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A alienação está arraigada na sociedade – I

Posted on 23/09/2010 por Alexandre

O termo alienação é considerado uma condição psico-sociológica de perda da identidade


individual, ou coletiva. O conceito de alienação abrange várias áreas do conhecimento que o
definem de diferentes formas:

– Em psicologia e psiquiatria, alienação designa o estado mental de uma pessoa cuja ligação com
o mundo a sua volta está diminuída.

– Em antropologia, o termo é utilizado para explicar o estado de um povo forçado a abandonar


seus valores culturais para assumir os de outro, por exemplo, o de um colonizador.

– Em sociologia e comunicação, o termo é debatido a partir da alienação que os meios de


comunicação geram na sociedade, conduzindo a vontade das massas, criando necessidades de
consumo e desviando o interesse das pessoas para atividades passivas e não participativas.

O termo alienação entrou no vocabulário contemporâneo por conta das leituras que Karl Marx
fazia dos estudos de Hegel. Para o último, o trabalho é a essência do homem, quer dizer, é
somente por meio de seu trabalho que o homem pode realizar plenamente suas habilidades em
produções materiais.

Ao contrário de Hegel, alienação, para Marx, tem um sentido negativo, em que o trabalho, ao
invés de realizar o homem, o escraviza; ao invés de humanizá-lo, o desumaniza. A vida do
homem passa a ser medida pelo que ele possui e não pelo que ele é.

Foi o filósofo alemão que idealizou os diferentes tipos de alienação, como a religiosa ou a
econômica, que é a básica e pode ser descrita de duas formas: o trabalho como atividade
fragmentada e como produto apropriado por outros.

De acordo com o Dicionário Priberam de Língua Portuguesa, a palavra alienação, vem de


“alienar” (do latim alieno), que significa transferir para domínio alheio; alucinar.

Alienação, por sua vez, tem inúmeras definições como: transferência de domínio de algo,
perturbação mental, na qual se registra uma anulação da personalidade individual,
arrombamento de espírito, loucura, etc. Pode também referir-se à diminuição da capacidade dos
indivíduos em pensar em agir por si próprios.

Ainda, de acordo com o Dicionário Online de Português, alienação pode significar o estado da
pessoa que, tendo sido educada em condições sociais determinadas, se submete cegamente aos
valores e instituições dadas, perdendo assim a consciência de seus verdadeiros problemas.

http://www.youtube.com/watch?v=cVMN_1AWpCw&feature=related

Alienação Social – Para Marilena Chauí, filósofa brasileira, alienação social é o desconhecimento
das condições histórico-sociais concretas em que se vive, produzidas pela ação humana também
sob o peso. Em seu livro, “Convite à Filsofia”, Marilena diz que existe uma dupla alienação: “por
um lado, os homens não se reconhecem como agentes e autores da vida social com suas
instituições, mas, por outro lado e ao mesmo tempo, julgam-se indivíduos plenamente livres,
capazes de mudar suas vidas individuais como e quando quiserem, apesar das instituições
sociais e das condições históricas. No primeiro caso, não percebem que instituem a sociedade:
no segundo caso, ignoram que a sociedade instituída determina seus pensamentos e ações”.

De acordo com a filósofa, exitem três tipos de alienação social na sociedade moderna. A
primeira diz respeito ao não reconhecimento dos homens como produtores das instituições
sociopolíticas e se dividem entre aceitar passivamente tudo o que existe, por acharem que é
natural, ou rebelam-se individualmente julgando que podem mais do que a realidade os oferece.
“Nos dois casos, a sociedade é o outro (alienus), algo externo a nós, separado de nós, diferente
de nós e com poder total ou nenhum poder sobre nós”.
A segunda seria a econômica, que também é dupla. Neste tipo de alienação, os produtores não
se reconhecem como tais, nem se reconhecem nos objetos produzidos por seu trabalho. A
primeira forma dessa alienação diz respeito a desumanização e a coisificação do homem. O que
acontece é que trabalhador, ao receber seu salário, foi transformado numa mercadoria, pois
vende sua força de trabalho. Porém, estes não percebem como foram “reduzidos à condição de
coisas que produzem coisas”.

Na segunda forma da alienação econômica “as mercadorias não permitem que o trabalhador se
reconheça nelas. Estão separadas dele, são exteriores a ele e podem mais do que ele. As
mercadorias são um igualmente um outro, que não o trabalhador”. Ou seja, isso significa que o
preço dado ao produto vendido em um mercado, que foi produzido pelo trabalhador e que não
consegue adquiri-lo, por desigualdade de valores, é maior do que o preço dele, trabalhador, isto
é, do que seu salário. O trabalhador não reconhece que foi sua classe social que produziu tais
mercadorias com o seu trabalho e que não pode tê-los, pelo alto valor. Dessa forma, as
mercadorias deixam de ser perecebidas como produtos do trabalho e passam a ser vistas como
bens em si e por si mesmas.

A terceira, e última forma de alienação social é a intelectual. Essa alienação resulta da separação
entre o trabalho material, produtor de mercadorias e que leva a crer que este tipo de trabalho
não necessita de nenhum tipo de conhecimento, e o intelectual, produtor de idéias e,
teoricamente, o responsável exclusico pelos conhecimentos.

Para essa alienação existem três formas diferentes. A primeira é relacionada ao fato dos
intelectuais acreditarem que suas idéias são universais, esquecendo ou ignorando que
pertencem a uma classe social dominante e que seus pontos de vistas estão ligados a ela. A
segunda, diz respeito aos intelectuais acharem que suas idéias já se encontram na própria
realidade, esquecendo, portanto, que elas são produzidas e relatadas em forma de teorias
gerais. A terceira, por fim, ocorre quando estes homens passam a acreditar que as idéias surgem
uma das outras e que nós estamos aqui apenas para sermos seus intrumentos. “As idéias se
tornam separadas de seus autores, externas a eles, transcendentes a eles: tornam-se um outro”

A alienação está arraigada na sociedade – II


Posted on 23/09/2010 por Alexandre

>Alienação política – De acordo com o sociólogo brasileiro Simon Schwartzman, ex presidente do


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), alienação política é a incapacidade de um
povo em se orientar politicamente conforme seus próprios interesses; é o desinteresse total
pelos fatos políticos.

De acordo com Platão e Aristóteles, o homem é um animal político, pois o verdadeiro cidadão é
aquele que efetivamente participa da vida em sociedade; um ser social é um ser político, pois a
política nada mais é que condição do bem comum. Assim sendo, aquele que não vive em
sociedade, ou é um Deus, ou é uma besta.

Desta forma, fica claro a necessidade do homem de atuar como sujeito ativo no processo de
formação da polis. Logo, pode-se afirmar que a alienação política é a não interação do ser
humano com as ações políticas e sociais.

Atualmente, a alienação política está presente na realidade brasileira com prática do


consumismo e a despreocupação em relação aos problemas sociais, que flagelam a nossa nação.
Isso é um fenômeno que nos leva a não percepção dos acontecimentos nos quais estamos
inseridos. A população deve sentir-se inserida na sociedade e participar ativamente dos
processos políticos para que a situação seja invertida. O primeiro passo para transformar um
estado alienante em um de participação responsável, ativa e consciente é investir na educação,
com o objetivo de despertar a consciência política dos cidadãos, junto ao senso de
responsabilidade e justiça. O processo é necessário para que possamos viver em uma sociedade
realmente democrática, criando assim um Estado ideal.

>Entrevista com o Professor Faro


Alienação Mental – Entende-se por alienação mental (ou “transtorno mental”) qualquer forma
de perturbação mental que incapacita o indivíduo para agir segundo as normas legais e
convencionais do seu meio. Assim, um indivíduo alienado mental é incapaz de responder
legalmente por seus atos na vida social, tornando-se totalmente um dependente de terceiros no
que diz respeito às diversas responsabilidades que o convívio em sociedade exige. O alienado
mental pode representar riscos para si e para os outros que vivem no seu mesmo ambiente,
sendo assim impedido de qualquer atividade funcional, devendo ser obrigatoriamente
interditado judicialmente. Em alguns casos, torna-se necessária a sua internação em hospitais
especializados visando(ao longo de seu tratamento) a sua proteção e a da sociedade.

Porém, é importante que se faça algumas ponderações. A convivência social exige regras e
regulamentos necessários para que as relações entre os indivíduos de uma sociedade sejam
organizadas. O comportamento das pessoas dentro de um contexto social acaba sendo
padronizado por uma ética, de um modo geral. Considerar um indivíduo como alienado mental é
decretar seu fim social, já que a interdição ou a cura é uma sentença para isso. Se pensarmos
que o que caracteriza o homem como ser social é sua inserção na sociedade (cumprindo o pacto
social), um alienado mental será excluído de tal definição de homem. É a força da lei que intima
os indivíduos a uma postura de respeito aos seus pares na vida social.

Aplicar a lei, quando diante deste, significa trazer de volta o indivíduo infrator a este mundo.. A
aplicação da lei é uma exigência e uma necessidade que o próprio homem se impõe a ele
mesmo. O alienado mental é também um indivíduo estranho e destacado da sociedade, isto é,
deixa de fazer parte dela ao ser impedido de submeter-se aos desígnios da lei. Deixa de ser
sujeito de suas ações para tornar-se objeto das ações de outros.

Por isso deve-se ter muito cuidado ao diagnosticar por completo alguém que seja portador da
alienação mental, ainda que este conceito seja jurídico e não psiquiátrico, devendo a Junta
Médica fazer o devido enquadramento.

Conversando com a Doutora em Psicologia Social e Vice-diretora do Curso de Educação da


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Leda Maria de Oliveira Rodrigues, ela nos disse
que, em sua visão de Pedagoga e Psicóloga, a alienação mental é um estado psicológico
importante, derivado de uma educação em que certos valores culturais e institucionais são
impostos ao indivíduo, a partir da coerção, repressão e imposição.
Perguntamos a ela como a alienação metal poderia afetar o ingresso de um jovem no ensino
superior. Leda foi bastante explicativa em sua resposta: “Em se tratando do assunto educação,
um indivíduo normal, para seu desenvolvimento educacional deve ter clareza de seu potencial,
dos alcances e limites de sua capacidade intelectual. Acima de tudo, deve conseguir dimensionar
suas condições enquanto indivíduo, pois ao adentrar a uma instituição escolar estará
dependendo das condições de aprendizagem formal (instituição escola) e informal, ou seja, das
relações sociais que se apresentam na vida como um todo. Tal alienação pode impedir que ele,
dentro de uma instituição educacional (de qualquer nível) seja compreendido socialmente, pois
esse estado lhe tira a consciência de quem de fato ele é e principalmente, impede o convívio
social, já que todas as pessoas lhe são estranhas, inclusive seus familiares”.

Ao longo da entrevista ela nos explicou também que este “jovem alienado” que tem o interesse
de ingressar no Nível Superior não terá condições de avaliar a si próprio, seu potencial de estudo
e sua produção. Ele não poderá optar conscientemente, quanto ao que poderá escolher para
uma possível profissionalização e poderá também ter muita insegurança quanto à sua bagagem
cultural, o que de fato aprendeu, além de não ter caminhos claros sobre os diferentes cursos
para seu ingresso neste ensino. “No estado de loucura ou perda da razão por perturbações
psíquicas, caso tenha chegado ao ensino superior, poderá não conseguir permanecer na
instituição, terá problemas sim nas relações sociais e por sua vez, poderá não progredir nos
estudos” completa a Professora.

Sendo assim, alienação mental torna inapto o indivíduo no que trata das suas relações sociais,
inclusive as familiares. Assim, terá dificuldades na sua trajetória escolar como um todo e por sua
vez no ingresso ao ensino superior, também.

Um dos exemplos mais presentes em nossa sociedade de Alienação Mental é causado por jogos
eletrônicos e que também atinge jovens entre 16 e 22 anos. Seja em casa ou nas lan houses(que
em 2000 tiveram o seu “boom” no Brasil), o uso indiscriminado desses jogos por parte dos
jovens vem causando sérios problemas para estes tanto psíquicos quanto comportamentais.
“Quando imerge naquele universo, o jogador não se dá conta do conteúdo, que pode até ser
inadequado. Por isso, também seria importante aprender a questionar a qualidade e a
veracidade desse conteúdo” diz Lynn Alves, professora e pesquisadora do Departamento de
Educação da Uneb (Universidade do Estado da Bahia).

E é dentro desse mundo dos “games” que surgiram os jogos eletrônicos de natureza violenta, e
foi por isso que, em Outubro de 2008, o juiz Carlos Alberto Simões de Tomaz da 17ª Vara Federal
da Seção Judiciária do Estado de Minas Gerais decidiu proibir a venda dos jogos Counter
Strike(sua trama divide os jogadores em equipes – terroristas X antiterroristas, por exemplo – e é
preciso eliminar os adversários à bala) e EverQuest(mundo fictício com ares de Idade Média que
uma partida abriga centenas de pessoas de uma vez em disputas quase sem fim) em todo o
território nacional. Para ele, os jogos “trazem imanentes estímulos à subversão da ordem social,
atentando contra o estado democrático e de direito e contra a segurança pública, impondo sua
proibição e retirada do mercado”. Porém, como a Justiça não proibiu o uso dos jogos – apenas a
comercialização -, as lan houses não estão obrigadas a deletá-los. “Estamos notificando as lan
houses de uma decisão judicial. Jogar ou não depende de um critério moral de cada pessoa e de
cada família, já que os jogos são proibidos para menores de 18 anos” afirma Antonio Carlos de
Lima, superintendente do Procon de Goiás.

Alienação Parental – A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é de todos os tipos de alienação


um dos menos conhecidos, mas na prática milhões de crianças no mundo sofrem desse mal.

O termo “Síndrome de Alienação Parental” foi dado pelo professor de psiquiatria clinica da
Divisão da Psiquiatria Infantil da Universidade de Columbia, Richard Gardner, no ano de 1985,
para a situação em que a mãe ou pai de uma criança tenta acabar com os laços com seu
parceiro, gerando fortes sentimentos de ansiedade e temor em relação ao outro genitor. Na
briga pelos bens ou no desejo de vingança dos pais, no final das contas as crianças são as mais
prejudicadas. As conseqüências da alienação parental aos filhos podem ser nocivas, já que
atingem diretamente o lado psicológico da criança. ”É uma manipulação da memória
emocional”, diz Cássia Franco, psicóloga com especialização em casais e família.

Emocionalmente induzida a muitas interpretações da situação, a criança pode vir a “acreditar”


em situações que não ocorreram de fato, como um abuso sexual, por exemplo. Às vezes apenas
alguns simples comentários sobre o caráter do pai ou da mãe podem causar danos sérios, como
a depressão, distúrbios de atenção ou outras doenças com fundo psicológico, podendo levar o
filho a se tornar uma criança agressiva e até mesmo isolada.

“Enquanto o laço de marido e mulher se rompe, o vínculo pai e filho ou mãe e filho não termina.
Mas você pode escolher ser um bom pai ou uma boa mãe, ou preferir ser um péssimo pai ou
uma péssima mãe para o resto da vida”, alerta Cássia.
Em agosto deste ano, o presidente Luis Inácio Lula da Silva aprovou o projeto de lei que pune os
pais que a praticam. A lei define como alienação parental quando o pai ou a mãe detém a guarda
da criança e promovem uma constante difamação do outro genitor ou quando impedem que o
acesso do cônjuge ao filho. A punição vai de acompanhamento psicológico obrigatório a
suspensão ou inversão da guarda, passando pelo pagamento de uma multa estipulada pelo juiz.

http://www.youtube.com/watch?v=7HALAmLqHBM&feature=related

A alienação na sociedade capitalista

Cornelius Castoriadis

Entendemos por alienação - momento característico de toda sociedade de classe, mas que
aparece com dimensão e profundidade muito maiores na sociedade capitalista - o fato de os
produtos da atividade do homem adquirirem em relação a ele uma existência social
independente, e, ao invés de serem dominados por ele, o dominarem. A alienação é, portanto,
aquilo que se opõe à criatividade livre do homem no mundo criado pelo homem; não é um
princípio histórico independente, que tenha uma origem própria. E a objetivação da atividade
humana, na medida em que escapa de seu autor, sem que seu autor possa escapar dela. Toda
alienação é uma objetivação humana, ou seja, possui sua origem na atividade humana (não
existem "forças secretas" na história, não existe mais astúcia da razão do que leis econômicas
naturais); mas toda objetivação não é necessariamente uma alienação na medida em que pode
ser conscientemente retomada, reafirmada ou destruída. Qualquer produto da atividade
humana (mesmo uma atitude puramente interior), desde que esteja pronto, "escapa de seu
autor" e leva uma existência independente dela. Não podemos fingir que não dissemos tal
palavra; mas podemos deixar de ser influenciados por ela. A vida passada de todo indivíduo é
sua objetivação naquela ocasião; mas o indivíduo não é necessária e exaustivamente alienado
por ela, seu futuro não é definitivamente dominado pelo seu passado. O socialismo será a
supressão da alienação quando permitir a retomada perpétua, consciente e sem conflitos
violentos, do dado social, quando restaurar a dominação dos homens sobre os produtos de sua
própria atividade. A sociedade capitalista é uma sociedade alienada enquanto dominada pelas
próprias criações, enquanto suas transformações acontecem independentemente da vontade e
da consciência dos homens (inclusive da classe não dominante), segundo quase-leis que
exprimem estruturas objetivas independentes de seu controle.

Não nos interessa aqui descrever como se produz a alienação sob a forma da alienação da
sociedade capitalista - o que implicaria a análise do nascimento do capitalismo e de seu
funcionamento -, mas mostrar as manifestações concretas desta alienação nas diversas esferas
de atividade social e sua unidade intima.

É apenas na medida em que se apreende o conteúdo do socialismo como autonomia do


proletariado, como atividade criadora livre que se determina a si mesma, como gestão operária
em todos os domínios, que se pode apreender a essência da alienação do homem na sociedade
capitalista. Não é por acaso, com efeito, que burgueses esclarecidos" e burocratas reformistas ou
estalinistas querem reduzir os males do capitalismo a males essencialmente econômicos, e, no
plano econômico, à exploração sob a forma da distribuição desigual da renda nacional. Na
medida em que sua critica do capitalismo se estender a outros domínios, ela tomará ainda como
ponto de partida esta distribuição desigual da renda e consistirá essencialmente em variações
sobre o tema do poder de corrupção do dinheiro. Se se tratar da família e do problema sexual,
falar-se-á da pobreza que leva à prostituição, da mocinha que se vende ao velho rico, dos dramas
familiares que resultam da miséria. Se se tratar da cultura, falar-se-á da venalidade, dos
obstáculos que os talentos pobres encontrarão, do analfabetismo. E certo que tudo isto é
verdadeiro e importante. Mas isto diz respeito apenas à superfície do problema; e aqueles que
só falam disto consideram o homem unicamente como consumidor e, pretendendo satisfazê-lo
neste nível, tendem a reduzi-lo a suas funções físicas de digestão (direta ou sublimada). Mas não
se trata para o homem de pura e simplesmente ingerir, mas de se exprimir e de criar, não
somente no domínio econômico, mas na totalidade dos domínios.

O conflito da sociedade de classe não se manifesta simplesmente no domínio da distribuição,


como exploração e limitação do consumo; este é apenas um dos aspectos do conflito, e não o
mais importante. Seu aspecto fundamental é a limitação e, no final das contas, a tentativa de
supressão do papel humano do homem no domínio da produção. E o fato de o homem ser
expropriado do comando de sua própria atividade, tanto individual quanto coletivamente. Pela
sua submissão à máquina e, através dela, a uma vontade abstrata, estranha e hostil, o homem é
privado do verdadeiro conteúdo de sua atividade humana, a transformação consciente do
mundo natural; a tendência profunda que o leva a se realizar no objeto é constantemente
inibida. A verdadeira significação desta situação não é somente o fato de ser vivida pelos
produtores como um sofrimento absoluto, como mutilação permanente; é que ela cria um
conflito perpétuo no nível mais profundo da produção, que explode a qualquer ocasião; é
também que condiciona um desperdício imenso - diante do qual o desperdício das crises de
superprodução é verdadeiramente negligenciável -, pela oposição positiva dos produtores a um
sistema que recusam, e ao mesmo tempo pela falta de ganho que resulta da neutralização da
inventividade e da criatividade de milhões de indivíduos. Além destes aspectos, é preciso se
perguntar em que medida o desenvolvimento ulterior da produção capitalista seria mesmo
"tecnicamente" possível se o produtor imediato continuasse a ser mantido no estado
fragmentário em que atualmente se encontra.
Mas a alienação na sociedade capitalista não é simplesmente econômica; ela não só se
manifesta a respeito da vida material, mas também afeta fundamentalmente a função sexual e a
função cultural do homem.

Na verdade, só existe sociedade na medida em que existe organização da produção e da


reprodução da vida dos indivíduos e da espécie - portanto, organização das relações econômicas
e sexuais - e na medida em que esta organização deixa de ser simplesmente instintiva e se torna
consciente - abrangendo, pois, o momento da cultura.

Como dizia Marx, "a abelha, pela estrutura de suas células de cera, causa vergonha a mais de um
arquiteto. Mas o que de imediato estabelece uma diferença entre o mais medíocre arquiteto e a
abelha mais hábil é que o arquiteto constrói a célula na sua cabeça antes de realizá-la na cera"
(Le Capital, trad. Molitor, t. II, p. 4). Técnica e consciência andam evidentemente sempre juntas:
um instrumento é uma significação materializada e operante, ou ainda uma mediação entre uma
intenção refletida e um objetivo ainda ideal.

O que se diz a respeito da fabricação das células das abelhas neste texto de Marx pode ser dito
também a respeito de sua organização social. Assim como a técnica representa uma
racionalização das relações entre o homem e o mundo natural, a organização social representa
uma racionalização das relações entre os indivíduos de um grupo. Mas a organização da colmeia
é uma racionalização não-consciente e a de uma tribo é consciente, o homem primitivo pode
descrevê-la e pode negá-la (transgredindo-a). Racionalização neste contexto não significa
evidentemente a "nossa" racionalização. Numa determinada etapa e num determinado
contexto, tanto a magia quanto o canibalismo representam racionalizações (sem aspas).

Se, portanto, uma organização social for antagônica, ela tenderá a sê-lo tanto no plano produtivo
quanto no plano sexual e cultural. E falso pensar que o conflito no domínio da produção "cria"
ou "determina" um conflito secundário e derivado em outros planos; as estruturas de
dominação se impõem simultaneamente sobre os três domínios, e, fora desta simultaneidade e
desta equivalência, são impossíveis e inconcebíveis. A exploração, por exemplo, só pode ser
garantida se os produtores forem expropriados da gestão da produção; mas esta expropriação
pressupõe por sua vez que os produtores sejam separados das capacidades de gestão portanto,
da cultura - e reproduz esta separação em larga escala. Do mesmo modo, uma sociedade na qual
as relações inter-humanas fundamentais são relações de dominação pressupõe e ao mesmo
tempo acarreta uma organização alienatória das relações sexuais, ou seja, uma organização que
cria nos indivíduos inibições fundamentais que tendem a fazê-lo aceitar a autoridade etc.[1]

Evidentemente, existe de fato uma equivalência dialética entre as estruturas sociais e as


estruturas "psicológicas" dos indivíduos. Desde os seus primeiros passos na vida, o indivíduo
está submetido a uma pressão constante que visa a impor-lhe uma determinada atitude diante
do trabalho, do sexo, das idéias, que visa a frustrá-lo dos objetos naturais de seu trabalho e inibi-
lo, fazendo-o interiorizar e valorizar esta frustração. A sociedade de classe só existe na medida
em que consegue impor esta aceitação num nível importante. É por isto que o conflito nesta
sociedade não é puramente exterior, mas transposto para o próprio coração dos indivíduos. Â
estrutura social antagônica corresponde uma estrutura antagônica nos indivíduos, e cada uma se
reproduz perpetuamente através da outra.

O objetivo destas considerações não é somente destacar o momento de identidade da essência


das relações de dominação, que estas se situem na fábrica capitalista, na família patriarcal ou na
pedagogia autoritária e na cultura aristocrática. É assinalar que a revolução socialista deverá
necessariamente abarcar o conjunto destes domínios, e isto não num futuro imprevisível e "por
acréscimo", mas desde o início. É certo que ela deve começar de uma determinada maneira, que
não pode ser outra senão a destruição do poder dos exploradores pelo poder das massas
armadas e a instauração da gestão operária da produção. Mas a revolução deverá
imediatamente se dedicar à reconstrução das outras atividades sociais, sob pena de morte.
Tentaremos mostrar isto com o exemplo das relações entre o proletariado no poder e a cultura.

A estrutura antagônica das relações culturais na sociedade atual se exprime também (mas não
exclusivamente) pela divisão radical entre o trabalho manual e o trabalho intelectual, da qual
resulta que a imensa maioria da humanidade está totalmente separada da cultura como
atividade e participa apenas de uma ínfima parte de seus resultados. De outro lado, a divisão da
sociedade em dirigentes e executantes torna-se cada vez mais homóloga à divisão em trabalho
manual e intelectual (todos os trabalhos de direção sendo trabalhos intelectuais, e todos os
trabalhos manuais sendo trabalhos de execução)[2]. A gestão operária, portanto, só é possível se
esta última divisão tender desde o início a ser ultrapassada, em particular no que se refere ao
trabalho intelectual relativo à produção. Isto implica, por sua vez, a apropriação da cultura pelo
proletariado. Não certamente como cultura já pronta, como assimilação de "resultados" da
cultura histórica; esta assimilação, para além de um determinado ponto, é ao mesmo tempo
impossível de imediato e supérflua (em relação ao que nos interessa aqui). Mas como
apropriação da atividade e como recuperação da função cultural, como transformação radical da
relação entre as massas dos produtores e o trabalho intelectual. E apenas na medida em que
esta transformação se realiza que a gestão operária se tornará irreversível.
Cornelius Castoriadis, julho 1955

Referências

Ver, sobre a relação profunda entre a estrutura de classe da sociedade e a regulamentação


patriarcal das relações sexuais, os trabalhos de W. Reich, The Sexual Revolution (1945), Character
Analysis (1948) (trad. La révolution sexueile, Paris, Plon, 1968; Analyse caracténelIe, Paris, PaVot,
1971) e La fonction de l'orgesme (trad. francesa, 1952). Em particular, neste último, a análise da
estrutura neurótica do indivíduo fascista (pp. 186-199).

Entre os dois se situa a categoria dos trabalhos intelectuais de execução, cuja importância vai
crescendo. Falaremos disto mais adiante.

A Sociedade Alienada do Hoje

phbalboni em segunda-feira, 1 de junho de 2009 | Sem categoria

Sinapse por Pedro Hutsch Balboni, Primeiro de junho de 2009, às 17h

alienação Newronio ESPMFalar em alienação é sempre muito complicado, mas cada vez mais
importante. A internet possibilita a livre expressão de idéias de maneira fácil e gratuíta, motivo
esse que me levou a começar a escrever textos em blogs. Acontece que os interesses por temas
a serem lidos na rede é cada vez maior com temas que.. bem, temas que levam ao que poderia
ser chamado de uma alienação crescente. E inúmeros textos de grande profundidade disponíveis
como nunca ficam sendo material de leitura da mesma minoria que os teria lido mesmo que
fossem difíceis de ser encontrados.

É fácil de constatar esse fenômeno: você já ouviu falar da Susan Boyle? Já viu o vídeo do choque
da uva? Já ouviu a música “Chance“, de Ednaldo Pereira? Ronaldo? A marmota (Dramatic
Chipmunk)? E esse vídeo abaixo?
O vídeo pode ser visto no site Story of Stuff em idioma original, onde também são encontrados
uma série de conteúdos complementares. Para quem teve preguiça e pouco interesse, o vídeo
fala justamente sobre essa alienação de toda a população que é cada vez mais consumidora
acima de qualquer outra coisa. A falta de visão do processo completo, desde a extração de
matéria prima, fabricação, distribuição do produto e o modo que ele é descartado após ter sido
utlizado (engraçado pensar que o modelo produtivo Fordista foi gradualmente substituído pois
alienava os trabalhadores…e nada é feito por essas empresas para evitar a alienação dos
consumidores, muito pelo contrário). Segundo o vídeo, cerca de apenas 1% de todas as coisas
produzidas, processadas, compradas e etc continuam a ser utilizadas após 6 meses nos EUA, o
que significa que 99% de toda a produção vai para o lixo em menos de 6 meses.

Os custos cada vez mais baixos são justificados pela “externalização de custos”, que significa
fazer a população de países subdesenvolvidos pagarem com seu trabalho, tempo e matérias
primas pelas ótimas ofertas que encontramos quando vamos fazer compras. A questão da
“obsolescência programada” e da “obsolescência percebida” também é abordada, como
viabilizador para acelerar o giro de mecadorias no mercado. A reciclagem é tida como
necessária, mas inviável como único modo de se pensar uma solução.

No fundo, o que precisa ser trabalhado é o indivíduo, pois como argumenta Annie Leonard
(apresentadora do vídeo), o sistema em que vivemos hoje não é inevitável como a gravidade,
pois foi criado por pessoas, e pode, portanto, ser mudado por pessoas. No livro do professor
Mario René, “Comportamento do consumidor: identificando necejos e supérfluos essenciais”,
esse consumidor (cada vez menos “indivíduo”) é estudado mais a fundo. O consumo é usado
como um alívio para o sofrimento, como ele conta, mas é um alívio de duração pífia, pois uma
vez feita a compra, o alívio já venceu e outra compra precisa ser feita. Essas “próteses” contra o
sofrimento não trabalham o indivído em si, e acabam por aprofundar sua “doença”, sua
necessidade por buscar fora de si uma cura temporária e ilusória para seu sofrimento.

Outra referência que merece ser citada é o filme “Corporation“, onde o comportamento das
empresas é analisado sob várias ópticas, bem como seu reflexo na sociedade. Para quem quer se
aprofundar, a bibliografia é bastante rica. Procurarei escrever mais sobre o tema, condensando
mais coisas a respeito. Esse assunto ainda não acabou, está apenas começando.

Sinapse por Pedro Hutsch Balboni, Primeiro de junho de 2009, às 17h

Twitter @phbalboni @newronioespm

23. “Os jovens não eram tão alienados.”

A verdade: Mesmo vivendo numa ditadura militar, a maioria dos pais de hoje não estava nem aí
para a política

Por Da Redação

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31 out 2016, 18h46 - Publicado em 8 mar 2013, 22h00

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Anna Carolina Rodrigues

Nossos pais sabem como foi viver sem liberdade de expressão, mas, quando eram jovens, a
maioria deles não fez tanta questão de se expressar. Em 1966 – dois anos depois do golpe militar
-, 44% dos jovens eram a favor do regime, 39% não tinham opinião formada e 17% eram contra,
segundo uma pesquisa da revista Realidade. Em 1979, 70% dos jovens se manifestavam
“satisfeitos” com a situação do país, de acordo com uma pesquisa Gallup. Já na transição para a
democracia, o jovem brasileiro ficou menos apático. Mas não tanto. Em 1987, 45% consideravam
importante a participação política, enquanto 41% não tinham opinião formada e 14%
consideram pura perda de tempo. Nem mesmo o fim da censura ao cinema, ao teatro e à TV era
unanimidade: 32% eram favoráveis ou indiferentes à censura.

Só se proibir de ventar
“`Esse negócio de política não me interessa porque não me afeta. No momento em que chegar
um cara e proibir o surfe, proibir de ventar, aí eu vou me interessar¿, diz Felipe, ainda pouco
ciente do realismo maquiavélico de sua frase”

Revista VEJA, 1980

A educação alienada

qua, 20/03/2013 - 18:12

Atualizado em 02/09/2013 - 05:23

ANTONIO ATEU

Do blog Convergência

Educação enlatada: a alienação do trabalho chegando às salas de aula

Cássio Diniz

Uma das principais características do capitalismo é a transformação dos seres humanos em


mercadorias e, principalmente, em máquinas geradoras de riquezas a serem expropriadas pela
classe dominante. Para isso, busca ao máximo fragmentar um importante atributo do ser social:
o trabalho. Separa-se o “pensar o trabalho” da tarefa em si, processo esse intitulado de
alienação do trabalho.

O homem se transforma em um ser autômato, desprovido de sua capacidade de compreender


seu papel e, não obstante, reconhecer o valor de seu trabalho e de se apropriá-lo. A alienação do
trabalho torna-se a base fundamental da exploração de uma classe sobre a outra na sociedade
moderna contemporânea.

Contudo, o capitalismo se desenvolveu de forma desigual e combinada. A alienação se inseriu no


mundo do trabalho em diversos lugares de formas distintas. Mais profundo na produção
industrial desde o século XIX, mas dinâmico no mundo corporativo no século XX, mais
dissimulado na cultura e nas artes no século XXI. E nos últimos 20 anos acompanhamos uma
forte ofensiva da alienação do trabalho também no ambiente escolar.
Em meio às metamorfoses do capital, no qual se busca novas formas de exploração de mais-valia
e acumulo de riquezas – garantindo assim a produção e reprodução do status quo –, o ideal
capitalista tem transformando tudo em mercadoria. A educação, ao lado da saúde, não escapou
dessa dinâmica. Seja por meio de sua mercantilização descarada (a proliferação das escolas
particulares e o fetiche por tal produto), seja também por meio da transformação da educação
pública em um instrumento de formatação de uma força-de-trabalho barata, porém produtiva.
Em meio a esse processo, percebemos o fenômeno da alienação do trabalho no profissional
docente.

O professor, antes visto como o agente principal do processo de ensino-aprendizagem – ao lado


do aluno –, vê seu papel social diminuir diante das novas lógicas de mercado inserido no
ambiente escolar. A busca desenfreada pela produção de uma mercadoria (neste caso, o aluno
futura mão-de-obra) de forma mais rápida, mais barata e mais produtiva (e também mais
submissa) faz com que o professor passe por um verdadeiro processo de alienação. Sob a
desculpa da busca de uma “pseudo-qualidade” medida em números, seu trabalho sofre uma
brutal intervenção; o docente é obrigado, por meio de diversos mecanismos, a abrir mão da
elaboração autônoma de suas aulas, e adotar conteúdos e normas prontas, construídas por
sujeitos externos ao ambiente no qual se dá a educação. Em outros termos, o professor torna-se
um simples cumpridor de tarefas, um tarefeiro; uma máquina que tem como papel apenas
apertar mais um parafuso em uma cadeia produtiva.

O planejamento de uma aula é um importante (mas não único) elemento na busca de uma
educação de real qualidade e de real interesse da população. No entanto, a elaboração desse
planejamento deve ser atribuição do professor, em conjunto com os seus colegas e a sua
comunidade escolar, respeitando a diversidade local, e aproveitando-se das experiências
adquiridas em sua formação e ao longo de sua carreira. Impor um modelo de planejamento, ou
a forma de como deve ser feito, tirando do professor a autonomia sobre as mesmas, e
obrigando-o a adotar uma educação enlatada, pronta – fast food –, é contradizer o próprio
conceito de educação como prática da liberdade.

Essa realidade demonstra a discrepância absurda existente entre as ideias que permeiam a área
da educação e a prática imposta nas salas de aula. Ao mesmo tempo em que observamos a
existência e a divulgação de políticas educacionais e projetos político-pedagogicos que tem
como mote a formação do ser humano cidadão, atuante e protagonista na construção de sua
própria história social, essas mesmas políticas impõe modelos educacionais que buscam cada
vez mais a burocratização e a desumanização do ensino.
Nesse momento seria uma grande contradição pedagógica o professor aceitar e se submeter a
essa imposição. Como profissionais da educação, como sujeitos detentores do papel social
fundamental para a conscientização da sociedade, torna-se seu dever resistir ao processo de
alienação de seu trabalho. No entanto, como outros aspectos da vida humana, as ações de
resistência e transformação devem se construir a partir do coletivo.

Professores, supervisores, diretores, funcionários, alunos, pais, etc., debatam essa realidade em
seu ambiente de trabalho, em suas casas, nas rodas de amigos. Busquem coletivamente formas
e ações de resistência que possam impedir a destruição da educação pública de interesse social.
Somente a união e a mobilização podem nos instrumentalizar para fazer frente a esses ataques,
como também nos permitir alcançar as transformações que tanto desejamos.

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