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“O que é, pois, ficção? Se tantas coisas se agrupam sob esse rótulo, o que há de comum
entre elas? Será que tudo que é ficção para o ocidental o é também para o oriental? O
camponês acredita nas mesmas coisas que o habitante das grandes cidades? A criança e
o adulto têm a mesma visão do mundo? O homem viveu sempre sob o domínio da lógica,
buscando explicar tudo através da causalidade; b aconteceu porque a aconteceu?” (WALTY,
1985, p.10).
“compreender o espaço ocupado pela ficção em nossa sociedade, bem como sua função,
ou funções, nesse meio” (WALTY, 1985, p.11).
“Tem-se como ficção científica as narrativas geralmente verbais ou fílmicas, cujo enredo se
baseia no desenvolvimento científico e nas situações decorrentes de tal desenvolvimento
no tempo e no espaço” (WALTY, 1985, p.12).
“A ideia de ficção ligada à arte remonta a Platão. No livro X da República, o filósofo grego
afirma que a imitação poética está afastada das realidades supremas, as Idéias eternas,
porque a matéria dos poemas são as aparências de um mundo de aparências. Platão diz
ainda que o poeta está afastado da verdade, vive no erro e não tem nenhuma utilidade,
porque faz simulacros com simulacros, isto é, faz a cópia da cópia, a cópia desvirtuada do
real” (WALTY, 1985, p.14).
“A arte seria, então, um mal para a República, e o poeta deveria ser dela expulso a não ser
que cantasse os heróis consagrados” (WALTY, 1985, p.14).
“E é de Aristóteles que vem o conceito de arte como mimese, isto é, imitação da realidade,
ainda hoje base de estudos e pesquisas entre nós” (WALTY, 1985, p.15).
“Ficção seria, pois, criação da imaginação, da fantasia, coisa sem existência real, apenas
imaginária” (WALTY, 1985, p.15).
“O que você talvez não saiba é que essa palavra tão complexa veio do latim fictionem. Sua
raiz era o verbo fingo/fingere – fingir – e este verbo, inicialmente, tinha o significado de tocar
com a mão, modelar na argila. Além disso o verbo, possivelmente, se ligue ao verbo fazer
que, por sua vez, liga-se à palavra poeta, já que, em grego, poiesis significa fazer. O poeta
é, pois, aquele que faz, aquele que cria” (WALTY, 1985, p.16).
“Não seria, pois, a existência da ficção que nos permitiria pôr em causa a realidade tal como
nós a percebemos?” (WALTY, 1985, p.28).
“criar é propor novas ordens, novos sistemas de pensamento, novas maneiras de ver o
mundo; logo, a criação ameaça a ordem instituída, as bases em que a sociedade se apóia”
(WALTY, 1985, p.34).
“Assim pode-se verificar que muitos outros meios podem estar fomentando a fantasia como
forma de alienação. Além dos quadrinhos, das fotonovelas, das historietas de amor, das
revistas eróticas ou pornográficas, o cinema, a chamada literatura e a literatura infantil
podem, em nome da ficção, reduplicar o real instituído, conservando-lhe as máscaras e os
disfarces” (WALTY, 1985, p.41-42).
“a ficção pode ser mais real que o que se quer realidade, e o real pode ser mais ficcional
que o que se quer ficcional” (WALTY, 1985, p.43).
“A arte, a ficção seriam o espaço do questionamento, da dúvida, da eterna pergunta, porque
espaço da criação, da volta à origem, ao estado de comunhão do homem com a natureza,
ao tempo do princípio, em que tudo era criação” (WALTY, 1985, p.46).
“Marcuse propõe uma sociedade em que haja uma interação entre o princípio do prazer e
o princípio da realidade, ou seja, onde o princípio do prazer não se subordine ao princípio
da realidade” (WALTY, 1985, p.46).
“O texto não diz apenas o que seu autor quis dizer, diz muito mais e, lendo-o criticamente,
podemos até virá-lo pelo avesso, quando passará a dizer o contrário do que pretendia”
(WALTY, 1985, p.50).
“o texto ficcional é o simulacro, a potência que nega tanto o modelo quanto a cópia, logo, é
preciso olhá-lo como parte integrante do viver humano, pois, assumindo sua ficcionalidade,
em oposição aos textos que se querem próximos da realidade, tradutores de uma verdade
verificável, ele nos permite discutir a eficiência dos outros textos, evidenciando o que de
ficção existe neles” (WALTY, 1985, p.52).
“a estória, a ficção pode dar uma outra versão da história, uma outra versão da realidade,
ao mesmo tempo que mostra que todos os textos são simples versões dos fatos, contados
de acordo com o ponto de vista do narrador, com a ótica do autor” (WALTY, 1985, p.68).