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ª parte)
A "Ode Triunfal" é o poema que marca o surgimento do heterónimo Álvaro
de Campos. Supostamente, foi elaborado em Londres, no ano de 1914, «num jacto
e à máquina de escrever, sem interrupções nem emenda», de acordo com o próprio
Fernando Pessoa, na carta dirigida a Adolfo Casais Monteiro sobre a génese dos
heterónimos. Seja como for, a ode chegou junto do público através do primeiro
número do órgão do Primeiro Modernismo, a revista «Orpheu», em 1915.
A composição, constituída por 240 versos, inclui-se na segunda fase poética
de Álvaro de Campos, a fase do futurismo e do sensacionismo, em que deparamos
com um Campos entusiasta do (seu) tempo de modernidade, de técnica, de
progresso, de velocidade, de movimento, na esteira de Marinetti e de Walt
Whitman, de quem era discípulo confesso.
Ainda nas estrofes iniciais do texto, Álvaro de Campos apresenta a sua visão
do elemento tempo. Assim, ao contrário de Marinetti, que defendia o apagamento
do passado e do presente em relação ao futuro, que seria «tudo», Campos reduz o
passado e o futuro a um só tempo: o instante presente (vv. 1-18; 19; 21-22). No
entanto, o presente só é possível porque está alicerçado no passado, na base do
qual se apoia a construção do futuro; ou seja, passado e futuro ganham significação
no presente, no Momento («todo o passado dentro do presente»; «todo o futuro já
dentro de nós» - vv. 222-223).
Linguagem e estilo
. A antítese:
- "tudo o que passa e nunca passa": traduz a concentração do passado no
presente, ou a continuidade dos acontecimentos diários;
- "O ruído cruel e delicioso da civilização de hoje": traduz os sentimentos
contraditórios do sujeito poético em relação à civilização industrial.
. Metáforas e imagens:
- "Arde-me a cabeça de vos querer cantar";
- "Grandes trópicos humanos de ferro, fogo e força" (aliteração em «f»);
- "Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável";
- "Nos cafés, oásis de inutilidade ruidosas";
- "Quilhas de chapa de ferro sorrindo".
Estes recursos estilísticos, nos exemplos apresentados, evidenciam a forma
como o sujeito poético vibra com a modernidade, com a civilização industrial
(com a fúria do movimento das máquinas, com a excessiva quantidade de
carvão...).