.1991, e Resoluções CMN -
Conselho Monetário Nacional - nº 2.437, de 30.10.1997, acrescidos de juros de 1% (um por cento) ao ano
e, que começarão a incidir a partir da Data Inicial.”

Um dos credores questionou esse índice de correção monetária afirmando que a TR já foi declarada
inconstitucional pelo STF por não conseguir manter o poder aquisitivo. Desse modo, pediu para que essa
cláusula fosse declarada ilegal.

A alegação do credor foi acolhida pelo STJ? É ilegal a previsão contida no plano de recuperação judicial
no sentido de que a atualização do saldo devedor será feita por meio de TR + 1% ao ano?
NÃO. O STJ não declarou ilegal essa cláusula.

Poder Judiciário só faz o controle de legalidade do plano de recuperação judicial


Antes de tudo, é importante esclarecer qual é o controle judicial que se faz em relação ao plano de
recuperação judicial.
O plano aprovado pela assembleia de credores possui índole predominantemente contratual, sendo, por
isso, vedado ao Poder Judiciário se imiscuir (“intrometer”) nas especificidades do conteúdo econômico
aprovado entre a empresa devedora e os credores, desde que, obviamente, sejam observados os quóruns
previstos no art. 45 da Lei nº 11.101/2005.
Assim, a concessão de prazos e descontos para o adimplemento dos débitos faz parte das tratativas, ou
seja, das negociações travadas pelas partes envolvidas.
Conforme já decidiu o STJ:
Se o plano cumpriu as exigências legais e foi aprovado em assembleia, o juiz deve homologá-lo e conceder
a recuperação judicial do devedor, não sendo permitido ao magistrado se imiscuir (intrometer) no aspecto
da viabilidade econômica da empresa.
A aprovação do plano pela assembleia representa uma nova relação negocial que é construída entre o
devedor e os credores. Se os credores aceitaram a proposta e ela preenche os requisitos legais, não cabe
ao juiz indeferir a recuperação judicial.
Além disso, o magistrado não é a pessoa mais indicada para aferir a viabilidade econômica do plano de
recuperação judicial. Isso porque a análise do possível sucesso ou não do plano proposto não é uma
questão jurídica propriamente dita, mas sim econômica, e que está inserida na seara negocial da
recuperação judicial, o que deve ser tratado entre devedor e credores.
STJ. 4ª Turma. REsp 1359311-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/9/2014 (Info 549).

Sobre o tema, vale relembrar os enunciados 44 e 46 da I Jornada de Direito Comercial CJF/STJ:


Enunciado 44: A homologação de plano de recuperação judicial aprovado pelos credores está sujeita ao
controle de legalidade.

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 31


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Enunciado 46: Não compete ao juiz deixar de conceder a recuperação judicial ou de homologar a
extrajudicial com fundamento na análise econômico-financeira do plano de recuperação aprovado pelos
credores.

Utilização da TR como índice de correção monetária e a fixação da taxa de juros em 1% ao ano não
constituem ilegalidades
Iniciando pela análise dos juros. Não há norma geral no ordenamento jurídico pátrio que estabeleça um
limite mínimo, um piso, para a taxa de juros (quer moratórios, quer remuneratórios). Além disso, também
não há uma norma que proíba a periodicidade anual.
Logo, não há nada de ilegal no plano de recuperação judicial que fixa a taxa de juros em 1% ao ano.
Examinando agora a questão da TR.
TR é a sigla para “Taxa Referencial”, um índice de correção monetária que é utilizado para a correção dos
valores depositados na poupança.
A TR é um índice muito criticado. Isso porque, segundo os economistas, ele não consegue evitar a perda
de poder aquisitivo da moeda.
Esse índice (TR) é fixado ex ante, ou seja, previamente, a partir de critérios técnicos não relacionados com
a inflação considerada no período. Em outras palavras, a TR é calculada antes de a inflação ocorrer. Assim,
a remuneração da caderneta de poupança – diferentemente de qualquer outro índice oficial de inflação –
é sempre prefixada. Essa circunstância deixa claro que existe uma desvinculação entre a remuneração da
poupança e a evolução dos preços da economia, isto é, a TR não capta a variação da inflação.
Observe-se, por exemplo, que a TR permaneceu em 0% ao longo de todo o ano de 2018.
Por essa razão, diz-se que todo índice definido ex ante é incapaz de refletir a real flutuação de preços
apurada no período em referência. É o caso da TR.
Esses foram os motivos que levaram o STF a declarar a TR inconstitucional como índice de correção
monetária nas condenações impostas à Fazenda Pública: RE 870.947/SE, Rel. Min. Luiz Fux, DJe
20/11/2017.
Vale ressaltar, no entanto, que não se pode dizer que essa decisão do STF valha para toda e qualquer
obrigação. Dito de outro modo, a TR não será sempre inconstitucional ou ilegal.
Assim, em princípio, a utilização da TR como indexador, por si só, não configura uma ilegalidade.
O STJ possui, inclusive, três súmulas afirmando que a TR é um indexador válido para algumas situações:
Súmula 295-STJ: A Taxa Referencial (TR) é indexador válido para contratos posteriores à Lei n. 8.177/91,
desde que pactuada.
Súmula 454-STJ: Pactuada a correção monetária nos contratos do SFH pelo mesmo índice aplicável à
caderneta de poupança, incide a taxa referencial (TR) a partir da vigência da Lei n. 8.177/1991.
Súmula 459-STJ: A Taxa Referencial (TR) é o índice aplicável, a título de correção monetária, aos débitos
com o FGTS recolhidos pelo empregador mas não repassados ao fundo.

Logo, para esses contratos acima, o STJ já afirmou que a TR é válida. Outro exemplo é no caso do FGTS. O
STJ já decidiu que a TR é um índice válido para a remuneração das contas vinculadas ao FGTS. Nesse
sentido: STJ. 1ª Seção. REsp 1614874-SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/04/2018 (recurso
repetitivo) (Info 625).
Por outro lado, existem contratos nos quais não se pode realmente utilizar a TR.
Há contratos cuja natureza jurídica, ou cuja lei de regência, exigem a utilização de um índice que
efetivamente expresse o fenômeno inflacionário. Com relação a esses tipos de contrato, o STJ entende
que é inválida a previsão da TR como índice de correção monetária.

TR pode ser utilizada no plano de recuperação judicial


O plano de recuperação judicial possui natureza jurídica de um negócio jurídico plurilateral, na medida em
que se forma a partir da manifestação de vontade dos diversos credores reunidos em assembleia, todos

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 32


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eles em prol de interesses comuns, quais sejam, a recuperação da empresa em crise e o pagamento dos
credores.
Vale ressaltar que a aprovação do plano exige, necessariamente, alguma disposição de direitos por parte
dos credores. Em outras palavras, eles terão que renunciar (“perder”) um pouco para que a empresa em
crise consiga pagar.
O grau de renúncia é que será negociado. Pode-se renunciar muito ou pouco a depender das negociações.
Se a maioria dos credores se recusar a dispor, ao menos em parte, de seus direitos creditícios, insistindo
em exigir o cumprimento da obrigação nas mesmas condições em que pactuadas, a recuperação judicial
da empresa se tornará inviável e será decretada a sua falência.
Ora, se o plano de recuperação pressupõe a disponibilidade de direitos por parte dos credores, nada
impede que os credores façam concessões também quanto à forma de atualização monetária de seus
créditos, aceitando a TR e assumindo os “prejuízos” decorrentes das perdas inflacionárias em prol da
recuperação da empresa.
Assim, em tese, os credores poderiam até mesmo abrir mão totalmente de qualquer índice de correção
monetária. Trata-se de um direito disponível, de forma que cabe aos próprios credores avaliar, segundo
sua análise econômica, se vale a pena aceitar ou não aquele índice de correção monetária, mesmo que
ele seja insuficiente para corrigir a contento a inflação do período.

Em suma:
É válida a cláusula no plano de recuperação judicial que determina a TR como índice de correção
monetária e a fixação da taxa de juros em 1% ao ano.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.630.932-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/06/2019 (Info 651).

RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Aprovação do plano suspende os protestos tirados contra a empresa em recuperação, mas ficam
mantidos os protestos tirados contra eventuais coobrigados (ex: avalistas)

No plano de recuperação judicial é possível suspender tão somente o protesto contra a


recuperanda e manter ativo o protesto tirado contra o coobrigado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.630.932-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/06/2019
(Info 651).

Recuperação judicial
A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a
superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e,
com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores.
A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado
um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência.

Fases da recuperação
De forma resumida, a recuperação judicial possui três fases:
a) postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento;
b) processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva;
c) execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial.

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 33


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Plano de recuperação
Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar
em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de
recuperação em falência.
Este plano deverá conter:
• discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50);
• demonstração de sua viabilidade econômica; e
• laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional
legalmente habilitado ou empresa especializada.
Os credores analisam o plano apresentado, que pode ser aprovado ou não pela assembleia geral de
credores.

Suspensão das ações e execuções


Tendo sido decretada a recuperação judicial, as ações e execuções que tramitavam contra a empresa em
recuperação serão suspensas. Veja:
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do PROCESSAMENTO da recuperação judicial
suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive
aquelas dos credores particulares do sócio solidário.
(...)
§ 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma
excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do
processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos
credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento
judicial.

Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o
PROCESSAMENTO da recuperação judicial e, no mesmo ato:
(...)
III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do art. 6º
desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam, ressalvadas as ações
previstas nos §§ 1º, 2º e 7º do art. 6º desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma dos
§§ 3º e 4º do art. 49 desta Lei;

Segundo explica o Min. Luis Felipe Salomão, a razão dessa norma que determina a pausa momentânea
das ações e execuções (stay period) na recuperação judicial é a de permitir que o devedor em crise consiga
negociar de forma conjunta com todos os credores (plano de recuperação) e, ao mesmo tempo, preservar
o patrimônio do empreendimento, que ficará livre, por um determinado período de respiro, de eventuais
constrições (ex: penhora) de bens necessários à continuidade da atividade empresarial. Com isso,
minimiza-se o risco de haver uma falência.

Além da suspensão das ações e execuções, o mero deferimento do PROCESSAMENTO da recuperação


judicial acarreta também a retirada do nome da empresa do SPC, SERASA e demais cadastros negativos?
A empresa em recuperação judicial tem direito de tirar seu nome dos serviços de restrição de crédito e
tabelionatos de protesto pelo simples fato de ter sido deferida a recuperação judicial?
NÃO. O deferimento do processamento de recuperação judicial, por si só, não enseja a suspensão ou o
cancelamento da negativação do nome do devedor nos cadastros de restrição ao crédito e nos
tabelionatos de protestos.
O deferimento do processamento de recuperação judicial suspende o curso das ações e execuções propostas
em face do devedor. Como vimos acima, isso está expressamente previsto no art. 6º, caput e § 4º, da Lei nº

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 34


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11.101/2005. Contudo, essa providência (suspensão das ações e execuções) não significa que o direito dos
credores (direito creditório propriamente dito) tenha sido extinto. A dívida continua existindo.
Assim, se a dívida continua existindo (e apenas a execução é que está suspensa), não se pode aceitar a retirada
do nome da empresa em recuperação dos serviços de proteção ao crédito e tabelionato de protesto.

Enunciado 54 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: O deferimento do processamento da recuperação


judicial não enseja o cancelamento da negativação do nome do devedor nos órgãos de proteção ao crédito
e nos tabelionatos de protestos.

Obs: deferimento do processamento da recuperação é diferente de concessão da recuperação judicial.

E haverá algum momento a partir do qual será possível retirar o nome da empresa dos cadastros
restritivos?
SIM. Com a aprovação do plano.
Quando o plano de recuperação judicial for aprovado, será possível providenciar a baixa dos protestos e
a retirada do nome da empresa dos cadastros de inadimplentes em relação às dívidas que estiverem
sujeitas ao referido plano. Isso porque, havendo a aprovação do plano, ocorre a novação dos débitos, ou
seja, as dívidas anteriores serão substituídas pelas novas condições firmadas no plano, nos termos do art.
59 da Lei nº 11.101/2005:
Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e
obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o
disposto no § 1º do art. 50 desta Lei.

Ressalte-se, no entanto, que essa baixa dos protestos e retirada do nome dos cadastros ficará sob condição
resolutiva, devendo a empresa cumprir todas as obrigações previstas no acordo de recuperação judicial
uma vez que, se desatendê-las, será possível reincluí-la nos referidos cadastros.
Diante disso, uma vez homologado o plano de recuperação judicial, os órgãos competentes devem ser
oficiados a providenciar a baixa dos protestos e a retirada dos cadastros de inadimplentes do nome da
recuperanda e dos seus sócios, por débitos sujeitos ao referido plano, com a ressalva expressa de que essa
providência será adotada sob a condição resolutiva de a devedora cumprir todas as obrigações previstas
no acordo de recuperação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.260.301/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/08/2012 (Info 502).

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


Braga Indústria Ltda. é uma sociedade empresária que pediu recuperação judicial.
O plano de recuperação judicial estabeleceu que os credores desta empresa seriam pagos em um prazo
de até 10 anos, ou seja, todas as dívidas foram obrigatoriamente parceladas, respeitada a regra do art. 54
da Lei nº 11.101/2005.
O plano de recuperação judicial previu também que todos os protestos que tinham sido tirados contra a
Braga (empresa recuperanda) e contra eventuais coobrigados deveriam ficar suspensos.
Ex: a Braga estava devendo R$ 100 mil a um fornecedor; esse débito estava materializado em uma
duplicata; como a empresa não pagou essa dívida na data do vencimento, o fornecedor levou o título
(duplicata) para ser protestado no tabelionato de protesto; vale ressaltar que João (pessoa física) foi
avalista desta duplicata, ou seja, ele é um coobrigado.
Desse modo, utilizando o exemplo acima, o plano de recuperação previa que o protesto tirado tanto
contra a Braga como contra João deveria ficar suspenso. Durante esse novo prazo de pagamento, é como
se esse protesto não existisse (retira-se a publicidade deste protesto). Só se a empresa recuperanda
descumprir o plano é que o protesto voltaria a produzir efeitos.
Veja a cláusula do plano de recuperação:
“12. PUBLICIDADE DOS PROTESTOS
Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 35
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Uma vez aprovado o Plano de Recuperação Judicial, com a novação de todos os créditos sujeitos ao
mesmo, pela decisão que conceder a recuperação judicial, todos os credores concordarão com suspensão
da publicidade dos protestos efetuados contra a recuperanda e contra os coobrigados, enquanto o Plano
de Recuperação Judicial estiver sendo cumprido.
Após o pagamento integral dos créditos nos termos e formas estabelecidas neste Plano, os respectivos
valores serão considerados integralmente quitados e o respectivo Credor dará a mais ampla, geral,
irrevogável e irretratável quitação, para nada mais reclamar a qualquer título, contra quem quer que seja,
sendo inclusive obrigado a fornecer, se o caso, carta de anuência/instrumento de protesto para fins de
baixa definitiva dos protestos.”

Agravo de instrumento de um credor


O plano foi aprovado pela assembleia geral de credores.
Diante disso, o juiz decretou a recuperação judicial da empresa.
O Banco Itaú, um dos credores da Braga, interpôs agravo de instrumento contra esta decisão pedindo a
revogação do plano de recuperação judicial para que outro fosse submetido à assembleia, ou para que a
recuperação fosse convolada em falência:
Art. 59 (...)
§ 2º Contra a decisão que conceder a recuperação judicial caberá agravo, que poderá ser
interposto por qualquer credor e pelo Ministério Público.

Alegou, como fundamento para a revogação do plano, que é ilegal a previsão de que o protesto tirado
contra os coobrigados também deverá ficar suspenso. Em outras palavras, o banco disse o seguinte: olha,
eu concordo que o protesto fique suspenso contra a empresa recuperanda; no entanto, a Lei nº
11.101/2005 não autoriza que o protesto contra os coobrigados também fique suspenso; isso é ILEGAL!!!!!

A tese do Banco foi acolhida pelo STJ?


SIM. Essa cláusula do plano de recuperação judicial viola o art. 49, § 1º, da Lei nº 11.101/2005, segundo a
qual “os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os
coobrigados, fiadores e obrigados de regresso”.
Assim, ao contrário do que ocorre com a empresa recuperanda, a obrigação dos coobrigados não se
submete aos efeitos da novação especial prevista no art. 59, caput, da Lei nº 11.101/2005.

Em suma:
No plano de recuperação judicial é possível suspender tão somente o protesto contra a recuperanda e
manter ativo o protesto tirado contra o coobrigado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.630.932-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/06/2019 (Info 651).

Os protestos tirados contra a empresa em recuperação judicial e


contra os coobrigados são suspensos com a recuperação judicial?
Com o deferimento do processamento da Com a aprovação e homologação do plano de
recuperação judicial: recuperação judicial:
NÃO DEPENDE
O deferimento do processamento da recuperação • O protesto é suspenso com relação à empresa
judicial não enseja o cancelamento da negativação recuperanda.
do nome do devedor nos órgãos de proteção ao • O protesto é mantido ativo com relação aos
crédito e nos tabelionatos de protestos. coobrigados.

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 36


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RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Se houve a migração da concordata para recuperação judicial, o crédito em moeda estrangeira
será calculado com base no câmbio do dia do processamento da concordata

Crédito em moeda estrangeira que deveria ter sido ou foi habilitado em concordata preventiva
(Decreto-Lei nº 7.661/45) que posteriormente vem a migrar para a recuperação judicial (Lei
nº 11.101/2005) deve ser convertido em moeda nacional pelo câmbio do dia em que foi
processada a concordata preventiva.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.319.085-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/05/2019 (Info 651).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Em 2004, a Parmalat do Brasil Ltda. pediu concordata.
A concordata era um processo previsto na antiga Lei de Falências (Decreto-Lei nº 7.661/45) por meio do
qual se tentava “salvar” a sociedade empresária que estava em risco de quebrar (ir à falência).
Em 2005, entrou em vigor a Lei nº 11.101/2005, que revogou o DL 7.661/45 e acabou com a figura da
concordata, criando um novo instituto “parecido” (mas não idêntico), chamado de “recuperação judicial”.

O que acontece com falências ou concordatas que haviam sido decretadas na vigência do DL 7.661/45
e, em seguida, antes que elas fossem concluídas, entrou em vigor a Lei nº 11.101/2005?
Como regra geral, os processos de falência e de concordata ajuizados antes da vigência da Lei nº
11.101/2005 continuaram regidos pelo DL 7.661/45. Foi o que previu o caput do art. 192 da Lei nº
11.101/2005:
Art. 192. Esta Lei não se aplica aos processos de falência ou de concordata ajuizados
anteriormente ao início de sua vigência, que serão concluídos nos termos do Decreto-Lei nº 7.661,
de 21 de junho de 1945.

Possibilidade de migração para a recuperação judicial


O § 2º do art. 192 trouxe a possibilidade de a empresa que estava em concordata pedir a recuperação
judicial. Fala-se, neste caso, que há uma migração para a recuperação judicial:
Art. 192 (...)
§ 2º A existência de pedido de concordata anterior à vigência desta Lei não obsta o pedido de
recuperação judicial pelo devedor que não houver descumprido obrigação no âmbito da
concordata, vedado, contudo, o pedido baseado no plano especial de recuperação judicial para
microempresas e empresas de pequeno porte a que se refere a Seção V do Capítulo III desta Lei.

Essa possibilidade é interessante porque a recuperação judicial trouxe regras mais favoráveis ao
soerguimento da empresa.

Voltando ao exemplo:
Como já dito, em 2004, a Parmalat pediu a concordata, regida pelo DL 7.661/45.
Depois que entrou em vigor a Lei nº 11.101/2005, a Parmalat pediu a migração para a recuperação judicial.
Um dos credores da Parmalat era um banco suíço para quem a empresa devia 5 milhões de dólares, dívida
que venceu em 30 de julho de 2004.
Vale ressaltar que esse banco não pediu a habilitação de seu crédito na concordata.
Em 2005, depois da edição da nova lei, o juiz deferiu a recuperação judicial da Parmalat.
Nesse momento, ou seja, depois que houve a migração da concordata para a recuperação judicial, o banco
pediu a habilitação do crédito.
Como a dívida com o banco era em dólar, foi necessário fazer a conversão em moeda nacional (real).

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 37


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Surgiu, então, a dúvida: essa conversão deverá considerar o câmbio de qual dia?
Do dia em que foi processada a concordata preventiva, conforme previa o art. 213 do DL 7.661/45:
Art. 213. Os créditos em moeda estrangeira serão convertidos em moeda do país, pelo câmbio do
dia em que for declarada a falência ou mandada processar a concordata preventiva, e só pelo valor
assim estabelecido serão considerados para todos os efeitos desta lei.

O § 2º do art. 50 da Lei nº 11.101/2005 traz regra diferente, prevendo:


Art. 50 (...)
§ 2º Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cambial será conservada como parâmetro de
indexação da correspondente obrigação e só poderá ser afastada se o credor titular do respectivo
crédito aprovar expressamente previsão diversa no plano de recuperação judicial.

Como houve a migração da concordata preventiva para a recuperação judicial, o processo de concordata
será extinto e os créditos submetidos à concordata serão incluídos na recuperação judicial no seu valor
original, como o montante primitivo e de acordo com a legislação de regência à época. É o que prevê o
art. 192, § 3º da Lei nº 11.101/2005:
Art. 192 (...)
§ 2º A existência de pedido de concordata anterior à vigência desta Lei não obsta o pedido de
recuperação judicial pelo devedor que não houver descumprido obrigação no âmbito da
concordata, vedado, contudo, o pedido baseado no plano especial de recuperação judicial para
microempresas e empresas de pequeno porte a que se refere a Seção V do Capítulo III desta Lei.
§ 3º No caso do § 2º deste artigo, se deferido o processamento da recuperação judicial, o processo
de concordata será extinto e os créditos submetidos à concordata serão inscritos por seu valor
original na recuperação judicial, deduzidas as parcelas pagas pelo concordatário.

Logo, deve ser aplicada a regra do art. 213 do DL 7.661/45.

Em suma:
Crédito em moeda estrangeira que deveria ter sido ou foi habilitado em concordata preventiva
(Decreto-Lei nº 7.661/45) que posteriormente vem a migrar para a recuperação judicial (Lei nº
11.101/2005) deve ser convertido em moeda nacional pelo câmbio do dia em que foi processada a
concordata preventiva.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.319.085-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/05/2019 (Info 651).

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

AGRAVO DE INSTRUMENTO
Em caso de decisões interlocutórias complexas, qual critério será adotado
para saber se cabe ou não agravo de instrumento?

Em se tratando de decisão interlocutória com duplo conteúdo, é possível estabelecer como


critérios para a identificação do cabimento do recurso:
a) o exame do elemento que prepondera na decisão;
b) o emprego da lógica do antecedente-consequente e da ideia de questões prejudiciais e de
questões prejudicadas;
c) o exame do conteúdo das razões recursais apresentadas pela parte irresignada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.797.991-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/06/2019 (Info 651).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João, José, Joaquim, Maria, Mônica e Miriam ajuizaram, em litisconsórcio ativo facultativo, ação contra a
Sul América Seguros discutindo um seguro de mútuo habitacional.
A ação foi distribuída para a 3ª Vara Cível de Curitiba (PR).
A Caixa Econômica Federal interveio no feito e manifestou interesse em integrar a presente demanda, na
qualidade de assistente da Sul América, mas somente em relação aos pedidos formulados pelos autores
João, José e Joaquim.
Diante disso, como a CEF é uma empresa pública federal (art. 109, I, da CF/88), o Juiz de Direito
desmembrou o processo em relação aos autores João, José e Joaquim e declinou a competência para a
Justiça Federal, permanecendo com o processo no que tange a Maria, Mônica e Miriam.
Relembre o que diz o art. 109, I, da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas
na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de
trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

João, José e Joaquim desejam recorrer contra a decisão alegando que a CEF não teria interesse jurídico de
intervir no feito e, consequentemente, o feito deveria continuar tramitando na Justiça Estadual.

Qual é o recurso cabível neste caso?


Agravo de instrumento, nos termos do art. 1.015, IX, do CPC/2015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
(...)
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;

Pronunciamento judicial de natureza complexa


Vale ressaltar que, no caso concreto, estamos diante de um pronunciamento judicial de natureza
complexa. Isso porque o juiz, acolhendo ou rejeitando a intervenção do terceiro (no caso, a CEF), também
se pronuncia sobre a necessidade ou não de modificação da competência em virtude da referida
intervenção. São, portanto, duas decisões em uma só.

Em caso de decisões interlocutórias complexas, qual critério será adotado para saber se cabe ou não
agravo de instrumento? Qual das duas “decisões” contidas nessa única decisão é que irá servir de
parâmetro para se definir se cabe ou não agravo de instrumento?
Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 39
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O STJ propôs os seguintes critérios:


Em se tratando de decisão interlocutória com duplo conteúdo é possível estabelecer como critérios para
a identificação do cabimento do recurso:
a) o exame do elemento que prepondera na decisão;
b) o emprego da lógica do antecedente-consequente e da ideia de questões prejudiciais e de questões
prejudicadas;
c) o exame do conteúdo das razões recursais apresentadas pela parte irresignada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.797.991-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/06/2019 (Info 651).

Vejamos cada um desses critérios com base no exemplo dado acima:

a) o exame do elemento que prepondera na decisão


O primeiro critério que se pode fixar diz respeito à preponderância de carga decisória, ou seja, qual dos
elementos que compõem o pronunciamento judicial é mais relevante.
No nosso exemplo, a decisão sobre a intervenção ou não de terceiro (da CEF) exerce relação de dominância
sobre a competência. A definição sobre a intervenção prepondera. Isso porque somente se pode cogitar
de uma alteração de competência se – e apenas se – houver a admissão do terceiro.

b) o emprego da lógica do antecedente-consequente e da ideia de questões prejudiciais e de questões


prejudicadas
Consiste em verificar se a primeira matéria (ex: intervenção de terceiro) influencia o modo de se decidir a
segunda matéria (ex: competência).
No ponto, conclui-se que a intervenção de terceiro é o antecedente que leva, consequentemente, ao
exame da competência, induzindo a um determinado resultado. Assim, se deferido o ingresso do terceiro
sujeito à competência prevista no art. 109, I, da Constituição Federal, haverá alteração da competência
para a Justiça Federal; se indeferido o ingresso do terceiro sujeito à competência prevista no art. 109, I,
da Constituição Federal, haverá manutenção da competência na Justiça Estadual.

c) o exame do conteúdo das razões recursais apresentadas pela parte irresignada


Por fim, deve-se examinar o foco da irresignação da parte agravante em suas razões recursais para que se
conclua pela incidência do art. 1.015, IX, do CPC/15, ou seja, se a impugnação se dirige precipuamente
para a questão da intervenção de terceiro ou para a questão da competência.
Em nosso exemplo, o objeto principal do recurso interposto é alegar que a CEF não teria interesse jurídico
para intervir no feito.

Desse modo, no exemplo dado, a identificação do cabimento do recurso é feita com base na análise do
acerto ou não da admissão da intervenção de terceiros (no caso, a CEF).

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 40


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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROVAS
É ilícita a revista pessoal realizada por agente de segurança privada

Importante!!!
Caso concreto: o homem passava pela catraca de uma das estações da Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM) com uma mochila nas costas, quando foi abordado por dois
agentes de segurança privada da empresa. Os seguranças acreditavam que se tratava de
vendedor ambulante e fizeram uma revista, tendo encontrado dois tabletes de maconha na
mochila do passageiro. O homem foi condenado pelo TJ/SP por tráfico de drogas (art. 33 da
Lei nº 11.343/2006).
O STJ, contudo, entendeu que a prova usada na condenação foi ilícita, considerando que obtida
mediante revista pessoal ilegal feita pelos agentes da CPTM.
Segundo a CF/88 e o CPP, somente as autoridades judiciais, policiais ou seus agentes estão
autorizados a realizarem a busca domiciliar ou pessoal.
Diante disso, a 5ª Turma do STJ concedeu habeas corpus para absolver e mandar soltar um
homem acusado de tráfico de drogas e condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo com
base em prova recolhida em revista pessoal feita por agentes de segurança privada da
Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
STJ. 5ª Turma. HC 470.937/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 04/06/2019 (Info 651).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João passou pela catraca de uma das estações de metrô com uma mochila nas costas, quando foi abordado
por dois agentes de segurança privada da sociedade de economia mista que administra esse meio de
transporte no Estado de São Paulo (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos – CPTM).
Os seguranças afirmaram que o indivíduo demonstrou “certa preocupação” ao passar por eles e,
acreditando que se tratava de vendedor ambulante (atividade proibida dentro dos vagões), os agentes de
segurança realizaram revista pessoal e localizaram no interior da mochila dois tabletes de maconha.
João foi denunciado e condenado por tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006), sentença mantida
pelo TJ/SP.
Diante disso, a defesa impetrou habeas corpus dirigido ao STJ alegando que a apreensão da droga foi ilícita
porque realizada em revista pessoal feita por agentes de segurança particular.

A tese da defesa foi acolhida pelo STJ?


SIM.
A busca pode ser domiciliar ou pessoal (art. 240 do CPP).
O Código de Processo Penal, ao disciplinar a busca domiciliar e pessoal, preconiza:
Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada
suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam
corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.

Para o STJ, somente as autoridades judiciais, policiais ou seus agentes, estão autorizados a realizarem a
busca domiciliar ou pessoal.
Segundo o inciso II do art. 5º da Constituição Federal “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei”.
Na hipótese, o agente (João) não tinha a obrigação de se sujeitar à revista pessoal. Isso porque não existe
lei autorizando que esse ato seja feito pelos seguranças privados do metrô.

Informativo 651-STJ (02/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 41


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Vale ressaltar que esses agentes de segurança não podem nem sequer ser equiparados a guardas
municipais, já que são empregados de uma sociedade de economia mista operadora de transporte
ferroviário no Estado de São Paulo, sendo regidos, portanto, pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.

Em suma:
É ilícita a revista pessoal realizada por agente de segurança privada e todas as provas decorrentes desta.
STJ. 5ª Turma. HC 470.937/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 04/06/2019 (Info 651).

EXERCÍCIOS

Julgue os itens a seguir:


1) Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, deve ser aplicado o prazo prescricional
previsto na legislação penal independentemente de qualquer outra exigência. ( )
2) Existe o poder-dever do Município de regularizar loteamentos clandestinos ou irregulares restrito às
obras essenciais a serem implantadas em conformidade com a legislação urbanística local, sem prejuízo
do também poder-dever da Administração de cobrar dos responsáveis os custos em que incorrer a sua
atuação saneadora. ( )
3) A ação de repetição de indébito por cobrança indevida de valores referentes a serviços não contratados
de telefonia fixa tem prazo prescricional de 5 (cinco) anos. ( )
4) A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, e, em
regra, estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes. ( )
5) Na dação em pagamento de imóvel sem cláusula que disponha sobre a propriedade das árvores de
reflorestamento, a transferência do imóvel inclui a plantação. ( )
6) A “estação rádio base” (ERB) instalada em imóvel locado não caracteriza fundo de comércio de empresa
de telefonia móvel celular para fins de ação renovatória fundada no art. 51 da Lei nº 8.245/91. ( )
7) É lícita a disposição condominial que proíbe a utilização de áreas comuns do edifício por condômino
inadimplente, desde que se refira às áreas de lazer. ( )
8) A reserva da quarta parte da herança, prevista no art. 1.832 do Código Civil, não se aplica à hipótese de
concorrência sucessória híbrida. ( )
9) É abusiva a convenção de prazo decadencial para a utilização de diárias adquiridas em clube de turismo. ( )
10) No contrato de adesão firmado entre o comprador e a construtora/incorporadora, havendo previsão de
cláusula penal apenas para o inadimplemento do adquirente, deverá ela ser considerada para a fixação
da indenização pelo inadimplemento do vendedor. ( )
11) É válida a cláusula no plano de recuperação judicial que determina a TR como índice de correção
monetária e a fixação da taxa de juros em 1% ao ano. ( )
12) No plano de recuperação judicial é possível suspender tão somente o protesto contra a recuperanda e
manter ativo o protesto tirado contra o coobrigado. ( )
13) Se houve a migração da concordata para recuperação judicial, o crédito em moeda estrangeira será
calculado com base no deferimento da recuperação. ( )
14) Em se tratando de decisão interlocutória com duplo conteúdo é possível estabelecer como critérios para
a identificação do cabimento do recurso: (i) o exame do elemento que prepondera na decisão; (ii) o
emprego da lógica do antecedente-consequente e da ideia de questões prejudiciais e de questões
prejudicadas; (iii) o exame do conteúdo das razões recursais apresentadas pela parte irresignada. ( )
15) É ilícita a revista pessoal realizada por agente de segurança privada e todas as provas decorrentes desta. ( )

Gabarito
1. C 2. C 3. E 4. C 5. C 6. E 7. E 8. C 9. E 10. C
11. C 12. C 13. E 14. C 15. C

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