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FACULDADE FARIAS BRITO

CURSO DE DIREITO

A FALTA DE ESTRUTURA NOS CÁRCERES BRASILEIROS E A


(IM)POSSIBILIDADE DE RESSOCIALIZAÇÃO DOS DETENTOS.

Lucas Nunes Ruchinhaka

FORTALEZA – CE
2015
FACULDADE FARIAS BRITO
CURSO DE DIREITO

A FALTA DE ESTRUTURA NOS CÁRCERES BRASILEIROS E A


(IM)POSSIBILIDADE DE RESSOCIALIZAÇÃO DOS DETENTOS.

Lucas Nunes Ruchinhaka

Monografia apresentada ao Curso de Direito


da Faculdade Farias Brito como critério
parcial para a obtenção do grau de Bacharel
em Direito.

Orientador:
Prof. Roberto Victor Pereira Ribeiro.

FORTALEZA – CE
2015
Esta monografia foi submetida ao Curso de Direito da Faculdade Farias
Brito como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Bacharel em
Direito. Na avaliação da banca este trabalho obteve o conceito ___________________
conferido pelos avaliadores da banca e outorgado pela referida Faculdade.

A citação de qualquer parte desta monografia é permitida, desde que seja


feita de acordo com as normas científicas.

___________________________________
Lucas Nunes Ruchinhaka

Banca examinadora:

___________________________________
Ms. Roberto Victor Pereira Ribeiro

___________________________________
Ms. Renato Espíndola Freire Maia

___________________________________
Ms. João Gabriel Laprovitera
RESUMO

Este trabalho científico tem por objetivo realizar uma análise do sistema penitenciário
brasileiro e das grandes dificuldades enfrentadas por este, o que dificulta a obtenção da tão
desejada ressocialização dos detentos, que atualmente é praticamente algo utópico. Serão
analisados os problemas do cárcere brasileiro, realizando um breve comparativo com
algumas penitenciárias norte-americanas. O trabalho também traz uma análise dos presídios
cearenses, com uma visão construída com pesquisa bibliográfica e, principalmente,
pesquisa de campo. Mostraremos algumas possíveis soluções para os terríveis problemas
enfrentados, como por exemplo o maior investimento por parte do Estado e a utilização do
trabalho e do estudo para o alcance da ressocialização.

Palavras-chave: sistema carcerário, ressocialização, detentos, execução penal, trabalho,


educação.
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, que me iluminou durante o desenvolvimento do presente


trabalho, e a meus pais, que me apoiaram e incentivaram nesta grata, porém árdua etapa.

Agradeço, ainda, a meu orientador, o professor Roberto Victor, que me guiou e deu
diversas dicas, tornando-se fundamental para a conclusão deste trabalho, e a todos os meus
amigos, que durante este longo período de faculdade, compartilharam diversos momentos,
experiências e conhecimentos.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................7

1. A EVOLUÇÃO ESTRUTURAL E CONCEITUAL DO CÁRCERE...........10


1.1.Conceito e Teorias da Pena..............................................................................10
1.1.1.Teoria Retributiva.........................................................................................11
1.1.2.Teoria Preventiva..........................................................................................11
1.1.3.Teoria Mista..................................................................................................12
1.2.História e Evolução da Pena de Prisão..........................................................14
1.2.1.Na Antiguidade.............................................................................................14
1.2.2.Na Idade Média.............................................................................................16
1.2.3.Na Idade Moderna........................................................................................18
1.2.4.A Pena Privativa de Liberdade – Surgimento do Panoptismo
e dos Sistemas Penitenciários.................................................................................19

2. O SISTEMA PENITENCIÁRIO E SEUS MODELOS..................................25


2.1. Sistema Cidades Refúgios...............................................................................25
2.2. Sistema Pensilvânico........................................................................................27
2.3. Sistema Auburniano.........................................................................................30
2.4. Sistema Progressivo..........................................................................................33

3. A ESTRUTURA DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO E OS


PROBLEMAS PA PARA A OBTENÇÃO DA RESSOCIALIZAÇÃO...........39
3.1. Os Direitos Essenciais dos Presos e o Desrespeito a Este.............................40
3.2.A Superlotação do Sistema Penitenciário......................................................41
3.2.1. A Grande Quantidade de Presos Provisórios no
Sistema Carcerário Brasileiro...............................................................................43
3.2.2. A Falta de Estrutura no Sistema de Progressão de Regime....................45
3.3. A Não Separação dos Detentos como Prevê a Lei.......................................45
3.4. O Perfil do Preso no Sistema Penitenciário..................................................46
3.5. O Desrespeito à Dignidade Humana do Preso.............................................47
3.5.1. A Precariedade das Condições de Saúde, Higiene
e Alimentação.........................................................................................................48
3.6. A Reincidência Delitiva..................................................................................49
3.6.1. A Não Existência de Ressocialização, o Difícil Retorno
ao Convívio Social e a Reincidência Delitiva......................................................51

4. A ESTRUTURA DAS PENITENCIÁRIAS NORTE-AMERICANAS


EM COMPARAÇÃO COM AS PENITENCIÁRIAS BRASILEIRAS........55
4.1. O Modelo de Privatização das Penitenciárias nos
Estados Unidos e no Brasil.................................................................................55
4.2. A estrutura nas penitenciárias norte-americanas......................................61
4.3. A estrutura nas penitenciárias brasileiras.................................................65

CONCLUSÃO....................................................................................................73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................80
7

INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca realizar uma análise sobre o sistema


penitenciário brasileiro e a (im)possibilidade de ressocialização do indivíduo que se
encontra encarcerado nos presídios do nosso país, analisando as dificuldades que existem,
como enfrentá-lo se traçando o papel do Estado para que tenhamos uma execução da pena e
que seja possível o alcance da ressocialização.

Esta análise do sistema penitenciário brasileiro é de fundamental


importância, tendo em vista a grande crise que enfrentamos atualmente, sendo considerados
por muitos estudiosos que nosso sistema penitenciário encontra-se em estado de falência.

Os principais problemas encontrados no sistema carcerário são: a falta de


investimento do poder público, pois os políticos não encontram interesse em investir na
melhoria das condições carcerárias pois não é algo que lhe propicie votos , já que muitas
pessoas ainda acabam caindo na política do “pão e circo”, não se importando com graves
problemas que não lhes atinjam diretamente, e se satisfazendo com medidas que lhes
forneçam um pouco de entretenimento. Por isso, os investimentos com o cárcere são
sempre deixados em segundo plano.

Os outros problemas são a superlotação dos cárceres em todo o Brasil,


falta de funcionários para trabalhar e organizar os presídios, falta da estrutura quanto saúde,
higiene e respeito aos direitos fundamentais dos detentos, pouco amparo ao Poder
Judiciário, a incoerência deste no momento de decretar prisões provisórias, péssima
assistência jurídica aos presos e a tão temível reincidência, que possui um índice gigantesco
no Brasil.

Sugerimos algumas medidas para que o Estado as realize, como por


exemplo o maior investimento e incentivo ao trabalho e estudo do indivíduo que se
encontra encarcerado, além de diminuir o descaso do Estado para com a população
carcerária, um maior investimento com o pessoal e com a estrutura dos cárceres, respeito à
dignidade do detento, dentro os demais direitos que lhe são assegurados na constituição.
8

Outras medidas que podem ser adotadas são a criação de mais


estabelecimentos de cumprimento de pena em regime semiaberto e no aberto, que existem
pouquíssimos espalhados no Brasil, e uma possível reformulação do direito penal, para que
este realmente se adeque ao princípio constitucional da última ratio, ocorrendo uma melhor
proporcionalidade com o delito e quantidade da pena cominada a este, além da busca de
ampliação da substituição das penas privativas de liberdade por penas restritivas de direito.

Este tema possui uma importância geral, ou seja, os problemas do sistema


penitenciário atingem a todos, seja diretamente ou indiretamente, pois o indivíduo que hoje
vai para o cárcere pela primeira vez, sem experiência alguma no mundo do crime, que
muitas vezes cometeu o crime em razão da desigualdade social que se encontra enraizada
em nosso país ou por uma má escolha que ele tomou de forma isolada, acaba encontrando
um sistema desumano, onde a ressocialização fica apenas no mundo teórico, e com
convívio permanente com vários outros sujeitos com vasta experiência na pratica delitiva,
fazendo com que ao retornar ao convívio social, após o cumprimento de sua pena, volte
pior do que quando fora preso, e muitas vezes ao voltar à sociedade não consegue se
readaptar e acaba tornando à pratica delitiva, agora com a “especialização” adquirida dentro
do presídio.

O trabalho foi desenvolvido com uma metodologia de pesquisa, tanto


científica quanto de campo. A pesquisa científica se deu com o estudo de várias obras de
estudiosos da ciência penal e do mundo penitenciário, entre eles o renomado filósofo
Michel Foucault, os juristas Cezar Roberto Bitencourt, Rogério Greco, César Barros Leal,
Cesare Beccaria, entre outros, além da realizada em outros trabalhos científicos sobre o
assunto.

A pesquisa de campo se baseou em diversas visitas aos presídios


localizados no estado do Ceará, como o localizado na cidade de Caucaia, conhecido como
Carrapicho, e os presídios localizados em Itaitinga, tanto as 4 (quatro) casas de privação de
liberdade destinadas aos detentos masculinos: Instituto Penal Professor Olavo Oliveira II
(CPPL I), Casa de Privação de Liberdade Provisória Professor Clodoaldo Pinto (CPPL II),
Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Jucá Neto (CPPL III), Casa de
9

Privação Provisória de Liberdade Agente Elias Alves da Silva (CPPL IV) e a destinada às
detentas femininas: Instituto Penal Feminino – Desembargadora Auri Moura Costa.

As visitas se deram durante os períodos de agosto de 2014 à abril de


2015, enquanto funcionava como estagiário da defensoria pública, em conjunto com a
Defensoria Pública do Estado do Ceará, para prestar serviço de amparo aos detentos que lá
estavam e onde foram observadas diversas injustiças e um enorme desrespeito com os
presos, sendo alguns desses casos narrados ao longo do trabalho.

A composição do trabalho se dará em 4 (quatro) capítulos e uma


conclusão, sendo o primeiro destinado ao estudo sobre a evolução do conceito e da
estruturas do cárcere no mundo, o segundo capitulo trata do nascimento do sistema
penitenciário, além de seus tipos e evoluções, até o que temos atualmente, o terceiro
capitulo visa a análise da estrutura do sistema penitenciário do Brasil e o levantamento dos
principais problemas enfrentados, o quarto capítulo traremos uma comparação entre a
estrutura das penitenciárias localizadas nos Estados Unidos e as localizadas no Brasil, em
especial as do Estado do Ceará, por fim trazemos a conclusão com a sugestão de algumas
soluções para os problemas enfrentados em nossas penitenciárias.
10

CAPÍTULO 1: A EVOLUÇÃO CONCEITUAL E ESTRUTURAL DO CÁRCERE.

O cárcere sofreu várias evoluções desde a antiguidade até os tempos


atuais, antes ele sequer era considerado uma pena, já atualmente é o tipo de pena mais
utilizado. Neste capítulo abordaremos sobre o conceito e as teorias da pena, para
posteriormente analisarmos as transformações que o cárcere veio a sofrer.

1.1.Conceito e Teorias da Pena.

Para melhor entender sobre o cárcere e a utilização dele como pena é


importante compreender alguns conceitos básicos sobre pena e as suas teorias.

Pena, do latim poena, é o modo de repressão, pelo poder público, à


violação da ordem social. Consiste na punição imposta pelo Estado ao delinquente.

O Estado foi criado para regular o convívio social e o direito penal surgiu
para proteger os bens jurídicos através de suas normas jurídicas, que possuem dois
elementos essenciais, o preceito e cominação da pena, ou seja, a delimitação das condutas
prejudiciais para o bem estar social e a determinação de uma penalidade para aqueles que
transgridam o preceito (cometem uma conduta legalmente proibida; é aqui que temos o jus
puniendi, ou seja, o direito de punir do Estado.

Ora, se as normas jurídicas foram criadas pelo próprio Estado, caberá


exclusivamente a ele o poder de punir. Este jus puniendi é a manifestação da soberania do
Estado, que através da coação (outro elemento que cabe exclusivamente ao Estado) se
impõe perante qualquer indivíduo que cometa um ilícito aplicando a este uma pena pré-
estabelecida. Contudo é de fundamental importância saber que este jus puniendi não é
absoluto, existindo limites estabelecidos por lei e até mesmo pela própria Constituição
Federal, limites estes que serão explorados posteriormente no presente trabalho.

A existência da pena é de fundamental importância para o convívio


social, pois ela, em tese, tem o dever de retribuir o mal causado e fazer com que o infrator
não torne a delinquir, porém Beccaria, em sua obra dos Delitos e das Penas, nos traz uma
importante lição:
11

É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los; e todo


legislador sábio deve procurar antes impedir o mal do que
repará-lo, pois uma boa legislação não é senão a arte de
proporcionar aos homens o maior bem estar possível e
preservá-los de todos os sofrimentos que se lhes possam
causar, segundo o cálculo dos bens e dos males da vida.1

De forma geral temos 3 (três) principais teorias da pena: teoria retributiva,


teoria preventiva e teoria mista.

1.1.1.Teoria Retributiva

Segundo o pensamento defendido pela teoria retributiva, a pena é


atribuída com o dever de garantir e realizar a Justiça, compensando a culpa do autor com a
imposição de um mal a ele, visto que “o fundamento da sanção estatal está no questionável
livre-arbítrio, entendido como a capacidade de decisão do homem para distinguir entre o
justo e o injusto”2, pois é de responsabilidade do indivíduo o cumprimento do contrato
social.

Enfim, a pena retributiva esgota o seu sentido no mal que se faz sofrer ao
delinquente como compensação ou expiação do mal do crime; nesta medida é uma doutrina
puramente social-negativa que acaba por se revelar estranha e inimiga de qualquer tentativa
de socialização do delinquente e de restauração da paz jurídica da comunidade afetada pelo
crime. Aqui temos o punir por punir, ato momentâneo, sem pensar nas consequências
futuras.

1.1.2.Teoria Preventiva

De acordo com a teoria preventiva a pena não visa a retribuir o crime


cometido, mas sim a prevenção da sua prática tanto quanto possível. O autor do delito seria
punido não pelo simples fato de ter delinquido, mas para que se abstivesse de cometer
novos crimes. A formulação mais antiga das teorias preventivas é atribuída à Sêneca, um

1
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas, Bauru, Edipro, 1997. p. 27.
2BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, v. 1. 11. ed. São Paulo: Saraiva,
2007, pg. 83.
12

dos mais célebres intelectuais do Império Romano, que afirmou: “nenhuma pessoa
responsável castiga pelo pecado cometido, mas sim para que não volte a pecar”3. Portanto
temos que a necessidade da pena não se fundamenta apenas na ideia de realizar justiça, mas
na função de evitar a prática de novos crimes.

Podem subdividir-se em teoria preventiva especial e teoria preventiva


geral.

1.1.2.1 Teoria Preventiva Geral

A teoria preventiva geral está direcionada à generalidade dos cidadãos,


esperando que a ameaça de uma pena, e sua imposição e execução, por um lado, sirva para
intimidar aos delinquentes potenciais (concepção estrita o negativa da prevenção geral), e,
por outro lado, sirva para robustecer a consciência jurídica dos cidadãos e sua confiança e
fé no Direito (concepção ampla ou positiva da prevenção geral).

1.1.2.2. Teoria Preventiva Especial

A teoria preventiva especial está direcionada ao delinquente concreto


castigado com uma pena. Têm por denominador comum a ideia de que a pena é um
instrumento de atuação preventiva sobre a pessoa do delinquente, com o fim de evitar que,
no futuro ele cometa novos crimes. Deste modo, deve-se falar de uma finalidade de
prevenção da reincidência.

Essa teoria não busca retribuir o fato passado, senão justificar a pena com
o fim de prevenir novos delitos do autor. Portanto, diferencia-se, basicamente, da prevenção
geral, em virtude de que o fato não se dirige a coletividade. Ou seja, o fato se dirige a uma
pessoa determinada que é o sujeito delinquente. Deste modo, a pretensão desta teoria é
evitar que aquele que delinquiu volte a delinquir.

1.1.3 Teoria Mista

3
HASSEMER, 1984 apud BITENCOURT, 2007, p. 89
13

Por fim temos a teoria mista que surgiu na Alemanha, no início do século
XX, que em razão das insuficiências constatadas nas teorias de retribuição e prevenção,
busca agrupar em um conceito único os fins retributivos e preventivos da pena,
considerando que a retribuição e a prevenção são apenas aspectos distintos que compõem a
pena.

Bitencourt4. explica que a teoria mista centraliza o fim do Direito Penal


na ideia de prevenção, pois entende que a função do ordenamento jurídico é, antes de tudo,
a defesa social, enquanto que o fim retributivo é aceito apenas como limitador, máximo e
mínimo, da intervenção da pena como sanção jurídico-penal, seja pelos critérios de
culpabilidade ou de proporcionalidade.

Portanto, esta tese consegue reunir o que existe de mais coerente nas
teorias retributiva e preventiva e de fazer com que estas compensem determinadas falhas
entre si (a pena não é mero castigo ou ameaça), motivo este que é a tese mais aceita
atualmente, inclusive no Brasil, prevista no art. 59 do Código Penal Brasileiro:

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes,


à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às
circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao
comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime
[...]5

Temos que nosso ordenamento jurídico aceita a retribuição como um dos


fins da pena pela reprovação do crime, mas não deixa de considerar a prevenção como um
objetivo que deve ser alcançado pelo sistema sancionador, ou seja, a pena deverá buscar
evitar futuras práticas de crimes a partir da intimidação criada pela lei positivada bem
como a ressocialização daqueles que já cometeram delitos , para que assim não tornem a
delinquir.

4BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, v. 1. 11. ed. São Paulo: Saraiva,
2007, pg. 96.

5
BRASIL. Decreto Lei 2.848/40, de 07 de dezembro de 1940, Código Penal Brasileiro, art. 59.
14

Antigamente a privação da liberdade não era sequer considerada um tipo


de pena, era apenas um instrumento que servia somente aos objetivos de contenção e
guarda dos réus, para preservá-los fisicamente até o momento de serem julgados ou
executados. Foi a partir do Iluminismo, período em que se humanizaram as penas, ou seja,
desde o momento em que a prevenção, em conjunto com a retribuição, e não apenas a
retribuição (como era antes), passaram a ser o fim buscado ao se aplicar a pena, que a
privação da liberdade como punição passou a ser a pena por excelência.

Temos que o surgimento da prisão como um tipo de pena está bastante


ligado à atuação da religião na humanização dos infratores, de modo que as primeiras
experiências carcerárias foram realizadas por eclesiásticos que possuíam a intenção de
corrigir os homens sem tirar-lhes a dignidade. Daí o termo penitenciária, oriundo da palavra
penitência, isto é, o reconhecimento pelo preso do crime cometido, a confissão, o
arrependimento e a aceitação da punição.

1.2. História e Evolução da Pena de Prisão

Desde que a sociedade passou a ser composta de grupos cada vez mais
numerosos, a preocupação com a segurança, integridade física e mental dos indivíduos,
garantia patrimonial e a estabilidade do convívio social (paz pública) vem aumentando. As
pessoas que cometem atos que atentem contra estes elementos estão agindo ilicitamente e
devem ser punidos, e ao longo do tempo as punições se deram de diversas formas.

1.2.1. Na Antiguidade

Na antiguidade a pena tinha como finalidade a realização da justiça


através da punição daquele que violou as normas de convívio social, ou seja, aqui a pena
tinha caráter meramente retributivo. Não se tinha como objetivo a correção do infrator nem
o impedimento para que ele não tornasse a delinquir.

A punição consistia em pura vingança ao ato ilícito praticado; consistia


em infligir ao delinquente o mal que causou na medida da gravidade do crime cometido,
semelhante ao que era previsto na lei de talião ( “olho por olho, dente por dente”).
15

A preferência neste tempo era pela imposição de dor física ao


delinquente, sendo considerado uma forma justa de retribuição pelo dano que ele causou.
As prisões não eram consideradas um tipo de pena, serviam apenas como forma de custódia
do infrator, ele era mantido encarcerado até que fosse julgado ou que fosse cumprida sua
pena, as quais se resumiam em pena de morte, penas corporais e penas infamantes, como
nos confirma Bitencourt:

Até fins do século XVIII a prisão serviu somente aos


objetivos de contenção e guarda dos réus, para preservá-los
fisicamente até o momento de serem julgados ou executados.
Recorria-se, durante esse longo período histórico,
fundamentalmente, à pena de morte, às penas corporais
(mutilações e açoites) e às infamantes.6

A antiguidade desconheceu completamente a privação de liberdade como


uma sanção penal. Sabemos que o encarceramento de infratores sempre existiu, no entanto
não tinha caráter punitivo, ocorria para assegurar o cumprimento da verdadeira pena, como
dito anteriormente, outra finalidade do cárcere muito usada por gregos e romanos era a
prisão por dívida, que consistia numa forma de obrigar o devedor a saldar seu débito para
que fosse solto, mas tinha caráter de meio de coerção civil, e não criminal.

O professor e doutrinador Roberto Victor Ribeiro leciona:

A detenção no direito grego tinha dois formatos; dois viés. O


primeiro era a forma de punir o infrator, geralmente o
devedor, deixando esse por meses ou anos em cadeias
fechadas, libertando-o no final da pena prevista na
condenação. O segundo era o viés acautelatório, ou prisão em
manutenção como era chamado pelos gregos. Era a prisão
por qual passou Sócrates, esperando o dia para cumprir a
execução de sua pena de morte decretada em julgamento7.

6BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 04

7
RIBEIRO, Roberto Victor Pereira. Manual de História do Direito. São Paulo: Pillares, 2014, p. 170
16

1.2.2.Na Idade Média

O fim da Antiguidade é marcado pela queda do Império Romano e a


tomada da Europa pelos povos germânicos a partir das chamadas invasões bárbaras.
Durante este período de instabilidade política os governantes fizeram bastante uso da lei
penal, objetivando suas manutenções no poder, através de suplícios, torturas, amputações e
execuções públicas, para que a sociedade se sentisse intimidade e para outros servia como
forma de distração para a população.

Durante a Idade Media também não tivemos o desenvolvimento


consolidado da ideia de uma pena privativa de liberdade, ou seja, a prisão continuou tendo
como fim a custódia do delinquente, a diferença aqui é que estes locais onde se guardavam
os réus servia como uma arena de espetáculo, onde ficavam aguardando para serem
executados brutalmente.

Michel Foucault nos traz um exemplo de que as penas continuavam a ser


brutais, em sua obra “Vigiar e Punir”:

Apresentamos exemplo de suplício e de utilização do tempo.


Eles não sancionam os mesmos crimes, não punem o mesmo
gênero de delinquentes. Mas definem bem, cada um deles,
um certo estilo penal. Menos de um século medeia entre
ambos. desapareceu o corpo supliciado, esquartejado,
amputado, marcado simbolicamente no rosto ou no ombro,
exposto vivo ou morto, dado como espetáculo. Desapareceu
o corpo como alvo principal da repreensão penal.
Desapareceu o corpo supliciado, esquartejado, amputado,
marcado simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo
ou morto, dado como espetáculo. Desapareceu o corpo como
alvo principal da repreensão penal.8

Nessa época surgiram duas espécies de prisão que, embora não fossem
penas privativas de liberdade nos moldes que conhecemos, exerceriam grande influência na
constituição da prisão-pena: a prisão de Estado e a prisão eclesiástica.

8
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. 40 ed. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 12.
17

Para Bitencourt9, na prisão de Estado “somente podiam ser recolhidos os


inimigos do poder, real ou senhorial, que tivessem cometido delitos de traição, e os
adversários políticos dos governantes”. Existiam dois tipos de prisão de Estado: a prisão-
custódia, a qual o réu aguardava pela execução da pena aplicada (normalmente mutilações,
açoite, morte etc.), e a detenção temporal ou perpétua, que variavam conforme a gravidade
do crime, estando o réu sujeito ainda ao perdão real.

A prisão eclesiástica era destinada “aos clérigos rebeldes e respondia às


ideias de caridade, redenção e fraternidade da Igreja, dando ao internamento um sentido de
penitência e meditação”10. Os infratores eram recolhidos em uma ala dos mosteiros para
que, por meio da oração e da penitência, se arrependessem dos seus pecados e se
corrigissem; no entanto, as condições das masmorras eram tão precárias e a flagelação tão
intensa que muitos morriam por lá.

O direito medieval caracterizou-se por ser ordálico e profundamente


corrompido, tínhamos que a inocência ou culpa dos acusados eram determinadas mediante
as provas da natureza e seriam julgados por Deus, o réu era submetido ao fogo, à água
fervente ou ao ferro em brasa e, caso viesse a falecer, seria porque Deus o abandonou em
decorrência do pecado que cometera.

Sobre ordálio Roberto Victor Ribeiro comenta:

Era muito usado nos casos em que não havia provas e o


acusado protestava sua inocência. O indivíduo que mais
usava essa prova de inocência era a mulher acusada de
adultério pelo marido. A prova se constituía na ingestão de
uma água colhida numa tigela de barro e o sacerdote
acrescentava um pouco de pó tirado da parte mais intima do
santuário. O acusado que ingerisse o líquido e não sentisse

9BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 09.

10
BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 10.
18

nada em seu interior, ou que não ficasse com o ventre


protuberante e nem os quadris flácidos, ficava livre de toda e
qualquer atribuição criminosa. Mas se tivesse culpa no crime,
Deus no alto de sua potência celestial enviaria uma doença
grave para o acusado.11

A ideologia cristã, que dominou durante o período da Idade Média, teve


uma influencia determinantemente na evolução das penas e na consolidação da prisão no
direito secular. A ideia de que a oração, o arrependimento e o castigo eram elementos
fundamentais para a correção do indivíduo e que contribuía muito mais do que a simples
dureza do castigo fez com que estes elementos constituíssem as bases dos primeiros
sistemas penitenciários, que acabaram por incorporar as práticas e métodos como por
exemplo o isolamento celular, a escuridão, o jejum e o silêncio como parte do processo de
correção do criminoso.

Daí o surgimento da conceição de pena medicinal, que era o fundamento


base das penas canônicas, significava a salvação, a correção da alma do infrator por meio
do arrependimento sincero perante à Deus e da compreensão de seus atos.

1.2.3.Na Idade Moderna

Com a queda do feudalismo, ocorreu a migração das pessoas do campo


para a cidade e com isso o crescimento da população urbana, que combinado com as
guerras e a pobreza causaram uma impactante mudança de cenário na Europa em fins do
século XVII e início do século XVIII, o que ocasionou um enorme aumento na
criminalidade.

No fim do século XVI, na Inglaterra, surgiu um modelo alternativo de


punição, a utilização das workhouses, casas de trabalho destinada à correção de ociosos e
pequenos delinquentes nascida da união de várias paróquias da cidade de Bristol. Nestas
casas internavam-se os pobres, desempregados, loucos e delinquentes, buscando a

11
RIBEIRO, Roberto Victor Pereira. O Julgamento de Jesus Cristo sob a luz do Direito. São Paulo:
Pillares, 2010, p. 60
19

retificação do sujeito por meio de trabalhos, na maioria das vezes, penosos e de instrução
religiosa.

Segundo Bitencourt a utilização da mão de obra do recluso, demostra a


clara relação do presos com a economia, em uma época de crise:

O desenvolvimento e o auge das casas de trabalho terminam


por estabelecer uma prova evidente sobre as íntimas relações
que existem, ao menos em suas origens, entre a prisão e a
utilização da mão-de-obra do recluso, bem como a conexão
com as suas condições de oferta e procura.12

Este modelo das workhouses vigorou durante muito tempo e foi


predecessor do que chamamos hoje de manicômio.

No fim do século XVI surgiram na Holanda, na cidade de Amsterdam,


casas de internação e correção bastante similares às workhouses inglesas, uma delas era
destinada somente a homens, chamada de rasphuis, e outra apenas para mulheres, chamada
de spinhis, e, algum tempo depois foi criado uma seção especial apenas para os jovens
infratores. Estas casas holandesas tinham o mesmo objetivo, das workhouses, que era o de
corrigir os pequenos delitos; já que os delitos mais graves continuavam a ser combatidos
com as penais usuais à época, como o açoite, o exílio, o pelourinho, a morte e outras penas
corporais.

Apesar das casas holandesas e das inglesas possuírem um uso limitado,


em decorrência de tratarem apenas os pequenos delitos, foram de grande importância para a
construção do conceito da pena privativa de liberdade moderna.

1.2.4. A Pena Privativa de Liberdade – Surgimento do Panoptismo e dos Sistemas


Penitenciários

A partir do Iluminismo, com a valorização da razão e o retorno do


antropocentrismo, surgiram mudanças fundamentais no modo de se enxergar o homem e

12BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 17.
20

partindo deste ponto vislumbrou-se a necessidade de se racionalizar e humanizar as penas


impostas aos infratores, buscando a preservação da dignidade e de outros direitos
fundamentais dos infratores e a possibilidade de um retorno ao convívio social. Em
decorrência destas transformações e da valorização do homem e de seus direitos, as penas
corporais e a pena de morte foram rigorosamente criticadas por diversos pensadores, e a
necessidade de reformar o sistema punitivo tornou-se imprescindível e imediata.

O respeitado jurista Roberto Victor Ribeiro traz seu pensamento a


respeito das penas corporais:

É fácil a equação matemática que devemos aplicar hoje. Não


precisamos atacar o corpo material, muito menos o
psicológico moral, é fácil, basta demonstrar aos delinquentes
o caminho certo. Todos merecem chances. Ainda mais em
um País onde a desigualdade é extrema e as oportunidades
são rarefeitas, para não dizer, monopolizadas por uma ou
duas frações de indivíduos da sociedade.13

Podemos dizer que as 3 (três) principais causas para a mudança no


conceito da prisão, ou seja, de uma prisão de custódia para uma prisão com caráter
penalizante, seriam: I- a valorização da liberdade e do racionalismo a partir do século XVI,
o que fez com que a pena de morte e as penas corporais perdessem espaço paulatinamente
até o apogeu da crise destas penas vindo com o surgimento do Iluminismo; II- a crise da
pena de morte, pois era ineficaz e irracional sua utilização após o crescimento da
criminalidade e da pobreza pois geraria um massacre e não solucionaria o problema; III- o
aspecto econômico, tendo em vista que um dos fundamentos para a ressocialização do
infrator seria o trabalho, ou seja, a prisão servia como uma captadora de mão-de-obra barata
para combater a crise financeira e o crescimento da pobreza que assombravam a Europa.

Foi no século XVIII que o jurista Jeremy Bentham, um dos defensores da


humanização das prisões, deu uma enorme e revolucionária colaboração à arquitetura
penitenciária, com a idealização do modelo panóptico.

13
Disponível em:< http://profrobertovictor.jusbrasil.com.br/artigos/121943031/vigiar-e-punir-ideias-sociais-
e-juridicas-na-obra-de-foucault > Acesso em 02 de maio de 2015.
21

De acordo com sua própria descrição, o panóptico é:

[...] Uma casa de Penitência. Segundo o plano que lhes


proponho, deveria ser um edifício circular, ou melhor
dizendo, dois edifícios encaixados um no outro. Os quartos
dos presos formariam o edifício da circunferência com seis
andares, e podemos imaginar esses quartos com umas
pequenas celas abertas pela parte interna, porque uma grade
de ferro bastante larga os deixa inteiramente à vista. Uma
galeria em cada andar serve para a comunicação e cada
pequena cela tem uma porta que se abre para a galeria. Uma
torre ocupa o centro, que é o lugar dos inspetores: mas a torre
não está dividida em mais do que três andares, porque está
disposta de forma que cada um domine plenamente dois
andares de celas. A torre de inspeção está também rodeada de
uma galeria coberta com uma gelosia transparente que
permite ao inspetor registrar todas as celas sem ser visto.
Com uma simples olhada vê um terço dos presos e
movimentando-se em um pequeno espaço pode ver a todos
em um minuto. Embora ausente a sensação da sua presença é
tão eficaz como se estivesse presente. [...] Todo o edifício é
como uma colmeia, cujas pequenas cavidades podem ser
vistas todas de um ponto central. O inspetor invisível reina
como um espírito.14

O desenho arquitetônico do panóptico tem por objetivo a segurança


interna e externa do estabelecimento, além de impor uma tecnologia de dominação, fazendo
com que os detentos se sentissem a todo instante observados e acabava produzindo a
submissão forçada dos internos. Além destes fatores, o plano original de Bentham era que o
panóptico propiciasse a correção do preso, em razão disto que ele era contrário à existência
do isolamento carcerário constante, pois defendia que para o preso melhorar ele deve estar
em contato com os outros, ou seja, os presos deveriam ser reunidos em pequenos grupos,
cujos componentes seriam previamente determinados de acordo com seu grau de
perversidade e periculosidade, a fim de que essas pequenas associações permitissem uma
reforma mútua entre os infratores.

Roberto Victor exclama: “O modelo panóptico é aquele que apresenta


duas características marcantes: visibilidade e inverificabilidade. Deve ser visível para os

14BENTHAM, 1979 apud BITENCOURT. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 3. ed. São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 17.
22

que estão sendo observados e ao mesmo tempo ser inverificável o teor de suas
observações”15.

Michel Foucault, em sua obra “Vigiar e Punir”, traz que o panóptico de


Bentham possui uma função que vai muito além das prisões: é um instrumento que permite
a automatização e a desindividualização do poder, que acaba facilitando a dominação e a
submissão dos indivíduos que estão sendo observados em diversos contextos e locais da
sociedade, como por exemplo em hospitais, escolas, shoppings, entre outros.

Daí o efeito mais importante do Panóptico: induzir no


detento um estado consciente e permanente de visibilidade
que assegura o funcionamento automático do poder. Fazer
com que a vigilância seja permanente em seus efeitos,
mesmo se é descontínua em sua ação; que a perfeição do
poder tenda a tornar inútil a atualidade de seu exercício; que
esse aparelho arquitetural seja uma máquina de criar e
sustentar uma relação de poder independente daquele que o
exerce; enfim, que os detentos se encontrem presos numa
situação de poder de que eles mesmos são os portadores. [...]
O Panóptico é uma máquina de dissociar o par ver-ser visto:
no anel periférico, se é totalmente visto, sem nunca ver; na
torre central, vê-se tudo, sem nunca ser visto.16

Temos que com as instituições panópticas começam a existir uma relação


de respeito através do medo e do jogo psicológico entre o infrator e aquele que está lhe
observando. Aqui temos o exercício do poder sem a necessidade de utilizar amarras e
algemas; basta que o preso observado perceba que está submetido ao campo de visibilidade
do observador, então, mediante este jogo psicológico, ele mesmo se sujeitará
espontaneamente à relação de poder.

Foulcoult cita que Bentham acreditava que o trabalho era fundamental


para a correção do delito, mas este devia ser proveitoso e não um trabalho penoso e inútil.

15 RIBEIRO, Roberto Victor Pereira. Vigilância Constante. São Paulo: Revista Visão Jurídica, Ed. 89, 2013,
p. 45

16FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 34. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007, p. 166-
167.
23

Bentham acreditava também no trabalho como meio de


reforma dos delinquentes, pois seria a única forma de
conseguirem ter uma vida honrada fora da prisão após sua
libertação; assim, opunha-se frontalmente aos trabalhos
penosos e inúteis, entendendo que o trabalho deveria ser
produtivo e atrativo. Por outro lado, afirmava que a prisão
deveria valer-se da severidade no trato com o preso - por
exemplo, na comida de má qualidade, nas vestimentas
humilhantes e na disciplina rígida -, pois entendia que a vida
no estabelecimento prisional deveria ser de privações e
limitações. Isso se dava porque acreditava que o interno
pobre não poderia gozar de condições de vida melhores que
os indivíduos de mesma classe que vivem em um estado de
inocência e liberdade.17

O panóptico não se desenvolveu completamente de acordo com a


ideologia e planos de Bentham, mas deu origem a diversos modelos semelhantes hoje
utilizados principalmente nos EUA e em algumas poucas prisões espalhadas pelo mundo,
além de ter sido determinante na história da prisão, pois foi o marco inicial dos estudos
arquitetônicos dedicados à questão penitenciária desde então, dando origem inclusive ao
desenho radial que hoje se adota largamente em vários presídios do mundo.

Foi então que surgiram os sistemas penitenciários e com eles as


penitenciárias, que eram locais estruturados e especializadas para aplicação da pena de
restrição de liberdade. Estes sistemas foram evoluindo de acordo com a necessidade e a
realidade histórica do início do século XVIII até os dias atuais. Os sistemas penitenciários
são: o sistema filadelfico ou celular, o sistema auburniano e o sistema progressivo, que é o
que temos atualmente. A partir do surgimento dos sistemas penitenciários temos a prisão
como a pena regra a ser aplicada. Estes sistemas serão abordados e estudados mais
detalhadamente no capítulo seguinte do presente trabalho.

Atualmente o Brasil figura o 3º lugar dentre os países do mundo com


maior população carcerária, possuindo 711.463 presos, segundo dados fornecidos pelo
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no dia 04 de junho de 2014, destes presos temos
147.937 pessoas em prisão domiciliar. Destes números também temos diversos presos

17BENTHAM, 1979 apud BITENCOURT. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 3. ed. São
Paulo: Saraiva, 2004, p.53.
24

provisórios, pois em decorrência da crise na segurança e o aumento da criminalidade, os


juízes estão mantendo os infratores presos provisoriamente, mesmo nos casos em que não
há motivos para a prisão antes de uma futura e provável condenação18.

Estes números são apenas alguns reflexos do nosso sistema penitenciário


atual, que está em estado de falência. O sistema penitenciário e a pena de prisão são
fundamentais para o convívio em sociedade, porém, no Brasil, ele não está sendo eficaz, e o
principal motivo disto é falta de investimento e estrutura, além da não preocupação com a
educação e ressocialização do indivíduo infrator, ressocialização esta que, em tese, seria um
dos fundamentos da aplicação da pena de prisão e que atualmente no Brasil é inexistente,
este tema voltará a ser debatido com mais profundidade no capítulo 3 (três) do presente
trabalho.

18
“CNJ divulga dados sobre nova população carcerária brasileira”. CNJ, Junho de 2014. Disponível
em:<http://cnj.jus.br/component/acymailing/archive/view/listid-4-boletim-do-magistrado/mailid-5632-
boletim-do-magistrado-09062014>, acessado em 13/06/2015 às 12:40min.
25

CAPÍTULO 2: O SISTEMA PENITENCIÁRIO E SEUS MODELOS

Como dito no capítulo anterior, antigamente a prisão servia apenas como


medida para garantir a futura e real punição para os sujeitos que cometiam crimes. O
sistema penitenciário, ou seja, estabelecimentos organizados como casas de detenção, para
abrigar e punir pessoas delinquentes, só veio começar a surgir no século XVIII nos Estados
Unidos.

O sistema penitenciário brasileiro é inspirado nestes estabelecimentos


norte-americanos, os quais foram o marco para o inicio das penas privativas de liberdade,
ou seja, a prisão como forma de punir. Podemos destacar quatro principais sistemas
penitenciários que marcaram a história da evolução do cárcere, são eles: sistema das
cidades refúgios, sistema pensilvânico, sistema auburniano e o sistema progressivo. Sendo
que este último é o que ainda está em vigor na maior parte do mundo.

2.1.Sistema Cidades Refúgios:

O sistema de cidades refúgios foi, de certa forma, o modelo antigo mais


próximo de sistema penitenciário a existir no mundo. Estas cidades, na maioria das vezes,
eram situadas em locais bem distantes das cidades principais, algumas no meio do deserto.
Quando um indivíduo cometia um crime de forma culposa, ou seja, quando não tinha a
intenção de cometê-lo, poderia fugir da sua cidade e exilar-se nas cidades refúgios, para se
esconder da família ou grupo social em que a vítima pertencia e evitar uma possível
vingança por conta do crime cometido.

Ao chegar à cidade refúgio o criminoso deveria provar aos anciões da


cidade que o crime que ele havia praticado tinha sido de forma culposa, para que fosse
permitida a sua entrada é garantida sua proteção.

Para que o delinquente voltasse para sua cidade e pudesse novamente


viver com seus familiares, perfaziam-se muitos anos, e era necessário que algum familiar
dele viesse até a cidade refúgio para informar que os familiares da vítima tinham morrido,
26

ou esqueceram do fato ou em caso de perdão. Destarte, então, o criminoso poderia voltar


para sua cidade natal.

Este costume baseava-se, também, nos ensinamentos religiosos, tendo


inclusive previsão na Bíblia Sagrada, na qual contém as primeiras cidades refúgios, como
elas funcionavam e como seria o procedimento para entrar e conseguir a proteção dentro
delas, vejamos a seguinte passagem bíblica:

Falou mais o Senhor a Josué, dizendo: Fala aos filhos de


Israel, dizendo: Apartai para vós as cidades de refúgio, de
que vos falei pelo ministério de Moisés, para que fuja para ali
o homicida que matar alguma pessoa por erro e não com
intento; para que vos sejam refúgio do vingador do sangue.
E, fugindo para alguma daquelas cidades, por-se-á à porta da
cidade proporá as suas palavras perante aos ouvidos dos
anciãos da tal cidade; então, tomarão consigo na cidade e lhe
darão lugar, para que habite com eles. E, se o vingador do
sangue o seguir, não entregarão na sua mão o homicida,
porquanto não feriu a seu próximo com intento e o não
aborrecia dantes. E habitará na mesma cidade, até que se
ponha a juízo perante a congregação, até que morra o sumo
sacerdote que houver naqueles dias; então, o homicida
voltará e virá à sua cidade e à sua casa, à cidade de onde
fugiu. Então, apartaram a Quedes, na Galiléia, na montanha
de Naftali, e Siquém, na montanha de Efraim, e Quiriate-
Arba (esta é Hebrom), na montanha de Judá. E, dalém do
Jordão, de Jericó para o oriente, apartaram Bezer, no deserto,
na campina da tribo de Rúben, e Ramote, em Gileade, da
tribo de Gade; e Golã, em Basã, da tribo de Manassés. Estas
são as cidades que foram designadas para todos os filhos de
Israel e para o estrangeiro que andasse entre eles, para que se
acolhesse a elas todo aquele que ferisse alguma pessoa por
erro, para que não morresse às mãos do vingador do sangue,
até se pôr diante da congregação.19

É bom analisarmos este primeiro sistema para que notemos a inversão do


papel do Estado com o indivíduo criminoso. Diferentemente dos dias atuais, não era o
Estado que buscava o infrator para punir, era o próprio indivíduo que cometia o fato
criminoso que se punia através de uma privação relativa de sua liberdade, pois este após
cometer um crime culposo, por vontade própria buscava uma cidade distante para se
refugiar. Para obter a autorização e adentrar à cidade ele tinha de provar aos anciões a não

19 Disponível em< www.drcarlosandrade.com/2012/11/o-que-eram-as-cidades-de-refugio.html?m=0 >


Acesso em 10 de abril de 2015
27

intenção do cometimento do delito. Temos então que o criminoso, por vontade própria,
punia a si mesmo, afastando-se de sua cidade e família para que pudesse ter proteção em
uma cidade distante e não corresse o risco de ser morto.

2.2.Sistema Pensilvânico ou Filadélfico:

Também conhecido como sistema belga ou celular, o sistema filadélfico


foi um dos primeiros sistemas penitenciários existentes no mundo, ou seja, um
estabelecimento organizado com finalidade de punir com a restrição da liberdade os
indivíduos que cometiam crimes.

O sistema foi inaugurado em 1776 na prisão de Walnut Street e, em


seguida, implantado nas prisões de Pittsburgh e Cherry Hill, tendo os políticos Benjamin
Franklin e Willian Bradford como principais precursores20.

No sistema celular foi bastante utilizado, como base, o Direito Canônico


para estabelecer uma finalidade e uma forma de execução penal. Tinha como principais
características o isolamento, a oração e a abstinência de qualquer forma de vício, como
bebidas alcoólicas, cigarros, entre outros; além do incentivo à religião. Sendo estes os
princípios basilares para que os infratores fossem conduzidos do erro à virtude e à
felicidade.

Conforme explícita o jurista Roberto Victor Ribeiro: “O objetivo das


primeiras celas isoladas e individuais era a obtenção da penitência, dai o verbete
penitenciário”21.

Neste sistema foi utilizado o solitary confinement (confinamento


solitário), atualmente conhecido como solitária, para os presos de maior periculosidade,
estes ficavam, então, em celas isoladas, enquanto os outros de menor periculosidade eram

20 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 131-132.

21RIBEIRO, Roberto Victor Pereira. RIBEIRO, Itala Botelho de Castro. Sistema Penitenciário e Direitos
Humanos – Ideias Sociais e Jurídicas Em Foucault. Direitos Humanos: Histórico e
Contemporaneidade. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015, p. 389.
28

mantidos em celas comuns, e a estes eram permitidos trabalharem conjuntamente durante o


dia, sempre aplicando um rigoroso controle do silêncio e incentivos à religião.

O autor cearense, Cesar Barros Leal, em sua obra: Prisão. Crepúsculo de


uma era, nos ensina a forma de disciplina e embasamento religioso que eram utilizados
para os presos, de maior periculosidade, neste sistema, vejamos:

Na Filadélfia, experimentou-se um sistema conhecido como


pensilvânico, filadélfico, celular ou de confinamento solitário
(solitary confinement). Consistia num regime de isolamento,
em cela individual, nua, de tamanho reduzido, nos três
turnos, sem atividades laborais e sem visitas, em que se
perseguia o arrependimento com base na leitura da Bíblia,
como nos penitenciários da igreja22.

Após alguns anos de experiência utilizando este sistema vieram os


resultados, sendo estes nada satisfatórios, como por exemplo o estado psicológico dos
presos e o extraordinário crescimento da população carcerária que se encontrava em Walnut
Street.

A principal crítica que foi feita ao sistema pensilvânico foi referente à


tortura refinada que o isolamento total proporcionava, causando para alguns presos a
insanidade. Mesmo que não existisse a tortura e castigos físicos, neste sistema o indivíduo
vivia em isolamento e ainda quando lhes era permitido o convívio com outras pessoas
durante os trabalhos, era sob rigoroso silêncio, temos então um tipo diferenciado de tortura,
uma tortura psíquica, a qual possui efeitos mais dolorosos que os que o castigo físico podia
produzir e sem que seus danos fossem evidentes.

Roberto Victor adverte:

Tirar o diálogo e a comunicação inter-humana é


simplesmente castrar a essência do humano que “aprende
enquanto vive e que vive enquanto aprende”, como nos
ensina o grande magister Genuíno Sales. Até os surdos e

22
LEAL, César Barros. Prisão: Crepúsculo de uma era. Minas Gerais: Del Rey, 1998, p.33
29

mudos necessitam de comunicação humana, de convivência


humana, não se pode permitir que prospere um pensamento
que apregoa a separação e a erradicação da convivência entre
viventes. Esse modelo, ao invés de melhorar, pode terminar
de adoecer a sociedade. Como tão bem adverte Dan Brown23
“Nossos crepúsculos foram reduzidos a comprimentos de
ondas e frequência [...] a tecnologia que promete nos unir, ao
contrário, só nos divide. Cada um de nós está hoje
eletronicamente conectado ao Globo inteiro e, entretanto,
todos nós sentimos sós”. Não podemos privar, nem mesmo o
pior criminoso do convívio com a espécie humana. O calor
humano é necessário24.

Cezar Roberto Bittencourt, com propriedade, afirma sobre o Sistema


Filadélfico ou Pensilvânico que:

As características essenciais dessa forma de purgar a pena


fundamentam-se no isolamento celular dos intervalos, a
obrigação estrita do silêncio, a meditação e a oração. Esse
sistema de vigilância reduzia drasticamente os gastos com
vigilância, e a segregação individual nas prisões. Sob um
ponto de vista ideológico, Melossi e Pavarini interpretam o
sistema celular como uma estrutura ideal que satisfaz as
exigências de qualquer instituição que requeira a presença de
pessoas sob uma vigilância única, que serve não somente às
prisões, mas às fábricas, hospitais, escolas, etc. Já não se
trataria de um sistema penitenciário criado para melhorar as
prisões e conseguir a recuperação do delinquente, mas de um
eficiente instrumento de dominação servindo, por sua vez,
como modelo para outro tipo de relações sociais25.

Um dos principais motivos para a instituição deste sistema penitenciário


foi com a finalidade de que o indivíduo que cometeu o crime pudesse refletir sobre suas
ações, através do silêncio e de orações à Deus, encontrando o perdão e para que não

23
BROWN, Dan. Anjos e Demônios. São Paulo: Sextante, 2004.
24 RIBEIRO, Roberto Victor Pereira. Vigilância Constante – O Panoptismo. São Paulo: Revista Visão
jurídica, Edição 98, 2013, p. 30

25 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2007, p.127.
30

tornasse a cometer crimes. No entanto, com o isolamento, o trabalho repetitivo e o rigoroso


silêncio, os condenados não conseguiam refletir sobre suas ações, ao contrário, estas
condições pioravam sua saúde mental, fazendo com que não ocorresse a ressocialização do
indivíduo e em alguns casos ocorria que o sujeito ao cumprir sua pena, saía pior do que no
momento em que tinha sido preso.

Apesar dos graves efeitos que o isolamento total produz, infelizmente,


continua sendo utilizado nos dias atuais em alguns países e para algumas circunstâncias,
deixando de lado a ressocialização do infrator, pois, querendo ou não, essa forma de
confinamento, é um excelente instrumento de dominação e controle e, por isso, ainda é
utilizado em algumas prisões modernas.

2.3.Sistema Auburniano:

O sistema auburniano também se originou nos Estados Unidos. É assim


chamado em razão da penitenciária de Auburn, que fica localizada na cidade de Nova
Iorque. Uma das razões que levaram ao surgimento desse sistema foi o próprio fracasso
penitenciário, e o desejo de superar as limitações do regime filadélfico.

Apenas em 1816 ocorreu a autorização definitiva para a construção da


prisão de Auburn. No modelo empregado neste sistema os prisioneiros eram divididos em 3
(três) categorias: a primeira era composta pelos tidos como incorrigíveis, os infratores
persistentes, aos quais se destinou o isolamento contínuo; na segunda ficavam os menos
persistentes, os quais ficavam em celas de isolamento por três dias na semana e tinham
permissão para trabalhar pela manhã; a terceira era composta pelos que tinham mais
chances de correção, para estes somente era imposto o isolamento durante a noite, sendo
permitido que os encarcerados trabalhassem juntos durante o dia, desde que respeitassem a
regra do silêncio. Esta última categoria assemelha-se, relativamente, ao nosso regime
aberto.

No regime aberto brasileiro, tem-se como principal fundamento a


autodisciplina e sentimento de responsabilidade do preso, pois aqui ele cumpre sua pena
fora da unidade prisional e sem vigilância.
31

Ele cumprirá sua pena em liberdade (relativa), trabalhando durante o dia,


como uma pessoa livre, e ao anoitecer ele deve se recolher à casa de albergado ou outro
estabelecimento adequado, e na falta desta deverá se recolher em sua casa, ou seja, um
regime domiciliar, na prática o recolhimento à residência é o mais comum. Além destas
condições acima citadas, normalmente, o preso cumpre outras medidas alternativas
impostas pelo juiz.

O sistema de Auburn adotava, além do trabalho em comum, a regra do


silêncio absoluto. Os presos não podiam falar uns com os outros, mesmo que fosse com o
objetivo de primar pelo silêncio absoluto. Eles podiam comunicar-se apenas com os
guardas, desde que com licença prévia e em voz baixa. O silêncio ininterrupto, favorece
mais do que apenas a meditação e a correção, é um meio fundamental para se ter poder,
permitindo que uns poucos controlem uma multidão, e era exatamente por isto que ele
criticava severamente este sistema, dizendo que o mesmo não é um instrumento propiciador
da correção do detento, mas sim um meio eficaz e essencial para a imposição e manutenção
do poder.

Tratando sobre esta matéria, Cezar R. Bitencourt explica que este sistema
deixou de lado o confinamento absoluto do preso por volta do ano de 1824, “a partir de
então se estendeu a política de permitir o trabalho em comum dos reclusos, sob absoluto
silêncio e confinamento solitário durante a noite”26.

Temos então que a diferença mais notória entre o sistema pensilvânico e o


sistema auburniano, diz respeito à segregação; naquele, a segregação era durante todo o dia;
neste, era possível o trabalho coletivo pelas manhãs. Porém ambos pregavam a necessidade
de separar os presos, para impedir a comunicação entre eles, o primeiro com a finalidade de
que os detentos alcançassem, através de orações, o perdão e que pudessem refletir, já o
segundo com o objetivo de controlar a grande quantidade de encarcerados.

O sistema auburniano não visava a recuperação do infrator, mas sim a


obediência deste, e a manutenção da segurança no centro penal, com objetivo de explorar a

26
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 95.
32

mão-de-obra carcerária. Destarte, pode-se dizer que esse sistema não atende ao caráter de
ressocialização do indivíduo, mas sim produz resultados desastrosos, assim como o sistema
pensilvânico.

A questão econômica para a adoção deste sistema foi bastante relevante,


pois com a proibição da importação de escravos na primeira metade do século XVIII, e a
rápida industrialização, resultou em um vazio no mercado de trabalho. Deste modo o
sistema auburniano surgiu como forma de adequar a mão-de-obra dos detentos aos ideais
do modelo capitalista, aproveitando eles como força produtiva.

O sistema pensilvaniano era mais dispendioso do que o auburniano. O


trabalho em celas individuais era inadequado à produção industrial, sendo pouco o retorno
econômico obtido pelo trabalho dos detentos no sistema pensilvaniano. Quando o solitary
system foi desenvolvido, a finalidade da reclusão penitenciária era, principalmente, evitar a
contaminação moral entre presos e incentivar a reflexão e o arrependimento, através de
orações à Deus, ficando em segundo plano obter rendimentos do trabalho prisional.

Já o sistema auburniano, embora tivesse a preocupação com a correção


dos detentos e procurasse evitar a contaminação moral através da imposição da disciplina
do silêncio, aparentemente colocava em primeiro lugar a necessidade de conseguir ganhos
com o trabalho dos presos. De fato, pode-se afirmar que a preocupação em fazer a prisão
fornecer recursos para a sua própria manutenção parece ter sido o principal objetivo das
penitenciárias que seguiram o modelo de Auburn.

Um fato interessante é que a Europa continuou adotando o regime celular,


já que não necessitava do trabalho realizado nas penitenciárias, pois ocorria neste período o
desenvolvimento das forças produtivas, já os Estados Unidos, inclinou-se para o sistema
auburniano, pois este possuía um menor custo e apresentava uma associação de trabalho
muito lucrativa.

Bittencourt esclarece os motivos que levaram ao fracasso do sistema


auburniano:
33

Uma das causas desse fracasso foi a pressão das associações


sindicais que se opuseram ao desenvolvimento de um
trabalho penitenciário. A produção nas prisões representava
menores custos ou podia significar uma competição ao
trabalho livre. Outro aspecto negativo do sistema auburniano
– uma de suas características – foi o rigoroso regime
disciplinar aplicado. A importância dada à disciplina deve-se,
em parte ao fato de que o silent system acolhe, em seus
pontos, estilo de vida militar. [..] se criticou, no sistema
auburniano, a aplicação de castigos cruéis e excessivos. [...]
No entanto, considerava-se justificável esse castigo porque se
acreditava que propiciaria a recuperação do delinqüente27.

2.4.Sistema Progressivo:

Antes de qualquer coisa, deve-se ressaltar que o sistema Progressivo foi o


adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro, com algumas alterações, e não os outros
sistemas acima mencionados.

A ideia de um sistema penitenciário progressivo surgiu no final do século


XIX, mas, só começou a ser utilizado com maior frequência após o fim da 1ª Guerra
Mundial. Esse sistema é bastante diferente dos sistemas auburniano e pensilvânico, pois
nele, o preso divide o tempo de sua condenação em etapas, sendo que em cada um delas, o
encarcerado passaria a receber novos benefícios, desde que demonstrasse um
comportamento satisfatório e que estivesse, realmente, hábil a se readaptar à sociedade.
Outro ponto distinto é a possibilidade do detento se reintegrar a sociedade antes do término
de sua condenação.

No século XIX, através da implantação do sistema progressivo, foi


estabelecido, definitivamente, a pena privativa de liberdade e ficou mais evidente repúdio
às pena de morte e de castigos corporais. Este modelo busca estimular o bom
comportamento do detento, e também, ressocializá-lo, ou seja, prepará-lo para a vida que o
espera fora da penitenciária.

Cezar Roberto Bittencourt adverte que:

27
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 96.
34

A essência deste regime consiste em distribuir o tempo de


duração da condenação em períodos, ampliando-se em cada
um os privilégios que o recluso pode desfrutar de acordo com
sua boa conduta e o aproveitamento demonstrado do
tratamento reformador. Outro aspecto importante é o fato de
possibilitar ao recluso reincorporar-se à sociedade antes do
término da condenação. A meta do sistema tem dupla
vertente: de um lado pretende constituir um estímulo à boa
conduta e à adesão do recluso ao regime aplicado, e, de
outro, pretende que este regime, em razão da boa disposição
anímica do interno, consiga paulatinamente sua reforma
moral e a preparação para a futura vida em sociedade28.

Este sistema progressivo foi dividido em Sistema Progressivo Inglês e


Sistema Progressivo Irlandês em razão de suas formas diversas de aplicação.

O sistema progressivo inglês ou Mark system foi desenvolvido pelo


capitão Alexandre Maconochie, no ano de 1840, na Ilha de Norfolk, na Austrália. Esse
sistema consistia em medir a duração da pena, diga-se de passagem, de uma maneira um
tanto quanto simples, essa medição dava-se através de uma soma do trabalho e da boa
conduta imposta ao condenado, e a partir de um momento em que o condenado satisfazia
essas duas condições, a ele era computado certo número de marcas, daí o nome (mark
system), de tal forma que a quantidade de marcas que o condenado necessitava obter antes
de sua liberação deveria ser proporcional à gravidade do delito por ele praticado.

Esse sistema de marcas dividia-se em três fases. A primeira destas


consistia em um período de isolamento nas celas durante o dia e a noite, no qual o
condenado podia ser submetido a trabalhos pesados e obrigatórios e com escassa
alimentação, esta etapa tinha o intuito de fazer o detento refletir sobre seu ato delituoso.

Na segunda fase os detentos ficavam isolados em suas celas apenas


durante a noite e trabalhavam de dia sob a regra do silêncio; nessa fase dividiam os reclusos
em quatro classes: a de prova, a terceira, a segunda e a primeira; era a partir daqui que se
começava a usar as marcas ou vales. A progressão de uma classe para a outra se dava de
acordo com a quantidade de marcas ou vales obtidos pelos reclusos, que lhes eram

28
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 98.
35

atribuídos, a cada dia, conforme o empenho no trabalho e o comportamento prisional, para


que assim conseguissem alcançar a liberdade condicional.

A terceira e última etapa, seria a própria liberdade condicional. Era uma


liberdade limitada, uma vez que a recebia com restrições, às quais devia obedecer;
observando uma vigência determinada. Passado por esse período sem nada que
determinasse sua revogação, o condenado obtinha sua liberdade de forma definitiva.

Apesar de obter grande sucesso e difusão por toda a Europa, o sistema


progressivo inglês foi posteriormente substituído pelo irlandês.

Criado por Walter Crofton, diretor das prisões na Irlanda, introduziu o


sistema progressivo com uma mudança fundamental, pensada por ele, dando origem ao que
se denominou sistema irlandês. A mudança era a de implementações de prisões
intermediárias. Tratava-se de um período intermediário entre a prisão e a liberdade
condicional, no qual os presos ficavam em prisões especiais onde poderiam trabalhar ao ar
livre, deixando trabalhadores reclusos laborando ao ar livre como se fossem trabalhadores
livres, sendo este período considerado como um momento em que o recluso deveria provar
e convencer a todos de que estava apto para conviver novamente em sociedade. Semelhante
às colônias agrícolas.

As colônias agrícolas, que possuem previsão no artigo 91 da Lei de


Execuções Penais (LEP), são estabelecimentos destinados ao cumprimento da pena quando
o infrator for condenado ao regime semiaberto. Nestes estabelecimentos os presos possuem
mais liberdade, pois aqui normalmente os guardas não andam armados e a vigilância é
bastante recatada, para, assim, dar uma liberdade e tranquilidade maior ao preso,
objetivando que ele possa se sentir mais responsável e consciente, melhorando no seu
trabalho e no lado social ( convívio com os outros presos).

Na colônia agrícola os presos passariam o dia trabalhando e só durante a


noite iriam se recolher. O trabalho desenvolvido nas colônias agrícolas engloba diversas
atividades do campo e com isso é necessário que o aprisionado seja capacitado, devendo o
Estado promover a criação de oficinas de trabalho e cursos, objetivando que o período na
36

colônia agrícola seja efetivo, aproveitando-se de tudo o que for produzido por eles e
garantindo a devida remuneração, para que eles se sintam incentivados a produzir cada vez
mais e melhor.

O grande problema das colônias agrícolas no Brasil, que abordaremos


com mais detalhes posteriormente, é a falta de estrutura e de investimento. Pouquíssimos
estados brasileiros possuem colônias agrícolas, e os poucos que possuem, têm 1 (uma) ou 2
(duas) espalhadas pelo estado, estando a maioria destas em situação precária, ou seja, não
teriam condições de receber os presos para o cumprimento da pena no regime semiaberto,
dificultando assim a ressocialização.

Com isto vem a polêmica, pois quando o indivíduo é condenado ao


regime semiaberto o que deve ser feito ? Alguns Juízes, na prática, perfazem da forma mais
absurda, condenando ao cumprimento em regime fechado, ou seja, pela falta de estrutura e
de investimentos por parte do Estado, o preso deve ser ainda mais responsabilizado e
condenado a cumprir em um regime pior ao que ele possui direito? Absurdo! O mais
coerente é que o juiz autorize um trabalho externo e que o infrator passe o dia livre,
trabalhando, e apenas de noite se recolher à unidade prisional.

Deste modo, podemos dizer que o sistema irlandês é subdivido em 4


(quatro) partes: reclusão celular diurna e noturna; Reclusão celular noturna e trabalho
diurno em comum; Período intermediário, que era a única diferença existente entre os
sistemas inglês e irlandês; e por fim, a liberdade condicional;

O sistema progressivo propiciava uma certa indeterminação no tempo de


cumprimento da pena privativa de liberdade imposta, pois permitia a redução do tempo de
cárcere com as progressões, dependendo, sempre, do bom desempenho do preso no
trabalho e da sua conduta durante o cárcere. Talvez o maior mérito deste sistema foi o fato
de buscar incentivar o senso de responsabilidade dos condenados, colocando em suas mãos
o maior ou menor período para cumprimento de suas penas.

Temos que a principal preocupação do sistema progressivo era a de


propiciar uma melhor adaptação dos reclusos à vida livre, através do incentivo para o
37

trabalho, sendo uma tentativa de induzir hábitos que permitissem aos condenados levar no
futuro uma vida honesta, e de uma educação que levassem os condenados a desenvolver um
senso de responsabilidade social.

No Brasil temos 3 (três) regimes para cumprimento de pena( previstos no


artigo 33 do Código Penal): o aberto, semiaberto e fechado. Para saber em que regime o
condenado irá iniciar o cumprimento da pena devemos observar sua primariedade e a pena
recebida: o condenado à pena maior de 8 anos deve iniciar cumprindo a pena no regime
fechado; o condenado (primário) que for condenado à pena superior à 4 (quatro) anos é
inferior à 8 (oito) anos deverá iniciar no semiaberto; e o condenado (primário) à pena igual
ou inferior à 4 (quatro) anos deverá iniciar o cumprimento da pena em regime aberto.

Agora temos que o Brasil, no parte que se refere ao cumprimento de pena,


aderiu o sistema progressivo com algumas adaptações, ou seja, o preso condenado não
cumprirá a sua pena toda em um determinado regime, ele terá o direito de progredir o seu
regime mediante preenchimento de alguns requisitos.

Para ter direito à progressão de regime é necessário que o preso cumpra


dois requisitos: o subjetivo, que é referente ao bom comportamento carcerário; e o objetivo,
que se refere ao cumprimento de uma parte da pena no regime anterior, que poderá ser de
1/6 para os crimes comuns e 2/5 (se o apenado for primário) ou 3/5 (se o apenado for
reincidente), para os crimes hediondos ou equiparados, nos termos da Lei n. 11.464/2007.

O sistema progressivo, em tese, é um bom sistema, pois permite ao preso uma


perspectiva de melhorar sua condição, incentivando o bom comportamento e ao passar entre os
diferentes regimes, poder aos poucos ir trabalhando e se ressocializando, para assim preparar-se ao
retorno definitivo à sociedade.

Como dito acima, isso é em tese, pois ao trazermos para a realidade


brasileira, onde existe uma superpopulação carcerária, onde não se respeita o preso como
um cidadão, sem nenhuma estrutura nas unidades carcerárias e, principalmente, sem
investimentos por parte do Estado, temos um sistema penitenciário falido, em ruínas e
graças a isto, nunca existiram tantas críticas ao sistema progressivo como atualmente. Para
38

grande parte da população este sistema é o grande responsável pela grande quantidade de
crimes e de violência, pois este sistema traria ao preso uma sensação de impunidade tendo
em vista que ele retornaria rapidamente à sociedade.

É fundamental utilizarmos a razão neste momento crítico que


vivenciamos no Brasil, pois, primeiramente, é extremamente necessário que entendamos
que o indivíduo que está preso é um cidadão como nós, que na maioria das vezes cometeu o
ilícito em decorrência de um deslize ou porque, em razão da monstruosidade desigualdade
existente no Brasil, não possuía outra opção para enfrentar sua extrema necessidade. Temos
que ver o lado bom das pessoas, todos merecem uma segunda chance; o cidadão que
cometeu o ilícito, indubitavelmente errou e em decorrência disto pagará, porém temos que
o seu retorno à sociedade é necessário e deve ser feito de forma gradativa, mas jamais não
pode excluí-lo da sociedade, pois assim, a tarefa da ressocialização, que já é extremamente
difícil, torna-se inalcançável.

O grande problema é que a ressocialização é quase impossível, pois além


da sociedade excluir uma pessoa que foi condenada por algum crime, temos o abandono
Estatal, que não investe e não estrutura o nosso sistema carcerário, não tendo o preso como
entender seu erro e não voltar a cometê-lo, ao contrário, muitas vezes em decorrência dos
anos degradantes vividos nos presídio os presos voltam ainda piores para a sociedade, como
veremos mais detalhadamente nos capítulos posteriores do presente trabalho.
39

CAPÍTULO 3: A ESTRUTURA DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO E


OS PROBLEMAS PARA A OBTENÇÃO DA RESSOCIALIZAÇÃO.

Como já explorado nos capítulos anteriores, o sistema carcerário possuí,


ao menos em tese, duas funções: a de punir e a de recuperar o indivíduo que cometeu uma
infração penal. No mundo abstrato do direito puro e perfeito o sistema penitenciário deveria
servir como uma retribuição ao ato criminoso praticado e ao mesmo tempo, servir como
instrumento para a recuperação do indivíduo, para prepará-lo para o retorno ao convívio
social. Infelizmente no mundo real essa dupla função não é respeitada.

A prisão acaba aprendendo apenas a pior das funções as quais justificam a


existência do cárcere, a função de punir. Quando se tem apenas a punição por si só, acaba-
se complicando o futuro, pois no Brasil, como não se tem pena de prisão perpétua nem pena
de morte, em regra, inevitavelmente o indivíduo que foi autor do delito terá de voltar ao
convívio social.

Este indivíduo que retornará à sociedade será o mesmo que ficou anos
sendo punido, mantido isolado da sociedade, tendo a maior parte de seus direitos
fundamentais restringido e sendo submetidos à condições degradantes e desumanas, sem
respeitar a dignidade humana.

Com esse tratamento e essa função meramente punitiva aplicada aos


cárceres brasileiros, fica praticamente impossível se alcançar a ressocialização. Poderíamos
até partir da ideia que a busca pela ressocialização, atualmente, estaria mais próximo a uma
utopia.

Para Cesare Beccaria é melhor para o Estado que seja investido na


prevenção dos delitos do que a punição destes. O autor demonstra a importância de
conduzir um sujeito a uma condição de felicidade e reflexão, para que assim possa aprender
com seus erros. Quando um Estado possui uma mentalidade meramente punitiva acaba
obtendo-se um resultado de falsa segurança, que aos olhos dos leigos seria perfeito, pois de
imediato estaria tirando o “delinquente” do âmbito social.
40

Punição não é uma solução nem a curto, nem médio, muito menos a
longo prazo. Já quando o Estado possui uma mentalidade preventiva investimento obtém-se
muitos resultados positivos a longo prazo, pois aqui a preocupação não seria meramente em
restringir os direitos daquele que cometeu um delito, mas de se importar com o sujeito,
investindo em opções para que este cidadão entenda o erro cometido e que possa estar
preparado para o retorno à sociedade.

3.1 Os direitos essenciais dos presos e desrespeito a estes.

Voltando a analisar o mundo do “dever ser” tem-se que a Lei 7.210 de


1984 – Lei de Execução Penal (LEP) prevê uma série de garantias ao preso, as quais foram
confirmadas pela promulgação da Constituição Federal de 1988.

Tanto os presos condenados como os provisórios passem direito à


assistência jurídica, social, educacional, material e religiosa, tudo isso para que sejam
respeitados os direitos fundamentais, o que serviria para auxiliar no retorno ao convívio
social. O preso, independentemente de ser provisório ou definitivo, tem de ter sua
integridade moral e física respeitadas, sendo dever do Estado garantir que isto ocorra,
concedendo-lhes um tratamento digno e assegurando o direito de não sofrer qualquer tipo
de violência.

Além do nosso Ordenamento Jurídico interno, também existem diversos


direitos previstos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que em seu artigo 5º traz
que “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou
degradante”. Apesar de estes direitos estarem previstos, infelizmente são na sua maioria
desrespeitados.

Diversos indivíduos que se encontram encarcerados são tratados como


“coisa”, um objeto qualquer, mitigando, ou quase excluindo sua humanidade. Em muitos
presídios os detentos são submetidos a condições degradantes e desumanas, como podemos
observar no relatório CPI do Sistema Carcerário:

“Em suas diligencias, a CPI se deparou com situações de


miséria humana. No distrito de Contagem, na cela n° 1 um
41

senhor de cerca de 60 anos tinha o corpo coberto de feridas e


estava misturado com outros 46 detentos. Imagem
inesquecível! No Centro de Detenção Provisória de Pinheiros
em São Paulo, vários presos com tuberculose misturavam-se,
em cela superlotada, com outros presos aparentemente
“saudáveis”. Em Ponte Nova, os presos usavam creolina para
curar doenças de pele. Em Brasília, os doentes mentais não
dispunham de médico psiquiátrico. Na penitenciária de
Pedrinhas, no Maranhão, presos com gangrena na perna. Em
Santa Catarina, o dentista arranca o dente bom e deixa o ruim
no lugar. Em Ponte Nova e Rio Piracicaba, em Minas Gerais,
registrou-se a ocorrência de 33 presos mortos queimados.”29

Existem diversos motivos para encontrarmos estas terríveis condições nas


penitenciárias brasileiras, como por exemplo o descaso, má organização e administração.
Um dos principais com toda a certeza é a superlotação dos cárceres. Quase todos os
presídios brasileiros enfrentam este terrível problema, e não apenas os presídios, a
superlotação começa já nas delegacias, o que acaba afetando e contaminando todo o
processo.

3.2. A superlotação do sistema penitenciário.

A legislação prevê que quando o indivíduo é preso, este deve ser levado à
delegacia de polícia para que sejam realizados os devidos procedimentos, sendo o principal
deles a lavratura do auto de prisão em flagrante, em seguida o detento deveria ser
encaminhado para a penitenciária o mais breve possível.

No entanto, em razão da superlotação dos cárceres, as delegacias acabam


“segurando” o preso para esperar que sejam disponibilizadas novas vagas para assim
encaminhá-los. Ocorre que em diversos casos o delinquente fica detido na delegacia por
mais de 5 (cinco) meses, o que é um escancarado absurdo, e a partir daqui já se vislumbra o
descaso para os detentos e ocorrência dos primeiros desrespeitos ao encarcerado.

29
“Relatório CPI do Sistema Carcerário”, Deputado Domingos Dutra, Junho de 2008, p. 181 Disponível
em:http://msmidia.profissional.ws/moretto/pdf/RelatorioCPISistemaPenitenciario.pdf, acessado em
22/09/2015 às 22h30min.
42

Como a delegacia não fora feita para ser utilizada como prisão, a estrutura
é infinitamente menor, podendo suportar poucas pessoas, fora que não dispõe de elementos
básicos para o mínimo conforto do preso, para que este tenha sua dignidade respeitada,
dentro do mínimo existencial. Dentro das delegacias encontramos vários presos dentro de
uma mesma cela, ficando em situações de extremo desconforto, tendo de dormir no chão e
às vezes encostados um no outro, em razão da falta de espaço.

Atualmente nos presídios brasileiros, temos que em uma cela onde


caberiam cerca de 10 (dez) presos, são encontrados 17 (dezessete), quase o dobro da
capacidade.

Em decorrência da falta de estrutura, condições de higiene precárias e


tratamentos desumanos surgem as rebeliões, os motins e tentativas de fuga, como pode-se
observar no relatório CPI do Sistema Penitenciário:

“A superlotação é talvez a mãe de todos os demais problemas


do sistema carcerário. Celas superlotadas ocasionam
insalubridade, doenças, motins, rebeliões, mortes,
degradação da pessoa humana. A CPI encontrou homens
amontoados como lixo humano em celas cheias, se
revezando para dormir, ou dormindo em cima do vaso
sanitário. Em outros estabelecimentos, homens seminus
gemendo diante da cela entupida com temperaturas de até 50
graus. Em outros estabelecimentos, redes sobre redes em
cima de camas ou do lado de fora da cela em face da falta de
espaço. Mulheres com suas crianças recém-nascidas
espremidas em celas sujas. Celas com gambiarras, água
armazenada, fogareiros improvisados, papel de toda natureza
misturados com dezenas de homens. Celas escuras, sem luz,
com paredes encardidas cheias de “homens morcegos”.
Dezenas de homens fazendo suas necessidades fisiológicas
em celas superlotadas sem água por dias a fio. Homens que
são obrigados a receberem suas mulheres e companheiras em
cubículos apodrecidos.” 30

30
“Relatório CPI do Sistema Carcerário”, Deputado Domingos Dutra, Junho de 2008, p. 223 Disponível
em:http://msmidia.profissional.ws/moretto/pdf/RelatorioCPISistemaPenitenciario.pdf, acessado em
22/09/2015 às 22h50min.
43

De acordo com dados obtidos no relatório “A Visão do Ministério


Público sobre o Sistema Prisional Brasileiro” 31 , produzido e divulgado pelo ministério
público em 2013 com relação à ocupação e capacidade, nota-se a superlotação existente e o
crescimento do número de presos até o ano de 2013. Para a coleta dos dados foram
visitados 1598 estabelecimentos prisionais, incluindo dados das cinco regiões do Brasil,
fora apurado que o sistema penitenciário brasileiro possuía aproximadamente 448.969
(quatrocentos e quarenta e oito mil e novecentos e sessenta e nove) detentos, sendo cerca de
146.547 (cento e quarenta e seis mil e quinhentos e quarenta e sete) a mais do que a
capacidade que era suportada pelo sistema.

Atualmente, em 2015, a população carcerária possui cerca de 711.463


(setecentos e onze mil e quatrocentos e sessenta e três) presos, quase o dobro da população
carcerária de 2013, um crescimento monstruoso e inversamente proporcional com o
investimento na estrutura das penitenciarias, fazendo que a superlotação seja cada vez
maior.

3.2.1. A grande quantidade de presos provisórios no sistema carcerário brasileiro.

Um dos motivos para a superlotação carcerária é o fato de no Brasil


existirem uma grande quantidade de presos provisórios, que chegam a aproximadamente
32% da população carcerária, segundo dados registrados pelo Conselho Nacional de
Justiça, da população carcerária, o que mostra-se um absurdo totalmente contrário o que
prega a Constituição Federal e a legislação ordinária, pois um dos princípios base do direito
penal brasileiro, que encontra fundamento na Constituição Federal, é o princípio da não
culpa, ou seja, o indivíduo é considerado inocente até que se prove o contrário, que seria
com o trânsito em julgado de uma sentença condenatória.

Além do princípio constitucional da não culpa também temos a regra de


que a prisão provisória deve ser utilizada como uma medida de cautela, sendo considerada

31
“A visão do Ministério Público sobre o Sistema Penitenciário Brasileiro”, CNMP. Junho de 2013.
Disponível em <http://cnmp.gov.br/portal/noticia/3486-dados-ineditos-do-cnmp-sobre-sistema-prisional>,
acessado em 25/09/2015 às 20h50min.
44

última ratio, ou seja, só deve ser utilizada quando for extremamente necessária e não se
vislumbrar outra solução, fato este que se encontra positivado nos artigos 312, 313 e 319 do
Código de Processo Penal.

Para que seja determinada uma prisão preventiva devem existir


simultaneamente o binômio possibilidade (legalidade) e necessidade, que estão previstos
respectivamente nos artigos 313 e 312 do Código de Processo Penal Brasileiro, após
verificada a existência de alguma hipótese cabível nos artigos citados, deve o Juiz analisar
se não seria mais adequado substituir a prisão por alguma outra medida cautelar prevista no
artigo 319 do Código de Processo Penal, ficando clara a vontade do legislador brasileiro
quanto o caráter secundaria da prisão preventiva.

Ocorre que no Brasil, infelizmente, os juízes acabam diversas vezes


desrespeitando a legislação ordinária e a própria constituição, assumindo uma postura
contrária ao princípio da imparcialidade, que é um dos princípios que baseiam a
Magistratura, acabam por tratar o sujeito que está sendo processado diretamente como
culpado, antes mesmo de prolatar sua sentença.

Em razão disto ele acaba por decretar prisões provisórias completamente


desnecessárias, já que aos seus olhos este sujeito já é culpado e deve de já ser mantido
afastado da sociedade.

Uma grande parte das decisões que convertem a prisão em flagrante em


preventiva são fundamentadas de forma genérica, alegando muitas vezes que o sujeito seria
um perigo à ordem pública (um dos fundamentos do artigo 312 do Código de Processo
Penal), mesmo sem antes analisar atentamente o caso. Colocando assim mais um sujeito
dentro do mundo carcerário, que já não suporta mais o contingente, e o pior, muitas vezes
estes indivíduos que tem decretada sua preventiva não necessitariam estar ali.

Além da desnecessidade da quantidade de presos provisórios nas


penitenciárias ainda nos deparamos com a indiscutível é conhecida mora do Poder
Judiciário, o atraso do judiciário está diretamente ligado com a quantidade de presos, pois
são inúmeros os detentos provisórios aguardando uma sentença dentro dos
45

estabelecimentos prisionais. Em grande parte dos casos, a justiça demora anos para realizar
o julgamento do caso, e com isso aquele que foi preso preventivamente e que já poderia
estar esperando seu julgamento livre continua ocupando espaços nas prisões.

3.2.2 A falta de estrutura no sistema de progressão de regime

Outro elemento que contribui para a superlotação é o falho sistema de


progressão de regime, pois este, apesar de ser um sistema bastante interessante visando a
ressocialização e até a redução da quantidade de presos, é indevidamente aplicado no
Brasil. A deficiência na aplicação é devido à dois motivos, o primeiro se dá em razão da
falta de assistência jurídica, o que faz com que vários detentos já que já possuem o direito à
progressão não saibam e continuem encarcerados por mais vários anos.

O segundo é em razão do baixíssimo número de colônias agrícolas,


industriais e casas de albergado, o que na pratica acaba desfazendo toda a teoria do sistema
de progressão de regime para preparar paulatinamente o indivíduo ao retorno à sociedade, e
faz com que tenhamos apenas duas realidades, ou indivíduo fica no estabelecimento
prisional ou em liberdade, o que contribui consubstancialmente para a superlotação das
penitenciárias e cadeias públicas, pois ao invés do preso cumprir parte da pena no presídio e
após ser transferido para uma colônia agrícola ou industrial, acaba ficando mais tempo que
o devido nas penitenciárias.

3.3. A não separação dos detentos como prevê a lei.

A falta de estrutura conjuntamente com a insensatez de alguns magistrados


e a superlotação carcerária resulta em um verdadeiro caos. Em razão do grande número de
detentos e a inexistência de investimentos, fica muito difícil que os presídios consigam
realizar a separação dos presos pelo sexo, os provisórios dos definitivos e os primários dos
reincidentes como prevê a Lei de Execuções Penais nos artigos 82 e 84.

Diante da inexistência de separação, temos vários presos de altíssima


periculosidade e vasto histórico criminal juntos de outros que são inexperientes, e pior
ainda, junto aos presos provisórios que muitas vezes não deveriam nem estar ali, como dito
46

anteriormente, ficando praticamente impossível a ressocialização de algum indivíduo, ao


contrário, a cadeia se torna propícia para o aprofundamento nas práticas criminosas, sendo
considerada como uma “escola do crime”, na qual o sujeito que se encontra preso por um
furto de um objeto de pequeno valor acaba aprendendo que ele está perdendo seu tempo
com estes delitos mais simples, e começa a aprender macetes para começar sua trajetória
em delitos mais complexos e lucrativos, como tráfico, extorsão, entre outros.

3.4. O perfil do preso no sistema penitenciário.

Um fator extremamente importante para compreender a estrutura do


sistema penitenciário, é entender como ele funciona e por quem é composto.

Infelizmente nosso sistema penitenciário é altamente seletista, ou seja, os


detentos já possuem um perfil pré-definido, um estereótipo. Este perfil se encaixa
perfeitamente no mundo capitalista e preconceituoso, pois os presos, em sua grande
maioria, são pessoas negras, jovens, com baixo nível de escolaridade, com condições
financeiras desprivilegiadas e à margem da sociedade.

O InfoPen32, em 2010, realizou uma pesquisa para apurar os dados do


perfil dos indivíduos que se encontravam provados de sua liberdade. Os resultados são
lastimáveis, mas que traduzem fielmente a triste realidade dos presídios brasileiros.

Quanto ao grau de escolaridade foi levantado que 6% dos detentos que


responderam ao questionário eram analfabetos, 13% sabiam apenas ler e escrever, 48%
possuíam ensino fundamental incompleto, 12,5% tinham recebido diploma do ensino
fundamental e apenas 1% tinham ingressado em uma universidade.

Em relação à faixa etária fora verificado que 57% dos detentos são jovens
menores de 30 (trinta) anos, o que reafirma a teoria de que grande parte dos presos são as
pessoas jovens, pobres e sem amparo social, que acabam por buscar, dentro do mundo do
32
“A falência do sistema penitenciário brasileiro”, Rafaela de Oliveira Sousa, Mathias Flores Neto e
Luciana Renata Rondini Stefanoni. Novembro de 2014. Disponível em
<http://sousarafaela.jusbrasil.com.br/artigos/112291037/a-falencia-do-sistema-penitenciario-brasileiro>,
acessado em 30/09/2015 às 23h50min
47

crime, suprir suas necessidades. Também constatou-se que 4.343 (quatro mil e trezentos e
quarenta e três) presos entrevistados em 2010 eram maiores de 60 (sessenta) anos de idade,
sendo que 4.079 (quatro mil e setenta e nove) senhores e 264 (duzentas e sessenta e quatro)
senhoras que acabam convivendo com presos de alta periculosidade e em uma cela
superlotada, recebendo tratamentos completamente fora dos estabelecidos por nossa
constituição, ferindo diversos princípios fundamentais, dentre os quais, está o princípio da
dignidade da pessoa humana.

Como a composição do cárcere é em sua gigantesca maioria por pessoas


pobres, sem assistência e que quando em liberdade já são isoladas pelo resto da sociedade,
pior ainda quando vão para o presídio, ou seja, temos um total descaso, estes sujeitos são
tratados como pessoas inferiores e muitos ainda consideram que o lugar deles tem que ser
mesmo a prisão.

Mesmo tendo se passado quase 5 (cinco) anos desta última pesquisa as


porcentagens e o estereótipo continuam os mesmo, a única coisa que aumentou foi a
quantidade de presos, que cresce cada vez mais.

3.5. O desrespeito à dignidade humana do preso.

Os detentos não tem sua dignidade respeitada e lhes faltam diversos


direitos que são assegurados pela Constituição e pelas normas infraconstitucionais.

O renomado autor Michel Foucault, em sua obra Vigiar e Punir nos


ensina que a prisão utilizada com a mentalidade punitiva gera diversos efeitos:

“Pois logo a seguir a prisão, em sua realidade e seus efeitos


visíveis, foi denunciada como grande fracasso da justiça
penal, estranhamente a história do encarceramento não segue
uma cronologia ao longo da qual se sucedessem logicamente,
as prisões não diminuem a taxa de criminalidade: pode-se
aumentá-las, multiplicá-las ou transformá-las, a quantidade
48

de crime e de criminosos permanece estável, ou ainda pior


aumenta”33.

O efeito esperado após o cumprimento da pena seria a ressocialização,


que serviria para o indivíduo compreender seus atos e não tornar a cometê-los. Ressalta-se
que o caráter ressocializador da pena serve para que o agente medite sobre o crime,
sopesando suas consequências, inibindo-o ao cometimento de outros delitos.

3.5.1. A precariedade das condições de saúde, higiene e alimentação.

A saúde, higiene e alimentação dentro dos estabelecimentos prisionais são


péssimas, apesar da garantia trazida pelo artigo 12 da Lei de Execuções Penais que prevê
que “A assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de
alimentação, vestuário e instalações higiênicas”.

A falta de higiene dentro do estabelecimento prisional na maioria das


vezes é geral, temos nas celas, nos corredores e até mesmo dentro das cozinhas. Nas celas o
que se vê é um aglomerado de presos disputando um mínimo espaço, sendo forçados a
conviverem cercados de lixo, bichos e esgotos abertos, ficando expostos aos mais diferentes
tipos de doenças.

Para Bitencourt, a falta de estrutura e deficiência nos direitos básicos


podem causar terríveis danos ao indivíduo:

“Nas prisões clássicas existem condições que podem exercer


efeitos nefastos sobre a saúde dos internos. As deficiências
de alojamentos e de alimentação facilitam o desenvolvimento
da tuberculose, enfermidade por excelência das prisões.
Contribuem igualmente para deteriorar a saúde dos reclusos
as más condições de higiene dos locais, originadas na falta de
ar, na umidade e nos odores nauseabundos”34.

33
FOUCAULT, Michel. “Vigiar e Punir”; tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 1987 p. 250-
251.
34 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão - Causas e Alternativas. 4. ed . São Paulo:

Saraiva, 2011, p. 166)


49

Na maioria dos presídios a alimentação fornecida é precária, muitas vezes


é o próprio preso que prepara sua própria comida com os alimentos trazidos por seus
familiares, que em diversas situações fazem enormes esforços para conseguir levar algo
para seu parente que se encontra no presídio, tudo isso porque o próprio Estado é
insuficiente na prestação de algo que é seu dever.

3.6. A reincidência delitiva.

A não ressocialização, em conjunto com a ociosidade e os maus tratos


resulta em dois gravíssimos um deles é a reincidência, que será explorada mais adiante, o
outro são os motins, nos quais os presos através de rebeliões expressam sua raiva e
descontentamento.

Três dos casos mais emblemáticos na história dos motins foi o massacre
de Carandiru em 1992, penitenciária que era localizada em São Paulo até ter sido destruída,
outro, pouco mais recente, ocorreu em 2002, na Penitenciária de segurança máxima José
Mário Alves da Silva, situada em Porto Velho, Rondônia, conhecida como Urso Branco e
por fim, o mais recente, que ocorreu no ano de 2014, a rebelião no Complexo Penitenciário
de Pedrinhas, localizado em São Luis, capital do estado do Maranhão.

Na rebelião no presídio conhecido como Urso Branco, os detentos


mataram cruelmente e arremessaram outros presos de cima do muro, do outro lado dos
portões tinham várias pessoas, dentre os quais estavam familiares de presos, assistindo a
catástrofe e vendo seus familiares sendo morrer os e jogador como se lixo fossem. Os
presos reivindicavam apenas direitos que a própria constituição prevê, mas que não lhes
eram assegurados, como o respeito a dignidade humana, melhorias nas condições de
alimentação, maior espaço dentro do presídio.

A falta de estrutura à época era bastante ruim e nos dias atuais, por volta
de 13 anos após o incidente, infelizmente melhorou pouquíssimo, e um grave erro, dos
diversos existentes, é a não separação dos presos em razão dos delitos cometidos, o que
normalmente é determinante para os motins e para a não ressocialização.
50

Já o Complexo Penitenciário de Pedrinhas, vem desde 2010 enfrentando


diversos casos de rebelião, muitos motins todos os anos. No ano de 2014 foi um dos piores
anos para o Complexo, ocorreram diversas rebeliões nas quais resultaram 15 detentos
mortos, vários feridos e 105 fugas do complexo. O ex-diretor da penitenciária foi preso por
facilitação nas fugas de presos. Atualmente o presídio continua sofrendo a tensão de
rebeliões, nas quais quase sempre resultam em mais detentos mortos.

A Lei de Execuções Penais em seus artigos 5º e 84º, §1º determinam que


o Estado deve separar os detentos. Se isso acontecesse não teríamos rebeliões tão grandes e
teríamos a possibilidade de alcançar a ressocialização, pois os presos de maior
periculosidade, com grande experiência e histórico criminal são a minoria nos presídios, a
maior quantidades de presos são inexperientes, muitos são provisórios, e que acabam sendo
influenciados e fazendo o que a minoria de alta periculosidade deseja, pois temem que algo
lhes aconteça, o que seria evitado caso existisse o cumprimento do que a lei determina.

Os indivíduos ao entrarem na prisão, são forçados a seguirem a “lei do


mais forte” e a obedecer às regras impostas pelos presos de maior periculosidade. Os presos
de menor experiência, para garantir sua sobrevivência, acaba obedecendo e possuindo o
comportamento imposto pelo chamado código do recluso.

Conforme Bitencourt, o código do recluso se torna fundamental para a


sobrevivência dos presos inexperientes, que acabam sendo controlados pelos outros presos,
ao invés de o serem pelas próprias autoridades:

“A influência do código do recluso é tão grande que propicia


aos internos mais controle sobre a comunidade penitenciária
que as próprias autoridades. Os reclusos aprendem, dentro da
prisão, que a adaptação às expectativas de comportamento do
preso é tão importante para seu bem-estar quanto a
obediência às regras de controle impostas pelas autoridades.

O código do recluso dispõe uma série de regras que devem


ser cumpridas por todos os detentos. Sua eventual
desobediência acarreta diversas sanções, dentre elas o
51

isolamento, o espancamento, as violências sexuais e até


mesmo a morte”.35

Atualmente a pratica de tortura e abusos sexuais, dentro dos


estabelecimentos carcerários se tornou algo frequente. As vítimas dessas práticas absurdas
acabam contraindo doenças, muitas vezes AIDS, fora os problemas psicológicos. O pior de
tudo é que em diversos casos, os próprios agentes penitenciários sabem das ocorrências e
acabam não denunciando e se omitindo, é alguma vezes até auxiliam, ou em razão de medo
ou em troca de dinheiro.

Fica cristalino os enormes problemas que são constatados no sistema


prisional, na estrutura, capacitação dos agentes e número destes, que acabam por atrapalhar
no resultado final da ressocialização do preso impedindo que haja mudança e
aprendizagem.

Todo o reflexo da inexistência da ressocialização é bem notório, em


vários jornais são anunciados os crimes mais horrendos e absurdos, que geram indignação e
receio na sociedade, que faz parte e é extremamente necessária no difícil processo de
ressocialização, tendo em vista que todos os indivíduos que cometem algum crime irão
voltar à sociedade, logo caso não exista comprometimento de todos os envolvidos durante o
processo de execução da pena e após o cumprimento desta, o indivíduo retornará todo o
mau não resolvido com mais violência para a sociedade que não lhe acolhe, ao contrário,
que muitas vezes o isola, mesmo quando este conseguiu voltar a “liberdade”.

Como dito anteriormente, o outro gravíssimo problema que cresce em


razão da não ressocialização dos indivíduos que passam anos dentro do cárcere, é a
reincidência.

3.6.1. A não existência de ressocialização, o difícil retorno ao convívio social e a


reincidência delitiva.

35
BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão - Causas e Alternativas. 4. ed . São Paulo:
Saraiva, 2011, p. 186)
52

As dificuldades encontradas pelos detentos após reencontrarem sua


liberdade são muitas. Como o preso não fora habilitado para o retorno ao convívio social
quando este se vê em liberdade não encontra alternativas para seguir com sua vida, já que
dentro do cárcere não teve estudo, nem oportunidades de trabalho, ficou apenas na
ociosidade.

Outra dificuldade é em razão da própria sociedade que, na maioria das


vezes, também não faz sua parte e não recebe o indivíduo que cometeu a infração, mesmo
este tendo cumprido sua pena, pois infelizmente, as pessoas em razão da alta quantidade de
violência e criminalidade, acabam sendo preconceituoso e sensacionalista, muitas vezes
sendo influenciadas pelos meios de comunicação, que funcionam como um formador de
opinião, e acabam adotando uma postura nada humanista em relação aqueles que acabaram
de sair das prisões e pretendem se endireitar e seguir uma vida longe do crime.

O doutrinador Rogério Greco destaca que: “Parece-nos que a sociedade


não concorda, infelizmente, pelo menos à primeira vista, com a ressocialização do
condenado. O estigma da condenação, carregado pelo egresso, o impede de retornar ao
normal convívio em sociedade”36.

O principal problema que esses sujeitos encontram é o ingresso no


mercado de trabalho, a procura por emprego é extremamente difícil por dois motivos, o
primeiro é que a maioria não possui sequer ensino fundamental e não tem experiência
profissional, o que deveria ter sido trabalhado durante o tempo que ficou no
estabelecimento prisional, sendo extremamente improvável serem aceitos em algum
emprego.

O segundo motivo é que esses indivíduos possuem “a marca” de ex-


presidiários e em razão do preconceito das pessoas, por mais que ele seja habilitado,
continua sendo difícil a admissão em um emprego, pois as pessoas evitam contratar ex-

36 GRECO, Rogério. Direitos Humanos, Sistema Prisional e Alternativa à Privação de Liberdade. São Paulo:
Saraiva, 2011, p. 143.
53

detentos, pois seriam “bandidos”, o que muitas vezes faz com que estes não encontrem
outra possibilidade para se sustentar que não seja o retorno ao mundo da delinquência.

Esse conjunto de fatores dificulta a necessária e humanitária reinserção do


detento ao convívio social auxiliando de forma direta o aumento da reincidência no país
que já sofre com os altos índices de criminalidade.

No Brasil, os índices de reincidência são absurdamente grandes, segundo


pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) realizada em
2015 a pedido do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Brasil possui um índice de
reincidência criminal que chega aproximadamente a 70%.

“Sem dúvida a tarefa de ressocialização é de


responsabilidade do Estado e da sociedade, reintegrando o
apenado a esta, fazendo com que a coletividade fique mais
protegida e menos exposta aos atos delitivos.
Contrariamente, o que acontece é que o sistema carcerário é
tão precário (presos doentes, sem assistência médica e
hospitalar, péssima alimentação, sem higiene alguma, em
locais insalubres, dormindo mal, sem assistência ou defesa
judiciária, entre outros), que conduz a revolta dos apenados,
bem como à assimilação de novas “técnicas” de crimes, pelos
presos primários e de menor periculosidade. Vê-se que, nas
prisões, a ressocialização não acontece, ao contrário, o preso
apenas torna-se um criminoso “ainda melhor, mais
especializado”. A discriminação e o contato com apenados
reincidentes faz com que a recuperação, na prática, seja
indelevelmente prejudicada.”37

O respeitado doutrinador Guilherme de Souza Nucci (2008, p 422), no


Código Penal Comentado, traz o conceito de reincidência: “reincidência é o cometimento
de uma infração penal após já ter sido o agente condenado definitivamente, no Brasil ou no

37
SEGREGAÇÃO, SISTEMA CARCERÁRIO E DEMOCRACIA, Daniele C. MARCON. Argumenta:
Revista do Programa de Mestrado em Ciência Jurídica, da FUNDINOPI / Centro de Pesquisa e Pós-
Graduação - CPEPG, Conselho de Pesquisa e Pós-Graduação - CONPESQ, Faculdade Estadual de Direito do
Norte Pioneiro. n. 9 ; julho-dezembro – Jacarezinho, 2008, p.13.
54

exterior, por crime anterior”38. O que ratifica a definição legal da reincidência, já que o
Código Penal Brasileiro dispõem em seu artigo 63:

“Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete


novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no
País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime
anterior”39.

Cezar Roberto Bittencourt trata a questão da reincidência e das péssimas


condições das penitenciárias no Brasil, chamando atenção para dez problemas internos que
normalmente estão diretamente ligados com o alto índice de reincidência criminal:

a) maus tratos verbais ou de fato (castigos sádicos,


crueldade injustificadas, etc.); b) superlotação carcerária
(a população excessiva reduz a privacidade do recluso,
facilita os abusos sexuais e de condutas erradas); c) falta
de higiene (grande quantidade de insetos e parasitas,
sujeiras nas celas, corredores); d) condições deficientes
de trabalho (que pode significar uma inaceitável
exploração do recluso); e) deficiência dos serviços
médicos ou completa inexistência; f) assistência
psiquiátrica deficiente ou abusiva (dependendo do
delinquente consegue comprar esse tipo de serviço para
utilizar em favor da sua pena); g) regime falimentar
deficiente; h) elevado índice de consumo de drogas
(muitas vezes originado pela venalidade e corrupção de
alguns funcionários penitenciários ou policiais, que
permitem o trafico ilegal de drogas); i) abusos sexuais
(agravando o problema do homossexualismo e
onanismo, traumatizando os jovens reclusos recém-
ingressos); j) ambiente propicio a violência (que impera
a lei do mais forte ou com mais poder, constrangendo os
demais reclusos)40.

Em razão de todos esses problemas, segundo o autor, um indivíduo


reincidente não adquire aprimoramento de conduta, pois o sistema não lhe fornece a
reeducação necessária para evitar que ele retorne ao crime e reincida. Quando o detento sai
do regime fechado, após cumprimento de sua pena, a sociedade se depara, muitas vezes,
com um sujeito mais agressivo e perigoso do que quando entrou no sistema carcerário.

38
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. São Paulo: RT, 2008, 8ª ed., p. 422.
39
BRASIL. Decreto Lei 2.848/40, de 07 de dezembro de 1940, Código Penal Brasileiro, art. 63.
40
BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão - Causas e Alternativas. 4. ed . São Paulo:
Saraiva, 2011, p. 156-167)
55

4. A ESTRUTURA DAS PENITENCIÁRIAS NORTE-AMERICANAS EM


COMPARAÇÃO COM AS PENITENCIÁRIAS BRASILEIRAS.

Este capitulo tem como objetivo fazer uma breve análise e comparação da
estrutura de algumas penitenciárias situadas nos Estados Unidos e de algumas
penitenciárias brasileiras, em especial as localizados no Estado do Ceará, esta última
através de um olhar adquirido em pesquisa bibliográfica e pratica, através de várias visitas
realizadas entre o ano de 2014 e 2015 em diversos presídios cearenses.

Primeiramente é importante dissertamos um pouco sobre um tema que


vem sendo bastante discutido e que começou a ser aplicado em algumas penitenciárias
brasileiras, que é a privatização destas, que para muitos é uma das melhores soluções para
os problemas enfrentados pelo sistema penitenciário brasileiro, os quais foram discutidos
no capítulo anterior do presente trabalho.

4.1. O Modelo de Privatização das Penitenciárias nos Estados Unidos e no Brasil.

A privatização das penitenciárias deriva de um modelo neoliberal, que


substância em certa abstenção do Estado, através de delegações de diversas atividades
(referentes à execução da pena), à iniciativa privada. Teve início exatamente nos Estados
Unidos, por volta de 1980, no governo do Presidente Ronald Reagan, e era tida como a
solução necessária para a execução penal, pois iria aumentar o número de encarcerados,
cortar os gastos públicos e ter uma melhor eficiência nos serviços.

Outros países também aderem o modelo de privatização em algumas de


suas penitenciárias, como por exemplo a França, Inglaterra, Austrália, México, Bélgica,
Espanha, Argentina, Brasil, entre outros.

Nos Estados Unidos a privatização de uma penitenciária pode ser


basicamente de três formas, através do arrendamento da prisão, da concessão da total
administração da penitenciária à iniciativa privada ou através da contratação de serviços
específicos para serem realizados dentro das penitenciárias.
56

No arrendamento da penitenciária as empresas privadas financiam e


constroem as prisões e depois a arrendam para o Governo, sendo após alguns anos a
propriedade passava a ser exclusivamente do Estado. Já no modelo de concessão da
administração à iniciativa privada, as empresas tanto constroem como administram as
prisões, tendo o Estado que pagar uma quantia fixa calculada por preso. Por fim, tem-se o
modelo em que o Estado contrata uma série de empresas para prestarem serviços dentro das
penitenciárias, realizando assim uma terceirização.

O modelo de privatização nos Estados Unidos é bastante difundido,


apesar de ultimamente vir recebendo críticas. Segundo dados de 2014 “aproximadamente
20% dos presidiários nos EUA estão em prisões privatizadas”41, o que fica claro a atuação
de empresas no ramo da execução penal, sendo esta utilizada como novo meio de obtenção
do lucro

O mercado de privatização das penitenciárias é altamente lucrativo, nos


Estados Unidos “as empresas Corrections Corporations of America (CCA) e a Wackenhut
Corrections Corporations controlam dois terços das cadeias privadas do país. Juntas,
faturam quase US$ 900 milhões por ano e, com 110 presídios, têm sob seu controle 103 mil
presos”42.

No Brasil a privatização pode ser de duas formas, ou através de co-gestão,


no qual a iniciativa privada ocorre através de terceirização de alguns serviços (como
alimentação, cuidados médicos, trabalho e educação), neste modelo o Estado continua
responsável pela construção da penitenciária e dos serviços principais referentes à execução
da pena, devendo pagar às empresas apenas o valor referente aos serviços prestados.

A outra forma é através de parceria publico-privada, formada através de


licitação, na qual o Estado concede, por um determinado período, às empresas parceiras a

41
“Como funcionam os presídios nos Estados Unidos”, Ed Grabianowski. Disponível
em:<http://pessoas.hsw.uol.com.br/presidios.htm>, acessado em 26/10/2015 às 23h30min
42
“As parcerias público-privadas no sistema penitenciário brasileiro”, Jorge Amaral dos Santos,
Setembro de 2009. Disponível em:< http://jus.com.br/artigos/13521/as-parcerias-publico-privadas-no-
sistema-penitenciario-brasileiro>, acessado em 28/10/2015 às 21h00min
57

responsabilidade pela construção da penitenciária, fornecimento de serviços, contratação de


pessoal e a total administração da penitenciária, não tendo, o Estado, nenhum custo alto de
imediato, pois deverá pagar às empresas apenas uma quantia fixa que é calculada por preso,
além de lidar com a segurança do presídio, o transporte dos detentos e a diretoria da prisão.

A primeira penitenciária a ser privatizada no Brasil foi a Penitenciária


Industrial de Guarapuava, localizada no Estado do Paraná, em 1999, no governo do
Governador Jaime Lerner. A penitenciária de Guarapuava tornou-se um modelo no Brasil,
fazendo que surgissem diversas outras privatizações, como por exemplo o Complexo
Penitenciário de Ribeirão das Neves, localizado em Belo Horizonte, capital do Estado de
Minas Gerais, sendo este o primeiro presídio brasileiro construído e administrado na
modalidade de parceria publico-privada, que começou a funcionar em 2013.

Destaca-se que a penitenciária de Guarapuava retornou ao poder estatal


em 2006, após o fim do contrato com as empresas privadas.

Segundo dados colhidos em 2014 pela Pastoral Carcerária Nacional, hoje


no Brasil existem cerca de 30 penitenciárias privatizadas (seja por terceirização de serviços
ou por parceria publico-privada) espalhadas por vários estados da Federação, como por
exemplo em Santa Catarina, Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais, Tocantins, Pernambuco,
Alagoas, Paraná e Amazonas. Os Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo planejam aderir,
o mais breve possível, à privatização de algumas penitenciárias no mesmo modelo do
Complexo Penitenciário de Ribeirão das Neves, através de parceria publico-privada43.

O Estado do Ceará foi um dos primeiros à aderir à privatização de


prisões, aderindo este modelo em três de suas penitenciárias: a Penitenciária Industrial
Regional de Sobral, a Penitenciária Industrial Regional do Cariri e o Instituto Presídio
Professor Olavo Oliveira. Contudo, em 2007, a Justiça Federal obrigou o governo do
Estado do Ceará a retomar a gestão de três unidades prisionais então administradas pela

43
“Prisões privatizadas no Brasil em debate”, Pastoral Carcerária. Junho de 2014. Disponível
em:<http://carceraria.org.br/wp-content/uploads/2014/09/Relatorio-Privatizacoes-Pastoral-Carceraria.pdf >,
acessado em 29/10/2015 às 22h30min
58

Companhia Nacional de Administração Prisional. A sentença prolatada pelo Juiz Marcus


Vinícius Parente Rebouças, determinou que a gestão das prisões é tarefa exclusiva da
administração pública, que não ser delegada à iniciativa privada, determinando assim a
reestatização das penitenciárias.

Após entender o conceito da privatização e como está funciona, deve-se


observar alguns pontos bastante importantes como por exemplo a legalidade, em relação às
parcerias publico-privadas, e a questão político-social que são as principais razões para que
no Brasil não se tenha desenvolvido ainda mais penitenciárias funcionando no modelo de
privatização.

Em uma primeira vista, a privatização das penitenciárias seria um ótimo


negócio para o Estado, pois, em tese, estaria diminuindo os gastos públicos e colocaria a
responsabilidade de administração e prestação de serviços na mão de empresas
especializadas, que à primeira vista iriam fornecer uma melhor prestação de serviço, e
consequentemente dar uma maior possibilidade do preso obter a ressocialização. No
entanto é preciso analisar mais a fundo e observar os fatores referentes à legalidade destes
contratos e também o lado social.

A constitucionalidade da privatização das penitenciárias é um tema


debatido a mais de 10 (dez) anos. Os que são a favor afirmam que o modelo é totalmente
legal, pois não seria uma privatização propriamente dita, mas uma parceria, em que o
Estado continuaria responsável pela segurança e disciplina interna, continuando a
desempenhar as atividades principais referentes à execução penal.

No entanto muitas juristas afirmam que é uma mera manobra política e


que estas parcerias são ilegais e inconstitucionais, como afirma a advogada Alessandra
Teixeira, presidente da comissão sobre sistema prisional do IBCCRIM - Instituto Brasileiro
de Ciências Criminais:

“as prisões regidas pelo sistema de PPP são ilegais e


inconstitucionais, criam-se manobras jurídicas para viabilizar
essas prisões, mas, à luz do direito, elas ferem a Constituição.
59

O Estado tem a obrigação de garantir as condições para que o


condenado cumpra sua pena”44.

A execução penal no Brasil é revestida de um caráter jurisdicional, ou


seja, é uma atividade exclusiva do Estado, não podendo as atividades essenciais à execução
penal serem delegadas para empresas privadas, nem mesmo através de contrato
administrativo através de licitação. As únicas atividades que podem ser delegadas,
autorizadas pela Lei 7.210/1984- Lei de Execução Penal, são as extrajudiciais, como por
exemplo o fornecimento de alimentos, roupa, limpeza, sistema de vigilância, ou atividades
relacionadas aos trabalhos dos internos, mas mesmos estas atividades podendo ser
delegada, deverão todas ser fiscalizadas lê-lo Estado.

Quanto às atividades para o labor e educação profissional do detento, a


Lei de Execução Penal traz em seu artigo 34 que o Estado pode firmar parcerias com
empresas privadas:

Art. 34. O trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou


empresa pública, com autonomia administrativa, e terá por
objetivo a formação profissional do condenado.

§ 1º Nessa hipótese, incumbirá à entidade gerenciadora


promover e supervisionar a produção, com critérios e
métodos empresariais, encarregar-se de sua comercialização,
bem como suportar despesas, inclusive pagamento de
remuneração adequada.

§ 2º Os governos federal, estadual e municipal poderão


celebrar convênio com a iniciativa privada, para implantação
de oficinas de trabalho referentes a setores de apoio dos
presídios45.

Além do fator da legalidade deste modelo deve-se analisar o fator social,


pois ao entregar a administração da penitenciária à uma empresa privada, a qual possui
objetivo primordial a obtenção de lucro, e que receberá de acordo com o número de presos,

44
“Breves considerações sobre a privatização dos presídios brasileiros”, Christiany Pegorari Conte.
Agosto de 2009. Disponível em:<http:// migalhas.com.br/dePeso/16,MI91850,21048-
Breves+consideracoes+sobre+a+privatizacao+dos+presidios+brasileiros >, acessado em 29/10/2015 às
23h30min
45
BRASIL. Lei 7.210, de 11 de JULHO de 1984, Lei de Execução Penal, art. 34
60

é algo extremamente perigoso. Com esta gestão acaba reforçando a ideia, totalmente
equivocada como já fora discutida no capítulo anterior, de que quanto mais prisões e quanto
mais pessoas presas para serem “punidas” será melhor para combater o crime é proteger a
sociedade.

A finalidade da pena acaba ficando desvirtualizada, pois como quem


tratará dos detentos serão empresas, o objetivo principal será a obtenção de lucro, ou seja,
quanto mais pessoas presas, maior serão os lucros, possuindo inclusive previsão contratual
do número mínimo de detentos que a unidade deverá ter, o que acaba sendo mais um dos
vários absurdos no que se trata da execução penal brasileira e no trato com o ser humano
que se encontra encarcerado, fatos estes que acabam deixando a ressocialização totalmente
de lado.

Um dos pontos batidos contra a privatização das penitenciárias é a


possibilidade de um encarceramento em massa, tendo em vista que o Brasil ocupa a 4ª
posição no ranking dos países de maior população carcerária, possuindo mais de 550 mil
presos e que em razão do grande lucro para as empresas estes números aumentem cada vez
mais, como ocorreu nos Estados Unidos, que estão na 1ª posição deste mesmo ranking:

“Patrick afirma que o maior perigo desse modelo é o


encarceramento em massa. Em um país como o Brasil, com
mais de 550 mil presos, quarto lugar no ranking dos países
com maior população carcerária do mundo e que em 20 anos
(1992-2012) aumentou essa população em 380%, segundo
dados do DEPEN, só tende a encarcerar mais e mais. Nos
Estados Unidos, explica, o que ocorreu com a privatização
desse setor foi um lobby fortíssimo pelo endurecimento das
penas e uma repressão policial ainda mais ostensiva. Ou seja,
começou a se prender mais e o tempo de permanência na
prisão só aumentou. Hoje, as penitenciárias privadas nos
EUA são um negócio bilionário que apenas no ano de 2005
movimentou quase 37 bilhões de dólares”46.

46
“PPP de cadeia. Quanto mais presos maior será o lucro”, Paula Sacchetta Conte. Maio de 2014.
Disponível em:<http://cartacapital.com.br/sociedade/quanto-mais-presos-maior-o-lucro-3403.html >,
acessado em 30/10/2015 às 21h30min
61

Outro fator relevante e que acaba tornando impossível uma melhor


comparação nos resultados entre o presídio administrado pelo Estado e o privatizado é o
fato de que as penitenciárias privatizadas escolhem seus detentos, fazendo uma “peneira” e
escolhendo pessoas sem grandes antecedentes e as que cometeram crimes leves. Os
indivíduos de maior periculosidade, ou os que não querem trabalhar ou estudar são
“devolvidos” ao Estado, sob a alegativa que iriam atrapalhar o projeto.

Com a privatização existem pontos positivos no lado, pois haveria maior


investimento na profissionalização dos detentos, pois as empresas teriam interesse na mão
de obra destes, além de, em tese, disponibilizarem de um ambiente mais adequado, com
maior higiene, alimentação e possibilidades aos detentos, o que como dito no capítulo
anterior do presente trabalho não ocorre. Porém isto nem sempre ocorre, pois como o
objetivo da empresa é a obtenção de lucros, estas irão querer a redução de gastos com os
detentos, como por exemplo no fornecimento de alimentos ou materiais para higienização
(sabonete, shampoo e toalhas).

No entanto, tudo isto dito anteriormente é dever do Estado, que só não se


concretiza em razão do descaso e da falta de investimento por parte deste, o que acaba por
impossibilitar a obtenção da real ressocialização dos indivíduos. Logo, se analisarmos bem,
não há necessidade do Estado querer privatizar as penitenciárias e incentivar o lucro em
cima da criminalização, mas sim mudar sua postura quanto ao tratamento da política de
execução da pena, investindo mais e buscando as melhores medidas para ressocializar os
detentos.

4.2. A estrutura nas penitenciárias norte-americanas.

As penitenciarias norte-americanas se dividem por níveis de segurança,


possuindo as prisões de segurança máxima, média e mínima. As prisões de segurança
mínima normalmente possuem uma estrutura semelhante a de campus de universidade, são
espaços abertos, sem utilização de celas. Elas são destinadas para os indivíduos que
cometeram infecções leves, sem violência e para aqueles que possuem antecedentes
criminais.
62

As prisões de segurança média são destinadas para os indivíduos que


cometeram crimes graves, mas que não possuam histórico criminal anterior, nestes
estabelecimentos temos uma maior restrição dos movimentos e liberdade de locomoção
dos detentos, na maioria das unidades de segurança média também não se utilizam celas,
mas dormitórios para os detentos. Normalmente, possuem cercas com arame farpado em
toda sua extensão e com policiais em volta do estabelecimento para garantir a segurança.

Já as prisões de segurança máxima são destinadas para infratores


violentos, com histórico criminal ou que já tentaram fugir e que podem causar problemas
em estabelecimentos de menor segurança. Muitas pessoas pensam que nos Estados Unidos
todas, ou praticamente todas as prisões seguem este modelo, no entanto apenas um quarto
de todos os presidiários dos Estados Unidos está em presídios de segurança máxima. As
estruturas destes são mais clássicas, onde o estabelecimento fica rodeado por muros
bastante altos, com cercas de arame farpado, alarme e com guardas localizados e, torres de
observações.

Alguns exemplos de presídios de segurança máxima são o Centro Souza


Baranowski, localizado no estado de Massachusetts; o Complexo Prisional Federal,
localizado no estado de Indiana; o ADX Flourence, localizado no estado do Colorado; e
penitenciária de Clinton, localizada em Nova Iorque.

As prisões de segurança máxima possuem um enorme rigor, quando


ocorre algum incidente grave dentro destes estabelecimentos ocorre o lockdown, que é o
trancamento de todos os detentos por um período de tempo indefinido dentro de suas celas,
aqui os internos são privados de toda a liberdade, enquanto dura o lockdown eles não
podem sair de suas celas em momento algum, sequer para tomar banho de sol ou para se
comunicarem com alguém (familiares ou advogados). Algumas penitenciárias americanas,
destinadas para detentos extremamente perigosos, como por exemplo terroristas, funcionam
com um lockdown permanente, elas são chamadas de prisões SuperMax.

Logo ao chegar à penitenciária, o detento já recebe uma designação de


emprego, no entanto o valor que lhe é pago para desenvolver o labor está sendo bastante
discutido, atualmente, nos Estados Unidos.
63

O Governo dos Estados Unidos realizou diversas parcerias com grandes


empresas, para que estas possam fornecer oportunidade de emprego aos detentos, no
entanto estas acabam se beneficiando da mão de obra barata do detento, pois eles não
recebem horas extras, mesmo trabalhando mais de 8 (oito) horas diárias, não podem fazer
greve, não faltam ao trabalho, não possuem férias, seguro desemprego, custo com
assistência social, nem recebem licença remunerada, ou seja, não possuem qualquer direito
trabalhista.

Além de tudo isto, eles ainda são remunerados com míseros US$ 0,25
(vinte e cinco centavos de dólar) por hora, em média, ou seja, US$ 2 (dois dólares) por dia
e sequer podem recusar o trabalho, pois se o fizerem irão perder alguns privilégios que são
concedidos, além de poderem se trançados em celas de isolamento por mal comportamento.
Em verdade os valores da remuneração dos detentos variam, entre US$ 0,13 (treze centavos
de dólar) a US$ 0,50 (cinquenta centavos de dólar) este para mão-de-obra qualificada, nas
prisões privadas e estaduais47.

Em relação à estrutura física, as penitenciárias nos Estados Unidos


normalmente possuem uma cela típica na maioria de suas penitenciárias, a qual possui
cerca de 2,5 metros por 1,8 metros, dentro dela tem-se uma cama de metal, que
normalmente é presa na parede), uma pia, um vaso sanitário e em algumas celas possuem
janela com vista para fora da prisão48.

Normalmente estas celas são feitas para 1 (um) detento, no entanto


havendo superlotação, pode ser designado um segundo interno para ser mantido na mesma
cela, com um adicional de mais uma cama para este. Existem, ainda, algumas outras celas
especiais, que possuem dormitórios maiores com diversas camas que cabem até 8 (oito)
detentos, no entanto estas celas são uma exceção.

47
“Trabalho dos pesos nos Estados Unidos está mais forte e controverso do que nunca”, João Ozório de
Melo. Setembro de 2014. Disponível em:<http://conjur.com.br/2014-set-13/fimde-trabalho-presos-eua-forte-
controverso-nunca >, acessado em 30/10/2015 às 23h00min

48
“EUA são o primeiro país em presídios”, Memélia Moreira. Fevereiro de 2009. Disponível
em:<http://controversia.com.br/blog/10271 >, acessado em 30/10/2015 às 23h30min
64

Na maioria das penitenciárias de segurança máxima, os detentos podem


se retirar de suas celas, podendo andar pelas seções, visitar outros presos e ir ao pátio da
prisão, área utilizada para que os detentos se socializem e pratiquem exercícios diariamente.
O pátio é sempre vigiado por guardas armados em torres de observação localizadas acima
do pátio.

O sistema de vigilância nas penitenciárias é enorme, com um altíssimo


investimento por parte do Governo dos Estados Unidos, em que as celas dos detentos ficam
distribuídas, em círculo ou em linearmente nos corredores com diversas câmeras espalhadas
e com várias torres de observação espalhadas pelo estabelecimento, o que dá a sensasão de
estar sendo observado a todo o momento, idéia esta baseada no modelo panóptico, que fora
explorado no 1º capítulo do presente trabalho, e faz com que os detentos evitem tentar algo
indevido, e caso tentem, sejam rapidamente interrompidos.

Existe ainda um sistema de contagem, no qual durante várias vezes ao dia


os guardas fazem a contagem do número de presos, durante esta, todos os presos têm que
ficar em frente às celas e são contados pelos guardas para garantir que não há ninguém
desaparecido ou que esteja em um lugar onde não deveria.

Se os guardas descobrirem algum preso que não se encontre no momento


da contagem, este sofrerá uma ação disciplinar. As contagens são realizadas em intervalos
regulares, na mesma hora todos os dias e também acontecem no meio da noite.

Dentro das penitenciárias norte-americanas não há como se utilizar de


aparelhos celulares, nem os detentos, nem os guardas, pois em todas as prisões existem
aparelhos eletrônicos que emitem ondas de freqüência similar à dos celulares, o que deixa
sem serviço qualquer aparelho nas imediações, ferramenta esta utilizada para evitar que um
detento consiga se comunicar com pessoas de fora do presídio sem a monitoração da
penitenciária.

No caso de visitas, cada detento recebe um número limitado de visitas por


mês, que dependerá do crime cometido e do comportamento dentro do presídio. Uma
peculiaridade nas penitenciárias norte-americanas é que quando o indivíduo é preso pela
65

primeira vez, será feita uma ficha com informações sobre ele e já são colhidos os nomes
dos familiares mais próximos e o de alguns amigos, de forma limitada, que poderão lhe
visitar sem ter que enfrentar burocracia.

Qualquer outra pessoa que deseje visitar um detento e que seu nome não
esteja presente na ficha pessoal do detento deverá passar por um longo processo burocrático
para ter aprovada sua visita, salvo nos casos de investigadores e advogados, que podem
visitar o detento de forma ilimitada, necessitando apenas da aprovação prévia do diretor da
prisão.

Os detentos se comunicam com suas visitas através de divisórias de vidro


e usando interfone, local chamado de parlatório, estando sempre monitoradas por guardas
armados. Outra curiosidade nas penitenciárias norte-americanas é o fato de que os presos
podem manter contato com as pessoas de fora da prisão, através de cartas, encomendas e
ligações por aparelhos disponibilizados pela própria penitenciária, sendo as cartas sempre
examinadas pelos oficiais antes de entrarem ou saírem do presídio e os telefonemas sempre
gravados49.

4.3. A estrutura nas penitenciárias brasileiras.

No Brasil as penitenciárias possuem muitas variações, pois a


administração dos presídios é de competência estadual, excetuando-se os presídios
Federais,e em razão do grande número de Estados, ocorrem bastantes diferenças na forma
de administrar as penitenciárias.

Apesar das diferenças na estrutura e na forma de administrar as


penitenciárias, praticamente todas sofrem dos mesmos problemas, como por exemplo a
falta de investimento, falta de material humano, descaso com os detentos, superlotação,
entre outros. Todos estes problemas e a falta de estrutura das penitenciárias brasileiras

49
“Como funcionam os presídios nos Estados Unidos”, Ed Grabianowski. Disponível
em:<http://pessoas.hsw.uol.com.br/presidios.htm>, acessado em 26/10/2015 às 23h30min
66

fazem com que nossas penitenciárias, de uma forma geral, sejam bem diferentes das norte-
americanas.

As únicas penitenciárias que possuem uma maior estrutura e que chegam


a se assemelhar um pouco com as penitenciárias localizadas nos Estados Unidos, são as
prisões Federais brasileiras, pois estas são mais padronizadas, sendo administradas pela
União Federal. No Brasil existem apenas quatro penitenciárias Federais em funcionamento:
Penitenciária Federal de Catanduvas, localizada no estado do Paraná; Penitenciária Federal
de Campo Grande, localizada no estado do Mato Grosso do Sul; Penitenciária Federal de
Porto Velho, localizada no estado de Rondônia; e Penitenciária Federal de Mossoró,
localizada no estado do Rio Grande do Norte.

Entre estas quatro penitenciárias Federais, a mais conhecida é a


Penitenciária Federal de Catanduvas, que fora a primeira prisão Federal a ser construída e
que inaugurou no ano de 2006. Este esvaecimento é destinado exclusivamente para
prisioneiros de alta periculosidade e sua fama se dá em razão de ter passado vários
indivíduos, de grande repercussão, que eram ligados ao crime, como por exemplo o
traficante Fernandinho Beira-Mar.

Recentemente o complexo também recebeu alguns indivíduos que foram


presos em razão da famosa “operação lava jato”.

A penitenciária de Catanduvas possui celas individuais, que possuem


cerca de 7 (sete) metros quadrados e possuem uma cama, uma pia, um sanitário, uma mesa
com banquinho (todos de concreto) e um chuveiro. Ficando os presos dentro de suas celas
em média 22 (vinte e duas) horas por dia, normalmente não há opção de trabalho para os
detentos50.

50
“Como funciona um presídio de segurança máxima”, Artur Louback Lopes. Disponível
em:<http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-funciona-um-presidio-de-seguranca-maxima >,
acessado em 30/10/2015 às 17h00min
67

Em relação ao monitoramento a penitenciária utiliza-se do método


semelhante aos presídios de segurança máxima nos Estados Unidos, com diversas câmeras
espalhadas nos corredores, nas celas e no pátio, para vigiar os detentos e para observar o
contato entre os detentos e os agentes penitenciários, sempre gravando todas as conversas
dentro do complexo.

Os celulares também não funcionam, pois utiliza-se do mesmo acessório


utilizado nas penitenciárias norte-americanas, o qual bloqueia os sinais dos aparelhos. As
visitas também são realizadas nos palratórios e de forma limitada.

Como dito anteriormente, os presídios Federais são completamente dos


Estaduais, em todos os sentidos, pois estes além de possuir uma administração diferente em
cada estado, enfrentam diversos problemas que são minimizados ou praticamente
inexistentes nos presídios Federais.

Em razão da grande diferença entre os presídios estaduais, optamos por


trabalhar em cima das penitenciárias cearenses, realizando uma breve análise e trazendo
algumas diferenças para os presídios Federais brasileiros e para os presídios de segurança
máxima localizados nos Estados Unidos, sendo o resultado desta análise obtido através de
pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, através de visitas em vários estabelecimentos
prisionais do estado do Ceará.

A pesquisa de campo fora realizada através de visitas nos seguintes


presídios: Unidade Prisional Desembargador Adalberto de Oliveira Barros Leal, localizado
no município de Caucaia, conhecido como Carrapicho, e os presídios localizados no
município de Itaitinga, tanto as 4 (quatro) casas de privação de liberdade destinadas aos
detentos masculinos: Instituto Penal Professor Olavo Oliveira II (CPPL I), Casa de
Privação de Liberdade Provisória Professor Clodoaldo Pinto (CPPL II), Casa de Privação
Provisória de Liberdade Professor Jucá Neto (CPPL III), Casa de Privação Provisória de
Liberdade Agente Elias Alves da Silva (CPPL IV) e a destinada às detentas femininas:
Instituto Penal Feminino – Desembargadora Auri Moura Costa, visitas estas acompanhado
da Defensoria Pública do estado, estando na qualidade de estagiário desta.
68

No estado do Ceará existem estabelecimentos prisionais voltados


exclusivamente para presos que deverão cumprir sua pena em regime fechado, como por
exemplo a Penitenciária Industrial Regional do Cariri, localizada em Juazeiro do Norte; a
Penitenciária Industrial Regional de Sobral, localizada em Sobral; e a Penitenciária
Francisco Hélio Viana de Araújo, localizada em Pacatuba, além de estabelecimentos
destinados para presos provisórios, outros para presos em regime semiaberto e outros para
qualquer regime.

Em todas as penitenciárias localizadas no estado do Ceará, inclusive nas


mais modernas, que são as 4 (quatro) Casas de Privação de Liberdade em Itaitinga, é
notório o gravíssimo problema de superlotação e de falta de estrutura dentro dos presídios.
Em todas as visitas realizadas ficou evidente o descuido com o ambiente e com os detentos,
o ambiente é completamente sujo, com odor insuportável, sem condições salubres para uma
pessoa viver ali.

As celas acabam se tornando pequenas, em razão da enorme superlotação,


sendo relatado pelos detentos que durante a noite alguns presos dormiam no chão encostado
em outro, pois o espaço era pequeno para tantas pessoas dentro de um cubículo.

A alimentação também é péssima, muitos detentos reclamaram que a


comida era pouca, sem variedade nutritiva suficiente, além de que algumas vezes as
comidas disponibilizadas continham cabelos, formiga e às vezes baratas, outras vezes estas
vinham estragadas, o que tornava o detendo completamente dependente de seus familiares,
que tinham de levar alguma alimentação para que ele não ficasse sem comer. Este absurdo
fora relatado por diversos detentos, que afirmaram que seria uma situação frequente e que
já estavam desesperançosos de obter pelo menos o básico para sua sobrevivência.

A maioria das penitenciárias não disponibiliza colchões aos detentos,


tendo os familiares, que já enfrentam diversas dificuldades, que levarem os colchões para
que o detento não durma no chão gelado e imundo.
69

Nas penitenciárias visitadas foi observado que praticamente não existem


opções para os presos trabalharem, muito deles, inclusive, reclamavam da ociosidade e que
queriam poder ter a possibilidade de trabalho.

Os atendimentos médicos são totalmente precários, diversos detentos com


feridas horríveis e infeccionadas, com balas alojadas e doenças graves e que são tratados de
forma parcial ou com uma enorme demora para o atendimento, o que faz com que a doença
acabe piorando, causando agravamento à vida do detento por ineficiência do Estado.

Outro serviço precário é a assistência jurídica, pois existem pouquíssimos


defensores públicos para atender a enorme demanda de assistidos e muitos acabam ficando
diversas vezes presos injustamente, ou por falta de motivo ou por excesso de prazo. Nas
visitas realizadas em conjunto com a Defensoria Pública, para realização de um mutirão,
com o objetivo de diminuir as inúmeras injustiças, foram observados diversos casos em que
o detento encontrava-se completamente desolado, abandonado, tanto pela sua família,
quanto pelo Estado.

À título exemplificativo citaremos alguns casos absurdos em que alguns


indivíduos foram privados de sua liberdade. Um dos casos um sujeito encontrava-se preso
preventivamente, há 1 (um) ano e 6 (seis) meses, em razão de um crime de dano, crime cuja
pena máxima é de 3 anos, ou seja o detento, antes mesmo de ser condenado, já cumpriu
metade da pena máxima cominada ao delito, um absurdo sem tamanho!

Outro caso foi de um indivíduo que estava preso no regime semiaberto e


que já tinha direito à progressão de regime há quase 1 (um) ano, no entanto afirmou que
após sua condenação nunca tinha sido procurado por nenhum advogado ou defensor, ou
seja, encontrava-se em estado de completo abandono.

Por fim, um detento estava preso definitivamente e já estava cumprindo


pena há quase 1 (um) ano em razão de um furto, na modalidade simples, de uma lata de
leite, sendo que o indivíduo era um pai, desempregado, de 3 (três) filhos e que furtou com o
objetivo de alimentar seus filhos. Um caso claro de furto famélico, ou de aplicação do
principio da insignificância, onde o indivíduo não deveria sequer ter sido condenado, ou na
70

pior das hipóteses, deveria ter lhe sido proposta uma suspensão da pena ou substituição da
pena privativa de liberdade em pena restritiva de direito, tendo em vista o claro
descabimento desta, configurando-se uma medida completamente desprovida do princípio
da proporcionalidade.

Além destes, existiram diversos outros casos absurdos, que ocorrem em


razão da falta de amparo e atenção ao detento e da triste, mas utilizada, política penal da
condenação, na qual diversos magistrados acabam tornando parciais e aplicando medidas
desnecessárias, como por exemplo o altíssimo numero de prisões preventivas decretadas,
sendo muito delas facilmente substituídas por outras medidas mais arrazoadas.

O estado do Ceará é um dos estados que mais possui presos provisórios


no Brasil

Em um estudo realizado em 2013 pelo Conselho Nacional de Justiça


(CNJ) ficou constatado que a superlotação nas penitenciárias cearense encontra-se em
grave situação, eram mais de 24 mil detentos em um espaço adequado para 11 mil pessoas,
uma diferença de 111%. O que em conjunto com a falta de estrutura e higiene nas
penitenciárias levou o Juiz Paulo Augusto Irion, coordenador do Mutirão Carcerário do
Conselho Nacional de Justiça classificar o sistema penitenciário do Ceará como um dos
piores do país: "O sistema carcerário do país todo é ruim e existem locais em que é pior do
que outros. O do Ceará está entre os piores"51.

A superlotação do cárcere cearense é tão preocupante que atinge desde as


delegacias da Polícia Civil, que ficam mantendo os indivíduos presos por diversos meses,
em razão de não haver vagas nos presídios, até as próprias unidades penitenciárias, nas
quais não possui mais estrutura para receber mais ninguém, ao contrário, não deveria ter
metade no número dos detentos que lá estão encarcerados.

51
“Presídios no Ceará têm terceira maior superlotação do país”, G1-CE, Junho de 2015. Disponível
em:<g1.globo.com/ceara/noticia/2015/06/presidios-do-ceara-tem-terceira-maior-superlotação-do-país.html>,
acessado em 30/10/2015 às 23h00min
71

Isto é um fator que causa extrema preocupação, pois faz com que diversas
penitenciárias destinadas para detentos provisórios acabem recebendo indivíduos
condenados definitivamente e vice versa, o que ficou bastante constatado durante as visitas,
como por exemplo na Casa de Privação de Liberdade Provisória Professor Clodoaldo Pinto
(CPPL II), a qual estava recebendo vários presos condenados definitivamente.

A não separação dos presos provisórios dos definitivos, além de ser


contrária a Lei de Execução Penal, é altamente preocupante, pois estarão sendo misturados
sujeitos inexperientes e que ali estão apenas provisoriamente com indivíduos já
condenados, com experiência no “mundo do crime”, fazendo com que estes troquem
informações e que a penitenciária se torne uma “escola do crime”, como explorado no
capítulo anterior.

A grave situação nos presídios cearense fez com que a Ordem dos
Advogados do Brasil, Secção Ceará divulgasse dados, no fim de 2014, obtidos após
realizadas 3 (três) anos de vistorias em todos os presídios cearense e delegacias,
confirmando a superlotação em todas as penitenciárias e delegacias do estado, além da
ociosidade completa que é vivida pela maioria dos detentos. Afirmaram ainda que existem
casos em que as unidades já foram interditadas por ordem da Justiça, mas continuam
funcionando precariamente e recebendo mais presidiários52.

Recentemente, no mês de setembro de 2015, foi determinado


judicialmente por decisão do Juiz Luiz Bessa Neto, a interdição do presídio Instituto Penal
Feminino – Desembargadora Auri Moura Costa por quatro meses, presídio este que é o
mais organizado dentre os presídios cearenses, e provavelmente o que mais se aproxima de
uma tentativa de ressocialização. A razão da interdição é em decorrência da superlotação.
Importante destacar que este é o único presídio destinado à carceragem feminina.

52
“Após três anos de vistorias, OAB aponta grave crise no sistema penitenciário do Estado do
Ceará”. Fernando Ribeiro, Novembro de 2014. Disponível em:<
blogdofernandoribeiro.com.br/index.php/86-categorias/descaso-cidade/347-apos-tres-anos-de-vistorias-oab-
aponta-grave-crise-no-sistema-penitenciario-do-estado-do-ceara>, acessado em 31/10/2015 às 14h20min
72

Os problemas enfrentados nos presídios cearenses e nos presídios


brasileiros estaduais, de forma geral, são bastante graves, tendo o Estado que tomar uma
série de providências para mudar a realidade do sistema carcerário brasileiro, que
infelizmente encontra-se falido, que acaba gerando apenas mais violência e insegurança,
sendo impossível de se alcançar a almejada ressocialização, algumas dessas medidas serão
abordadas na conclusão do presente trabalho.
73

CONCLUSÃO:

Como exposto nosso sistema penitenciário encontra-se falido, pois ao


invés de ressocializar o indivíduo e diminuir o número de reincidências delitivas, acabam
dando ao indivíduo encarcerado uma política desumana e dando-lhe a oportunidade de
aperfeiçoar suas técnicas delitivas, tendo em vista a não separação dos detentos e a
ociosidade, além de não prepará-los para o retorno ao convívio social.

A pena de privação de liberdade virou apenas uma forma de o Estado


retirar do meio social o indivíduo que praticou algum delito, sendo uma medida paliativa,
pois como não existe a ressocialização este sujeito voltará posteriormente pior do que
quando entrou.

Logo, resta cristalino a extrema necessidade do Estado tomar medidas


para a mudança do cenário catastrófico que vivenciamos atualmente, não podendo ele
ignorar os absurdos acontecimentos e continuar com essa postura de descaso e com a
permanência das práticas de nosso falido sistema penitenciário.

Para encontrar a solução para os graves e urgentes problemas que


enfrentamos atualmente no sistema penitenciário resta necessário tomar uma série de
medidas.

Primeiramente o Estado e as pessoas devem compreender que o indivíduo


que cumpriu sua pena tem o direito de recomeçar sua vida, sem discriminação, e que deve
ser aceito, caso contrário teremos um sistema rotativo, que é algo extremamente desumano
e temerário, no qual se prende o indivíduo que comete um crime e, após cumprimento da
pena, a sociedade marginaliza-o, e sem ressocialização, acaba cometendo outro delito e
tornando a ser preso.

Partindo deste ponto devemos observar dois aspectos, o primeiro


referente à estrutura e o envolvimento de todos os envolvidos no sistema penitenciário e o
outro referente a mudanças a serem aplicadas para se obter o grande objetivo da pena de
restrição de liberdade, que é a ressocialização, ou seja, que o indivíduo que cometeu um
74

delito reflita sobre seus atos para que não torne a cometê-los e que este seja preparado para
o retorno ao convívio social, com melhor capacitação( através de estudo e trabalho).

Quanto ao problema da falta de estrutura, é necessário que o Poder


Público deixe de descaso para com as pessoas que se encontram presas e que se tenha um
aumento dos investimentos no sistema penitenciário e a otimização na utilização das verbas
que são destinadas a essa finalidade.

Deve-se respeitar os direitos básicos dos presos que são garantidos pela
Constituição Federal e pelas normas infraconstitucionais, garantindo-lhes um tratamento
descende, com respeito à dignidade humana, alimentação adequada, níveis de higiene
básicos e um espaço adequado dentro das celas, ou seja, respeitar a quantidade máxima de
presos por cela.

Importante buscar, o mais rápido possível, a redução do número de


pessoas nas penitenciárias, sendo necessário que o Estado tome uma série de atitudes.
Primeiramente o Estado deve dar mais amparo ao Poder Judiciário, para que os processos
sejam julgamos mais rapidamente, além do Judiciário utilizar mais do princípio da
imparcialidade, não se deixando influenciar por fatores externos e determinar prisões
provisórias apenas quando estas forem extremamente necessárias, isso já diminuirá
bastante, já que quase 40% da população carcerária é formada de presos provisórios, como
dito anteriormente.

Também deve-se criar mais colônias agrícolas e indústrias e mais casas


de albergado, para que o sistema da progressão de regime possa ser devidamente aplicado,
além, obviamente, da necessidade de dar maior assistência jurídica aos indivíduos que se
encontraram encarcerados, para que estes tenham respeitados seus direitos e não fiquem
presos por mais tempo do que deveriam.

Quanto ao aspecto referente à pessoa do apenado, é necessário que se


acabe com extrema urgência com a ociosidade, que infelizmente se incorporou com o
conceito de pena restritiva de liberdade na maioria dos presídios do nosso sistema
penitenciário, diferentemente do ocorre nas penitenciárias dos Estados Unidos.
75

Para se combater a ociosidade não existe nada mais qualificado que o


investimento para que o encarcerado trabalhe e estude. O trabalho dignifica o homem deixa
a mente e o corpo ocupados. Já a educação faz com que os presos possam se capacitar e
aprimorar suas habilidades para qualquer área profissional que deseje desempenhar. Esta
disciplina de estudo com trabalho é fundamental para o alcance da ressocialização.

O trabalho é algo fundamental, tanto para a construção de valores morais


quanto para a obtenção de valores materiais. A instalação de mais cursos
profissionalizantes nas penitenciárias possibilita que o preso possa aprender algo, se sentir
útil, não apenas enquanto está preso, mas quando for retornar ao convívio social, facilitando
a inserção do ex-condenado no mercado de trabalho, após o cumprimento de sua pena.

O trabalho e estudo do condenado, nada mais são do que alguns dos


direitos já previstos em lei, que são fundamentais no trabalho da ressocialização, mas que
não são garantidos pelo Estado. O artigo 29 da Lei de Execução Penal dispõe que: “O
trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade
educativa e produtiva”.

Já o artigo 41, da mesma norma, prevê que os presos possuem direito à


alimentação, vestuário; atribuição de trabalho e remuneração; previdência social;
proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação;
exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas compatíveis com
a execução da pena; assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;
proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; entrevista pessoal e reservada com o
advogado; visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;
igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena; contato
com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de
informação que não comprometam a moral e os bons costumes.

Fica evidente que a própria lei prevê garantias essenciais aos presos, mas
o Estado não consegue disponibiliza-las, o que acaba dificultando o processo de
ressocialização, fato este que também deve ser alterado mediante maiores investimentos e
76

dedicação do Estado para o sistema penitenciário, voltando-se para a efetivação da política


de ressocialização do indivíduo.

O investimento e incentivo ao labor do detento é algo fundamental, pois é


uma ação benéfica para todas as partes. Para a sociedade é benéfico no sentido de que após
o cumprimento da pena o ex-detento se adequará ao convívio social, possuindo mais
condições de ser uma pessoa útil e diminuindo os índices de criminalidade.

Para o apenado serve como uma maneira de sentir-se útil e combater os


perigos do ócio, além de contribuir com a melhoria de sua personalidade, permite ao
recluso possuir algum dinheiro para ajudar na sobrevivência de sua família e de suas
necessidades, e concede a ele uma maior oportunidade de ganhar sua vida de forma digna
após adquirir liberdade, pois estará preparado ao retorno ao convívio social e terá mais
chances de conseguir um emprego.

Importante ressaltar que além dos benefícios acima expostos o artigo 126,
parágrafo 1º, inciso II, da Lei de Execuções Penais, traz o trabalho como um meio de
remissão de pena, onde a cada 3 (três) dias de trabalho desconta-se 1 ( um) dia de pena.

O trabalho prisional além de ser um importante mecanismo


ressocializador, evita os efeitos corruptores do ócio, contribui para a formação da
personalidade do indivíduo,

Para o Estado o trabalho é vantajoso no sentido de aumentar os índices de


ressocialização e com isso diminuir os índices de reincidência e com isso a redução da
criminalidade, também é uma forma de ressarcir o Estado pelas despesas advindas da
condenação do indivíduo infrator.

É lamentável e absurdo ver e saber que estamos diante de algo que possui
benefícios para todos e que é um dos melhores meios para se alcançar a, atualmente
utópica, ressocialização e que a maioria das unidades penitenciárias brasileiras não se
investe no trabalho nem incentiva sua partida, não se aproveitando o potencial da mão de
obra que os cárceres disponibilizam.
77

Um bom exemplo de que o trabalho é uma ótima ferramenta para auxiliar


na ressocialização e de bom proveito para o Estado, em relação à mão de obra carcerária,
foi a utilização de vários detentos nas obras da Copa do Mundo do Brasil, que ocorreu ano
passado, em 2014, onde foram utilizados diversos detentos como mão de obra para a
construção dos estádios, auxiliando assim o Estado na contratação de mão de obra barata e
a eles mesmo, que tiveram a oportunidade de ficar trabalhando fora do cárcere e de serem
remunerados e de ter parte de sua pena remissa.

Logo é algo que o próprio Estado já utilizou e sabe dos bons resultados
que podem ser obtidos, mas que explora pouquíssimo, sendo este exemplo ocorrido durante
as obras da Copa do Mundo, um acontecimento que infelizmente não se repete com
frequência.

A outra medida que necessita de maior investimento e incentivo e o


ensino, a educação. A respeito da educação dentro dos presídios, a Lei de Execuções Penais
trata do assunto nos artigos 17 à 21, no artigo 41, inciso VII e no artigo 126, parágrafo 1º,
inciso I .

A educação possui principal objetivo a qualificação indivíduo, para que


ele tenha maiores possibilidades de lutar por um futuro melhor ao sair da prisão, tendo em
vista a importância do estudo, pois este é considerado, atualmente, um requisito
fundamental para entrar no mercado de trabalho, e temos que a maioria dos encarcerados
não possuem sequer o ensino fundamental completo.

O estudo, assim como o trabalho, é considerado um meio de remisso de


pena, como previsto no artigo 126, parágrafo 1º, inciso I da Lei de Execuções Penais, sendo
1 (um) dia de pena descontado a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de
ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de
requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias.

Assim como o trabalho, a educação é algo de fundamental importância


para o alcance da ressocialização, pois é elemento importante para a construção do caráter
78

do indivíduo e para que este tenha mais chances de construir um futuro melhor, além de ser
uma forma de diminuir os dias que devem ser cumpridos atrás das grades.

Como dito anteriormente, muitas pessoas que estão presas desejariam ter
a possibilidade de trabalhar e estudar, pois seria uma grande oportunidade de se aperfeiçoar
e qualificar para o mercado de trabalho, oportunidade está que não tiveram enquanto livres,
pois nossa vivemos em uma sociedade onde a desigualdade social e isolamento social
(isolamento dos indivíduos pobres, onde são marginalizados e tratados como inferiores),
são uma realidade, a exemplo, disto temos a cidade de São Paulo, apesar disto ocorrer em
todo o Brasil, na qual temos em uma mesma rua uma belíssima mansão e uma favela ao
lado, reflexo da extrema desigualdade brasileira.

Além dos investimentos buscando a obtenção da ressocialização do


detento a a possibilidade de uma melhor execução da pena, é importante que o Estado tome
medidas para a política criminal, devendo analisar a possibilidade de ampliação das
hipóteses de substituição de pena privativa de direito por pena privativa de liberdade, como
dito anteriormente, a diminuição de prisões provisórias é uma possível reformulação do
código penal, pois este ao longo dos anos foi aumentando as tipificações de novos delitos,
todos possuindo como pena a restrição de liberdade, sendo que muitos crimes desses
deveriam possuir tanta relevância para o direito penal, tendo em vista o princípio da última
ratio ou subsidiariedade do direito penal, que acaba por muitas vezes sendo mitigado.

Nosso código penal possui muita influência da diferença de classes, como


dito anteriormente, o que acaba gerando uma desproporcionalidade no quantum da pena
dos delitos, como exemplo pode-se citar os delitos contra o patrimônio, que possuem uma
pena altíssima para o objeto de tutela, podendo tendo um roubo majorado uma pena
próxima à um homicídio simples, que é um crime contra a vida. Os crimes patrimoniais, a
depender de sua gravidade, e vários outros delitos previstos em nosso Código Penal
deveriam sofrer uma alteração na quantidade de pena, outros poderiam inclusive serem
resolvidos apenas com a pena restritiva de liberdade ou se findar meramente no âmbito da
responsabilidade civil.
79

Por fim, concluímos que são necessárias diversas mudanças, sendo as


mais urgentes as referentes às que possibilitam o alcance da ressocialização e a melhor
estruturação e investimentos do sistema penitenciário, para que saia o mais rápido possível
dessa falência e para que se reerga com o alcance da ressocialização, resultando em uma
melhor execução da pena e na redução da reincidência e com isso da criminalidade.
80

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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www.drcarlosandrade.com/2012/11/o-que-eram-as-cidades-de-refugio.html?m=0 > Acesso
em 10 de abril de 2015

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BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 3. ed.


São Paulo: Saraiva, 2004.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 4. ed.


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BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral, v. 1. 15. ed. São
Paulo: Saraiva, 2009.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral.13. ed. São
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