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ISSN 1518-2541

Volume 2, Número Especial (2001)


Anais do Grupo de Trabalho (GT) de História Antiga
Realizado no XXI Simpósio Nacional da ANPUH de 23 a 25de julho de 2001.
Coord. Gilvan Ventura da Silva (UFES)
NOTA

Esta edição reproduz os artigos publicados na primeira série da Revista


Hélade. Originalmente, a maioria dos artigos estava disponível no corpo
do antigo site, em formato HTML. Como essa prática editorial caiu em
desuso, iniciamos um movimento de reedição tanto para o resgate da
memória do periódico quanto para sua adequação ao formato atualmente
praticado. Observa-se, contudo, que os trabalhos foram reproduzidos
sem qualquer intervenção em termos de conteúdo, permanecendo, desta
forma, regidos pela norma ortográfica então vigente e pelas perspecti-
vas dos autores à época da redação. Também mantivemos as informações
pessoais inalteradas, a despeito de eventuais mudanças de titulação ou
filiação institucional que possam ter ocorrido ao longo desses anos. O
mesmo se aplica às informações relativas aos conselhos, indicados em
cada edição tal como foram compostos à época.

Atenciosamente,
Os Editores
Núcleo de Estudos de Representações e de Imagens da Antiguidade
http://www.historia.uff.br/nereida/

Conselho Diretor

Alexandre Carneiro Cerqueira Lima


Adriene Baron Tacla
Maria Regina Candido

Conselho Editorial

Ana Teresa Marques Gonçalves


Ciro Flammarion Cardoso
Haiganuch Sarian
José Antonio Dabdab Trabulsi
Maria Manuela Ramos Souza Silva
Neyde Theml
Norma Musco Mendes
Roland Étienne

Conselho Consultivo

André Leonardo Chevitarese


Gabriele Cornelli
Maria da Graça Schalcher
Pedro Paulo Funari
Sílvia Damasceno
SUMÁRIO

EDITORIAL A Produção Intelectual


em História Antiga no Brasil
Editorial do GT de História
Antiga (6) Proposta de Banco de Dados em
Gilvan Ventura da Silva História Antiga (40)
Fábio Duarte Joly

História Antiga e A História Antiga nos Cursos


Livro Didático de Graduação em História
no Brasil (42)
Os Conteúdos de História Antiga
Fábio Faversani
nos Livros Didáticos Brasileiros (9)
Ana Teresa Marques Gonçalves A História Antiga na produção
acadêmica do Departamento de
Ler e Escrever: Livros Didáticos (14) História – USP (47)
Fábio Faversani Maria Aparecida de Oliveira Silva
Simplificações e Livro Didático: um História Antiga e Internet (49)
estudo a partir dos conteúdos de Adriene Baron Tacla
História Antiga (18) Maria Regina Candido
Gilvan Ventura da Silva Alexandre Carneiro Cerqueira Lima
A Importância de uma Abordagem As Culturas Greco-Romanas
Crítica da História Antiga nos em Discussão: as Pesquisas
Livros Escolares (23) em Antigüidade Clássica da
Pedro Paulo Funari Unicamp (53)
Lourdes M.G.C. Feitosa
Formação de Recursos
Renata Senna Garraffoni
Humanos em História
Antiga no Brasil
LHIA e PPGHC: Equipe,
Integração Ensino-Pesquisa
e Interdisciplinaridade (28)
Regina Maria da Cunha Bustamante

Atividades de Formação e Produção


Científica em História Antiga (34)
Margarida Maria de Carvalho
EDITORIAL
Editorial do GT de História Antiga
Gilvan Ventura da Silva

Em julho de 2001, durante a realização do na íntegra, ficam agora à disposição do públi-


XXI Simpósio Nacional de História – A História co graças à pronta iniciativa dos editores des-
no Novo Milênio: entre o individual e o coletivo, ta revista em registrar aquilo que foi objeto de
nas dependências da Universidade Federal Flu- reflexão por parte dos membros do GT. O pri-
minense, reuniu-se pela primeira vez o Grupo meiro eixo de discussão, História Antiga e Livro
de Trabalho em História Antiga da Associação Didático, coordenado pela prof ª Ana Teresa M.
Nacional de História (ANPUH). O GT é o resulta- Gonçalves, buscou apontar todos os problemas
do de um conjunto de iniciativas desenvolvidas relativos à transmissão dos conteúdos da dis-
por pesquisadores da área visando a estabele- ciplina nas obras escolares, especialmente as
cer um novo e permanente fórum de discus- destinadas ao Ensino Fundamental, como por
sões acadêmicas sobre a Antigüidade no Brasil. exemplo os distintos interesses e expectativas
Integrando profissionais com distintos níveis envolvidos na produção dos livros didáticos, os
de formação e contando com a participação equívocos e imprecisões cometidos pelos auto-
de docentes vinculados a diversas universida- res, resultado de um ensino superior na maioria
des brasileiras, o GT de História Antiga possui, das vezes deficiente, e a necessidade urgente
como principais metas, a criação de um circui- de se estimular, junto aos professores do Ensino
to ágil de informações entre os pesquisadores Fundamental e Médio, uma análise cuidadosa
no tocante às atividades de formação e pesqui- do material didático que utilizam uma vez que,
sa desenvolvidas no País; o fomento à criação como é público e notório, em inúmeras escolas
de projetos interinstitucionais de pesquisa e a brasileiras os livros didáticos se constituem na
intervenção na qualidade do ensino de Histó- única fonte de consulta acessível tanto para os
ria Antiga, desde o Ensino Fundamental até os alunos quanto para os professores.
exames vestibulares. Dessa forma, acreditamos O segundo eixo, coordenado pela Prof ª Dr
que o GT poderá contribuir de modo eficaz não ª Regina Maria C. Bustamante, intitulou-se For-
apenas para o aprimoramento das reflexões crí- mação de Recursos Humanos em História An-
ticas acerca da História Antiga como também tiga no Brasil. As comunicações apresentadas
para a sua difusão nos meios escolares e uni- procuraram construir um painel acerca das ex-
versitários. periências com a formação de pesquisadores
Tendo em vista tais objetivos, o primeiro em História Antiga, desde a graduação até o
encontro do GT estruturou-se a partir de três Doutorado, em três universidades brasileiras:
eixos de discussão cujos trabalhos, publicados USP, UNESP/Franca e UFRJ (LHIA). Em face, por

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volume 2 | 2001
um lado, das particularidades da área, cuja aquém de condições de trabalho satisfatórias.

EDITORIAL
formação profissional envolve, por exemplo, o Entretanto, se observarmos os avanços obtidos
aprendizado de idiomas - incluindo-se o grego ao longo da última década, é impossível não
e o latim - e estágios de pesquisa no exterior se acreditar num futuro promissor para a área,
e, por outro lado, dos prazos oficiais cada vez permanecendo como desafio para os historia-
mais reduzidos para a realização do Mestrado dores da Antigüidade neste novo milênio que
e do Doutorado, enfatizou-se a necessidade de se anuncia tornar a pesquisa em História Antiga
se investir em um trabalho de base junto aos no Brasil reconhecida e respeitada em âmbito
alunos de graduação mediante o programa de internacional. Nessa empreitada, julgamos que
Iniciação Científica. Além disso, as exposições o GT de História Antiga talvez possa, ainda que
tiveram o mérito de assinalar a existência de modestamente, vir a dar a sua contribuição.
uma demanda crescente pela especialização em
História Antiga no Brasil, não obstante todos os
problemas de financiamento enfrentados pela
área de Ciências Humanas em geral, e de reve-
lar duas tendências evidentes quando se trata
da formação de recursos humanos nessa área: a
necessidade cada vez maior de implantação de
pesquisas por equipe e o estímulo à interdisci-
plinaridade.
Por último, o terceiro eixo, A Produção Inte-
lectual em História Antiga no Brasil, coordena-
do pelo Prof º Fábio Duarte Joly, teve por fina-
lidade realizar um inventário dos livros, artigos,
teses e dissertações produzidos pelos alunos e
professores da USP e da UNICAMP como uma
etapa preliminar à criação de um banco de da-
dos em História Antiga a ser gerenciado pelo GT.
O eixo se voltou ainda para a difusão da produ-
ção intelectual em História Antiga por intermé-
dio da Internet, cabendo aos editores da Helade
expor a sua bem sucedida experiência na ma-
nutenção de um periódico eletrônico sobre o
tema, revelando-nos o quanto iniciativas deste
tipo podem se constituir numa maneira ágil e
econômica de divulgar em âmbito internacional
a produção científica dos pesquisadores brasi-
leiros, os quais encontram muitas dificuldades
para tornar público os resultados obtidos com
suas pesquisas
De tudo o que foi exposto ao longo de três
dias de debates e levando-se em consideração
a receptividade demonstrada pelos participan-
tes do Simpósio para com as atividades do GT,
é possível constatar-se um crescimento eviden-
te do interesse pelo ensino e pela pesquisa em
História Antiga, embora estejamos ainda muito

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volume 2 | 2001
História Antiga e Livro Didático
Coord.: Ana Teresa Marques Gonçalves (UFG)
Os Conteúdos de História Antiga nos

ARTIGOS
Livros Didáticos Brasileiros
Ana Teresa Marques Gonçalves
Professora de História Antiga do Departamento de História da UFG.

Resumo: Contudo, na maior parte das salas de aula,


Este artigo pretende discutir alguns aspectos do o livro didático converte-se no único recurso te-
modo como os conteúdos de História Antiga são tra- órico-metodológico e de conteúdo empregado
tados em alguns livros didáticos brasileiros. Perce-
bemos que existe uma enorme separação entre os pelos profissionais do saber. Os alunos cobram
espaços da sala de aula e da Universidade, proble- a existência de um manual, os pais dos alunos
ma este aliado à ausência de especialistas em His- demandam um roteiro de estudo para os filhos,
tória Antiga nas equipes que produzem estes livros e os professores, com baixos salários, e com
didáticos.
muitos alunos e aulas a serem ministradas, sub-
Palavras-Chave: História Antiga; Educação; Livro Di- metem-se, muitas vezes acriticamente, ao con-
dático
teúdo que está condensado nos livros didáticos.
Abstract: Muitos professores ainda se preocupam em
This article aims at discussing how the Ancient procurar novas informações e novos exercícios
History is taught in some handbooks used by Bra- para melhorarem suas aulas, mas utilizam para
zilian students. We realize an extreme breaking
between the ordinary classroom and the University, isso outros livros didáticos. Como afirma Nicho-
a problem like this associated with the absence of las Davies, se o professor não tiver formação e
experts in Ancient History during the making of the condições financeiras e de exercício profissio-
hadbooks.. nal adequados, novos mateirais ou linguagens
Keywords: Ancient History; Education; Class Book. poderão apresentar os mesmos problemas que
o livro didático profissional (Davies, 1996: 81).
Tem-se que alterar conjuntamente os livros di-
dáticos e a situação do professor.
O livro didático de História deveria ser mais Parece ainda haver em nossa sociedade o
um instrumento de trabalho, entre outros, no entendimento de que a escola não é um local
interior das salas de aula brasileiras. Ele deveria de construção de conhecimento, mas apenas
ser uma fonte de consulta confiável e atualiza- de difusão de um saber constituído em outras
da e também ser empregado como objeto de instâncias, principalmente nas Universidades. À
investigação, por meio do qual seus conteúdos Academia competiria a realização de pesquisas
fossem continuamente problematizados, por e a construção do conhecimento; à escola cabe-
alunos e professores, e suas interpretações his- ria a reprodução do saber já constituído.
tóricas dessacralizadas e criticadas (Lima, 1998: Entretanto, no que se refere aos conteú-
205). dos de História Antiga, nem esta relação tem

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se estabelecido. Uma leitura crítica realizada coleções de sucesso editorial, e, desta forma,
em alguns livros didáticos de História, publica- repetem erros de conteúdo e de conceituação
dos no país, é suficiente para demonstrar que de forma acrítica.
eles estão, em sua grande maioria, defasados Sem os especialistas em História Antiga, que

ARTIGOS
em termos das pesquisas e dos arcabouços nem sempre são consultados para revisar as
teórico-metodológicos construídos e aplicados informações postas nos manuais, diversos con-
nas Universidades. Os livros didáticos não têm ceitos já revistos, algumas vezes já mesmo ul-
sido atualizados, não conseguindo acompanhar trapassados e substituídos por outros mais ade-
as novas descobertas arqueológicas e as novas quados ao real vivido no passado, reaparecem
tendências de conceituação, aplicadas às relei- com toda força nos livros didáticos. É o caso,
turas feitas dos documentos textuais impressos. por exemplo, do conceito de “decadência”, que
Como a maior parte dos professores de en- reina quase solitário na explicação da crise do
sino fundamental encontram-se, por diversos Império Romano em nossos livros didáticos.
motivos, afastados das instâncias universitárias, Apesar de sua utilização estar sendo criticada,
eles não conseguem detectar os problemas de no meio acadêmico, desde a década de oitenta,
defasagem de conteúdo que se repetem nos e da existência do famoso verbete “Decadên-
livros didáticos. Segundo Sandra C. F. de Lima, cia”, feito por Jacques Le Goff para a Enciclopé-
afastados da produção do saber histórico, estes dia Einaudi, no qual este autor apresenta argu-
não buscam, muitas vezes, acompanhar os de- mentos decisivos para se repensar a utilização
bates acerca da produção científica, por meio deste conceito na explicação de fenômenos do
de leituras de caráter teórico; portanto, subme- mundo antigo e propõe a sua substituição pelo
tem-se acriticamente ao saber que é produzido conceito de “desagregação” do Império Roma-
pela academia e condensado nos livros didáti- no (Le Goff, 1994: 375-422), o conceito de “de-
cos. cadência” ainda reina soberano no estudo do
Como afirma Bárbara Freitag, o livro didático mundo romano em nossos livros didáticos.
não é visto como um instrumento de trabalho Outro conceito que se repete de forma acrí-
auxiliar na sala de aula, mas sim como a autori- tica, apesar de sua revisão já ter sido proposta
dade, a última instância, o critério absoluto de por historiadores brasileiros que trabalham com
verdade, o padrão de excelência a ser adotado o materialismo histórico, é o de Modo de Pro-
na aula (Freitag et alli, 1989: 124). Entretanto, dução Asiático, e dentro desta perspectiva a fa-
tudo isto ainda seria válido, mesmo visando a mosa Hipótese Causal Hidráulica, usada em vá-
reprodução do saber e não a sua construção, rios manuais para explicar o aparecimento das
se este conteúdo estivesse atualizado. Como os primeiras cidades junto aos leitos dos rios. No
conteúdos de História Antiga se repetem nas vá- livro “Modo de Produção Asiático: Nova Visita a
rias coleções, e estas, muitas vezes, ao se cons- um Velho Conceito”, historiadores de referência
tituírem buscam idéias nos manuais mais anti- para o estudo do mundo antigo no Brasil, como
gos, as desatualizações vão se repetindo através Ciro Flamarion S. Cardoso e Emanuel Bouzon,
dos tempos. defendem a idéia de que não é válido se querer
Na maioria das vezes, os conteúdos de Histó- derivar a civilização, em seus inícios e em certas
ria Antiga aparecem nos volumes das coleções regiões do mundo, de um fator mono-causal, ou
dedicados às quintas ou às sétimas séries do seja, a necessidade de um controle centraliza-
ensino fundamental. E é facilmente perceptí- do tanto do abastecimento de água quanto da
vel, que nem sempre as equipes, que formulam proteção contra as inundações em zonas áridas
estas coleções, integram professores especiali- ou semiáridas. Esse determinismo simplista, ao
zados em História Antiga. Não contendo espe- mesmo tempo geográfico e técnico, presente
cialistas no assunto, estas equipes acabam pre- nas formulações iniciais de Marx e Engels (e em
ferindo repetir informações advindas de outras vários de nossos livros didáticos), não pôde sus-
tentar-se ao ser transformado em hipótese de

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trabalho submetida a suficiente confrontação específicos e tinha uma dinâmica diversa da di-
empírica: tal hipótese demonstrou ser falsa em nâmica contemporânea (vide: Corassin, 1988);
todos os casos estudados (Cardoso et alli, 1990: e que a escravidão antiga apresentava carac-
121-122), mas ainda permanece como válida terísticas muito próprias, não contendo em si

ARTIGOS
em muitos dos nossos manuais. nenhuma questão racial e comportando figuras
Nas coleções de História, percebem-se duas impensáveis para o mundo moderno, como a
tendências principais ao se estruturar o conteú- do liberto romano (vide: Finley, 1991; Giardina,
do de História Antiga. Ou se tenta abranger de 1992; Vernant e Vidal Naquet, 1989).
forma panorâmica todas as civilizações antigas O conhecimento deste passado mais distan-
orientais e ocidentais, ou, buscando aproximar te é fundamental para a compreensão do pre-
o mundo contemporâneo do passado, remete- sente, mas ele não deve ser encerrado apenas
-se o aluno a uma procura das origens de certas neste caráter utilitário. Este passado deve ser
instituições atuais, ressaltando-se o valor das analisado a partir de seu próprio instrumental
civilizações grega e romana, principalmente. No de análise. Muitas vezes, para se despertar o in-
primeiro caso, ao se tentar abranger um conhe- teresse dos alunos, pode-se, e até mesmo deve-
cimento tão grande, as informações se perdem -se, começar o estudo de uma civilização, como,
no contexto geral. Lembramo-nos de um volu- por exemplo, a Mesopotâmica, a partir do que
me de uma coleção, dedicado à quinta série, no ela tem de exótico ou, ao contrário, de parecido
qual a civilização persa era tratada em três pará- com o tempo atual, como a confecção de ho-
grafos, a civilização chinesa, em cinco parágra- róscopos pelos caldeus. Destarte, não se pode
fos e a japonesa, em quatro parágrafos. Dessa ficar apenas nisto. No caso específico do estudo
forma, o aluno apenas sabe da existência destas da Mesopotâmica é fundamental explorar com
sociedades ao invés de estudá-las e de buscar os alunos o conceito de Cidade-Estado, que vai
compreendê-las. reaparecer no estudo da Grécia Antiga, do mun-
Acreditamos que seja melhor analisar um do romano, e mesmo no estudo das Cidades-Es-
conteúdo menos extenso, mas de forma mais tado modernas, como Florença, Gênova, entre
aprofundada. Todavia, muitos dos livros que op- outras (Cardoso, 1987).
tam por esta estratégia, acabam por incentivar Não somos contrários a comparações pas-
o aluno a empreender uma verdadeira busca sado/presente, desde que estas sejam feitas
às origens do que existe atualmente. Vêem-se de forma apropriada, sem distorções do que
as origens do teatro na Grécia, do direito em ocorreu no passado. Lembramo-nos de um livro
Roma, da democracia no mundo grego clássi- didático no qual se tentava estabelecer a todo
co, da reforma agrária na República Romana, da custo uma comparação simplista e anacrôni-
escravidão, como se o que houvesse hoje fosse ca entre a força bélica romana e a força bélica
um mero prolongamento do que houve no pas- norte-americana, sem se levar em considera-
sado. Fazem-se estas comparações sem se per- ção qualquer tipo de diferenciação entre elas.
ceber que o teatro na Grécia tinha um sentido Ao final do exercício proposto ao aluno, a única
político próprio e muito profundo para o povo conclusão possível era de que os Estados Uni-
grego, inclusive de caráter religioso; que o direi- dos atuais nada mais são que a reencarnação do
to romano foi sendo muito modificado ao longo Império Romano, sem se levar em consideração
do tempo, selecionado em suas várias verten- formas de dominação tão distantes no tempo e
tes, principalmente a partir da releitura que lhe no espaço e tão díspares na forma de se realiza-
foi imposta no Renascimento; que o conceito rem e nos propósitos a serem alcançados. Vide,
de democracia ateniense era completamente por exemplo, o estudo feito por Norberto Luiz
diverso do aplicado atualmente (vide: Finley, Guarinello, em um livro paradidático da Editora
1988) ; que a tentativa de reforma agrária, pro- Ática, Série Princípios, a respeito da noção de
posta pelos Gracos, respondia a anseios muito “Imperialismo”, diferenciando o imperialismo

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 11


volume 2 | 2001
Greco-Romano de como ele foi pensado nos uma das civilizações. Por exemplo, surgimento,
mundos moderno e contemporâneo. Trata-se desenvolvimento e crise da civilização egípcia;
do mesmo termo, mas com sentidos diferentes surgimento, desenvolvimento e crise da civili-
no tempo e no espaço. Na imensa maioria de zação mesopotâmica; surgimento, desenvolvi-

ARTIGOS
nossos livros didáticos ainda não se apresentam mento e crise da civilização grega; surgimento,
estas diferenciações. desenvolvimento e crise da civilização romana.
A ausência de especialistas em História Anti- Como se estas sociedades não tivessem intera-
ga, nas equipes que confeccionam as coleções gido entre si. São postas como blocos estanques
de livros didáticos para o ensino fundamental e nem nos exercícios propostos se tenta incen-
brasileiro, também se faz sentir na hora de se tivar o estudante a compará-las. Há muito mais
diferenciar o uso de conceitos no próprio estu- a preocupação em compará-las com o mundo
do das civilizações. Um exemplo recorrente é a contemporâneo do que compará-las entre si.
questão da “plebe” no mundo romano. Como Muitos livros didáticos acabam por se ca-
o mesmo termo “plebe” é usado para significar racterizar não como um material de referência,
grupos sociais diversos durante a República e o mas como um caderno de atividades para ex-
Império, o aluno fica sem entender o que foi a por, desenvolver, fixar e, em alguns casos, até
questão patrício-plebéia. Vai sempre parecer avaliar o aprendizado (Programa Nacional do
que foi uma luta travada entre pobre e ricos, Livro Didático, 2000: 20).
quando o que estava em discussão eram ques- Entretanto, nem nas atividades propostas so-
tões políticas mais do que econômicas. A ple- bre o mundo antigo impera a criatividade. Ain-
be no período da Realeza e nos primórdios da da se insiste na formulação de questionários,
República era formada por grupos sociais mui- nos quais se avalia a memorização dos alunos,
to diversos dos que viriam a compô-la no pe- mais do que seu entendimento e interpretação
ríodo imperial, e isto não é expresso em quase dos conteúdos. São raras as obras didáticas nas
nenhum livro didático existente, possivelmente quais se encontram exercícios que estimulam
porque nem os autores conhecem desta dife- a criatividade dos estudantes, nos quais se pe-
rença. çam, por exemplo, a sua opinião sobre os assun-
Além disso, são comuns os aparecimentos tos tratados. E, muitas vezes, quando tentam es-
de erros de datas, de explicação de processos timular o aluno a expressar a sua opinião, criam
históricos, de legendas errôneas nas imagens, verdadeiros tribunais da História, em que as
entre outros problemas. As imagens, na maioria personagens históricas são julgadas pelas suas
das vezes, são apenas usadas para embelezar o ações. Lembramo-nos de um livro didático no
livro, ou no máximo como uma confirmação do qual em cada capítulo a turma era incentivada
que é afirmado no texto. Dificilmente, encon- a criar um verdadeiro tribunal na sala de aula,
tramos obras didáticas nas quais as ilustrações com advogados de defesa e de acusação para
são exploradas como fontes históricas. Inclusi- julgar as personagens citadas, como Júlio César,
ve, várias vezes, usam-se pinturas modernas ao Cleópatra, Nero, Calígula, entre tantos outros já
se falar da mitologia grega e romana. Então, o paradigmáticos. Ao invés de estimular o enten-
que se apresenta ao aluno não são caracterís- dimento da História, ela é transformada, des-
ticas dos deuses antigos, mas a releitura que o ta maneira, numa potência julgadora, na qual
mundo moderno fez de seus atributos. imperam os juízos de valor e a transformação
Ao se relatar as experiências do passado, destas personagens históricas em verdadeiros
são poquíssimos os livros didáticos nos quais estereótipos.
se atenta para o fato de que muitos dos fatos Assim, torna-se interessante perceber que,
narrados, nas diversas civilizações apresenta- principalmente nos Manuais do Professor, que
das, ocorreram de forma simultânea. O mais acompanham os livros didáticos, aparecem ci-
recorrente é que se abram capítulos para cada tados, e sugeridos para consulta por parte dos

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volume 2 | 2001
mestres, vários títulos atualizados em termos Bibliografia
de História Antiga. Muitas vezes na própria bi-
bliografia do Livro do Aluno, aparecem elenca-
BITENCURT, C. (org.). O Saber Histórico na Sala de
dos títulos atualizados. Contudo, estes títulos
Aula. São Paulo: Contexto, 1997.

ARTIGOS
parecem apenas enfeitar a obra, visto que seu
BORGES, Vavy P. et alli. O Ensino de História: Revi-
conteúdo dificilmente aparece expresso nos são Urgente. São Paulo: Brasiliense, 1986.
textos que integram o livro didático. CARDOSO, Ciro F. S. A Cidade-Estado Antiga. São
Da mesma forma, buscando atender às mo- Paulo: Ática, 1987.
dernas técnicas pedagógicas, os livros didáticos __________________ et alli. Modo de Produção
e os Manuais do Professor, que os acompa- Asiático: Uma Visita a um Velho Conceito. Rio de Ja-
nham, tentam incluir propostas de filmes, de neiro: Campus, 1990.
livros paradidáticos e de sites a serem consul- CORASSIN, Maria Luíza. A Reforma Agrária na
tados na Internet. Todavia, dificilmente se ela- Roma Antiga. São Paulo: Brasiliense, 1988.
bora um roteiro para uso dos filmes propostos DAVIES, Nicholas. O Livro Didático: Apoio ao Pro-
e alguns títulos apontados são de difícil aplica- fessor ou Vilão do Ensino de História. Cadernos de
História. Uberlândia, 6(6): 81-85, 1996.
ção, por exemplo, nas quintas séries. Os livros
FINLEY, Moses I. Democracia Antiga e Moderna.
paradidáticos apontados, muitas vezes, são edi-
Eio de Janeiro: Graal, 1988.
tados pela mesma editora do Livro Didático. E
______________. História Antiga: Testemunhos
os sites indicados, quase sempre, se referem a
e Modelos. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
endereços eletrônicos de jornais e revistas, para
_____________. Escravidão Antiga e Ideologia
pesquisas, e não sites específicos de História Moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1981.
Antiga, nos quais os alunos poderiam encontrar FREITAG, Bárbara et alli. O Livro Didático em
outras informações a respeito do mundo antigo Questão. São Paulo: Cortez, 1989.
(vide: Rocha, 1997). GIARDINA, Andrea (org.). O Homem Romano. Lis-
Sabemos que é muito mais fácil criticar os boa: Presença, 1992.
livros didáticos existentes do que confeccionar GUARINELLO, Norberto Luiz. Imperialismo Greco-
um. Porém, tantos problemas de forma e con- -Romano. São Paulo; Ática, 1987.
teúdo poderiam e deveriam ser evitados, cha- LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas:
mando-se especialistas na área de História An- Unicamp., 1994.
tiga ou para integrar as equipes que produzem LIMA, Sandra C. F. de. O Livro Didático de Histó-
o manuais didáticos ou para dar pareceres na ria: Instrumento de Trabalho ou Autoridade “Cien-
tífica”?. História e Perspectivas. Uberlândia, 18/19:
obra já pronta. Acreditamos que, deste modo,
195-206, 1998.
ao menos alguns problemas poderiam ser resol-
NIDELCOFF, Maria Teresa. A Escola e a Compre-
vidos.
ensão da Realidade. São Paulo: Brasiliense, 1980.
Construir a História em sala de aula junto Programa Nacional do Livro Didático: Histórico e
com os alunos não é uma tarefa fácil. O Brasil Perspectivas. Ministério da Educação / Secretaria de
é um país de multiplicidades econômicas, cul- Educação Fundamental. Brasília , janeiro de 2000.
turais, regionais. E os livros didáticos também RADUCH, M. C. Temas de História em Livros Esco-
devem ser múltiplos, para responder a esta ca- lares. Porto: Afrontamento, 1970.
racterística do nosso país. Entretanto, o que se ROCHA, Ivan E. 1000 Sites de História Antiga e Ar-
espera é que o professor ao usar um livro didá- queologia. São Paulo: Arte e Ciência, 1997.
tico tenha certeza de ter em mãos um material SILVA, Marcos A . da (org.). Repensando a Histó-
minimamente adequado à sua tarefa de ensi- ria. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1984.
nar, contribuindo, assim, para a real aprendiza- VERNANT, Jean-Pierre; VIDAL NAQUET, Pierre.
gem dos alunos. Trabalho e Escravidão na Grécia Antiga. Campinas:
Papirus, 1989.
ZAMBONI, Ernesta (org.). A Prática do Ensino de
História. São Paulo: Cortez / CEDES, 1984.

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 13


volume 2 | 2001
Ler e Escrever: Livros Didáticos

ARTIGOS
Fábio Faversani
Professor de História Antiga do Departamento de História da UFOP

Resumo: Pretendo, nessa comunicação, discutir com


O presente trabalho discute os problemas que en- vocês os livros didáticos em uma dupla perspec-
contramos na abordagem dada à História Antiga par- tiva: a de quem os lê, quer como o professor
tindo do pressupostos que estas obras não existem
em si, mas em um “circuito de comunicação”. Para que os utiliza1, quer como o acadêmico que faz
melhor compreender essas deficiências, portanto, a análise crítica dessas obras2,e a de quem os
impõem-se melhor identificar quais são os pólos que escreve.3
socialmente as têm gerado e refletir sobre estratégias
para sua reversão. Nossa análise indica que é preciso, Portanto, a minha discussão passará por essa
mais do que criticar os livros didáticos, refletir sobra tripla perspectiva, mesmo que de forma invo-
a formação em História Antiga que temos dado na luntária. Um primeiro ponto bastante lembrado
graduação aos futuros professores na graduação e as
possibilidades de requalificação aos docentes e aces-
so a fontes de informação e formação alternativas e 1
Fui professor de primeiro e segundo graus entre os anos de
de qualidade para aqueles que estão em sala de aula. 1986 e 1991, em São Paulo, trabalhando em escolas que utili-
Apontamos para que a chave para a melhoria dos zam diferentes materiais didáticos. Vivenciei três situações com
conteúdos apresentados nos livros didáticos passa, relação ao uso de material didático em escolas: 1. aquelas que
produziam seu próprio material didático, 2. que o compravam
necessariamente, pela qualificação dos profissionais de redes de escolas visando a preparação para o vestibular (as
que utilizam esses livros. famosas apostilas), 3. que usavam livros didáticos.
Palavras-Chave: História Antiga; Educação; Livro Di- 2
Escrevi, como resultado dessa reflexão, um artigo em co-auto-
dático. ria com Luiz Carlos Villalta, que foi publicado em 1994 na revista
Vértice, de Portugal. Essa reflexão ocorreu em especial em fun-
Abstract: ção de minha atuação em cursos de qualificação de professo-
The present work aims to discuss the problems res, onde atuava, em especial, ministrando aulas sobre métodos
found in the approach given to Ancient History pre- e técnicas do ensino de história. Nessas ocasiões, a discussão
suming that these works don’t exist in them, but that sobre a avaliação dos livros didáticos e sua forma de utilização
together they build a communication circuit. In order pelos professores era uma constante.
to get a better comprehension of such lacks, it is ne- 3
Sou co-autor dos livros didáticos de 5ª série da Rede Pitágoras,
cessary to identify effectively which are the poles that tendo escrito os capítulos referentes à História Antiga (“Egito.”
socially have been generating those lacks as well as In: VILLALTA, Luiz Carlos; FAVERSANI, Fábio; ALVARENGA, Thába-
contemplate strategies to help their reversion. Our ta de Araújo. História. Ensino Fundamental. 5a série. v. 1. Belo
analysis points out that, more than only criticize di- Horizonte: Editora Universidade, 2000. (Coleção Pitágoras) 18
pp. “Grécia.” In: VILLALTA, Luiz Carlos; FAVERSANI, Fábio; ALVA-
dactic books, is needed to reflect on the formation we RENGA, Thábata de Araújo. História. Ensino Fundamental. 5a
are giving to History graduation students in Ancient série. v. 1. Belo Horizonte: Editora Universidade, 2000. (Coleção
History and also to think about teachers retraining in Pitágoras) 26 pp. “Roma.” In: VILLALTA, Luiz Carlos; FAVERSANI,
order to get a better access to sources of information, Fábio; ALVARENGA, Thábata de Araújo; CERQUEIRA, Adriano
plus qualitative and alternative formation to the ones Lopes da Gama; SILVA, Edna Mara Ferreira da. História. Ensino
who are giving this course. We have reasons to belie- Fundamental. 5a série. v. 2. Belo Horizonte: Editora Universida-
ve that the key for the better of didactic books con- de, 2000. (Coleção Pitágoras) 26 pp.). O público de leitores é
tents certainly is closely related to the qualification of “cativo”, uma vez que os professores e alunos da Rede não po-
the professionals that deals with those books.. dem optar por dispensar o uso desse material, ainda que seja
fortemente recomendado o uso de outros materiais paralela-
Keywords: Ancient History; Teaching; Didatic books. mente.

14 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
quando se trata de debater os livros didáticos O que nos parece interessante indicar para
é o lugar que ele ocupa, em geral, no proces- uma análise dos livros didáticos, especialmen-
so ensino-aprendizagem. Destaque-se que, em te no que se refere ao tratamento dado à His-
muitos casos, o livro didático é o único mate- tória Antiga nessas obras, é que os livros estão
rial disponível não só para alunos, mas também inseridos em circuito de comunicação ou de

ARTIGOS
para professores. Sendo assim, conclui-se que produção e consumo5, não sendo algo em si.
o livro didático assume um lugar central no que Para analisar seu conteúdo, impõe-se pensar
se refere ao que seja o ensino de história e, em em como ele é produzido e consumido, pensar
decorrência, um bom aferidor de sua qualida- essa obra como um produto social mais do que
de. Estudos sobre a prática dos professores de simples registro. A maior parte das análises de
História têm mostrado essa centralidade real4, livros didáticos segue sendo um estudo do que
ainda que os debates sobre como deveria ser são estes textos frente ao que eles deveriam ser
o ensino de História venha retirando, cada vez tendo em vista o estado da arte no que se refe-
mais, o peso dessas obras na prática do profes- re ao que é produzido pela historiografia e/ou
sor. em relação ao que eles deveriam propiciar para
Outro aspecto bastante lembrado é o fato que se realizasse o que se discute como sendo
dos livros didáticos movimentarem uma in- o perfil mais adequado para o ensino de histó-
dústria milionária. Para se ter idéia do quanto ria. Em síntese, a maior parte das análises dos
essa atividade movimenta, basta lembrar que livros são feitas por acadêmicos que discutem
mesmo os autores ganham muito dinheiro com o quanto os livros didáticos se aproximam das
ela... Coisa bastante rara, diga-se, quando se discussões feitas por eles próprios. Eu excetuo
trata do mercado editorial brasileiro. aqui as análises feitas pelo MEC, que obedecem
Tanto é assim que essa dupla característica: a outros critérios.
alto impacto pedagógico e grandes interesses Quando tratamos que eles estão inseridos
econômicos fez com que o MEC, por exemplo, em circuito de comunicação ou de produção
fosse instado a regular esse mercado, produzin- e consumo, queremos destacar que eles inte-
do uma crítica externa à indústria e consumido- gram comprador (governo ou pais), autor, edi-
res. Os livros são classificados por especialistas tor, professor e aluno. Nesse circuito temos, de
que os analisam e, conforme sua avaliação, eles um lado, o editor buscando colocar no merca-
são excluídos das compras feitas pelo Estado. A do um produto que tenha aceitabilidade e que,
idéia é circunscrever a escolha dos professores para tanto, procura um autor que se proponha a
àqueles títulos que sejam reconhecidos como tratar de temas que vão das chamadas comuni-
minimamente qualificados para cumprir seu im- dades primitivas à história mundial recente, em
portante papel e justificar os vultuosos investi- uma obra dividida em quatro volumes. Aqui já
mentos que são feitos na sua aquisição. Ou seja, aparece um limite íntrinseco à produção desse
em outras palavras, coloca-se um filtro entre o tipo de obra. Como uma única pessoa ou uma
encomendante das obras, os professores, e os pequena equipe de apenas até cinco pessoas
seus produtores, os editores. Percebeu-se que pode estar a par do estado da arte em termos
esse filtro era necessário. Importante fazer no- da produção acadêmica para produzir um texto
tar a tensão que envolve esse trabalho, já que de qualidade sob esse ponto de vista? Trata-se
ele acaba sendo um importante orientador para de algo, claramente, impossível. Aumentar a
o mercado, mesmo quando a classificação do equipe significa uma série de problemas na exe-
MEC não precisa ser obedecida, como é o caso cução dos trabalhos, contratos, manutenção de
das escolas da rede particular. uma certa unidade da obra, etc. Não é a toa que
as coleções didáticas não têm muitos autores.
Por outro lado, temos os compradores. Nes-
4
Citamos, como exemplos os estudos de ZAMBONI, Ernesta et se ponto, os professores têm papel fundamen-
alii. “Sabores e dissabores do ensino de História”. Revista Bra-
sileira de História, 9. São Paulo: ANPUH, 1990. pp. 181-195. e tal. Eles têm um peso muito grande na decisão
VILLALTA, Luiz Carlos. “Dilemas da relação teoria e prática na
formação do professor: alternativas em perspectiva”. Trabalho 5
DARNTON, Robert. “O que é a história dos livros?” In: O beijo
apresentado no 6o Congresso Brasileiro de Educação. São Paulo: de Lamourrete: Midia, cultura e revolução. São Paulo: Cia. das
datiloscrito, 1991. Letras, 1990. pp. 109-131.

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 15


volume 2 | 2001
de compra tanto das agências governamentais toma contato com os currículos ocultos, ou seja,
quanto dos pais e alunos da rede privada. Sen- os que efetivamente são aplicados nas escolas.
do assim, esse livro didático que se quer ven- Sabedor disso, pareceu-me mais interessan-
der – fique claro que, regra geral, o que mais te ainda o desafio de escrever capítulos de um

ARTIGOS
se quer com um livro didático é vendê-lo – tem livro didático cobrindo as civilizações egípcia,
que convencer o professor de que ele é bom, grega e romana para a Rede Pitágoras, cujas es-
bom para ser utilizado na sala de aula... colas ficam sediadas, em sua maior parte, em
Aí que surge uma resposta para o mistério Minas Gerais, onde, como já foi dito, a História
dos livros receberem tanto investimento, tan- Antiga foi banida dos currículos oficiais e de
ta atenção e continuarem sendo tão fracos. A quase todos os programas de vestibulares do
formação dos professores, as oportunidades estado.
de requalificação, a remuneração recebida, o Essa experiência me mostrou que há uma sé-
tempo para investir na preparação do trabalho rie de limitações para produzir um texto desse
de sala de aula, tudo enfim, é muito precário. É tipo, que nem se imagina antes de estar traba-
para esse professor, nessas condições reais, que lhando diretamente com isso. No meu caso, a
o livro é feito. Com todo o risco que a genera- tiragem é pequena frente àquelas que têm as
lização impõe e ressalvando as honrosas exce- grandes editoras do ramo. São apenas cerca de
ções, creio ser possível dizer que, bem compa- dez mil exemplares por edição. Isso impõe limi-
radas, a qualidade das obras e dos professores tações em termos da qualidade gráfica do texto
não dista muito uma da outra e a chave para por trabalhar sem fotolitos, da possibilidade de
termos melhores livros está em termos profes- usar ilustrações já disponíveis, que precisam ser
sores capazes de utilizá-los. Ou seja, parece-me compradas, ou trabalhar com os melhores ilus-
que há uma correlação entre essas variáveis e a tradores disponíveis no mercado. A equipe de
determinação é mais forte no sentido professor pesquisa também é limitada. O espaço que se
tem para abordar temas tão amplos é peque-
à livro do que em sentido contrário.
no, opressivamente pequeno, às vezes. Tratar
Nada adiantaria termos livros atualizadíssi- de Egito, Grécia e Roma em setenta páginas é,
mos, de acordo com que o que há de mais avan- definitivamente, uma aventura perigosa.
çado em termos de Ensino de História, se não Gostaria de dedicar algumas palavras a isso.
houver professores para usá-los. Escolher eixos que orientem a análise é funda-
Essa constatação nos parece ainda mais ur- mental em qualquer texto que produzamos, é
gente no caso da História Antiga. Não por aca- claro. Mas nesse caso, a escolha dos eixos é ain-
so, a História Antiga parece ser a mais castigada da mais impositiva. Além disso, esses eixos não
nos textos didáticos. Ora, e a formação recebida podem ser só seus. Devem ser de todos os auto-
pelos professores na graduação? E as possibili- res, valer para todos os capítulos, para o estudo
dades de requalificação? E o acesso a materiais dos diversos períodos históricos.
que possam ser estudados para preparar aulas Após muito debate, elegemos casa, poder e
para além do próprio livro didádico? Tudo isso trabalho como eixos. Mesmo assim, como tratar
é muito precário fora e antes do livro didático. estes temas sem minimamente os contextuali-
Não é a toa que vivemos, em Minas Gerais por zar, informar mesmo o consumidor desse livro,
exemplo, um forte movimento de banimento em especial os alunos de quinta série que estu-
da História Antiga dos currículos escolares. Per- dam Egito, Grécia e Roma em tão pouco espa-
gunta-se para quê serve isso? Dentro dessa per- ço? Minha proposta era dar um peso razoável a
gunta, cuja resposta é tão óbvia, só podemos um quadro informativo, trazendo fatos, nomes e
ouvir outra, qual seja: História Antiga, o que é datas relevantes para que se compreenda onde
estão a casa, os trabalhadores e as relações de
isso? O caso de Minas não é excepcional. Nossa
poder que seriam estudadas.
sub-área do conhecimento está relegada a uma
condição bastante subsidiária dentro dos currí- Aqui surge um problema: o livro não pode
culos oficiais e ainda mais precária quando se tomar um perfil tradicional, que é abominado
pelos editores e professores. O livro pode ser

16 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
calcado na historiografia mais tradicional, como Por ora e, em conclusão, minha hipótese
muitas vezes se vê, mas deve ter um formato, é que os limites que vemos no trabalho com
apresentação do texto, que não deixe isso claro. História Antiga no ensino básico é decorrente
Mesmo não produzindo uma história factual, das fragilidades na formação e requalificação
de professores, além do pouco acesso a outras

ARTIGOS
meramente descritiva, mas tão somente procu-
rando qualificar minimamente as análises e as fontes de informação disponíveis sobre História
propostas de discussão e pesquisa a serem rea- Antiga para estes professores. Em síntese, pare-
lizadas por professores e alunos em uma quan- ce-me que nós, acadêmicos, principais críticos
tidade de dados mais ampla, percebi muita re- das mazelas da educação básica, somos tam-
sistência. O consenso é de que o texto não pode bém um dos principais responsáveis pelos pro-
ficar muito “pesado”. Depois de muitas discus- blemas que diagnosticamos não poucas vezes
sões com a equipe, com consultores e editores, de forma bastante ácida. Minha investigação
foi mantida uma carga que eu chamaria de in- nesse campo, daqui por diante, seguirá sendo
formativa bastante superior a que seria deseja- orientada pela reflexão acerca das possibilida-
da pelos meus parceiros e também àquela que des de reversão desse quadro.
vejo nas publicações congêneres.
Pois bem, a obra foi para as escolas e, como
todos os meus parceiros nessa empreitada já
me advertiam, essa opção não seria bem vista
pelos professores. Dito e feito. O retorno que
veio das escolas foi de elogiar bastante o traba-
lho, mas ressalvar que há ali muita informação a
ser trabalhada, que o livro é muito pesado. Sin-
ceramente, parece-me bem o contrário, mas,
apesar de ter o defeito de ser teimoso, não co-
meto o pecado de ser arrogante ou intransigen-
te e deverei trabalhar na criação de alternativas
para que a História Antiga possa seguir sendo
trabalhada nessas escolas de forma a se preser-
var como a referência fundamental que é para o
estudo da História.
Assim, parece-me que a partir da experiência
de trabalho como professor que usa livros didá-
ticos, de docente que trabalha na requalificação
de professores e na crítica dessas obras e de au-
tor livro didático, é fundamental investigar de
forma mais integrada o processo de produção
da educação que temos no ensino fundamental
e médio. Consideradas estáveis as condições de
oferta dessa educação, hipótese que me parece
razoável, gostaria de investigar melhor o que é a
história antiga no Brasil na graduação e na pes-
quisa, inicialmente, para depois voltar a investi-
gar de forma mais qualificada o que ocorre com
a História Antiga no ensino médio e, especial-
mente, no ensino fundamental. Essa pesquisa já
teve início e seus resultados ainda parciais estão
publicados no outro texto de minha autoria nes-
se dossiê do GT de História Antiga da ANPUH.

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 17


volume 2 | 2001
ARTIGOS
Simplificações e Livro Didático:
um estudo a partir dos
conteúdos de História Antiga
Gilvan Ventura da Silva
Professor de História Antiga do Departamento de História da UFES

Resumo: permanente por parte dos professores no sen-


Com este artigo, pretendemos realizar algumas tido de converter o material em questão em
reflexões acerca de como a História Antiga é trata- um instrumento pedagógico eficiente e efeti-
da pelos livros didáticos utilizados no Ensino Funda- vamente formador. Essa tarefa, embora possa
mental. O eixo da nossa abordagem são as chama-
das “simplificações” que, ao aparecerem em grande parecer à primeira vista bastante óbvia, não é
quantidade, prejudicam seriamente a compreensão menos desafiadora na medida em que os livros
dos processos históricos por parte dos alunos. A fim didáticos à disposição no mercado editorial bra-
de facilitar a análise das simplificações, as dividimos sileiro, salvo raras e honrosas exceções, apre-
em cinco categorias: a) simplificações processuais;
sentam uma quantidade tal de deficiências que
b) simplificações teórico-conceituais; c) simplifica-
ções comparativas; d) simplificações valorativas; e) por vezes inviabilizam a sua utilização. De fato,
generalizações espaço-temporais.. não causaria estranheza a nenhum educador a
Palavras-Chave: História Antiga; Livro Didático; Sim- constatação de que os nossos livros didáticos
plificações; Ensino Fundamental. se encontram, em termos gerais, abaixo das ex-
Abstract: pectativas quando se trata de fornecer ao aluno
um ensino de qualidade em função dos erros,
In this work we aim at analyzing how the Ancient
History appears in the Brazilian didactic books. In
anacronismos, desatualizações e juízos de valor
order to do it, we study the called “simplifications”. que tais publicações comportam. Essa situação
These kind of problem, appearing continuously in se torna particularmente grave se levarmos em
the didactic texts, is in fact a serious difficult for the consideração o fato de que o livro didático em
teaching of Ancient History. In a previous research, inúmeras escolas ao longo desse País é o úni-
it was possible to find five types of simplification,
namely: a) simplifications concerning historical pro- co material bibliográfico disponível para con-
cess; b) theoretical simplifications; c) comparative sulta de alunos e professores, o que aumenta
simplifications; d) simplifications concerning points sobremaneira as responsabilidades dos autores
of view; e) generalizations. e editores na sua elaboração. Naturalmente
Keywords: Ancient History; Didactic Books; Simplifi- que nenhuma publicação, seja de que tipo for,
cations; Education. está isenta de reparos ou acima da crítica. No
entanto, do modo como o sistema educacional
brasileiro hoje se estrutura, é imprescindível
que o livro didático possibilite ao professor de-
senvolver um ensino de qualidade, sob pena de
O trabalho com o Livro Didático, tanto no
produzir-se uma deformação que acompanhará
Ensino Fundamental quanto no Médio é, como
o aluno até, quem sabe, a Universidade.
se sabe, uma atividade que exige um cuidado

18 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
Na verdade, na medida em que os profes- prender a esquemas explicativos cristalizados e
sores não costumam receber uma formação conteúdos já superados, então o livro, mesmo
adequada em determinadas áreas do conhe- comportando imprecisões e equívocos, como
cimento histórico durante a Licenciatura, isso de resto qualquer outra obra literária, se trans-

ARTIGOS
contribui para uma sensível diminuição da sua formaria em um poderoso instrumento pedagó-
capacidade crítica, problema agravado pelo gico à disposição dos nossos professores.
fato de que são poucos os professores de Ensi- Para utilizar o Livro Didático com maior pe-
no Fundamental e Médio que após terem obti- rícia e autonomia, seria necessário no entanto
do habilitação para lecionar prosseguem a sua que o professor (refiro-me aqui ao professor
capacitação por intermédio de cursos de pós- de História em particular) tivesse recebido uma
-graduação e/ou atualização. Quando muito, formação superior minimamente satisfató-
tais profissionais se voltam para a área da peda- ria. A História, assim como os demais saberes
gogia pura e simples, não retomando o estudo acadêmicos, é um domínio de conhecimento
sistemático dos conteúdos próprios da sua dis- verdadeiramente monumental. Um licenciado
ciplina, como se o simples manejo de técnicas em História atualmente deve ter condições de
pedagógicas arrojadas e um conhecimento um transitar do Paleolítico até a Queda do Muro de
pouco mais extenso de didática ou psicologia da Berlim com o mínimo de competência o que, re-
educação, por exemplo, pudessem torná-los au- conheçamos, não é uma tarefa muito fácil. Nes-
tomaticamente professores mais capazes na sua se sentido, a sua formação superior deveria, ao
prática cotidiana de sala de aula. Não que este- menos em tese, ter contemplado todas as gran-
jamos aqui questionando o valor da pedagogia, des áreas nas quais os departamentos de His-
mas antes de qualquer coisa, é necessário nos tória das Universidades e Faculdades brasileiras
interrogarmos sobre o que de fato o professor tradicionalmente se subdividem. No entanto,
conhece da disciplina que leciona, qual o seu por uma série de razões que não nos cabem
grau de atualização na área, se ele é capaz de aqui discutir, algumas áreas do conhecimento
raciocinar criticamente conjugando elementos histórico cujo ensino é obrigatório por determi-
que compõem o corpus teórico da sua disciplina nação do Conselho Superior de Educação e que
e daí por diante. fazem parte do currículo mínimo das escolas de
Tal afirmação, embora possa parecer um tru- nível fundamental em muitos estados brasilei-
ísmo, não o é se observarmos a péssima quali- ros, são tratadas de modo absolutamente indi-
dade dos livros didáticos de História à disposi- gente, resultando na formação de profissionais
ção no mercado. A grande interrogação seria: despreparados. Dentre essas áreas, parece-nos
por que essas obras são tão deficientes se con- que a mais prejudicada é sem dúvida a de His-
gregam uma quantidade considerável de profis- tória Antiga e Medieval, incluindo aí a Pré-Histó-
sionais na sua execução, muitos deles com re- ria. Como resultado direto dessa falta adequada
nome nacional? Uma das explicações possíveis de formação por parte dos licenciandos, não
seria, em nosso entender, a formação deficiente nos surpreende a constatação de que nos Livros
do próprio professor, o qual não possui condi- Didáticos os conteúdos referentes à História An-
ções efetivas de avaliar, criticar e reparar aquilo tiga e Medieval sejam os que padecem da maior
que o Livro Didático difunde. Quanto a isso, é quantidade de problemas, alguns dos quais ex-
importante frisar que muitas vezes o que o livro tremamente graves, a ponto de comprometer a
traz não é sequer o conhecimento acadêmico própria validade daquilo que está sendo ensina-
adaptado de modo bastante simples à capaci- do.
dade cognitiva dos alunos, mas o senso comum Afora os erros e anacronismos, alguns dos
na sua mais estrita acepção, e é isso que infe- quais imperdoáveis e por isso mesmo facilmen-
lizmente acaba se constituindo em matéria de te detectáveis, os Livros Didáticos apresentam
ensino. Se o professor possuísse preparo sufi- com maior freqüência um tipo particular de
ciente para dialogar com o Livro Didático sem se

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 19


volume 2 | 2001
limitação que compromete igualmente a sua de imediato os padrões de organização social
qualidade: as chamadas simplificações. Quando herdados do Paleolítico. Não obstante as inova-
tratamos de simplificações, é preciso esclarecer ções trazidas com a domesticação de plantas e
de antemão que é da própria natureza do Livro animais, o fato é que as sociedades do Neolítico

ARTIGOS
Didático simplificar, ou seja, adaptar um deter- continuam a fundamentar a distinção entre os
minado conteúdo mais complexo à capacidade indivíduos a partir do parentesco, do sexo e da
cognitiva do aluno, o que muitas vezes requer idade. Somente o surgimento do Estado produ-
a supressão de detalhes e desdobramentos su- zirá uma alteração social de maior envergadura.
plementares de um dado processo para reter as Além disso, é preciso considerar que o domínio
suas características gerais de modo a facilitar a sistemático sobre a produção de alimentos não
sua compreensão por parte do estudante. Ser foi suficiente para suprimir a pesca, a caça e a
capaz de realizar uma operação como essa é, coleta herdadas do período anterior. Sendo as-
sem dúvida, um dos maiores desafios dos nos- sim, uma explicação da passagem do Paleolítico
sos educadores. Isso não se confunde, no en- para o Neolítico como aquela veiculada pelos Li-
tanto, com as simplificações das quais tratamos vros Didáticos simplifica a tal ponto o processo
aqui, ou seja, aquelas que com a pretensão de
que termina por atribuir-lhe uma dimensão que
facilitar o processo de ensino/aprendizagem
o mesmo não possui efetivamente.
trata os conteúdos ensinados com tal negligên-
cia que termina por distorcê-los. No decorrer da No que concerne às simplificações conceitu-
nossa experiência como professores de História ais, os problemas são tão ou mais graves. Isso
Antiga, procuramos sempre realizar com os alu- porque, salvo alguns casos específicos, os auto-
nos do Curso de História da UFES, instituição da res de livros didáticos não possuem uma pre-
qual fazemos parte, a crítica do Livro Didático. ocupação estrita com a reflexão prévia acerca
Como resultado desse trabalho, elaboramos de dos termos e conceitos que utilizam, o que nos
modo preliminar uma tipologia que pudesse causa estranheza se nos recordamos que boa
dar conta das múltiplas simplificações contidas parte do trabalho de reflexão intelectual dos
nos Livros Didáticos e com isso facilitar a nos- historiadores é consumido na tentativa de de-
sa investigação. Sendo assim, poderíamos dizer finir por intermédio de conceitos os mais preci-
que grosso modo as simplificações detectáveis sos possíveis as relações sociais que compõem
nos Livros Didáticos são de cinco tipos: a) sim- os objetos que estudam. Sem os conceitos
plificações processuais; b) simplificações teóri- (ou os invariantes na acepção de Paul Veyne,
co-conceituais; c) simplificações comparativas; cf. 1989), perpetuamos a antiga História dos
d) simplificações valorativas e e) generalizações tratados e batalhas, o que os historiadores há
espaço-temporais. Vejamos como cada uma de- muito já trataram de abolir do seu ofício. Nos
las se apresenta. livros didáticos, entretanto, o assunto não ad-
Por simplificações processuais, entendem- quire maior relevo. Desse modo, ou os concei-
-se aquelas explicações que, ao resumirem em tos são empregados sem nenhuma definição,
demasia um determinado processo histórico, quase como se fossem auto-explicativos, ou a
terminam por descaracterizá-lo, produzindo definição que lhes é dada pelos autores é tão
assim uma caricatura. Dentre todos os tipos de genérica que os mesmos acabam por ter diluído
simplificação contidas nos Livros Didáticos, esta o seu potencial significativo. Assim ocorre, por
é a mais recorrente. Um exemplo bastante su- exemplo, quando encontramos uma definição
gestivo de como as simplificações processuais de feudalismo como se segue: “forma de orga-
se apresentam nos é fornecido pelo pressupos- nização social baseada nas relações de trabalho
to de que a invenção da agricultura e do pasto- em torno da terra e da produção exclusivamen-
reio representou a adoção de uma nova forma te rural”. A rigor, qualquer sociedade agrária,
de vida bastante distinta daquela dos caçado- feudal ou não, se estrutura a partir das relações
res-coletores, quando sabemos que o seden- de trabalho com a terra, de maneira que a expli-
tarismo e a Revolução Neolítica não alteraram cação do conceito contribui muito pouco para

20 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
esclarecer a especificidade do feudalismo. Um bastante complexos, desqualificando a sua im-
problema semelhante se verifica quando o capi- portância social. Assim é que a extrema religio-
talismo é entendido como um “sistema que se sidade do povo egípcio é muitas vezes tomada
baseia no lucro e na exploração do homem pelo como comodismo, já que na opinião dos auto-

ARTIGOS
homem” o que, convenhamos, não quer dizer res é mais fácil aceitar-se a vida imposta pela
muita coisa. religião do que explicá-la de outro modo. Em
Um terceiro grupo de simplificações é cons- termos extremos, podemos nos deparar ainda
tituído pelas comparações espúrias e desne- com a seguinte observação a respeito das cren-
cessárias que se estabelecem entre sociedades ças dos povos primitivos: “como não conheciam
distintas no tempo e no espaço. Evidentemente as causas científicas do raio, apelavam, espon-
que os procedimentos que envolvem a Histó- taneamente, para a fé, para as crenças”. Diante
ria Comparada são absolutamente meritórios de uma afirmação como essa, o pensamento re-
e recomendáveis, desde que os critérios de ligioso se converte em um tipo de explicação do
comparação não induzam o aluno a concluir mundo inferior à ciência.
pela existência de semelhanças e/ou diferen- Por último, devemos nos reportar às genera-
ças inexistentes. É preciso, antes de tudo, muita lizações espaço-temporais, as quais costumam
cautela com as comparações propostas, inclu- tomar a parte pelo todo, atribuindo a caracterís-
sive com o intuito de evitar anacronismos, um ticas particulares de sociedades circunscritas no
dos equívocos mais graves em se tratando do tempo e no espaço uma abrangência e duração
conhecimento histórico. Comparar realidades que não se verifica em termos empíricos, o que
muito distantes no tempo e no espaço requer suprime as diferenças no interior do discurso
ainda um cuidado redobrado, pois no esforço de histórico. Algo desse tipo ocorre quando nos
tentar tornar mais inteligível para os estudantes deparamos com a seguinte afirmação: “Grécia
contemporâneos processos muito recuados no e Roma foram as duas civilizações da Antigüida-
tempo mediante a comparação com elementos de que mais utilizaram o trabalho de escravos,
do cotidiano podem ser cometidas sérias distor- tanto nas cidades quanto nos campos”. É preci-
ções. Um caso exemplar do que afirmamos é o so lembrar, nesse caso, que nem toda o mundo
do Livro Didático que, ao pretender facilitar a de fala grega se estruturou a partir do modo de
compreensão do sentido histórico das pinturas produção escravista e que a difusão do escravis-
rupestres, afirmava que as mesmas resultavam mo em Roma foi um fenômeno restrito muito
de um desejo dos homens pré-históricos em mais ao Ocidente.
“marcar presença”, assim como se comportam Diante de todos os problemas aqui aponta-
os adolescentes de hoje ao escreverem o seu dos, o que poderia ser feito a fim de que pu-
nome nos muros e monumentos. Tal compara- déssemos saná-los, senão de imediato, ao me-
ção é simplesmente um absurdo, dispensando nos em médio prazo? A opção mais rápida e
maiores comentários. cômoda seria, obviamente, suprimir o trabalho
As simplificações também podem, por vezes, com o Livro Didático? Tal solução, no entanto,
adquirir um matiz valorativo, induzindo os alu- se revelaria uma boa saída? Cremos que não,
nos a fazer julgamentos de caráter ético sobre uma vez que os Livros Didáticos têm a vantagem
os acontecimentos históricos estudados, o que de encerrar, neles mesmos, um conjunto de in-
deve ser encarado com muita precaução por formações, ainda que resumidas, que podem
parte dos professores, uma vez que tais valo- ser facilmente consultadas pelo aluno sempre
rações dão margem à produção e/ou reprodu- que necessário, constituindo assim um valioso
ção de estereótipos e, mais sério do que isso, apoio para os conteúdos ensinados em classe.
à manutenção de preconceitos. Nesse sentido, Nesse sentido, vale a pena mencionar que os li-
é muito comum que os livros didáticos adotem vros trazem, em geral, preciosas indicações de
explicações simplistas sobre fenômenos sociais leituras complementares, sugestões de vídeos e

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 21


volume 2 | 2001
hoje, cada vez mais, listas com sites que podem presença neste eixo de discussão seria faltal-
servir de auxílio tanto aos alunos quanto aos mente dispensável.
professores. Por outro lado, é inegável que os
nossos livros têm adquirido com o tempo uma
Bibliografia

ARTIGOS
tal qualidade gráfica que os torna em alguns
casos irresistível para os alunos, especialmente
os do Ensino Fundamental, não havendo razão FRANCO, M. L. O livro didático de História no Bra-
para não se explorar o potencial imagético con- sil. São Paulo: Global, 1982.
tido em tais obras quando se trata de ensinar NADAI, E. O ensino de história no Brasil: trajetó-
História. No entanto, é imprescindível que o ria e perspectiva. Revista Brasileira de História, São
professor intervenha cada vez mais no processo Paulo, 1993.
ensino/aprendizagem, não se deixando seduzir SILVA, M. (Org.) Repensando a história. Rio de Ja-
nem tampouco limitar pelo Livro Didático. A re- neiro: Marco Zero, 1984.
lação, claro, deve ser fundada no respeito, uma VEYNE, P. O inventário das diferenças. Lisboa:
vez que o Livro Didático é uma obra que pos- Gradiva, 1989.
sui um ou mais autores cujas idéias devem ser
discutidas e não simplesmente desprezadas. No
entanto, é necessário que o professor faça valer
os seus anos de formação no sentido de dialo-
gar com o Livro Didático, desafiá-lo, corrigir suas
distorções, complementá-lo e, nesse processo,
envolver os seus alunos, pois somente assim se
formam as bases do conhecimento científico e
da reflexão crítica.
Fazer isso com os conteúdos de História An-
tiga, no entanto, já é um procedimento muito
mais complicado, pois exige que o professor te-
nha tido uma melhor formação na área ou que
tenha se dedicado ao estudo da disciplina por
conta própria. Aqui, talvez, resida o nó górdio
do problema, pois enquanto não formos capa-
zes de produzir uma maior quantidade de es-
pecialistas em História Antiga não poderemos
realizar nada verdadeiramente eficaz. Mas não
basta apenas que formemos uma quantidade
maior de especialistas. É preciso que estes não
apenas encontrem espaço nos departamentos
universitários, mas também dediquem um cui-
dado especial à graduação, tendo em vista que
dificilmente um aluno voltará a ter contato com
a disciplina após ter cumprido os seus créditos
obrigatórios. Quando colocamos a questão nes-
tes termos, percebemos o quanto ainda esta-
mos longe de atingir condições de trabalho mi-
nimamente satisfatórias o que, no entanto, não
deve nos desestimular. Se todas as deficiências
que envolvem o ensino e a pesquisa de História
Antiga no Brasil já estivessem resolvidas, nossa

22 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
ARTIGOS
A Importância de uma Abordagem
Crítica da História Antiga nos
Livros Escolares
Pedro Paulo Funari
Professor de História Antiga do Departamento de História da UNICAMP

Resumo: “não para ser camareiro, intérprete, corres-


O artigo visa discutir a importância de uma abor- pondente comercial, mas para conhecer, di-
dagem crítica para o estudo da História antiga, por retamente, a civilização dos dois povos, pres-
meio do uso de livros didáticos. Enfatiza o papel cen- suposto necessário da civilização moderna, ou
tral que o conhecimento de primeira mão do mundo seja, para sermos nós mesmos e nos conhecer-
antigo possui ao permitir que as pessoas se tornem mos de maneira consciente”.
pensadores criativos, capazes de compreender sua
própria sociedade. Mas, porque começar pelas línguas antigas?
Palavras-Chave: História Antiga, conhecimento de Ora, sabemos que a História se faz com do-
primeira mão, pensamento crítico.
cumentos, não apenas escritos, mas também
Abstract: a partir deles. Não se pode conhecer, de forma
The paper aims at exploring the importance of razoável, uma civilização, se não conhecermos
a critical approach for the study of ancient history sua língua, seus conceitos, suas formas de ex-
through the use of text books. It emphasises the key
role a first hand knowledge of the ancient world pressão (Funari 1995). O âmago de uma povo
plays in empowering people as creative thinkers, ca- está em sua língua, sem a qual a vida social não
pable of understanding his or her own society. . se estrutura (Vernant 1999). A língua condicio-
Keywords: Ancient history, empowerment, first hand na a cultura e os conceitos derivam dos limites
knowledge, critical thought.
e possibilidades de sua estrutura lingüística
(Rouanet 2001:15). Essas constatações univer-
sais adquirem, quanto ao grego e ao latim, um
aspecto ainda muito mais premente: a ubiqüi-
dade dessas línguas nas épocas posteriores e,
particularmente, em nossa própria, tornam-nas
ainda mais cruciais. De fato, boa parte dos con-
ceitos modernos implicam uma reapropriação
de noções oriundas do mundo clássico, como
O ensino de História Antiga é capital para a bem nos tem lembrado Heinhart Koselleck
formação de uma cidadania crítica. Há muitas (e.g. Begrifssgeschichte und Sozialgeschichte)
décadas, Antonio Gramsci escrevia, no Qua- em seus estudos sobre a Begriffsgeschichte e a
derno 12, com bons argumentos, sobre como é contemporaneidade dos não contemporâneo
importante e não abandonável o estudo das lín- (Gleichzeitigkeit des Ungleichzeitigen). Voltare-
guas mortas. Estuda-se o latim e o grego, dizia mos a isto um pouco mais adiante.
Gramsci,

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 23


volume 2 | 2001
Retornemos ao pensador italiano. O estudo Isto nos conduz à questão central desta in-
das línguas clássicas possui ainda, segundo Gra- tervenção. O abandono da Antigüidade clássica
msci, um outro aspecto positivo: é um estudo como objeto de reflexão, ou seu conhecimento
árduo, que serve para “fazer contrair hábitos de segunda mão, leva ao aprofundamento do

ARTIGOS
de exatidão, diligência, compostura, até mesmo fosso entre a formação cultural das elites e das
física, concentração psíquica sobre determina- massas. O mundo clássico pode aparecer tanto
dos objetos que não se podem adquirir sem como inspirador da luta pela liberdade e pela
uma repetição mecânica de atos disciplinados igualdade, como pode, mais comumente, servir
e metódicos”. Assim, um adulto será capaz de para justificar o status quo patriarcal e opres-
estar sentado a estudar “por dezesseis horas se- sivo. À elite assimilada ao Ocidente, a Grécia
guidas” apenas se, de criança, houver absorvido antiga pode significar pureza étnica, superiori-
“os hábitos apropriados por coerção mecânica”. dade cultural ariana, justificativa da escravidão
Para o estudioso sardo, além disso, o estudo do (Bernal 1994: 121). Esta postura justifica os “ho-
latim era fundamental para o conhecimento da mens bons” pelos aristoi k’agathoi, o desprezo
língua franca da península, ainda tão pouco di- pelo trabalho pelo culto aristocrático da skholé
fundida em sua época, o italiano, “o italiano é (Wood 1989:1-41), a superioridade racial pela
o latim moderno”. Ainda nestes comentários, é repulsa aos barbaroi, de forma que a cultura
o presente a premer pelo estudo do passado, européia, da elite exploradora, se dissociasse
as línguas mortas são partes de uma formação da africana e oriental (Bernal 1991: 213). O la-
dura, trabalhosa, mas cujos resultados serão, tim e o grego, transformados em línguas de do-
também, mais resistentes. minação, servem para mostrar a superioridade
O leitor ou ouvinte incauto poderá se per- da inflexão, Umlaut e Ablaut como exemplos da
guntar se tais virtudes gramscianas não seriam suposta primazia lingüística a justificar a domi-
válidas para os longínquos anos 30 do século nação social (Bernal 1993:675).
passado, substituídas pela moleza e facilidades A invenção e uso de uma Antigüidade clássica
da era digital (cf. Canfora 2001). Com o uso de opressora é, portanto, muito anterior, mas mui-
traduções, já não se precisaria conhecer os ori- to mais persistente, do que os mais conhecidas
ginais. Com os programas de tradução, o mono- e criticadas apropriações fascistas de princípios
glota bastaria. Dezesseis horas de estudo por a meados do século XX (Visser 1992; Giordano
dia, nem pensar! Contudo, Gramsci buscava 1993). As palavras de Carl Schmitt, em 1934,
algo que nenhuma tecnologia moderna pode sobre a identificação do déspota com o direito,
fornecer: consciência crítica, ou, em suas pala- inspiradas tanto na tirania grega, como no direi-
vras, essere se stessi e conoscere se stessi con- to imperial romano, retratam bem não apenas
sapevolmente. os lemas do nazismo como as aspirações de po-
Recentemente, Cláudio de Moura Castro der de nossos senhores da terra:
(2001) refletia sobre os valores embutidos na
der wahre Führer ist immer auch Richter. Aus
concepção corrente da educação em nosso der Führtum fliesst das Richtertum. In Wahrheit
meio, que valoriza a artimanha, o brilho e o war die Tat des Führers echte Gerichtsbarkeit.
compadrio, em detrimento do estudo. Sie untersteht nicht der Justiz, sondern war
selbst höcheste Justiz (“o verdadeiro Líder é
“Nossa educação ainda valoriza o aluno ge- sempre também juiz. Da liderança decorre o
nial, que não estuda – ou que, paradoxalmen- direito. Na verdade, a ação do líder já era lídi-
te, se sente na obrigação de estudar escondido ma justiça. Ela não se subordina à justiça, ao
e jactar-se de não fazê-lo. O cê-dê-efe é dimi- contrário, constitui-se na mais alta justiça”, in
nuído, menosprezado, é um pobre-diabo que Hofer 1957:105).
só obtém bons resultados porque se mata de
estudar. A vitória comemorada é a que deriva Não é este o poder discricionário de nossos
da improvisação, do golpe de mestre”. seculares senhores (cf. Metcalf 1990: 291)? As
aristocracias modernas se inspiravam nas antigas

24 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
(Wood 1989: 47-8), Napoleão levava para o Na esteira dos modelos normativos, muitas ve-
campo de batalha os clássicos, cuja leitura jul- zes desaparecem as classes e, a fortiori, os con-
gava indispensável (Ferrero 2000). flitos de classe, seja porque não haveria classes
Mas a Antigüidade não precisa ser arma da no mundo antigo, seja porque conflitos não se-

ARTIGOS
opressão, elemento de alienação. Neste senti- riam o motor da História, movida a consenso e
do, Virgílio vem à mente, lido pelos inconfiden- submissão dos inferiores aos superiores. Mistu-
te mineiros, como inspirador da busca da liber- ram-se contextos antigos e modernos, como se
dade (Bucólica I, vv. 27-28): houvesse essências inefáveis que permitissem
afirmar, por exemplo, que a democracia existiu
Et quae tanta fuit Romam tibi causa uidendi? na Antigüidade e no mundo contemporâneo,
Libertas, quae, sera, tamen respexit inertem. assim como se pode incentivar não a reflexão
(E qual o motivo tão grande de visitares Roma?
histórica, que distinguiria a democracia antiga
A Liberdade, que, embora tardia, contudo
olhou favoravelmente para mim, inerte). da moderna, mas que estimula o senso comum
da curiosidade.
Os incofidentes sabiam de cor a primeira É possível que o livro didático escape a esses
Bucólica virgiliana, de onde retiraram seu lema discursos alienantes e conservadores do status
pela liberdade. Os camponeses espoliados das quo? A pergunta não é retórica, pois não raro se
Bucólicas inspiraram a revolta dos mineiros, to- acaba culpando a forma, no caso, o livro didáti-
tis turbatur agris (v.6), “com as perturbações co, por um problema de conteúdo. Os livros são
em todos os campos” (cf. Moura 1998). Liber- sempre bons, até mesmo os piores livros didá-
tas quae sera tamen, “A Liberdade, esta, ainda ticos. Afinal, leitores ativos, críticos podem ser
que tardia, contudo olhou favoravelmente para estimulados a desconstruir qualquer discurso.
mim, que nada fiz”. A grandeza do mundo anti- Não se trata, portanto, de acabar com o livro,
go, das civilizações grega e romana, assim como mas em lutar por melhores conteúdos, assim
outras, está em seu ecletismo, em suas múl- como por melhores condições de estudo e de
tiplas origens e características (Bernal 1991). trabalho na escola. A diversidade cultural, um
A diversidade cultural antiga pode e deve ser dos grandes maitre-mots dos PCNs, está a su-
apresentada em contraposição ao discurso da gerir um conteúdo menos normativo, menos
superioridade cultural das elites, no passado e enredado na História dos vencedores e nas in-
no presente (cf. Funari 1997). Os textos clássi- terpretações que privilegiam um passado feito
cos, lidos com acribia (Canfora 2000:22) e visão de arreglos entre parceiros de um sistema de
crítica, servem para opor-se à opressão (cf. Pa- compadrio e clientela, em lugar das lutas e con-
choud 1997). flitos. A diversidade cultural (cf. Vernant in Bele-
Os livros didáticos, muitas vezes, adotam boni 2000: 117) permite que se busque compre-
uma visão herdeira dos ideais aristocráticos das ender gregos e romanos, mas também outros
elites européias e brasileiras, apresentando o povos da Antigüidade, aristocratas e guerreiros,
“milagre grego” como prova a superioridade mas também camponeses e escravos, homens,
de uns poucos e a inferioridade de muitos. Os mas também mulheres.
modelos interpretativos correntes são normati- A História da Antigüidade surge, então, como
vos e holísticos, como se houvesse uma única elo de ligação constante da realidade atual com
cultura grega ou romana (aquela da elite), cujos suas origens ideológicas. O direito romano, base
preceitos seriam forjados pela aristocracia e de nosso sistema jurídico, precisa ser conheci-
aceitos pelas massas antigas. O trabalho seria, do, para que possa ser relacionado com seus
assim, desonroso, do qual se furtariam os bem usos no presente (cf. Rossi 2000), como o mos-
nascidos e tentariam se livrar os outros (Wood tra, a recente tradução ao chinês (Jornal da Tar-
1989 passim). Estes modelos normativos ten- de 9/6/1996, D, p. 7). Na verdade, são todas as
dem a reforçar uma leitura pouco crítica da His- nossas instituições a exigir um recuo ao mundo
tória e a reiterar as desigualdades no presente.

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 25


volume 2 | 2001
antigo, sem o qual a compreensão do presente Metcalf, A.C., 1990 Women and means: women
será, no máximo, parcial. Partindo das aporias and family property in colonial Brazil, Journal of So-
cial History 24,2, 277-298.
do quotidiano de nossos estudantes, pode-se
Moura, G. 1998 Verso e reverso da Liberdade, Es-
chegar à Antigüidade de forma não apenas lúdi-
tado de Minas, Pensar, 18/4/1998, p.6.

ARTIGOS
ca e prazerosa, como também e principalmente,
Pachoud, F. 1997 Os antigos podem nos ajudar
significativa para a vida desses jovens. hoje, Jornal da USP, 6 de outubro de 1997, p. 11.
Rossi, G. 2000 Il ratto delle Sabine. Roma, Piccola
Biblioteca Adelphi.
Rouanet, S.P. 2001 Saudades de Roma, Folha de
Agradecimentos São Paulo, Mais!, 10/6/2001, 15-16.
Agradeço aos seguintes colegas: Renata Car- Vernant, J.P. 1999 Entrevista, Folha de São Paulo,
31/10/1999, 5, p. 6.
doso Beleboni, Martin Bernal, Ellen Meikins
Visser, R. 1992 Fascist doctrine and the cult of Ro-
Wood. A responsabilidade pelas idéias, natural-
manità, Journal of Contemporary History, 27, 5-22.
mente, restringe-se ao autor.
Wood, E.M. 1989 Peasant-Citizen and Slave, The
Foundations of the Athenian Democracy. Londres,
Verso.
Bibliografia Wood, E.M. 1989 Oligarchic “Democracy”, Mon-
thly Review 41, 3, 42-51.
Beleboni. R. C. Jean-Pierre Vernant e as Ciências
Sociais: a busca pela compreensão do universo men-
tal do homem grego, entrevista com J.P. Vernant,
Boletim do CPA 8/9, 115-122.
Bernal, M. 1991 Response do Edith Hall, Arethu-
sa, 24, 2, 203-213.
Bernal, M. 1993 Essay review, Paradise Glossed,
Studies in History and Philosophy of Science 24, 4,
669-675.
Bernal, M. 1994 The image of Ancient Greece as
a tool for colonialism and European hegemony, So-
cial Construction of the Past, G. Bond and A. Gilliam
(eds), Londres, Routledge, 119-128.
Canfora, L. 2000 Elogio della filologia, contro
i pedanti e gli incompetenti, Corriere della Sera,
15/8/2000, p. 22.
Canfora, L. 2001 Da Gramsci lezioni di latino al
ministro, Corriere della Sera, 15/3/2001, p.22.
Ferrero, E. 2000 N. Milão, Einaudi.
Castro, C.M. 2001 Quem são nossos ídolos?,
Veja, 6/6/2001, p. 22.
Funari, P.P.A. 1995 A Antigüidade Clássica: a His-
tória e a cultura a partir dos documentos. Campinas,
Editora da UNICAMP.
Funari, P.P.A. 1997 Cidadania, erudição e pesqui-
sas sobre a Antigüidade Clássica no Brasil, Boletim
do CPA, 3: 83-98.
Giordano, F. 1993 Filologi e fascismo. Gli studi di
letteratura latina nell’ ‘Enciclopedia Italiana’. Nápo-
les, Arte Tipografica.
Hofer, W. 1957 Der Nationalsozialismus, Doku-
mente 1933-1945. Frankfurt, Fischer.

26 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
Formação de Recursos Humanos
em História Antiga no Brasil
Coord.: Regina Maria da Cunha Bustamante (UFRJ)
LHIA e PPGHC: Equipe,

ARTIGOS
Integração Ensino-Pesquisa e
Interdisciplinaridade
Regina Maria da Cunha Bustamante
Professora de História Antiga do Departamento de História da UFRJ/ IFCS/ LHIA

Resumo: equally by these three principles and increasing their


O Laboratório de História Antiga (LHIA) da UFRJ scope of action it is being created a new graduate
desenvolve atividades de pesquisa, docência e di- programme: the Graduate Programme in Compara-
vulgação do conhecimento em Antigüidade Clássi- tive History (PPGHC); this is an expression of belief
ca, a partir de um centro de excelência de produção and effort in a work dynamic whose seed is worth
científica especializado. Sua filosofia de trabalho being cultivated..
está baseada em três princípios: equipe, integração Abstract: LHIA, UFRJ, History.
ensino-pesquisa e interdisciplinaridade. Como equi-
pe, valoriza-se no LHIA o trabalho coletivo e a co-
operação, de tal modo que suas ações são sempre
pensadas, organizadas e realizadas em conjunto, in-
tegrando professores, pós-graduandos, graduandos
e profissionais de áreas afins. Assim sendo, o LHIA O Laboratório de História Antiga (LHIA) é
apresenta uma atuação dinâmica e bastante positi- uma unidade de pesquisa-docência-extensão
va de criação, inovação e divulgação da História An-
legalmente formalizada através da aprovação
tiga no Brasil. Pautando-se igualmente nestes três
princípios e ampliando-se os horizontes de ação está de seu Regimento Interno pela Plenária do De-
sendo gestado um novo programa de pós-gradua- partamento de História do dia 9 de março de
ção: Programa de Pós-Graduação em História Com- 1993 e pela Congregação do Instituto de Filoso-
parada (PPGHC); é um investimento e crença numa
fia e Ciências Sociais (IFCS) do dia 10 de março
dinâmica de trabalho cuja semente vale a pena ser
cultivada.. de 1993.
Palavras-Chave: LHIA, UFRJ, História. O LHIA visa desenvolver a docência, a pes-
Abstract:
quisa, a extensão e a divulgação do conheci-
mento em História da Antigüidade Clássica atra-
Lhe UFRJ’s Laboratory of Ancient History (LHIA)
deals with research, teaching and diffusion of the vés de um centro de estudo especializado na
Classical Antiquity’s knowledge, from a center of UFRJ. Produzir conhecimento em História Anti-
prime specialized scientific production. Its work’s ga Clássica e dialogar com os pesquisadores da
philosophy is based in three principles: teamwork, área das Ciências Humanas bem como difundir
integrating teaching-research, and an interdisci-
plinary approach. As a team, the LHIA prizes collec-
o estudo da Antigüidade são as metas do LHIA,
tive work and cooperation, this way its actions are um grupo de especialistas em História Antiga
always thought over, organized and acted up to as comprometido com a sociedade atual. O LHIA
a body, integrating teachers, graduate students, congrega alunos da Graduação e da Pós-Gradu-
undergraduates and professionals of related ar-
eas. Therefore, the LHIA shows a dynamic and very
ação, professores do Setor de História Antiga
positive performance of creation, innovation and da UFRJ e de outras instituições relacionadas à
diffusion of Ancient History in Brazil. Guiding itself Antigüidade que colaboram nas suas múltiplas

28 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
atividades.1 Sua filosofia de trabalho está base- semestre passado (2001/1) e para o novo Pro-
ada em três princípios: equipe, integração ensi- grama de Pós-Graduação de História Compa-
no/pesquisa e interdisciplinaridade. rada (PPGHC) a partir do primeiro semestre de
Como equipe, valoriza-se no LHIA o trabalho 2002. Na atividade de docência na Graduação,

ARTIGOS
coletivo e a cooperação, de tal modo que suas os pós-graduandos são integrados ministrando
ações são sempre pensadas, organizadas e rea- aulas centradas em suas pesquisas e orientan-
lizadas em conjunto. No início do ano, estabele- do graduandos naqueles temas relacionados
cem-se as atividades, os períodos de realização aos seus estudos. Procura-se também convidar
e os professores responsáveis pelas atividades a especialistas em Antigüidade de outras institui-
serem desenvolvidas naquele ano. Organizam- ções próximas, no caso da UFF e da UERJ, para
-se as equipes para cada evento envolvendo apresentarem temas das suas pesquisas inseri-
professores, pós-graduandos e graduandos, dos na programação da disciplina.
que trabalharão em conjunto para sua realiza- A atividade de pesquisa ocorre integrada à
ção: projeto, contatos, convites, programação, atividade de docência. Não apenas com os pro-
divulgação e obtenção de materiais que se fa- fessores aplicando os conhecimentos adquiri-
çam necessários. O LHIA busca estimular seus dos durante sua pesquisa individual no decorrer
membros a planejarem, organizarem e executa- das aulas, mas na formação dos novos pesqui-
rem atividades que resultem num crescimento sadores. A partir do convívio em sala de aula,
acadêmico, calcado no diálogo, respeito, eficá- os graduandos interessados em História Anti-
cia e responsabilidade. Há a preocupação de ga procuram o LHIA e são encaminhados para
sempre se trabalhar envolvendo “veteranos” e a orientação do professor que estiver mais de
“novatos” para que com a convivência haja in- acordo com a pesquisa que deseja desenvolver.
tercâmbio e vá se formando continuamente o Acreditamos que a curiosidade e o prazer são
pessoal. Assim, conseguimos até hoje garantir os melhores caminhos para realizar a pesquisa,
para o LHIA uma atuação dinâmica e bastante por isso, não há imposição do tema de pesqui-
positiva de criação, inovação e divulgação da sa pelos professores. O processo deve envolver
História Antiga no Brasil. o graduando desde a escolha pessoal do tema
Em relação à atividade de docência, o LHIA até a sua execução. É um trabalho de base im-
oferece disciplinas para os Cursos de Gradua- prescindível para a formação de profissionais
ção de História (turnos diurno e noturno) e de na área de História Antiga. No atual currículo de
Filosofia bem como para o Programa de Pós- História da UFRJ, que está em vias de reformu-
-Graduação em História Social (PPGHIS) até o lação, há as chamadas disciplinas de laboratório
que visam a iniciação na pesquisa científica. O
LHIA desenvolve um trabalho individualizado de
1
Historiadores, arqueólogos, epigrafistas, filósofos e filólogos
são considerados pesquisadores colaboradores e contribuem
orientação desde a formulação de um projeto
decisivamente para os projetos desenvolvidos pelo LHIA. Em de pesquisa até a confecção da monografia de
ordem alfabética: Profª Ana Teresa Marques Gonçalves (UFG
- História Antiga e Medieval); Prof. Ciro Flamarion S. Cardoso
bacharelado. Oferecem-se condições para que
(UFF - História Antiga); Prof. Carlos Augusto Ribeiro Machado o graduando posso realizar sua pesquisa seja
(História Antiga Romana); Prof. Eduardo Lobianco (História Ju-
daica na Antigüidade); Prof. Claudio Prado de Mello (Arqueo-
através de empréstimos de livros especializa-
logia Egípcia); Profª Elaine Antunes (Grego Antigo); Prof. Gilvan dos dos acervos do LHIA e dos professores, seja
Ventura da Silva (UFES - História Antiga); Prof. Jean-Claude Gar-
din (CNRS – Arqueologia); Prof. José Antônio Dabdab Trabulsi
através de grupos de estudos para o aprendiza-
(UFMG - História Antiga); Prof. José d’Encarnação (Universida- do de idiomas instrumentais modernos (portu-
de de Coimbra – Epigrafia Latina); Prof. Katsuzo Koike (História
Antiga Grega); Profa. Lívia Lindóia Paes Barreto (UFF - Letras
guês, inglês e francês) e antigos (grego clássico
Clássicas); Prof. Manuel Rolph Viveiros de Cabeceiras (UFF - His- e latim), essenciais para a leitura da produção
tória Antiga); Profª Margaret Marchiori Bakos (PUC-RS - História
Antiga); Profª. Margarida Maria de Carvalho (UNESP - História
historiográfica e da documentação textual. Al-
Antiga); Profª Maria da Graça Ferreira Schalcher (UFRJ – Filoso- guns destes grupos de estudos são coordena-
fia Antiga); Profª Maria Manuela Ramos de Sousa Silva (UFRJ –
Metodologia); Profª Sílvia Damasceno Andrade de Moraes (UFF
dos por pós-graduandos e todos estão aber-
- Letras Clássicas). tos à comunidade, o que lhes dá também um

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 29


volume 2 | 2001
caráter de extensão. Incentiva-se a pesquisa em preparados para situações típicas da vida aca-
bibliotecas especializadas nacionais, como as da dêmica como reuniões científicas, exames de
Faculdade de Letras e do MAE na USP, e interna- qualificações e bancas de defesa. Condizente
cionais, com as das Escolas Francesas de Atenas também com este último objetivo, incentiva-se

ARTIGOS
e Roma e da Academia Americana em Roma. que graduandos assistam os exames de quali-
As pesquisas desenvolvidas pelos membros ficações e as bancas de defesa dos pós-gradu-
do LHIA encontram-se inseridas no projeto co- andos, que acaba por fortalecer um espírito de
letivo “Identidades e Alteridades no Mundo coleguismo e equipe.
Antigo”. Alguns graduandos são bolsistas de Enquanto o “Dialogando com os Pesquisado-
iniciação científica da FAPERJ e do PIBIC/CNPq. res” possui um caráter mais interno ao LHIA, o
Atualmente, está em andamento um outro pro- “Ciclo de Debates em História Antiga” possui um
jeto coletivo que tem como produto final a ela- caráter mais externo e de âmbito nacional. É o
boração de um CD-Rom com um banco de dados espaço aberto para efetivar o encontro dos pes-
iconográfico temático em Antigüidade Clássica, quisadores em Antigüidade das universidades
construído a partir das pesquisas individuais de brasileiras. Objetiva-se propiciar uma discussão
membros do LHIA, privilegiando, num primeiro interdisciplinar entre a História, a Literatura, a
momento, os suportes cerâmico e mosaico. Ob- Filosofia, a Arqueologia, a Epigrafia e a Antropo-
teve-se o auxílio da webmaster do IFCS, Vânia logia. Anualmente, seleciona-se uma temática
Polly, bolsista de apoio técnico pela FAPERJ para para o evento,2 que é normalmente dividido em
este projeto, e de dois estagiários do Colégio de duas atividades: conferências de professores
Aplicação da UFRJ, participantes do Programa convidados e comunicações dos pesquisadores
de Iniciação Científica Jr, que objetiva integrar inscritos, desenvolvidas desde de manhã até a
o aluno do ensino médio do CAp a grupos de noite durante cinco dias. O “Ciclo de Debates”
pesquisa das unidades da UFRJ sob orientação encontra-se em sua décima primeira realização.
de professores/pesquisadores. O tema deste ano será “Gênero e Sexualida-
O graduando-pesquisador participa de todas de”, acontecendo entre 17 e 21 de setembro de
as atividades do LHIA. Ao meu ver, uma das mais 2001. O público-alvo consiste basicamente em
produtivas é o “Dialogando com os Pesquisado- graduandos e pós-graduandos de História, en-
res”, no qual se debatem anualmente as pes- tretanto as características do evento permitem
quisas individuais dos membros do LHIA propi- a participação de todos os interessados em His-
ciando a troca de informações entre alunos da tória Antiga e áreas afins, o que situa o evento
Pós-Graduação e da Graduação e professores. também como uma atividade de extensão.
O encontro promove o intercâmbio e circulação Uma outra atividade de mesma natureza
de idéias entre os pesquisadores de nossa equi- são as oficinas temáticas, pensadas para serem
pe e os profissionais tanto de História Antiga de meios de atualização de um determinado cam-
outros centros acadêmicos como de áreas cor- po do saber. Organizadas com carga horária
relatas do conhecimento pertencentes ou não de 20h, compreendem conferências e aulas
à nossa instituição, procurando assim efetuar a expositivas ministradas pela equipe do LHIA e
interdisciplinaridade. Para tanto, o estado atu- por especialistas convidados de outras institui-
al das pesquisas desenvolvidas no LHIA, seja de ções acadêmicas. Têm como público alvo tanto
professores, pós-graduandos e graduandos, é
submetido antecipadamente à apreciação crí- 2
“A mulher na Antigüidade” (1991), “O homem e a nature-
tica dos participantes convidados afim de que za” (1992), “Pensar as diferenças: História e Ciências Sociais”
seja debatido no decorrer do evento. Com isso, (1993), V Ciclo de debates em História Antiga associado ao VI
Encontro Nacional da SBEC (1994), “Práticas Políticas na Anti-
os professores, graduandos e pós-graduandos güidade” (1995), “A experiência do cotidiano na Antigüidade”
têm um “olhar” de fora, que certamente enri- (1996) e “História Antiga: novas abordagens interdisciplinares”
(1997), “Identidade e Alteridade no Mundo Antigo” (1998), “Es-
quecerá sua pesquisa, e, ao mesmo tempo, são petáculos e Festas no Mundo Antigo” (1999) e “Por mares nun-
ca d’antes navegados” (2000).

30 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
alunos do IFCS-UFRJ e das outras universidades um espaço isonômico de publicação dedicada
do Rio de Janeiro como professores dos níveis a: 1º) Mostrar a originalidade e a singularida-
de ensino fundamental e médio. Para 2001, de das abordagens historiográficas brasileiras
organizou-se o evento “Violência na História”, referentes às sociedades antigas; 2º) Estabele-

ARTIGOS
desenvolvendo um enfoque interdisciplinar e cer um lugar de diálogo interdisciplinar entre os
diacrônico. O evento ocorrerá no período de 26 historiadores da Antigüidade, brasileiros e es-
a 30 de novembro. trangeiros, com os demais saberes; 3) Garantir
Visando promover o encontro dos membros a liberdade de expressão, a diversidade teórico-
do LHIA com os docentes e alunos dos ensinos -metodológica, a qualidade científica e o des-
fundamental e médio, desenvolve-se o “Proje- pertar de novos talentos, sendo um lugar por
to Universidade-Escola”. Durante dois meses, excelência de experimentação, de debate e de
professores, pós-graduandos e graduandos do crítica acadêmica; 4º) Valorizar a História Antiga
LHIA ministraram aulas centradas na temática numa concepção histórica plural e dinâmica. O
“Pensar as diferenças: nós e os antigos” em es- seu sétimo número encontra-se em fase de edi-
colas públicas. O projeto tem como motivação o toração. Inicialmente, custeada pelos próprios
estudo das sociedades clássicas, destacando-se autores, a “Phoînix” obteve patrocínio cultural
as relações de cidadania, a participação políti- de empresas privadas para sua publicação.
ca e os direitos e deveres dos cidadãos em sua A revista “Gaîa” é dedicada à divulgação das
comunidade, a criação de identidade cultural, pesquisas em História Antiga realizadas por alu-
as relações entre grupos formais e informais, as nos de Graduação. Na mitologia grega, Gaia é
crises/conflitos e mudanças sociais. O estudo da a Terra, concebida como o elemento primordial
Antigüidade Clássica desenvolve uma perspecti- de que descendem as raças divinas,3 a revista
va de alteridade espacial e temporal que é ope- homônima pretende apresentar os seus “frutos
rada com a intenção de se projetar a reflexão mais novos”. Objetiva-se abrir espaço para a
sobre nós e o hoje, ou seja, busca-se estimular divulgação dos primeiros passos das pesquisas
e desenvolver um olhar crítico e criativo sobre em História Antiga e promover debates e críti-
o social. cas aos trabalhos publicados. Os seus editores
A pesquisa histórica, além de desenvolver a científicos, a comissão editorial e a equipe téc-
capacidade crítica de pensar em si e no outro, nica são pesquisadores do LHIA (professores,
procura dar conta do sentido de se viver em pós-graduandos e graduandos). O LHIA. arca
sociedade e do que nela se produz. Entretanto, com os custos desta atividade.
este saber produzido deve ser compartilhado A internet é um meio do qual não podemos
com a sociedade através de diversas estraté- nos furtar de utilizar num mundo cada vez mais
gias. O LHIA, como produtor de um saber, tem interligado por esse extraordinário recurso de
um compromisso social tanto com a formação comunicação. Para tanto, o LHIA, desde o se-
de profissionais de História Antiga capacitados, gundo semestre de 1997, abriu um site: www.
críticos e ativos quanto com a divulgação deste lhiaufrj.com.br, custeado com recursos dos pró-
saber para a sociedade. Foi justamente pautado prios professores. Revelou-se um canal intenso
neste duplo objetivo de produzir e compartilhar de comunicação com diversos segmentos do
que o LHIA publica anualmente a revista “Phoî- ensino e da pesquisa histórica no Brasil ao longo
nix” e, semestralmente, a “Gaîa”. de sua disponibilidade na rede. Buscando alcan-
A “Phoînix” é a única revista brasileira es- çar um maior número de pessoas, encontra-se
pecializada exclusivamente em História Antiga, em versão bilíngüe: português-inglês.4
congregando os resultados parciais e finais das
3
GRIMAL, P. Dicionário da mitologia grega e romana. trad. V.
pesquisas tanto da equipe do LHIA como de Jabouille. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1997. p. 182.
estudiosos da Antigüidade de outros centros 4
O trabalho de versão para o inglês foi efetuado por Karine Dull
acadêmicos. A revista se caracteriza por ser Sampaio (então graduanda) e Adriene Baron Tacla (então mes-
tranda).

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 31


volume 2 | 2001
Os objetivos são: divulgar o trabalho do LHIA, A experiência do LHIA frutificou em outros
conceder aos interessados em Antigüidade um centros de pesquisa e em profissionais que hoje
espaço de debates e esclarecer dúvidas sobre se dedicam ao ensino e pesquisa em institui-
História Antiga. Oferecemos acesso aos traba- ções acadêmicas brasileiras. Tendo como base

ARTIGOS
lhos da nossa equipe e agenda de eventos in- os três princípios: trabalho em equipe, integra-
ternos e externos ao LHIA. Além de divulgar as ção ensino-pesquisa e interdisciplinaridade e
atividades do LHIA, fornecemos links aos inter- ampliando-se os horizontes de ação está sendo
nautas interessados em Antigüidade. Dinamis- gestado um novo programa de pós-graduação
mo e interatividade pautam o nosso site. em História da UFRJ: Programa de Pós-Gradua-
Por fim, pós-graduandos e professores do ção em História Comparada (PPGHC).
LHIA, desde 1998, vem publicando livros com os O PPGHC foi pensado a partir da experiência
resultados de suas recentes atividades de pes- do grupo em trabalhar junto debatendo entre si
quisa. Dos seis livros publicados, um é resultan- os seus projetos de pesquisas e da análise mi-
te das conferências proferidas durante o curso nuciosa de textos sobre interdisciplinaridade e
de extensão “Sociedade e Religião na Antigüida- história comparada7. Após esta etapa, a equipe
de Oriental”, promovido pelo LHIA em 1999. Os se viu em condições de propor um novo progra-
outros foram frutos dos trabalhos individuais de ma de pós-graduação. Alguns pontos nortea-
pesquisa,5 da dedicação e da competência de ram os debates e as reuniões da equipe, entre
seus autores6, que compartilham assim o seu eles estavam: 1º - as imbricações sociais levam
conhecimento e abrem-se para o diálogo com o pesquisador a percorrer outras áreas do co-
a sociedade e a comunidade científica. Alguns nhecimento – História, Antropologia, Arque-
conseguiram patrocínio cultural e os outros fo- ologia, Filosofia, Filologia, Psicologia e outras;
ram custeados pelos próprios autores. 2º - sozinho o pesquisador e especialista numa
área ou sub-área não dá conta destas imbrica-
ções e perde este aspecto plural do seu objeto;
3º - a interdisciplinaridade não descaracteriza
os procedimentos teóricos e metodológicos de
cada um dos campos do saberes em Ciências
Sociais ou Humanas; 4º - é pertinente a amplia-
ção e a experimentação das práticas metodo-
lógicas da interdisciplinaridade e comparação;
assim, a criação do programa abrirá um espaço
experimental para pesquisadores que desejas-
sem ultrapassar os obstáculos que entravam a
pesquisa interdisciplinar e a comparação em
7
SIMIAND, F. “Méthode Historique et Science Sociale”. In: Mé-
thode historique et sciences sociales. Paris: Éditions des Archives
Contemporaines, 1987. pp. 113-169; DAVILLÉ, L. “La comparai-
5
CHEVITARESE, A. L., RIBEIRO, R. S., ARGÔLO, P. F. (org.). Socie- son et la méthode comparative, en particulier dans les études
dade e religião na Antigüidade Oriental. Rio de Janeiro: Fábrica historiques”. Revue de Synthèse historique 27 (79-80): 4-33,
do Livro – SENAI, 2000. 1913; FEBVRE, L. Une esquisse d’histoire comparée. Revue de
Synthèse historique 25: 151-152, 1924; BLOCH, M. “Pour une
6
THEML, N. O público e o privado na Grécia do VIII século ao IV histoire comparée des sociétés européennes”. Melanges histo-
século a. C.: o modelo ateniense. Rio de Janeiro: Sette Letras, riques. v. 1. Paris: EHESS, 1983. pp. 16-40; SEWELL, W. H. “Marc
1998; MOURA, J. F. de. Imagens de Esparta; Xenofontes e a ideo- Bloch and the logic of comparative history”. History and Theory
logia oligárquica. Rio de Janeiro: Fábrica do Livro – SENAI, 2000; 6 (2): 208-218, 1967; THRUPP, S. “Editorial”. Compartive Studies
LIMA, A. C. C. Cultura popular em Atenas no V séulo a.C. Rio de in society and History 1 (1): 1-4, octobre, 1958; GREEN, N. L.
Janeiro: Sette Letras, 2000; LESSA, F. de S. Mulheres de Atenas; “L’histoire comparative et le champ des études migratoires”. An-
mélissa do gineceu à agorá. Rio de Janeiro: LHIA/IFCS, 2001; nales ESC 6: 1335-1350, nov.-déc. 1964; DETIENNE, M. Compa-
ANDRADE, M. M. de. A cidade das mulheres; cidadania e alteri- rer l’incomparable. Paris: Seuil, 2000; TRABULSI, J. A. D. Ensaio
dade na Atenas Clássica. Rio de Janeiro: LHIA/IFCS, 2001; CHEVI- sobre a mobilização política na Grécia Antiga. Belo Horizonte:
TARESE, A. L. O espaço rural da pólis grega; o caso ateniense no Editora UFMG, 2001; VERNANT, J.-P. Entre Mythe et Politique.
período clássico. Rio de Janeiro: Fábrica do Livro – SENAI, 2001. Paris: Seuil, 1996.

32 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
História; 5º - a equipe do PPGHC estará com-
prometida em compreender como salutar e
criativa a convivência com as variáveis teóricas,
temporais e espaciais de cada pesquisador. A

ARTIGOS
equipe entende ainda que estas variáveis são as
que produzem as diferenças entre os pesquisa-
dores e que eles não serão hierarquizados em
nenhum tipo nem forma; ao contrário, a convi-
vência com a diferença é que produz a criação
de novos objetos e conhecimentos; 6º - haverá
interdisciplinaridade e comparação mantendo-
-se a liberdade de pensar e o interesse de cada
um e construindo-se um “campo do exercício de
experimentação”8 interdisciplinar e de história
comparada; 7º - a interdisciplinaridade e a com-
paração não se atêm exclusivamente às seme-
lhanças ou permanências elas permitem que se
observem as singularidades temporais e espa-
ciais; 8º - a equipe do novo programa manterá
as divisões reconhecidas nas Ciências Humanas
ou Sociais: Antropologia, Arqueologia, Filolo-
gia, Filosofia e outras, e, em relação à História,
manter-se-ão as especificidades temporais e es-
paciais também reconhecidas: História Antiga,
História Medieval, História Moderna, História
Contemporânea e História do Brasil, História
da América, História da África e outras. O Cor-
po Docente do PPGHC por sua experiência em
pesquisa, ensino e formação de pesquisadores,
por sua vocação interdisciplinar e de história
comparada, acredita ser possível criar um lugar
e um espaço de reflexão e criação de uma nova
perspectiva de se operar com o conhecimen-
to das sociedades. É um investimento e crença
numa dinâmica de trabalho cuja semente vale a
pena ser cultivada.

8
DETIENNE, M. Comparer l’incomparable. Paris: Seuil, 2000.
Cap. II: “O campo de exercício de experimentação” resulta da
construção de conjuntos de problemas sociais sugeridos pelos
pesquisadores através das condições de suas pesquisas. O es-
sencial a partir desta etapa é de: 1º - esquecer que “progresso
anda na mesma direção ou se existe progresso”; 2º - que “se irá
conhecer sociedades possíveis e impossíveis”; 3º - “que a com-
paração é singular e plural”; 4º - “percorrer tanto as sociedades
antigas quanto as atuais, as simples e as complexas”; 5º - “co-
locar em perspectiva as singularidades, as repetições, o tempo
e o espaço”.

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 33


volume 2 | 2001
Atividades de Formação e

ARTIGOS
Produção Científica em
História Antiga
Margarida Maria de Carvalho
Professora de História Antiga do Departamento de História da UNESP - Franca

Resumo: Com o intuito de desenvolvermos o debate


Nestes últimos dez anos (1990 – 2000) tentamos acadêmico em torno de pesquisa e ensino em
construir uma tradição em termos de pesquisa em História Antiga nos cursos de graduação em His-
História Antiga e Arqueologia Clássica no Departa-
mento de História da UNESP – Franca. Nosso obje- tória no Brasil, apresentarei as principais ativi-
tivo, neste artigo, é apresentar como essas ativida- dades relativas ao tema exercidas nos últimos
des vêm sendo desenvolvidas a fim de suscitar um dez anos (1990 – 2000), na faculdade de Histó-
debate acadêmico sobre os caminhos trilhados e as
perspectivas de investigação elaboradas. Nesse sen- ria, Direito e Serviço Social da UNESP – Franca
tido indicaremos as conferências , mesas redondas, -SP.
comunicações e mini cursos proferidos nesse perío-
do por estudiosos de várias universidades brasilei-
Antes de cumprir meu principal propósito,
ras em nosso Campus. E, principalmente, todos os penso ser interessante citar que em 1997, em
alunos que orientamos em Iniciação Científica, mui- ocasião do XIX Simpósio Nacional de História -
tos dos quais, ao término do curso de graduação, Anpuh – História e Cidadania, os Profs. Drs. Nor-
prosseguiram com seus estudos na pós-graduação.
Enfim pretendemos delinear como temas da antigui- berto Luiz Guarinello (Departamento de História
dade clássica têm sido analisados e os aspectos que - USP) , Pedro Paulo Abreu Funari (Departamen-
mais chamam a atenção de nossos alunos. to de História - UNICAMP) e o Prof.. Claudiomar
Palavras-Chave: Atividades; História Antiga; UNESP- dos Reis Gonçalves (Departamento de História)
-Franca. formaram uma mesa redonda intitulada Os Ca-
Abstract: minhos e Desafios do Ensino e Pesquisa em His-
In these last 10 years (1990-2000) we tried to tória Antiga no Brasil onde já apontavam suas
construct a tradition around Ancient History and experiências e pontos de vista acerca do assun-
Classical Archaeology in the Department of History
in UNESP-Franca. Our aim en these article is to show to, tendo como base suas atividades acadêmi-
how these activities have been developed in order cas em suas respectivas Também em dezembro
to provoke an academic debate about the ways and de 2000, quando do acontecimento da Anpuh
the investigation perspectives we elaborated. In his
way we will demonstrate the lectures, communica- Regional do Espírito Santo, os Profs. Drs. Fabio
tions, courses and addresses delivered, in that time, Faversani (Departamento de História da UFOP),
for specialists from some Brazilian universities in our Gilvan Ventura da Silva (Departamento de His-
Institution. We want to show, chiefly, every students
we guided in Scientific Initiation and how many of
tória da UFES) e a Profa. Ana Teresa Marques
them are studying in some pos-graduations here in Gonçalves (Departamento de História da UFG
Brazil. Finally we intend to describe which subjects ), compuseram uma mesa redonda denomina-
of classical antiquity have been analyzed and the as- da, Os Desafios de Pesquisa e Ensino em Histó-
pects our students like most.
Keywords: Activities; Ancient History; UNESP-Franca
ria Antiga no Brasil, denunciando, outrossim,

34 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
suas práticas de magistério e pesquisa em suas partamento de Antropologia da USP), prof. do
universidades. Todos os professores, especialis- Departamento de História da UFRJ, para proferir
tas em Arqueologia Clássica e ou História An- a conferência Limites da Democracia Ateniense,
tiga mencionados, anteriormente, relataram, cujo público chegou a mais de 150 pessoas en-

ARTIGOS
fundamentalmente, além de seus exercícios tre discentes e docentes de nossa faculdade.
docentes, a necessidade de conhecimento em Em outubro de 1992, eu e três colegas, inau-
línguas estrangeiras e línguas mortas para o de- guraríamos nossa presença nas semanas de
senvolvimento da pesquisa em Antiguidade, os História do Campus. Num evento denominado
periódicos nacionais existentes sobre o tema, Fazer a América, elaboramos uma comunicação
os baixos salários pagos aos profissionais da coordenada denominada O Teatro na Antigui-
área, a produção de livros didáticos ainda com dade Clássica, composta com a minha presença
problemas bastante sérios e as circunstâncias e com a entusiasmada participação do s profs.
em que se encontram as pós-graduações em André Leonardo Chevitares (UFRJ), Fabio Fa-
Antiguidade nas chamadas universidades peri- versani (UFOP – que se doutorou em abril de
féricas. Estes, dentre outros assuntos, foram al- 2001) e pela profa. Ana Teresa Marques Gonçal-
guns dos alvos ressaltados que nos inspiraram a ves (UFG). Os temários desenvolvidos seguem a
relatar nossas atividades e práticas, na área, na ordem dos autores aludidos: O Perfil Feminino
UNESP - Franca. na Comédia Aristofânica: Uma Análise sobre Li-
Minha entrada para o Departamento de His- sístrata, Virtudes e Aceitação Social da Mulher
tória da UNESP – Franca ocorreu em abril de Ateniense nas Tragédias de Sófocles e Eurípi-
1990 através de concurso público na disciplina des, Os Pobres na Comédia e na Sátira Latinas
História Antiga. Como era vista semelhante a e As Imagens Estóicas na Fedra de Sêneca. A
um fardo nas mãos de profs. especialistas em partir daí, marcaríamos presença constante em
História do Brasil, o Departamento de História, demais comunicações coordenadas das subse-
também, sob pressão dos alunos do curso de qüentes Semanas de História bianuais até 1998,
História da turma de 1989, resolveu pleitear com um público estudantil fiel e crescente.
junto à Reitoria concurso relativo à cadeira His- Quando da ocasião da X Semana de História
tória Antiga , tendo como objetivo principal um Quatro Décadas de Brasil (1954 – 1994), coor-
especialista neste campo. denada pela Profa. Dra. Laima Mesgravis, con-
A partir, então, de meu ingresso, apesar de segui apoio para efetuar uma mesa redonda in-
algumas dificuldades inerentes à dinâmica do titulada Pesquisa e Pós-Graduação em História
tema, ainda visto, muitas vezes, com bastante Antiga: Grécia e Roma, com a participação das
estranhamento por parte de especialistas em Profas. Dras. Neyde Theml (do Departamento
História do Brasil e América Latina, as atividades de História da UFRJ) e Maria Luiza Corassin (do
em História Antiga começaram a se desenvolver Departamento de História da USP), despertan-
e a proliferar. do a curiosidade de vários de nossos alunos em
Para a grande surpresa do Campus de Fran- conhecer o que significava uma pós–graduação
ca, houve sempre um grande interesse da parte nesse campo de conhecimento.
do corpo discente em participar das atividades A partir de 1996, com a entrada, por meio de
relacionadas à área, ou seja, dos cursos ofereci- concurso público da Profa. Maria Celeste Fachin
dos na grade curricular, das conferências, pales- ao Depto. de História, o setor de História Anti-
tras e mini cursos administrados por mim e por ga tomou uma nova dimensão. Com mestrado
meus convidados de outras instituições de en- em numismática pelo Museu de Arqueologia e
sino. Assim sendo em junho de 1990 convidei, Etnologia (MAE) da USP, a profa. Celeste impul-
com o apoio do Departamento de História, o sionou o interesse de nossos alunos na área de
prof. André Leonardo Chevitarese (que se dou- Arqueologia Clássica. Desta forma sentimo-nos,
torou no segundo semestre de 1997, pelo De- eu, profa. Margarida e a profa. Celeste, a mon-

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 35


volume 2 | 2001
tar, na XI Semana de História: História: Obje- Finalmente, em 1998, na XII Semana de His-
tos e Investigações, em outubro de 1996, uma tória intitulada Os Destinos do Brasil, sob a pre-
mesa redonda denominada História Antiga e sidência do Prof. Dr. Alberto Aggio, faria parte
Arqueologia Clássica, que contou com o apoio da mesa redonda Classicismo, Medievalismo e

ARTIGOS
da coordenadora da Semana, Profa. Dra. Márcia Modernidade na Formação do Historiador com
D’Aléssio, e com a presença efetiva da referida o temário Classicismo na Formação do Histo-
Profa. Maria Celeste que apresentou A Numis- riador, assunto esse, objeto de nossa constante
mática e seus Métodos no Estudo da História preocupação, já apresentado em alguns even-
Antiga e os Profs. Drs. Norberto Luiz Guarinello tos sobre História como mencionei no início
(USP) e Pedro Paulo Abreu Funari (UNICAMP) dessa comunicação.
apresentando, respectivamente, Encontros e Outrossim, Os Destinos do Brasil, contou
Incompreensões no Estudo da Arqueologia Clás- com o mini-curso Historiografia Greco-Romana
sica e da História Antiga e Considerações em ministrado pela profa. Celeste, “prata da casa”,
torno de algumas Inscrições Pompeianas. Nes- pelo prof. Fabio Faversani (UFOP) e pela profa.
se evento ofereceríamos, igualmente, o mini- Ana Teresa Marques Gonçalves (UFG). Este mi-
-curso História da Mulher na Antiguidade mi- ni-curso também teve sua lotação esgotada.
nistrado por mim, pelo Prof. Gilvan Ventura da Afora todas essas atividades arroladas ante-
Silva (UFES) e pela profa. Ana Teresa Gonçalves riormente, que se revelam como uma grande
(UFG), com lotação esgotada. conquista de nossa parte, vimos desempenhan-
Ainda em novembro de 1996, com o apoio da do um importante trabalho em termos de pes-
Vice Diretora do Campus, Profa. Dra. Maria Apa- quisa em Iniciação Científica.
recida Junqueira da Veiga Gaeta e a convite da No período de 1990 a 2000, eu e a profa. Ma-
profa. Celeste, tivemos a conferência A Religião ria Celeste Fachin, as duas professoras de His-
no Egito Antigo: Deuses, Mitos e Práticas Reli- tória Antiga do Campus de Franca, obtivemos
giosas, proferida pelo Prof. Dr. Antonio Branca- 4 monitores em nossas disciplinas, sob minha
glion Júnior, egiptólogo formado pelo Museu de supervisão, Valéria Aparecida Vaz (1991), An-
Arqueologia e Etnologia da USP. Tal conferência drei de Souza Santos (1992) e Luciana Frateschi
contou com mais de 150 ouvintes entre alunos Correia (1995) e, sob a da profa. Celeste, Polia-
e professores dos três cursos do Campus: Histó- ne Vasconi dos Santos (1997): 4 Bolsistas PIBIC
ria, Direito e Serviço Social. – CNPq – UNESP-Franca, dois sob minha tutela,
Em 1997, conseguimos, eu e a profa. Celeste, José Adilson D’all Antonia Júnior (1996-1997) e
com o apoio da Comissão de Extensão e Assun- André Luís Tavares (1998) e duas sob a da profa.
tos Comunitários do Campus, organizar o Ciclo Celeste, Poliane Vasconi dos Santos (1998-1999)
de Conferências em Antiguidade Clássica. Ten- e Maria Augusta de Oliveira Pimentel (2000) e
do como convidados o Pprof .Dr. Ivan Esperança orientamos de 1996 até 2000, 23 Trabalhos de
Rocha (do Departamento de História da UNESP Conclusão de Curso, envolvendo temas relacio-
– Assis) que nos brindou com a conferência nados à Antiguidade Clássica e Oriental. São es-
Internet e História Antiga, a Profa. Dra. Maria tes, a saber:
Beatriz Florenzano (MAE–USP) com o trabalho
Moeda e Magia no Mundo antigo e o Prof. Fa- 1) Orientandos da Profa. Margarida Maria de
bio Faversani (UFOP) com sua análise intitula- Carvalho:
da Sêneca, o Imperador Nero e o Estoicismo. O 1996:
Ciclo obteve grande sucesso e, na ocasião, pro- a) Andréia Cristina Costa: Utopia em Aristófanes:
meteríamos aos nossos alunos que outros ciclos Praxágora, a Dominadora da Agora;
viriam com a participação de diversos profissio- b) Flávia Rodrigues Vieira: O Mito do Herói na Peça
nais de História Antiga e Arqueologia Clássica de Agamêmnon de Ésquilo
todo o Brasil. c) Glaydson José da Silva: Mulher e Casamento na
Época de Augusto;

36 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
d) Maria de Fátima Limonte: A Eletra de Eurípides x o b) Maria Augusta de Oliveira Pimentel: Homens e
Papel Social da Mulher Tradicional Ateniense e Deuses - a Humanidade Divina: Atena e Hefesto
e) Renata Cardoso Beleboni: As Eumênides e a Mani-
festação Polittico-Jurídica Ateniense. Desses 23 alunos em Iniciação Científica, seis

ARTIGOS
1997: seguiram pós-graduação em História Antiga e/
a) Alessandro Ribas de Souza: A Escravidão Atenien- ou em Arqueologia Clássica: um na pós-gra-
se através da Visão de Aristóteles; duação em História Econômica da USP, Andrei
b) José Adilson D’all Antonia Junior: Os Persas de de Souza Santos, com o Prof. Dr. Norberto Luiz
Ésquilo e o Momento Político Ateniense
Guarinello; dois no Museu de Arqueologia e Et-
c) Ricardo Moraes Scatena: Crítica Interna na Demo- nologia da USP, Carolina Kesser Barcelos, com a
cracia Grega em os Os Acarnenses de Aristófanes.
Profa. Dra. Elaine Hirata e Ricardo Moraes Sca-
1998:
trena, com a Profa. Dra. Maria Beatriz Floren-
a) Alexandre Drummond: Sêneca e a A Tranqüilida-
zano; três, Renata Cardoso Beleboni, Glaydson
de da Alma.
José da Silva e Maria Augusta Oliveira Pimen-
1999:
tel, na pós-graduação em História da UNICAMP
a) Andréia Cristina Pereira: A Mulher Romana na Fe-
com o prof. Dr. Pedro Paulo Abreu Funari e,
dra de Sêneca:
por último, Poliane Vasconi dos Santos na pós-
b) Dalila Cacília Candido: Uma Leitura sobre a Res
Gestae Divi Augusti Ideologia e Propaganda;
-graduação em História da UNESP – Assis com
o prof.. Dr. Ivan Esperança Rocha. Outros estão
c) Juliana Cunha de Melo: A Mulher em a A Vida dos
Doze Césares de Suetônio; aguardando, após conseguirmos nossos títulos
d) Lindinara Vieira: Ovídio, a Arte de Amar e o Papel de Dras., nossa entrada na pós-graduação em
da Mulher na Sociedade Romana. História da UNESP-Franca para continuarem
seus estudos, qualificando-se como mestres e
2) Orientandos da Profa. Maria Celeste Fachin: doutores na área.
1998: À guiza de adendo , é relevante ressaltarmos
a) Carolina Kesser Barcelos: Expressões Mitológicas também o espaço obtido para publicação de ar-
na Cultura Material Grega; tigos em História Antiga e Arqueologia Clássica
b) Roberto Revelino Rezende: Discurso Historiográ- nas revistas de História da UNESP, o qual, antes
fico e Representações Históricas em Tucídides: Uma de 1993, era praticamente inexistente.
Leitura Assim sendo, procurei sistematizar as publi-
1999: cações em história antiga formulando dossiês
a) Cristiane Demarchi: Mithoy e Logein: Transforma- de artigos de bom nível e buscando suas apro-
ções na Representação do Universo Mítico Grego; vações para publicação. Seguindo esta lógica foi
b) Daniela Bracioli Dantas: Os Symposia Gregos: A publicado na História, vol.12, 1993, um primei-
Comensalidade Grega e as Formas de Sociabilidade;
ro dossiê sobre Mulheres na Antiguidade, cujo
c) Orlando André Faustino: O Eclipse da Tradição Ho- caráter compósito foi incluso num dossiê maior,
mérica na Grécia Arcaica;
denominado Mulheres. Neste a revista contou
d) Patrícia Andrade Ferreira: O Casamento na Grécia
com um artigo do Prof. Dr. Ciro Flamarion Car-
Antiga: A Evidência das Fontes;
doso (do departamento de História da UFF) so-
e) Poliane Vasconi dos Santos: A Mágica dos Obje-
bre Algumas Visões da Mulher na Literatura do
tos: Um Estudo do Material Funerário Egípcio à Luz
das Fontes Textuais. Egito Faraônico (II milênio a.C), outro do Prof.
f) Raquel Santana Silva: Funções Sociais Femininas André Leonardo Chevitarese (UFRJ) acerca de
na Antiguidade Grega: O Testemunho das Fontes. Casamento e Descendência na Grécia Antiga e
2000: o terceiro de minha autoria em conjunto com
a) Cleide Berlanda Cuistódio da Silva: O Oikos em Xe- a Profa. Ana Teresa Gonçalves (UFG) versando
nofonte: Um Estudo da Vida Comum - A Mulher na sobre Mulher Romana e Casamento na Obra de
Antiguidade; Apuleio.

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 37


volume 2 | 2001
Em futuros volumes do mesmo periódico, o volume com artigo de minha autoria, do Prof.
marcamos nossa posição com dossiês específi- Gilvan Ventura da Silva (UFES) e da profa. Ana
cos em antiguidade. No volume 15 de 1996 foi Teresa Gonçalves (UFG) denominado Sobre as
publicado um conjunto de artigos denominado Representações Femininas da Antiguidade. Ain-

ARTIGOS
Cultura Material e Literatura na Roma Antiga da no mesmo volume fomos brindados com o
composto por cinco especialistas no tema: eu, texto de autoria do Prof. Dr. Pedro Paulo Funari
profa. Margarida Maria de Carvalho, com o ar- (UNICAMP) chamado Aspectos da Cultura Popu-
tigo Política e Cidade na Filosofia Mística do Im- lar Antiga: Apresentação, Tradução e Discussão
perador Juliano; o Prol Dr. Carlos Roberto de Oli- de alguns Grafites Pompeianos.
veira (do Departamento de História da UUNESP Finalmente, com o apoio de nossa coorde-
– Assis), com Vetus Novus: Passado e Presente nadora da pós-graduação, Porá. Dra. Ida Lewco-
na Construção do Discurso Político em Roma wicz e através de seu convite, foi publicado o
(96 – 112 d.C). O Prof. Dr. Norberto Luiz Gua- artigo do Prof. Dr. Gilvan Ventura da Silva (UFES)
rinello (USP), com Visões de uma Crise: Arque- sobre Constâncio da Mística Imperial no século
ologia e a Itália sob o Principado, o Prof. Fabio iv d.C., no vol.7,n.1 do ano 2000, para compor o
Faversani,(UFOP), com A Tipicidade de Trimal- dossiê Religião.
chio e a Profa. Regina Maria da Cunha Busta- Não tenho dúvidas que muito ainda há para
mante (do Departamento de História da UFRJ ), se realizar. Ainda que pesem as extremas dificul-
com História e Arqueologia: Desvelando a África dades financeiras, lutaremos sempre com o fito
do Norte Romana no Baixo Império Romano. de construir um pólo de pesquisa e ensino para
A façanha repetir-se-ia no volume 18/19 do graduação e pós-graduação em História Antiga
ano de 1998/1999, com o dossiê Roma Antiga, Arqueologia Clássica. Eu e a Profa. Maria Ce-
agora ilustrando os resultados de pesquisa dos leste Fachin pretendemos, após a obtenção de
Profs. Drs Pedro Paulo Abreu Funari (UNICAMP) nossos títulos de Doutoras, além de continuar
com o tema Propaganda, Oralidade e Escrita exercendo as atividades mencionadas, desen-
em Pompéia, Regina Maria da Cunha Bustaman- volver nossos trabalhos de orientação em nível
te (UFRJ), com Construção da História da África de Mestrado e Doutorado, fundar um núcleo de
Romana: Historiografia”Colonizada” x Historio- estudos em Antiguidade Clássica, cuja base já
grafia “Descolonizada, Norma Musco Mendes será alicerçada a partir do ano 2002, elaborar
(do Departamento de História da UFRJ), com coletâneas sobre temas diversos e eventos dire-
Baixo Império: Queda do Nível de Complexida- cionados à Antiguidade, dentre outras ativida-
de Social, Gilvan Ventura da Silva (UFES), com des de destaque.
A Configuração do Estado Romano no Baixo Mais uma vez, sou tentada a sublinhar que as
Império e a Profa. Ana Teresa Gonçalves (UFG), dificuldades e intempéries são muitas, mas vale
com Hliogábalo: Culto Oriental e Oposição Se- a crença de que podemos fazer História Antiga
natorial. no interior de São Paulo e em qualquer lugar do
Outro periódico onde começamos a firmar Brasil, desde que haja esforço, dinâmica e boa
nosso comparecimento foi a revista semestral vontade.
Estudos de História do programa de pós-gradu- Para tanto, contamos com o apoio da maio-
ação do curso de História da UMESP – Franca. ria dos professores aqui citados e demais espe-
No volume 1, n.2, encontra-se o artigo Filantro- cialistas de nosso pis que venham a participar
pia e Política Financeira na Obra do Imperador de nossas atividades e práticas futuras.
Juliano (361-363d.C), de minha autoria. No vo-
lume 4 n.2, 1997, organizado pela Profa. Dra.
Márcia d’Aléssio e por mim, foi publicada uma
coletânea de textos apresentada durante a XI
Semana de História (UNESP – Franca). Abrimos

38 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
A Produção Intelectual em
História Antiga no Brasil
Coord.: Fábio Duarte Joly (USP)
Proposta de Banco de

ARTIGOS
Dados em História Antiga
Fábio Duarte Joly
Pós-Graduando em História - FFLCH/ USP

Resumo: Ciente desse quadro, o Grupo de Trabalho


Este artigo apresenta uma proposta de banco de de História Antiga, instituído na ANPUH, des-
dados para reunir a produção acadêmica em His- de sua criação no início de 2001, tem como um
tória Antiga no Brasil, com o intuito de possibilitar
uma maior integração entre os pesquisadores. de seus mais prementes objetivos a confecção
de um banco de dados que permita minimizar
Palavras-Chave: História Antiga, Banco de Dados,
Produção Acadêmica. a distância entre os pesquisadores nacionais,
permitindo uma integração ao disponibilizar
Abstract:
pela Internet o conjunto da produção acadêmi-
This paper presents a proposal of a database to ca brasileira e criando assim condições iniciais
gather the academic production in Ancient History in
Brazil, with the intention of making possible a larger para um debate interno. Ademais, um tal ban-
integration among the researchers.. co de dados permitiria que essa produção fosse
Keywords: Ancient History, Database, Academic divulgada para além do âmbito da universida-
Production. de, contribuindo para informar, por exemplo, a
confecção de material didático para os ensinos
fundamental e médio.
O que se apresenta a seguir é uma propos-
ta de banco de dados que procura contemplar
tanto a produção já existente quanto aquela em
É perceptível nos últimos anos o aumento da desenvolvimento nos centros de pesquisa no
produção acadêmica na área de História Antiga Brasil. Para tanto, tal banco divide-se em três
no país, fato observável na quantidade sempre partes:
crescente de publicações em forma de livros ou
artigos e, principalmente, na realização de dis-
sertações e teses universitárias. No entanto, a 1) Publicações (autores nacionais e autores es-
circulação desse material permanece restrita a trangeiros que tenham livros ou artigos publi-
círculos pequenos, muitas vezes por causa da cados no Brasil)
ausência de uma política de divulgação. Como a) Livros;
resultado desse contexto, assiste-se a uma pou- b) Artigos;
ca integração dos centros de pesquisa de Histó- c) Resenhas.
ria Antiga no Brasil, afetando a troca de infor- Busca por autor, título, editora, periódico, as-
mações e discussão de linhas de pesquisa em sunto.
andamento.

40 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
2) Produção Acadêmica (constando resumos e
palavras-chaves)
a) Teses;
b) Dissertações;

ARTIGOS
c) Trabalhos de conclusão de curso.
Busca por autor, título, instituição, orienta-
dor, palavras-chaves.

3) Linhas de pesquisa
a) Projetos de pesquisa em andamento (títu-
lo, resumo e palavras-chaves);
b) Autor;
c) Instituição;
d) Orientador.
Busca por autor, orientador, instituição e pa-
lavras-chaves.

Cabe lembrar que estará disponível uma lista


de e-mails dos pesquisadores cadastrados e que
se pensa em cobrir o período de tempo entre
1990 e 2001, intervalo que compreende a maior
parte da produção.
Pretende-se implementar a proposta acima
sugerida entre o segundo semestre de 2001 e
o primeiro semestre de 2002, sendo que quais-
quer críticas e sugestões que contribuam para o
aperfeiçoamento e funcionamento do banco de
dados serão sempre bem-vindas.

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 41


volume 2 | 2001
A História Antiga nos Cursos de

ARTIGOS
Graduação em História no Brasil
Fábio Faversani
Professor de História Antiga do Departamento de História da UFOP

Resumo: convencional e por e-mail. Além disso, fizemos


O presente trabalho apresenta os resultados contatos telefônicos visando reduzir o índice de
parciais de uma sondagem que vem sendo realiza- não resposta.
da junto aos cursos de graduação em História para
identificar o perfil do ensino de História Antiga. Es- Com base na proposta de traçar o perfil da
tão sendo pesquisados principalmente o perfil dos disciplina História Antiga, ministrada em diver-
professores, das disciplinas e da bibliografia de His- sas instituições de ensino superior do Brasil,
tória Antiga.
definiu-se a seguinte rotina:
Palavras-Chave: História Antiga, Graduação, Currí- 1. Levantamento do número de instituições de ensi-
culo.
no superior que oferecem o curso de História , atra-
Abstract: vés de consulta de dados do INEP e à Internet;
The following work presents the partial results of 2. Elaboração de questionários próprios;
a survey that is being developed close to graduation 3. Estabelecimento de contato com estas institui-
courses in History, in order to identify the profile of ções através de correios eletrônicos, telefonemas e
teaching of Ancient History. It has been researching correspondências;
mainly the profile of Professors who teaches the dis-
ciplines and also the bibliography on Ancient History. 4. Recepção dos dados contidos no questionário, en-
Keywords: Ancient history, Graduation, Curriculum. viado às instituições;
5. Tabulação e análise dos dados obtidos.
As três últimas etapas ainda estão em anda-
mento.
O questionário foi construído em cima de al-
guns eixos:
Esse trabalho apresenta os dados parciais 1. Nome dos professores de História Antiga;
e conclusões preliminares de um trabalho que 2. Se os professores de História Antiga possuem cur-
vem sendo conduzido por mim e por um aluno so de especialização nesta área ;
meu, Jonas Regino Alves. Nosso objetivo é tra- 3. Quais as disciplinas obrigatórias do currículo em
çar um perfil da História Antiga nos cursos de História Antiga (título/carga horária);
graduação, pensando três eixos: o que é ofere- 4. Quais as disciplinas eletivas/optativas em História
cido, quem oferece, qual o perfil do que se ofe- Antiga (título/carga horária);
rece. Para tanto, criamos um questionário que 5. Há quanto tempo os professores ministram a dis-
foi enviado a todos os cursos de graduação em ciplina História Antiga;
História do país. A remessa foi feita por correio 6. Quais os programas e bibliografias utilizados pe-
los professores.

42 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
O questionário mencionado foi enviado para veis por 17% dos questionários respondidos, ín-
205 Instituições de Ensino Superior do Brasil. dice inferior à sua participação no oferecimento
Dessas, apenas 44 Instituições responderam ao de cursos.
mesmo, perfazendo cerca de 21,46% do total

ARTIGOS
Norte
de Instituições. A distribuição das instituições Centro-Oeste
Nordeste
12% 0% Sul
24%
que possuem o curso de graduação em Histó- 5%

ria, separado pelas regiões Norte, Sul, Sudeste,


Centro- Oeste e Nordeste, perfaz os seguintes
índices:
Sudeste
59%
Norte
Sul Nordeste 19%
4% 4%
20% 19%
Figura 3. Número de instituições que possuem o curso de
Centro-Oeste
7%
graduação em História que responderam ao questionário
7%
50%
Sudeste
50%

Obtivemos uma lista de 63 professores atu-


20%
ando nessas quarenta e quatro instituições.
Uma média de 1,43 professores por instituição.
Figura 1. Número de instituições que possuem o curso Dos 63 professores, 32 são homens e 31 são
de graduação em História no território nacional
mulheres.

De acordo com esses números, nota-se que 30


Nº de professores de H.

50% das instituições de ensino superior que 25


oferecem o curso de História estão localizadas 20
Antiga

na região Sudeste do Brasil. Destas instituições, 15


48% estão instaladas no estado de São Paulo, 10
32% em Minas Gerais, e os estados do Rio de 5
Janeiro e do Espírito Santo representam os 21% 0
Sim Não NR
restantes, como nos mostra o gráfico da figura Curso de especialização
2:
Figura 4. Número de professores que possuem especiali-
zação em História Antiga
RJ
MG 16%
ES
31%
5% Mesmo considerando que as instituições que
responderam seriam aquelas que têm uma si-
tuação mais estável no que se refere à discipli-
na, tendo, portanto, mais facilidade de oferecer
SP
48%
informações e que as respostas estão concen-
tradas na região sul e sudeste, onde se formam
Figura 2. Número de instituições distribuídas pelos esta- os especialistas da área, menos da metade dos
dos da região Sudeste.
docentes se declararam tendo algum tipo de es-
pecialização na área. O gráfico da figura 4, mos-
Como mencionado, apenas 44 instituições tra que a maioria dos professores que respon-
responderam o questionário enviado. De acor- deram à esta questão não tem especialização
do com a figura 3, a região Sudeste é respon- na área de História Antiga (aproximadamente
sável por 59% dos questionários respondidos, a 44,44%), e apenas 27 professores responde-
região Sul por 24%. Nessas regiões obtivemos ram que têm especialização em História Antiga
um melhor índice de resposta do que nas regi- (42,86%). Houve ainda 08 professores que não
ões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, responsá- responderam à esta questão (12,69%). Dos 63

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 43


volume 2 | 2001
professores, 14 homens têm especialização, os dados ali constantes. O que percebemos é
contrapondo-se a 15 que não têm e 3 que não que temos de tudo por ali. A imensa maioria
responderam; 13 mulheres têm especialização, dos programas prevê uma apresentação pano-
12 não têm e 6 não responderam. râmica do período, seguindo uma cronologia

ARTIGOS
As disciplinas obrigatórias do currículo de tradicional e a organização dos conteúdos pelas
História Antiga estão relacionadas abaixo: grandes civilizações.
DESCRIÇÃO DA DISCIPLINA CARGA HORÁRIA Seguem abaixo uma consolidação das biblio-
História Antiga I e II
História da Antigüidade Oriental e Clássica
60 horas/aula, no total
90 horas/aula
grafias utilizadas pelos professores:
Tópicos de História Antiga (período clássico) 45 horas/aula 1. ALFOLDY, G. A história social de Roma. Lisboa, Edi-
História Antiga 120 horas/aula* torial Presença, 1989.
História Antiga I 60 horas/aula
História Antiga II 60 horas/aula 2. ANDERSON, P. Passagens da antiguidade ao Feuda-
História Antiga 60 horas/aula lismo. Porto, Edições Afrontamento, 2ª EDIÇÃO, 1982.
História Antiga 120 horas/aula*
História Antiga e Medieval 180 horas/aula** 3. AUSTIN, Michel & VIDAL-NAQUET, Pierre. Econo-
História da Antigüidade Oriental 75 horas/aula mia e Sociedade na Grécia Antiga. Lisboa. Edições 70,
História da Antigüidade Clássica 75 horas/aula
História Antiga 60 horas/aula
1987. (Coleção “Lugar da História”)
História Antiga 90 horas/aula 4. AUSTIN, Michel & VIDAL-NAQUET, Pierre. Econo-
História Antiga: Egito, Mesopotâmia e Grécia
História Antiga
80 horas/aula
150 horas/aula *
mia e Sociedade. Lisboa, Ed. 70, 1986.
* Disciplina anual. **Engloba duas disciplinas 5. AYMARD, André. A civilização egéia. In: CROUZET,
Maurice. (dir) História Geral das Civilizações. Vol. 2.
As disciplinas eletivas do currículo de Histó-
Rio de Janeiro: Bertrand-Brasil, 1993.
ria Antiga estão relacionadas abaixo:
6. BAKOS, Margaret e POZZER, Kátia M.P. III jornada
DESCRIÇÃO DA DISCIPLINA CARGA HORÁRIA de estudos do Oriente Antigo – línguas, escritas e ima-
Seminário Livre de História 60 horas/aula
Tópicos especiais em Antiguidade I,III,V 2 horas semanais
ginários. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, Col. História
Temas diversos 60 horas/aula 20.
Disciplinas não-estáveis Sem carga mínima
7. BORNECQUE,H & MORNET, D. Roma e os romanos.
Tópicos especiais de História Antiga 60 horas/semestre
História da Antiguidade Oriental 80 horas/aula São Paulo, 1976.
Tópicos em História Antiga horas/aula 8. BOUZON, E. O código de Hammurabi. Rio de Janei-
Seminário de História Antiga e Medieval 30 ou 60 horas/aula
ro: Vozes,2000.
9. BOUZON, Emanuel. Ensaios babilônicos: Socieda-
de, Economia e Cultura na Babilônia Pré-cristã. Porto
Alegre:EDIPUCRS, 1998, Col. História 19.
tempo(anos)

10. CARCOPINO, Jérome. A vida cotidiana em Roma e


no auge do Império. São Paulo: Cia das Letras, 1988.
11. CARDOSO, C. F. S. A cidade-estado antiga. São
Paulo, Ática, 1985.
12. CARDOSO, C. F. S. O Egito Antigo. São Paulo: Bra-
Nº de professores
siliense, 1982.
13. CARDOSO, C. F. S.. Sociedade do Antigo Oriente
Figura 6. Linha média que representa o tempo em que
os professores ministram a Disciplina História Antiga
próximo. São Paulo, Ática, 1986. (princípios).
14. CARDOSO, C. F. S..Modos de produção na Antigui-
dade. São Paulo, Global, 1982.
Na figura 6, a linha média representa há 15. CARDOSO, C. F. S. Trabalho compulsório na Anti-
quanto tempo os professores ministram a disci- guidade. Rio de Janeiro, Geral, 1984.
plina História Antiga. A linha superior represen- 16. CARDOSO, C.F.S. Antiguidade Oriental: política e
ta o tempo máximo e a linha inferior representa religião. São Paulo, Contexto,1990.
o tempo mínimo em que os professores lecio- 17. CHELIK, Michael. História Antiga: de seus primór-
nam a disciplina História Antiga . A média é de dios à queda de Roma. Rio de Janeiro, Zahar, 1984.
8,1 anos; o tempo máximo é de 16 anos e o mí- 18. CROUZET, Maurice. História Geral da Civilização.
nimo é de apenas 2 anos. A moda é nove anos. Rio de Janeiro, Bertrand, 1993. Vols. 1, 2 e 3.
A análise dos programas está ainda em an- 19. CROUZET, Maurice (dir) História Geral das Civiliza-
ções. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994. Tt. III e IV.
damento, pois há dificuldade em quantificar

44 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
20. DABDAB TRABULSI, José Antônio. Essai sur la 44. LIVERANI, Mário. El Antigo Oriente. História, so-
Mobilisation politique dans la Grèce Ancienne. Paris: ciedad y economía. Barcelona: Ed. Crítica, 1995.
Les Belles Lettres, 1991. 45. MAESTRE FILHO, Mário José. O Escravismo Anti-
21. DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos go. São Paulo, Atual, 1988.
vizinhos. São Leopoldo/Petrópolis: Ed. Vozes/Sino- 46. MAFFRE, Jean Jacques. A Vida na Grécia Clássi-

ARTIGOS
dal, 2v, 1997. ca. Rio de Janeiro, Zahar, 1989.
22. DUBY, Georges & ARIES, Philipe. A História da 47. MARAZZI, Massimiliano. La sociedad micénica.
Vida Privada: Império romano ao ano mil. Vol. 2 SP. Madrid: Akal, 1982.
Cia das Letras, 1992.
48. MAZZARINO, Santo. O fim do mundo antigo. São
23. FINLEY, M. Economia e sociedade na Grécia Anti- Paulo: Martins Fontes, 1991.
ga. São Paulo, Martins Fontes, 1989.
49. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA, Atlas
24. FINLEY, Moses. Esparta e a sociedade Espartana. Histórico.
In: Economia e Sociedade na Grécia Antiga. São Pau-
50. MOSSÉ, Claude. A Grécia Arcaica de Homero a
lo, Martins Fontes, 1989.
Ésquilo. Lisboa, Edições, 70, 1989.
25. FINLEY, Moses. A economia antiga. Porto : Afron-
51. MOSSÉ, Claude. As instituições gregas. Lisboa :
tamento, 1980.
Edições 70, 1985.
26. FINLEY, Moses. Aspectos da Antiguidade. São
52. MOSSÉ, Claude. Atenas: A História de uma De-
Paulo: Martins Fontes, 1991.
mocracia. 2º ed. Brasilia: Editora UNB, 1982.
27. FINLEY, Moses. Escravidão Antiga e Ideologia
53. NOBLECOURT, Christiane Desroches. A mulher
Moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1991.
nos tempos dos faraós. São Paulo: Papirus, 1994.
28. FINLEY, Moses. Grécia primitiva: Idade do bron-
54. PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. São Pau-
ze e Idade Arcaica. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
lo, Atual, 1987 (discutindo a História)
(coleção O Homem e a história).
55. RODRIGUES, Rosicler. O Homem na Pré-história.
29. FINLEY, Moses. O mundo de Ulisses. 3º edição.
São Paulo, Moderna, 1992.
Lisboa: Presença, 1988.
56. SAVELLE, Max. História da Civilização Mundial:
30. FINLEY, Moses. Os arquivos do palácio micênico
As primeiras culturas humanas. BH, Villa Rica, 1990.
e a história econômica. In: Economia e sociedade na
Grécia Antiga. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 57. VERNANT, Jean Pierre. Mito e Religião na Grécia
Antiga. Campinas, Papirus, 1992.
31. FINLEY, Moses. Os Gregos Antigos. Lisboa: Edi-
ções 70, 1984. (Coleção “Lugar da História”) 58. VERNANT, Jean Pierre. A luta de classes. In: Mito
e Sociedade na Grécia Antiga. Rio de Janeiro: José
32. FLORES, Moacyr. Mundo greco-romano
Olympio, 1992.
33. FUNARI, P. P. A. Antiguidade Clássica. A história e
59. VERNANT, Jean- Pierre. As origens do pensamen-
a cultura a partir de documentos. Campinas, Ed. Da
to Grego. 7º edição. Rio de Janeiro: Bertrand-Brasil.
UNICAMP, 1995.
60. VEYNE, Paul (org). História da vida privada I. São
34. FUNARI, Pedro P. Grécia e Roma
Paulo: Cia das Letras, 1990.
35. FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Cultura popular na
61. VIDAL-NAQUET, Pierre. Os escravos gregos cons-
antiguidade. São Paulo: Contexto, 1989.
tituíam uma classe? In: VERNANT, Jean Pierre & VI-
36. GRANT, Michael. História resumida na Civiliza- DAL-NAQUET, Pierre. Trabalho e Escravidão na Gré-
ção Clássica. Rio de Janeiro, Zahar, 1994. cia Antiga. Campinas: Papirus, 1989.
37. GRIMAL, Pierre. O teatro antigo. Lisboa: Edições
70, 1986.
38. GUARINELLO, Norberto Luiz. Imperialismo gre-
co-romano. São Paulo: Ática, 1987. (Série Princípios, 30
124). 25
Número de autores

39. GUSTAVE, Glotz. A cidade grega. São Paulo: Di- 20


fel, 1980. 15
40. HOMERO. Odisséia. São Paulo; Ediouro, s/d (tra- 10
dução em versos de Carlos Alberto Nunes). 5
41. KOVALEV, S. A Sociedade Primitiva. São Paulo, 0
Global, 1997 (Universidade Popular). Nacional Internacional
Bibliografia
42. LÉVÊQUE, Pierre. O papel da religião na gênese
das cidades. LPH: Revista de História, 4 (93/94).
43. LEVÊQUE, Pierre. As Primeiras Civilizações. Volu- Figura 7. Relação entre a bibliografia nacional e a inter-
me 1: Os Impérios de Bronze. Lisboa: Edições 70, 1987. nacional

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 45


volume 2 | 2001
A figura 7 mostra que a quantidade de auto- tomaremos como corpus documental os artigos
res de outras nacionalidades é muito maior do publicados em periódicos brasileiros nos últi-
que os nacionais. A proporção é de aproxima- mos dois anos.
damente 3 autores estrangeiros para cada autor A nossa expectativa com esse trabalho de

ARTIGOS
nacional. pesquisa é conhecer melhor o que se produz e
o que se ensina em História Antiga nas Universi-
dades brasileiras a fim de poder pensar alterna-
tivas para a expansão e melhoria da área.

Figura 8. Número de referências bibliográficas em


relação ao período de publicação

O gráfico da figura 8 tem a finalidade de mos-


trar a quantidade de publicações elencadas pela
pesquisa, relacionando-as com seu período de
publicação. A maioria foi publicada entre 1986 e
1990. Mesmo desconsiderando que muitos dos
títulos são traduções ou reedições, a bibliogra-
fia mostra-se nada recente, já que a maioria ab-
soluta dos títulos foi publicado há mais de dez
anos.

Figura 9. Número de publicações referentes aos autores

De acordo com a figura 9, os autores que


possuem o maior número de obras publicadas
citadas nas referências bibliográficas foram: Fin-
ley e Cardoso.
Devemos prosseguir esse trabalho, persis-
tindo na coleta de dados até a exaustão. Além
disso e paralelamente, pretendemos iniciar um
trabalho de investigação sobre o que se publica
em História Antiga e quais as fontes bibliográ-
ficas utilizadas para esses estudos. Para tanto,

46 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
A História Antiga na produção

ARTIGOS
acadêmica do Departamento de
História – USP
Maria Aparecida de Oliveira Silva
Pós-Graduanda (FFCLH - USP)

Resumo: 1 - Introdução
Neste artigo, pretendo apresentar a produção
acadêmica do Departamento de História da Facul- Este estudo faz parte do levantamento de
dade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da dados sobre a Produção Intelectual em Histó-
Universidade de São Paulo, bem como analisar cri- ria Antiga que está sendo realizado pelo nosso
ticamente os dados recolhidos. A proposta deste Grupo de Trabalho em História Antiga. Este foi
trabalho é a de identificar na produção acadêmica
constituído a fim de catalogar as informações
do Departamento de História da USP não apenas a
contribuição científica dos docentes e pós-graduan- sobre a produção intelectual dos pesquisadores
dos, mas as linhas de pesquisa, temas pesquisados no intuito de criar um banco de dados acessível
e períodos históricos privilegiados. A metodologia aos interessados.
empregada foi a classificação e a quantificação dos
dados levantados no artigos, livros, dissertações e
Nesta parte do trabalho apresentarei a pro-
teses produzidos no Departamento.. dução de professores e de alunos de pós-gra-
duação do Departamento de História da FFLCH
Palavras-Chave: História Antiga, Produção Acadêmi-
ca, Departamento de História –USP – USP. As informações foram coletadas no Pro-
grama Dedalus, pertencente ao Sistema Integra-
Abstract:
do de Bibliotecas da Universidade de São Paulo.
The aim of the article is to make a critical analysis
on the academic work developed in the History De- Para este estudo foram consideradas a pro-
partment at Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências dução de Teses, Dissertações, Artigos, Resenhas,
Humanas of Universidade de São Paulo based on the Livros, Traduções de Livros e Livre Docência. A
data collected. The purpose of the job is to identify coleta de informações resultou no levantamen-
professors and post-graduation students contribu- to de 58 trabalhos realizados entre as décadas
tion to science as well as the bias toward histori-
cal periods classification and quantification of data de 80 e 90.
were made according to articles, books, MA and PhD
theses available in the Department.
Keywords: Ancient History, Academic Work, History 2 – Produção do DH – USP
Department of USP. Com este levantamento constatou-se que há
o predomínio de artigos respondendo por 35%
do total, que se somados aos 15% de resenhas
e 4% de traduções de livros atingem o percen-
tual de 54% do total. Esses números contrastam
com os 8% destinados à produção de livros, de-
monstrando a dificuldade em produzi-los devi-
do ao acúmulo de funções do professor, além

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 47


volume 2 | 2001
do desinteresse das editoras em publicar livros 7 - Distribuição dos trabalhos
sobre História Antiga.
É importante observar a desproporção dos
X números em relação à produção da década de
É interessante notar que 36% da produção 80 e a de 90. O primeiro trabalho registrado nos

ARTIGOS
se refere à teses e dissertações, o que indica o arquivos do Dedalus foi uma dissertação defen-
empenho do Departamento em formar profis- dida em 1983. Percebe-se a partir desses dados
sionais na área. que houve um notável aumento na produção de
estudos sobre a antigüidade.
X
3 - Dos 58 trabalhos arrolados:
Observou-se que há a concentração de es- a) Década de 80
tudos na área de História Social, como pode ser Comparando os estudos entre as décadas
visto no gráfico abaixo: nota-se que, em sua maioria, destinaram-se a
X análise de assuntos relacionados à Roma, au-
mentando em número na década de 90. Assim,
X
4 - A Temática dos trabalhos:
No entanto, é preciso notar a limitação das
b) Década de 90
classificações: História Econômica e História Por um lado, temos nesta década o aumento
Social, pois somente 34% do total do trabalhos de estudos sobre Roma e por outro o aumen-
estão relacionados com economia e sociedade, to de estudos sobre Grécia. Contudo, Os estu-
sendo 36% para historiografia e 30% para a po- dos romanos aumentaram em 10% enquanto
lítica, ou seja, 66% dos estudos não se relacio- os gregos em 6%, tendo significativa queda no
nam com as temáticas sugeridas por essa tradi- número em estudos greco-romanos, o que de-
cional classificação. monstra o caminho da especialização seguido
X pelos pesquisadores.
X
5 - As fontes estudadas:
Heródoto; Tucídides; Sófocles; Aristófanes;
8 - Conclusões:
Aristóteles; Platão; Estrabão; Sêneca; Petrônio; - reduzido número de publicações de livros
Plínio, o Jovem; História Augusta;Herodiano. - preocupação com a formação de profissionais
- crescente interesse pela historiografia antiga
6 - Levantamento de estudos - a superioridade numérica de estudos sobre
sobre Grécia e Roma Roma
- não há estudos sobre o período helenístico
a) Roma - nenhum estudo sobre os povos do Oriente
Sobre Roma, os períodos estudados foram: - concentração da produção na década de 90
X - a pesquisa em História Antiga é incipiente no
Departamento
b) Grécia
- há muito a ser explorado
As épocas estudadas foram a Clássica e a Ar-
Agradecimentos à Taíse Motta pelo compa-
caica, sem haver qualquer estudo sobre o perí-
nheirismo, ao amigo Fábio Joly por lembrar de
odo helenístico, como pode ser visto no gráfico
mim na composição do GT de São Paulo e ao
abaixo:
meu orientador Prof. Dr. Norberto Luiz Guari-
X
nello pelo indefesso apoio.

48 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
História Antiga e Internet

ARTIGOS
Adriene Baron Tacla, Maria Regina Candido e Alexandre
Carneiro Cerqueira Lima
Editores da Hélade

Resumo: 1. As possibilidades de publica-


O presente artigo tem como objetivo discutir a ção proporcionadas pela rede
questão do uso da internet como meio de difusão de mundial
pesquisas e publicações sobre sociedades antigas.
Propomo-nos a debater as possibilidades criadas a Atualmente, as páginas que se dedicam aos
partir da forma de publicação eletrônica, sobretudo estudos de Antigüidade podem ser classificadas
para os estudos acerca da Antigüidade.
da seguinte forma: 1 – páginas institucionais
Palavras-Chave: Internet, Publicação Virtual, Histó- como, por exemplo, a da Escola Francesa de
ria Antiga
Atenas (EFA – www.efa.gr) e outras escolas de
Résumé:
arqueologia (Escola Americana de Atenas, Esco-
Cet article a pour but d’analyser la question la Francesa de Roma, etc.), além de museus em
d’usage de l’internet comme un moyen possible de
diffusion des recherches et des publications sur les
várias cidades dispersas no mundo todo e sites
sociétés anciennes. Nous voudrions aussi compren- de grupos de pesquisa, projetos, programas e
dre les possibilités créés par une publication électro- laboratórios universitários direcionados para o
nique, surtout pour les études de l’Antiquité. estudo de sociedades antigas, tais como os pro-
Mots-clès: Internet, Publication Virtuelle, Histoire jetos Perseus e Chronos; 2 – páginas pessoais,
Ancienne
de professores, pesquisadores e ‘interessados’;
3 – sites que se dedicam à publicação de cará-
ter científico, isto é, periódicos eletrônicos es-
pecializados no estudo de sociedades antigas,
dentre os quais destacamos a Internet Archae-
ology (http://intarch.ac.uk/), a ArqueoHispania
(www.arqueohispania.com), Cyberarqueólogo
Português (www.ci.uc.pt/aia/cyberarq.html),
Objetivamos, neste trabalho, discutir o uso o Journal of World Sistems Research (http://
da internet como meio de difusão de pesquisas csf.colorado.edu/jwsr/) e a Hélade (www.hela-
e publicações na área de Antiguidades. Para tal, deweb.com), para só citarmos alguns.
dividimos esta exposição em três partes, a sa- O primeiro grupo abarca páginas que auxi-
ber: 1 – As possibilidades de publicação propor- liam tanto aos pesquisadores na área de Anti-
cionadas pela rede mundial; 2 – Algumas ques- güidade quanto a um público mais diversificado
tões acerca das publicações convencionais em que esteja interessado nas sociedades anti-
História Antiga; 3 – A Publicação Virtual. gas. Os sites de museus disponibilizam, muitas

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 49


volume 2 | 2001
vezes, aos navegantes fotos e informações sobre 2. Algumas questões acerca das
obras de uma determinada sociedade antiga, publicações convencionais em
enquanto as homepages de universidades e das História Antiga
escolas de arqueologia oferecem a possibilida-
Podemos dizer que, em nosso país, não exis-

ARTIGOS
de do internauta pesquisar livros e documentos
te, por parte das editoras, uma política séria de
disponíveis em suas bibliotecas. A Escola Fran-
publicação na área de história, mormente na de
cesa de Atenas, por exemplo, permite, por meio história antiga. Quando dedilhamos as pratelei-
de seu site, o livre acesso a seu acervo bibliográ- ras das grandes cadeias de livrarias (e são estas
fico e até mesmo ao serviço de hospedagem da que atingem o grande público) percebemos que
Escola para os pesquisadores do mundo inteiro. as editoras brasileiras não se interessam em pu-
Já quanto ao segundo grupo – o das páginas blicar obras novas, preferindo reeditar obras de
pessoais – constatamos que proporcionam elas historiadores do século XIX e do início do sécu-
uma aproximação bem maior, e muitas vezes lo XX; não havendo, em verdade, um interesse
imediata (por meio do correio eletrônico), entre pela produção nacional em história antiga, sal-
o professor/pesquisador/especialista e o inte- vo raras exceções. Donde, muitos profissionais
ressado, muitas vezes divulgando bibliografias dedicados ao estudo das sociedades antigas
e traduções de documentos antigos. Devemos, decidem publicar, por conta própria em peque-
contudo, destacar que muitas destas páginas nas editoras, suas respectivas teses e pesquisas,
são criadas sem nenhum rigor científico, poden- deparando-se, porém, com diversos problemas,
do divulgar conteúdos errôneos – como o caso dos quais destacamos os custos e a divulgação
de uma página que ao contextualizar a pólis de como os mais sérios.
Atenas no período arcaico, afirmava que a tira- Primeiro, o custo de edição de um livro (edi-
nia dos Pisistrátidas ocorrera no VII século a.C. toração, serviços gráficos e de impressão) é bas-
Por outro lado, o último grupo vem ampliar o tante elevado, por vezes acarretando a edição
rol das publicações de reconhecido caráter aca- de pequenas tiragens, quando não inviabilizan-
dêmico, criando periódicos especializados, mas do completamente a publicação. Depois, a dis-
que só existem na rede, consistindo, portanto, tribuição é por demais rarefeita; a grande maio-
em publicações virtuais. Essa forma de publi- ria destas editoras não atinge todas as regiões
cação permite um maior diálogo não só entre do país, muitas delas longínquas, nem tampou-
co conseguem colocar seus livros nas grandes
pesquisadores, como entre os interessados pe-
cadeias de livrarias. Isso quer dizer que o grande
los estudos da Antigüidade, divulgando artigos
público não toma conhecimento do que é pro-
de autores de diversas partes do mundo e em
duzido na academia, e mesmo os pesquisadores
diferentes línguas.
não têm acesso às pesquisas dos profissionais
Com efeito, a publicação virtual não somen- de outras universidades e regiões.
te aumenta os canais de divulgação e debate,
Ademais, as bibliotecas brasileiras não es-
tão necessários à produção científica, como
tão preparadas para atender às pesquisas dos
também propicia a oportunidade de criação de
profissionais e alunos interessados pelos es-
publicações independentes, ou seja, periódicos tudos de sociedades antigas. Em sua maioria,
que não se encontrem vinculados a qualquer possuem elas um acervo defasado e com pou-
instituição. Assim, o debate científico, o com- cos títulos e periódicos em línguas estrangei-
partilhar de idéias e informações, antes muito ras, principalmente em virtude do alto custo de
restritos às universidades e seus centros de pes- assinatura desses últimos. A situação se torna
quisa, começam a alcançar uma difusão nunca pior se pensarmos na documentação, principal-
imaginada, ultrapassando as rígidas fronteiras mente a arqueológica. Daí, a necessidade dos
entre a sociedade e a universidade. pesquisadores viajarem para universidades es-
trangeiras e escolas de arqueologia. Mas uma

50 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
viagem deste tipo só é possível a um aluno de em diferentes formatos com custos bem mais
pós-graduação com bolsa de pesquisa, ou seja, vantajosos do que os de publicação convencio-
cada vez mais percebemos que ocorre um afu- nal. Exemplificando: um livro com cerca de cem
nilamento do acesso do saber em nosso país. páginas e uma tiragem de 250 exemplares não

ARTIGOS
Como um aluno de graduação em história tem custo inferior a mil dólares. Já a manuten-
pode pesquisar nestas condições? Talvez, uma ção de um periódico eletrônico, que alcançará
das respostas esteja nas formas de publicação um número infinito de leitores, não sai por mais
e na crescente integração que a internet vem de cento e cinqüenta dólares anuais. São cifras
promovendo. bastante díspares, principalmente para a nossa
realidade financeira.
As vantagens em relação à divulgação conti-
3. A Publicação Virtual nuam para o lado das publicações eletrônicas.
A internet atinge um público-alvo muito di- Um livro ou uma revista editados no Brasil na
ferente daquele alcançado pela publicação con- área de história antiga circula com bastante di-
vencional. Possui ela um raio de ação bem mais ficuldade. Geralmente vão para as prateleiras
amplo, conseguindo quebrar as barreiras mui- empoeiradas de nossas poucas bibliotecas, en-
tas vezes impostas pela academia, de tal modo quanto a publicação virtual atinge um público
que uma pesquisa na área dos estudos latinos mais diversificado. Poderíamos dar o exemplo
pode ser “consumida” por um físico e vice-ver- da revista eletrônica Hélade (www.heladeweb.
sa. Os sites que divulgam pesquisas estão, em com), da qual somos editores. Por meio das esta-
sua maioria, preocupados em sair da clausura tísticas geradas pelo servidor, constatamos que
estabelecida pelos limites tradicionais da aca- recebemos mais de duzentas visitas semanais,
demia, visando ampliar o acesso à informação, além de constatarmos que, em várias semanas,
democratizando o saber científico, que não pre- a Revista recebeu mais visitas estrangeiras (EUA
cisa ser hermético, nem restrito somente aos – Virgínia, por exemplo) do que nacionais; o que
pares. demonstra o quanto uma publicação eletrônica
Logicamente, não podemos ser ingênuos a pode alcançar.
ponto de acreditar que todos os brasileiros têm A Hélade está ultrapassando as barreiras lin-
acesso à internet. No Brasil, o computador ain- güísticas e os limites impostos pela academia.
da é um artigo bastante caro, sobretudo frente Essa revista é lida tanto no Brasil quanto na Eu-
aos baixos salários da maioria dos brasileiros, ropa, Ásia e nas Américas. Disponibilizar os arti-
além da baixa escolaridade e dos altos índices gos gratuitamente permite não só a divulgação
de analfabetismo ainda verificados no país, que dos trabalhos, bem como a possibilidade de tro-
também restringem o acesso ao conhecimento cas e diálogos entre os pesquisadores e os inter-
a uma pequena parcela da população. nautas. O correio eletrônico é um termômetro
Entretanto, paulatinamente vem-se amplian- interessante, pois recebemos as mais distintas
do o acesso à internet, especialmente em gran- questões e mensagens. Alguns navegantes pe-
des centros como Rio de Janeiro e São Paulo, dem referências bibliográficas, contatos com
onde se pode acessar a rede gratuitamente em pesquisadores/instituições de ensino ou infor-
universidades, nas agências dos Correios, em mações diversas.
quiosques em centros comerciais, além da ação Possibilitar ao grande público alcançado pela
de ONGs, tal como o CDI, que vem trabalhando internet o contato com pesquisas atualizadas e
pela democratização do acesso à informática. a aquisição de livros, frutos de teses em história
Ao contrário das vias tradicionais de publica- antiga, que formam a série de Suplementos da
ção, a internet se apresenta como um veículo Hélade (temos até o momento quatro) consiste
muito mais acessível à produção e à divulgação no objetivo principal da revista, ou seja, difundir
de pesquisas. A rede mundial possibilita diversas as pesquisas nas diversas disciplinas que tratam
formas de publicação (e-books, artigos, teses) das sociedades antigas.

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 51


volume 2 | 2001
Não devemos, porém, imaginar que a publi-
cação virtual venha substituir as formas con-
vencionais de publicação. Ao contrário, ela vem
somar, acrescentando outras vias, ampliando as

ARTIGOS
possibilidades de divulgação de pesquisas cien-
tíficas para um público que antes não era alcan-
çado. Não se trata, pois, de substituir o livro e
sim fazer chegar a esse público, assim como aos
especialistas estrangeiros, o que produzimos
nesse país.
Trata-se, por conseguinte, de uma nova por-
ta que se abre e, no nosso entender, mais do
que um importante veículo para a divulgação e
a propaganda de periódicos acadêmicos tradi-
cionais, a internet consiste em um espaço alter-
nativo de publicação, que vem se popularizando
cada vez mais, atraindo editores, pesquisado-
res, universidades, bibliotecas, instituições de
fomento à pesquisa, enfim, todos que se encon-
tram envolvidos com a produção de pesquisas
acadêmicas ao redor do mundo. Concluímos,
pois, que com o potencial que a internet re-
presenta, não podemos deixar de considerá-la
como uma via para aumentarmos a publicação
da produção acadêmica brasileira acerca das so-
ciedades antigas.

Bibliografia
KIRSOP, Barbara. Electronic Publishing Trust for
Development. Proceedings of the 10th International
Conference of Science Editors (IFSE). Rio de Janeiro:
www.bireme.br/ifse-rio/, 2000.
PAKENHAM-WALSH, Neil. The International Ne-
twork for the Availability of Scientific Publications
(INASP), African scientific journals and online access.
Proceedings of the 10th International Conference of
Science Editors (IFSE). Rio de Janeiro: www.bireme.
br/ifse-rio/, 2000.
RUBINSTEIN, Ellis. How Is Science Being Commu-
nicated? Proceedings of the 10th International Confe-
rence of Science Editors (IFSE). Rio de Janeiro: www.
bireme.br/ifse-rio/, 2000.
TENOPIR, Carol. The Use and Value of Scientific
Journals: Past, Present, and Future. Proceedings of
the 10th International Conference of Science Editors
(IFSE). Rio de Janeiro: www.bireme.br/ifse-rio/, 2000.

52 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
As Culturas Greco-Romanas em

ARTIGOS
Discussão: as Pesquisas em
Antigüidade Clássica da Unicamp
Lourdes M.G.C. Feitosa e Renata Senna Garraffoni
Doutorandas em História (IFCH/ UNICAMP - Bolsistas da Fapesp

Resumo: O estudo da Antigüidade Clássica na Univer-


Este artigo apresenta um balanço das pesquisas sidade Estadual de Campinas (UNICAMP) teve
em Antigüidade Clássica do Departamento de Histó- início na década de setenta com o professor
ria da Unicamp. A Pós-Graduação na área, em níveis
de Mestrado e Doutorado, oferece cursos especia- Jaime Pinsky e, de lá para cá, tem se consolida-
lizados sobre Grécia e Roma, Arqueologia e Histó- do como um espaço de discussão e produção
ria da Arte, por meio da linha de pesquisa História, de pesquisas sobre o mundo greco-romano. Em
Cultura e Gênero. Para o desenvolvimento de seus meados da década de noventa, por exemplo, o
estudos, os pesquisadores contam com o apoio do
Instituto de Estudos de Linguagem; com o Centro de curso de História contava com dois bolsista de
Pensamento Antigo (CPA) e com o financiamento de iniciação científica que desenvolveram projetos
órgãos como a CAPES, CNPq e a FAPESP.. de pesquisa ligados ao mundo romano1 e dois
Palavras-Chave: UNICAMP, Antigüidade, Mundo que fizeram um levantamento bibliográfico das
Clássico fontes clássicas existentes na Universidade2, to-
Absract: dos sob orientação do professor Pedro Paulo
This article presents some aspects of the Ancient Abreu Funari, que assumira o lugar do professor
World researches that has been produced by the His- Pinsky em 1992, em virtude de sua aposenta-
tory Department of Unicamp during the last years. doria.
The Master and Phd courses offer subjects about An-
cient Greece and Rome, Archaeology and History of Nos últimos três anos3, este quadro tornou-
Art. Besides, the scholars are also supported by the -se mais complexo. Além de novos bolsistas
Instituto de Estudos da Linguagem – IEL (Language de iniciação científica4, houve um considerável
Studies Institute), the Centro do Pensamento Antigo
– CPA and Brazilian agencies as CAPES, CNPq and 1
Renata Senna Garraffoni, estudiosa das questões do banditis-
FAPESP, that are responsable for the projects’ finan- mo romano, bolsista CNPq-PIBIC, 1995 -1997 e FAPESP, 1997.
cial resources.. Júlio César Magalhães, estudioso das cartas agostinianas, bolsis-
ta do CNPq e FAPESP.
Abstract: UNICAMP, Antiquity, Classic World
2
André Côrtes de Oliveira e Natália Terezinha G. A. Moreira,
bolsitas SAE-UNICAMP; fizeram levantamento exaustivo das
obras sobre a Antigüidade Clássica custodiadas nas bibliotecas
da UNICAMP.
3
O recorte do período foi feito por sugestão dos organizadores
do Grupo de Trabalho em Antiga, ocorrido de 23 a 25 de julho
de 2001 por ocasião do XXI Simpósio Nacional de História pro-
movido pela ANPUH em Niterói, RJ.
4
Marina Cavicchioli, Relações de gênero a partir das pinturas
pompeianas, bolsista CNPq e atualmente da FAPESP; Aline Car-
valho, O discurso sobre o Egito Antigo no século XIX, bolsista do
SAE-UNICAMP.

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 53


volume 2 | 2001
aumento de pesquisadores no programa de Departamento de História e Ins-
Pós-graduação do Departamento de História tituto de Estudos da
interessados no mundo greco-romano. Estru- Linguagem:
turalmente falando, atualmente estes estudos
Desde a graduação os alunos do curso de

ARTIGOS
estão aglutinados na linha de pesquisa Histó-
História da Unicamp tem a oportunidade de
ria, Cultura e Gênero, criada em 1995 com ob-
conhecer alguns aspectos do mundo antigo:
jetivo de realizar estudos temáticos e teóricos
está previsto no programa uma disciplina obri-
partindo da reflexão sobre algumas correntes
gatória oferecida no primeiro semestre, que
historiográficas contemporâneas, em especial
nos últimos anos tem contado com o apoio de
a Nova História, a História Cultural e Social e a
auxiliares didáticos8 e doutorandos (bolsas do
História Intelectual. Assim, dentro de uma linha
Programa de Estágio Docente)9, bem como cur-
de pesquisa cuja preocupação central é discutir
sos tópicos, no qual o professor desenvolve um
novos caminhos para se escrever a História dos
tema mais específico. A interação com pesqui-
diversos períodos, vários trabalhos sobre Grécia
sadores estrangeiros que estiveram em nossa
e Roma vem sendo desenvolvidos: atualmente
Universidade ministrando aulas na graduação e
contamos com cinco pesquisadores no mes-
na pós-graduação, em 1999, como os professo-
trado5, três no doutorado6 e duas dissertações
res Victor Revilla e Margarita Díaz-Andreau, am-
defendidas7, todos sob orientação do professor
bos financeiramente apoiados pela FAPESP, tem
Funari, livre-docente em História Antiga desde
propiciado um enriquecimento na formação de
1996.
nossos alunos, permitindo que interajam com
O desenvolvimento destas pesquisas tem outras experiências de pesquisas e abordagens
sido possível em virtude da relação de três fato- históricas.
res, que serão comentados a seguir: atividades
Com relação à pós-graduação, o Departa-
promovidas pelo Departamento de História e
mento oferece, dentro da linha de pesquisa His-
Instituto de Estudos da Linguagem (IEL); apoio
tória, Cultura e Gênero, não só discussões sobre
dos órgãos de fomento à pesquisa e o CPA –
teoria e historiografia em geral, como também
Centro do Pensamento Antigo.
cursos especializados sobre Grécia e Roma, Ar-
queologia e História da Arte. Além dos cursos,
contamos com uma biblioteca que, constante-
mente, tem adquirido livros sobre historiogra-
5
Hering, F.A., Heródoto e a “nação” ateniense: uma análise crí- fia Clássica, periódicos especializados e uma
tica do processo de construção de uma ferramenta cultural, em
andamento. coleção de fontes que inclui a literatura latina
- Oliveira, J.C.M., Um Estudo da pobreza na Antigüidade tardia e grega (originais e traduções de excelente qua-
por meio dos sermões e das cartas de Santo Agostinho, em an-
damento. lidade), documentos epigráficos (CIL – Corpus
- Omena, L, O papel de Sêneca para a construção da estabilida- Inscriptionum Latinarum) e iconográficos.
de de Nero em seus primeiros anos de governo, em andamento.
- Pimentel, M.A., As Representações de Hefesto, em andamento. O Instituto de Estudos de Linguagem tam-
- Silva, G.J., Aspectos de cultura e gênero na Arte de Amar, de
Ovídio e no Satyricon, de Petrônio: representações e relações, bém tem sido fundamental para que o historia-
em andamento. dor do mundo antigo tenha uma formação mais
6
Beleboni, R., A interpretação do mito de Medusa no século XX: sólida. Além de possuir também uma bibliote-
História, Arqueologia e Literatura Clássica, em andamento.
- Feitosa, L.M.G.C., O Amor e a representação sexual na Pompéia
ca com livros e periódicos específicos sobre a
romana: uma análise de inscrições parietais, em andamento. Antigüidade greco-romana, o Instituto oferece
- Garraffoni, R.S., Pauperes et Latrones: Representações de De-
litos e Delinqüentes entre as Camadas populares Romanas na
cursos de língua grega e latina capacitando os
Época do Império, em andamento. estudiosos, desde a graduação, a manusearem
7
Beleboni, R., A originalidade do olhar de Jean-Pierre Vernant a documentação diretamente no original, como
sobre a Grécia: diálogos, inovações e atualidade, dissertação
defendida em fevereiro de 2001. 8
Marina Cavicchioli, auxiliar em 1998; Aline Carvalho, auxiliar
- Garraffoni, R.S., Bandidos e Salteadores: Concepções da Elite em 2000 e Fernanda Regis, em 2001.
Romana sobre a Transgressão Social, dissertação defendida em
outubro de 1999. 9
Renata Senna Garraffoni, professora assistente em 2001.

54 Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga


volume 2 | 2001
também a produzirem análises críticas de tra- Pensado desde seu inicio como um Centro de
duções clássicas já existentes. estudos interdisciplinar, atualmente é composto
por pesquisadores e docentes das áreas de Fi-
Apoio das Instituições de losofia, História e Letras Clássicas da Unicamp e
Fomento à Pesquisa:

ARTIGOS
de outras Universidades (PUC-SP, USP, para citar
Tanto as pesquisas de iniciação científica alguns exemplos). Com seus encontros mensais
como as da pós-graduação têm sido financiadas e o Colóquio a cada dois anos, o CPA tem se de-
por diversos órgãos de fomento. Fapesp, CNPQ- finido como um espaço permanente de discus-
-PIBIC e SAE (Serviço de Apoio ao Estudante são de trabalhos de Iniciação Científica, disser-
- Unicamp) são os principais órgãos que finan- tações e teses de doutorado, aprofundamento
ciam as iniciações científicas ou as chamadas do pensamento Antigo e intercâmbio de idéias,
bolsas trabalho, que possibilitam o levantamen- já que conta com a participação de pesquisado-
to de bibliografia, produção de catálogos e orga- res de diversos lugares do Brasil e do exterior:
nização de dados sobre a produção acadêmica juntamente com o apoio do Departamento de
nesta e nas demais Universidades do Brasil. História, foram promovidos debates e pales-
Já a Pós-graduação conta com o apoio da CA- tras com professores estrangeiros como José
PES e da FAPESP. Ambas propiciam aos douto- Remesal e Victor Revilla, da Espanha; Rodolfo
randos a possibilidade de realizar pesquisas no Bouzon, da Argentina; Anne Marie Sorbets, de
exterior, aumentando o intercâmbio entre dife- Paris; Margarita Díaz-Andreau e Siân Jones, da
rentes instituições, além de destinarem verbas Inglaterra e com os pesquisadores brasileiros
para os pós-graduandos, em geral, participarem André Chevitarese, da UFRJ; Claudiomar Gon-
de reuniões científicas no Brasil. Com relação à çalves, da UEL; Elaine Hirata, Maria Beatriz Flo-
FAPESP, caberia mencionar ainda o auxílio pro- renzano, João Ângelo de Oliva Neto, Maria Luíza
porcionado pela chamada reserva técnica: esta Corassin e Norberto Luiz Guarinello, da USP; Fá-
verba anual, que mestrandos e doutorandos bio Faversani, da UFOP; Haiganuch Sarian e Ma-
recebem, tem sido de grande importância para ria Isabel Fleming, do MAE-USP; Kátia Pozzer, da
a aquisição de material permanente como, por Luterana do RS; José Antônio Dabdab Trabulsi,
exemplo, computadores e livros, principalmen- da UFMG; Margareth Bakos, da PUC-RS e Renan
te os importados, que são fundamentais em Frighetto, da UFPR.
nossa área. Com este auxílio, temos conseguido Além de palestras, debates e seminários, o
ampliar, especializar e atualizar o acervo biblio- Centro conta com a publicação do Boletim do
gráfico na área de História Antiga de nosso Ins- CPA, já em seu nono número, que facilita a di-
tituto. vulgação dos temas estudados e propicia um
diálogo maior entre os pesquisadores da área.
CPA – Centro do Pensamento
Antigo: A partir desde breve histórico acerca da si-
tuação dos estudos de História Antiga na Uni-
O CPA – Centro do Pensamento Antigo – tem camp, podemos perceber que se tem consolida-
sido um fator importante para a consolidação do um lugar de trabalho interdisciplinar, aberto
de nossa área na Unicamp. Criado em 1995, a discussões entre pesquisadores brasileiros e
este centro tem como um dos principais objeti- estrangeiros. Esta estrutura, que ainda está em
vos tratar a questão da documentação referente formação, tem ajudado a incentivar a pesquisa
à Antigüidade: por meio de levantamentos bi- sobre o mundo greco-romano e, embora muito
bliográficos, tem sido organizado o material dis- ainda tenha que ser feito, temos obtido resulta-
ponível no Brasil com intuito de repassá-los aos dos com a publicação de textos acadêmicos no
diversos pesquisadores e docentes que atuam Brasil e no exterior, bem como na elaboração de
em áreas isoladas do país, contribuindo, assim, material didático e paradidático mais atualizado
para a democratização dos recursos existentes e para o ensino no primeiro e segundo graus.
para a construção de uma estrutura sólida para
a pesquisa Clássica no Brasil.

Hélade - Revista Eletrônica de História Antiga 55


volume 2 | 2001
A produção acadêmica da OLIVEIRA, J.C.M. As inscrições da basílica de
Unicamp nos últimos três anos: Alexandre em Tipasa: Caridade cristã e práticas de
convivência e ostentação. Phoenix (LHIA/UFRJ) (no
Elaboramos, em seguida, uma lista atualiza- prelo).
da com as publicações dos últimos três anos dos SILVA, G.J. Tradução: “Arqueologia francesa e o

ARTIGOS
pesquisadores de História Antiga da Unicamp. regime de Vichy (1940-1944)”, de Laurent Olivier.
Para facilitar a localização dos artigos, optamos Coleção Idéias. (Dossiê ética e política no mundo
por apresentar a listagem dividida por eixos te- antigo). Campinas: Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas, 2001. (no prelo)
máticos estruturados em ordem alfabética de
sobrenomes dos autores. Publicações Internacionais:
Arqueologia Clássica: FEITOSA, L.M.G.C. & FAVERSANI, F. Sobre o femi-
nino e a cidadania em Pompéia. Pyrene. Barcelona
FUNARI, P.P.A. & CARRERAS, C. Estado y mercado (no prelo)
en el abastecimiento de bienes de consumo en el FUNARI, P.P.A. & CARRERAS, C. 1998, Britannia y
imperio romano: un estudio de caso de la distribu- el Mediterraneo: estudios sobre el abastecimiento
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Programa Estágio docente (PED)
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Cepel - FCL/Unesp ( no prelo) O Programa de Estágio Docente foi instituído na
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FUNARI, P.P.A. Informe da Comissão de Docu- ta S. Garraffoni participou, no primeiro semestre de
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FUNARI, P.P.A., 2001, Grécia e Roma. São Paulo: tosa, todas em disciplinas do curso de História do
Editora Contexto, 2001 (Coleção “Repensando a His- IFCH.
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Dissertações Defendidas: Agradecemos ao Prof. Pedro Paulo A. Funari pela
BELEBONI, R.C. A originalidade do olhar de Jean- leitura e sugestões e a FAPESP, pelo apoio financeiro.
-Pierre Vernant sobre a Grécia: diálogos, inovações e
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fevereiro de 2001.

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volume 2 | 2001
Imagem da Capa: Comuinicação Global. Imagem gratuita disponpiverl em: http://www.morguefile.com/archive/dis-
play/910437

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