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Fernando Pessoa

Ortónimo e Heterónimos
Fernando Pessoa
ortónimo

Tenho tanto sentimento


Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,


Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira


E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

1. Esclarece as relações de sentido que se estabelecem entre os primeiros


seis versos.

2. Explicita o efeito produzido pela mudança da pessoa verbal da primeira


para a segunda estrofe.

3. Comenta a importância dos três últimos versos na construção do sentido


global do poema.

4. Indica três dos processos utilizados para marcar o ritmo do poema,


fundamentando a resposta com elementos do texto.
Alberto Caeiro

E há poetas que são artistas


E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas! ...

Que triste não saber florir!


Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está! ...

Quando a única casa artística é a Terra toda


Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.

Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira,
E olho para as flores e sorrio...
Não sei se elas me compreendem
Nem sei eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao solo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos
E não termos sonhos no nosso sono.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXVI"

1. Caracteriza, de acordo com o poema, a arte dos “poetas que são artistas” (v. 1).

2. Comenta a expressividade do verso 9, atendendo ao contexto em que se


insere.

3. Esclarece o significado do último verso do poema.

4. Comenta a expressividade do uso do polissíndeto ao longo do poema.


Ricardo Reis

Não tenhas nada nas mãos


Nem uma memória na alma,

Que quando te puserem


Nas mãos o óbolo último,

Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.

Que trono te querem dar


Que Átropos1 to não tire?

Que louros que não fanem


Nos arbítrios de Minos?

Que horas que te não tornem


Da estatura da sombra

Que serás quando fores


Na noite e ao fim da estrada.

Colhe as flores mas larga-as,


Das mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol. Abdica


E sê rei de ti próprio.

1. Explica o sentido das três primeiras estrofes, tendo em conta uma das
ideias filosóficas em que assenta a poesia de Ricardo Reis.

2. Refere o valor expressivo das interrogações retóricas presentes na quarta


e quinta estrofes.

3. Comenta a importância da última estrofe na construção do sentido global


do poema.

4. Indica três dos processos utilizados para marcar o ritmo do poema,


fundamentando a resposta com elementos do texto.

1 Na Mitologia Grega, Atropos também conhecida como Aisa ou Átropos (do grego Άτροπος,
"Sem Retorno") era uma das três Moiras, deusas que regiam os destinos. Era considerada a
mais velha das Moiras, conhecida como a "Inevitável" ou "Inflexível" sendo ela que cortava o
fio da vida.
Álvaro de Campos
1 Não: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!


A única conclusão é morrer.

5 Não me tragam estéticas!


Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!


Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
10 Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.


Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
15 Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?


Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
20 Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!


25 Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —


Eterna verdade vazia e perfeita!
30 Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...


35 E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
Álvaro de Campos, in "Poemas"
1. Caracteriza as atitudes do “eu” face aos outros.

2. Explicita o sentido da pergunta: “Queriam-me casado, fútil, quotidiano e


tributável? “

3. Esclarece a relação estabelecida entre os versos 29, 31 e 32.

4. Interpreta as apóstrofes presentes na penúltima estrofe.

5. Compara a conclusão do poema com o seu início, avaliando o estado de


espírito do “eu” poético.

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