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Revolução passiva,
movimento operário e
transformismo no
Brasil, 1930-1964
SÃO PAULO
2019
1. Introdução
Os anos 1920 e 1930 constituem um marco de grande importância no desenvolvimento
histórico da sociedade brasileira. É nesses anos iniciais do século XX que o Brasil passa por
mudanças profundas no tecido de suas relações sociais, apesar de não poderem ser identificadas
como transformações radicais e estruturais que alteram as bases de todo o País. Neste momento
histórico, entra em crise terminal o modelo oligárquico baseado no latifúndio, no domínio
político das elites locais a partir de um Estado liberal e ao mesmo tempo antidemocrático e na
construção de hegemonia pela classe dominante à época sobretudo através de formas
repressivas e violentas.
Compreender tal processo, dessa forma, é essencial para o entendimento das bases que
edificam toda a construção da sociedade brasileira moderna, sua correlação de classes e
fenômenos comuns da disputa política ao longo do século XX e até mesmo do XXI. Na
interpretação deste momento histórico, o estudo gramsciano traz grande subsídio para a
compreensão de fenômenos, entre outros, como o protagonismo do Estado nas transformações
estruturais da sociedade brasileira e a submissão do sindicalismo a uma estrutura oficial,
vinculada ao Ministério do Trabalho, identificada como populista e de inspiração fascista.
Assim, o presente trabalho empregará o conceito de revolução passiva na análise das mudanças
na sociedade brasileira a partir de 1930, num processo nascido de uma crise orgânica e de
hegemonia. Por fim, ao se analisar o papel do movimento operário no período, o conceito de
transformismo será a base de investigação.
2. As transformações da sociedade brasileira a partir de 1930 e o
protagonismo do Estado
O ano de 1930, que marca a chegada de Getúlio Vargas à Presidência da República por
meio de um golpe contra a oligarquia paulista, tem sido o marco de início do processo de
transformações estruturais da sociedade brasileira, ainda que constitua um conjunto de
mudanças dentro dos marcos do capitalismo periférico brasileiro, sem mudanças que possam
ser consideradas radicais dentro da estrutura de classes no País. Tal data emblemática consiste
num marco simbólico que divide tal processo de transformações e a crise de uma década que o
antecede.
Tal crise da República Velha, traduzida nos diversos conflitos sociais da década de 1920
e aprofundada pelos efeitos da crise global de 1929, é comumente identificada como sendo uma
crise de hegemonia da antiga oligarquia brasileira, uma vez que o bloco de poder passava a ter
sucessivamente menos controle do restante da sociedade (historicamente obtido através de
meios coercitivos, sem grande capacidade das elites em gerar convencimento nas classes
subalternas). Este momento de crise também é identificado como orgânico, dado que há uma
quebra das relações entre sociedade política e sociedade civil que acompanha a desarticulação
dos grupos hegemônicos. Sem haver uma classe com capacidade de se colocar como alternativa
ao bloco de poder decadente, a sociedade brasileira passa por um processo no qual o Estado,
em vez de uma classe fundamental específica, toma a dianteira de mudanças estruturais
(Weffort, 1978b, pp. 4-5).
Nesse processo, o Estado nacional passa a fazer, sob o discurso paternalista da bondade
e generosidade do governo, certas concessões à classe trabalhadora, com a promulgação de leis
referentes a direitos sociais, a regulamentação de direitos trabalhistas (sobretudo a partir da
edição da CLT) e a formulação de certas políticas públicas voltadas para a melhoria das
condições de vida das massas urbanas. No entanto, é marcante a ausência de grandes
mobilizações de massa na revolução passiva e, como é comum em tais processos, o
consentimento ou pelo menos a anuência das classes trabalhadoras é obtida através, além da
absorção de interesses destes setores da sociedade, de formas diversas de manipulação e
subordinação ideológica sobre as massas (Araújo, 1994, p. 26). Assim o foi no Brasil: toda
concessão aos trabalhadores era envolta num intenso discurso de propaganda do Estado, visto
como provedor e assistencialista, de forma a convencer setores importantes das classes
subalternas a aceitarem a estrutura paternalista do Estado.
Araújo (1994, p. 25) identifica que, apesar de todas as debilidades da revolução passiva,
esta não pode ser considerada como ausente de um projeto político. O protagonismo do Estado
nesta revolução não constitui uma contradição com a presença de projeto, mas indica certas
características deste. Como esperado, um projeto político protagonizado pelo Estado propõe
um aumento do poder estatal e suas competências. Ao se analisar o populismo no Brasil, na sua
extensão entre 1945 e 1964 mas tendo raízes profundas no Estado Novo (1937-1945), é possível
identificá-lo como, em grande parte, a “ideologia oficial” do Estado brasileiro no período e o
projeto político norteador da revolução passiva (Weffort, 1979, pp. 8-9). Tendo como principais
elementos o nacionalismo e a defesa do Estado como principal indutor da industrialização e do
desenvolvimento econômico, o populismo constituiu o elemento central da disputa política no
período de 1945 a 1964 e foi capaz de mobilizar amplos setores da sociedade - inclusive a classe
trabalhadora, como será visto a seguir.
O sindicalismo brasileiro é quase tão antigo quanto a própria indústria nacional. Tendo
surgidos no início do século XX, foi capaz de realizar sua primeira greve geral em 1917 e teve
papel importante nas disputas políticas na crise da República Velha. Tendo sido hegemonizado
neste primeiro momento histórico por organizações de influência anarquista e, no fim dos anos
1920, tendo influência do PCB, o movimento operário desde seus primeiros anos foi duramente
perseguido e reprimido e, durante o Estado Novo, assume uma estrutura oficialmente
reconhecida e vinculada ao Estado. O sistema sindical emergente, de claras inspirações
fascistas, carrega profundos traços corporativos que buscavam minar os conflitos entre classes
e, num esforço de desmobilizar a classe trabalhadora e afastá-la da luta política, colocar os
direitos dos trabalhadores exclusivamente sob tutela do Estado (Weffort, 1978a, pp. 7-8).
4. Conclusão
Referências bibliográficas