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N6s 0 sabemos por exemplos mais recente oy revolugdes nao inventam imediatamente a linguagem artistiee que corresponde & nova ordem politica. Por longo tempo ainda usam-se formas herdadas, no momento mesmo em que se de- seja proclamar a decadéncia do mundo antigo. Falar de 1789 & observar o surgimento da Revolucio, ¢ nao de seus efeitos a longo prazo. E tentar compreendé-la em seu aparecimento, na vizinhanga de suas causas proximas, de seus preambulos, de seus sinais anunciadores. A maior parte das obras de arte que aparece em 1789 nao pode ser vista como conseqiténcia do fato revolucionario. Na Franca e fora da Franga, edificios, quadros, Operas foram terminados no momento em que a rebelido abalava Paris e em que a monar- quia francesa vacilava. Concebidas antes do acontecimento, levadas por uma intengdo de longo folego que nada devia & febre daqueles ardentes dias, essas obras parecem convidar- nos a interpreta-las independentemente do contexto que a his- toria Ihes deu. Semelhante coincidéncia no permite invocar uma derivagao simples de causa a efeito. Mas a pura coincidéncia, aqui, nao é desprovida de sig- nificago. A Revolugao, ela também, procede de um pensa- mento e de um clima moral anteriores: € 0 afloramento deles a céu aberto. A historia do ano de 1789, confirmacao veemente de uma transformagao social preparada'* e ja parcialmente realizada de longa data, desenvolve uma série de aconteci- mentos espetaculares, encadeados como as cenas de uma tra- gédia, iluminados por um clarao de rara intensidade: mais que em qualquer outro momento da histéria, temos a impres- sio que um texto se oferece a nés, marcado por um estilo ana- logo ao de uma obra concertada. Desde 0 periodo revolucio- nario, nao faltaram os comentarios, para os quais 1789 era} uma pagina escrita pela mao de Deus ou pela mao do povo...’ | Torna-se legitimo, torna-se mesmo indispensavel confrontar 0 | * ics Be S392 _ ‘capes 2P No RUDsAMbE ap soYes GIN sLINDpE FEED wVIPCd UL 9p Seige se [enh ep qUEIP “prOos of op FuLIOM Hw>U REIN Baad ¢ dud “arowoug openbrue op 3 ousapow op FpIpaw 2 ep anb "yesssarun og ap ‘and vya > wa e op deyai Wis soperan 28) 2pod #pEN URSA EP woUPEdUIN SEINILIE $0 "WauapUND # no Wawude e JMB “WAI0GT # nO RAE oy duaye wajsaud song) suru)! ouatuyuay FY oFU anb oRSNIOY OF] OIUaUIIDaIUODE OW 34D 21 Paw" O 9 ILL" Vp sRIgO SP aNIUD oP -Wo2 38 2p SpAu} OF ‘opuENd oWSDU * OP APUT Ip JOTA War “ONO oF WIN Wele; 2 aU Y “eANjUNMIOD EP OPLSeY OpAua o souranmossaiut OIE Aap [exme> OF WH ap HDURARE EQ eIOd? FUME EU vEpHEINS BASE ap SUAQO SEP O > OUFUOLINJOAa! O|UDUSLOIUOE YP OTE panna) meen ws OK Lapeer uno Wn 90 ve Hod He eSB MNO: 5) ARIE ML O MITO SOLAR DA REVOLUCAO As metaforas da luz vitoriosa das trevas, da vida renas- cendo do seio da morte, do mundo reconduzido ao seu comeco sdo imagens que se impdem universalmente por volta de 1789. Metiforas simples, antiteses sem idade, carregadas de valor religioso ha séculos, mas as quais a época parece querer pres- tar-se com uma predilecdo apaixonada." Tendo a ordem an- tiga tomado, por uma redugao simbélica, a aparéncia de uma nuvem escura, de um flagelo césmico, a luta contra este podia atribuir-se como objetivo, segundo a mesma linguagem sim- bélica, a irrupgao do dia, Quando a evidéncia da razao ¢ do sentimento ganha forca de lei radiosa, toda relacio de autori- dade e de obediéncia que nao esteja fundada nessa base esta condenada a nao ser mais que trevas. Relendo os textos de 1789, recolheriamos sem dificuldade, em torno de circunstan- cias bastante diversas, uma imagem apolinea, indefinida- mente repetida: “Todos os votos da nagdo voltavam-se entio para Necker, como se esperam os raios do sol depois de wna longa e desastrosa tempestade”’. E a imagem que os poetas retomaro e variarao sem descanso para cantar a tomada da Bastilha, Alfieri, Klopstock, Blake pretender-se-do as teste- munhas de uma grande aurora: “Mas os calabougos fremem e estremecem: 0s prisionei- ros erguem os olhos e tentam gritar; escutam, riem em sua Ii- gubre caverna; depois se calam, e uma luz passa ao redor dos sombrios torredes. Pois os deputados do Terceiro Estado s¢ 38 on OBNUY Op OBSodWODP # oNb apEpIa® pag o1UD 2 MN Op WzaANWWU W 94 awn to soqduurs wa -ayMODaS 26 -ayuooe ap ‘svigpt ap 09H sea, opniuuiod wios 2990) *p -t1a9 o4Np wn SOULE Se) ant a USS9N “SOHUOUIIDOIUONN se up oa war ssU09 ap [oatt 109 smuuojqaudt so “wou Wwayouwdse wHttUsad opuMAD ua opiqarsod ovsop 22910 pudwaiuo MUO way Osa sogdwjuasardas sessop wun 9 Od" Sova sy msuMng D ® nb oyseuprenny mp oe ae op wiaysa apepann mp ODMINED cap myrganee Ob egy Sane Oe vanoy vse young gonna and ‘ON tuwqunis on 610 tua wags se 9 waaay nin om wragany w snanie® Wuaenyy pe sang fayeber eonanqyniae finda que arrasta Valmont) para @ arem conta uma fenta os sent igho final e de um impeto ue uma mesma energia. que wi lo empregar-se em vista pedi eres yglae sm retorn dina o campo TT PAP Aatipmeco. Aguilo que comeca gloriosamente Puss apoio. atris de si, em um nada prévio € um passado findo. Joseph de Maistre, inimigo da Revolugao. escreve “Se a Providéncia irietja é para escrever”. Fichte, partidario da Re- veraprime essa mesma interdependéncia da sombra ¢ Ya lur datando de Helidpolis, no tltimo ano das reves. © Dis- curso que sauda 0 advento dos tempos novos (1793). Mais Pro: fundas eram as trevas. mais brilhante sera Hélio em sea nascer. Certamente, nfo nos permitiremos confundir: € preciso distinguir, de um lado, a inclinaglo irresistivel da Whertina- fgem aristocritica, que busca no prazer ¢ na dissipacdo seu proprio aniquilamento e, por outro lado, a violéncia popular que investe contra um inimigo decididamente exterior. A energia destrutiva se manifesta em sentidos diametralmente opostos. Nenhuma medida comum, & primeira vista, apro- xima a vertigem mortal do devasso, dos personagens de Sade, € 0 furor das multiddes que, sob © dominio do medo ¢ da necessidade, abatem os simbolos da feudalidade. Othando as coisas mais de perto. no entanto, percebe-se uma correspon- déncia e uma complementaridade que tém o aspecto de uma reviravolta ¢ de uma transmutacdo, A existéncia do devasso € feita de uma sucessio descontinua de momentos deslum- brantes separados por intervalos escuros: ela se abisma final- mente na morte. Quanto a consciéncia revoltada, quer come- 42 far Per uum ato répido © decisivo de destrui ual resplandecerd um dia continu Oranges PAE do Ino tem necessidade bareey riqueza, de que o libe a peace gy eat UE certo ndignca do pose te Hover da caréneia, da penitia, da miséria 6 emake go dos go70s exelusivos dos privilegiad ae curo impulso da necessidade é que o pobre idenuh xalmente a existéncia brilhante do aristocrata com ma nuvem de tempestade. Quem nio perceberi estranha convergéncia: 0 movimento do homem de corre para a sua perdicdo encontra o impulse do mado que investe contra as cidadelas detestadas. N. Gia onde se chocam esas duas forcas, pulsa 0 coragdo negro da Revolucao, seu caos fecundo fermenta. E 0 lugar simbéhes do regicidio; o astro radioso dos tempos novos € apenas sus réplica invertida. Uma vez consumada a destruigao, 0 que surge ¢ a area vazia, o horizonte livre. O mundo feudal, fazendo justiga diferenga, erguera, no espago das relagdes humanas, todo um, sistema de barreiras, de escaldes, de obstaculos, simbolos de diferenga qualitativa e sinais da protegao outrora outorgada Pelo suserano ao vassalo. A protecdo desaparecera, mas a de- sigualdade das condigdes persistia, com o que comportava de ofensas e humilhagdes para as classes inferiores. Perduravam, portanto, as separagdes injustificadas, as proibigdes absurdas, as barreiras que sé tinham como resultado manter a maioria dos homens fora do gozo pleno dos direitos “naturais” ligados A existéncia humana. Esse espaco crivado de obstaculos vaos, muitos deles j4 desabando em ruinas, esperava ser aplainado, ser tornado homogéneo e “isotropico”, a exemplo do espace da nova mecanica celeste, permeavel em todos os sentidos & forga universal da gravitagdo."" A violéncia revoluciondria tinha como conseqiéncia criar essa imensa abertura de es- Pago, esse campo unificado onde as luzes e o direito pudessem Propagar-se em todas as diregdes. Recomendando as (rés ordens que examinassem separa~ damente seus mandados e deliberassem a parte, Luis XVI foi Ica parado- © Negrume 1a logo uma Prazer que Povo esfai- ja confluén- fiel até o fim ao espirito da feud dir o mundo social em zonay ceiro Estado, em compensa eebeu-se imediatamente como expresso da nagio inteita; abriu-se aos membros da nobrea © do clero que descjavan reagrupar as Comunas; constituiuse em Axsembiéia nacional e preocupeu-s © resto, em redigir uma . Que dissesse respei teira: em todas as suas agdes, en guiado pelo ideal de uma to consistia em defi wamer todos os homens, ¢ a igualdade De fato, 0 anticte uma mesma explicagio giosa como ade, preocupado em divi- Mulavelmente distintas, 01 » Estado Sua tarefa fe uM mesmo direito para de todos perante © direito, depende de nplicava-se menos com a idéia reli- que com a Igreja como poder temporal, com suas riquezas © com seus privilégios, intermediarios estorva- dores entre os cidadaos ¢ a divindade. A secularizagdo, a ex- Propriagdo ndo tenderam, em geral gioso, mas antes a restabel . a abolir o sentimento reli- entre o homem ¢ Deus uma. imediatez andloga A que a revolugdo politica procurava ins- taurar entre todas as consi 1s. Tocqueville observou com Profundidade que isso significava redescobrir o espirito do universalismo religioso, mas com o cuidado de tirar suas cone seqiténeias neste mundo: ‘A Revolugao F ries Operou, em relagdo a este mundo, Precisamente da mesma maneita que as revolucdes religiosas agem tendo em vista o outro, Considerou o ida maneira abstrata, pat m de Fes, assim como as religides ¢ independentem wy de uma, clas ay sociedades particula- m © homem em geral, fe do pais e do tempo, Ela mio procurou apenas qual era o direite particular do cidaddo francés, mas or assim dizer de estado social © de govert S natural em questo de pide to que el ar-se compreen= Sivel para todos e imitavel em cem lugares ao mesmo tempo”. 43 ali eel i al eur 2 — opundas opnawuyRans win 9 Zap ¥ :wsi9NUN a1U0} EPeLAy|y coud 9 OPUNISD B SULA “HAUS UP OLLOIAZ OF INbY soUTsisse 98 ON °° AOPOT 2 VIP 10d ALLODSD “UBIEP ¥ aNd soraigo Sop ojyiodns WU AWLa}sbA OPUS apod OY “sod10Js9 snas ap aesode stod sowueyua OU ‘aARasUOD [UL AND o vALdnse vjs anb odvdss 0 9 opdisod WHHUL UNS “SHON w ‘UE EAS tod vINdsIp ode ond ‘wsoyyNAZO zny w *ZAL PWT Nap anb oppunss wssap ouivd wun “opty tga oldiautid ou anb ajivd wp aid ruin sho “NOG,, {YAR SOLAN “OstaatUA op OULSaUU oIdIoULId 0 9 AIMAOU OSTAATUN OF aS-apuaIya ‘Oralqo o a oHLa!NS o “staan se > 2h] HEA aNd sopepurjod ap ordautud avsa “MG ,,“o19{go ov Bysodo g anb wstos muna ‘opeprane euidoad wns dod opurznp sud O2a{\O 6 A9pudaide op ONAL Hos ‘apepryEta vas vsysuOUL “AP aNd OPONE aysap 9 9 FOUN] 6 gop soUUTUROIdY ay ‘oppLL SROSD W ORIN 2 !OpUPHL]D u aXXa aJ9 ‘OaNgsa 0 OUJO Ov as-vdat “3 “tbU aLULLAXA as aNd epIE Mp LAE, PULdID vg,, “BLOF 9p wsodtuy 9 ayy and wanby aeitawayduos 09 v znposd ape “OOUPTTNUHY a1NEATHOD ap NO ONISadNS aISTI]HOD ap Sorta} Sou and yl oujo opidgad ou ay-eaitoatio opypuvjod vp ordioutd Q ‘OupHOosa vp a ZO] UP opepuMod wp eyAsaL soy e and ap va *eHODL HAS E EPOL MUOPIO aN “peAUOD WPL Y “TOLL Mla P49 sauvde ydQ) ane aioanog Sonunsse 0 oaqos oNdPaQNd PALO SUd Pag wHMAIABAdNS oo UaMUnJAAA_BMIOA 9G. “Hod va ZN_T aaqos Hon POR aya “wHYAL wad UtoseLA ws op oF UO] OY VHWOS V WOO OYOVITIONODTY ¥ a luta entre os opostos suscita a beleza do mundo. Nessa con. frontagdo césmica, o homem no é apenas a aposta ou a tes. temunha de uma agdo que se desenrolaria fora dele. Eo campo de um encontro, mas é também o agente de um avango, Possui suas trevas internas, enquanto seu olho porta uma luz aparentada a do sol. E quando o homem langa seu olhar sobre © mundo, quando o contempla e 0 compreende, quando, ainda mais, compée uma obra nova ao impor a lei do estilo ag objeto contemplado, ele se torna, no seio da natureza, o cria. dor de uma segunda natureza onde se eterniza enfim o equi- Hibrio, em toda outra parte condenado A fugacidade. Reencontraremos essa conviceao de uma fecundidade das trevas e de um antagonismo eriador, esse recurso a pola- Tidade, durante os mesmos anos, nas obras de Blake. As Songs of Innocence, que aparecem em 1789, acrescentam-se, em 1794, as Songs of Experience, e o subtitulo da obra assim completada nos diz que ela mostra “‘os dois estados contrarios da alma humana". Aos cantos que dizem a vida nascente, a infancia desabrochada, as forgas transbordantes, respondem 9s cantos que véem essa jovem vida condenada a miséria, a0 medo, a interdigao, aos ataques do mal. Ora, é preciso aban- donar a inocéneia infantil, enfrentar o mal e 0 pecado, para Penetrar na vida espiritual e na visio profética. O casamento do Céue do Inferno, que aparece em 1790, anuncia o fim dos fempos ¢ a ressurreigao do homem em seu verdadeiro corpo, em sua substancia acrescida até dimensdes gigantescas, Mes Para isso © mundo do desejo (que é © inferno das teologias ertodoxas) deve ser reconciliado com 0 mundo espiritual. a chama sem luz, onde as morais hipécritas situam os condena: dos, deve unir-se & luz celeste. A vida nova nasce pelo abrasa, mento “diabélico” que destréi a existéncia decaida e suscita a visio imaginativa, A energia, que a tazio moralizante conde- confine Sterne delicia”. E se a tibieza, a prudéncia, a des: cenfianca, os galés instituidos para a defesa da ordem social pode doravante a fungao de um verdadeiro inferno, Blake iment ‘ oposicdo & a verdadeira amizade" (Opposi- Me Friendship). Esse atorismo merece ser colocado u4 | como epigrafe de toda a obra pictorica e grifica de Blake: por toda parte se encontra a oposic&o (no interior mesmo do estilo de Blake, ela se torna a oposigio implicita entre o simboli- imbolizado), por toda parte reinam a tensto ea se resolve nas grandes formas harmonio- do turbilhdo, da espiral. A gesticulagio ags- tes da realidade terrestre, a0 passo que as nsgressio ou da liberagdo integram-se em vas- impetos nervurados que exprimem a circulacdo da energia no seio do cosmo, As obras mais sur- de anjos, ou que transformam em tocha ardente a toryho de ‘um corpo em queda: nelas se percebe a lembranga um pouco balhado por Fissli, O choque é mais profundo quando, @ us 1m Blake (1757-1827). Elohim criando Ado, 1795, Londres, Tate Gallery essas figuras, opdem-se criaturas compactas, desproporciona- das, de um primitivismo selvagem: faces bestiais e largas que dizem a inércia e a melancolia da terra, a noite irredutivel, © peso cténico — em um universo onde o ar, a agua, 0 fogo se povoam de uma ondulacio de criaturas leves. Sobre uma terra ensombrecida, a noite se anuncia terrivel, o ar se torna irres- pirdvel, a vida nao pode ser sendo uma longa prostracio — a menos que se rompam os limites que a encerram e que um universo de luz se abra a nossa imaginagao liberada. A Gnica revolucao que Blake concebe é um Apocalipse. Mas, se pode assim voltar seu olhar para o final dos tempos, é porque teré comegado por dirigi-lo para a mais profunda origem. De modo algum, como os neoclassicos, para uma idade de ouro da civilizagao, mas para 0 Caos, a Génese e 0 Paraiso. E no esoterismo e na escatologia que Blake busca a luz original: 116 ele €0 anunciador de um final dos tempos que seria. simutta- Seamente, retorno a origem, ou s¢ja, reintegracdo no Eden No. Proclama uma revolugao que seria o grande ciclo aa er ibido Mas Blake enuncia essa convicco que interessa & shiversalidade do género humano na extrema singularidade vie sus linguagem poética e pictorica. Fala solitariamente do Gestino coletivo e, acrescentando aos simbolos da tradi¢ao ‘ima linguagem simbolica de que é 0 inventor, torna-se enig- matico embora profetize para todos. Esse artista obsedado pelo jorro da luz se faz obscuro, nao por intencao deliberada, nas pela distancia que acha que deve marcar em relaco a0 ferro em que se encerram as sociedades ¢ as religides estabele- tidas. O que ha aqui de irredutivelmente individual, 0 que remete A singularidade absoluta (e que. em outros termos, Po deria ser chamado de loucura), envolve em sombra um dis- ‘curso cuja intengdo € desvendar a verdade primeira, a verdade Gtima. A arte neoclassica, entao, traduziu ¢ transformou a pai- xo pelo comeco em nostalgia do recomeco. Para esses artis tas, a luz do comeco s6 podia resplandecer no momento pre- sente com a condigao de ser o reflexo de uma origem absoluta » pasado. A obra se elabora longe de suas verda- . na consciéncia desse distanciamento. Se a luz ai falta o calor: a arte se paralisa. Sem divida, no caso mais favorvel, a memdria dos modelos antigos ou renas- tornar-se uma forga criativa, capaz de marcar io comovente de uma presenga e de multiforme do ideal — que € ao atureza purificada, lei do pensamento, canone ¢ o artista de confiar naquilo que vé: a beleza egar sendo a um segundo olhar, ao termo de que tera remontado 0 curso do tempo até a regio los ou dos arquétipos. Quem nao vé que esse é um esforgo para conciliar a nog&o eyo ¢ a idéia do eterno? O renascimento que desejam © artistas neoclassicos se pretende diferente dos modos efé- uN7 meros que eram 0 estimulante da época do rococé, 0 * a0 antigo” nao quis ser um entusiasmo passageiro, mas uma profunda e séria conversdo. Nao uma novidade, mas a inter. Tupeao dessa busca incessante do curioso, do novo, do inespe- rado em que 0 século XVIII havia prodigalizado suas forcas, Renuncia-se as pequenas surpresas para desejar a grandeza, a harmonia, que transportam sem realmente surpreender. De- sejo singular, desejo contra o qual tudo conspira para decep- cionar, ja que esse desejo de eternidade na forma intervém no momento em que a histéria recebe sua mais viva aceleracio., O impulsivo vai ser entao reprimido, eo instinto consi- derado com desconfianga se nao se conforma espontanea- mente as belas normas. Na verdade, a reflexdo reina sobera- namente. Pois ela nao ignora que tenta sem “ingenuidade” Fecompor uma beleza que seus criadores antigos tinham, estes sim, ingenuamente inventado. © comego nao pode ser ex- Presso sendo em alegoria, em uma outra lingua. E a distancia € medida por aqueles mesmos que mais ardentemente desejam transpé-la, Assim € a dissonancia interna que ora contribui Para a graca dessas obras, ora alarma nosso gosto. A habili- dade, a esperteza, a sensualidade perversa insinuam-se na li- nha “pura’’. Todo o peso de atracdo carnal e de presenga real que se acrescenta ao ideal corre o risco de aparecer como um elemento de turvagio, como uma obscena desforra da maté- ria. Dai o excesso de abstraco que bane dessa arte a cor ea sombra, dai esse triunfo do desenho e do contorno, mas onde persistira, contudo, a ambigitidade da idéia “pura” e do atra- tivo voluptuoso. Ambigiiidade com que jogarao os decorado- res do estilo império e do estilo georgiano, para um piblico onde © gosto do prazer comeca a mascarar-se de hipocrisia. Psiqué, to freqiientemente representada na arte dessa época, €a alma, mas é também uma nudez adolescente, oferecida a um desejo que nao é 0 da alma. Tetorno 18

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