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Prestes, os militares

e o PCB
Geraldo Lesbat Cavagnari Filho

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Comunicação apresentada por Geraldo Lesbat Cavagnari Filho, coronel da re-
ARTIGOS

serva do Exército e pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade


Estadual de Campinas – NEE/ UNICAMP, no seminário Centenário de Luís Carlos
Prestes, na sessão de 07/05/1998, intitulada Prestes, os militares e o PCB. A mesa
contou com a participação do Prof. Gildo Marçal Brandão (USP) e de Salomão Ma-
lina, do PPS. A moderação foi feita pelo Prof. José Luís Beired, da UNESP/ Assis.

Inicialmente agradeço ao CEDEM a oportunidade que está me proporcionando


para participar deste evento. Gostaria de esclarecer, também, que nem Luiz Carlos
Prestes, nem o Partido Comunista Brasileiro são meus objetos de estudo. Aliás, nunca
foram.
Ouvi falar de Prestes pela primeira vez em 1945, logo após a queda de Getúlio
Vargas. Mas, só em 1948, é que adquiri maior conhecimento sobre ele – quando li sua
biografia, escrita por Jorge Amado. E, desde então, não só ele, mas também os “tenen-
tes” passaram a ser para mim objeto de do Gomes, Siqueira Campos, os irmãos biografá-lo. Vou apenas centrá-la em três
curiosidade histórica. A partir daí, passei Távora (Joaquim e Juarez), João Alber- fatos históricos que estão ligados a Luiz
a acompanhar a trajetória política deles – to e Cordeiro de Farias. Com exceção de Carlos Prestes: a Coluna, 1935 e a Guer-
de Prestes e dos “tenentes”. Eduardo Gomes e Joaquim Távora, todos ra Fria.
Em 1965, servindo no CPOR de eles participaram da Coluna Prestes. A historiografia brasileira tem privile-
Curitiba no posto de capitão, habituei- É claro que o meu interesse histórico giado mais a dimensão política que a
me a compulsar com relativa freqüência pelo “tenentismo”, a Coluna Prestes, a dimensão militar da Coluna Prestes. Até
os boletins do Exército, editados pelo Es- Revolução de 30, 1935 e o Estado Novo hoje, não foi feito nenhum estudo dessa
tado-Maior do Exército, não para atender não se limitou à consulta a tais boletins. dimensão. É verdade que não houve por
a uma necessidade burocrática, mas para Com o tempo esse interesse foi-se bene- parte do Partido Comunista, nem da es-
satisfazer minha curiosidade histórica ficiando de leituras mais profundas sobre querda brasileira, assim como do meio
pelos fatos que envolveram militares no esses acontecimentos – principalmente acadêmico, preocupação em orientar o
processo de insurgência desencadeado no na década de 1970. estudo também para a dimensão militar.
início da década de 1920 e que se prolon- Jamais tive algum contato pessoal O Exército brasileiro, por sua vez, pro- 33
gou até a implantação do Estado Novo. com Luiz Carlos Prestes. Vim a conhecê- curou sempre desqualificá-la como seu
Os boletins do Exército que mais lo na UNICAMP, no final da década de objeto de estudo – assim como fez com
me interessaram foram aqueles que re- 1980, quando ele prestava depoimento Canudos e Contestado. Por quê? Porque
gistram fatos referentes aos “tenentes” no Arquivo Edgard Leuenroth. Foi a úni- ao estudar tais fatos históricos, teria de
– insubordinações, revoltas, deserções, ca vez que o vi pessoalmente. Em todos obrigatoriamente inseri-los na memória
prisões etc. Todos os envolvidos na in- esses anos, o que mais me impressionou militar e de reconhecer sua incapacidade
surgência, em algum momento, foram nele – além do seu caráter, da sua hones- para lidar com conflitos de baixa inten-
declarados desertores e chamados de ba- tidade, da sua coerência política – foi a sidade.
derneiros, de traidores da pátria pelo go- sua postura, a manutenção de uma pos- Foram necessárias várias expedições mi-
verno e pelas Forças Armadas. E quem tura adquirida no Colégio Militar. Para litares para aniquilar Canudos. Aniquilar
são esses desertores e traidores da pátria, mim, Prestes nunca deixou de ser um não no sentido consagrado por Clau-
na década de 1920? Menciono apenas os militar. sewitz – de retirar do inimigo a capaci-
que mais se destacaram: Prestes, Eduar- Nesta exposição, não pretendo dade de reagir de modo organizado e de
prosseguir na guerra –, mas no sentido li- luna. Por quê? Porque, apesar de toda a nem quando da sua dissolução. Após a In-
teral. Ou seja: eliminar todos os homens incompetência revelada na conduta das tentona de 1935 é que essa rejeição viria
válidos, preservando apenas os idosos, operações militares, o Exército foi o a se apresentar com virulência crescen-
as mulheres e as crianças. Na Guerra do vencedor em Canudos e no Contestado, te. O levante de 1935 eliminou qualquer
Contestado ocorreu o mesmo, só que em e esse resultado não se confirmou contra possibilidade de essas forças reconhece-
menor escala e com menos violência. a Coluna Prestes. Ou melhor, a história rem em Prestes o chefe militar vitorioso,
Os estudos sobre Canudos e o militar brasileira não registra as derrotas o brilhante estrategista militar que impôs
Contestado, realizados no âmbito mili- sofridas pelas Forças Armadas. a elas a única derrota na história militar
tar, têm sido até o presente medíocres. É verdade que a única derrota so- brasileira.
A experiência militar adquirida nesses frida pelo Exército brasileiro em com- A chamada Intentona de 1935 é o
conflitos não foi aproveitada, no momen- bates de baixa intensidade – ou seja, em segundo fato histórico ligado a Luiz Car-
to devido, para se repensar a doutrina e operações contra irregulares – foi quan- los Prestes. Não pretendo emitir qualquer
a organização militares, tendo em vista do se confrontou com a Coluna Prestes. opinião a respeito de sua concepção e de
futuros conflitos de baixa intensidade. Tem sido um erro mantê-la ausente da seu desencadeamento. Pretendo apenas 34
Essa experiência não produziu nenhuma memória militar. É uma pena. Quanta destacar sua conseqüência mais signifi-
modificação substantiva no Exército. Ele experiência desperdiçada, que poderia cativa, operacionalizada com competên-
manteve-se inapto para dar respostas efi- orientar revisões profundas na doutrina e cia por Góes Monteiro.
cazes a futuros conflitos de tal natureza. na organização militares. Assim, o Exér- As Forças Armadas (Marinha e
Se alguns estudos foram feitos so- cito viu-se obrigado, meio século após, Exército) estavam submetidas a um pro-
bre Canudos e o Contestado, nenhum es- a buscar nas experiências estrangeiras cesso de desgaste desde 1922 -– desde
tudo sobre a Coluna Prestes, por sua vez, (francesa e norte-americana) subsídios o levante do Forte de Copacabana –, en-
foi realizado no âmbito militar. Embora para sua doutrina e sua organização no frentaram 24, 30 e 32, antes de culminar
as Forças Armadas, ou mais precisamen- combate a irregulares, durante a Guerra em 35. Em todo esse período, os militares
te o Exército, reconheçam aqueles dois Fria. tiveram presença política significativa,
conflitos armados como fatos históricos A rejeição de Luiz Carlos Prestes mantendo um clima indesejável de indis-
– não há dúvida, desagradáveis na visão pelas Forças Armadas brasileiras não se ciplina, de afronta à hierarquia. Foi um
militar –, o mesmo não ocorre com a Co- apresentou durante a ação da Coluna, período de instabilidade crônica. O retor-
no da estabilidade político-institucional, presença comunista nas Forças Armadas alcançá-lo, reproduziu em maior escala,
condição necessária para o desenvolvi- foi mais significativa em 1964 que em mas sem sucesso, o que tentara em 1935:
mento do País, só seria possível, segundo 1935. solapar a hierarquia e a disciplina no âm-
Góes Monteiro, se o Estado dispusesse A Guerra Fria criou o terceiro fato: bito das Forças Armadas.
de Forças Armadas disciplinadas. a busca da decisão no âmbito militar, an- A partir de 1964, na visão militar,
A dificuldade para impor o respei- siosamente perseguida pelos anticomu- a postura ideológica do Brasil no conflito
to aos princípios da hierarquia e da dis- nistas. O conflito Leste-Oeste induziu à Leste-Oeste era inequívoca – anticomu-
ciplina só foi superada em 1935. Góes criação de um ambiente favorável a eles: nista. Na frente externa, manteve-se ali-
Monteiro entendeu que essa dificuldade a consolidação da hegemonia dos Esta- nhado com os Estados Unidos contra o
só seria superada se fosse possível unir as dos Unidos na América Latina, o con- expansionismo soviético. Na frente inter-
Forças Armadas em torno de uma causa senso ideológico em torno do anticomu- na, agindo com meios próprios, buscava
comum – e 35 proporcionou essa causa, nismo e o alinhamento estratégico dos o aniquilamento da subversão comunista
a do anticomunismo. O anticomunismo países latino-americanos com os EUA. – ou seja, do “inimigo interno”. Como
induziu à reintrodução de tais princípios Embora na clandestinidade desde a direita militar rotulava de “comunis- 35
nas Forças Armadas. Ou seja, 35 garan- 1947 – e enfrentando dificuldades de toda ta” toda a esquerda, por extensão, toda a
tiu a consolidação da unidade militar. A a ordem –, o PCB conseguiu manter uma oposição ao regime autoritário passou a
partir daí, então, elas estariam aptas para presença significativa no meio militar. ser considerada “comunista”. É claro que
sustentar um projeto maior – o Estado O engajamento dos militares comunistas o anticomunismo recrudesceu no âmbito
Novo. em campanhas nacionalistas e o contro- militar, durante o autoritarismo.
O anticomunismo alastrou-se no le, por algum tempo, do Clube Militar Hoje, já com 15 anos de regime
meio militar porque grande parte – di- não foram suficientes para neutralizar a democrático e com 10 anos sem guerra
ria maioria esmagadora – dos militares eficiente direita militar. De certo modo, fria, espera-se que, com o tempo, Prestes
não era comunista. Mas ele seria triun- diria que a esquerda militar – majorita- venha a ser recuperado para a memória
fante em 1964 mesmo com a presença riamente comunista – não foi competen- militar. Prestes é reconhecido como um
significativa de militares comunistas – te, durante o Governo João Goulart, no dos personagens mais destacados da his-
cujo contingente de militantes superou estabelecimento do controle efetivo das tória do Brasil, mas continua ainda es-
de muito o de 1935. Daí o paradoxo: a Forças Armadas. E, no seu esforço para tigmatizado na história militar brasileira.
Não há dúvida de que o tempo apagará
essa marca infamante. Após sua morte, já
lhe foi legalmente concedida a patente de
coronel do Exército. Creio que deve ser o
início de uma correção histórica.
O reconhecimento de seu prota-
gonismo destacado na história decorre
tanto de seus acertos como de seus er-
ros. Mas, de qualquer modo, Luiz Carlos
Prestes “marcou a história do Brasil mais
do que qualquer outro”. Do ponto de vis-
ta militar, comandou “a primeira longa
marcha do século XX, uma das mais fan-
tásticas proezas militares (guerrilheira 36
em sua concepção e execução) de que se
teve notícia até que Mao Tsé-Tung, anos
depois, assombrou o Oriente com a sua
longa marcha” (O Estado de S. Paulo, 8
de março de 1990).

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