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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA POLITÉCNICA
DCC/NPPG

OS DESAFIOS DA COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS NA


CONSTRUÇÃO CIVIL

Suzane de Carvalho Neumeister

2016
OS DESAFIOS DA COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS NA CONSTRUÇÃO
CIVIL

Suzane de Carvalho Neumeister

Monografia apresentada no curso de Pós-


Graduação em Planejamento, Gestão e
Controle de Obras Civis, da Escola
Politécnica da Universidade Federal do Rio de
Janeiro.

Orientador
Xavier Pedret Nadal

Rio de Janeiro
Janeiro / 2016
OS DESAFIOS DA COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS NA CONSTRUÇÃO
CIVIL

Suzane de Carvalho Neumeister

Orientador
Xavier Pedret Nadal

Monografia submetida ao Curso de Pós-Graduação em Planejamento, Gestão, e


Controle de Obras Civis, da Escola Politécnica, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção de título de
Especialista em Gestão e Gerenciamento de Projetos.

Aprovado por:

_________________________________
Nome do Prof. 1 , Titulação

_________________________________
Nome do Prof. 2 , Titulação

_________________________________
Nome do Prof. 3 , Titulação

Rio de Janeiro
Janeiro / 2016

ii
CADASTRO DA MONOGRAFIA
OS DESAFIOS DA COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS NA
Titulo:
CONSTRUÇÃO CIVIL

Autor: SUZANE DE CARVALHO NEUMEISTER

Data: JANEIRO

Local: RIO DE JANEIRO

Orientador: XAVIER PEDRET NADAL

Monografia: ESPECIALIZAÇÃO

PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO, GESTÃO E


Tipo de Curso:
CONTROLE DE OBRAS CIVIS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – ESCOLA


Universidade:
POLITÉCNICA

Departamento: DCC/NPPG

Qte. Páginas Tamanho da Folha: A4 (29,7cm)

Pré-Textual: 11

Textual: 41 Termos Chaves

Referências: 2 1. Construção Civil

Apêndices: Zero 2. Compatibilização de Projetos

Anexos: Zero 3. Engenharia Simultânea

iii
RESUMO

OS DESAFIOS DA COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS NA CONSTRUÇÃO


CIVIL

Suzane de Carvalho Neumeister

Resumo da Monografia submetida ao corpo docente do curso de Pós-Graduação em


Planejamento, Gestão e Controle de Obras Civis – Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção de título de Especialista em
Planejamento, Gestão e Controle de Obras Civis.

Resumo da Monografia:

Na Construção Civil de Empreendimentos Imobiliários, a concepção e


desenvolvimento dos projetos, que correspondem a partes integrantes da estrutura do
projeto principal, estão intimamente ligados à eficiência e eficácia do empreendimento a ser
edificado, com influência direta no custo final e na qualidade da edificação. O presente
trabalho busca identificar os desafios encontrados na integração dos projetos em todas as
suas fases, através da Revisão de Literatura, e apresentar uma análise crítica de modelos
de Compatibilização de Projetos como agente integrador para o desenvolvimento de um
produto final com qualidade e rentabilidade superior ao que, atualmente, é produzido pela
construção civil brasileira.

Termos Chaves: Engenharia Simultânea


Compatibilização de Projetos
Construção Civil

Rio de Janeiro
Janeiro / 2016

iv
AGRADECIMENTOS

Durante o processo de elaboração desse trabalho muitos foram os desafios, gerenciar


o curto espaço de tempo entre carreira profissional e acadêmica é uma tarefa árdua.
Primeiramente, toda honra e glória a Jesus Cristo, que me sustentou até aqui.

Agradeço a meu pai, Paulo Roberto Cardoso Neumeister, pelas orientações,


paciência, experiência e apoio transmitidos a mim nesse percurso.

A toda minha família pelo amor, confiança e carinho. Ao meu namorado, por entender
à ausência e estar presente em todas as minhas decisões.

Ao meu orientador e chefe Xavier Pedret Nadal, por confiar no meu trabalho e
transmitir a mim toda sua experiência na construção civil.

v
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO
1.1. Apresentação do tema ......................................................................................... 1
1.2. Objetivo do trabalho ............................................................................................. 1
1.3. Justificativa do trabalho ........................................................................................ 2
1.4. Metodologia Empregada ...................................................................................... 3
1.5. Conteúdo dos capítulos........................................................................................ 3
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. A indústria da Construção Civil no Brasil .............................................................. 5
2.1.1. Breve Panorama ............................................................................... 5
2.1.2. Características do Segmento de Mercado da Construção Civil ........ 7
2.1.3. A Incorporação Imobiliária e o Processo de Projeto ......................... 8
2.2. A Conceituação do Projeto ................................................................................... 9
2.2.1. Conceituação Teórica ....................................................................... 9
2.2.2. A Equipe Projetual .......................................................................... 11
2.2.3. As Etapas do Processo de Projeto.................................................. 12
2.2.4. O projeto e sua influência no custo total de um empreendimento... 15
2.2.5. Não conformidades oriundas das etapas do processo de projeto... 17
3. A COORDENAÇÃO DE PROJETOS
3.1. Definições Gerais ............................................................................................... 19
3.2. Gestão da Qualidade na Coordenação de Projeto ............................................. 21
4. COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS
4.1. Conceitos Gerais da Compatibilização de Projetos ............................................ 26
4.2. O Método das Dimensões Possíveis e Fundamentais........................................ 31
4.2.1. Dimensão do plano estratégico de projeto ...................................... 32
4.2.2. Dimensão da pesquisa de mercado ................................................ 33
4.2.3. Dimensão da viabilidade técnico – econômica................................ 33
4.2.4. Dimensão da construtibilidade ........................................................ 34
4.2.5. Dimensão de facilitação de fluxo da produção dos projetistas ........ 34
4.3. O Método da Engenharia Simultânea................................................................. 35
4.3.1. Visão Geral – A Simultaneidade das Atividades ............................. 35
4.3.2. Multidisciplinaridade da Equipe ....................................................... 36
4.3.3. Estrutura organizacional e integração na equipe ............................ 37
4.3.4. Desafios e Metas da Engenharia Simultânea ................................. 38
vi
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1. Considerações Críticas ...................................................................................... 40
5.2. Recomendações para trabalhos futuros ............................................................. 41
REFERÊNCIAS
5.3. Referências Bibliográficas .................................................................................. 42
5.4. Referencias Normativas ..................................................................................... 43

vii
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: CATEGORIAS DE PROJETO ..................................................................................... 10


FIGURA 2: INTERFACES DO PROCESSO DE PROJETO NA INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA ................. 13
FIGURA 3: CAPACIDADE DE INFLUENCIAR O CUSTO FINAL DE UM EMPREENDIMENTO AO LONGO DE
SUAS FASES. ......................................................................................................................... 15

FIGURA 4: RELAÇÃO ENTRE O TEMPO DE EXECUÇÃO DE EMPREENDIMENTO E O CUSTO MENSAL


DAS ATIVIDADES. ................................................................................................................... 16

FIGURA 5: ESTRUTURA PROPOSTA PARA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR ......................................... 20


FIGURA 6: SISTEMA NÃO INTEGRADO DE COMPATIBILIZAÇÃO..................................................... 28
FIGURA 7: MÉTODO SEQUENCIAL ........................................................................................... 29
FIGURA 8: SISTEMA INTEGRADO DE COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETO ........................................ 30
FIGURA 9: PARALELISMO DE ATIVIDADES ................................................................................ 36
FIGURA 10: ESQUEMA - EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE PROJETO .............................................. 37
FIGURA 11: MODELO MATRICIAL DE ORGANIZAÇÃO CORPORATIVA ............................................ 38

viii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

ES – Engenharia Simultânea

EUA – Estados Unidos da América

EU – União Européia

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDA – Institute for Defense Analysis

PPP – Parceria Público-Privada

PMBOK – Corpo de Conhecimento em Gerenciamento de Projetos (Project


Management Body of Knowledge)

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas

SINDUSCON – Sindicato da Indústria da Construção Civil

TI- Tecnologia de Informação

ix
GLOSSÁRIO

COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS: É uma forma de analisar os diversos projetos,


procurando solucionar interferências que não devem ser resolvidas durante a
execução da obra.

CURVA ABC: É um método de classificação de informações, para que se separem os itens


de maior importância ou impacto, os quais são normalmente em menor número.

LAYER: É o recurso o qual permite manipular imagens digitais em camadas distintas.

BENCHMARKING: É o processo no qual se busca avaliar melhores práticas num


determinado setor de trabalho e que conduzem a um desempenho superior.

x
1. INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação do tema

De acordo com MELHADO (2001 apud REIS; MELHADO, 1998), o mundo atual vem
passando por mudanças relacionadas à evolução dos aspectos tecnológicos, sociais e de
mercado, por meio da ruptura das fronteiras comerciais e como resultado da globalização da
economia, dando origem a novos mercados, estimulando o crescimento de pequenas
empresas e o surgimento de novas empresas.

TAVARES JUNIOR (2001), em sua tese de mestrado, ao discorrer sobre o tema,


afirma:

“Apesar do avanço tecnológico que o ramo da construção civil


apresentou nos últimos anos, ainda é comum observarmos empresas
de pequeno a médio porte desenvolvendo projetos sem a
compatibilização das disciplinas do projeto, gerando inúmeros fatores
negativos, tais como: má qualidade da edificação, retrabalhos,
acréscimo no custo e no tempo de execução da obra.”

Frente às mudanças e ao crescimento da economia no setor da construção civil, as


construtoras e incorporadoras vêm sendo motivadas a alterar o processo de produção, em
decorrência da imposição do mercado consumidor, que tem exigido, em proporção cada vez
maior, a qualidade do resultado final das edificações por meio de selos de qualidade,
sustentabilidade, etc.

Dessa forma, para atender as expectativas de mercado visando manter ou aumentar a


rentabilidade e qualidade final do empreendimento, surge a idéia da coordenação de
projetos, que possui como principal objetivo a integração entre os diferentes profissionais de
projetos objetivando a qualidade final do produto e o retorno econômico financeiro do
empreendimento.

1.2. Objetivo do trabalho

Uma questão que surge, atualmente, na construção civil, diz respeito ao emprego de
novas tecnologias, não apenas àquelas relacionadas ao ato de erguer uma edificação, mas,
também, atender às demandas ambientais e tecnológicas por parte da legislação e do
consumidor ou usuário final. Dessa forma, a complexidade na elaboração de projetos de
edificações tem se tornado crescente, exigindo que os profissionais envolvidos na execução
da obra participem de todas as fases, da preparação até a execução e entrega do produto
final, interagindo permanentemente.
2

Sendo assim, a troca de informações entre os diversos profissionais envolvidos tem


por objetivo dois pressupostos básicos:

Eficácia – que deve ser entendida como a utilização do aparato técnico e tecnológico
necessário para entregar o produto final em conformidade com as normas ambientais e
legais e, satisfação plena do demandante do produto final;

Eficiência – é a utilização ou combinação dos meios de produção e da tecnologia no


“Estado da Arte” de forma a se atingir o produto final ao menor custo.

Dessa forma, na busca por eficácia e eficiência dois métodos de acompanhamento na


execução de projetos de construção civil têm se destacado, a saber:

Compatibilização de Projetos

i. Método das Dimensões Possíveis e Fundamentais;

ii. Engenharia Simultânea.

O presente trabalho tem por objetivo discorrer sobre os textos e artigos que
descrevem os dois métodos, identificando as diferenças fundamentais entre eles, os
aspectos positivos e negativos de cada um, as situações mais apropriadas para a utilização
de um dos dois e, finalmente, a posição do autor do trabalho quanto ao emprego de cada
um dos métodos.

1.3. Justificativa do trabalho

A qualidade global de um empreendimento resulta da soma de três componentes:


planejamento, projeto e execução da obra. Deve-se considerar que a falta de qualidade
no processo de construção pode comprometer até 25% do faturamento das empresas
(VANNI, 1999 apud MATTEI, 1998).

De acordo com VANNI (1999), dentre a origem das falhas ocasionadas pelos erros em
projetos, destacam-se:

a) Projetos incompletos;

b) Incompatibilidade dos diversos projetos;

c) Alterações nos projetos;

d) Conflitos entre os distintos projetos;

e) Falta de Coordenação;

f) Tempo perdido em reuniões mal conduzidas;

g) Erros nas especificações de materiais;


3

h) Falta de detalhamento;

i) Dificuldade de interpretação da representação gráfica utilizada;

j) Planejamento inadequado;

k) Falta de padronização e construtibilidade.

Consequentemente, o resultado será percebido na execução da construção, com


desperdício de materiais, retrabalhos, etc. Os erros ocasionados por falhas projetuais, em
sua maior parte, só serão descobertos durante a execução da obra. Dessa forma, o
presente trabalho justifica sua elaboração na apresentação de métodos de Compatibilização
de Projetos que buscam minimizar as enormes dificuldades que as pequenas, médias e até
grandes empresas no setor da construção civil apresentam em relação à execução do
Projeto.

1.4. Metodologia Empregada

Para atingir os objetivos descritos acima, a metodologia a ser aplicada nesse trabalho
se utilizará de Pesquisa Bibliográfica elaborada a partir da revisão da literatura, cujos textos
estão em conformidade com o tema escolhido pelo autor, levando o mesmo a entrar em
contanto com todas as vertentes do assunto.

1.5. Conteúdo dos capítulos

O presente trabalho está estruturado em seis capítulos, sendo o primeiro dedicado à


introdução e desenvolvimento do tema escolhido e o último capítulo destinado às
referências bibliográficas utilizadas.

No segundo capítulo, utilizando-se do conceito do Estado da Arte – uso do


conhecimento tecnológico de vanguarda em todas as áreas de abrangência do projeto - é
apresentado um Breve Panorama sobre a Construção Civil no Brasil e a Conceituação do
Projeto. Nesse capítulo é apresentado, de forma sucinta, o caminho que o Brasil percorreu
em relação ao processo de construção e os desafios enfrentados na execução de projetos.

O terceiro capítulo tem como tema a Coordenação de Projetos, abordando as


responsabilidades do Coordenador, suas áreas de atuação e a gestão da qualidade dos
projetos.

O capítulo quatro foi reservado à apresentação da Compatibilização de Projetos, com


o objetivo de expor os modelos: ‘Engenharia Simultânea’ e ‘Método das Dimensões
Possíveis e Fundamentais’. Nesse capitulo, através da revisão bibliográfica, são analisadas
as características de ambos os modelos em estudo.
4

O quinto e último capítulo é a conclusão da pesquisa. Nesse capítulo é abordada, pelo


autor do presente trabalho, a aplicação de cada método de Compatibilização de Projetos,
discorrido anteriormente, apresentando-se assim as considerações finais com
recomendações que podem ser adotadas, futuramente, para um estudo mais especializado
no tema.
5

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. A indústria da Construção Civil no Brasil

2.1.1. Breve Panorama

Nesse tópico é necessário discorrer sobre o trabalho realizado por Mello e Amorim
(2009), que comparam alguns dados da Indústria de Construção Civil no Brasil, com foco no
subsetor edificações, com a Indústria de Construção Civil dos Estados Unidos da América
(EUA) e da União Européia (UE), que foram tomados como benchmarking para efeito de
comparação.

É interessante observar que no conjunto de dados apresentados no trabalho alguns


indicadores chamam a atenção. Por exemplo, a participação da Indústria de Construção
Civil no PIB é de apenas 5,2% (dados de 2005) para o Brasil, enquanto que esse mesmo
indicador atinge 8,47% para os EUA e 10,2% para UE. Evidentemente, que considerando o
déficit habitacional e de investimentos em obras de infraestrutura no Brasil, esperava-se
encontrar uma participação no PIB se não superior, pelo menos próxima à encontrada
naquelas duas, digamos, economias. Entretanto, o que se nota é que, a Indústria de
Construção Civil no Brasil, levando-se em conta a defasagem temporal dos dados
apresentados, tem potencial para aumentar a sua participação na renda nacional. Para tal, é
necessário que incentivos (não falo de subsídios) à indústria sejam criados na direção
correta, isto é, facilidade de acesso a crédito de longo prazo pelos demandantes de imóveis
residenciais, estímulo governamental e legal a criação de Parceria Público-Privada (PPP)
em obras de infraestrutura, simplificação e redução da carga tributária, dentre outras.

De fato, dois outros indicadores apresentados no artigo devem ser considerados mais
importantes do que aquele mencionado no parágrafo anterior, a saber:

a) Produtividade – A produtividade média por trabalhador no Brasil, medida como


proporção do faturamento total em dólares por trabalhador, correspondia a
apenas 14,88% da alcançada nos EUA e a 19,77% a da UE. Em suma, o
trabalhador da construção civil no Brasil é quase sete vezes menos produtivo
do que o do EUA e menos cinco vezes do que o da UE. Os autores enumeram,
pelo menos em parte, os motivos que julgam serem os causadores de tamanha
distorção no indicador: a) trabalhadores com baixa qualificação; b) pouco
interesse das pequenas e médias empresas em melhorar o nível de
qualificação dos empregados; c) baixo investimento do setor de construção civil
em pesquisa e desenvolvimento; d) Ausência de conhecimento e de
investimentos em técnicas de pré-fabricação, modularização, gerenciamento e
6

implantação de técnicas e ferramentas de TI; e) Pouca utilização de sistemas


de planejamento de trabalho; f) Altas taxas de desperdício de material e de
retrabalho. Assim, os autores revelam que, no caso brasileiro, o conhecimento
tecnológico não é utilizado no “Estado da Arte”, isto é, a indústria ainda não faz
uso de todo potencial tecnológico existente no mundo e, por outro lado, a baixa
qualificação da mão de obra utilizada, tomados em conjunto, leva a indústria a
um padrão de eficiência aquém do que se poderia supor como será
demonstrado no próximo item.

b) Rentabilidade – No artigo define-se rentabilidade como sendo igual a:

( )
= ,e

=( ! "# +! %" " & + %& !% # )

Por esse conceito de rentabilidade a Indústria de Construção Civil no Brasil


apresentou rentabilidade correspondente a apenas 36% daquela apresentada pelo mesmo
setor nos EUA, não havendo dados disponíveis para a UE. De fato, a baixa rentabilidade
apresentada pela Indústria no Brasil, é consequência direta da baixa produtividade, que
resulta em menor eficiência e se traduz em baixa lucratividade.

Cabe notar, que os dados apresentados no artigo são temporalmente defasados e,


que com o processo de internacionalização das grandes empresas de Construção Civil
brasileiras, alguns desses indicadores podem ter sofrido alterações, se não significativas,
pelo menos marginalmente. Mas, fica o alerta de que quando consideramos o setor de
forma agregada, as micro e pequenas empresas que representam quase 93% das 105.469
empresas da Construção Civil no Brasil (Fonte - IBGE/2005) necessitam de incentivos para
o treinamento adequado da mão de obra utilizada e para a absorção de novas tecnologias,
sob pena de permanecermos pouco competitivos quando comparados a economias mais
desenvolvidas.
7

2.1.2. Características do Segmento de Mercado da Construção Civil

Para a caracterização do segmento de mercado, adotou-se a linha de estudo


apresentada por ASSUMPÇÃO (1996), tendo em vista não existir um consenso no meio
acadêmico e nem mesmo no meio profissional sobre as inúmeras divisões do setor da
construção civil no Brasil.

ASSUMPÇÃO (1996) define em sua tese de doutorado que as empresas de


construção civil podem estar incluídas em dois grandes segmentos de atuação de mercado:

a) Serviços ou Obras Empreitadas: tal segmento de mercado é caracterizado pela


oferta de serviços para a construção de obras por empreitada, sendo estas
contratadas a preço fixo, os pagamentos são realizados no decorrer do período
contratado, utilizando-se do procedimento de medição de obras (pode ocorrer à
necessidade de reequilíbrio econômico financeiro ao longo do período contratado,
ação normalmente prevista em contrato). Seu principal cliente é o setor público da
administração direta, empresas estatais e o setor privado, podendo ser subdividido
segundo as especialidades: edificações (residenciais; comerciais; institucionais;
serviços complementares ao edifício); construção pesada (infraestrutura viária;
urbana e industrial; obras de arte; saneamento; barragens; hidroelétricas e usinas
nucleares) e montagem industrial (estruturas para instalação de indústrias; sistema
de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica; sistema de
telecomunicações; exploração de recursos minerais).

b) Empreendimentos Imobiliários ou de Base Imobiliária: a base desse sistema é a


operação com obras de edifícios, seja na produção para comercialização no
mercado aberto de imóveis residenciais ou de escritórios, seja com o objetivo de
explorar comercialmente um determinado imóvel (shoppings, hotéis e apart-hotéis).

O foco dessa pesquisa se concentrará nesse último subsetor, tendo em vista que,
como destaca ASSUMPÇÃO (1996), o mercado de empreendimentos imobiliários é o que
opera com o maior nível de riscos, especialmente devido aos seguintes elementos:

i) O mercado é aberto, podendo participar tanto empresas, como investidores


com ou sem prática no setor, gerando desequilíbrios pontuais entre a oferta e a
demanda de produtos;

ii) Não há apontamento total sobre a “demanda”, os compradores não são


conhecidos com antecedência;

iii) A comercialização dos produtos a um preço pré-fixado, frequentemente antes


do início da produção (venda na planta) e, muitas vezes sem todos os projetos
8

e especificações para a execução, com sua ocorrência se dando no médio e/ou


longo prazo. Está, assim, sujeita a alterações não antecipadas do cenário
econômico a posterior, fato que possibilita a “precificação” incorreta das
unidades ofertadas e a desequilíbrios temporários entre a oferta e a demanda,
que podem acarretar sérias consequências do lado econômico financeiro;

iv) Com exceção dos empreendimentos com apoio/financiamento bancário, não


há correlação temporal entre o recebimento do faturamento gerado pelas
vendas e o planejamento da produção.

Em função dos fatores citados, infere-se que as empresas que atuam nesse segmento
de mercado operam num cenário de alta instabilidade e, em decorrência, de elevado risco,
dessa forma, a esse mercado tem sido imposto algumas práticas no desenvolvimento da
fase de projetos que, embora algumas vezes justificáveis, prejudicam a qualidade final do
processo.

2.1.3. A Incorporação Imobiliária e o Processo de Projeto

A Incorporação Imobiliária foi instituída no Brasil pela Lei n. 4.591 de 16/12/1964,


sendo definida no art. 28 (parágrafo único) como “a atividade exercida com o intuito de
promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto
de edificações compostas de unidades autônomas”.

De acordo com o art. 32 da Lei 4.591, toda incorporação imobiliária deve ser
registrada no cartório de registro de imóveis da circunscrição do terreno, obrigatoriamente
antes do incorporador poder iniciar a venda ou promessa de venda do empreendimento.
Para esse registro são necessários vários documentos, podendo ser divididos em duas
categorias:

i) Certidões ou documentos que visam atestar a idoneidade ou situação regular


da incorporadora, dos seus sócios, proprietário do terreno e do terreno;

ii) Documentos relativos à caracterização e qualificação do empreendimento, do


ponto de vista da composição de suas edificações, bem como abordando sobre
o funcionamento do futuro condomínio e sobre a documentação para
comercialização do empreendimento.

No último item, pode-se observar uma sujeição da maior parte da documentação


solicitada às primeiras etapas do projeto, tendo em vista a necessidade do projeto legal
estar aprovado na prefeitura municipal antes da efetivação do registro de imóveis no
cartório. Ainda, através do projeto legal serão definidas as vagas de garagem, cálculos de
áreas das unidades autônomas e comuns, assim como o cálculo das frações ideais do
9

terreno de cada unidade, necessários ao registro do cartório, sempre tomando como a base
as informações desenvolvidas através do projeto legal.

Segundo ASSUMPÇÃO (1996), “empreender é a missão principal da incorporadora e


construtora, compreendendo assim todas as etapas e participantes, desde a incorporação
até a entrega final ao cliente.” Sendo assim, o autor afirma que dentro de uma empresa de
incorporação e construção ocorrem diversos conflitos a serem administrados, incitados por
situações de conflito entre as funções de empreender e construir, levando em consideração
que, em determinadas situações, as diretrizes determinadas pelo empreendedor não
provocam as melhores alternativas para a produção em si.

Em razão da complexidade e quantidade de inter-relações dentro do processo de


projeto de incorporação, evidencia-se a necessidade de uma coordenação constante ao
longo de todo o processo, desde sua concepção até a entrega final. Porém, na prática, na
maioria das vezes existe uma divisão das tarefas e responsabilidades pela coordenação do
processo entre os dois principais integrantes: a incorporadora, responsável pelas atividades
de concepção do produto e da viabilização do mesmo, e a construtora, responsável pelo
projeto executivo, construção e assistência técnica.

A divisão das atribuições pelo coordenador pode causar contratempos, bem como
atraso de obra, custo acima do esperado, chance de aparecimento de problemas
patológicos nas edificações, não atendimento aos requisitos de desempenho final do
produto, etc. Portanto, é de suma importância que o compatibilizador de projetos seja um elo
entre as partes envolvidas na execução de projeto.

2.2. A Conceituação do Projeto

2.2.1. Conceituação Teórica

Na análise de literatura observam-se dos mais diversos conceitos para o projeto. Na


conceituação que se segue serão apresentadas pelo autor algumas definições com a noção
geral do “projeto” no campo da arquitetura e construção civil.

Segundo a NBR ISO 10006 (12/2000) o projeto consiste em um grupo de atividades


coordenadas e controladas com datas para início e término, empreendido para alcance de
um objetivo conforme requisitos específicos, incluindo limitações de tempo, custo e recurso.
Já para o PMBOK, o projeto é um esforço temporário para criar serviços, produtos ou
resultado exclusivo. Para tal existe a necessidade de claro objetivo, parâmetros de medição,
data de início e término que atendam aos requisitos das partes interessadas.
10

Ainda, de acordo com a NBR 5674 (1999), projeto pode ser definido como a descrição
gráfica de um serviço ou obra de Engenharia ou Arquitetura, dando seus parâmetros
técnicos, econômicos, financeiros e legais.

Figura 1: Categorias de Projeto

Fonte: PRADO (2003, apud FETZ, 2009)

A Figura 1, acima apresentada, ilustra de forma breve as categorias em que um


projeto pode estar inserido. Sendo assim, pode-se observar a variedade de campo de
serviço e produto relacionados ao mesmo.

Na construção civil de edifícios, na maioria das vezes o projeto tem sido usado apenas
para fins legais no sentido de viabilizar o processo, desprezando-se a associação do projeto
ao processo da construção. Atualmente, o projeto vem sendo levado apenas como
complemento do processo de construção, quando em verdade, o mesmo deve estar
norteando todo o processo de concepção e construção.
11

2.2.2. A Equipe Projetual

O campo compreendido pela Arquitetura e Engenharia é extremamente


multidisciplinar, tendo projetos dos mais diversos tipos, como: arquitetura, estrutura,
infraestrutura elétrica, hidráulica, sanitária, telefonia, circuito fechado de televisão, gás, etc.
Porém, o projeto base para gerar informações necessárias a todos os outros projetos é o de
Arquitetura, sendo, em razão disso, de suma importância que o mesmo seja elaborado com
clareza e riqueza de detalhes.

Assim sendo, tendo por entendimento todos os participantes que podem estar
envolvidos no processo do projeto, nota-se no ramo a complexidade de se entender quem
será a figura responsável na tomada de decisões que envolvem o mesmo. De acordo com a
arquiteta, Rita Cristina Ferreira, em seu artigo publicado “Os diferentes conceitos adotados
entre gerência, coordenação e compatibilização de projetos na Construção Civil”, os
participantes da Equipe Gerencial do Projeto podem ser divididos da seguinte forma:

a) Gerente de Projetos

De acordo com o PMI, o Gerente de Projetos é a pessoa que lidera o time


responsável por alcançar os objetivos do projeto, sendo o principal elo entre a
Equipe Projetual e o Cliente. O mesmo é responsável por atender as
necessidades do projeto, das tarefas, da equipe e dos indivíduos.

b) Coordenador de Projetos

O papel do Coordenador de Projetos é realizar a função operacional referente


ao processo do projeto, estando em sua função toda a definição de
cronograma, escopo, divisão de responsabilidades, custos, controle de
qualidade, etc. Em projetos de pequeno à médio porte o Gerente de Projetos
também atua como Coordenador de Projetos, não sendo necessário outro
membro para essa função.

c) Compatibilizador

No processo de projeto essa função é entendida ainda como novidade no


mercado e apresenta algumas contradições, sendo o Compatibilizador o
membro da equipe responsável por compreender o raciocínio conceitual e levar
à discussão da equipe as interferências que aparecem ao longo do processo
multidisciplinar do projeto. Há um nicho de mercado que entende como
12

compatibilizar parte do processo de projetar, porém como é possível


desmembrar o Gerente do Coordenador em grandes projetos, também é
possível dividir o projeto em conceito e prática, pois em projetos mais
complexos torna-se difícil para o projetista ter a flexibilidade de correlacionar
assuntos que não são relacionáveis. Dessa maneira, sugere-se nesses
projetos a divisão das responsabilidades obtendo-se o máximo aproveitamento
de cada membro da equipe.

d) Projetista

O Projetista é a pessoa que atuará dentro de um nicho projetual. Sendo


necessários, assim, projetistas especializados em cada função, como por
exemplo: projetista estrutural, projetista de instalações, etc. Dada uma
interferência entre os projetos conceituais complementares e o de arquitetura,
surge a função do Compatibilizador de analisar e estudar em profundidade a
situação que se apresenta.

No mercado atual, todo o processo citado acima acontece de forma dinâmica. Com
frequência são puladas diversas etapas nesse processo e é nesse ponto que o Projeto pode
começar a influenciar negativamente o custo do empreendimento.

2.2.3. As Etapas do Processo de Projeto

Há uma complexidade na atividade de elaboração de projeto de um empreendimento


de construção civil, sendo necessário que essa atividade venha a ser desenvolvida por uma
equipe multidisciplinar e interfuncional (VANNI, 1999). Para garantir a qualidade do processo
de projeto é fundamental a identificação e o conhecimento de cada etapa desse processo
(TAVARES JUNIOR, 2008 apud GUS, 1996).

Para VANNI (1999, apud MEDALHO, 1994) o processo de projeto é composto por
diferentes atividades ou fases e segue “etapas conceitualmente progressivas, aonde a
liberdade de decisão entre as alternativas vai sendo gradativamente substituída pelo
detalhamento das soluções adotadas”. As etapas descritas por MEDALHO são: programa
de necessidades, estudo preliminar, anteprojeto, projeto executivo, projeto para produção,
planejamento e execução, assistência técnica.

SOUZA (1994) descreve que as etapas do projeto de uma edificação são as partes
sucessivas nas quais poderá ser dividido o processo de desenvolvimento das atividades
técnicas do projeto.
13

Figura 2: Interfaces do processo de projeto na incorporação imobiliária


Fonte: MANSO, MITIDIERI (2011, apud SOUZA, 2004)

Como se pode analisar na figura acima existe uma inter-relação entre todo o processo
de projeto, desde sua concepção até sua entrega. A divisão apresentada acima tem como
objetivo:

a) Definição do escopo do projeto;

b) Normalizar os procedimentos para a elaboração coordenada dos projetos;

c) Controlar a qualidade dos projetos como um todo;

d) Visualizar a complexidade e a necessidade de interação entre as diversas


etapas do projeto;

e) Aperfeiçoar a definição de um cronograma e estimativa de custos de obras;

f) Padronizar os procedimentos e critérios de contratação dos serviços.

Ainda, de acordo com a ABNT NBR 13.531 (1995), considera-se a seguinte divisão do
processo de desenvolvimento das atividades técnicas do projeto de edificações:
14

a) Levantamento de informações e dados: é a caracterização do produto através


de uma análise que permite avaliar o potencial construtivo e atender aos
anseios do cliente.

b) Programa de necessidades: determina as necessidades e expectativas dos


usuários a serem desempenhadas pela edificação.

c) Estudo de viabilidade: análise técnica, legal e econômica para a concepção do


projeto, a fim de verificar se o programa, terreno, legislação vigente e custo
total de investimento estão de acordo com os objetivos do cliente.

d) Estudo preliminar: apresentação inicial do projeto de acordo com os dados


iniciais coletados. Em linhas gerais, trata-se da definição de volumetria e
conceito geral do projeto arquitetônico para aprovação do cliente.

e) Anteprojeto: desenvolvido a partir da aprovação do estudo preliminar. Nessa


etapa devem ser considerados aspectos de tecnologia construtiva, pré-
dimensionamento estrutural e de fundação e concepção dos sistemas de
instalações prediais e especiais. A partir desse projeto pode-se realizar a
primeira avaliação de custo real da obra.

f) Projeto legal: projeto com as informações necessárias para análise e


aprovação nos órgãos públicos competentes, de acordo com as exigências
legais vigentes, com a finalidade de obter as licenças e alvarás necessários
para o início da execução da obra.

g) Projeto executivo: etapa destinada à concepção e representação final do


conjunto de informações técnicas da edificação necessárias a execução da
obra.

h) Detalhes construtivos: desenhos detalhados, em escalas maiores, para melhor


interpretação dos detalhes a serem construídos.

i) Projeto para produção: o projeto para produção é desenvolvido por uma equipe
multidisciplinar e está voltado para o apoio das atividades de planejamento e
execução da obra.

j) Memorial descritivo: documento contendo todas as informações dos materiais a


serem aplicados na execução do projeto.

k) Projeto as built: é o conjunto de desenhos do projeto executivo revisado em


obra para posterior manutenção.
15

Considerando a análise desenvolvida pelo autor sobre as etapas do projeto, observa-


se que a participação dos profissionais de projeto deve ser realizada não só durante a etapa
de concepção como também na produção da edificação. No entanto, de acordo com
MITIDIERI (2011), o que se verifica na prática é que, muitas vezes, existe uma divisão das
responsabilidades pela coordenação do processo entre os dois principais integrantes: a
incorporadora, responsável pela concepção do produto e viabilidade do empreendimento, e
a construtora, responsável pelo desenvolvimento dos projetos executivos, construção e
assistência técnica.

Essa divisão de responsabilidade no processo de projeto pode causar algumas não


conformidades que serão exemplificadas no decorrer deste trabalho.

2.2.4. O projeto e sua influência no custo total de um empreendimento

Toda construção civil está voltada para um conceito, cada vez mais consolidado no
setor, que pode ser definido como: “construir com qualidade e com o menor custo possível”
(eficácia e eficiência). Dessa maneira, é inevitável não correlacionar o projeto à idéia de
custo total de um empreendimento. Como resultado, trabalhar com criteriosidade o projeto
representará economia e, consequentemente, aumento de lucro das empresas (VANNI,
1999).

Der acordo com RUFINO (1999), pesquisas realizadas em vários países da Europa,
no sentindo de recolher dados relativos à existência e causa das falhas na construção de
edifícios, indicam que de 35% a 50% das falhas originam-se da etapa de projeto, enquanto
de 20% a 30% tem origem na execução, 10% a 20% nos materiais e 10% devido ao uso.

Figura 3: Capacidade de influenciar o custo final de um empreendimento ao longo de suas fases.


Fonte: VANNI (1999, apud Construction Industry Institute, 1997)
16

Através da Figura 3, retirada do estudo elaborado pelo Construction Industry Institute,


pode-se analisar que as decisões tomadas nas fases iniciais do empreendimento são de alta
importância, podendo-se assim entender que as decisões tomadas nas fases iniciais de um
empreendimento têm a capacidade de reduzir ou onerar o custo final do mesmo. Segundo
VANNI (1999, apud SOUZA ET AL, 1995), o resultado das decisões tomadas no inicio do
processo é que quanto mais se avança na fase de projeto para a execução mais difícil torna-
se reduzir o custo total do empreendimento.

Figura 4: Relação entre o tempo de execução de empreendimento e o custo mensal das atividades.
Fonte: VANNI (1999, apud BARROS E MEDALHO, 1993)

Na imagem acima, observa-se o curto período em que a atividade de projeto é


desenvolvida em relação ao processo total da execução de um empreendimento. Assim
sendo, torna-se necessário uma análise mais profunda no que diz respeito ao investimento
em prazo e custo do projeto, podendo ser viável elaborar o mesmo com maior riqueza de
detalhes e excelência. Dessa forma, pode-se obter redução em atrasos de cronograma,
retrabalhos de obra, divergência entre projetos, indefinição de materiais e técnicas a serem
utilizados durante a obra, etc.

Ainda, de acordo com VANNI (1999), o empreendedor encara o projeto como um ônus
já antes do início de execução da obra, e dessa forma tende a minimizar ao máximo os
custos do mesmo. Porém, não leva em consideração que o projeto executado com maestria
é a melhor garantia de um empreendimento economicamente viável.

Observa-se que, na construção civil, não existe uma cultura no que diz respeito a
implantar um selo de qualidade na etapa inicial de um empreendimento, salvo exceções, e
sim em desenvolver e investir em novas técnicas construtivas. Não obstante, acredita-se
que as soluções adotadas nos projetos refletem diretamente todo o processo da construção
e também na qualidade do produto final a ser entregue.
17

2.2.5. Não conformidades oriundas das etapas do processo de projeto

Como descrito anteriormente, para muitos gerentes e incorporadores, dedicar tempo e


outros recursos no processo projetual ainda é uma questão que necessita de maiores
justificativas (SCHMITT, 1998 apud ANDERSOON & JOHANSSON, 1996). Apesar disso, é
admitido que a maior parte dos custos de todo o ciclo de vida de um edifício é determinado
por decisões tomadas nos estágios mais precoces da vida do projeto (SCHMITT, 1998 apud
BARTON, 1996).

Conforme TAVARES JUNIOR (2001, apud NOVAES 1998), em virtude da


desvalorização da relevância das etapas do processo de projeto, é presumível constatar um
conjunto de processos que tem cooperado para a elaboração de projetos e especificações
inapropriadas e inexatas, tais como: insuficiência ou ausência de detalhes,
incompatibilização entre a concepção e o detalhamento, projetos distintos sem integração,
não conformidade entre projeto e produção.

TAVARES JUNIOR (2001) ainda descreve que FRUET & FORMOSO (1993)
identificaram uma série de não conformidades, provenientes de um desenvolvimento
deficitário das etapas de projeto, através de pesquisa realizada a partir de entrevistas com
executivos de 45 empresas de pequeno porte de construção civil em Porto Alegre. Os
principais problemas verificados foram: erros de cotas, níveis e alturas, incompatibilidade de
projetos, falha na especificação de materiais, detalhamento inadequado ou falta do mesmo.

SCHMITT (1998) cita LANTELME (1994) em seu estudo, sendo o segundo


responsável por apontar alguns problemas relacionados ao projeto de obras, tais como:
número excessivo de modificações, incompatibilidade entre projetos, baixa qualidade de
apresentação, inadequação às necessidades do cliente, baixa qualidade gráfica, influencia
nos custos da execução, uso e manutenção. LANTELME (1994) ainda completa com
possíveis causas para os problemas, sendo: curto tempo para execução do projeto, carência
de elo entre projetista e executor, falta de coordenação entre os projetos, falta de
padronização, detalhamento inadequado, omissão de informações projetuais,
especificações incompletas, falta de equipe para reavaliar o projeto frente às interferências
durante o processo de execução da obra.

Corrobora-se assim, dentre as não conformidades apresentadas, que a


incompatibilidade de projetos se repete em todos os parágrafos anteriores, sendo
considerada assim uma não-conformidade das mais constantes dentro do processo de
projeto na construção civil. Todas estas não-conformidades apresentadas e outras mais
referentes ao projeto são a origem dos mais diversos problemas ocasionados nas
18

edificações, tais como: desperdício de materiais e mão-de-obra, atraso no cronograma,


formação de patologias, etc.
19

3. A COORDENAÇÃO DE PROJETOS

3.1. Definições Gerais

De acordo com VANNI (1999),

“o aumento acentuado da competitividade no subsetor de


edificações tem forçado as empresas construtoras a gerenciarem de
modo mais eficiente seus projetos, buscando uma redução dos
desperdícios, das alterações em projeto e dos retrabalhos com o
objetivo de alcançar um diferencial na execução de suas obras.
Portanto, o principal requisito para o estabelecimento desse processo
de melhoria continua é a coordenação eficiente do processo de
projeto, desde as etapas de concepção até execução da obra.”

De fato, é essencial que o vínculo entre as diversas etapas do processo de projeto


sejam administradas, com o aprimoramento de todos os métodos de acompanhamento
relacionados à produção, desde a fase inicial do empreendimento. Por conseguinte, VANNI
(1999 apud BARROS, 1996) destaca a necessidade de organizar o processo de produção a
partir da etapa de projeto, constituindo um controle satisfatório que envolve a participação
efetiva, tanto dos projetistas, quanto dos construtores, no processo de produção do edifício.

Para a atividade da coordenação de projetos, TAVARES JUNIOR (2001, apud


FRANCO & AGOPYAN, 1994) descreve os seguintes objetivos:

i) Assegurar o diálogo entre os participantes do projeto;

ii) Assegurar o diálogo e integração entre as diversas etapas do empreendimento;

iii) Gerenciar todo o processo de modo a resolver as interferências entre as partes


do projeto;

iv) Assegurar a harmonia entre o produto e a produção, com atenção para a


tecnologia a ser empregada no processo construtivo e para a cultura de
construção presente na empresa;

v) Gerir as decisões a serem tomadas no desenvolvimento do projeto;

vi) Controlar a qualidade das etapas de desenvolvimento do projeto.

FETZ (2009, apud BAIA 1998) destaca que com a inexistência da coordenação,
observaram-se alguns desafios para a obtenção de melhorias na qualidade dos projetos,
tais como: falta de mecanismo para levantamento das necessidades dos clientes, excesso
de retrabalhos resultante de alterações no projeto pelo contratante, ausência de
20

gerenciamento entre os projetistas e atraso na elaboração dos projetos de estrutura e


instalações prediais.

TAVARES JUNIOR (2001) apresenta, de acordo com o SEBRAE/SINDUSCON – PR


(1995), o perfil do profissional que ocupará o cargo de Coordenador de Projetos como:
“centralizador do processo, com competência para fazer a integração das disciplinas de
projeto, traduzindo os anseios do empreendedor e coordenando a equipe de projetistas”.

Segundo NOBREGA JUNIOR E MELHADO (2013, apud GEHBAUER e ORTEGA,


2006), o coordenador de projetos da construção civil pode ser tanto engenheiro como
arquitetos e também pode fazer parte do quadro da empresa ou ser terceirizado, sendo o
mais importante que o coordenador tenha formação abrangente e experiência necessária
para o cargo. É primordial que o perfil do coordenador possibilite sempre gerenciar toda a
execução do projeto, acompanhando os prazos ou oportunidades para replanejamento do
processo, caso necessário. É ainda enfatizado pelos autores que a função requer garra,
persistência e manutenção do foco nos resultados, características de um líder.

Sendo assim, é competência do coordenador assegurar que as soluções técnicas


executadas pelos projetistas estejam em concordância com as necessidades e metas dos
clientes. Segundo TAVARES JUNIOR (2001, apud MELHADO, 1994) é necessário seguir as
diretrizes do projeto da empresa e estar atento às exigências de legislação e normas
vigentes. Foi, ainda, proposto pelo autor uma estrutura para identificar a equipe
multidisciplinar envolvida no desenvolvimento do projeto.

Figura 5: Estrutura proposta para Equipe Multidisciplinar


Fonte: TAVARES JUNIOR (2001, apud MELHADO, 1994)
21

Através da figura 5, observa-se o Coordenador de Projetos liderando todas as


atividades que estarão sendo desenvolvidas durante o processo de projeto. Ainda, de
acordo com NOBREGA JUNIOR E MELHADO (2013, apud SILVA E NOVAES, 2008), “os
coordenadores de projetos precisam ter uma visão completa e integrada de todo o processo.
Dessa maneira, necessitam de elevado conhecimento técnico para poder analisar e avaliar
adequadamente as soluções de projeto de diferentes especialidades, bem como organizar e
controlar o intenso fluxo de informações.”

Cabe evidenciar que a coordenação de projetos é fundamental para assegurar a


qualidade no produto final. TAVARES JUNIOR (2001, apud PICCHI, 1993) afirma que o
coordenador de projetos deve ser um profissional com muita experiência, e dos diversos
recursos que poderá utilizar na sua função, destacam-se:

i) Planejamento de projetos;

ii) Compatibilização de projetos;

iii) Controle de dados de entrada;

iv) Controle de revisões projetuais;

v) Controle de pendências.

Dentro desse contexto, cabe salientar que NOBREGA JUNIOR E MELHADO (2013,
apud MELHADO, 2005) discorrem em seu artigo sobre a necessidade de redefinição do
perfil do coordenador, das atividades e da autonomia do mesmo, uma vez que “com a
crescente especialização dos projetos, a coordenação é uma atividade cada vez mais
importante e complexa e torna-se necessário que o seu perfil, sua formação e sua atuação
estejam bem definidas e fundamentadas, e que o coordenador tenha autonomia para tomar
as principais decisões do processo de projeto”.

3.2. Gestão da Qualidade na Coordenação de Projeto

Em seu sentido comum, de acordo com a ABNT NBR ISO 9000 (2000),

“para conduzir e operar com sucesso uma organização é


necessário dirigi-la e controlá-la de maneira transparente e
sistemática (...). A gestão de uma organização inclui, entre outras
disciplinas de gestão, a gestão da qualidade”.

De acordo com FABRICIO (2002), a qualidade representa um conceito de relevância


singular para a competitividade entre as empresas e a sociedade. Mesmo sendo um termo
22

extremamente difundido, percebe-se que muitas empresas e incorporadoras ainda não


alcançam o real entendimento de sua abrangência.

NOVAES (1999) assegura que o controle da qualidade de projetos pode ser definido
como qualitativo ou quantitativo. Quando qualitativos, fazem referencia à inspeção de
documentação, detecção dos principais erros e definição de estratégia para controles
complementares. Já os quantitativos buscam exercer cuidadosamente a verificação de
todos os elementos do projeto.

Ainda, é importante citar que NOVAES (1999, apud PICCHI, 1993) considera
pertinentes os instrumentos de garantia e controle da qualidade de projetos de edifícios, a
mencionar: qualificação de profissionais de projeto, controle das modificações projetuais
durante a execução, fazer uso da tecnologia e gestão do tempo de execução.

No mercado atual, observa-se que, com frequência, a terceirização dos projetos tem
gerado deficiência na gestão da qualidade, tendo em vista que não vem acompanhado de
um processo de gerenciamento que assegure a integração entre as diversas decisões
tomadas em cada projeto.

VANNI (1999) afirma que dentro da área de projetos, vários são os obstáculos que
dificultam a implantação de um sistema de qualidade, dentre eles:

i) Falta de motivação e comprometimento dos funcionários da empresa quanto a


implantação do sistema de gestão da qualidade;

ii) Hesitação e impaciência na obtenção de resultados;

iii) Dificuldades na preparação da equipe;

iv) Dificuldades no emprego de programas de qualidade na padronização quanto


aos procedimentos adotados.

Conforme MELHADO (1999), o processo projetual deve ser analisado de forma crítica
por todos os seus participantes e o mesmo validado pelo incorporador ou empreendedor,
projetista e construtores, de forma a certificar a sua coerência com o objetivo proposto e
com a execução do mesmo. Dessa maneira, haverá a garantia do atendimento aos diversos
aspectos que compõe a qualidade do projeto.

Segundo FABRICIO (2002, apud MELHADO, 1998), nas fases iniciais do projeto
quando existe maior flexibilidade para se promover um sistema de gestão, os esforços para
promover a qualidade do empreendimento são reduzidos, percebendo-se a carência de uma
organização que torne viável a integração e compatibilidade entre os projetos. Logo,
percebe-se que a desarticulação entre qualidade e produção inicia-se na “alma” do processo
23

projetual e, em consequência, nos problemas das obras e dos edifícios resultantes do


projeto.

OLIVEIRA (2005) em seu artigo discorre sobre qualidade e confiabilidade do projeto. A


afirmação do autor é de que o tais pontos tem influência no numero de interferências
realizadas na execução da obra, retrabalhos, racionalização do consumo de materiais, além
de comprometer a eficiência da construção. Nesse contexto, a execução projetual deve
estar vertida ao atendimento das necessidades de eficácia e eficiência solicitadas pelo
cliente final.

Segundo o mesmo autor, ao discorrer sobre a gestão da qualidade nas atividades


destinadas à coordenação e compatibilização de projetos são necessários instrumentos que
possibilitem uma abordagem detalhada do processo de execução projetual, a saber:

i) Qualidade da solução de projeto

A solução adotada tem impacto direto no processo executivo da obra, através dela são
definidos partidos arquitetônicos, detalhes técnicos de construtibilidade, especificações de
materiais, memórias de cálculo, etc. De acordo com OLIVEIRA (2005, apud SILVA, 1996), a
qualidade de solução pode referir-se ao conjunto subsequente:

a. Concepção espacial e funcional, elaborado através dos valores sócio culturais,


de desempenho técnico e econômico;

b. Concepção estética e simbólica, relacionado ao ato criativo, sem excluir os


valores culturais do ambiente em que o projeto está inserido;

c. Especificações técnicas, resultado do ponto de vista do comportamento da


edificação em relação a sua vida útil, devendo-se levar em consideração as
relações econômicas entre os custos iniciais e ao longo de sua utilização;

d. Projeto e produção, resultado das relações que o projeto estabelece com a


execução da obra, determinando produtividade e custos de execução.

ii) Qualidade da elaboração do projeto

De acordo com OLIVEIRA (2005, apud SOUZA, 1995), é o controle necessário à


assegurar a qualidade da solução e apresentação projetual, tendo como princípios de
contratação:

a. Determinar critérios para o desenvolvimento do projeto;

b. Assegurar a coordenação e integração entre projetos;

c. Praticar a análise crítica dos projetos;


24

d. Controlar a qualidade no recebimento do projeto.

Dessa maneira, de acordo com MANSO e FILHO (2011), para garantir a qualidade do
produto final é de extrema importância a correta contratação de projetistas experientes e
atualizados em suas áreas de atuação, além de fazer-se necessário que os mesmos
recebam todas as informações relativas às expectativas dos diversos clientes internos
participantes do processo e externos. Faz-se necessário também, a introdução de uma
visão de qualidade nos processos de desenvolvimento de projeto, de forma à possibilitar
que cada profissional envolvido no desenvolvimento do projeto possa assegurar a qualidade
daquilo que lhe diz respeito no produto final à ser gerado.

Um projeto elaborado com qualidade necessita, além da capacitação dos projetistas,


de estimulo e boa convivência entre os profissionais participantes. É função do coordenador
criar possibilidade para que isso aconteça.

iii) Qualidade da apresentação do projeto

OLIVEIRA (2005) afirma que a produtividade e cumprimento dos prazos no canteiro de


obras dependem, também, da qualidade de apresentação do projeto, pois a interpretação do
projeto pela equipe de obra definirá a maneira como as atividades se processarão, bem
como a ocorrência ou não de erros de execução e qualidade final do serviço. Nesse sentido,
OLIVEIRA (2005, apud SILVA, 1996) considera que os projetos devem atender a um padrão
de qualidade, assim apresentado:

“padrões de apresentação gráfica em todos os documentos; padrões de integração de


sistema informatizados; padrões para apresentação de detalhes construtivos; padrões para
apresentação dos documentos preliminares do projeto em cada etapa; padrões de
apresentação de detalhes construtivos; padrões de apresentação de especificação técnica;
padrões de apresentação de memoriais técnicos e de venda.”

Nesse sentido, vale ressaltar que vários projetos são apresentados de maneira que
apenas os profissionais no qual trabalharam na execução do projeto têm condições de
interpretar. Assim sendo, a padronização garante o completo entendimento das atividades a
serem executadas, facilitando a leitura do projeto, evitando dúvidas ocasionadas por
desinformação no projeto e modificações ocasionadas pela execução incorreta no decorrer
da obra.

É importante mencionar que a garantia da qualidade no desenvolvimento de um


projeto está intimamente relacionada com a gestão da comunicação, que por sua vez
envolve a geração, coleta e distribuição de informações e definições projetuais. E ainda, que
a qualidade da execução de projeto é determinada principalmente pela capacidade e
25

comprometimento dos participantes, e que “um bom projeto somente é obtido com o
gerenciamento adequado do seu processo de desenvolvimento multidisciplinar” (MANSO e
FILHO, 2011).
26

4. COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS

4.1. Conceitos Gerais da Compatibilização de Projetos

“A compatibilização é descrita como qualidade do projeto que


determina a inexistência de conflitos entre posições de componentes
no sistema, além de possuir dados associados com coerência e
confiabilidade até o final do processo de projeto e obra (MANSO E
FILHO, 2011 apud GRAZIANO, 2003).”

TAVARES JUNIOR (2001, apud NOVAES 1998) afirma que “pelo caráter de ação
projetual, este que permite conciliar física, geometria, tecnologia e produtividade, os
componentes que interagem nos elementos construtivos horizontais e verticais das
edificações, a compatibilização de projetos pode constituir-se em importante fator de
melhoria da construtibilidade e de racionalização construtiva.”

Segundo OLIVEIRA (2005), a compatibilização de projetos tem como objetivo a


redução de incompatibilidades entre os projetos específicos resultantes, na maioria das
vezes, da falta de coordenação. O mesmo deve ser desenvolvido em momentos diferentes
na elaboração dos projetos, de forma a eliminar ou minimizar os conflitos gerados entre
projeto e projetistas.

De acordo com MANSO e FILHO (2011) a compatibilização de cada uma das


modalidades em relação a outras, com as quais conserva ligação, deve ser, primeiramente,
de responsabilidade do projetista. Aparentemente óbvio, porém a prática destaca esta como
uma das primeiras deficiências dentro dos diversos projetos, ocasionando sobrecarga para o
coordenador e para o escritório responsável pelo projeto de arquitetura, que, muita das
vezes, termina como compatibilizador.

Como mencionado no capítulo anterior, de acordo com MELHADO (1994), sugere-se


que o ato de compatibilizar seja realizado por um profissional independente do coordenador.
Porém, nota-se que alguns projetistas, ao tomarem ciência da existência de um
compatibilizador externo, diminuem o tempo dedicado ao projeto, pois se firmam no
compatibilizador. Tal fato também atua como gerador de custo excedente e deve ser evitado
no contrato de prestação de serviço, indicando que a responsabilidade pela compatibilização
dos projetos também está com cada projetista.

FERREIRA (2001) propõe um conceito para os participantes do processo projetual no


qual o compatibilizador é definido como o profissional que compreende o raciocínio
conceitual e consegue levar a informação dimensional para a discussão do grupo,
promovendo assim uma importância adicional ao compatibilizador.
27

MEDALHO (1994) define que o processo de desenvolvimento do projeto deve


destacar em cada etapa a análise crítica e a compatibilização com base na construtibilidade.

Segundo MIKALDO JR e SCHEER (2008, apud RODRÍGUEZ E HEINECK, 2001), a


compatibilização deve realizar-se em cada uma das fases do projeto, sendo elas: estudo
preliminar, anteprojeto, projeto legal e projeto executivo, iniciando-se na busca de uma
integração geral das soluções adotadas até as verificações de interferências geométricas
dos projetos.

FETZ (2009, apud MELHADO, 2005) destaca que, no ato da compatibilização, os


projetos de diferentes especialidades devem ser sobrepostos para apurar possíveis
interferências, e os problemas identificados devem ser relatados à coordenação. O papel da
coordenação será gerir os conflitos e identificar a solução que melhor se adequará ao caso
apresentado. A compatibilização de projetos deve atuar com um “pente fino”, no qual
possíveis erros ou falhas técnicas possam ser sanados.

Através da compatibilização também se busca o aprimoramento na utilização de


materiais, mão de obra, métodos construtivos e posterior manutenção. Sendo assim, a
mesma tem papel fundamental em todo o processo da produção, e deve permanecer
durante a execução dos projetos complementares especiais, os quais podem gerar diversos
conflitos no projeto arquitetônico.

De acordo com FETZ (2009), a implementação da compatibilização de projetos no


ramo da construção civil é justificada pela necessidade de concretização de ações que
possam auxiliar na solução das interferências habituais da falta de produtividade no setor,
possibilitando assim, que a construção civil brasileira possa alcançar níveis de qualidade
mais altos, se aproximando assim dos índices de países mais industrializados.

A compatibilização falha ou a ausência da mesma podem gerar erros com custo


adicional, levando a decisões precipitadas durante a obra, causando retrabalhos e
diminuindo a qualidade e eficácia do processo de projeto e execução de obra. De acordo
com MANSO e FILHO (2011), as dificuldades de compatibilização podem ser imputado ao
contratante e/ou aos projetistas, sendo:

i) Dificuldades geradas pelo contratante (construtor ou incorporador): atraso de


decisões que influem na execução do projeto, apresentação de dados
incorretos ou pouco detalhados como suporte para a execução dos projetos,
ausência de profissional experiente e capacitado para analisar os projetos e
dar suporte correções.
28

ii) Dificuldades geradas pelo projetista: não se atentar aos demais projetos que
estarão sendo executados em paralelo, não comprometimento com a
integração dos projetos, ausência de padrão técnico no câmbio de
informações projetuais entre projetistas, baixo ou nenhum conhecimento
técnico de execução de obra.

Quanto às falhas nos processo de compatibilizar, MANSO e FILHO (2011) destacam a


necessidade de alteração de postura por parte dos projetistas e
incorporadores/construtores, pois os mesmos criaram como compatibilização o ato de
sobrepor projetos de cada especialidade e entender que o resultado dessa ação seja o
“projeto compatibilizado”. O projeto compatibilizado, na verdade, se dá pela inter-relação
harmônica entre as diversas especialidades necessárias para sua execução. Não apenas o
desenho técnico, porém as soluções criadas para a melhoria do resultado final.

O equívoco, segundo MANSO e FILHO (2011), está principalmente no sistema não


integrado de compatibilizar, gerando assim, o processo de pós-compatibilização, sendo esse
caracterizado pelo retrabalho de execução de projeto por um profissional que, em muita das
vezes, não está capacitado para a resolução técnica de interferências, como ilustra a figura
6.

Figura 6: Sistema não integrado de compatibilização

Fonte: MANSO E FILHO (2011, apud GRAZIANO, 2003)

A figura acima representa o modelo de processo tradicionalmente estabelecido na


construção civil como “Sequencial” que, acordo com PRETTI (2013), cada participante do
processo só inicia uma tarefa após o anterior ter concluído a sua. Dessa maneira, formam-
se lacunas de espera entre as diversas etapas do processo, que por sua vez não agregam
valor ao resultado final.
29

A implementação do sistema seqüencial funciona à medida que cada interveniente do


processo exerça sua função em um determinado momento, com pouca ou nenhuma
interação com os demais participantes do processo exemplificados na Figura 7. Cada
colaborador tem a responsabilidade de solucionar apenas os desafios de sua própria área
de atuação, deixando de interpretar o projeto da edificação como um campo multidisciplinar
e aberto a discussões de eficiência do produto final, e de avaliar as interferências que
poderão ocorrer entre etapas, causando diretamente perda de qualidade final do produto.

Figura 7: Método Sequencial

Fonte: PRETTI (2013, apud BRASILIANO, 2000)

Em decorrência, PRETTI (2013) discorre sobre como pode ser considerado alarmante
o desmembramento do processo, dado que tardar definições de grande valia e postergar
para um momento limite onde elas se tornam seguramente um obstáculo para a execução
da obra gera alterações tardias de projetos, atraso de cronograma, retrabalho e desperdício
de mão de obra.
30

PRETTI (2013), ainda apresenta inúmeros outras questões referentes ao processo


seqüencial, tais quais:

a) Alteração no orçamento inicial, tendo em vista as alterações e tomadas de


decisões tardias no processo do projeto;

b) Interface restritiva entre colaboradores, colaborando para a perda de


informações e diminuição das revisões de projeto para revisão de
inconformidades;

c) Aumento considerável dos problemas em canteiro de obra, tendo em vista que


a equipe de obra necessita resolver “in loco” as interferências não
solucionadas em projeto, resultando em inúmeras alterações projetuais e
desgaste para ambas as partes;

d) Baixa qualidade no padrão de projeto, detalhamentos, executabilidade e


construtibilidade, uma vez que a equipe de projeto não tem acesso à realidade
da obra e os integrantes da execução de obra não possuem o envolvimento
durante a fase inicial de concepção e planejamento do empreendimento.

O modelo seqüencial foi consolidado e tem sua prática incitada pelo modelo de
desenvolvimento imobiliário no Brasil, modelo este que provocou o desmembramento das
diversas especialidades abrangidas em escritórios de engenharia e arquitetura
especializados em cada área. Em contrapartida, MANSO e FILHO (2011, apud GRAZIANO,
2003) apresentam um modelo no qual todo o sistema de compatibilização de projetos ocorre
de forma integrada, sendo finalizado antes do inicio da execução de obras. Logo, toda
adequação deve ser discutida e finalizada com antecedência.

Figura 8: Sistema integrado de compatibilização de projeto

Fonte: MANSO e FILHO (2011, apud GRAZIANO, 2003)


31

Fundamentado no que foi apresentado pelo autor até o presente momento, pode-se
concluir a importância do projeto no processo construtivo, com reflexo direto nos custos do
empreendimento, podendo interferir na redução, se bem executado, dos custos relacionados
a falhas na edificação.

MANSO e FILHO (2011) apresentam ainda que o êxito na implantação de uma rotina
de compatibilização, seja ela sequencial ou integrada, depende de diversos fatores, a se
destacar: entrosamento entre equipe, boa disposição dos envolvidos diante da análise
projetual, capacidade do contratante de gerir projetos simultaneamente e espírito
participativo entre os colaboradores.

No mercado atual, com o avançado estágio de desenvolvimento da construção civil,


onde grande parte das construtoras e incorporadoras contrata projetos representados
graficamente com o auxilio das ferramentas digitais, facilitada pela expansão da internet e
de novos programas para execução de projeto com tecnologia avançada, permitindo assim
a utilização de sistemas de compartilhamento, a compatibilização de projetos não deve estar
limitada apenas à análise de desenhos.

Alguns passos já foram dados para a solução desse sistema, contudo não há um
consenso na literatura a respeito de um escopo definido para a gestão da compatibilização,
sendo necessário que cada projeto seja interpretado de maneira a entender qual método
adequado deve ser implementado. Dessa maneira, após revisão de literatura da área de
atuação, duas diretrizes para compatibilização tem se destacado, sendo alvo de um estudo
mais aprofundado:

i) Método das Dimensões Possíveis e Fundamentais: compatibilização dos


projetos representados graficamente em três dimensões, com a afirmativa de
que o procedimento em questão não aumenta o trabalho dedicado ao projeto,
criando um ganho de qualidade no produto final (FERREIRA, 2002).

ii) Método da Engenharia Simultânea: considerada como uma forma de


racionalização centrada nas relações entre empresa x projetista, mas que
supõe uma capacidade forte da primeira propor inovações em nível da
concepção do produto, o edifício (CARDOSO, 1997).

4.2. O Método das Dimensões Possíveis e Fundamentais

Para discorrer sobre este tema, é preciso analisar o trabalho efetuado por SOLANO
(2005), que apresenta cinco dimensões para a compatibilização de projetos: estratégica,
pesquisa de mercado, viabilidade técnico-econômica, construtibilidade e facilitação de fluxo
da produção dos projetistas. O autor do artigo indica que este método pode vir a ser
32

aplicável a qualquer tipo e tamanho de empresa, tendo em vista que a possibilidade de


terceirizar as atividades de gerenciamento, coordenação, compatibilização e projetos,
definido em escopo de contrato pelo empreendedor/construtor o método desejado.

Em sua fundamentação teórica, SOLANO (2005) discorre sobre as diversas definições


para compatibilização de projetos, e, identifica comum a todas as definições, o fato do
processo de compatibilização estar inserido apenas na dimensão da construtibilidade. Em
todos os casos o método utilizado para compatibilizar é o FMEA – análise dos modos e
efeitos de falha – ou seja, a compatibilização é realizada em função do levantamento de
falhas nos projetos e os autores não apresentam uma solução para que a ação do
compatibilizador reduza ou elimine os efeitos negativos que um projeto com falhas pode
gerar para um empreendimento.

O Método das Dimensões Possíveis e Fundamentais considera que:

i) O trabalho de compatibilizar não deve incluir revisão de projetos;

ii) A revisão de cada projeto deve ser atribuída ao projetista responsável;

iii) O trabalho de compatibilizar não deve incluir a ação de co-projetar;

iv) O projeto é responsabilidade do projetista contratado de cada área de atuação;

v) O trabalho de compatibilizar os projetos tem as dimensões para: fazer seguir o


plano estratégico do projeto; fazer seguir a pesquisa de mercado do
desenvolvimento do produto; fazer seguir a viabilidade técnico-econômica do
empreendimento; fazer seguir a construtibilidade do projeto para a obra e ser
facilitador das ações dos projetistas.

A seguir, serão descritas as cinco dimensões do método em estudo

4.2.1. Dimensão do plano estratégico de projeto

É função do compatibilizador:

a) Acompanhar e respeitar o cronograma de execução dos projetos;

b) Acompanhar a preparação dos projetos de maneira a permitir que os mesmos


possam respeitar o cronograma de execução previsto para a obra;

c) Fazer respeitar o custo previsto para o desenvolvimento dos projetos;

d) Fazer com que os projetos respeitem os custos previstos para execução da


obra;

e) Manter o foco na satisfação dos clientes do projeto, desde outros projetistas


até o incorporador e consumidor final;
33

f) Desenvolvimento do projeto como um processo de produção;

g) Fazer respeitar a padronização do produto final;

h) Gerir as soluções de projetos para a construtibilidade;

i) Gerir as soluções de projetos de acordo com as legislações vigentes, sem


contratempos.

4.2.2. Dimensão da pesquisa de mercado

É função do compatibilizador:

a) Destacar as ações dos projetos para o cliente final;

b) Fazer com que o projeto apresente a representação gráfica dentro das


normas pré – estabelecidas de: layout; dos ambientes de permanência
prolongada e transitória; da relação entre lados dos compartimentos; da
orientação solar; da vista do panorama e de acessibilidade;

c) Fazer com que o memorial descritivo dos projetos atenda aos requisitos de
estética, durabilidade e de manutenção acessível.

4.2.3. Dimensão da viabilidade técnico – econômica

É função do compatibilizador empregar os indicadores geométricos, de consumo, de


custos e de produtividade empregados no estudo de viabilidade econômico –financeira do
empreendimento para análise de possíveis não-conformidades com este instrumento
delimitador do êxito do investimento. Muitos são os indicadores utilizados para o sub - setor
de construção civil, como: índice de compacidade, taxa de formas, taxa de armaduras, taxa
de concreto, taxa de esquadrias, taxa de tubos de esgoto, etc.

Outra ferramenta acessível para o compatibilizador são as Curvas ABC, geradas a


partir de estudo de viabilidade econômico financeira do empreendimento. SOLANO (2005,
apud SOLANO, 2003) apresenta as Curvas ABC de edifícios como instrumento de grande
integração. Dessa forma, o trabalho do compatibilizador será através do controle de custos,
definindo uma quantidade de itens e fazendo com que os projetistas se enquadrem nos
consumos e custos definidos na fase de concepção do empreendimento. SOLANO (2005,
apud SOLANO, 2003), ainda, apresenta que pode ser realizada a agregação das curvas por
fornecedores, sendo esta utilizada pelo compatibilizador para verificar a coerência dos
projetos em relação ao plano inicial de viabilidade.
34

4.2.4. Dimensão da construtibilidade

A dimensão da construtibilidade é comumente adotada pelos compatibilizadores e


citada por SOLANO (2005) em referência aos autores que fazem referencia a essa
dimensão em sua fundamentação teórica. Como é de conhecimento e tratativa durante todo
o estudo, pequenas empresas têm a tendência a não compatibilizar seus projetos,
entregando à produção da obra a responsabilidade, gerando assim todos os efeitos
negativos destacados durante esse estudo. Médias e grandes empresas têm a tendência de
aplicar essa dimensão, porém sem estudo ou método definido para tal, comprometendo a
compatibilização apenas com a sobreposição de desenhos, com o intuito de encontrar e
corrigir inconformidades ou interferências que possam comprometer o fluxo da execução de
obra.

SOLANO (2005) propõe um método no qual três aspectos devem estar garantidos:
construtibilidade, operacionalidade e possibilidade de manutenção futura.

Em cumprimento, o compatibilizador deve, no mínimo:

a) Criar listas de verificação de vulnerabilidade podendo ser utilizado os métodos


de engenharia simultânea e FMEA;

b) Criar regras para compatibilizar, contendo ordem e itens. Como por exemplo:
verificar a revisão dos documentos que referenciaram o desenho; verificar se o
projetista atendeu as regras de padronização dos documentos; verificar se a
base dos projetos é a revisão mais atual liberada, sendo este o referencial para
os demais documentos; sobreposição de projetos no desenho à compatibilizar;
trabalhar a análise dos desenhos em malhas 10x10cm; anotar as
desconformidades e solicitações no layer do coordenador; salvar arquivo com a
revisão no título e divulgar entre os participantes;

c) Elaborar o plano de compatibilização de acordo com o cronograma de projetos,


não se olvidando do número de participantes do projeto;

d) Compatibilizar os projetos a cada duas unidades;

e) Utilizar ferramentas para controle da compatibilização;

f) Divulgar os resultados da compatibilização entre os participantes do projeto.

4.2.5. Dimensão de facilitação de fluxo da produção dos projetistas

Pouco difundida, ainda não utilizada pela maioria dos profissionais de


compatibilização, composto por:

a) Fazer cumprir os prazos esperados no cronograma de projetos;


35

b) Cumprir os prazos previstos para compatibilização;

c) Anunciar o processo de compatibilização entre os participantes;

d) Apenas liberar projeto de referencia para outros após a liberação pelo


compatibilizador;

e) Em hipótese alguma ceder à pressão de engenheiro de obra/produção e


disponibilizar projeto antes de sua conclusão e liberação, a obra deve esperar
o projeto ser finalizado para iniciar-se.

4.3. O Método da Engenharia Simultânea

4.3.1. Visão Geral – A Simultaneidade das Atividades

De acordo com FABRICIO (2002), os primeiros estudos sobre Engenharia Simultânea,


da maneira que é entendida hoje, e sua utilização por empresas ocidentais, vêm da segunda
metade da década de oitenta, tendo sua primeira caracterização pelo Institute for Defense
Analysis (IDA) do governo dos Estados Unidos, definindo que:

“A Engenharia Simultânea é uma abordagem sistemática para


integrar, simultaneamente, o projeto para a produção e seus
processos relacionados, incluindo manufatura e suporte. Essa
abordagem é buscada para mobilizar os desenvolvedores
(projetistas), no início, para considerar todos os elementos do ciclo
de vida da concepção até a disposição, incluindo controle de
qualidade, custos, prazo e necessidades dos clientes”.

Na construção civil, a proposta da engenharia simultânea é promover a realização em


paralelo das diversas etapas do desenvolvimento do projeto. PRETTI (2013) afirma que
dessa maneira é mais simples e rápido identificar pontos de inconformidades entre as
etapas do processo, aumentando assim a integração entre as interfaces do projeto e
resolvendo, com antecedência, questões que seriam discutidas em etapa posterior,
diminuindo assim o tempo de projeto e de alteração do mesmo.

Como na engenharia simultânea as atividades são realizadas em paralelo, é


necessário que as decisões sejam tomadas em equipe. Dessa forma, evita-se que as
decisões fiquem nas mãos de apenas um participante e que toda escolha seja realizada
mediante prévio entendimento entre todos os participantes. Através da figura 9 pode-se
observar um esquema com algumas atividades de projeto que podem ser desenvolvidos
simultaneamente cooperando para a sinergia entre os diversos setores.
36

Figura 9: Paralelismo de Atividades

Fonte: PRETTI (2013, apud MELHADO, 1998)

FABRICIO (2002) ainda afirma que com o paralelismo das atividades é possível
alcançar a “maximização da manufaturabilidade através da simplificação de produtos,
eliminação de etapas e interfaces de processos.” Com esse diálogo é reduzida a perda de
informações, visto que a interação acontece a todo tempo, ao invés de pontualmente como
no processo seqüencial.

4.3.2. Multidisciplinaridade da Equipe

Um dos enfoques da engenharia simultânea é trabalhar o processo de projeto através


de uma equipe multidisciplinar, integrando no projeto pontos de vista de diferentes agentes
no processo da execução do mesmo.

Dessa forma, a tomada de decisões antecipada ou a simultaneidade das tarefas só


ocorrem quando a equipe age em conjunto (Figura 10), através das interações de áreas com
conhecimentos distintos, tornando possível elaborar um produto de qualidade superior. De
acordo com FABRICIO (2002), para impulsionar e estimular a tarefa multidepartamental é
importante quebrar as barreiras de hierarquias rígidas e criar organogramas matriciais ou
funcionais cruzados na conformação das equipes de projeto.
37

Figura 10: Esquema - Equipe Multidisciplinar de Projeto

Fonte: FABRICIO (2002)

PRETTI (2013) atesta em seu trabalho a importância do Coordenador para que a


equipe possa produzir de forma eficiente. Através do seu exercício que será possível
integrar a equipe de projetistas, comunicar aos clientes envolvidos as diretrizes do projeto,
apontar a necessidade de contratação de consultores, além de acompanhar todas as partes
envolvidas no processo, sendo sua posição de articulador do processo.

Nesse método ainda, é necessário que todos os participantes disponham de todas as


informações sobre o projeto em tempo real, dessa forma é possível planejar
simultaneamente diferentes aspectos do produto.

4.3.3. Estrutura organizacional e integração na equipe

Como mencionado no tópico anterior, é essencial a interação entre setores e


especialidades para a implementação correta da Engenharia Simultânea. De acordo com
PRETTI (2013), para que o processo possa ser desenvolvido com eficácia e eficiência é
necessário que essa interação ocorra desde as etapas iniciais, de briefing e estudo de
viabilidade e durante todo o desenvolvimento do projeto. O reflexo da simultaneidade bem
elaborada deverá ser visto no processo de construção do empreendimento.

PRETTI (2013, apud BRASILIANO, 2000) ressalta que com a integração de todos os
agentes responsáveis pelo processo, a equipe deve responder em conjunto pelo sucesso ou
fracasso do produto:

“(...) quebra-se o ‘jogo de empurra’ existente na forma seqüencial de


desenvolvimento de produtos, onde cada setor só se responsabiliza pela sua
38

etapa no processo, e não pela repercussão de suas tomadas de decisão nos


setores subseqüentes (PRETTI, 2013 apud BRASILIANO, 2000).”

Para FABRÍCIO (2002) é importante a formação de grupos de desenvolvimento do


produto, com a finalidade de participar aos projetistas a experiência das diversas
especialidades e as diferentes atuações que compõe o processo de produção em execução.
Sendo assim, a coordenação deve assegurar a distribuição das informações acertadas entre
os agentes integradores da equipe. O mesmo afirma que o grupo de trabalho deve ser
formado por um pequeno número de pessoas de várias áreas e diferentes formações, que
dessa maneira possa representar as etapas do processo de produção. O perfil dessa equipe
deverá ser de agentes com capacidade de resolver problemas, tomada de decisões, com
espírito de equipe e coletividade.

FABRÍCIO (2002) questiona, em seu trabalho, a estrutura organizacional funcional –


hierárquica e rígida muito utilizada nas empresas brasileiras, como insuficiente no que diz
respeito a possibilitar a interação exigida pela engenharia simultânea, visto que o modelo
funcional está baseado em subordinação a um único comando, gerando um distanciamento
entre os intervenientes e inviabilizando o processo de interação entre os setores. Posto isto,
sugere-se que a implantação da engenharia simultânea seja associada a um modelo
matricial de organização corporativa (figura 11), onde cada atividade está subordinada a
dois comandos.

Figura 11: Modelo matricial de organização corporativa

Fonte: FABRICIO (2002)

4.3.4. Desafios e Metas da Engenharia Simultânea

PRETTI (2013) indica em seu trabalho a dificuldade do setor da construção civil


brasileira de absorver inovações tecnológicas e conceituais, dado o fato do mesmo ser
tradicionalmente conservador.
39

Desta forma, podem ser considerados três alicerces principais necessários de


transformação para a implementação da ES:

i) Cultural: na construção civil brasileira, não há a valorização do projeto pelos


empreendedores, que em muitos casos consideram o mesmo apenas como
etapa a ser cumprida. É necessário alterar o olhar dos participantes no
processo de projeto, de maneira que todas possam entender o papel do projeto
na implementação de um novo produto.

ii) Organizacional: como mencionado no tópico anterior, a organização


hierárquica de funções não atende a ES, o trabalho em conjunto altera desde o
principio do processo o organograma, sendo necessariamente aberta para a
implementação da multidisciplinaridade de equipe e coordenação continua no
processo.

iii) Tecnológica: é preciso abrir espaço às transformações tecnológicas, sendo tais


ferramentas capazes de facilitar as trocas de informações, integração,
elaboração de projetos simultâneos, etc.

De acordo com FABRÍCIO (2002), um dos principais propósitos da ES é possibilitar a


diminuição de tempo empregado no desenvolvimento de projetos. Procura-se assim, um
aumento na competitividade das empresas, tendo em vista a maior agilidade na geração de
projetos e a flexibilidade produtiva necessária ao rápido atendimento das demandas de
mercado.

Agregado a redução de tempo no desenvolvimento do produto está a procura pela


implementação de novas tecnologias que tragam maior valor ao produto final e atendam ao
cliente, cada vez mais exigente.

Além disso, pode-se incluir como meta a busca da sinergia entre as várias áreas:
‘empresa x empresa’, ‘empresa x fornecedor’ e ‘empresa x cliente’, propiciando assim
projetos com maior conteúdo aproveitável, capazes de intervir de forma positiva na
produtividade, custo e qualidade no processo de produção do produto.
40

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1. Considerações Críticas

Não é uma tarefa simples optar por um dos dois métodos de compatibilização de
projetos, principalmente em virtude de não haver estudos empíricos que possam sustentar a
opção por um ou outro método.

Considerando o dilema vivenciado pelo incorporador na escolha de um dos métodos


de compatibilização de projetos e, na ausência de trabalhos acadêmicos que demonstrem
as reais diferenças na aplicação de ambos no que tange à eficiência e a eficácia, é possível
discorrer brevemente sobre alguns aspectos que, do ponto de vista prático e, considerando
as especificidades do mercado de construção no Brasil, chamam a atenção quando da
descrição dos métodos por seus autores.

Supõe-se que determinada Incorporadora, responsável pela elaboração do projeto


principal, faça a contratação uma Construtora para a execução do projeto de construção de
unidades habitacionais. Supõe-se, ainda, que a Construtora subcontrate outras empresas
para a execução dos projetos hidráulicos, elétrico, telefonia, etc. Em resumo, a
Incorporadora opera de forma horizontalizada, isto é, terceirizando o trabalho de execução
da obra e dos projetos secundários. Nesse caso, se a escolha do método de
compatibilização for o de Engenharia Simultânea, a Incorporadora poderá estar diante de
graves problemas relacionados à coordenação adequada dos diversos projetos que
comporão o projeto principal. De fato, coordenar uma equipe de profissionais que não está
vinculada a uma única empresa e, cujo comprometimento com o projeto pode ser apenas
parcial, dado que essas empresas podem estar vinculadas, simultaneamente, a outros
empreendimentos; torna a tarefa para o coordenador um autêntico desafio. A falta de
comprometimento por parte dos envolvidos pode comprometer o próprio conceito de
compatibilização. Dessa forma, considera-se que, nesse caso, o método de
compatibilização a ser adotado deveria ser o das Dimensões Possíveis e Fundamentais,
com a figura do compatibilizador sendo exercida por um profissional da incorporadora.

Por outro lado, o comprometimento e o envolvimento com o projeto principal pela


equipe multidisciplinar serão, nessa hipótese, muito mais fácil de serem obtidos, caso a
Incorporadora verticalize o processo de produção, ou seja, a construção e todos os projetos
principais e secundários são executados pela própria empresa ou por empresas controladas
pela incorporadora. Assim, o Método da Engenharia Simultânea seria o mais apropriado,
metas poderiam ser estabelecidas para o grupo multidisciplinar, podendo-se até mesmo
41

estimular o trabalho em equipe por meio de incentivos, tais como gratificação por metas
alcançadas.

Portanto, na ausência de trabalhos acadêmicos que demonstrem a superioridade de


um método sobre o outro, a forma de contratação para a execução do projeto principal pode
ser um dos aspectos de maior relevância na escolha do método apropriado.

5.2. Recomendações para trabalhos futuros

O desenvolvimento deste trabalho propôs uma análise do mercado atual da


Construção Civil Brasileira, da sua forma de encarar o projeto, da demanda de mercado e
dos desafios de incorporadores e construtores em assumir a real necessidade de alterar a
metodologia construtiva, profundamente entranhada no berço da construção civil brasileira.

Como recomendação para futuros trabalhos sugere-se um estudo mais aprofundado


no que diz respeito aos métodos descritos nesse trabalho através de estudos de caso que
possibilitem entender de que maneira construção civil está se transformando e quais os
dificuldades e desafios encontrados para a implantação de determinado modelo de
compatibilização. É importante acompanhar não só as etapas projetuais, como também as
etapas de execução, cada alteração gerada em metodologia de trabalho reflete diretamente
no setor operacional, onde seus agentes devem ser capacitados para acompanhar os
avanços propostos.
42

REFERÊNCIAS

5.3. Referências Bibliográficas

AMORIM, S. R. L.; MELLO, L. C. B. B. O subsetor de edificações da construção civil no


Brasil: uma análise comparativa em relação à União Européia e aos Estados
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FABRICIO, M. M. Projeto simultâneo na construção de edifícios. Dissertação


(Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

FERREIRA, R. C. Os diferentes conceitos adotados entre gerencia, coordenação e


compatibilização de projeto na construção de edifícios. Artigo – São Paulo.

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______ Gestão, cooperação e integração para um novo modelo voltado à qualidade do


processo de projeto na construção de edifícios. Dissertação (Concurso de Livre -
Docência) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.

______ Qualidade do projeto na construção de edifícios: aplicação ao caso das


empresas de incorporação e construção. Dissertação - Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1994.
43

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Qual é a melhor solução? Gestão e Tecnologia de Projetos, 2008.

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5.4. Referencias Normativas

ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR ISO 9000: Sistema de gestão da
qualidade – Fundamentos e vocabulário. Rio de Janeiro, 2000.

NBR ISO 10006: Gestão da qualidade – diretrizes para a qualidade no


gerenciamento de projetos. Rio de Janeiro, 2000.

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