Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
- A norma jurídica do DC é igual a todas as outras, excepto no que respeita ao seu objecto,
ou seja, o seu objecto não é apenas a conduta humana em si, mas sim a conduta humana
na sua relação com os outros homens (alteralidade do direito): o direito não regula o
homem isolado ou situações referentes ao homem isolado, mas sim a conduta ou
situação do homem em face de outros homens).
- Relação significa conexão. Assim, as relações das pessoas entre si e com o meio social
envolvente em que se encontram, bem como as coisas que as rodeiam e estão ao seu
alcance têm relevância jurídica em vários aspectos e, quando assim sejam, são relações
jurídicas.
- Ou seja, as pessoas estabelecem e criam entre si (e com o meio social envolvente) certos
vínculos, algumas das quais interessam ao direito e são por ele tuteladas. Há relações
sociais relevantes, é certo, para convivência humana, que não são relações jurídicas: o
namoro, a amizade, as actividades nos tempos de lazer, as confraternizações, os conselhos
entre amigos, que são determinadas por meras regras do comportamento social.
- A relação jurídica é o objecto da norma jurídica.
Castro Mendes: Aponta ainda um conceito mais amplo ainda de
Relação jurídica em sentido amplíssimo: qualquer modo de ser ou
estar recíproco de duas realidades, juridicamente relevantes.
Relação jurídica em sentido amplo: toda a relação da vida social
relevante para o Direito (produtiva de efeitos jurídicos e, como tal,
disciplinada pelo Direito).
Relação Jurídica em sentido restrito: é o vínculo que existe entre,
pelo menos, duas pessoas, pelo qual uma delas tem o poder jurídico
de exigir de outra uma conduta (positiva ou negativa) , ou seja, toda a
relação da vida social disciplinada pelo direito, mediante atribuição a
uma pessoa de um direito subjectivo e a imposição a outra pessoa de
um dever jurídico ou de uma sujeição. É um vínculo ou nexo
normativo ou jurídico de correspondência recíproca de direitos e
vinculações, encabeçadas por pessoas diferentes (correspondência
de direito-vinculação), ou seja, um nexo ou vínculo que se traduz na
atribuição a uma pessoa de um direito subjectivo e na imposição a
outra pessoa de um dever jurídico ou obrigação a que está vinculada
a cumprir ou de uma sujeição a que deve sujeitar-se.
Elementos da Relação Jurídica
A doutrina clássica, na esteira de Savigny, a pandectista oitocentista adoptou o conceito de
relação jurídica como estrutura básica do sistema externo do Direito, ou seja, todo o Direito
seria estruturável e explicável com base na relação jurídica, a qual é composta por quatro
elementos: sujeito, objecto, facto e garantia (representados na sistematização do Título II, do
Livro I (Parte Geral) do Código Civil.
Por isso, durante muito tempo a relação jurídica desempenhou pacificamente o papel de
estrutura fundamental do Direito e a generalidade dos manuais de autores portugueses
adotava (e ainda hoje muitos adotam) essa estrutura.
Estes elementos estão, também, representados na sistemática do CC: Livro I – Parte Geral -
Título II – Relações Jurídicas (artigos 66º e ss.), dividido em 4 sub-títulos: I- Das pessoas, II –
Das coisas, III – Dos factos jurídicos, IV – Do exercício e tutela dos direitos.
Na verdade, a relação jurídica envolve, pelo menos, duas pessoas – pode envolver mais - (os
seus sujeitos - que são sempre dois), o sujeito activo (a pessoa ou as pessoas a quem a
direito atribui os poderes jurídicos) e o sujeito passivo (a pessoa ou as pessoas a quem o
direito estabelece que fica adstrito a adoção de uma conduta, positiva ou negativa).
Reunindo-se na mesma pessoa a posição activa e passiva, dá-se a confusão.
Notas: Mesmo na doutrina clássica se discutia se as pessoas – os sujeitos - são elementos da
relação jurídica ou seus pressupostos. Castro Mendes discorda daqueles que defendem os
sujeitos são pressupostos da relação jurídica porque, considerando a relação jurídica como a
totalidade, ela abrange não apenas aquilo que liga os sujeitos, mas ainda os próprios
sujeitos, na medida em que por esse nexo estão ligados (é o todo que forma a relação
jurídica).
Mota Pinto: Entende que a estrutura da relação jurídica é o seu cerne – vínculo, nexo ou
ligação que existe ente dois sujeitos. Integra um direito subjectivo e um dever jurídico ou
sujeição.
C. Fernandes: vistos os sujeitos no seu sentido restrito (não como pessoas), como posições
que as pessoas ocupam na relação jurídica, são elementos dessa relação jurídica.
Outras classificações: os DP podem ser creditícios, reais, familiares, sucessórios, intelectuais, transmissíveis, etc
Quanto ao objecto: (i) DS patrimoniais (que incidem
sobre bens avaliáveis em dinheiro, ou seja, bens
materiais energéticos ou incorpóreos, intelectuais,
creditícios ou relativos a realidades jurídicas
[potestativos, associativos, etc]) (ii) DS Não
patrimoniais ou pessoais (que incidem sobre bens
não avaliáveis em dinheiro, isto, pessoais e
familiares).
Quanto ao regime: (i) direitos de crédito, (ii)
direitos reais, (iii) direitos de família, (iv) direitos das
sucessões e (v) direito das pessoas.
Carvalho Fernandes:
(a) direitos subjectivos absolutos (caracterizam-se pela sua eficácia “erga omnes”, ou seja, o poder que o
integra pode ser oponível conta todos; entre o titular dos direitos subjectivos e aquele conta quem ele
pretende os exercer não há qualquer vínculo particular; ex: no direito de propriedade o titular pode
reivindicar a coisa de quem seja o seu detentor e, este pode nem sequer ser o autor do esbulho, mas
aquele a quem este a alienou) e direitos subjectivos relativos (os poderes do titular projectam-se
fundamentalmente na esfera jurídica de uma ou mais pessoas determinadas ou determináveis e
emergem de um facto jurídico que estabelece um vínculo entre o titular dos direitos e a pessoa ou
pessoas adstritivas a uma situação jurídica passiva correspondente; ex: no direito de crédito, entre o
credor e o devedor existe um vínculo de que emerge um acto jurídico de natureza negocial ou não e a
pretensão do titular do direito funda-se no incumprimento).
(b) Quanto ao objecto, podem ser direitos subjectivos patrimoniais (susceptíveis de avaliação em
dinheiro) e direitos subjectivos não patrimoniais (não susceptíveis de avaliação em dinheiro).
(c)direitos subjectivos pessoais (aqueles em que já uma inerência indestrutível do direito ao seu titular)
e direitos subjectivos não pessoais (aqueles em que não existe tal inerência); nota: os direitos pessoais
são normalmente não patrimoniais, mas não necessariamente.
(d) direitos subjectivos transmissíveis (susceptíveis de transmissão de uma esfera jurídica para outra) –
em regra os direitos subjectivos privados são transmissíveis -e direitos subjectivos intransmissíveis
(insusceptíveis de transmissão de uma esfera jurídica para outra – exs: em sede responsabilidade
parental, poderes conjugais e direito a alimentos). Notas: Quando se analisa a transmissibilidade em
relação a actos ente vivos fala-se de alienabilidade e no que tange a actos mortis causa diz-se
hereditariedade. Os direitos patrimoniais são, em regra, transmissíveis por actos entre vivos e mortis
causa (o usufruto e um direito patrimonial intransmissível, mas só alienável por acto entre vivos, e o
direito real de uso e habitação que é intransmissível em absoluto). Os direitos subjectivos pessoais
são em regra intransmissíveis.
(e) direitos subjectivos a uma conduta de outrem (o direito
subjectivo envolve poderes de algum modo dirigidos a uma conduta
[comportamento] – positivo ou negativo - de outra pessoa, que
deverá adotá-la ou abster-se de adotá-la; do lado passivo o sujeito
fica adstrito a um dever jurídico) e direitos subjectivos potestativos
[também chamados de direitos constitutivos ou de produção
jurídica] (os poderes produzem efeitos jurídicos na esfera jurídica de
outrem, sem que este o possa impedir; do lado passivo o sujeito fica
adstrito a uma sujeição).
(f) Outras classificações: renunciáveis, irrenunciáveis, prescritíveis,
imprescritíveis, corpóreos e incorpóreos ou segundo a classificação
germânica da relação jurídica.
Classificação de direitos potestativos:
Direito Potestativo (C. Fernandes): é o poder de produzir efeitos
jurídicos que vão afectar, inelutavelmente, a esfera jurídica de
outrem, constituindo, modificando ou extinguindo uma relação
jurídica, de que este é também sujeito.
Muitas vezes, o exercício dos direitos potestativos depende da
conjugação da vontade do titular do direito e intervenção de uma
autoridade, judicial, ou seja, direitos potestativos que só podem ser
exercidos em juízo (situação mais corrente) ou administrativa e,
nestes casos, costuma-se falar de (a) direitos potestativos de exercício
necessariamente judicial ou administrativo (exs: (i) direito ao divórcio
litigioso, verificados os factos previstos no artigo 1738º do CC – tem
natureza potestativa, já que não exige qualquer colaboração do
sujeito passivo, nem impede qualquer atitude que este possa tomar;
(ii) direitos que tendem a provocar a alteração de estados pessoais –
direitos de investigação de paternidade ou maternidade, de
anulação de casamento, etc.); mas há direitos potestativos que não
carecem, em princípio, para o seu exercício dessa intervenção das
autoridades e então estamos perante (b) direitos potestativos de
exercício não necessariamente judicial ou de exercício judicial
facultativo ou de exercício extrajudicial: (Exs: direito à escolha de
obrigação alternativa – artigo 543º e ss. do CC; anulação do negócio
jurídico por erro – artigo 291º, nº1 in fine do cc).
Também, costuma-se distinguir (c) direitos potestativos de puros (aqueles que são conferidos ao titular pela lei
imediatamente ou em primeiro grau) e o seu exercício não tende a obter uma conduta alheia, mas sim, produzir,
mediante uma declaração do titular, por vezes integrada judicial ou administrativamente, um efeito jurídico que vai
projectar-se na esfera jurídica de outrem, ficando o sujeito passivo vinculado a uma sujeição [exs: todos os de
exercício judicial e extrajudicial, tais como, o direito de invocar a invalidade de um negócio; o direito de aceitar uma
proposta negocial]) e (d) direitos potestativos mistos ou impuros (aqueles que são atribuídos ao titular como efeito
de violação de poder dirigido, primariamente, a uma conduta de outrem, ou seja, o seu exercício pode resultar da
violação de um direito a uma conduta de outrem [exs: direito a constituir uma servidão legal de passagem – artigo
1530º do CC: num 1º estádio o direito supõe um dever (uma conduta de outrem – colaboração no estabelecimento
da servidão, v.g., direito de exigir a comparência para uma escritura pública de constituição da servidão
amigavelmente - do proprietário do prédio vizinho de colaborar na passagem e num 2º estádio, em caso de recusa
injustificada, o exercício do direito por via judicial. Aqui nasce o direito potestativo. Constituída a servidão, o direito
que daí resulta não é potestativo, mas sim direito real de gozo- direito absoluto a uma conduta de outrem – servidão
de passagem); direito decorrente do contrato-promessa com execução específica – artigo 830º, n1 do CC – 1ª Fase:
a parte tem o direito exigir que a outra celebre o contrato definitivo (direito relativo a uma conduta de outrem) – 2ª
fase – se a outra parte se recusar, a parte que tem a faculdade de execução específica pode recorrer a ela por via
judicial (direito potestativo) – 3ª fase – o sujeito titular do direito adquire a situação jurídica em causa (se for compra
e venda adquire o direito de propriedade);(e) direitos potestativos constitutivos (pelo seu exercício constituem uma
relação jurídica nova – exs. uma servidão de passagem – artigo 1.530º do CC ou comunhão forçada – artigo 1.370º do
CC), (f) modificativos(pelo seu exercício modificam uma relação jurídica pré-existente – exs. direito à modificação do
contrato por alterações das circunstâncias – artigo 437º do CC - ou por motivo de usura – artigo 283º do CC –
mudança de servidão – artigo 1.541º do CC – separação judicial de pessoas e bens – artigo 1.735º do CC) e
(g)extintivos (pelo seu exercício extinguem uma relação jurídica existente – exs. direito ao divórcio litigioso – artigo
1.738º do CC –resolução do contrato do arrendamento pelo senhorio, revogação do mandato, denúncia do
arrendamento, direito de extinção da servidão por desnecessidade); (h) direitos potestativos creditícios, (i) direitos
potestativos reais, (j) direitos potestativos de família, (l) direitos potestativos sucessórios, (m) direitos potestativos
intelectuais: consoante promovam aproveitamento de bens correspondentes a essas categorias. (n) direitos
subjectivos de contéudo egoístico (aqueles cujos poderes foram conferidos por lei para a protecção de um interesse
próprio do titular do direito (ex. o direito de propriedade); (o) direitos subjectivos de conteúdo altruísta (aqueles
cujso poderes foram conferido s por lei para a protecção de interesses de pessoas distintas do titular do direito (ex: o
poder paternal)
Há que distinguir os direitos subjectivos de conteúdo altruísta das
situações do exercício do direito por via da representação em que o
poder é atribuído ao representante (aqui tudo se passa como se fosse
o próprio titular a exercer o direito . Ex. o tutor que pratica o acto
como se fosse o tutelado); nos direitos de conteúdo altruísta há uma
verdadeira dissociação do titular o poder e o titular do interesse
protegido (exs. o poder paternal, direito de pagar a dívide a alheia –
artigo 767º do CC); por isso. Alguns autores também designam esses
direitos de poderes-deveres ou poderes funcionais.