Sie sind auf Seite 1von 7

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

FLP-466: O PENSAMENTO POLÍTICO DE ANTONIO GRAMSCI

VINICIUS ELLERO KIMATI DIAS – NUSP 10340242

Revolução passiva,
movimento operário e
transformismo no
Brasil, 1930-1964

SÃO PAULO

2019

1. Introdução
Os anos 1920 e 1930 constituem um marco de grande importância no desenvolvimento
histórico da sociedade brasileira. É nesses anos iniciais do século XX que o Brasil passa por
mudanças profundas no tecido de suas relações sociais, apesar de não poderem ser identificadas
como transformações radicais e estruturais que alteram as bases de todo o País. Neste momento
histórico, entra em crise terminal o modelo oligárquico baseado no latifúndio, no domínio
político das elites locais a partir de um Estado liberal e ao mesmo tempo antidemocrático e na
construção de hegemonia pela classe dominante à época sobretudo através de formas
repressivas e violentas.

A sociedade brasileira vivencia um momento de transição graças a fatores endógenos e


de reorganização do capitalismo em escala global. O Brasil agrário, rural e oligárquico passava
por um declínio que daria lugar a um país num franco processo de industrialização e
urbanização. É nesse cenário que as massas populares, sobretudo urbanas, passam a constituir
um ator político relevante organizado a partir do movimento operário que se desenvolvia desde
o início do século. Ao se tornar uma força política relevante na conjuntura nacional, a classe
trabalhadora encontra uma elite completamente despreparada para lidar consigo e desesperada
frente ao menor sinal de convulsão social. O Estado brasileiro, a partir de então, passa a assumir
uma função essencial de conduzir estas transformações pelas quais o Brasil passava, sem, no
entanto, romper compromissos com os grupos dominantes e exercendo funções de não apenas
controle, mas também de mobilização do movimento dos trabalhadores em defesa de seu
projeto de sociedade (Weffort, 1979, p. 13).

Compreender tal processo, dessa forma, é essencial para o entendimento das bases que
edificam toda a construção da sociedade brasileira moderna, sua correlação de classes e
fenômenos comuns da disputa política ao longo do século XX e até mesmo do XXI. Na
interpretação deste momento histórico, o estudo gramsciano traz grande subsídio para a
compreensão de fenômenos, entre outros, como o protagonismo do Estado nas transformações
estruturais da sociedade brasileira e a submissão do sindicalismo a uma estrutura oficial,
vinculada ao Ministério do Trabalho, identificada como populista e de inspiração fascista.
Assim, o presente trabalho empregará o conceito de revolução passiva na análise das mudanças
na sociedade brasileira a partir de 1930, num processo nascido de uma crise orgânica e de
hegemonia. Por fim, ao se analisar o papel do movimento operário no período, o conceito de
transformismo será a base de investigação.
2. As transformações da sociedade brasileira a partir de 1930 e o
protagonismo do Estado

O ano de 1930, que marca a chegada de Getúlio Vargas à Presidência da República por
meio de um golpe contra a oligarquia paulista, tem sido o marco de início do processo de
transformações estruturais da sociedade brasileira, ainda que constitua um conjunto de
mudanças dentro dos marcos do capitalismo periférico brasileiro, sem mudanças que possam
ser consideradas radicais dentro da estrutura de classes no País. Tal data emblemática consiste
num marco simbólico que divide tal processo de transformações e a crise de uma década que o
antecede.

Tal crise da República Velha, traduzida nos diversos conflitos sociais da década de 1920
e aprofundada pelos efeitos da crise global de 1929, é comumente identificada como sendo uma
crise de hegemonia da antiga oligarquia brasileira, uma vez que o bloco de poder passava a ter
sucessivamente menos controle do restante da sociedade (historicamente obtido através de
meios coercitivos, sem grande capacidade das elites em gerar convencimento nas classes
subalternas). Este momento de crise também é identificado como orgânico, dado que há uma
quebra das relações entre sociedade política e sociedade civil que acompanha a desarticulação
dos grupos hegemônicos. Sem haver uma classe com capacidade de se colocar como alternativa
ao bloco de poder decadente, a sociedade brasileira passa por um processo no qual o Estado,
em vez de uma classe fundamental específica, toma a dianteira de mudanças estruturais
(Weffort, 1978b, pp. 4-5).

Esse processo pode ser identificado a partir do conceito gramsciano de revolução


passiva. Araújo (1994, pp. 19-21) define tal revolução como um processo de transformações
ditado pelo binômio conservação/inovação, de forma que toda mudança estrutural não seja
capaz de alterar ou ameaçar substancialmente o antigo grupo hegemônico. Também é presente
a pouca participação das massas, a constante apreensão e medo sobre a participação das classes
inferiores na disputa política. Ao mesmo tempo, observa-se que, uma vez que consiste na busca
por uma nova hegemonia e pela direção da sociedade, o processo revolucionário assume certos
interesses e busca algum nível (mesmo que limitado) de consentimento das classes subalternas.
Tal processo é protagonizado pelo Estado, uma vez que não há uma classe com a capacidade
histórica de se apresentar como dirigente de um processo revolucionário, tendo a capacidade de
aglutinar os interesses e o consentimento do restante da sociedade (idem, pp. 22-23).
É visível convergências do conceito de revolução passiva com o Estado brasileiro entre
1930 e 1964. Tendo se esgotado o modelo de dominação pela oligarquia agrária, o Estado passa
a se moldar para reconfigurar o exercício do poder para este ser apropriado às novas condições
objetivas do País. Institui-se um Estado de compromisso (Weffort, 1978b, p. 6), no qual
diferentes classes e frações de classe constituem uma frente que objetiva construir uma nova
hegemonia dentro da sociedade brasileira sem haver grandes rupturas ou convulsões sociais.
Neste espaço, tanto as elites políticas que conquistaram o governo em 1930 quanto a antiga
oligarquia agrária paulista tinham seus interesses respeitados: o Estado passa a ser indutor de
um conjunto de inovações visando a modernização e a industrialização da economia brasileira,
mas mantém as estruturas arcaicas marcantes do período anterior - como o latifúndio, o
patrimonialismo e a dominação político-militar das elites regionais.

Nesse processo, o Estado nacional passa a fazer, sob o discurso paternalista da bondade
e generosidade do governo, certas concessões à classe trabalhadora, com a promulgação de leis
referentes a direitos sociais, a regulamentação de direitos trabalhistas (sobretudo a partir da
edição da CLT) e a formulação de certas políticas públicas voltadas para a melhoria das
condições de vida das massas urbanas. No entanto, é marcante a ausência de grandes
mobilizações de massa na revolução passiva e, como é comum em tais processos, o
consentimento ou pelo menos a anuência das classes trabalhadoras é obtida através, além da
absorção de interesses destes setores da sociedade, de formas diversas de manipulação e
subordinação ideológica sobre as massas (Araújo, 1994, p. 26). Assim o foi no Brasil: toda
concessão aos trabalhadores era envolta num intenso discurso de propaganda do Estado, visto
como provedor e assistencialista, de forma a convencer setores importantes das classes
subalternas a aceitarem a estrutura paternalista do Estado.

Araújo (1994, p. 25) identifica que, apesar de todas as debilidades da revolução passiva,
esta não pode ser considerada como ausente de um projeto político. O protagonismo do Estado
nesta revolução não constitui uma contradição com a presença de projeto, mas indica certas
características deste. Como esperado, um projeto político protagonizado pelo Estado propõe
um aumento do poder estatal e suas competências. Ao se analisar o populismo no Brasil, na sua
extensão entre 1945 e 1964 mas tendo raízes profundas no Estado Novo (1937-1945), é possível
identificá-lo como, em grande parte, a “ideologia oficial” do Estado brasileiro no período e o
projeto político norteador da revolução passiva (Weffort, 1979, pp. 8-9). Tendo como principais
elementos o nacionalismo e a defesa do Estado como principal indutor da industrialização e do
desenvolvimento econômico, o populismo constituiu o elemento central da disputa política no
período de 1945 a 1964 e foi capaz de mobilizar amplos setores da sociedade - inclusive a classe
trabalhadora, como será visto a seguir.

3. O movimento operário, revolução passiva e transformismo

O sindicalismo brasileiro é quase tão antigo quanto a própria indústria nacional. Tendo
surgidos no início do século XX, foi capaz de realizar sua primeira greve geral em 1917 e teve
papel importante nas disputas políticas na crise da República Velha. Tendo sido hegemonizado
neste primeiro momento histórico por organizações de influência anarquista e, no fim dos anos
1920, tendo influência do PCB, o movimento operário desde seus primeiros anos foi duramente
perseguido e reprimido e, durante o Estado Novo, assume uma estrutura oficialmente
reconhecida e vinculada ao Estado. O sistema sindical emergente, de claras inspirações
fascistas, carrega profundos traços corporativos que buscavam minar os conflitos entre classes
e, num esforço de desmobilizar a classe trabalhadora e afastá-la da luta política, colocar os
direitos dos trabalhadores exclusivamente sob tutela do Estado (Weffort, 1978a, pp. 7-8).

Após a redemocratização em 1945, a estrutura sindical desenhada na Era Vargas se


mantém, sem grandes protestos do movimento operário nem da esquerda no geral. O
entendimento de tal processo exige a compreensão das diretrizes adotadas pelo maior expoente
da esquerda à época (o PCB), da inserção da classe trabalhadora no contexto de uma revolução
passiva e da concepção por parte do Estado e da ideologia populista de qual deveria ser o papel
do sindicalismo.

É necessário, primeiramente, analisar a linha adotada pelos partidos comunistas


internacionalmente no pós-guerra, a partir de instruções dadas pela União Soviética.
Predominava, nos anos subsequentes a 1945, a diretriz do “desenvolvimento pacífico”, pautado
na colaboração entre classes para a reconstrução das sociedades ocidentais após a derrota do
fascismo. Dessa forma, era necessário garantir uma convivência harmoniosa com a burguesia
no Brasil e, consequentemente, a democracia e o desenvolvimento garantiriam o fortalecimento
do movimento operário e a libertação dos povos oprimidos (Weffort, 1978a, p. 12). O PCB,
assim, entrava numa frente junto do Estado e de forças populistas como força minoritária,
dirigida, de forma que, apesar de certos protestos pequenos contra a estrutura sindical
corporativa, os comunistas não fizeram uma defesa mais enfática da liberdade sindical nem
causaram grandes tensionamentos com o Estado.
Nessa inserção da esquerda e o grande adesismo do movimento operário à estrutura
definida no Estado Novo, dá-se início a um processo de progressivo englobamento do
sindicalismo na ideologia oficial do Estado e seus desdobramentos na revolução passiva. Neste
contexto, o conceito de transformismo dá subsídios importantes para a sua compreensão. Araújo
(1994, pp. 19-20) coloca que este é uma das formas de construção de uma nova hegemonia na
sociedade, com a passagem de personalidades, absorção de setores e outras formas de
aglutinação de representantes políticos anteriormente de oposição ao bloco de poder. O ocorrido
com os comunistas e grande parte do movimento operário traduzem tal fenômeno, uma vez que,
combinando-se a diretriz internacional adotada pelo PCB no período e a estrutura sindical
vigente, a esquerda quase que inteiramente se tornou uma correia de transmissão da ideologia
oficial do Estado no processo da revolução passiva, ocupando inclusive parcelas do Estado
através de articulações com o Ministério do Trabalho e pelo prestígio oficial dado ao
sindicalismo, visto como um “quarto Poder” (Weffort, 1979, p. 8). O sindicalismo, dessa forma,
foi uma peça importante na construção de uma nova hegemonia do Estado brasileiro. não
apenas exercendo controle mas também mobilizando parcelas da classe trabalhadora em torno
do projeto político da revolução passiva.

4. Conclusão

O processo de revolução passiva no Brasil, de mais de três décadas, moldou a sociedade


moderna brasileira com todas suas contradições. Dá início a um momento no qual o País passa
a vivenciar a coexistência dos elementos mais modernos do capitalismo global com elementos
dos mais arcaicos que remontam à formação socioeconômica da sociedade colonial. Constitui,
assim, um momento de transformações restauradoras que, apesar de mudar .elementos
fundamentais do capitalismo brasileiro, mantém sua condição de periférico, subordinado a
interesses externos e conserva o poder das elites anteriormente hegemônicas, que agora se unem
a outros setores no processo de construção de uma nova hegemonia.

O Estado nacional assume a dianteira desta revolução, aglutinando diferentes classes e


frações de classes ao momento histórico de transformações conservadoras, formula um projeto
e é capaz de subordinar a este amplos setores da sociedade, inclusive a classe trabalhadora.
Inicialmente apenas controlada pelos setores do Estado que dirigiam o processo
revolucionários, estes passam a ser mobilizadores das massas em defesa de seu projeto
nacionalista e estatista - com grande ajuda inclusive dos setores da esquerda, que no período
passam a ser dirigidos por estes expoentes do populismo.

O processo revolucionário se encerra justamente com o golpe de 1964, um evento


claramente contrarrevolucionário. O acirramento das disputas entre os setores que reproduziam
a ideologia da revolução e grupos reacionários, a crescente mobilização de massas e o risco
cada vez maior de as mudanças deixarem de ser totalmente restauradoras geram um movimento
de interrupção do processo revolucionário. Interrupção esta que torna a revolução passiva no
Brasil, restauradora e inacabada, a base para a construção da correlação de classes no Brasil
moderno, junto de todas as suas mazelas.

Referências bibliográficas

ARAÚJO, Angela M. C. Construindo o consentimento: corporativismo e trabalhadores no


Brasil dos anos 1930. Tese (doutorado) Universidade Estadual de Campinas. Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas, 1994. (Parte I -Corporativismo e consentimento, pp. 1-34).

WEFFORT, Francisco. Democracia e movimento operário: algumas questões para a história do


período 1945-1964 (primeira parte). Revista de Cultura Contemporânea, a. 1, n. 1, pp 7-13, jul.
1978.

_________. Democracia e movimento operário: algumas questões para a história do período


1945-1964 (segunda parte). Revista de Cultura Contemporânea, a. 1, n.2, pp 3-11, jan. 1979a.

_________. Democracia e movimento operário: algumas questões para a história do período


1945-1964 (terceira parte). Revista de Cultura Contemporânea, a. 1, n. 1, pp. 11-18, ago. 1979b.

Das könnte Ihnen auch gefallen