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RELAÇÕES E SITUAÇÕES JURÍDICAS

Conceito e estrutura da relação jurídica


- As pessoas não estão isoladas na vida e no Direito, antes pelo contrário, estão
permanente em relação (entre si, com as coisas e o meio social envolvente). Daí o
carácter relacional do Direito. É dessa relacionalidade que emerge a importância da
relação jurídica.

- A norma jurídica do DC é igual a todas as outras, excepto no que respeita ao seu objecto,
ou seja, o seu objecto não é apenas a conduta humana em si, mas sim a conduta humana
na sua relação com os outros homens (alteralidade do direito): o direito não regula o
homem isolado ou situações referentes ao homem isolado, mas sim a conduta ou
situação do homem em face de outros homens).
- Relação significa conexão. Assim, as relações das pessoas entre si e com o meio social
envolvente em que se encontram, bem como as coisas que as rodeiam e estão ao seu
alcance têm relevância jurídica em vários aspectos e, quando assim sejam, são relações
jurídicas.
- Ou seja, as pessoas estabelecem e criam entre si (e com o meio social envolvente) certos
vínculos, algumas das quais interessam ao direito e são por ele tuteladas. Há relações
sociais relevantes, é certo, para convivência humana, que não são relações jurídicas: o
namoro, a amizade, as actividades nos tempos de lazer, as confraternizações, os conselhos
entre amigos, que são determinadas por meras regras do comportamento social.
- A relação jurídica é o objecto da norma jurídica.
Castro Mendes: Aponta ainda um conceito mais amplo ainda de
Relação jurídica em sentido amplíssimo: qualquer modo de ser ou
estar recíproco de duas realidades, juridicamente relevantes.
Relação jurídica em sentido amplo: toda a relação da vida social
relevante para o Direito (produtiva de efeitos jurídicos e, como tal,
disciplinada pelo Direito).
Relação Jurídica em sentido restrito: é o vínculo que existe entre,
pelo menos, duas pessoas, pelo qual uma delas tem o poder jurídico
de exigir de outra uma conduta (positiva ou negativa) , ou seja, toda a
relação da vida social disciplinada pelo direito, mediante atribuição a
uma pessoa de um direito subjectivo e a imposição a outra pessoa de
um dever jurídico ou de uma sujeição. É um vínculo ou nexo
normativo ou jurídico de correspondência recíproca de direitos e
vinculações, encabeçadas por pessoas diferentes (correspondência
de direito-vinculação), ou seja, um nexo ou vínculo que se traduz na
atribuição a uma pessoa de um direito subjectivo e na imposição a
outra pessoa de um dever jurídico ou obrigação a que está vinculada
a cumprir ou de uma sujeição a que deve sujeitar-se.
Elementos da Relação Jurídica
A doutrina clássica, na esteira de Savigny, a pandectista oitocentista adoptou o conceito de
relação jurídica como estrutura básica do sistema externo do Direito, ou seja, todo o Direito
seria estruturável e explicável com base na relação jurídica, a qual é composta por quatro
elementos: sujeito, objecto, facto e garantia (representados na sistematização do Título II, do
Livro I (Parte Geral) do Código Civil.
Por isso, durante muito tempo a relação jurídica desempenhou pacificamente o papel de
estrutura fundamental do Direito e a generalidade dos manuais de autores portugueses
adotava (e ainda hoje muitos adotam) essa estrutura.
Estes elementos estão, também, representados na sistemática do CC: Livro I – Parte Geral -
Título II – Relações Jurídicas (artigos 66º e ss.), dividido em 4 sub-títulos: I- Das pessoas, II –
Das coisas, III – Dos factos jurídicos, IV – Do exercício e tutela dos direitos.
Na verdade, a relação jurídica envolve, pelo menos, duas pessoas – pode envolver mais - (os
seus sujeitos - que são sempre dois), o sujeito activo (a pessoa ou as pessoas a quem a
direito atribui os poderes jurídicos) e o sujeito passivo (a pessoa ou as pessoas a quem o
direito estabelece que fica adstrito a adoção de uma conduta, positiva ou negativa).
Reunindo-se na mesma pessoa a posição activa e passiva, dá-se a confusão.
Notas: Mesmo na doutrina clássica se discutia se as pessoas – os sujeitos - são elementos da
relação jurídica ou seus pressupostos. Castro Mendes discorda daqueles que defendem os
sujeitos são pressupostos da relação jurídica porque, considerando a relação jurídica como a
totalidade, ela abrange não apenas aquilo que liga os sujeitos, mas ainda os próprios
sujeitos, na medida em que por esse nexo estão ligados (é o todo que forma a relação
jurídica).
Mota Pinto: Entende que a estrutura da relação jurídica é o seu cerne – vínculo, nexo ou
ligação que existe ente dois sujeitos. Integra um direito subjectivo e um dever jurídico ou
sujeição.
C. Fernandes: vistos os sujeitos no seu sentido restrito (não como pessoas), como posições
que as pessoas ocupam na relação jurídica, são elementos dessa relação jurídica.

O objecto da relação jurídica, que se distingue entre objecto imediato (conjunto ou


binómio direito (s) – vinculação (ões) de que, respectivamente, é titular o sujeito activo e
a que está adstrito o sujeito passivo); na verdade, num primeiro plano, a realidade que se
encontra perante os sujeitos da relação jurídica é o conjunto de direitos e vinculações - em
sentido primitivo objecto significa o que jaz em frente de (ob+jacere) e o objecto mediato
(o bem que o direito assegura ao sujeito activo e por intermédio do qual realiza o seu
interesse).
O facto jurídico (acontecimento ou evento, natural (facto jurídico natural) ou humano
(facto jurídico humano voluntário), juridicamente relevante. As normas jurídicas gerais e
abstractas não criam relações jurídicas em concreto, para isso é necessária a verificação no
mundo real de eventos ou acontecimentos que se enquadram nas hipóteses previstas
nessas normas jurídicas. O facto jurídico é o elemento causal que leva à relação jurídica
abstracta, idealizado como tipo legal, para o campo da realidade concreta. Por vezes, as
normas atribuem ao evento ou acontecimento quer vier a verificar-se nas hipóteses que
prevê efeitos de criar, modificar e extinguir uma relação jurídica. Aqui interessa-nos o facto
como elemento constitutivo (formativo) da relação jurídica. É necessário para que a
relação jurídica surja, mas não é elemento integrativo ou sua componente, ou seja, o
facto não faz parte da estrutura da relação jurídica.
Garantia (consiste na tutela específica que o direito confere a uma relação social,
abarcando, assim, os meios coercitivos postos pelo sistema jurídico à disposição do titular
do poder, para ele obter a realização efetiva do seu interesse). A mais importante
manifestação da garantia é o direito de acção (poder atribuído ao titular do direito de
recorrer aos tribunais, como órgãos soberanos do Estado, para obter o reconhecimento e,
tanto quanto possível, a realização efetiva do interesse correspondente). Mas ao lado dessa
tutela pública existe a tutela privada, já estudada na disciplina da Introdução ao Estudo de
Direito. A garantia é pois, a susceptibilidade de intervenção da força para proteger o
interesse juridicamente tutelado, ou seja, a possibilidade do recurso a um sistema de
coação organizada para garantir o cumprimento (evitar o risco iminente e sério de
incumprimento ou incumprimento efectivo total, parcial ou defeituoso). Essa possibilidade é
vista numa dupla dimensão: possibilidade da vontade do sujeito de recorrer a um sistema
de coação organizada e a possibilidade da intervenção da força para proteger o interesse
juridicamente tutelado. É, pois, a garantia que dá efectividade aos poderes que integram o
conteúdo do direito do sujeito activo da relação jurídica (exs: (i) indemnização dos danos,
patrimoniais e não patrimoniais, (ii) arresto (iii) penhora, etc).
Em Portugal essa estrutura veio a ser abandonada por Oliveira Ascensão que iniciou a crítica
da relação jurídica logo na sua tese de doutoramento (As relações jurídicas reais, 1962),
demonstrando a sua insuficiência como operador geral do Direito, em especial no que
respeita a relações jurídicas reais e, em geral, aos direitos absolutos.
Certo é que a relação jurídica pode funcionar como operador geral nos direitos relativos,
maxime, para os direitos de crédito (e não deve ser abandonada), mas não pode explicar
tudo no Direito. Por isso, Pais de Vasconcelos propõe a conceito de posição jurídica como
operador geral do Direito.
Posição jurídica
É uma situação jurídica, relacional (quando se insere, v.g., numa relação jurídica como a
creditícia) ou não (quando, v.g. emerge da titularidade de um direito absoluto ou de
direitos de personalidade), em que se encontra colocado alguém no Direito (exs: posição
jurídica do proprietário, usufrutuário, sócio, comprador, vendedor, pais, marido, herdeiro,
legatário, falido, interdito, ausente, etc).
Podem ser típicas (posições que correspondem normalmente posições sociais típicas (que
têm imanente uma certa normatividade social) e atípicas (que não tem imanente essa
normatividade social), activas (cujas componentes são normalmente poderes (em sentido
amplo) e outras componentes activas) e passivas (cujas componentes são deveres,
vinculações e adstrições).
Como operador jurídico permite exprimir melhor e dar tratamento jurídico mais eficiente a
situações e relações jurídicas complexas, vg., a posição jurídica de sócio, que envolve uma
componente activa e passiva (o CEC trata como “direitos” e “obrigações dos sócios”) que
estão em diversos artigos. Essa posição jurídica do sócio engloba um complexo global e
coerente, quer de situações activas (direito de voto, direito ao lucro, direito de impugnar as
deliberações, etc), quer passivas (dever de entrada, dever de quinhoar nas perdas, etc. –
estes direitos mais não são do que poderes integrantes do direito social, de componentes
activas da posição jurídica do sócio); assim o conceito de posição jurídica permite exprimir o
típico direito do sócio (direito social) que engloba um vasto complexo activo e passivo, mas a
posição concreta de cada sócio numa determinada sociedade.
Cfr. a Noção de Instituto Jurídico em Castro Mendes: conjunto de normas legais que estabelecem a disciplina de uma
série de relações jurídicas em sentido abstracto, ligadas por uma afinidade (normalmente por estarem integradas no
mesmo mecanismo jurídico ou ao serviço da mesma função), ou seja, conjunto de preceitos legais relativamente a
relações jurídicas de um determinado tipo (casamento, propriedade, compra e venda, mútuo, sucessão, etc.)
Classificação das relações jurídicas:
(a) Decorrente da classificação germânica do direito civil: (i) obrigacionais, (ii) reais, (iii)
familiares, (iv) sucessórias.
(b) Relação jurídica abstracta: uma RJ em potência, figurada, ideal ou virtual, que equivale a
um determinado tipo, esquema ou modelo regulado na lei.
(c) Relação jurídica concreta: uma RJ em acto, realmente existente e individualizada – entre
pessoas determinadas, procedente de um determinado facto jurídico.
(d) Decorrente da classificação de direitos: (i) Absolutas (do lado passivo não encontramos
pessoas determinadas ou determináveis, mas sim uma generalidade de pessoas a quem é
imposto apenas o dever de se absterem de afetar o direito subjectivo ou interferir no seu
exercício; essas relações conferem direitos absolutos, em que o sujeito activo pode exigir a
todas as restantes pessoas, nacionais ou estrangeiras (sujeito passivo) o respeito pelo seu
direito. Sobre essas pessoas impende um dever jurídico geral de respeito ou uma obrigação
passiva universal: não desrespeitar o direito do sujeito activo no plano intelectual, pela via
da impugnação ou contestação, e no plano material, não o ameaçando ou lesando-o Exs.: as
coisas e os bens da personalidade. As relações jurídicas reais e de personalidade
constituem as categorias mais importantes de relações jurídicas absolutas) (ii) relativas (do
lado passivo encontra (m)-se uma ou mais pessoas determinada (s) ou determinável (eis) adstritas à
realização de uma conduta, também determinada ou determinável, positiva ou negativa; neste tipo de
relações jurídicas, que conferem direitos relativos, o sujeito activo apenas pode exigir do sujeito passivo
algo específico, v.g. a prestação). O paradigma legal das RJ relativas é a relação obrigacional.
Críticas ao conceito de RJ absolutas: (i) não tem qualquer sentido jurídico e alcance prático admitir
relações jurídicas em que o sujeito passivo é indeterminado (milhões de pessoas ou, mais
concretamente, todas as restantes pessoas do mundo e em qualquer lugar do mundo em que se
encontram (ii) por outro lado, tais pessoas, pelo menos, a quase totalidade, ignoram a existência da
relação jurídica e do consequente direito do sujeito ativo; Tentativa de correcção (Prof. Gomes da
Silva, sufragada, ao que parece, por C. Fernandes: o sujeito passivo não são todas as pessoas, mas
apenas aquelas que, em cada momento, fossem capazes de interferir ou infringir o direito do sujeito
activo, ou seja, estejam em condições efectivas de violar o direito do sujeito ativo; a relação jurídica
absoluta existe, no estado latente, com todas as pessoas que estejam em condições de a violar. C.
Mendes diz que essa correcção é irrelevante, já que essa violação pode ser meramente intelectual
(negação) e esta continua a ser possível por qualquer pessoa. Mas aceita a classificação como sendo
útil (até para tecer críticas).
Prof. Oliveira Ascensão: Recusa a classificação de relações jurídicas absolutas e entende que não há
qualquer RJ entre o sujeito activo e o resto das pessoas, todos ou cada uma delas, por força da qual o
titular possa exigir a abstenção destas, mas tão só um dever genérico de respeitar a esfera jurídica
alheia, que é uma simples “emanação do neminem laedere”.
(e) (i) Relação jurídica complexa ou múltipla: as relações jurídicas que contém uma pluralidade de
poderes a favor da mesma pessoa (mútuo oneroso) ou de pessoas diferente (compra e venda); ou RJ
travada entre as mesmas pessoas, da qual resulta uma pluralidade de direitos e ou obrigações (deveres
ou sujeições), unificadas por um factor especial (maxime, por terem derivado do mesmo facto jurídico
ou visando o mesmo escopo – ex. poder paternal) – se esse facto for um contrato, diz relação jurídica
contratual (arrendamento); (ii) Simples ou una: as relações jurídicas que tem por objecto um único
direito e um único dever (comodato) ou uma única sujeição.
Castro Mendes: integra nessa categoria nas espécies de relações
jurídicas imperfeitas (i) obrigação natural (artigos 402º e 403 do
CC): funda-se num mero dever moral ou social, sendo o seu
cumprimento não juridicamente exigível, mas corresponde a um
dever de justiça. Características:
• inexigibilidade do cumprimento do dever (aqui reside a
imperfeição, já que aqui se afasta da obrigação jurídica)
• solutio retentio (tudo o que pago espontaneamente pode ser
tomado e guardado pelo credor como bem pago).
(ii) mero parentesco: o parentesco só por si não gera nem direitos,
nem vinculações. Pode vir a gerá-los, mas em combinação com
outros factos (carência de um parente que um outro pode ajudar –
alimentos – morte de um dos parentes – herdeiro/herança. Por
isso, o artigo 1.552º do CC define o parentesco não como relação
jurídica, mas sim como fonte das relações jurídicas familiares); (iii) a
finidade (iv) relações jurídicas sem sujeitos (as que comportam
direitos e obrigações sem sujeitos)
Críticas ao instituto da relação jurídica: não explica toda
a realidade jurídica.
C. Mendes: Aceita que RJ não é um conceito omni-
explicativo, mas entende que deve ser considerado
como conceito fundamental da dogmática jurídica,
maxime, civilista, por dois motivos: (i) razão de ordem
teórica (o direito não regula o homem isolado ou
situações em relação ao homem isolado, mas a da de
relação, ou seja a conduta do homem em face de outros
homens; (ii) a sistematização do CC na sua parte geral
baseia-se no esquema de relação jurídica e em muitos
aspectos aquele Código socorre-se da noção da RJ.
Situações jurídicas
(Pais de Vasconcelos):
- situações da vida: são complexos do acontecer em que as pessoas (subjectividade) se
inserem no mundo (objectividade) e coexistem com as suas circunstâncias. Podem ter ou
não relevância jurídica.
- situações jurídicas: são situações da vida que têm relevância jurídica. Podem ser pré ou
extra jurídicas, quando existem independentemente do direito como situações de vida e
ganham relevância jurídica por força de aplicação da norma ou de outra fonte de relevância
jurídica. Podem também ser induzidas pela eficácia jurídica; há situações jurídicas que o
Direito encontra mas não gera e às quais reconhece relevância jurídica e situações de vida
criadas pelo Direito.
- situações (e relações) socialmente típicas: as situações de vida em que as pessoas se
encontram e os papéis que aí desempenham podem ser socialmente típicas e são-no com
muita frequência. Nestes casos, as situações de vida trazem consigo imanentes critérios de
comportamentos próprio (critérios de acção) e de expectativas de acção alheia (critérios de
expectativas de comportamento), ou seja, as pessoas envolvidas nessas situações de vida
sabem que devem comportar-se de determinada forma e que os outros esperam delas esse
comportamento e, por ouro lado, os outras que entram em contacto pessoal ou social com
essas pessoas esperam delas certos comportamentos e atitudes. Na verdade, as situações
socialmente típicas trazem consigo imanente um conteúdo de valor, um dever-ser, de modo
devido e esperado de agir e que, como tal, não pode ser ignorado pelo Direito, por causa da
natureza das coisas. É caso, por exemplo, das nas relações entre pais e filhos, marido e
mulher, médico doente, patrão empregado.
- situações jurídicas activas: são as que correspondem à titularidade de um direito ou de um
poder; situações jurídicas passivas: são as que correspondem à titularidade de um dever ou de
uma adstrição; são raras as situações jurídicas puramente activas ou puramente passivas.
Normalmente as situações jurídicas são complexas e integram componentes activas e passivas.
- Menezes Cordeiro: Situação humana (social) valorada pelo Direito.
- Modalidades: situações jurídicas activas: a situação jurídica coloca determinados efeitos na
pendência da vontade do próprio sujeito a quem ela assiste; deriva de permissões normativas ou
de normas que conferem poderes; confere vantagens ao sujeito; situações jurídicas passivas: a
situação jurídica coloca os efeitos na dependência de uma pessoa que não o sujeito; derivas de
normas proibitivas ou impositivas; coloca a em desvantagem; situações jurídicas simples:
compõem-se de um único elemento a ser retirado do seu conteúdo – ex: exigir de outrem um
comportamento – a pretensão; situações jurídicas complexas: compõem-se de vários elementos
a serem retirados do seu conteúdo, que noutras circunstâncias podem constituir situações
jurídicas autónomas – ex: direito de propriedade sobre um imóvel (faculdades de construir, de
cultivar, ou de poder vender, as quais, quando autonomizadas, fazem sentido podendo constituir
direitos autónomos); situações jurídicas unisubjectivas: postulam um único sujeito, ou seja, uma
única pessoa – ex: o dever de conduta implica uma só pessoa: o adstringido; situações jurídicas
plurisubjectivas: assentam em mais do que um sujeito, ou seja, mais do que uma pessoa – ex: a
compropriedade deriva de vários proprietários, em simultâneo, sobre a mesma coisa; situações
jurídicas absolutas: existem por si só sem dependência de uma outra situação jurídica de sinal
contrário – ex: o direito de propriedade, que esgota-se na pessoa e coisa, sem necessidade de situações
simétricas que a sustentam.
situações jurídicas relativas: só existem na dependência de outras situações
jurídicas de sinal contrário – ex: o direito de crédito (um credor tem o direito de
cobrar 100 porque, perante ele, existe um devedor que está adstrito a pagar os
mesmos 100); a situação jurídica relativa dá lugar a uma relação jurídica; situações
jurídicas patrimoniais: são as que têm conteúdo económico e são susceptíveis de
avaliação em dinheiro; situações jurídicas não patrimoniais ou pessoais: são as
que não têm conteúdo económico, ou seja, insusceptíveis de avaliação em
dinheiro (indemnização por danos morais não tem conteúdo compensatório, não
exprimindo um conteúdo económico intrínseco).
-Outras situações jurídicas activas, além do Direito Subjectivo:
(a) poderes:
O direito não se confunde com o poder. O poder é a disponibilidade de meios para
a obtenção de um fim; Em regra, o direito subjectivo compreende, no seu
conteúdo, múltiplos poderes e outras figuras que não são poderes; Castro
Mendes: define o poder como situação pessoal de vantagem que advém da
existência de meios que tornam atingível um fim; Os poderem classificam-se em:
(i) poderes materiais – os meios disponíveis são de actuação material; (ii) poderes
jurídicos – os meios disponíveis são de actuação jurídica; os poderes jurídicos
podem ser constitutivos, modificativos e extintivos;
Espécies de poderes jurídicos: (i) poderes de gozo – conferem meios que tenham por fim o
aproveitamento (uso e fruição) de uma coisa corpórea; Pais de Vasconcelos:
disponibilidade do uso (utilização da coisa, i. é., aproveitamento da sua utilidade com vista
a certo fim – exs; habitar ma casa e usar uma caneta) e da fruição (apropriação ou
percepção dos seus frutos- exs: recer juros ou rendas e colher cortiças de um sobral ou
mangas de um mangueiral) de certo bem; o uso e a fruição compõem o gozo; o gozo
distingue-se do gozo de facto (possibilidade de alguém gozar de uma coisa que está ao seu
alcance sem ter qualquer direito sobre ela, mas esse gozo não é lícito e pode constituir
crime de furtum usus). O gozo não supõe qualquer cooperação de terceiros determinados;
devem ser respeitados pela generalidade das outras pessoas, a quem podem em princípio
sem opostos; por isso são absolutos;
(ii) poderes de crédito (pretensão) – conferem meios que se destinam a exigir de outrem
uma conduta; Pais de Vasconcelos: possibilidade de exigir licitamente de outrem uma certa
conduta, activa (acção) ou passiva (omissão); para terem existência tem de haver
cooperação de outrem de quem está obrigado (o devedor); distinguem dos poderes de
gozo porque estes incidem sobre a coisa e os poderes creditício incidem sobre
comportamentos – o gozo é sempre de uma coisa e a pretensão é de certo comportamento
(acção ou omissão); têm carácter relacional, já que relaciona o seu titular - o credor – com
a pessoa que lhe está vinculada – o devedor; por isso são poderes relativos; os poderes
creditícios dirigem-se a outras pessoas determinadas a quem se exigem certos
comportamentos, enquanto os poderes de gozo não se dirigem a pessoas determinadas,
embora da parte da generaldiade das pessoas exista um dever de não perturbar ou
impedir o gozo;
(iii) poderes potestativos – conferem os meios que tenham por fim a produção de efeitos
de direito. Do lado passivo correspondem as sujeições: a esfera jurídica atingida pode ser
modificada pelo titular do poder sem que nada poder fazer; Pais de Vasconcelos:
possibilidade de unilateral produzir um efeito jurídico, de provocar uma modificação na
esfera jurídica alheia, sem a sua cooperação, seu o seu consentimento e até contra a sua
vontade; são por vezes referidos como poderes de conformação jurídica; o titular de um
poder potestativo não necessita de cooperação alheia da pessoa cuaj esfera jurídica é
atimgida; costumam ser designados de direitos potestativos, mas muitas vezes não têm
suficiente autonomia e não passam de meros poderes inseridos em direitos subjectivos
complexos; (ex: o poder de interpelação para cumprimento, colocando o devedor em mora
[integra o direito subjectivo do credor, ao lado de outros poderes que, com ele, contribuem
para o êxito na realização do fim do seu titular]); É certo que, em algumas situações os
poderes potestativos constituem verdadeiros direitos subjectivos autónomos (exs: o poder
do herdeiro de aceitar ou rejeitar a herança; o poder de aceitar ou repudiar uma proposta
contratual), porém, na maior parte dos casos os poderes potestativos integram-se em
direitos subjectivos para a realização de cujo fim constituem poderosos instrumentos.
Menezes Cordeiro refere, ainda, a mais duas espécies de poderes jurídicos, que são (iv)
poderes de garantia – conferem os meios que tenham por fim a actuação de esquemas de
responsabilidade patrimonial; (v) poderes funcionais ou poderes-deveres ou poderes de
ofício: ex: por exemplo no paternal – aos pais são conferidos certos direitos em relação aos
filhos, que são simultaneamente deveres -, na tutela – idem para os tutores. Em ambos os
casos os poderes não podem ser exercidos se o titular quiser ou como quer, mas como
devem ser e de modo exigido pela função do direito. Caso contrário o sujeito é sancionado –
v. g., inibição e suspensão do exercício do poder paternal e remoção do cargo de tutor.
(b) faculdades:
Por vezes são equiparadas aos poderes ou aos poderes materiais; faculdades são
um conjunto de poderes ou de outras posições activas, unificado numa
designação comum; (o titular de um direito sobre uma coisa poderá ter a
faculdade de construir, a qual implica múltiplos poderes e outras realidades
diversas, a ponderar caso a caso, através da análise da situação jurídica
considerada; o mesmo titular terá o poder de alienar a construção, ou seja, tem
uma disponibilidade de meios para prosseguir esse fim); Pais de Vasconcelos: diz
que a faculdade é possibilidade lícita; Carvalho Fernandes: “conjunto de meios
jurídicos (de agir) postos na disponibilidade do sujeito do direito, em vista da
realização do seu interesse”; Castro Mendes: usa-se sobretudo para designar
possibilidades jurídicas de agir (jus agendi – o valor tutelado é a conduta do titular
do direito) contidas num direito subjectivo, ou seja, algo que faz parte dos meios
jurídicos em que o direito se desdobra e não tem existência autónoma; também
define pretensão (jus exigendi – o bem ou serviço garantido é uma conduta
alheia) como possibilidade jurídica de mesmo em juízo exigir algo (determinado)
de alguém (também determinado);
Castro Mendes: Refere a poderes jurídicos stricto sensu ou faculdades –
faculdade de testar, de contratar, de ocupar res nulius – nestes casos não existem
relações jurídicas, exactamente porque não há uma contraparte vinculada a um
dever jurídico, em face do direito de testar, de contratar ou de ocupar. São apenas
manifestações imediatas da capacidade jurídica do sujeito de direitos.
(c) expectativas:
Castro Mendes: situação activa, juridicamente tutelada, correspondente a um estádio
dum processo complexo de formação sucessiva de um direito, i.e., situação em que se
verifica a possibilidade, juridicamente tutelada, de aquisição futura de um direito, estando
já completamente verificada a situação jurídica constitutiva do direito (ex. comprador sob
condição suspensiva). Menezes Cordeiro: ocorrem normalmente em factos jurídicos
complexos de produção sucessiva, i é, em conjunções nas quais o direito requeira o
aparecimento de determinado efeito jurídico, uma sucessão articulada de eventos, que se
vão produzindo no tempo; Podem se classificar em: expectativas de facto: o processo que
lhe dê azo tem a ver com simples ocorrências materiais (ex: quem inicia uma obra tem a
expectativa de facto de vir a ser dono); expectativas jurídicas: o processo que lhe dê azo
tem a ver com ocorrências jurídicas (ex: quem faça uma proposta tem a expectativa
jurídica de vir a ser contratante). (d) Excepções: São situações jurídicas pela qual a pessoa
adstrita a um dever pode, licitamente, recusar a efectivação da pretensão correspondente
– vide artigo 428º, nº 1 do CC, em que o vendedor pode recusar a entrega da coisa
enquanto o comprador não lhe pagar o preço (excepção do contrato não cumprido);
Podem ser: (i) fortes (se permitem ao seu beneficiário deter o direito alheio) (ii) fracas (se
permitem ao seu beneficiário apenas enfraquecer o direito alheio); As excepções fortes
são peremptórias (quando detenham a pretensão alheia por tempo indeterminado – v.g. a
prescrição – artigos 300 e ss do CC) e dilatórias (quando detenham a pretensão alheia por
um certo lapso de tempo –v.g. o benefício da excussão – artigo 638, nº 1 do CC); A técnica
de excepção muito utilizada pelos pandectistas caiu progressivamente em esquecimento;
Houve tentativas recentes Medicus); Mas a autonomia da figura tem sido posta em causa.
Situações jurídicas passivas: nestas situações o sujeito fica colocado no âmbito de
aplicação de normas proibitivas ou impositivas.
Vinculação: designa o conjunto das situações jurídicas passivas (o dever jurídico, a
obrigação e a sujeição), ou seja, a necessidade jurídica de adotar um comportamento
(positivo ou negativo), ou de suportar certos efeitos jurídicos.
(a) Obrigação: é a situação jurídica compreensiva passiva de base; muitas vezes a palavra
obrigação é utilizada em sentidos diversos e como sinónimo de dever em sentido amplo;
em sentido próprio, é o vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para
com outra à realização de uma prestação – artigo 397º do CC; neste sentido abrange
apenas o dever da prestação e corresponde à situação jurídica passiva do devedor numa
relação do tipo obrigacional ou creditícia contraposta a um direito de crédito; (b)
obrigação natural: nos termos do artigo 402º do CC é o vínculo que, fundando-se num
mero dever de ordem moral, representa a realização de um dever de justiça, não sendo o
seu cumprimento judicialmente exigível. (c) dever jurídico: é a situação jurídica passiva
analítica de base; (i) em sentido amplo: é sinónimo de vinculação, abrangendo, por vezes,
figuras afins da vinculação; (ii) em sentido intermédio: abrange o dever jurídico em
sentido restrito e a obrigação; ou seja, abrange os deveres de prestação, específicos de da
obrigação em sentido técnico e deveres de comportamento genérico correspondentes aos
direitos absolutos (reais, personalidade, etc), sendo que o comportamento nesses caso
pode ser positivo (acção) ou negativo (abstenção ou omissão);
(iii) em sentido restrito: traduz a incidência de
normas de conduta, impositivas ou proibitivas;
necessidade normativa de adotar um determinado
comportamento (positivo ou negativo), ou seja,
situação imposta pela norma jurídica em que se
encontra uma pessoa de ter de adotar um certo
comportamento; a pessoa sujeito ao dever jurídico
ou adota o comportamento imposto pela norma e
cumpre o comando legal, realizando o interesse do
titular do direito subjectivo ou não adota ou adota
um comportamento diverso, violando a norma
jurídica.
Nota: A obrigação e o dever jurídico são passíveis de várias classificações.
Atendendo ao objecto – a conduta devida ou a prestação – podemos ter (i)
obrigações de dare [entregar uma coisa a outrem]; (ii) obrigações de facere
[adstrição a desenvolver certa actividade em prol de outrem]. Estas podem
englobar 3 sub-hipóteses:
• obrigações de facere ou de facto positivo (desenvolver uma actividade em
si)
• obrigações de non facere ou de facto negativo (abster-se de certa
actuação)
• obrigações de pati ou de suportação (sofrer que alguém desenvolva na sua
esfera jurídica uma actividade que, em regra, não poderia ter lugar)
(d) Sujeições: são situações jurídicas passivas correspondentes a direitos
subjectivos potestativos, ou seja, a situação em que se encontra certa pessoa de
ter de suportar a produção, na sua esfera jurídica, de efeitos jurídicos decorrentes
da actuação unilateral do titular de um direito potestativo; a pessoa vê alterada
unilateralmente a sua posição jurídica; as características são a passividade (os
efeitos jurídicos produzem independentemente da vontade do sujeito passivo) e
inviolabilidade (impossibilidade da parte do sujeito passivo violar o direito
potestativo).
(e) Ónus e Encargo): situação na qual alguém deve adoptar certa atitude, caso
pretenda obter certo efeito jurídico; o ónus assenta numa permissão que a não ser
actuada num determinado sentido, conduz a consequências desagradáveis que
entretanto não são sanções; no ónus não é dever porque, ao contrário deste, não
há que adoptar certo comportamento, já que o resultado pretendido é facultativo;
Castro Mendes: Ónus: necessidade de adopção de um certo comportamento para
a realização de um interesse próprio (precisa de) – prova, invocação de direito
dentro de certo prazo. Trata-se de um encargo ou sacrifício que o titular do direito
tem de sofrer para que possa beneficiar de uma vantagem. Difere do dever já que
se o titular não assumir o ónus não comete qualquer ilicitude. Exs: necessidade de
contestação para evitar a condenação de preceito, o dever de denunciar os
defeitos da coisa dentro de um certo prazo; (f) ónus material ou encargo: vide
M.Cordeiro: entende que é estruturalmente um dever que segue um regime
especial, ou seja, um dever de comportamento que funcionando embora também
no interesse de outras pessoas, não possa, por estas, ser exigido o seu
cumprimento; aquela Professor considera o ónus material uma situação jurídica
passiva absoluta por não contracenar com nenhuma posição activa; Ex: dever de
denunciar o vício da coisa dentro de um certo prazo que, a não respeitado, perde-
se o direito de denúncia – cfr. artigos 913º e 916/2 e 917º do CC.
Carvalho Fernandes e Doutrina Dominante em Portugal consideram o ónus e a
obrigação natural como figuras afins da vinculação.
(g) Deveres genéricos: são situações jurídicas passivas que se traduzem em
posições absolutas, i é, sem relação jurídica; não assentam em qualquer relação
jurídica e não como correspectivo um direito subjectivo; ex: imposição, em termos
gerais, do silêncio à noite (impõe-se a todos esse dever sem que se visualize
alguém com um particular “direito ao silêncio”); os deveres genéricos não dão
lugar a comportamentos que, exclusivamente, possa, ser exigidos por um sujeito a
outro. Mas a sua violação conduz ao dever de indemnização (cfr. artigo 483º, nº 1
do CC).
(h) Deveres funcionais: situações passivas nas quais uma pessoa se encontra, por
força da sua presença, numa determinada posição – cfr. artigo 163º do CEC –
impor aos membros da administração das sociedades comerciais o dever de
elaborar e submeter à aprovação do órgão competente o relatório de gestão, as
contas do exercício e demais documentos de prestação de contas. ;
estruturalmente semelhante ao poderes funcionais, mas em que os
comportamentos que eles postulam podem, directamente, ser exigidos por certas
pessoas, mantendo-se embora uma lata margem de discricionariedade por parte
do obrigado.
Direito Subjectivo:

Ao contrário do Código de Seabra, o CC de


1966 não contém qualquer definição de
direito subjectivo. Dificuldade e discussão
na doutrina. Noção do DS como vexata
quaestio do DC. Existem múltiplas e
diversas construções doutrinárias à volta
do conceito de DS. Seguem-se as teorais
mais importantes.
(a)Tese de Savigny, Windscheid Putcha e os Pandectistas em geral, embora com algumas variantes
(concepção voluntarista ou teoria da vontade ou teoria do poder da vontade ou teoria do poder): o
direito subjectivo é o poder (ou soberania) da vontade concedido e protegido pela ordem jurídica,
entendido como reconhecimento ao sujeito titular do direito de um âmbito de liberdade
independente de qualquer vontade estranha. Há direito subjectivo quando aquilo que a pessoa quer
é tutelado e protegido pelo direito. Esta concepção está centrada sobre a autonomia da pessoa,
como exercício de liberdade e poder da vontade, portanto claramente ligada à moral estoica. Trata-se
de uma tese de inspiração individualista ou liberal, racionalística e jusnaturalística. Críticas (Jhering);
(i) existe direito subjectivo em pessoas totalmente privadas de vontade (v.g. direitos dos incapazes, v.
g., menores e dementes); (ii) existe direito subjectivo em pessoas que, por ignorarem a existência
desse direito, não podem assumir qualquer vontade que lhe sirva de suporte (v.g. situações em que o
titular perdeu, nomeadamente, o objecto do seu direito, esquecendo-se dele ou adquiriu – v.g., por
sorteio – um direito sem que isso lhe houvesse sido comunicado); (ii) a teoria possui uma visão
deformada da realidade, já que não define o direito subjectivo, mas descreve a realidade subjacente
e, mesmo essa descrição é passível de reparos (se no DS pode se identificar um poder de vontade, o
DS não é esse poder e, por isso, não consegue explicar alguns aspectos do DS, como é o caso da sua
transmissão, em que há substituição de poder de vontade por outro. Em Portugal: Mota Pinto:
Direito subjectivo: comporta uma faculdade ou um poder jurídico – reconhecido ou atribuído pelo
direito a uma pessoa - de livremente exigir ou pretender de outra pessoa certa conduta positiva
(acção - facere) ou negativa (omissão ou abstenção – non facere) ou, no caso de relações jurídicas
potestativas, faculdade ou poder jurídico de, por acto livre de vontade, por si só ou integrado por um
acto de autoridade pública, produzir determinados efeitos jurídicos que inevitavelmente se impõem
à contraparte.
(b) Tese de Rudolph Von Jhering – Teoria de interesse: não é a vontade ou o
poder que formam a substância do direito, mas sim o seu aproveitamento; ou
seja, os direitos não existem para realizar a ideia da vontade jurídica abstracta,
mas sim para garantir os interesses da vida, para prover às suas necessidades,
para realizar os seus fins; A utilidade (Genuss) e não a vontade (Willen) é a
substância do direito subjectivo; a vontade é apenas um meio ao serviço do
direito; o conceito de direito subjectivo respeita à segurança do aproveitamento
dos bens; direitos são interesses reflexamente protegidos; Assim, o direito
subjectivo é uma tutela de interesse, ou seja, os direitos subjectivos são
interesses juridicamente protegidos ou tutelados. Tais direitos deixam de ser algo
que é inato e inerente à qualidade humana e passam a ser uma concessão da
ordem jurídica objectiva. Esta teoria é de índole personalista (o ser humano é
visto sob o prisma dos interesses que prossegue, os quais são ponderados pela
ordem jurídica e tutelados uns, sacrificando outros; (i) Interesse em sentido
objectivo: virtualidade que determinados bens têm para satisfação de certas
necessidades; (ii) Interesse em sentido subjectivo: exprime uma relação de
apetência que se estabelece entre o sujeito carente e certas realidades aptas a
satisfazê-lo; Castro Mendes: critica o conceito e diz que por essa noção os recém-
nascidos não têm interesses e as pessoas capazes só teriam interesses sobre bens
conhecidos;
A esse binómio Jhering juntou a protecção jurídica -a tutela. Críticas técnicas:
(i)cai no mesmo erro da teoria da vontade ao dar a ideia unilateral do DS agora
centrada no interesse do seu titular; (ii) se ao DS tem de corresponder um
interesse, a verdade é que também o DS envolve uma actuação da vontade que,
dentro dos limites do Direito objectivo, é legítima, pelo que o DS não se reduz a
um mero interesse ainda que juridicamente protegido e nem é essa a sua
substância ou o seu fim; (iii)levaria a identificar todo o interesse juridicamente
protegido com o DS, ignorando que a ordem jurídica utiliza técnicas diversas para
tutelar interesses humanos, além do DS, como acontece nos chamados interesses
indirecta ou reflexamente protegidos (exs: quando o Estado manda cobrar direitos
aduaneiros sobre mercadorias importadas do estrangeiro, o produtor nacional é
protegido, no entanto este não tem qualquer direito à cobrança pelo Estado
desses direitos, já o seu interesse é reflexamente protegido; as regras que
determinam uma obrigatoriedade de vacinação visam proteger os interesses das
diversas pessoas e nem por isso se poderá falar na existência de um direito
subjectivo à vacinação de outrem); Críticas metodológicas: (i) sublinhou a
finalidade do direito subjectivo em detrimento da sua substância.
Relevância do pensamento de Jhering: pôs em destaque que o
direito subjectivo tem de corresponder necessariamente uma
utilidade e não o exercício puro da vontade arbitrária, ou seja, teve-o
mérito de chamar a atenção para a relevância do elemento interesse
na noção do DS que a teoria da vontade ignorava.
Menezes Cordeiro: Entende que essas a essa teoria críticas não
procedem: (i) a existência de interesses reflexamente protegidos – ou
mais latamente, de formas indirectas de tutela normativa – não
confunde com uma noção de direito subjectivo que postule, como é
natural uma protecção directa dos interesses. (ii) a natureza final da
noção de Jhering bem poderá significar uma vantagem metodológica,
já que os direitos subjectivos poderão implicar tal variedade
substancial que uma noção genérica seja viável, apenas em termos
de escopo. A crítica deve seguir outras vias: perguntar pelas
projecções significativas que a fórmula por ele proposta acarrete e a
indagar se a identificação operada entre interesses e direitos
subjectivos pode ser mantida até às últimas consequenciais.
(c) Teorias intermédias ou mistas: procuram conjugar a vontade e o interesse. Estas teorias subdividem-se em dois
ramos: (a) entendem o direito subjectivo fundamentalmente como um interesse protegido por um poder (Em
Portugal: Guilherme Moreira e Rocha Saraiva)(b) entendem o direito subjectivo fundamentalmente como um poder
de vontade, um poder ao serviço de um interesse humano, como tal, juridicamente protegido.
Síntese de Regelsberger: o direito subjectivo existe quando a ordem jurídica faculta à pessoa a realização de um
escopo reconhecido (= interesse protegido) e lhe reconhece, para isso, um poder jurídico (= poder da
vontade).Menezes Cordeiro: não se trata de uma verdadeira síntese substantiva mas sim de um somatório ou
justaposição de termos, um compromisso linguístico. Por isso não representa m salto qualitativo; Críticas: (i)
recorreu a um desenvolvimento de linguagem que tornou confusa a noção proposta; (ii) a substituição do «poder da
vontade» pelo «poder jurídico» faculta uma conversão linguística mas nada acrescenta e complica a apreensão
científica, (iii) sujeita-se a críticas dirigidas a Savigny e a Jhering.
No Séc. XX
Teses Negativistas (Léon Duguit e Kelsen): tentam negar a existência de direitos subjectivos, substituindo-os por
outras figuras jurídicas. A ideia comum a essas teorias é a de que o DS não corresponde a qualquer realidade, sendo
uma mera construção técnica que pode ser eliminada da ciência do Direito. Guguit: entende que a norma não
confere direitos subjectivos a quem quer que seja; assim a realidade jurídica mostra que se alguém deixa de cumprir
e com isso afectar a situação jurídica de outrem, a norma intervém mediante certas vias (“voies de droit”) que
permitem repor a realidade tal como a pretendia. Kelsen: percorrendo caminho inverso ao de Duguit, entende que
as normas jurídicas encontram-se hierarquizadas, em pirâmide, a partir de um norma superior e fundamental
(Grundnorm) e até os actos de regulamentação concreta e particular com é caso dos contratos entre particulares o
regulamento de uma associação ou a sentença judicial. É dessa organização piramidal que as normas jurídicas
retiram todo a sua validade, a qual se funda na “Grundnorm”. Todo o direito se reduz a essa pirâmide não cabendo
espaço para direito subjectivo. Dizer que uma pessoa tem um DS (um determinado poder jurídico) significa apenas
que uma norma jurídica faz da conduta dessa pessoa, pressuposto de determinadas consequências, ou seja,
reconduz o direito subjectivo ao direito objectivo.
Críticas: (i) visou fundamentalmente a concepção individualista do Direito e as
teorias que formulam o DS como poder da vontade e acaba por admitir uma
hierarquização de vontades, oque não é juridicamente aceitável (ii) a realidade
monstra que as normas atribuem a certos indivíduos, em determinadas
circunstâncias, meios de agir (faculdades) não reconhecidos a outros e, tais
faculdades podem ser tomadas isoladamente e sobretudo não se reconduzem às
vias de direito como simples meios de preposição da situação jurídica violada (ii)
de resto, não se pode negar a relevância do DS na dogmática jurídica e é a técnica
que ainda melhor explica a realidade jurídica.
Teses Proteccionistas: procuram reduzir o direito subjectivo à tutela
proporcionada pelo Direito.
Teses Neo-Empíricas: reconhecendo à impossibilidade de uma definição capaz,
apelam à mera descrição das figuras susceptíveis de o integrar. Críticas: estas
teses não têm em conta a autonomia ôntica do direito subjectivo, dada a
existencialidade própria, como fenómeno de cultura sedimentado pela História.
Tese da Escola Jurídico-Formal: o direito subjectivo não é um mero expediente
técnico; o DS implica valorações fundamentais do sistema.
Em Portugal: a tentativa de reelaboração do conceito pelo Prof. Manuel Gomes da
Silva: define o DS como “a afectação jurídica dum bem à realização dum ou mais fins da
pessoa individualmente consideradas”.Castro Mendes: define o DS como “a posição
pessoal de vantagem” resultante da afectação de um bem. O poder que interessa aqui
não é poder de vontade, mas uma situação pessoal de vantagem que advém da
existência de meios jurídicos (possibilidade de agir, de recorrer aos tribunais, de
representação por outras pessoas, etc) que afectam certo bem aos interesses de certas
pessoas. O interesse, na sua potencialidade de desenvolvimento da prossecução, não
essência do direito subjectivo, mas sim o fim a cuja tutela o direito subjectivo se destina.
Assim, define «o direito subjectivo é o poder concedido pela ordem jurídica para a
tutela de um interesse ou de um núcleo de interesses de uma ou mais pessoas
determinadas». Oliveira Ascenção: define o DS como “posição concreta de vantagem de
pessoas individualmente consideradas resultante da afectação de meios jurídicos para
permitri a realização de fins que a ordem jurídica acweita como dignas de protecção”
Pais de Vasconcelos:“posição jurídica pessoal de vantagem, de livre exercício,
dominantemente activa, inerente à afectação, com êxito, de bens e dos correspondentes
meios, isto, de poderes jurídicos e materiais,, necessários, convenientes ou simplesmente
úteis, à realização de fins específicos do seu concreto titular”.
Nota: O direito subjectivo contrapõe-se um dever jurídico (necessidade ou vinculação
de realizar um comportamento a que tem direito o titular activo da relação jurídica). O
dever jurídico a que corresponde ao direito de exigir chama-se obrigação jurídica e o seu
cumprimento pode ser exigido judicialmente. O dever jurídico a que corresponde um
direito de pretender chama-se obrigação natural é não é exigível judicialmente.
Menezes Cordeiro: (a) Contra Savigny: (i) o direito subjectivo não pode ser
definido como poder da vontade, sendo certo que há direitos sem vontade; direito
não se confunde com o poder; (ii) verifica-se que a presença da vontade nos
direitos corresponde a uma visão global do civilismo como fenómeno assente na
vontade humana, o que não é exacta, já que o direito é inculcado do exterior,
inscrevendo-se, por via sócio-cultural, nas pessoas que o recebam; o dogma da
vontade não corresponde à verdade antropológica e existencial. (b) Contra Hering:
(i) não se deve identificar direito subjectivo e interesses; ainda que não proceda a
alegação da existência de interesses reflexamente protegidos, como traduzindo
interesses sem direitos, há direitos subjectivos, válidos e eficazes, que não
correspondem a interesses objectivos ou subjectivos (ex: o proprietário da coisa
deteriorada não deixa de ter esse direito e da correspondente protecção); o único
juiz dos interesses subjacentes aos direitos é o próprio titular, já que qualquer
outra solução implicaria instituir fora do direito uma nova instância de controlo:
não havendo interesse desapareceria o direito; (ii) ignora os aspectos
significativo-ideológicos dos direitos subjectivos. (Posição Normativista) Propõe
como definição de Direito Subjectivo: “a permissão normativa específica de
aproveitamento de um determinado bem”.
Carvalho Fernandes (vide Manual, págs,. 579 a 581): define o DS como“o poder
jurídico de realização de um fim de determinada pessoa, mediante afectação
jurídica de um bem”.
Modalidades de direitos subjectivos:
Menezes Cordeiro
(i) Direitos subjectivos comuns (permissão normativa específica de aproveitamento de um bem); são frutos de
normas de conduta (permissiva); exs: direito de propriedade, direito de crédito. C. Mendes: Direitos Subjectivos
Stricto Sensu: aqueles em que o titular tem o poder de exigir de outra pessoa determinada conduta, que tanto pode
ser uma acção como uma abstenção; por outro lado, o sujeito passivo encontra-se adstrito a realizar a conduta
imposta pela norma que confere o direito ou a abster-se de realizar a conduta proibida pela norma que confere o
direito.
(ii) Direitos potestativos (poder de alterar, unilateralmente, através da manifestação da vontade, a ordem jurídica.
São frutos de normas que conferem poderes; ex: direito de aceitar uma proposta contratual. Por sua vez os direitos
potestativos podem assumir múltiplas classificações; C. Mendes: o exercício do direito não tende a obter uma
conduta alheia mas produzir, mediante uma declaração do titular, por vezes integrada judicial ou
administrativamente, um efeito que vai projectar-se nas esferas jurídicas de outrem; a situação passiva é a sujeição,
em que o sujeito passivo tem de suportar o exercício do direito, com a produção das respectivas consequências
jurídicas. Não se trate de um dever ser, mas sim de um ter de ser.
Classificações de direitos potestativos : (a) DP Autónomos (surge de modo isolado – ex. direito de aceitar a
proposta contratual), (b) DP Integrados (surgem integrados em DS mais amplos, como simples faculdades ou até
poderes – ex. direito de preferência dos comproprietários [artigo 1389º CC]; (c) DP com destinatário (as alterações
são provocadas ma esfera jurídica de outrem ex. aceitação da proposta; (d) DP sem destinatário (as alterações são
provocadas na esfera jurídica do próprio sujeito – ex. direito de ocupação [artigo 1315º do CC]), (e) DP de exercício
judicial (só pode ser exercido através do tribunal – ex. denúncia do contrato de arrendamento [artigo 1097º do CC]);
(f) DP de exercício extrajudicial (pode ser exercido extrajudicialmente); (g) DP constitutivos (constituem, pelo seu
exercício, novas situações jurídicas – exs. comunhão forçada e servidão legal de passagem [artigos 1367º e 1527º do
CC]); (h) DP modificativos (alteram uma situação jurídica pré-existente –ex. mudança de servidão [artigo 1541º do
CC]); (i) DP extintivos (extinguem uma situação jurídica pré-existente – ex. direito de propor o divórcio [artigos 1735º
e 1738º do CC])

Outras classificações: os DP podem ser creditícios, reais, familiares, sucessórios, intelectuais, transmissíveis, etc
Quanto ao objecto: (i) DS patrimoniais (que incidem
sobre bens avaliáveis em dinheiro, ou seja, bens
materiais energéticos ou incorpóreos, intelectuais,
creditícios ou relativos a realidades jurídicas
[potestativos, associativos, etc]) (ii) DS Não
patrimoniais ou pessoais (que incidem sobre bens
não avaliáveis em dinheiro, isto, pessoais e
familiares).
Quanto ao regime: (i) direitos de crédito, (ii)
direitos reais, (iii) direitos de família, (iv) direitos das
sucessões e (v) direito das pessoas.
Carvalho Fernandes:
(a) direitos subjectivos absolutos (caracterizam-se pela sua eficácia “erga omnes”, ou seja, o poder que o
integra pode ser oponível conta todos; entre o titular dos direitos subjectivos e aquele conta quem ele
pretende os exercer não há qualquer vínculo particular; ex: no direito de propriedade o titular pode
reivindicar a coisa de quem seja o seu detentor e, este pode nem sequer ser o autor do esbulho, mas
aquele a quem este a alienou) e direitos subjectivos relativos (os poderes do titular projectam-se
fundamentalmente na esfera jurídica de uma ou mais pessoas determinadas ou determináveis e
emergem de um facto jurídico que estabelece um vínculo entre o titular dos direitos e a pessoa ou
pessoas adstritivas a uma situação jurídica passiva correspondente; ex: no direito de crédito, entre o
credor e o devedor existe um vínculo de que emerge um acto jurídico de natureza negocial ou não e a
pretensão do titular do direito funda-se no incumprimento).
(b) Quanto ao objecto, podem ser direitos subjectivos patrimoniais (susceptíveis de avaliação em
dinheiro) e direitos subjectivos não patrimoniais (não susceptíveis de avaliação em dinheiro).
(c)direitos subjectivos pessoais (aqueles em que já uma inerência indestrutível do direito ao seu titular)
e direitos subjectivos não pessoais (aqueles em que não existe tal inerência); nota: os direitos pessoais
são normalmente não patrimoniais, mas não necessariamente.
(d) direitos subjectivos transmissíveis (susceptíveis de transmissão de uma esfera jurídica para outra) –
em regra os direitos subjectivos privados são transmissíveis -e direitos subjectivos intransmissíveis
(insusceptíveis de transmissão de uma esfera jurídica para outra – exs: em sede responsabilidade
parental, poderes conjugais e direito a alimentos). Notas: Quando se analisa a transmissibilidade em
relação a actos ente vivos fala-se de alienabilidade e no que tange a actos mortis causa diz-se
hereditariedade. Os direitos patrimoniais são, em regra, transmissíveis por actos entre vivos e mortis
causa (o usufruto e um direito patrimonial intransmissível, mas só alienável por acto entre vivos, e o
direito real de uso e habitação que é intransmissível em absoluto). Os direitos subjectivos pessoais
são em regra intransmissíveis.
(e) direitos subjectivos a uma conduta de outrem (o direito
subjectivo envolve poderes de algum modo dirigidos a uma conduta
[comportamento] – positivo ou negativo - de outra pessoa, que
deverá adotá-la ou abster-se de adotá-la; do lado passivo o sujeito
fica adstrito a um dever jurídico) e direitos subjectivos potestativos
[também chamados de direitos constitutivos ou de produção
jurídica] (os poderes produzem efeitos jurídicos na esfera jurídica de
outrem, sem que este o possa impedir; do lado passivo o sujeito fica
adstrito a uma sujeição).
(f) Outras classificações: renunciáveis, irrenunciáveis, prescritíveis,
imprescritíveis, corpóreos e incorpóreos ou segundo a classificação
germânica da relação jurídica.
Classificação de direitos potestativos:
Direito Potestativo (C. Fernandes): é o poder de produzir efeitos
jurídicos que vão afectar, inelutavelmente, a esfera jurídica de
outrem, constituindo, modificando ou extinguindo uma relação
jurídica, de que este é também sujeito.
Muitas vezes, o exercício dos direitos potestativos depende da
conjugação da vontade do titular do direito e intervenção de uma
autoridade, judicial, ou seja, direitos potestativos que só podem ser
exercidos em juízo (situação mais corrente) ou administrativa e,
nestes casos, costuma-se falar de (a) direitos potestativos de exercício
necessariamente judicial ou administrativo (exs: (i) direito ao divórcio
litigioso, verificados os factos previstos no artigo 1738º do CC – tem
natureza potestativa, já que não exige qualquer colaboração do
sujeito passivo, nem impede qualquer atitude que este possa tomar;
(ii) direitos que tendem a provocar a alteração de estados pessoais –
direitos de investigação de paternidade ou maternidade, de
anulação de casamento, etc.); mas há direitos potestativos que não
carecem, em princípio, para o seu exercício dessa intervenção das
autoridades e então estamos perante (b) direitos potestativos de
exercício não necessariamente judicial ou de exercício judicial
facultativo ou de exercício extrajudicial: (Exs: direito à escolha de
obrigação alternativa – artigo 543º e ss. do CC; anulação do negócio
jurídico por erro – artigo 291º, nº1 in fine do cc).
Também, costuma-se distinguir (c) direitos potestativos de puros (aqueles que são conferidos ao titular pela lei
imediatamente ou em primeiro grau) e o seu exercício não tende a obter uma conduta alheia, mas sim, produzir,
mediante uma declaração do titular, por vezes integrada judicial ou administrativamente, um efeito jurídico que vai
projectar-se na esfera jurídica de outrem, ficando o sujeito passivo vinculado a uma sujeição [exs: todos os de
exercício judicial e extrajudicial, tais como, o direito de invocar a invalidade de um negócio; o direito de aceitar uma
proposta negocial]) e (d) direitos potestativos mistos ou impuros (aqueles que são atribuídos ao titular como efeito
de violação de poder dirigido, primariamente, a uma conduta de outrem, ou seja, o seu exercício pode resultar da
violação de um direito a uma conduta de outrem [exs: direito a constituir uma servidão legal de passagem – artigo
1530º do CC: num 1º estádio o direito supõe um dever (uma conduta de outrem – colaboração no estabelecimento
da servidão, v.g., direito de exigir a comparência para uma escritura pública de constituição da servidão
amigavelmente - do proprietário do prédio vizinho de colaborar na passagem e num 2º estádio, em caso de recusa
injustificada, o exercício do direito por via judicial. Aqui nasce o direito potestativo. Constituída a servidão, o direito
que daí resulta não é potestativo, mas sim direito real de gozo- direito absoluto a uma conduta de outrem – servidão
de passagem); direito decorrente do contrato-promessa com execução específica – artigo 830º, n1 do CC – 1ª Fase:
a parte tem o direito exigir que a outra celebre o contrato definitivo (direito relativo a uma conduta de outrem) – 2ª
fase – se a outra parte se recusar, a parte que tem a faculdade de execução específica pode recorrer a ela por via
judicial (direito potestativo) – 3ª fase – o sujeito titular do direito adquire a situação jurídica em causa (se for compra
e venda adquire o direito de propriedade);(e) direitos potestativos constitutivos (pelo seu exercício constituem uma
relação jurídica nova – exs. uma servidão de passagem – artigo 1.530º do CC ou comunhão forçada – artigo 1.370º do
CC), (f) modificativos(pelo seu exercício modificam uma relação jurídica pré-existente – exs. direito à modificação do
contrato por alterações das circunstâncias – artigo 437º do CC - ou por motivo de usura – artigo 283º do CC –
mudança de servidão – artigo 1.541º do CC – separação judicial de pessoas e bens – artigo 1.735º do CC) e
(g)extintivos (pelo seu exercício extinguem uma relação jurídica existente – exs. direito ao divórcio litigioso – artigo
1.738º do CC –resolução do contrato do arrendamento pelo senhorio, revogação do mandato, denúncia do
arrendamento, direito de extinção da servidão por desnecessidade); (h) direitos potestativos creditícios, (i) direitos
potestativos reais, (j) direitos potestativos de família, (l) direitos potestativos sucessórios, (m) direitos potestativos
intelectuais: consoante promovam aproveitamento de bens correspondentes a essas categorias. (n) direitos
subjectivos de contéudo egoístico (aqueles cujos poderes foram conferidos por lei para a protecção de um interesse
próprio do titular do direito (ex. o direito de propriedade); (o) direitos subjectivos de conteúdo altruísta (aqueles
cujso poderes foram conferido s por lei para a protecção de interesses de pessoas distintas do titular do direito (ex: o
poder paternal)
Há que distinguir os direitos subjectivos de conteúdo altruísta das
situações do exercício do direito por via da representação em que o
poder é atribuído ao representante (aqui tudo se passa como se fosse
o próprio titular a exercer o direito . Ex. o tutor que pratica o acto
como se fosse o tutelado); nos direitos de conteúdo altruísta há uma
verdadeira dissociação do titular o poder e o titular do interesse
protegido (exs. o poder paternal, direito de pagar a dívide a alheia –
artigo 767º do CC); por isso. Alguns autores também designam esses
direitos de poderes-deveres ou poderes funcionais.

Os direitos de conteúdo altruísta podem ser (i) de conteúdo altruísta


pessoal e (ii) de conteúdo altruísta ideal (exs. direitos destinados à
tutela da honra, bom nome e reputação de pessoas falecidas)

Regra geral os direitos de conteúdo altruísta são de exercício


vinculado
Figuras afins do direito subjectivo: (i) interesses reflexamente protegidos: certos interesses são legalmente
protegidos só indirecta ou reflexamente, sem se atribuir ao titular do direito subjectivo de um poder (possibilidade
de exigir uma conduta alheia). A razão de ser decorre do facto de certas normas visarem, primariamente, proteger
outros interesses, normalmente de carácter colectivo ou da comunidade em geral ou mesmo de outras pessoas,
que são as principais destinatárias dos seus comandos que, a serem respeitados, os interesses particulares ou
individuais de certas pessoas resultam também protegidos por via não directa; Vide o artigo 483º do CC. Ex:
(a)violação da lei aduaneira destinada a proteger a indústria nacional, (b) violação da lei que proíbe a venda de
estupefacientes ou de bebidas alcoólicas, (c) que proíbe o estacionamento de viaturas em certos locais, (d) da lei
que obriga os donos dos prédios a iluminar as escadas, (e) certas precauções na construção ou demolições de
edifícios. Carvalho Fernandes distingue interesses reflexamente protegidos; interesses indirectamente protegidos e
interesses difusos;(ii)expectativas jurídicas ou de direitos: se um facto constitutivo ou aquisitivo de certos direitos
subjectivos é unisubsistente instantâneo (ocupação de res nullius, a compra e venda ao balcão, etc), quanto a
outros direitos subjectivos tal facto é plurisubsistente e complexo, de produção sucessiva, pelo que, só no fim da
produção de todos os elementos do facto complexo surge o direito subjectivo na esfera jurídica do adquirente. Mas
pode suceder que, verificados certos elementos iniciais do facto constitutivo complexo aquisitivo do direito
subjectivo, a lei atribua ao futuro titular do direito uma certa medida de protecção jurídica. Assim a expectativa
jurídica: é a posição jurídica do potencial futuro adquirente de um direito subjectivo, que beneficia da circunstância
de se haver verificado já alguns elementos do facto complexo de que depende essa aquisição, e disso a lei lhe
conferir já uma certa medida de protecção. Carvalho Fernades: define a expectativa jurídica como “situação
juridicamente relevante de tutela de interesses durante o curso da constituição (ou aquisição) de um direito, cuja
constituição (ou aquisição) depende de um facto complexo de produção sucessiva”. Exs.: (a) o adquirente
condicional de um direito (na condição suspensiva) – cfr. artigo 273º do CC,(b) o alienante condicional (na condição
resolutiva) – Cfr. artigo 273º do CC; (c)o herdeiro legitimário (Cfr. artigos 2082º, 2083º), para aquisição dos bens é
preciso que se verifiquem 2 factos: a morte do de cujus e a aceitação da herança. Porém, antes disso beneficiam do
que se dispõe no artigo 242º, nº 2 do CC; (d) situação de espera de lucros de um convénio lícito que afecte direitos
de personalidade (combate de boxe) – artigo 79º, nº 2 do CC.

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