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Evandro Ferreira
Qual é a caca:
Professora diz: "não há critério objetivo para validar qualquer afirmação
minha sobre o mundo"; e ainda escreve um livro.
E o pior é que mesmo assim ainda é homenageado, de pé, por seus
admiradores de plantão! Palestras lotadas, coquetéis badalados e projetos
inúteis financiados com as altas mensalidades dos alunos são eventos
comuns nas PUCs.
Pois bem, a autora citada teve seu ensaio publicado no tal caderno com a
seguinte chamada, ou melhor, "bigode", abaixo do título: "Pensamento
sistêmico propõe novo paradigma em que o global, em interação, seja a
base para a construção da verdade".
Para quem não acredita no que estou dizendo, cito um longo trecho, que
quase me fez chorar (grifos meus):
"Outra implicação da mudança de paradigma será um genuino respeito pela
verdade do outro. A ciência evidencia hoje que não existe realidade
independente de um observador. Devido à forma como somos
biologicamente constituídos, não existe critério objetivo para validar as
experiências subjetivas do mundo. Portanto, por mais que eu seja
considerada especialista ou autoridade em determinado assunto, não há
critério objetivo para validar qualquer afirmação minha sobre o mundo, para
considerá-la superior à verdade do outro. A implicação desse conhecimento
será, pois, a de legitimar genuinamente a verdade do outro e, conversando,
fazermos emergir uma "realidade", pela qual seremos ambos responsáveis.
'Reconhecer o outro como legítimo outro nos meus espaços de convivência':
uma utopia? Sim, uma utopia cientificamente fundamentada!".
Presumo que Maria José queira que eu, diante de um militante
anti-imperialista de esquerda e semi-analfabeto, inicie um diálogo sério, já
que minhas opiniões valem tanto quanto as dele, uma vez que "não há
critério objetivo para validar qualquer afirmação minha sobre o mundo".
- Sócrates: "Se uma pessoa bate a cabeça num poste, ela sente a dureza?"
- Sócrates: "Mas se uma pessoa dirigir seu carro em direção a um poste a,
digamos, 200 Km/h e sem cinto de segurança certamente morrerá."
- Maria José: "Bem, acho que sim, pois um indivíduo, ou sujeito, é que
morre. E só ele sente que morre."
- Sócrates: "E, no entanto, ele morreu, já que não está mais conosco nesse
mundo, não se pode vê-lo ao nosso lado e nem falando conosco."
- Sócrates: "E se morrer é uma experiência subjetiva, então viver também
é."
- Sócrates: "Então não pode provar sequer que está falando comigo nesse
momento."
Mas o diálogo é fictício. E, no mundo real, não obstante as estatísticas de
trânsito, Maria José insiste em continuar falando. E lançando livros! Ela
poderia apenas ter mencionado, como o fez no início do texto, "a
construção intersubjetiva da 'realidade' por aqueles que a percebem", mas
teve de dizer que ela não pode passar de um consenso: "construção essa
que se dá num espaço consensual, constituído na linguagem". Poderia ter
se restringido às razoáveis críticas à ciência moderna: "Instalaram-se a
fragmentação do objeto de estudo, a compartimentação dos campos do
saber, as especializações. Desenvolveu-se uma forma de pensar disjuntiva,
que, diante de uma nova explicação para algo, tende a rejeitar a anterior".
Mas foi além (ou aquém?) e apelou a grosseiras generalizações, simplistas
e até infantis: "Filósofos há muito apontaram a inexistência de uma
realidade objetiva, independente de quem a observa ou fala dela".
E nossos jornais espalham essas bobagens por aí. E as pessoas lêem e
vão ao Palácio das Artes, felizes da vida, prestigiar o novo livro de Maria
José. E ainda acham que estão diante de alta filosofia. Acham que estão
diante do "novo paradigma", da nova ciência, da nova era, seja lá o que for.
O importante é a palavra "novo".
Os editores dos cadernos publicam as bobagens sobre a "inexistência de
critérios objetivos" e depois voltam felizes para suas casas, evitando bater
nos postes. The show must go on!