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ENTES FEDERATIVOS E SEUS PODERES

Professor Msc. Paulo Mauricio Sales Cardoso1

PROGRAMA DA DISCIPLINA
UNIDADE I:
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
FORMAS DE ESTADO
CARACTERÍSTICAS DO ESTADO FEDERAL
FEDERAÇÃO BRASILEIRA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988
UNIÃO, ESTADOS-MEMBROS, MUNICÍPIOS, DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
FORMAÇÃO DOS ESTADOS E MUNICÍPIOS
VEDAÇÕES CONSTITUCIONAIS DE NATUREZA FEDERATIVA
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS
COMPETÊNCIA MATERIAL EXCLUSIVA ENUMERADA DA UNIÃO E DO MUNICÍPIO
COMPETÊNCIA MATERIAL EXCLUSIVA RESERVADA DO ESTADO
COMPETÊNCIA MATERIAL COMUM A UNIÃO, ESTADOS, MUNICÍPIOS E DISTRITO FEDERAL
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA DA UNIÃO
DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO PARA OS ESTADOS
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE DA UNIÃO, DOS ESTADOS, E DO DISTRITO
FEDERAL
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA REMANESCENTE DO ESTADO
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA EXCLUSIVA E SUPLEMENTAR DO MUNICÍPIO
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA RESERVADA DO DISTRITO FEDERAL
INTERVENÇÃO
INTERVENÇÃO FEDERAL: HIPÓTESES E PROCEDIMENTOS
INTERVENÇÃO ESTADUAL NOS MUNICÍPIOS E INTERVENÇÃO DA UNIÃO NOS MUNICÍPIOS
LOCALIZADOS EM TERRITÓRIO FEDERAL: HIPÓTESES E PROCEDIMENTOS.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CLASSIFICAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS
ACESSIBILIDADE A CARGOS, EMPREGOS E FUNÇÕES PÚBLICAS: CONCURSO PÚBLICO
SISTEMA REMUNERATÓRIO DO SERVIDOR PÚBLICO
DIREITOS DOS SERVIDORES, GARANTIAS E VEDAÇÕES CONSTITUCIONAIS
LICITAÇÃO PÚBLICA
RESPONSABILIDADE CIVIL DA ADMINISTRAÇÃO
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

1
Possui graduação em Administração Postal pela Escola Superior de Administração Postal (1981), graduação em Direito pelo Centro de
Estudos Superiores do Estado do Pará (1986) e mestrado em Direito pela Universidade Federal do Pará (2000). Atualmente é Analista
Jurídico do Ministério Público do Estado do Pará, Assessor do Colégio de Procuradores de Justiça do Estado do Pará e Professor
Adjunto da Universidade da Amazônia. E_mail: pmscardoso@oi.com.br. Fone: (91) 988433161.
OUTROS PRECEITOS RELATIVOS À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES E DOS ÓRGÃOS AUTÔNOMOS
SEPARAÇÃO DAS FUNÇÕES ESTATAIS: PODER LEGISLATIVO, PODER EXECUTIVO, PODER
JUDICIÁRIO, MINISTÉRIO PÚBLICO E TRIBUNAL DE CONTAS
FUNÇÕES TÍPICAS E ATÍPICAS.
PODER EXECUTIVO
CHEFE DE ESTADO E CHEFE DE GOVERNO
CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE, PROCESSO ELEITORAL, POSSE E VACÂNCIA DA
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
ÓRGÃOS AUXILIARES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA: MINISTROS, CONSELHO DA REPÚBLICA
E CONSELHO DE DEFESA NACIONAL
RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA: PRERROGATIVA DE FORO E
IMUNIDADES
GOVERNADOR DE ESTADO
PREFEITO MUNICIPAL
UNIDADE II:
PODER LEGISLATIVO
ESTRUTURA DO PODER LEGISLATIVO NOS ÂMBITOS FEDERAL, ESTADUAL, MUNICIPAL,
DISTRITAL E DOS TERRITÓRIOS FEDERAIS
COMPOSIÇÃO, SISTEMAS ELEITORAIS, LEGISLATURA E SESSÃO LEGISLATIVA
ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL
COMPETÊNCIA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
COMPETÊNCIA DO SENADO FEDERAL
COMISSÕES PARLAMENTARES
ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS
PROCESSO LEGISLATIVO
ESPÉCIES NORMATIVAS: EMENDA CONSTITUCIONAL, LEI COMPLEMENTAR, LEI ORDINÁRIA,
MEDIDA PROVISÓRIA, LEI DELEGADA, DECRETO LEGISLATIVO, RESOLUÇÃO
CLASSIFICAÇÃO DOS PROCESSOS LEGISLATIVOS
PROCESSO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: FASES INTRODUTÓRIA, CONSTITUTIVA E
COMPLEMENTAR
PROCESSO LEGISLATIVO ESPECIAL DAS LEIS ORÇAMENTÁRIAS
PROCESSO LEGISLATIVO NOS ESTADOS E MUNICÍPIOS
TRIBUNAL DE CONTAS
TRIBUNAL DE CONTAS: TIPOS DE CONTROLE
TRIBUNAL DE CONTAS: SISTEMAS DE CONTROLE EXTERNO
TRIBUNAL DE CONTAS: MODELO DE CONTROLE EXTERNO NO BRASIL
TRIBUNAL DE CONTAS: HISTÓRICO DOS TRIBUNAIS DE CONTAS
TRIBUNAL DE CONTAS: NATUREZA JURÍDICA DOS TRIBUNAIS DE CONTAS
TRIBUNAL DE CONTAS: ORGANIZAÇÃO, COMPOSIÇÃO, SEDE E JURISDIÇÃO DOS TRIBUNAIS
DE CONTAS
TRIBUNAL DE CONTAS: PROCESSO DE ESCOLHA, GARANTIAS, PRERROGATIVAS E
IMPEDIMENTOS DOS MEMBROS
PODER JUDICIÁRIO
ESTATUTO DA MAGISTRATURA
GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO
ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO
PRECATÓRIOS JUDICIAIS
CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO: ESCOLHA DOS MEMBROS
DOS TRIBUNAIS SUPERIORES E DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS JURISDICIONAIS
MINISTÉRIO PÚBLICO
MINISTÉRIO PÚBLICO: ORIGEM HISTÓRICA E DEFINIÇÃO CONCEITUAL
ORGANIZAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
PRINCÍPIOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO
GARANTIAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO
MINISTÉRIO PÚBLICO: VEDAÇÕES CONSTITUCIONAIS
FUNÇÕES INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO
MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO TRIBUNAL DE CONTAS
OUTRAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA
ADVOCACIA
ADVOCACIA PÚBLICA
DEFENSORIA PÚBLICA
UNIDADE I

1. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
Estado
Na perspectiva de Bercovici (Dimoulis: 2012, p. 101), foi Jellinek que abriu
caminho para a doutrina jurídica do Estado, que foi por ele definido como “corporação
territorial dotada de um poder de mando originário”, conceito o qual ressalta os três
elementos do Estado: povo, território e poder.
Características dos Estados
Na doutrina de Alarcón (2014: p. 81-82), os Estados têm as seguintes
características: centralização do poder, institucionalização, coercibilidade, autonomia e
sedentariedade.
A centralização do poder é a qualidade que faz referência à articulação
funcional, à diferenciação de órgãos e serviços, às faculdades conferidas aos indivíduos e
às imposições decorrentes do exercício do cargo público.
A institucionalização refere a necessária distinção entre a autoridade
política [autoridade estatal] e a pessoa que em cada momento da vida do Estado exerce o
cargo público. É que a autoridade pública não se confunde com a pessoa que exerce o
cargo público.
A coercibilidade é o poder de império [de impor a própria vontade], que se
configura no exercício da jurisdição, da administração da justiça, no monopólio da força.
A autonomia é o poder de escolha, a faculdade de escolher os
mecanismos [a estrutura, os programas, os projetos] necessários à concretização dos
objetivos gerais do Estado [o bem comum, a manutenção da paz e da segurança da
sociedade e na sociedade, entre outros].
A sedentariedade que supõe a continuidade da vida estatal, sua
preservação no tempo e no espaço.
Elementos essenciais do Estado
Ainda de conformidade com a doutrina de Alarcón (2014: p. 93-112), os
elementos essenciais do Estado são: soberania, território e povo.
A soberania que se expressa como a condução permanente de qualquer
manifestação de força social ao Estado, que adquire assim personalidade; age como um
sujeito, uma pessoa, com plena capacidade de assumir direitos e obrigações. Compreende
a capacidade de autodeterminação interna e de independência de atuação a nível
internacional.
O território entendido, na perspectiva política, como o espaço em que o
Estado exerce a soberania; e, na jurídica, como o âmbito de validade [jurisdição] em que
se aplica a ordem normativa estatal.
O povo que, sob a ótica da ação política, é o agente titular [sujeito ativo]
da soberania nos Estados democráticos de direito e se assume como sujeito de dominação,
que elege um corpo constituinte e decide sobre a forma de ser do Estado. O povo é,
também, o ente legitimador da atividade estatal, pois é dele que se desprende a escolha
dos representantes políticos da cidadania, tanto na esfera do Poder Legislativo
[legisladores] como do Poder Executivo [administradores públicos].
Finalidades do Estado
Ao discorrer sobre as finalidades estatais, Alarcón (2014: p. 113-116)
destaca a classificação de Jellinek que distingue os fins objetivos do estado e os fins
subjetivos.
Os fins objetivos podem ser universais e os particulares. Os fins
universais expressam que o Estado deve cumprir os fins gerais da humanidade, ligados a
uma filosofia da história; os fins particulares representam privativos de cada Estado, que
somente a ele correspondem e que se apresentam como condicionantes da sua situação
histórica.
Os fins subjetivos expõem que a vida do Estado consiste numa série
ininterrupta de ações humanas, logo, os fins do Estado constituem, ao cabo e ao fim, os
fins particulares das pessoas que nele se encontram ou dele dependem.
Adiante, ainda com fundamento na doutrina de Jellinek, trata das teorias
que afirmam um fim único para o Estado, dos fins absolutos, que se subdivide em fins
expansivos e fins limitados do Estado.
Os fins expansivos têm conteúdo “eudemonista utilitário”, expressam que
os fins do Estado se encontram na conquista do bem-estar dos indivíduos e da comunidade,
bem como na realização da moralidade [teorias éticas]; em tal concepção o Estado se
justifica apenas e na medida em que realiza a justiça ou virtude total e atinge esse bem
[eudemonia].
Os fins limitados se apresentam em três formas: 1. O fim do estado é a
segurança dos indivíduos; 2. O fim do Estado é a liberdade humana, seja ela espiritual
[Spinoza], seja privada [Locke]; 3. O fim do Estado é a promoção do direito, é a realização
do direito objetivo [Kant].
2. FORMAS DE ESTADO
Na doutrina de Streck e Morais (2003: p. 159-162), os Estados se
apresentam de duas formas: Estado unitário e Estado federal.
O Estado unitário se caracteriza, politicamente, pela unidade do sistema
jurídico, excluindo qualquer pluralidade normativa e, administrativamente, pela
centralização da execução das leis e da gestão dos serviços. Tem como aspectos positivos:
1. A existência de uma só ordem política e administrativa; 2. O fortalecimento da autoridade
estatal; 3. O reforço da unidade nacional; 4. Uma burocracia única, eficaz e racionalizada;
5. Impessoalidade e imparcialidade no exercício das prerrogativas de governo. E como
negativos: 1. Ameaça à autonomia criadora das coletividades menores com o
desaparecimento dos grupos sociais intermediários asseguradores das liberdades
individuais; 2. Sobrecarga administrativa do poder central; 3. Estancamento do autogoverno
e desvinculação em face dos problemas públicos; 4. Temas de interesse local resolvidos
no plano da legislação nacional; 5. Retardamento das decisões administrativas.
O Estado federal configura um pacto, uma aliança, entre vários Estados,
um processo de descentralização do poder político que implica uma repartição rígida de
competências entre o órgão do poder central, denominado União, e as expressões das
organizações regionais, os Estados-membros, que participam do poder central via
representação.
3. CARACTERÍSTICAS DO ESTADO FEDERAL
3.1. FEDERAÇÃO, ESTADO FEDERAL E FEDERALISMO
Federação
Constitui um tipo de Estado composto que é divisível em partes Internas e
que não unidas entre si por um vínculo de sociedade. O objetivo é manter intactas as
autonomias regionais dos entes federado, tendo como base uma Constituição. Trata-se de
um Estado no qual há uma repartição em unidades autônomas, porém não soberanas,
havendo relativa descentralização com a reunião de diversas coletividades que formam,
inobstante, uma só população.
Estado federal
É formado pela reunião de dois ou mais Estados, mantendo cada um deles
a sua autonomia no âmbito interno, mas representados externamente por um governo
central, o chamado governo federal ou União. Pressupõe o reconhecimento da existência
de forças distintas do poder central que têm sua própria sustentabilidade e reclamam um
campo próprio de atuação jurídico política como, por exemplo, a possibilidade de criar por
si mesmo normas jurídicas. Trata-se de uma forma de Estado em que o poder é dividido
entre uma ordem jurídica central e várias ordens jurídicas regionais (MOTTA; BARCHET,
2007, p. 419).
Federalismo
Não é redutível a uma noção puramente jurídica, devendo ser entendido
como uma associação política dentro do próprio Estado, respondendo, entre outras, às
seguintes necessidades:
I. organizar política e racionalmente grandes espaços geográficos,
incorporando relações de paridade entre suas distintas unidades (entes federados), em
substituição às relações de subordinação típicas dos Estados unitários;
II. integrar os diversos entes federados, dotados de autonomia, em uma
entidade una (União), salvaguardando suas peculiaridades regionais; e
III. dividir o poder para salvaguardar a liberdade e garantir o
desenvolvimento integrado das unidades autônomas.
Assim, federalismo é uma forma de governo, baseada em um certo modo
de distribuir e exercer o poder político numa sociedade, sobre um determinado território,
que resulta da necessidade de preservar a diversidade de culturas ou da constatação das
origens diferenciadas da história e das tradições políticas dos Estados-membros,
necessitando, portanto, de um estatuto que garanta a autonomia local.
3.2. SURGIMENTO DA FEDERAÇÃO NO ESTADO MODERNO
A Federação norte-americana é oriunda das 13 colônias inglesas que se
tornaram independentes e se fundiram, dando origem aos Estados Unidos da América.
Com a fusão, formularam a Constituição Federal, impondo a superioridade da União em
face dos Estados-membros.
Para ocorrer a unificação, cada Estado-membro “abriu mão” de uma
parcela de seu poder repassando-o à União. Assim, esta passou a deter uma esfera de
poder e a representar a coletividade dos Estados federados.
3.3. TIPOLOGIA
Federalismo por agregação.
Refere a reunião de vários Estados para a formação de um novo Estado,
um Estado federal. Os Estados Unidos da América configuram uma federação instituída por
agregação.
Federalismo por desagregação.
Neste modelo, um Estado unitário se descentraliza e forma um Estado
federal. A federação brasileira foi criada por desagregação.
Federalismo dual.
Alude um Estado federal caracterizado por uma rígida separação de
competências entre o ente central (união) e os entes regionais (estados-membros).
Federalismo cooperativo.
Sistema em que não há uma separação rígida de competências entre os
entes federados, justamente para promover aproximação, cooperação entre a união e os
estados-membros.
Federalismo simétrico.
É caracterizado pela igualdade formal, eis que os estados-membros são
rigorosamente iguais em termos de representação no legislativo do Estado federal.
Federalismo assimétrico.
Há um certo balanceamento das diferenças naturalmente existentes, a
partir de fatores socioeconômicos ou mesmo territoriais.
Federalismo orgânico.
Caracterizado pela prevalência do poder central, eis que os estados-
membros são vinculados ao modelo estabelecido para a união; nele, a “Lex Mater” procura
disciplinar o modo de gestão dos estados-membros, reduzindo, assim, a autonomia destes.
Federalismo de integração.
Há uma centralização do poder na união, com a imposição aos estados-
membros do modelo adotado para o ente central. Nele, há uma tendência de estabelecer
um Estado unitário descentralizado e não em Estado federal.
Federalismo de equilíbrio.
Busca estabelecer mecanismos que mantenham o delicado equilíbrio dos
entes federados, a partir de políticas de incentivos fiscais, redistribuição de rendas.
3.4. CARACTERÍSTICAS
Rigidez constitucional.
O pacto federativo está alicerçado em uma constituição rígida, cujo
processo de modificação é mais severo do que o previsto para a alteração das normas
infraconstitucionais.
Poder constituinte derivado decorrente.
A autonomia conferida aos estados-membros de uma federação é
materializada na prerrogativa conferida a estes de elaborarem suas próprias constituições;
em assim agindo, os princípios estruturantes da constituição federal, pelo princípio da
simetria das formas, devem ser observados pelas ordens estaduais.
Indissolubilidade do pacto federativo.
Característica basilar dos estados federados, configura a inexistência do
direito de secessão pelos estados-membros.
Representação dos Estados-membros.
A federação apresenta como um dos seus requisitos a participação da
vontade dos estados-membros na elaboração das normas gerais, base sobre a qual se
estruturou o Poder Legislativo bicameral; de um lado tem-se uma casa representativa da
vontade popular; de outro lado uma casa representativa da vontade dos entes federados;
Tribunal constitucional.
A manutenção do pacto federalista pressupõe a existência de um tribunal
constitucional, encarregado de dizer o direito quando houver dúvida acerca das
competências de determinado ente federado ou mesmo em caso de violação da forma
federativa.

4. FEDERAÇÃO BRASILEIRA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988


4.1. FORMAÇÃO HISTÓRICA
O federalismo brasileiro, ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos
da América, que resultou da fusão das treze ex-colônias inglesas, foi formado a partir da
ordem centralizada adotada no Império (Estado Unitário).
A República Federativa foi instaurada no Brasil, provisoriamente, por meio
do Decreto n° 1, de 15 de novembro de 1889, baseada nas reivindicações do Manifesto
Republicano de 1870, pondo fim ao período imperial no território brasileiro.
Em 24 de fevereiro de 1891 foi promulgada a primeira Constituição dos
Estados Unidos do Brasil que, ao institucionalizar a Federação, seguiu o modelo do
federalismo dualista. A Lei Maior, ainda, estabeleceu que o Brasil se compunha de vinte
Estados-membros, derivados das províncias, além do Rio de Janeiro, a primeira Capital da
República, como Distrito Federal.
Na Primeira República, não houve uma congregação do direito brasileiro.
O ponto relevante, em sentido contrário, foi a edição do Código Civil de 1916, instituindo
para todo o território nacional um direito substantivo único, enquanto o direito processual
ficou ao talante de cada Estado-membro. O governo federal, entretanto, indiretamente
controlava-os, restringindo-lhes a autonomia.
4.2. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
A Carta Magna atual consagrou a união indissolúvel dos Estados-membros,
base do federalismo, acrescentando o Municipalismo, com ampla descentralização das
competências. Difere assim das outras Constituições, evidenciando três esferas de poder:
a ordem nacional, representada pela União; a ordem regional, os Estados; e a ordem locais,
os Municípios. Foi implantado, assim, um federalismo real e efetivo no Brasil.
Com efeito, a Constituição atual disseminou competências e poderes entre
os entes políticos (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios), todos dotados
de autonomia política, administrativa e tributária. Os Municípios adquiriram a qualidade de
entes federados que não possuíam.
No sistema vigente, a União vem a ser o governo comum ou geral, a cujo
cargo ficou confiada, no interesse de toda a coletividade, certa ordem de negócios, da mais
alta monta e de difícil ou impossível gestão pelos Estados-membros isoladamente, com
vantagem para estes e para a federação como um todo (relações exteriores, exército,
armada, guerra, comércio marítimo, internacional, dívida pública nacional...).
A Constituição é rígida, dispondo o art. 60 sobre a tramitação das Emendas
Constitucionais, espécie normativa que materializa o poder constituinte reformador.
Já o art. 25 da Carta Política combinado com o art. 11, “caput”, dos Atos
das Disposições Constitucionais Transitórias, conferiu aos Estados-membros o poder de
auto-organização por meio de Constituições Estaduais, limitado esse pela observância dos
princípios consagrados na Lei Maior.
A Lei Maior brasileira consagrou a indissolubilidade do pacto federativo no
“caput” do art. 1º, alocando-o ainda como um dos motivos para a intervenção federal no inc.
I do art. 34. O Senado Federal é o órgão de representação dos Estados-membros no
Congresso Nacional, daí decorrendo a formação paritária de tal colegiado, cabendo a cada
unidade federada a eleição de três senadores.
A Carta Magna consagrou o Supremo Tribunal Federal como o guardião da
Constituição, sendo-lhe reservado o poder de declarar a constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade das normas quer pelo controle concentrado quer pelo controle difuso.
Assim, na ordem implantada, vários Estados instituíram-se no solo
nacional, a pátria não se cindiu, consta deles todos, é uma só e continua como tal. O mesmo
território, um só país, todo ele uma nação só, a livre terra de livres irmãos da canção
nacional, sem distinções bairristas e em inteira união de sentimentos e identidade de
aspirações.
5. UNIÃO, ESTADOS-MEMBROS, MUNICÍPIOS, DISTRITO
FEDERAL E TERRITÓRIOS
5.1. ENTES FEDERADOS: ESTRUTURA
A organização político-administrativa do Estado brasileiro é federal. A
Federação foi formalizada no Brasil junto com a República, em 1889. As províncias do
Império foram transformadas nos Estados da República, ganhando autonomia.
A República Federativa do Brasil, assim, é o Estado brasileiro, pessoa
jurídica reconhecida internacionalmente, dotada de soberania.
O pacto federativo brasileiro é indissolúvel (cláusula pétrea). Em outras
palavras, não se admite às unidades federadas o direito de secessão.
A indissolubilidade da Federação brasileira, assim, encontra amparo no
caput do artigo 1° da Lei Maior e vem garantida, ainda, pelo inciso I do artigo 34 desta, que
elenca como um dos motivos para a intervenção federal a tentativa de quebra de tal
indissolubilidade. Isso não significa que há hierarquia entre os Entes federados, mas sim
partilha de competências.
No âmbito federativo, todos os entes são autônomos. Se soberania é poder
de fato, absoluto, de decidir em última instância, autonomia é poder de direito, de agir
conforme as regras preestabelecidas. A autonomia política de que goza a União, assim
como os demais Entes federados, implica em auto-organização, auto legislação,
autogoverno e autoadministração:
I. auto-organização entendida como a capacidade de estabelecer sua
própria organização, o “modus operandi”;
II. auto legislação compreendida como a competência de legislar;
III. autogoverno como a capacidade de escolher seus representantes
políticos; e
IV. autoadministração como a competência de administrar os recursos
disponíveis.
Na forma do art. 18 da Constituição, a organização político-administrativa
do Estado brasileiro compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
A nova ordem constitucional, assim, estabeleceu o municipalismo, existindo três ordens no
Brasil e não duas, como no caso dos Estados federais.
São entes, portanto, da federação brasileira a União, os Estados-membros,
os Municípios e o Distrito Federal.

UNIÃO
A União não se confunde com a República Federativa do Brasil. Enquanto
esta é dotada de soberania, abrangendo todos os Entes federados; aquela é pessoa jurídica
de direito público interno, dotada de autonomia e do poder de agir dentro dos limites
traçados pela Constituição.
No âmbito organizacional do Brasil, a União apresenta uma dupla face:
I. Entidade federativa dotada de autonomia política: sob tal enfoque, a
União atua no âmbito interno, como uma pessoa jurídica de direito público integrante da
Federação, exercendo a parcela de competência que lhe é deferida pela Lei Maior.
II. Órgão de representação da República Federativa do Brasil: quando
exerce desse papel, a União atua no âmbito externo, na forma do art. 21, incs. I e II da
Constituição, mantendo relações com Estados estrangeiros, declarando guerra e
celebrando a paz, enfim, representando o Estado brasileiro perante a comunidade
internacional, de forma soberana.
Capital Federal.
Brasília é a Capital Federal (§ 1º do art. 18 da Constituição).
Autonomia.
Pelo atributo da auto-organização, é da competência de a União
estabelecer sua própria organização, observando os princípios e diretrizes traçadas na
Constituição.
A capacidade de auto legislação confere à União vasta competência
legislativa, podendo dispor livremente sobre os temas expressamente elencados na
Constituição.
O autogoverno permite à União ter representantes políticos próprios, eleitos
pelo voto popular, na forma da Constituição.
Quanto à autoadministração concede à União a prerrogativa de dispor de
um corpo administrativo próprio, formado pelos servidores públicos, os quais tem o encargo
de manter em funcionamento a chamada Administração Pública Federal.
ESTADOS
Auto-organização.
Os Estados, que compõem a federação brasileira, conforme já visto, gozam
de autonomia, a qual importa em auto-organização. Assim, cada Estado é regido por
Constituição própria, fruto do poder constituinte derivado que lhe é assegurado, bem como
pelas leis que adotar.
A auto-organização é, portanto, um poder limitado e delimitado pela
Constituição da República, que fixa em parte a estruturação estadual.
Os limites ao poder constituinte derivado são os princípios constitucionais:
sensíveis, extensíveis e estabelecidos.
Limites ao poder
constituinte Princípios constitucionais sensíveis: são expressamente
derivado indicados na Constituição como impeditivos da atuação dos
Estados-membros, cuja violação autoriza a intervenção federal
para assegurar a prevalência da ordem constitucional (art. 34, inc.
VII, alíneas “a” a “e” da Lei Maior).
Princípios constitucionais extensíveis (paralelismo, simetria):
são as regras de organização da União, obrigatoriamente
estendidas aos Estados; e
Princípios constitucionais estabelecidos: limitam a autonomia
dos Estados-membros na organização de suas respectivas
estruturas; podem ser expressos e implícitos.
. Expressos: são limitações que constam da Constituição.
Exemplo: Art. 19, incs. I a III da Lei Maior.
. Implícitos: são limitações decorrentes dos princípios adotados
pela Constituição; exemplo: norma que atribua ao Poder
Legislativo Estadual funções típicas de um regime parlamentarista
(aprovar os nomes do secretariado estadual) será inconstitucional,
uma vez que contrasta com o regime político presidencialista
adotado pelo Brasil.

Auto legislação.
Cada Estado pode elaborar suas próprias leis, observados os limites e as
competências fixadas pela Constituição da República.
Autogoverno.
Cada Estado exerce livremente o próprio governo, inclusive e
especialmente quanto aos seus Poderes, além de escolher os próprios representantes
políticos, observando o modelo federal e respeitando o sistema constitucional da separação
dos Poderes e o regime presidencialista de governo.
O Poder Legislativo estadual (art. 27 da Constituição) é unicameral, sendo
exercido pelas Assembleias Legislativas, que, por sua vez, são integradas pelos Deputados
Estaduais.
O Executivo estadual (art. 28 da Lei Maior) segue, em linhas gerais, o
modelo estabelecido para a União.
O Poder Judiciário estadual (art. 125 da Carta Política) é exercido pelo
Tribunal de Justiça de cada Estado e pelos Juízes estaduais, alguns deles dispondo, ainda,
de Tribunal de Justiça Militar Estadual.
Autoadministração.
Cada Estado administra, sem interferência externa, os serviços que lhe são
próprios, organizando-os, mantendo-os e prestando-os por meio de corpo próprio de
servidores públicos.
MUNICÍPIOS
Auto-organização.
Os Municípios também compõem a federação brasileira, embora não
tenham, de fato, representação na elaboração da vontade geral (Senado Federal, no caso
dos Estados-membros). Dessa forma, como se verifica no art. 18 da Lei Maior, tais Entes
integram a ordem administrativa e política, tendo reconhecida a sua autonomia, dentro dos
limites e respeitados os princípios constitucionais.
Na forma do art. 29 da Constituição da República os Municípios reger-se-
ão pelas leis orgânicas que adotarem, aprovadas por dois terços dos membros das
Câmaras Municipais, que as promulgarão, atendidos os princípios das Cartas Magnas
Federal e Estadual respectiva.
Auto legislação.
É facultado a cada Município elaborar sua própria legislação, não podendo,
destarte, inobservar os limites e as competências fixadas pela Constituição.
Inúmeros temas podem ser destacados como de competência municipal,
dada a prevalência do interesse imediato da comunidade local, por exemplo:
a) normas específicas de trânsito, como lei versando acerca do rodízio
para evitar excesso de veículos nas vias urbanas em certo período;
b) zoneamento e ocupação do solo urbano;
c) horário de funcionamento do comércio local; e
d) estabelecimento de uma guarda municipal para proteção de seus bens,
serviços e instalações (art. 144, § 8º da Constituição).
Autogoverno.
Cada Município pode, ainda, organizar-se livremente, inclusive e
especialmente quanto aos respectivos Poderes Legislativo (Câmara Municipal) e Executivo,
devendo escolher diretamente seus representantes, observando o modelo federal e o
estadual, respeitando o sistema constitucional da separação dos Poderes, além do regime
presidencialista de governo.
O Poder Legislativo estadual é unicameral, sendo exercido pelas Câmaras
Municipais, compostas por Vereadores eleitos pelo voto direto, secreto e universal, para
mandato de quatro anos, gozando de imunidade quanto a suas opiniões, palavras e votos
no exercício do mandato e na circunscrição do Município, na forma do art. 29, inc. VIII da
Constituição.
O Poder Executivo municipal é exercido pelo Prefeito, eleito em conjunto
com o Vice-Prefeito do Município, para mandato de quatro anos.
Autoadministração.
Incumbe a cada Município a administração dos serviços que lhe são
próprios, por meio de corpo próprio de servidores públicos, observando os princípios
fundamentais estabelecidos para a Administração Pública em geral, nos arts. 37 a 41 da
Constituição.
DISTRITO FEDERAL
O Distrito Federal possui natureza jurídica de entidade federativa, dotado
de autonomia política, atribuições e receitas próprias.
É reconhecido como ente integrante da Federação, embora não se
enquadre nem como Estado-Membro nem como Município.
Reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo
de dez dias, sendo aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará,
atendidos os princípios da Constituição.
É vedada sua divisão em Municípios.
A eleição do Governador e do Vice-Governador será em dois turnos,
enquanto a dos Deputados Distritais ocorrerá em turno único, coincidindo com a dos
Governadores e Deputados Estaduais.
O número de Deputados Distritais corresponderá ao triplo da representação
do Distrito Federal na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será
acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze.
O mandato dos Deputados Distritais será de quatro anos, aplicando-lhes
as regras da Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades,
remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças
Armadas.
O subsídio dos Deputados Distritais será fixado por lei de iniciativa da
Câmara Legislativa, na razão de, no máximo, setenta e cinco por cento daquele
estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais.
Compete à Câmara Legislativa dispor sobre seu regimento interno, polícia
e serviços administrativos de sua secretaria, e prover os respectivos cargos.
Observados os dispositivos constitucionais pertinentes, o Distrito Federal
pode editar livremente as normas que regerão os temas em relação aos quais tem
competência para legislar.
A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo do Distrito
Federal.
Lei Federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Distrito Federal,
das polícias civil e militar e do corpo de bombeiro militar.
O Poder Legislativo distrital é exercido pela Câmara Legislativa, composta
de Deputados Distritais.
O Poder Executivo distrital é atribuição do Governador do Distrito Federal,
auxiliado pelos Secretários Distritais.
O Poder Judiciário distrital é da responsabilidade do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios.
Incumbe ao Distrito Federal a administração dos serviços que lhe são
inerentes, por meio de corpo próprio de servidores públicos, observando os princípios
fundamentais estabelecidos para a Administração Pública em geral.
5.2. FORMAÇÃO DOS ESTADOS E MUNICÍPIOS
Estados
Na forma do § 3º do art. 18 da Constituição, os Estados podem incorporar-
se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos
Estados ou Territórios Federais.
Para tanto, dois requisitos são constitucionalmente previstos:
a) aprovação da população diretamente interessada, mediante plebiscito;
como população interessada, entende-se aquela residente no território; e
b) lei complementar, do Congresso Nacional.
Municípios
A criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municípios (§ 4º do
art. 18 da Constituição) far-se-á por lei estadual, dentro do período determinado por lei
complementar estadual, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às
populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade
Municipal, apresentados e publicados na forma da lei.
5.3. VEDAÇÕES CONSTITUCIONAIS DE NATUREZA FEDERATIVA
As vedações constitucionais de natureza federativa constam do art. 19 da
Carta Republicana, segundo o qual os Entes federados não podem:
a) Estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-
lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência
ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.
b) Recusar fé aos documentos públicos.
c) Criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.
6. REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS
COMPETÊNCIAS
Questão de suma importância para o entendimento do Estado Federal
brasileiro é o sistema de partição de competências. O que é da responsabilidade, na forma
da Constituição da República, a cada Ente federado.
No modelo político implantado a partir de 1988, se apresentam
competências de legislar, de administrar e de julgar, vinculadas aos Poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário, respectivamente.
As legislativas representam a capacidade de legislar, atribuída ao Poder
Legislativo. Se subdividem em privativas, concorrentes, suplementares e supletivas.
Competências
Privativas: são atribuidas à União que pode delegá-las aos
legislativas
Estados ou ao Distrito Federal; no modelo brasileiro vigente, a
delegação somente pode ser efetivada se houver disposição
constitucional expressa.

Concorrentes: reservadas à União que, na forma da Constituição


da República, tem a faculdade de estabelecer normas gerais sobre
determinados assuntos, válidas para todo o território nacional.

Suplementares: da atribuição dos Estados e do Distrito Federal,


desdobram as normas gerais editadas pela União (competência
concorrente) em específicas, para atender as particularidades de
cada Estado ou do Distrito Federal.

Supletivas: também atribuidas aos Estados e ao Distrito Federal,


representam a capacidade de legislar plenamente (normas gerais e
específicas) sobre os assuntos inseridos nas competências
concorrentes da União, enquanto esta não editar as respectivas
normas gerais; quando ela o fizer, a lei federal suspenderá a
eficácia das normas gerais estaduais ou distrital porventura
editadas, naquilo que lhe for contrário.

As competências administrativas ou materiais representam a capacidade


de desempenhar tarefas e serviços públicos constitucionalmente cominadas ao Poder
Executivo de cada Ente Federado. Se subdividem em exclusivas e comuns.
Competências Exclusivas: são atribuidas a determinado Ente federado e somente
materiais ele poderá exercê-las; não é admissível a delegação.
Comuns: da responsabilidade de todos os Entes federados; cada
um deles restrito ao campo de sua influência.

As competências judiciais representam a capacidade de julgar, de dirimir


os conflitos intersubjetivos de interesses, atribuição do Poder Judiciário.
Encontram-se, ainda, competências residuais, implícitas e tributárias.
Outras Residuais: atribuidas aos Estados-membros, a quem cabe atuar
competências dos assuntos que não forem da competência da União nem dos
Municípios.
Implícitas: embora não expressamente previstos da Constituição
da República, os assuntos de interesse nacional são da
competência da União e os de interesse local da responsabilidade
dos Municípios.
Tributárias: representam a capacidade de instituir tributos
(impostos, taxas e contribuições de melhoria, na forma e nos limites
estabelecidos na Constituição da República.

A “Lex Mater” brasileira adotou dois critérios para a repartição de


competências: o horizontal e o vertical.

COMPETÊNCIAS

HORIZONTAL VERTICAL

Exclusivas Privativas Comuns Concorrentes

Suplementares

Supletivas

Pelo critério horizontal, fez a distribuição do poder político no território


nacional, base do Estado Federal. São as competências exclusivas, privativas e comuns
arrogadas aos Entes federados.
Pelo critério vertical, adotou a técnica da prevalência do interesse; a
legislação federal concorrente – normas gerais – é prevalente em relação à dos demais
Entes federados.
COMPETÊNCIAS DA UNIÃO

COMPETÊNCIAS
UNIÃO

MATERIAIS LEGISLATIVAS

Exclusivas Concorrentes

Comuns Privativas

I. Materiais exclusivas (art. 21 da Constituição): são competências


reservadas à União de natureza internacional (incs. I a IV), política (incs. V e XVII),
financeira e monetária (incs. VII e VIII), administrativa (incs. VI, XIII a XVI, XIX, XXII e XXIV),
matéria urbanística (incs. IX, XX e XXI), econômica (incs. IX, segunda parte, e XXV),
prestação de serviços (incs. X a XII e XXIII) e social (incs. IX, segunda parte, e XVIII). Não
podem ser delegadas.
II. Materiais comuns (art. 23 da Constituição): representam a capacidade
administrativa da União, sem qualquer validez no âmbito dos Estados e Municípios. Cabe
ressaltar que é admissível a fixação de normas para a cooperação entre os Entes
federados, “tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito
nacional”, por lei complementar (parágrafo único).
III. Legislativas concorrentes (art. 24 e § 1ª da Constituição): importam
na prerrogativa conferida à União de legislar sobre assuntos expressamente definidos na
Constituição da República, cujas normas gerais obrigam a todos os Entes Federados e as
específicas restringem-se à área de influência da própria União.
IV. Legislativas privativas (art. 22 da Constituição): atribuídas à União de
legislar sobre determinados e específicos assuntos, com validade para todo o território
nacional. É permitida a delegação aos Estados-membros e Distrito Federal, por lei
complementar, da capacidade de legislar “sobre questões específicas” relacionadas às leis
editadas pela União no uso de sua competência privativa (parágrafo único).
COMPETÊNCIAS DOS ESTADOS
COMPETÊNCIAS
ESTADOS

MATERIAIS LEGISLATIVAS

Exclusiva Residual

Comuns Concorrentes

Residual Suplementares

Supletivas
I.

I. Materiais exclusivas (§§ 2º e 3º do art. 25 da Lei Maior): configuram a


capacidade atribuída a cada Estado de tratar com exclusividade de específicos assuntos.
II. Materiais comuns (art. 23 da Constituição): referem a capacidade
administrativa dos Estados, sem qualquer validez no âmbito dos Municípios. Conforme já
ressaltado, lei complementar federal pode fixar normas para a cooperação entre os Entes
federados, “tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito
nacional” (parágrafo único).
III. Residual (§ 1º do art. 25 da Lei Maior): atribuída aos Estados que
podem legislar e administrar assuntos que não sejam reservados constitucionalmente à
União nem aos Municípios.
IV. Legislativas suplementares (art. 24 e § 2º da Lei Maior): conferem
aos Estados a capacidade de desdobrar a legislação federal concorrente em normas
específicas, desde que observadas as normas gerais editadas pela União.
V. Legislativas supletivas (art. 24 e §§ 3º e 4º da Lei Maior): confiam aos
Estados o poder de legislar plenamente (normas gerais e específicas) sobre os assuntos
enumerados no art. 24 da Lex Mater, em caso de omissão da União; suprida esta, as
normas editadas pelos Estados terão a eficácia suspensa, naquilo que contrariarem as
normas gerais constantes da legislação federal.
COMPETÊNCIAS DOS MUNICÍPIOS

COMPETÊNCIAS
MUNICÍPIOS

MATERIAIS LEGISLATIVAS

Exclusiva Exclusiva

Comum Suplementar

I. Materiais exclusivas (arts. 30, incs. III, IV, V, VIII da Constituição): Cabe
tão somente aos Municípios tratar da administração tributária local, incluso a instituição e
arrecadação dos tributos de sua competência; organizar seu território, criando e suprimindo
distritos; organizar e prestar os serviços públicos de interesse local, diretamente ou
mediante concessão ou permissão, incluso o essencial transporte coletivo urbano; e dispor
sobre o ordenamento territorial, com planejamento e controle do uso, parcelamento e
controle do solo urbano.
II. Materiais comuns (art. 23 da Constituição): Exercidas de igual modo
aos demais Entes Federados, cada qual no âmbito da respectiva jurisdição.
III. Legislativa exclusiva (art. 30, inc. I da Constituição): Aos Municípios
cabe legislar sobre assuntos de interesse local.
IV. Legislativa suplementar (art. 30, inc. II da Carta Política): Podem,
também, os Municípios suplementar a legislação federal e estadual, para satisfação do
interesse local.
COMPETÊNCIAS DO DISTRITO FEDERAL
O Distrito Federal possui as mesmas competências legislativas, materiais
e tributárias reservadas aos Estados e Municípios, ou seja:
I. materiais exclusivas (§§ 2º e 3º do art. 25 da Lei Maior);
II. materiais comuns (art. 23 da Constituição);
III. residual (§ 1º do art. 25 da Lei Maior);
IV. material exclusiva (arts. 30, incs. III, IV, V, VIII da Constituição);
V. material comum (art. 23 da Constituição);
VI. legislativa exclusiva (art. 30, inc. I da Constituição); e
VII. legislativa suplementar (art. 30, inc. II da Carta Política).
É que, como não pode ser subdividido em Municípios, o Distrito Federal
trata tanto dos interesses regionais como dos interesses locais.
7. INTERVENÇÃO
7.1. ESTADOS DE LEGALIDADE EXTRAORDINÁRIA
No modelo Constitucional brasileiro atual, a antiga ideologia da segurança
nacional foi substituída por uma concepção de defesa do próprio Estado Democrático de
Direito. Defesa do Estado entendida como defesa do território contra invasão estrangeira;
defesa da soberania nacional; defesa da Pátria; não mais deste ou daquele regime político
ou de uma particular ideologia ou de um grupo detentor do poder.
A Lei Maior que prescreve os mecanismos de salvaguarda da ordem
jurídica para os momentos de grave crise institucional, mediante a suspensão ou a restrição
de diversos direitos individuais. É o sistema constitucional de crises.
A intervenção, o estado de defesa e o estado de sítio representam formas
excepcionais e transitórias de preservação da ordem em face de crise institucional de
natureza grave, com o fortalecimento do poder do Estado (Poder Executivo) e a restrição
ou suspensão de alguns ou mesmo todos os direitos individuais.
Estão sujeitos aos princípios da necessidade, temporariedade e
proporcionalidade.
Princípios Necessidade: condiciona a adoção do sistema de legalidade
informadores especial às hipóteses expressamente previstas na Constituição; sua
violação equivale a um golpe de estado.
Temporariedade: com base nele, somente é admissível a
decretação do sistema de legalidade extraordinária por período
definido; Sua não-observância origina uma ditadura.
Proporcionalidade: corolário do princípio do devido processo legal,
prescreve que deve existir uma correlação direta entre os fatos
justificadores do estado de exceção e as medidas de salvaguarda
adotadas.
Tais mecanismos de defesa compõem o estado de legalidade especial ou
extraordinária, denominação dada ao regime que vigora nos momentos da grave crise
institucional, o qual substitui o de legalidade ordinária comumente adotado.
7.2. INTERVENÇÃO FEDERAL
O instituto da intervenção federal, consagrado no texto de todas as
Constituições republicanas brasileiras, representa um elemento fundamental, tanto na
construção da doutrina do Estado Federal, quanto na práxis do federalismo.

O mecanismo da intervenção federal constitui um instrumento essencial à


viabilização do próprio sistema federativo, e, não obstante o caráter excepcional de sua
utilização (necessariamente limitada às hipóteses taxativamente definidas na Carta
Política) mostra-se impregnado de múltiplas funções de ordem político-jurídico, destinadas
a: tornar efetiva a intangibilidade do vínculo federativo; fazer respeitar a integridade
territorial das unidades federadas; promover a unidade do Estado Federal; e preservar a
incolumidade dos princípios fundamentais proclamados pela Constituição da República.
A intervenção federal, na realidade, configura expressivo elemento de
estabilização da ordem normativa plasmada na Carta Política. É-lhe inerente à condição de
instrumento de defesa dos postulados sobre os quais se estrutura, em nosso País, a ordem
republicano-federativa.
Cabe destacar que, com fundamentação na necessidade de respeito ao
princípio federativo, o instituto da intervenção federal é aplicável excepcionalmente, em face
do caráter extremamente perturbador que assume qualquer interferência do Governo
Federal nos assuntos regionais e na esfera de autonomia dos Estados-membros.
Ainda mais, não se pode perder de perspectiva a circunstância de que a
intervenção federal representa, ainda que transitoriamente, a própria negação da
autonomia institucionalmente reconhecida aos Estados-membros pela Lei Maior da
República.
Daí a estrita disciplina imposta pela Constituição ao instituto jurídico da
intervenção federal, cujos requisitos de admissibilidade foram por ela taxativamente
relacionados em “numerus clausus”, obséquio ao princípio maior da autonomia das
unidades federadas e consideração ao caráter absolutamente excepcional de que se
reveste o ato interventivo.
Vê-se, portanto, que o tratamento restritivo constitucionalmente dispensado
ao mecanismo da intervenção federal impõe que não se ampliem às hipóteses de sua
incidência, cabendo ao intérprete identificar, no rol exaustivo do art. 34 da Carta Política,
os casos únicos que legitimam, em nosso sistema jurídico, a decretação da intervenção
federal nos Estados-membros.
I. Hipóteses (art. 34 da Constituição)
A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
a) manter a integridade nacional;
b) repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
c) pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
d) garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da
Federação;
e) reorganizar as finanças da unidade da Federação que: suspender o
pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força
maior; deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas na Carta Política dentro
dos prazos estabelecidos em lei;
f) prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; e
g) assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis.
II. Princípios constitucionais sensíveis (art. 34, inc. VII da Lei Maior)
Os chamados princípios constitucionais sensíveis também configuram
hipóteses autorizadoras da intervenção federal nos Estados-membros, em caso de sua
inobservância. Não se confundem com as cláusulas pétreas, núcleo imutável da
Constituição. São eles:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta; e
e) aplicação do mínimo exigido na receita resultante de impostos
estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
III. Tipos
Há dois tipos de intervenção federal, a espontânea e a provocada.
Intervenção Espontânea: é ato discricionário do presidente da República, nas
federal hipóteses constitucionalmente previstas, com posterior apreciação
Tipos pelo Congresso Nacional.

Provocada: é ato de iniciativa exclusiva do ente Federado coacto ou


impedido, nas situações expressamente dispostas na Constituição da
República. Subdividi-se em: por solicitação e por requisição.

IV. Processo de intervenção federal espontânea


O processo de intervenção espontânea envolve quatro fases distintas, a
iniciativa, a edição do decreto interventivo e a execução das medidas, o controle e a
cessação.
A iniciativa é o passo inicial, de competência do Presidente da República,
que decide administrativamente, “ex officio”, se decreta a intervenção federal. A decretação
está vinculada às seguintes hipóteses, taxativamente enumeradas na Constituição da
República:
a) manutenção da integridade nacional (art. 34, inc. I);
b) repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra
(art. 34, inc. II);
c) pôr termo a grave comprometimento da ordem pública (art. 34, inc. III);
e
d) reorganizar as finanças de unidade da Federação nas hipóteses
elencadas nas alíneas "a" e "b" do inc. V do art. 34.
A edição do decreto interventivo e a execução das medidas é uma fase
executiva, da responsabilidade do presidente da República e, se necessário, de um
interventor por ele nomeado. Antes de decretá-la, ele ouvirá os Conselhos da República e
o de Defesa Nacional, cuja opinião não é vinculante. A formalização ocorre pela emissão
de decreto presidencial, o qual, observados os critérios da necessidade e da
proporcionalidade em relação à lesão institucional, especificará a amplitude, o prazo e as
condições de execução e, se necessário, afastará as autoridades locais e nomeará
temporariamente um interventor (§ 1º do art. 36).
Emitido o Decreto, será ele submetido à apreciação do Congresso
Nacional, em vinte e quatro horas (§ 1º do art. 36, parte final), sendo este convocado
extraordinariamente se não estiver funcionando, no mesmo prazo de vinte e quatro horas
(§ 2º do art. 36). É o controle político. Ao Parlamento federal cabe realizá-lo, podendo
rejeitar ou, mediante decreto legislativo, aprovar a intervenção federal (art. 49, inc. IV).
Rejeitada a medida de exceção, o presidente da República deverá cessá-la imediatamente,
sob pena de incorrer na prática de crime de responsabilidade (art. 85, inc. II). Cabe, ainda,
à Casa do Povo, existindo qualquer vício de forma ou eventual desvio de finalidade na
medida de exceção, suspendê-la a qualquer tempo (art. 49, inc. IV).
Há, também, o controle jurisdicional, exercido pelo Poder Judiciário. Por se
caracterizar a intervenção como um ato de natureza eminentemente política, esse controle
se restringe às hipóteses de violação das regras previstas na Constituição da República.
A cessação é a fase final, quando não mais necessária a continuidade do
processo interventivo. Cessados os motivos da intervenção federal, as autoridades
afastadas de seus cargos a estes retornarão, salvo impedimento legal (§ 4º do art. 36).
V. Processo de intervenção federal provocada por solicitação
O processo de intervenção provocada por solicitação difere do processo de
intervenção espontânea especificamente na fase de iniciativa que, embora da competência
administrativa do presidente da República, este somente poderá decretá-la após receber
solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido.
Com efeito, na forma da Constituição da República, cabe a intervenção
federal para garantia do livre exercício de qualquer dos Poderes (art. 34, inc. IV, c/c art. 36,
inc. I), por solicitação do Poder coacto ou impedido.
O restante do processo (decreto interventivo e execução das medidas,
controle e cessação) obedece aos mesmos passos da intervenção espontânea.
VI. Processo de intervenção federal provocada por requisição
O processo de intervenção provocada por requisição também envolve
fases distintas, entretanto, se diferencia das demais pelo caráter mandamental da
requisição e pela existência, em algumas hipóteses, de um procedimento judicial prévio.
Com efeito, na forma da Carta Política brasileira, cabe intervenção federal:
a) para garantia do livre exercício de qualquer dos Poderes (art. 34, inc.
IV, c/c art. 36, inc. I), por requisição do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida
contra o Poder Judiciário;
b) por desobediência à ordem ou decisão judiciária (art. 34, inc. VI, parte
final, c/c art. 36, inc. II), por requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal
de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral; e
c) para assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis
(art. 34, inc. VII, alíneas “a” a “e”, c/c art. 36, inc. III) e por recusa à execução de lei federal
(art. 34, inc. VI, primeira parte, c/c art. 36, inc. III, parte final), por representação do
Procurador-Geral da República, provida pelo Supremo Tribunal Federal.
Nas hipóteses tratadas na alínea “c” retro, a representação do Procurador-
Geral da República toma a forma de Ação de Executoriedade de lei federal ou Ação Direta
de Inconstitucionalidade Interventiva (art. 36, inc. III da Lex Mater). Em ambas as situações,
apenas o julgamento favorável pelo Supremo Tribunal Federal viabilizará o prosseguimento
da medida de exceção, com o encaminhamento do processo ao presidente da República
para fins de emissão do decreto interventivo.
Quando a medida de exceção se fundar no provimento à execução de lei
federal, ordem ou decisão judicial, bem como na observância dos princípios constitucionais
sensíveis, elencados nas alíneas “a” a “e” do inc. VII do art. 34 da Lex Mater, é dispensada
a apreciação pelo Congresso Nacional do decreto interventivo, limitando-se este a
suspender a execução do ato impugnado, se tal medida for suficiente para restabelecer a
normalidade democrática (§ 3º do art. 36 da Constituição da República).
O controle jurisdicional e a cessação obedecem ao rito já descrito
anteriormente.
7.3. INTERVENÇÃO ESTADUAL
O Estado não intervirá em seus Municípios, exceto quando:
a) deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos
consecutivos, a dívida fundada;
b) não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
c) não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; e
d) o tribunal de Justiça der provimento à representação para assegurar a
observância de princípios indicados na Constituição estadual, ou para prover a execução
de lei, ordem ou decisão judicial.
I. Processo de intervenção estadual espontânea
Conforme a Carta Política brasileira, cabe intervenção estadual nos
Municípios, por iniciativa “ex officio” do governador do Estado, nas seguintes hipóteses:
a) não pagamento da dívida fundada (art. 35, inc. I);
b) deixar de prestar contas (art. 35, inc. II); e
c) não aplicar os recursos em ensino e a saúde (art. 35, inc. III).
A formalização ocorre por meio da emissão de decreto pelo Governador do
Estado o qual, observados os critérios da necessidade e da proporcionalidade em relação
à lesão institucional, especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução e, se
necessário, afastará as autoridades locais e nomeará temporariamente um interventor.
Emitido o decreto, será ele submetido à apreciação da Assembleia
Legislativa, na forma estabelecida na Constituição estadual em vinte e quatro horas (§ 1º
do art. 36, parte final), sendo esta convocada extraordinariamente se não estiver
funcionando, no mesmo prazo de vinte e quatro horas (§ 2º do art. 36).
Cabe à Assembleia Legislativa, na forma da Constituição estadual, realizar
o controle político do ato interventivo. Compete, ainda, a esta, existindo qualquer vício de
forma ou eventual desvio de finalidade na medida de exceção, suspendê-la a qualquer
tempo, na forma estabelecida na Constituição estadual.
II. Processo de intervenção estadual provocada por requisição
Na forma da Constituição da República, cabe intervenção estadual por
representação do Procurador-Geral de Justiça junto ao Tribunal de Justiça do Estado, nas
seguintes hipóteses:
a) assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis
estabelecidos na Constituição estadual (art. 35, inc. IV, primeira parte); e
b) recusa à execução de lei, ordem ou decisão judicial (art. 35, inc. IV, parte
final).
Em tais casos, apenas o julgamento favorável da representação
interventiva oposta pelo Procurador-Geral de Justiça junto ao Tribunal de Justiça do Estado
viabilizará o prosseguimento da medida de exceção, com o encaminhamento do processo
ao governador do Estado para fins de emissão do decreto interventivo.
É dispensada a apreciação pela Assembleia Legislativa, limitando-se o
decreto a suspender a execução do ato impugnado, se tal medida for suficiente para
restabelecer a normalidade democrática.
O controle jurisdicional e a cessação obedecem ao princípio da simetria.
8. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A Administração Pública é o ente estatal encarregado de “administrar” os
negócios de Estado; de gerir o interesse público na forma e nos limites traçados na
Constituição da República e nas leis.
Entendida em sentido lato, a Administração Pública envolve os Poderes
Políticos (Legislativo, Executivo e Judiciário), os Entes federados (União, Estados-
Membros, Distrito Federal e Municípios), quando no exercício da autoadministração, um
dos atributos da autonomia constitucionalmente assegurada a tais pessoas de direito
público interno.
Classificação
A Administração Pública pode ser classificada em direta e indireta.
A Administração Pública direta é composta pelos órgãos diretamente
vinculados aos Entes federados. No âmbito federal, os ministérios, as secretárias e
respectivas subdivisões internas bem como a estrutura administrativa do Congresso
Nacional, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, do Ministério Público e
do Tribunal de Contas da União. No âmbito estadual as secretarias de estado e respectivas
subdivisões internas, bem como a estrutura administrativa das assembleias legislativas,
dos tribunais de justiça dos estados, dos ministérios públicos estaduais e dos tribunais de
contas. No âmbito municipal as secretarias municipais e respectivas subdivisões internas,
bem como a estrutura administrativa das câmaras de vereadores e dos tribunais de conta,
estes últimos quando existentes.
A Administração Pública indireta é composta pelos órgãos indiretamente
vinculados aos Entes federados. São as autarquias, as fundações e as empresas estatais
(empresas públicas, sociedades de economia mista e suas subsidiárias).
8.1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O art. 37 da Carta Republicana estabelece os princípios a que está sujeita
a Administração Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Pelo princípio da legalidade, na doutrina de Tavares (2012: p. 1337),
“ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei,
absolutamente livre na falta da lei”; a Administração Pública2, no entanto, “só pode atuar
em havendo previsão legal expressa”.
A impessoalidade veda privilégios em razão da pessoa. Tavares (ob. cit.:
p. 1340-1342) analisou o tema sob duplo enfoque. De um lado a impessoalidade impede “o
tratamento desigual baseado em critério pessoal”; inadmite “benefícios ou encargos
atribuídos desigualmente para certas pessoas”. De outro lado, impõe-se à Administração
Pública “para evitar que esta apresente-se com a marca pessoal do ocupante momentâneo
do poder ou outra fórmula de identificação de sua pessoa”.
A moralidade está relacionada à conduta proba e íntegra do agente
público. Tavares (ob. cit.: p. 1337-1339) afirmou que a moralidade administrativa é
“composta... pelas regras de boa administração, de exercício regular do múnus público, de
honestidade, de boa-fé, de equidade, de justiça, e regras de conduta extraíveis da prática
interna da Administração”. Discorreu, ademais, sobre a violação do princípio e destacou o
seguinte: 1. relaciona-se “à noção de desvio de poder”, quando “o administrador se vale
de meios lícitos para alcançar fins não perseguidos pelo Direito, de forma que sua intenção
seria imoral”; 2. a improbidade3 configura “uma especial ou qualificada forma de

2 Sobre a relativização do princípio, em relação à Administração Pública, cabe destacar: 1. somente “o Chefe
do Executivo pode ordenar o descumprimento de lei por vício de inconstitucionalidade”; e 2. a inobservância
“à lei é feita sob conta e risco daquele que a assume como inconstitucional” (ob. cit.: p. 1337).
3 “O ato de improbidade pode causar um dano material ao patrimônio público, com o consequente
enriquecimento (ilícito) do agente ou daquele por este protegido, ou não, como nas hipóteses indicadas pelo
art. 11 da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92), que contempla uma seção dedicada aos atos
imoralidade”.
A publicidade configura a transparência na gestão pública e garante o
amplo acesso aos atos e processos administrativos. Ao tratar desse dúplice papel, Tavares
(ob. cit.: p. 1342) ressaltou: 1. pela exigência dela “obtém-se a necessária transparência
dos atos administrativos”, eis que veda ao administrador público “guardar sigilo das
atividades administrativas em geral”; e 2. “o princípio da publicidade assegura a todos o
direito de acesso à atividade administrativa”, nos termos no inc. XXXIII, do art. 5º, da
Constituição Federal.
A eficiência expressa a racionalidade no cumprimento dos fins a que se
propõe a Administração Pública. Ainda Tavares (ob. cit.: p. 1342) aloca “a busca da
economicidade na Administração” como “um dos aspectos mais salientes do princípio da
eficiência”.
8.2. CLASSIFICAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS
Na doutrina de Meirelles (2016: p. 79 e ss.), agentes públicos são todas
as pessoas físicas incumbidas, definitiva ou transitoriamente, do exercício de alguma
função estatal. Os agentes públicos, enquanto gênero, subdividem-se em cinco espécies:
agentes políticos, agentes administrativos, agentes honoríficos, agentes delegados e
agentes credenciados.
Os agentes políticos são os componentes do Governo nos seus mais
elevados escalões, investidos em cargos, funções, mandatos ou comissões, por nomeação,
eleição, designação ou delegação para o exercício de atribuições constitucionais. Nesta
categoria encontram-se os chefes do Executivo e seus auxiliares imediatos, os membros
do Poder Legislativo, os membros do Poder Judiciário, os membros do Ministério Público,
os membros dos Tribunais de Contas, os representantes diplomáticos e demais autoridades
que atuem com independência funcional no desempenho de atribuições governamentais,
judiciais ou quase judiciais, estranhas ao quadro do serviço público.
Os agentes administrativos são todos aqueles que se vinculam ao Estado
ou às suas entidades autárquicas e fundacionais por relações profissionais, sujeitos à
hierarquia funcional e ao regime jurídico determinado pela entidade estatal a que servem.
Nesta categoria estão incluídos os servidores públicos concursados, os servidores públicos
exercentes de cargos ou empregos em comissão titulares de cargo ou emprego público e
os servidores temporários [contratados por tempo determinado para atender a necessidade
temporária de excepcional interesse público].

que atentam contra os princípios da Administração Pública (como ‘deixar de prestar contas quando esteja
obrigado a fazê-lo’)” (ob. cit.: p. 1339).
Os agentes honoríficos são cidadãos convocados, designados ou
nomeados para prestar, transitoriamente, determinados serviços ao Estado, em razão de
sua condição cívica, de sua honorabilidade ou de sua notória capacidade profissional, mas
sem qualquer vínculo empregatício ou estatutário e, normalmente, sem remuneração. São
exemplos: jurado, mesário eleitoral, comissário de menores, presidente ou membro de
comissão de estudo ou de julgamento, entre outros.
Os agentes delegados são as pessoas [físicas ou jurídicas] que recebem
a incumbência da execução de determinada atividade, obra ou serviço público e o realizam
em nome próprio, por sua conta e risco, mas segundo as normas do Estado e sob a
permanente fiscalização deste. Nesta categoria estão os concessionários e permissionários
de obras e serviços públicos, os titulares por delegação dos serviços públicos notariais e
de registro, os leiloeiros, os tradutores e intérpretes públicos e as demais pessoas que
recebem delegação para a prática de alguma atividade estatal ou serviço de interesse
público.
Os agentes credenciados são os que recebem a incumbência de
representar a Administração em determinado ato ou praticar certa atividade específica,
mediante remuneração do Poder Público credenciante.
8.3. ACESSIBILIDADE A CARGOS, EMPREGOS E FUNÇÕES PÚBLICAS:
CONCURSO PÚBLICO
O art. 37, incisos I e II da Carta Republicana dispõem sobre o tema. Os
cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os
requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei.
Na doutrina de Meirelles (2016: p. 86 e ss.), todo agente público vincula-se
ao Estado por meio de ato ou procedimento legal a que se denomina investidura, que pode
ser: administrativa [vincula o agente a cargo, função ou mandato administrativo, atendidos
os requisitos de capacidade e idoneidade que a lei estabelecer] ou política [realiza-se, em
regra, por eleição direta ou indireta, mediante sufrágio universal ou restrito a determinados
eleitores, de acordo com a Constituição da República, para mandatos nos Poderes
Legislativo e Executivo]; originária [vincula inicialmente o agente ao Estado, como a
primeira nomeação para cargo público] ou derivada [se baseia em anterior vinculação do
agente com a Administração, como a promoção, a transferência, a remoção, a reintegração,
entre outras]; vitalícia [tem caráter perpétuo, como a dos magistrados], efetiva [tem
presunção de definitividade, para tornar o agente estável no serviço após o estágio
probatório] ou em comissão de natureza transitória, para cargos ou funções de confiança,
sendo o agente exonerável ad nutum, a qualquer tempo e independentemente de
justificativa]; e outras formas temporárias.
A investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei.
As nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração, prescindem de concurso público.
8.4. SISTEMA REMUNERATÓRIO DO SERVIDOR PÚBLICO
O sistema remuneratório do serviço público está previsto no artigo 37,
incisos X a XVII da Carta Republicana.
Assim, a remuneração dos servidores públicos e o subsídio dos agentes
políticos (§ 4º do art. 39) somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica,
observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na
mesma data e sem distinção de índices.
A remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos
públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de
mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie
remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de
qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o
subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador
no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito
do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a
noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite
aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos.
Os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário não
poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Executivo.
É vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies
remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público.
Os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público também não
serão computados nem acumulados para fins de concessão de acréscimos ulteriores.
O subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos públicos
são irredutíveis, com as ressalvas do Texto Constitucional.
8.5. DIREITOS DOS SERVIDORES, GARANTIAS E VEDAÇÕES
CONSTITUCIONAIS
Direitos e garantias
Os servidores possuem os mesmos direitos e garantias dos trabalhadores
do setor privado: salário mínimo; salário nunca inferior ao mínimo para os que percebem
remuneração variável; gratificação natalina (13º salário); remuneração do trabalho noturno
superior ao diurno; salário família para os dependentes; jornada de trabalho não superior a
oito horas diárias e quarenta e quatro semanais; repouso semanal remunerado;
remuneração de serviço extraordinário (horas extras) superior, no mínimo, em cinquenta
por cento à do normal; licença à gestante; licença paternidade; proteção do mercado de
trabalho da mulher; redução dos riscos inerentes ao trabalho; proibição de diferenças
salariais e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; direito de
greve; e direito à sindicalização.
Há, também, na forma da Carta Republicana, das Constituições estaduais
e de leis específicas, direitos pelo exercício de cargos, remuneração, férias, aposentadoria
e outras vantagens [auxilio alimentação, auxilio saúde, auxílio transporte, licença prêmio,
entre outros].
Vedações
É vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando
houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o teto remuneratório
correspondente:
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; e
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com
profissões regulamentadas.
A proibição de acumular estende-se a empregos e funções e abrange
autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista, suas
subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público.
9. LICITAÇÃO PÚBLICA
Na forma do inciso XXI do art. 37 da Carta Republicana, ressalvados os
casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão
contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições
a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,
mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as
exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento
das obrigações.
10. RESPONSABILIDADE CIVIL DA ADMINISTRAÇÃO
Conforme o § 6º do art. 37 da Carta Republicana, as pessoas jurídicas de
direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. É a chamada teoria da
responsabilidade objetiva do estado, sob a modalidade do risco administrativo.
Na doutrina de Meirelles (2016: p. 786-787), incide a responsabilidade
objetiva quando a Administração Pública assume o compromisso de executar determinada
atividade administrativa [prestação de um serviço público, guarda de um bem, condução de
uma viatura, velar pela integridade física de um detento ou educando, entre outras] e o
agente público, por ação ou omissão, causar dano a outrem [pessoa física ou jurídica].
11. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
A improbidade administrativa é configurada pela violação do dever de
probidade [honestidade] por parte do agente público ou terceiro. O tema é tratado nos §§
4º e 5º do art. 37 da Carta Republicana.
Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos
políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao
erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por
qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as
respectivas ações de ressarcimento.
A Lei de Improbidade Administrativa classifica os atos de improbidade
administrativa em três espécies: I) os que importam enriquecimento ilícito; II) os que
causam prejuízos ao erário; e III) os que atentam contra os princípios da Administração
Pública. Para cada espécie, há penalidades previstas, entre as seguintes: perda de bens
ou valores acrescidos ilicitamente, ressarcimento integral do dano, perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos, multa civil, proibição de contratar com o Poder Público ou
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios. Somente ao Poder Judiciário, quando
do julgamento de ação específica, cabe aplicá-las.
12. OUTROS PRECEITOS RELATIVOS À ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA
O art. 38 da Carta Republicana estabelece as condições de afastamento
do servidor público quando eleito para o exercício de mandato eletivo.
O art. 39 dispõe sobre o regime jurídico único e o plano de carreira para os
servidores públicos, em todos os níveis.
O art. 40 trata do regime de previdência de caráter contributivo e solidário,
aplicável aos servidores públicos titulares de cargos efetivos da Administração Direta
[União, Estados, Municípios e Distrito Federal, suas autarquias e fundações].
O art. 41 versa sobre a estabilidade do servidor público efetivo após três
anos de exercício do cargo.
13. ORGANIZAÇÃO DOS PODERES E DOS ÓRGÃOS AUTÔNOMOS
A Carta Republicana brasileira trata da organização do Estado no Título III,
arts. 18 e ss., aduzindo que a organização político-administrativa da República Federativa
do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos
autônomos, nos termos nela [Constituição] estabelecidos.
13.1. SEPARAÇÃO DAS FUNÇÕES ESTATAIS: PODER LEGISLATIVO, PODER
EXECUTIVO, PODER JUDICIÁRIO, MINISTÉRIO PÚBLICO E TRIBUNAL DE
CONTAS. FUNÇÕES TÍPICAS E ATÍPICAS
O modelo da separação dos poderes resulta da combinação de dois
princípios: o primeiro, o da especialização das funções, atende à distribuição das funções
estatais; o segundo, o da independência recíproca dos órgãos, às relações entre os órgãos
competentes para exercê-las.
Sua aplicação preserva a autonomia dos poderes da República –
legislativo, executivo e judiciário – e impõe o funcionamento harmonioso entre eles.
O fundamento do sistema de separação de poderes, característica basilar
dos estados liberais, é evitar a concentração do poder político nas mãos de uma só pessoa,
que caracteriza os estados absolutistas, criando assim um obstáculo a situações de abuso
de poder. Trata-se da aplicação da célebre doutrina política de Montesquieu: o poder deve
limitar o poder, para evitar o abuso de poder.
Nesse contexto, estão inseridas as funções estatais básicas ou típicas:
legislativa, executiva e judiciária.
Funções Função legislativa: Exercida pelo Poder Legislativo, a quem
estatais compete elaborar as leis, normas gerais e abstratas coativamente
básicas impostas a todos.

Função executiva: Atribuída ao Poder Executivo, o qual administra


o Estado, na forma e nos limites impostos pela Constituição e pelas
leis elaboradas pelo Poder Legislativo.

Função judiciária: Atributo do Poder Judiciário, que exerce a


atividade jurisdicional do Estado, distribuindo justiça e aplicando a
lei ao caso concreto, em situações de litígio, envolvendo conflitos
de interesses qualificados pela pretensão resistida.

Assim sendo, cada função estatal básica deve ser atribuída a um órgão
específico (especialização funcional) e independente (independência orgânica) dos demais.
Para que tal modelo funcione adequadamente, é imprescindível o chamado
sistema de freios e contrapesos, pelo qual cada Poder, na sua esfera própria de atuação,
exerce atribuições típicas [as funções básicas de cada Poder] e atípicas [as funções que
a Carta Política lhe atribui, embora típicas dos outros Poderes].
A separação de poderes, portanto, não é rígida, absoluta, existindo um
sistema de interferências recíprocas, a que a doutrina norte-americana denomina “checks
and balances”.
No Estado brasileiro, pode-se visualizar claramente o funcionamento desse
sistema:
I. o Executivo edita medidas provisórias com força de lei (art. 62 da
Constituição) e participa do processo legislativo, tendo matérias de iniciativa legislativa
privativa (art. 64, § 1º da Lei Maior) e amplo poder de veto (arts. 66, § 1º e 84, inc. VI da
Carta Política);
II. o Legislativo pode derrubar o veto do Presidente da República (art. 66,
§ 4º da Constituição), rejeitar medidas provisórias por ele editadas (art. 62 da Lei Maior) e
aprovar, pelo Senado Federal, a indicação dos Ministros dos Tribunais Superiores feita pelo
Presidente da República (arts. 52, inc. III e 84, inc. XIV da Carta Política); e
III. o Judiciário, por sua vez, pode declarar a inconstitucionalidade de leis
elaboradas pelo Poder Legislativo e atos administrativos editados pelo Poder Executivo (art.
97, 102, inc. I, alínea ‘a’ e 125, § 2º da Constituição).
A Constituição brasileira consagra o princípio da separação dos poderes o
art. 2º, garantindo a independência e harmonia recíproca, ao dispor que os Poderes da
República são independentes e harmônicos entre si, devendo todos eles atuar de forma
isenta e imparcial, sem subordinação nem conflitos, buscando assegurar o bem-estar da
coletividade, objetivo maior do Estado.
Além dos clássicos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, a
Constituição da República estabeleceu outros órgãos de Poder: o Ministério Público e os
Tribunais de Contas.
O Ministério Público que, na doutrina de Silva (2005: p. 597-598), passou a
ocupar um lugar cada vez mais importante na organização do Estado brasileiro, dado o
crescimento de suas funções de proteção de direitos indisponíveis e de interesses coletivos,
pois lhe foi conferida constitucionalmente a condição de instituição permanente, essencial
à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Os Tribunais de Contas compõem o chamado sistema de controle externo,
auxiliando o Poder Legislativo que tem tal atribuição como típica. Conforme Silva (2005: p.
752-753), o sistema retro citado compreende a fiscalização contábil, financeira, operacional
e patrimonial da Administração Pública, competência do Poder Legislativo com o auxílio
dos Tribunais de Contas. Representa a atuação fiscalizadora do povo, por meio de seus
representantes, sobre a administração financeira e orçamentária dos recursos públicos. Um
controle de natureza política, porém, submetido à prévia apreciação técnico-administrativa
dos Tribunais de Contas, que, assim, se apresentam como órgãos técnicos e suas decisões
são administrativas, não jurisdicionais.
14. PODER EXECUTIVO
14.1. CHEFE DE ESTADO E CHEFE DE GOVERNO CONDIÇÕES DE
ELEGIBILIDADE, PROCESSO ELEITORAL, POSSE E VACÂNCIA DA
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Na visão clássica do Federalismo, para definir um bom governo, um dos
elementos essenciais deve ser a energia por parte do Executivo. É ele indispensável para
proteger a comunidade contra os ataques do exterior, para garantir a firme administração
das leis, para proteger a propriedade contra as mutações irregulares e arbitrárias que por
vezes interrompem o curso normal da justiça, para a segurança e a liberdade econômica
em face dos ataques da ambição, do espírito faccioso e da anarquia.
Nesse contexto, um Executivo débil significa uma execução débil dos
planos de governo. Uma execução débil é apenas uma outra maneira de designar uma má
execução; e um governo que executa mau na prática tem que resultar em mau governo.
Um Executivo forte e atuante é, portanto, essencial para o desenvolvimento
harmônico de um Estado Democrático de Direito.
No modelo federal presidencialista, o Poder Executivo é unitário. Está
centrado em um presidente que é, ao mesmo tempo, chefe de Estado e chefe de Governo.
O presidente é regido pelo povo e não pelo Legislativo, o que dá ao titular
do Executivo independência frente ao Parlamento.
O presidente nomeia e destitui livremente os ministros de Estado.
Nem o presidente nem os ministros são politicamente responsáveis ante o
Legislativo.
Tanto o presidente como os ministros não podem ser membros do
Legislativo.
O presidente pode estar filiado a um partido político que não detenha a
maioria parlamentar.
O presidente não pode dissolver o parlamento, mas este pode destituí-lo
do cargo (impeachment).
Funções: típicas e atípicas
A função tradicional do poder executivo é administrar. Sob tal ótica, cabe-
lhe exercer a administração do Estado, na forma e nos limites traçados pela constituição,
observadas as leis elaboradas pelo poder legislativo.
Para Mendes, Coelho e Branco (2007, p. 858):
... a referência ao Poder Executivo contempla atividades diversas e variadas, que
envolvem atos típicos da Chefia de Estado (relações com Estados estrangeiros, celebração de
tratados), e atos concernentes à Chefia de governo e da administração em geral, como a fixação
das diretrizes políticas da administração e a disciplina das atividades administrativas (direção
superior da Administração Federal), a iniciativa de projetos de lei e edição de medidas provisórias,
a expedição de regulamentos para execução das leis etc. (CF, art. 84), a iniciativa quanto ao
planejamento e controle orçamentário, bem como sobre o controle das despesas (CF, arts. 163-
169) e a direção das Forças Armadas.
Destarte, além da função típica – administrar o Estado – o Poder Executivo
também exerce funções atípicas, quando, por exemplo, participa do processo legislativo
(iniciativa, sanção, veto e promulgação), edita atos com força de lei (medidas provisórias),
aplica o Direito aos casos concretos nos processos administrativos que lhe são submetidos,
entre outros.
Estruturação do governo
No Brasil, o Poder Executivo exerce o governo e a administração do país.
Governo, entendido como o conjunto de órgãos que tomam decisões políticas
fundamentais. Administração, definida como o conjunto de órgãos que implementam as
decisões políticas fundamentais.
O sistema de governo adotado é o presidencialismo. O chefe de Estado e
de Governo, o titular do Poder Executivo, é o presidente da República, que exerce o poder
auxiliado pelos ministros de Estados (art. 76 da Constituição).
Processo de investidura do presidente da República
O processo de investidura legalmente previsto para o exercício do cargo
de Presidente da República consubstancia-se na eleição e na posse.
Para participar da eleição presidencial, o candidato deve observar os
seguintes requisitos (§ 3º do art. 14 da Constituição):
a) ser brasileiro nato;
b) estar em pleno gozo de direitos políticos; e
c) possuir mais de trinta e cinco anos de idade.
A eleição presidencial tem como característica a simultaneidade, eis que:
a) a eleição do presidente da República importa a do vice-presidente com
ele registrado; e
b) realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em
primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano
anterior ao do término do mandato presidencial vigente, em todo o território nacional.
No processo eleitoral brasileiro, será considerado eleito presidente da
República o candidato que, registrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de
votos, não computados os em branco e os nulos.
Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-
se-á nova eleição em até vinte dias após a proclamação do resultado, concorrendo os dois
candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos
válidos.
Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou
impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior
votação. Se, entretanto, remanescer, em segundo lugar, mais de um candidato com a
mesma votação, qualificar-se-á o mais idoso.
Uma vez eleito, o presidente e o vice-presidente da República tomarão
posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o compromisso de manter, defender
e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro,
sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil.
Mandato do presidente da República
O mandato presidencial é de quatro anos e terá início em primeiro de
janeiro do ano seguinte ao da eleição. É permitida a reeleição para um único período
subsequente (§ 5º do art. 14 da Constituição).
Afastamento do presidente da República

O afastamento do presidente da República importa na vacância do cargo


ou no impedimento do seu titular.
Vacância
A vacância é entendida como uma impossibilidade definitiva do presidente
da República continuar a exercer o cargo. Ex.: perda do cargo, renúncia ou morte.
Vago o cargo de presidente da República, assumirá o vice-presidente.
Vagando os cargos de presidente e vice-presidente da República, far-se-á eleição noventa
dias depois de aberta a última vaga. Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período
presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga,
pelo Congresso Nacional, na forma da lei. Em qualquer dos casos, os eleitos deverão
completar o período de seus antecessores.
Impedimento
O impedimento do presidente da República importa na sua substituição,
tendo caráter de temporariedade, de uma impossibilidade circunstancial de continuar a
exercer o cargo. Exemplo: viagem, doença... O substituto imediato do presidente da
República é o vice-presidente.
Em qualquer dos casos [seja vacância, seja impedimento], a ordem de
sucessão é a seguinte: vice-presidente da República, presidente da Câmara dos
Deputados, presidente do Senado Federal e presidente do Supremo Tribunal Federal.
14.2. ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Enquanto chefe de Estado e de Governo, deve o presidente da República
exercer o poder na forma e nos limites traçados na Constituição. Trata-se do exercício de
competências privativas delegáveis e não delegáveis.
De um lado, as competências privativas não-delegáveis que somente são
exercidas pelo presidente da República. Estão expressas nos incs. I a V, VII a XI, XIII a
XXIV, XXV (última parte)4, XXVI e XXVII do art. 84 da Constituição.
De outro lado, as competências privativas delegáveis, atribuições que a
Constituição da República faculta ao presidente delegar aos Ministros de Estado,
Procurador-Geral da República ou Advogado-Geral da União, que observarão os limites
traçados nas respectivas delegações. São elas:
a) dispor, mediante decreto, sobre: 1. organização e funcionamento da
administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção
de órgãos públicos; e 2. extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos 5;
b) conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos
órgãos instituídos em lei; e
c) prover os cargos públicos federais, na forma da lei.
Faculdade regulamentar (Constituição, art. 84, inc. IV, última parte)
A faculdade regulamentar é uma das principais atribuições do presidente

4 Especificamente em relação ao citado inc. XXV, não há previsão legal para a delegação presidencial da
atribuição de extinguir cargos públicos federais.

5Essa atribuição institucionalizou o decreto autônomo, norma secundária editada pelo presidente da
República que retira sua eficácia diretamente da Constituição da República e não das leis.
da República, consistente em expedir decretos6 e regulamentos7 para fiel execução das
leis.
Regulamentar significa editar regras que se limitem a adaptar a atividade
humana ao texto, e não o texto à atividade humana. Vale aqui advertir: onde se
estabelecem, alteram, ou extinguem direitos, não há regulamentos – há abuso de poder
regulamentar, invasão da competência do Poder Legislativo. O regulamento não é mais do
que auxiliar das leis.
Vice-presidente da República
O vice-presidente da República tem funções próprias e impróprias.
As funções próprias consistem em substituir o Presidente, no caso de
impedimento, e sucedê-lo, no de vaga.
São funções impróprias as que lhe forem conferidas por lei complementar,
bem como as missões especiais para auxiliar o Presidente da República, sempre que por
ele convocado.
14.3. ÓRGÃOS AUXILIARES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA: MINISTROS,
CONSELHO DA REPÚBLICA E CONSELHO DE DEFESA NACIONAL
Ministros de Estado
Os ministros de Estado auxiliam o presidente da República a gerir o Poder
Executivo. Serão por ele escolhidos entre brasileiros maiores de vinte e um anos e no
exercício dos direitos políticos.
Possuem atribuições estabelecidas na Constituição e nas leis. Suas
atribuições constitucionais são:
a) exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades
da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos
assinados pelo presidente da República;
b) expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos;
c) apresentar ao presidente da República relatório anual de sua gestão no
Ministério; e
d) praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou
delegadas pelo presidente da República.
A criação e extinção de ministérios e órgãos da Administração Pública está

6 Decreto é a norma secundária editada pelo chefe do Poder Executivo para materializar os atos de sua
competência, inclusive regulamentos.

7 Regulamento é também ato normativo secundário expedido pelo chefe do Poder Executivo. Não pode
contrariar leis nem criar direitos e obrigações. Se prende a um texto normativo e seu objetivo é facilitar o
processo de execução das leis.
sujeita à chamada reserva legal – somente lei, em sentido estrito, pode dispor sobre o
assunto.
Uma das principais atribuições dos ministros de Estado é a referenda
ministerial em atos e decretos expedidos pelo presidente da República, nos assuntos de
competência de suas respectivas pastas. É considerada indispensável para a validade de
tais atos.
Os ministros de Estado, quando da prática de crimes comuns ou de
responsabilidade, serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal (competência originária).
Todavia, em se tratando de crimes de responsabilidade conexos aos praticados pelo
presidente da República e pelo vice-presidente da República, serão julgados pelo Senado
Federal.
Conselho da República
O Conselho da República é, na forma do art. 89 da Constituição da
República, o órgão superior de consulta do presidente da República e dele participam: o
vice-presidente da República; o presidente da Câmara dos Deputados; o presidente do
Senado Federal; os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados; os líderes
da maioria e da minoria no Senado Federal; o Ministro da Justiça; e seis cidadãos brasileiros
natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo presidente da
República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados,
todos com mandato de três anos, vedada a recondução.
Ao Conselho da República compete pronunciar-se sobre:
a) intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio; e
b) questões relevantes, comprometedoras da estabilidade das instituições
democráticas.
Conselho de Defesa Nacional
O Conselho de Defesa Nacional é, conforme o art. 91 da Carta
Republicana, o órgão de consulta do presidente da República nos assuntos relacionados
com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático. Dele participam: o vice-
Presidente da República; o presidente da Câmara dos Deputados; o presidente do Senado
Federal; o ministro da Justiça; o ministro de Estado da Defesa; o ministro das Relações
Exteriores; o ministro do Planejamento; e os comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica.
O Conselho de Defesa Nacional é competente para:
a) opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebração da paz;
b) opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da
intervenção federal;
c) propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à
segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de
fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de
qualquer tipo; e
d) estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de iniciativas
necessárias a garantir a independência nacional e a defesa do Estado democrático.
14.4. RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA: PRERROGATIVA
DE FORO E IMUNIDADES
Perda do cargo
O presidente e o vice-presidente da República perderão o cargo somente
nos casos expressamente previstos na Constituição:
a) quando, sem licença do Congresso Nacional, ausentar-se do País por
período superior a quinze dias (art. 83);
b) em caso de condenação, proferida pelo Senado Federal, por votação
de dois terços de seus integrantes, em processo de “impeachment”, pela prática de crimes
de responsabilidade (arts. 51, inc. I, 52, inc. I e parágrafo único e 85);
c) se condenados, após julgamento no Supremo Tribunal Federal, pela
prática de crime comum (art. 102, inc. I, alínea “b”); e
d) uma vez declarada a vacância, por não tomarem posse no prazo de dez
dias (art. 78, parágrafo único).
Prerrogativas
Na vigência do mandato o presidente da República:
a) não será preso nas infrações penais comuns, antes do trânsito em
julgado da sentença condenatória (art. 86, § 3º da Constituição);
b) não poderá ser processado por crimes estranhos à função presidencial
(§ 4º do art. 86 da Constituição);
c) envolvido em crimes comuns, será processado perante o Supremo
Tribunal Federal (art. 102, inc. I, alínea “b” da Constituição); e
d) na prática de crimes de responsabilidade, será julgado pelo Senado
Federal (art. 52, inc. I da Constituição).
Imunidade penal temporária
O presidente da República, no transcurso do mandato, não pode ser
responsabilizado criminalmente por atos estranhos ao exercício de suas funções. Trata-se
de imunidade temporária, de caráter processual, que impede o trâmite da ação penal
durante o curso do mandato. Ao final deste, o processo voltará a ter curso normal no fórum
competente.
Esta imunidade penal temporária não atinge os atos praticados pelo
presidente da República “in officio” ou “propter officium”, ou seja, em razão do cargo ou em
decorrência dele, caso em que a persecução penal pertinente correrá perante o Supremo
Tribunal Federal, mediante prévia autorização da Câmara dos Deputados.
Crimes comuns ou de responsabilidade
O presidente da República, na vigência de seu mandato, é responsável
pelos atos que praticar no exercício de suas funções. Se a conduta presidencial for ilícita,
caracterizar-se-á como crime comum ou crime de responsabilidade.
Os crimes comuns são aqueles previstos da legislação penal comum ou
especial (homicídio, corrupção...).
Os crimes de responsabilidade são os atos ilícitos praticados pelo
presidente da República que atentem contra a Constituição e, especialmente, contra:
a) a existência da União;
b) o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério
Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação;
c) o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
d) a segurança interna do País;
e) a probidade na administração;
f) a lei orçamentária; e
g) o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Processo para apuração de crimes comuns

Admitida a acusação contra o presidente da República, pela prática de


crime comum, por dois terços da Câmara dos Deputados – juízo de admissibilidade político
–, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.
Recebida a denúncia ou queixa-crime pela Suprema Corte – juízo de
admissibilidade jurídico – o presidente ficará suspenso de suas funções. Se, decorrido o
prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento
do presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.
Processo para apuração de crimes de responsabilidade

Acolhida a acusação contra o presidente da República, pela prática de


crime de responsabilidade, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido
a julgamento perante o Senado Federal.
Instaurado o processo pelo Senado Federal, o presidente ficará suspenso
de suas funções e, de igual modo, ao cargo tornará se, decorrido o prazo de cento e oitenta
dias, o julgamento não estiver concluído, sem afetação do regular trâmite do processo.
14.5. GOVERNADOR DE ESTADO
O governador de Estado é o chefe da Administração Pública estadual. É,
portanto, chefe de governo, mas não chefe de Estado.
Condições de elegibilidade
Para participar da eleição presidencial, o candidato deve observar os
seguintes requisitos (§ 3º do art. 14 da Constituição):
a) ser brasileiro nato;
b) estar em pleno gozo de direitos políticos; e
c) possuir mais de trinta anos de idade.
Processo eleitoral
O processo eleitoral de escolha do governador e do vice-governador de
Estado observa simetria em relação ao previsto na Constituição da República para a chefia
do Poder Executivo federal. Na Constituição do Estado do Pará o tema é tratado no art.
1258.

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Art. 125. A eleição do Governador e do Vice-Governador do Estado, por sufrágio universal direto e secreto, realizar-
se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em
segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores.
§ 1° A eleição do Governador importará a do Vice-Governador com ele registrado.
§ 2° Será considerado eleito Governador o candidato que, registrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de
votos, não computados os em branco e os nulos.
§ 3° Se nenhum candidato alcançar a maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova eleição, concorrendo os dois
candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos;
VI - vetar projetos de leis, total ou parcialmente; 86VII - dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e
funcionamento da administração estadual, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos
públicos; b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; VIII - decretar e executar a intervenção do Estado
nos Municípios, na forma desta Constituição. IX - remeter mensagem e plano de governo à Assembléia Legislativa, por
ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do Estado e solicitando as providências que julgar
necessárias; X - exercer o comando supremo da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, promover seus oficiais
e nomear e exonerar o Comandante-Geral dessas corporações; XI - escolher um dos integrantes da lista tríplice para
Posse e vacância da governadoria de Estado
De igual modo observa simetria com o Poder Executivo federal. A
Constituição do Estado do Pará disciplina a matéria nos arts. 128 a 1319.
Atribuições do governador de Estado
Observa simetria com o Poder Executivo federal. A Constituição do Estado
do Pará disciplina a matéria no art. 13510.

nomeação de Desembargador, no caso previsto no art. 156, parágrafo único; 87XII - nomear, após aprovação pela
Assembléia Legislativa, os dirigentes das autarquias e fundações públicas, e exonerar livremente essas autoridades; XIII
- nomear, observado o disposto no art. 119, os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado e do Tribunal de Contas
dos Municípios; XIV - nomear e destituir o Procurador-Geral do Estado; XV - nomear o Procurador-Geral de Justiça,
mediante escolha feita em lista tríplice, nos termos desta Constituição; XVI - nomear membros do Conselho do Estado,
nos termos do art. 146, VII e convocar e presidir o Conselho; XVII - conferir condecorações e distinções honoríficas
estaduais, ressalvadas as dos demais Poderes; XVIII - enviar à Assembléia Legislativa o plano plurianual, o projeto de lei
de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento, previstos nesta Constituição; XIX - prestar anualmente à
Assembléia Legislativa, dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício
anterior; XX - prover e extinguir os cargos públicos estaduais, na forma de lei, com as restrições desta Constituição, e
usar do poder disciplinar sobre todos os servidores do Poder Executivo; XXI - decretar situação de calamidade pública;
XXII - propor ação de inconstitucionalidade, nos casos previstos em lei e nesta Constituição; XXIII - solicitar intervenção
da União, no caso estabelecido na Constituição Federal; XXIV - convocar, extraordinariamente, a Assembléia Legislativa,
nos casos previstos nesta Constituição;
§ 4° Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou impedimento legal de candidato, convocar-
se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação. § 5°. Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, remanescer, em
segundo lugar, mais de um candidato com a mesma votação, qualificar-se-á o mais idoso.

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Art. 128. O Governador e o Vice-Governador tomam posse no dia 1° de janeiro do ano subseqüente ao da eleição, em
sessão solene da Assembléia Legislativa e, se esta não estiver reunida, perante o Tribunal de Justiça do Estado.
§ 1° O Governador prestará o seguinte compromisso: PROMETO MANTER, DEFENDER, CUMPRIR E FAZER CUMPRIR AS
CONSTITUIÇÕES DO BRASIL E DO ESTADO DO PARÁ, OBSERVAR E FAZER OBSERVAR AS LEIS, PROMOVER O BEM GERAL
DO POVO PARAENSE, DESEMPENHAR LEAL E HONESTAMENTE O MANDATO QUE ME FOI CONFIADO, COM O OBJETIVO
DE CONSTRUIR UMA SOCIEDADE LIVRE, JUSTA E SOLIDÁRIA.
§ 2° Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Governador ou o Vice-Governador, salvo motivo de força
maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago pela Assembléia Legislativa.
§ 3° A renúncia do Governador ou do Vice-Governador do Estado torna-se efetiva com o conhecimento da respectiva
mensagem pela Assembléia Legislativa.
Art. 129. Substituirá o Governador no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o Vice-Governador.
Art. 130. Em caso de impedimento do Governador e do Vice-Governador, ou vacância dos respectivos cargos, serão
sucessivamente chamados ao exercício temporário da chefia do Poder Executivo o Presidente da Assembléia Legislativa,
o Presidente do Tribunal de Justiça do Estado, o 1° Vice-Presidente da Assembléia Legislativa e o Vice-Presidente do
Tribunal de Justiça do Estado.
Art. 131. Vagando os cargos de Governador e Vice-Governador, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última
vaga.
§ 1° Ocorrendo a vacância no penúltimo ano do período governamental, a eleição para ambos os cargos será feita até
trinta dias depois da última vaga, pela Assembléia Legislativa, na forma da lei.
§ 2° Ocorrendo a vacância do último ano do período governamental, assumirá o cargo de Governador do Estado, em
caráter permanente, o Presidente da Assembléia Legislativa ou o Presidente do Tribunal de Justiça do Estado, nesta
ordem.
§ 3° Em qualquer dos casos, os substitutos deverão completar o período de seus antecessores.

10
Art. 135. Compete privativamente ao Governador:
I - representar o Estado perante a União e as demais unidades da Federação, bem como em suas relações jurídicas,
políticas e administrativas, quando a lei não atribuir esta representação a outras autoridades;
II - nomear e exonerar os Secretários de Estado;
III - exercer, com o auxílio dos Secretários de Estado, a direção superior da administração estadual;
IV - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;
Órgãos auxiliares do governador de Estado: secretários e Conselhos
O exercício do Poder Executivo estadual também observa a simetria com
o modelo federal, ou seja, o governador de Estado exerce o Poder Executivo estadual
auxiliado pelos secretários de Estado. Na Constituição do Estado do Pará consta no art.
124.
Os secretários de Estado têm suas atribuições definidas na Constituição
estadual e nas leis. Na Constituição do Estado do Pará no art. 138.
Os conselhos consultivos, sua estrutura e atribuições, de igual modo
constitui tema disciplinado nas Constituições estaduais. Na Constituição do Estado do Pará
no art. 146.
Responsabilidade do governador de Estado: prerrogativa de foro e
imunidades

V - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução e elaborar leis
delegadas;
VI - vetar projetos de leis, total ou parcialmente;
VII - dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração estadual, quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; b) extinção de funções ou cargos públicos, quando
vagos;
VIII - decretar e executar a intervenção do Estado nos Municípios, na forma desta Constituição.
IX - remeter mensagem e plano de governo à Assembléia Legislativa, por ocasião da abertura da sessão legislativa,
expondo a situação do Estado e solicitando as providências que julgar necessárias;
X - exercer o comando supremo da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, promover seus oficiais e nomear e
exonerar o Comandante-Geral dessas corporações;
XI - escolher um dos integrantes da lista tríplice para nomeação de Desembargador, no caso previsto no art. 156,
parágrafo único;
XII - nomear, após aprovação pela Assembléia Legislativa, os dirigentes das autarquias e fundações públicas, e exonerar
livremente essas autoridades;
XIII - nomear, observado o disposto no art. 119, os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado e do Tribunal de Contas
dos Municípios;
XIV - nomear e destituir o Procurador-Geral do Estado;
XV - nomear o Procurador-Geral de Justiça, mediante escolha feita em lista tríplice, nos termos desta Constituição;
XVI - nomear membros do Conselho do Estado, nos termos do art. 146, VII e convocar e presidir o Conselho;
XVII - conferir condecorações e distinções honoríficas estaduais, ressalvadas as dos demais Poderes;
XVIII - enviar à Assembléia Legislativa o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de
orçamento, previstos nesta Constituição;
XIX - prestar anualmente à Assembléia Legislativa, dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as
contas referentes ao exercício anterior;
XX - prover e extinguir os cargos públicos estaduais, na forma de lei, com as restrições desta Constituição, e usar do
poder disciplinar sobre todos os servidores do Poder Executivo; XXI - decretar situação de calamidade pública;
XXII - propor ação de inconstitucionalidade, nos casos previstos em lei e nesta Constituição;
XXIII - solicitar intervenção da União, no caso estabelecido na Constituição Federal;
XXIV - convocar, extraordinariamente, a Assembléia Legislativa, nos casos previstos nesta Constituição;
XXV - celebrar ou autorizar contratos, acordos, ajustes, convênios e outros instrumentos congêneres, com entidades
públicas e particulares, "ad referendum" da Assembléia Legislativa, ou com a prévia autorização desta, nos casos
previstos nesta Constituição;
XXVI - realizar operações de crédito autorizadas pela Assembléia Legislativa, observando, quando externas, o que
também dispõe a Constituição Federal;
XXVII - prestar, por si ou por seus auxiliares, por escrito, as informações solicitadas pelos Poderes Legislativo e Judiciário,
no prazo de trinta dias, salvo se outro for determinado por lei federal;
XXVIII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.
A Constituição da República, no art. 105, inciso I, alínea “a”, confere como
foro privilegiado dos governadores de Estado, nos crimes comuns, o Superior Tribunal de
Justiça.
No que se refere aos crimes de responsabilidade e às imunidades, observa-
se a simetria com o modelo federal. A Constituição do Estado do Pará disciplina o tema nos
arts. 136 e 13711.
14.6. PREFEITO MUNICIPAL.
O prefeito municipal é o chefe da Administração Pública municipal. É,
portanto, chefe de governo, mas não chefe de Estado.
Condições de elegibilidade
Para participar da eleição presidencial, o candidato deve observar os
seguintes requisitos (§ 3º do art. 14 da Constituição):
a) ser brasileiro nato;
b) estar em pleno gozo de direitos políticos; e
c) possuir mais de vinte e um anos de idade.
Processo eleitoral
O processo eleitoral de escolha do prefeito e do vice-prefeito municipal, é
disciplinado nos incisos I e II do art. 29 da Carta Republicana, nos seguintes termos:
I - eleição do prefeito e do vice-prefeito, para mandato de quatro anos,
mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o País; e
II - realizada no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término do

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Art. 136. São crimes de responsabilidade os atos do Governador que atendem contra a Constituição Federal, esta
Constituição, e, especialmente, contra:
I - a existência da União, do Estado e dos Municípios;
II - o livre exercício dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como do Ministério
Público;
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV - a segurança interna do País ou do Estado;
V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Parágrafo Único. A definição desses crimes e as normas de processo e julgamento serão estabelecidas em lei especial.
Art. 137. Admitida a acusação contra o Governador, por dois terços da Assembléia Legislativa, mediante votação
secreta, será ele submetido a julgamento perante o Superior Tribunal de justiça, nas infrações penais comuns, ou
perante a própria Assembléia Legislativa, nos crimes de responsabilidade.
§ 1° O Governador ficará suspenso de suas funções:
I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Superior Tribunal de Justiça;
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pela Assembléia Legislativa.
§ 2° Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento do
Governador, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.
§ 3º Revogado.
§ 4° Tratando-se de julgamento por crime de responsabilidade, a Assembléia Legislativa será presidida pelo Presidente
do Tribunal de Justiça do Estado, observando-se o disposto no art. 92, parágrafo único.
mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77 (segundo turno), somente
no caso de municípios com mais de duzentos mil eleitores.
Posse e vacância da prefeitura municipal
Observa simetria com o Poder Executivo federal. A Constituição do Estado
do Pará disciplina a matéria nos arts. 77 a 7912.
Atribuições do prefeito municipal
Observa simetria com o Poder Executivo federal. Constitui disciplina
constante das leis orgânicas municipais.
Órgãos auxiliares do prefeito municipal: secretários e Conselhos
Observa simetria com o Poder Executivo federal. Constitui disciplina
constante das leis orgânicas municipais.
Responsabilidade do prefeito municipal: prerrogativa de foro e
imunidades
A Constituição do Estado do Pará, no art. 161, inciso I, alínea “a”, confere
como foro privilegiado dos prefeitos municipais, nos crimes comuns, o Tribunal de Justiça
do Estado.
No que se refere aos crimes de responsabilidade e às imunidades, observa-
se a simetria com o modelo federal. A Constituição do Estado do Pará disciplina o tema de
forma diversa, em dispositivos flagrantemente inconstitucionais, os arts. 161, inciso I, alínea
“a” e 81, respectivamente.

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Art. 77. O Prefeito e o Vice-Prefeito tomarão posse perante a Câmara Municipal e prestarão o compromisso de
defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição Federal, esta Constituição e as leis.
§ 1° Se a Câmara não estiver instalada ou se deixar de reunir para dar posse, o Prefeito e o Vice-Prefeito tomarão posse,
dentro de quinze dias da data fixada para esta, perante o Juiz de Direito da Comarca ou seu substituto legal.
§ 2° Se, decorridos quinze dias da data fixada para a posse, o Prefeito ou o Vice-Prefeito, salvo motivo de força maior,
não tiver assumido o cargo, este será declarado vago pela Câmara Municipal.
Art. 78. O Prefeito será substituído, no caso de ausência do Município ou de impedimento, e sucedido, no de vaga, pelo
Vice-Prefeito.
§ 1°. Para os casos de ausência ou impedimento, do Prefeito e do Vice-Prefeito ou vacância dos respectivos cargos,
competirá à Câmara de Vereadores de cada Município, normatizar estas substituições, em Lei Orgânica Municipal.
§ 2° Implica responsabilidade a não transmissão de cargo nos casos de ausência ou impedimento.
Art. 79. Vagando os cargos de Prefeito e Vice-Prefeito, far-se-a eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.
§ 1° Ocorrendo a vacância no último ano do mandato, a eleição para ambos os cargos será feita até trinta dias depois
da última vaga, pela Câmara Municipal, na forma da lei.
§ 2° Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores.
UNIDADE II

1. PODER LEGISLATIVO
Funções

O Poder Legislativo tem como função típica a produção de leis. Entretanto,


essa função legislativa possui significado mitigado a partir do modelo de separação dos
poderes. Com efeito, a separação dos poderes deve ser entendida como a divisão orgânica
do poder e não exige a plena especialização da função legislativa, mas tão somente a
reserva da lei como ato legislativo típico. Assim, é plenamente admissível o veto
presidencial, o controle jurisdicional sobre a legitimidade constitucional das leis...
A reserva da lei responde ao objetivo de garantir a liberdade, não tanto
sobre a ótica de impedir que o Executivo e o Judiciário invadam a competência reservada
ao legislador, mas, sobretudo, como um pressuposto necessário ao princípio da legalidade
na jurisdição e na administração pública.
Assim, o órgão investido da função legislativa deve ter caráter eletivo
(representativo), pois a reserva da lei está conectada à garantia da liberdade por uma razão
superior: a criação de normas por parte de órgãos representativos responde ao princípio
democrático, à autonomia, à auto decisão e à autodeterminação da sociedade.
Se cada norma jurídica constitui uma limitação da liberdade para seus
destinatários, pode-se afirmar que tal limitação é aceitável porquanto resultado de uma
decisão assumida pela própria sociedade, se não diretamente, ao menos por intermédio de
seus representantes.
No caso brasileiro, a Constituição outorgou diversas atribuições ao Poder
Legislativo, a produção de leis, a fiscalização financeira e administrativa dos atos do Poder
Executivo, o julgamento das altas autoridades da República pela prática de crimes de
responsabilidade, entre outras. Na doutrina de Alexandre de Moraes (MORAES, 2007), o
Poder Legislativo possui funções típicas e atípicas.
As funções típicas correspondem a legislar e fiscalizar, ambas com o
mesmo grau de importância e merecedoras de maior detalhamento. Legislar entendida
como o poder conferido ao Legislativo de elaborar normas jurídicas gerais e abstratas –
coativamente impostas a tantos quanto estejam em determinada situação jurídica –,
observadas as regras do processo legislativo. Fiscalizar é a competência de exercer a
fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do Poder Público.
As funções atípicas são administrar e julgar. Administrar corresponde à
capacidade de dispor sobre sua organização e operacionalidade interna, provimento de
cargos, promoção de seus servidores. Julgar no sentido de dirimir conflitos intersubjetivos
de interesses, corresponde à condução do processo e julgamento do Presidente da
República pela prática de crime de responsabilidade, entre outros.
1.1. ESTRUTURA DO PODER LEGISLATIVO NOS ÂMBITOS FEDERAL,
ESTADUAL, MUNICIPAL, DISTRITAL E DOS TERRITÓRIOS FEDERAIS
União
O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que é composto
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal.
Estados
O Poder Legislativo estadual é exercido pelas Assembleias Legislativas,
cujos membros são os deputados estaduais, e segue, por simetria, as mesmas regras
constitucionalmente estabelecidas na Constituição da República, com a disciplina que lhes
for dada pelas constituições estaduais.
Especificamente em relação ao estatuto dos parlamentares, também
prevalecem as mesmas regras de inviolabilidade, imunidade, remuneração, perda de
mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas estatuídos em prol dos
Deputados Federais e Senadores da República, na forma do art. 27, § 1º da Constituição.
Municípios
O Poder Legislativo municipal é exercido pelas Câmaras Municipais, cujos
integrantes são os vereadores, e também segue, por simetria, as regras
constitucionalmente estabelecidas na Constituição da República, com a disciplina que lhes
for dada pelas leis orgânicas municipais.
Especificamente em relação ao estatuto dos parlamentares, aplicam-se
aos vereadores apenas as proibições e incompatibilidades previstas para os parlamentares
federais (art. 29, inc. IX da Constituição). No que tange às prerrogativas, a Constituição
assegura tão somente a inviolabilidade por suas opiniões, palavras e votos no exercício do
mandato e na circunscrição do Município (art. 29, inc. VIII).
Distrito Federal
O Poder Legislativo distrital é exercido pela Câmara Distrital, cujos
membros são os deputados distritais, e segue, por simetria, as mesmas regras
constitucionalmente estabelecidas na Constituição da República, com a disciplina que lhes
for dada pela lei orgânica distrital.
Especificamente em relação ao estatuto dos parlamentares, também
prevalecem as mesmas regras de inviolabilidade, imunidade, remuneração, perda de
mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas estatuídos em prol dos
Deputados Federais e Senadores da República, na forma do art. 27, § 1º da Constituição.
Territórios
O Poder Legislativo dos territórios será exercido pelo Congresso Nacional,
inclusive no que se refere à aprovação das contas do governo do território (§ 2º do art. 33
da Constituição da República).
Os territórios com mais de cem mil habitantes terão uma Câmara Territorial,
cabendo à lei (federal) dispor sobre as eleições e a competência deliberativa da Câmara (§
3º do art. 33 da Carta Republicana).
1.2. COMPOSIÇÃO, SISTEMAS ELEITORAIS, LEGISLATURA E SESSÃO
LEGISLATIVA
Composição
Câmara dos Deputados
O número total de Deputados, bem como a representação por Estado e
pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à
população, procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que
nenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos de oito ou mais de setenta
Deputados.
O Estado de São Paulo, o mais populoso, elege setenta Deputados
Federais, dispondo, assim, de uma representação parlamentar proporcionalmente inferior
aos Estados menos populosos, os quais elegem oito Deputados Federais. Tal situação tem
gerado sérias controvérsias, com alguns doutrinadores entendendo que o texto
constitucional fere o princípio do voto igual para todos os brasileiros.
Senado Federal
Os Estados-membros e o Distrito Federal elegem três Senadores, com
mandato de oito anos. Cada Senador será eleito com dois suplentes.
A representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de
quatro em quatro anos, alternadamente, à razão de um terço e dois terços.
A representação no Senado Federal, pelo princípio federativo, é igual para
todos os Estados-membros e o Distrito Federal, o que também tem gerado
descontentamento por parte dos Entes Federados com maior população.
Sistemas eleitorais
Câmara dos Deputados
A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos
pelo sistema proporcional em cada Estado, Território e no Distrito Federal pelo voto direto,
secreto, universal e periódico.
Senado Federal
O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito
Federal, eleitos segundo o sistema majoritário.
O Parlamento em ação: legislatura e sessão legislativa
O funcionamento do Congresso Nacional está atrelado a determinados e
específicos institutos jurídicos: legislatura, sessão legislativa e período legislativo.
A legislatura é o lapso temporal legislativo expressamente definido na
Constituição da República como tendo a duração de quatro anos e corresponde ao mandato
dos deputados federais (parágrafo único do art. 44).
Cada legislatura é dividida em sessões legislativas (anuais), cada qual
correspondendo ao chamado ano legislativo.
As sessões legislativas, por sua vez, são subdivididas em períodos
legislativos (semestrais), correspondente cada um deles ao semestre legislativo.

Diz a Lei Maior que o Congresso Nacional, por suas Casas, reunir-se-á
anualmente (sessão legislativa), na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho (período
legislativo) e de 1º de agosto a 22 de dezembro (período legislativo) (art. 57, “caput”).
Ademais, a sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do
projeto de lei de diretrizes orçamentárias (§ 2º do art. 57 da Lei Maior).
A expressão sessões legislativas tem outro significativo na Constituição da
República: é o momento em que os parlamentares se reúnem para deliberar conjuntamente
sobre os assuntos de sua competência. Neste sentido, podem ser: ordinárias,
extraordinárias, preparatórias ou conjuntas.
As sessões legislativas ordinárias são realizadas nos dias úteis, dentro do
horário de expediente parlamentar fixado no regimento interno das respectivas Casas.
As sessões legislativas extraordinárias são as convocadas fora do horário
normal (sessão legislativa ordinária), para apreciar determinada matéria ou encerrar
votação já iniciada.
As sessões legislativas preparatórias são convocadas para a posse dos
congressistas e eleição das respectivas Mesas. Diz a Lei Maior que cada uma das Casas
reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da
legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato
de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente
subsequente (§ 4º do art. 57).
As sessões legislativas conjuntas são reuniões das duas Casas do
Congresso Nacional (deputados federais e senadores da República, conjuntamente).
Ocorrem nas situações previstas na Lei Maior pátria.
Autonomia
As Casas do Congresso Nacional são independentes e autônomas,
possuindo as prerrogativas inerentes a tais atributos. Assim, podem:
a) elaborar seus regimentos internos;
b) organizar seus serviços internos;
c) fixar por lei a remuneração de seus servidores; e
d) gerir o quadro de pessoal próprio.
Atribuições
As Casas que compõem o Parlamento brasileiro possuem as seguintes
espécies de atribuições: legislativa, fiscalização e controle, julgadora, constituinte e
deliberativa.
A atribuição legislativa (Art. 48 da Constituição) é o principal mister do
Poder Legislativo, sua função típica. Consiste em elaborar, discutir e aprovar os projetos de
lei, em todas as matérias de competência legislativa da União, submetendo-os à sanção ou
veto do Presidente da República. Cabe, assim, às Casas do Congresso Nacional, legislar
sobre as matérias de competência da União.
A fiscalização e controle dos atos do Poder Público, incluídos os da
Administração indireta da União é outra importante atribuição das Casas do Congresso
Nacional. Abrange as seguintes competências:
a) fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial
da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade,
legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, mediante
controle externo (art. 70 da Constituição).
b) controle externo das contas do Poder Público, exercido com o auxílio do
Tribunal de Contas da União (art. 71 da Constituição) e da Comissão Mista Permanente de
Orçamento (arts. 166, § 1ª e 72 da Constituição);
c) convocação de ministros de Estado para prestar esclarecimentos sobre
assuntos de relevância de sua pasta (art. 50 e § 1º da Constituição);
d) pedido de informações aos ministros de Estado ou titulares de órgãos
diretamente subordinados à Presidência da República (art. 50, § 2º da Constituição); e
e) instalação de Comissões Parlamentares de Inquérito (art. 58, § 3º da
Constituição).
O processo e julgamento dos crimes de responsabilidade (Constituição, inc.
I do art. 51 combinado com inc. I do art. 52) é a atribuição das Casas do Congresso
Nacional, relativamente ao presidente da República e outras autoridades federais, quando
acusados da prática de crimes de responsabilidade (ofensa à Constituição da República).
A atribuição constituinte conferida às Casas do Congresso Nacional
consiste em modificar a Constituição da República, ou seja, deliberar acerca das emendas
constitucionais (art. 60 da Lei Maior).
As deliberativas são atribuições conferidas com exclusividade às Casas do
Congresso Nacional, não sujeitas à sanção ou veto do Presidente da República. Estão
listadas no art. 49 da Lei Maior.
Estrutura das Casas
A estrutura básica das Casas envolve a mesa diretora, o plenário e as
comissões.
As mesas diretoras são os órgãos de direção do Congresso Nacional e de
suas Casas Legislativas. São normalmente compostas, mediante a representação
proporcional dos partidos e dos blocos partidários lá representados.
A mesa diretora da Câmara dos Deputados será composta por Deputados
Federais eleitos por seus pares (presidente, vice-presidentes e secretários). De igual modo
a do Senado Federal. A do Congresso Nacional, entretanto, é diferenciada, pois presidida
pelo presidente do Senado Federal, sendo os demais cargos exercidos, alternadamente,
pelos ocupantes de cargos equivalentes na Câmara dos Deputados e no Senado Federal
(§ 5º do art. 57 da Lei Maior).
Ao presidente da mesa diretora de qualquer das Casas (Câmara dos
Deputados, Senado Federal e Congresso Nacional), compete dirigir os trabalhos do órgão
respectivo, elaborar a pauta de reunião, conduzir e proclamar o resultado das votações,
exercer o poder de polícia durante as sessões, apressar ou obstruir os assuntos que serão
discutidos em plenário.
Ainda em relação às mesas diretoras, a Constituição veda a recondução
para igual cargo na eleição imediatamente subsequente, dentro da mesma legislatura (arts.
57, §§ 4º e 5º, e 58, § 1º).
O plenário representa a reunião dos parlamentares de cada Casa
Legislativa para exercerem o seu mister. É nele que a atividade legislativa é exercida em
sua plenitude.
As comissões (art. 58 da Constituição) são órgãos constituídos de um
número reduzido de parlamentares, observada quando possível a proporcionalidade na
representação partidária, com finalidade específica de examinar determinadas questões.
Constituem forma de racionalização dos trabalhos dos congressistas.
1.3. ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL
O Congresso Nacional é um órgão específico do Parlamento brasileiro.
Representa a reunião conjunta das Casas (Câmara dos Deputados e Senado Federal).
Sendo um órgão específico, o Congresso Nacional tem atribuições
próprias. São elas: 1. inaugurar a sessão legislativa; 2. elaborar o regimento interno
comum e regular a criação de serviços comuns às duas Casas; 3. receber o compromisso
do presidente e do vice-presidente da República; e 4. conhecer do veto e sobre ele
deliberar, em escrutínio secreto.
O Congresso Nacional pode ser convocado extraordinariamente (art. 57,
§§ 6º a 8º da Constituição), em casos graves de comoção interna ou para tratar de assunto
de urgência ou de interesse público relevante, da seguinte forma:
a) pelo presidente do Senado Federal, em caso de decretação de estado
de defesa ou de intervenção federal, de pedido de autorização para a decretação de estado
de sítio e para o compromisso e a posse do presidente e do vice-presidente da República;
b) pelo presidente da República, presidentes da Câmara dos Deputados e
do Senado Federal ou a requerimento da maioria dos membros de ambas as Casas, em
caso de urgência ou interesse público relevante, em todos os casos com a aprovação da
maioria absoluta de cada uma das Casas do Congresso Nacional.
Em cada sessão legislativa extraordinária, o Congresso Nacional somente
deliberará sobre a matéria para a qual foi convocado, vedado o pagamento de parcela
indenizatória, em razão da convocação. Havendo medidas provisórias em vigor na data de
convocação extraordinária do Congresso Nacional, serão elas automaticamente incluídas
na pauta da convocação.
1.4. COMPETÊNCIA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
As atribuições privativas – e não delegáveis – da Câmara dos Deputados
estão listadas no art. 51 da Constituição da República.
1.5. COMPETÊNCIA DO SENADO FEDERAL
As atribuições privativas – e não delegáveis – do Senado Federal estão
listadas no art. 52 da Constituição da República.
1.6. COMISSÕES PARLAMENTARES
Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe:
a) discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a
competência do plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da Casa;
b) realizar audiências públicas com entidades da sociedade civil;
c) convocar ministros de Estado para prestar informações sobre assuntos
inerentes a suas atribuições;
d) receber petições, reclamações, representações ou queixas de qualquer
pessoa contra atos ou omissões das autoridades ou entidades públicas;
e) solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão;
f) apreciar programas de obras, planos nacionais, regionais e setoriais de
desenvolvimento e sobre eles emitir parecer.
No sistema constitucional brasileiro, há os seguintes tipos de comissões
parlamentares: permanentes, temporárias ou especiais, mistas e representativas.
Comissões Permanentes: São instituída em razão da matéria
parlamentares (constitucionalidade, orçamento...), em todas as legislaturas. Não
sofrem solução de continuidade. Exemplo: Comissão de Constituição
e Justiça e Comissão de Orçamento.

Temporárias ou especiais: São criadas em decorrência de uma


finalidade específica e extinguem-se ao término dos trabalhos, pelo
decurso do prazo ou em face do término da legislatura.

Mistas: São as que possuem representantes da Câmara dos


Deputados e do Senado Federal. Tanto podem ser permanentes
quanto temporárias.

Representativas: Funcionam durante o período de recesso


parlamentar. São eleitas pelas Casas na última sessão ordinária do
período legislativo, com atribuições definidas no regimento comum,
cuja composição reproduzirá, quanto possível, a proporcionalidade
da representação partidária.

Comissão Mista de Orçamento (§ 1º do art. 166 da Constituição)


É uma das mais importantes comissões do Congresso Nacional e tem
como atribuições:
a) examinar e emitir parecer sobre os projetos de lei relativos ao plano
plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais e
sobre as contas apresentadas anualmente pelo presidente da República; e
b) analisar e emitir parecer sobre os planos e programas nacionais,
regionais e setoriais previstos na Constituição e exercer o acompanhamento e a
fiscalização orçamentária, sem prejuízo da atuação das demais comissões parlamentares.
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
As CPIs têm poderes de investigação próprios das autoridades judiciais,
além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas. São criadas pela Câmara
dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, sendo suas
conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a
responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
A instauração de uma CPI deve observar os seguintes requisitos:
a) Forma: requerimento de um terço dos membros da respectiva Casa
Legislativa.
b) Tempo: prazo certo, determinado, admitidas prorrogações sucessivas
desde que dentro da mesma legislatura.
c) Substância: apuração de fato determinado, objetivo e concreto.
Quanto aos poderes de uma CPI, são próprios de investigação judicial.
Assim, seus membros podem colher depoimentos, ouvir indiciados, inquirir testemunhas,
notificando-as a comparecer perante elas e a depor, bem como requisitar documentos e
buscar todos os meios de prova legalmente admitidos.
No que tange aos dados, informações e documentos, podem ser
requisitados, ainda que protegidos pelo sigilo legal, desde que observadas as devidas
cautelas legais.
Os poderes de investigação são limitados, devendo observar todos os
direitos fundamentais. Assim, não podem os membros de uma CPI:
a) formular acusações nem punir delitos;
b) desrespeitar privilégios contra a autoincriminação que assiste a qualquer
indiciado ou testemunha;
c) decretar a prisão de qualquer pessoa, exceto da hipótese de flagrante;
d) efetivar atos atribuídos, com exclusividade, aos membros do Poder
Judiciário (busca domiciliar, interceptação ou escuta telefônica...); e
e) examinar o conteúdo de decisões judiciais.
1.7. ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS
Para assegurar a atuação independente do Poder Legislativo, a
Constituição assegura aos seus integrantes, de um lado, uma série de prerrogativas
(direitos, imunidades) e, de outro lado, estabelece as chamadas incompatibilidades
(deveres, impedimentos), reunidos no que é denominado estatuto parlamentar ou estatuto
dos congressistas, que é composto por prerrogativas e impedimentos ou
incompatibilidades.
Estatuto Prerrogativas: São direitos especificamente concedidos aos
parlamentar Deputados Federais e Senadores da República. Pela sua própria
natureza, as prerrogativas não podem ser relevadas, prevalecendo
inclusive durante o estado de sítio, somente podendo ser
suspensas pelo voto de dois terços dos membros da respectiva
Casa Legislativa e apenas em casos de atos praticados fora do
recinto do Congresso Nacional incompatíveis com a medida de
exceção (Constituição, art. 53, § 8º).
Impedimentos ou incompatibilidades: São vedações impostas
aos parlamentares, atos e funções incompatíveis com a atuação
dos Deputados e Senadores, estabelecidas tanto por motivos de
moralidade administrativa como para evitar a percepção de
vantagens indevidas.
Prerrogativas
As prerrogativas consubstanciam-se numa série de vantagens conferidas
aos parlamentares em virtude do cargo que, para fins meramente didáticos, podem ser
subdivididas em imunidade formal, imunidade material, outras imunidades e outras
prerrogativas.
A imunidade formal, processual ou relativa (art. 53, §§ 3º a 5º da
Constituição)13 é a imunidade temporária em matéria penal, que garante aos parlamentares
o processo criminal diferenciado, no âmbito do Supremo Tribunal Federal. O procedimento
estabelecido é o seguinte:

A imunidade material (art. 53, “caput” da Constituição) é a inviolabilidade


dos parlamentares por suas opiniões, palavras e votos, tanto no âmbito civil como no penal.
Alcança manifestações internas e externas, inclusive para órgãos de imprensa, desde que
compatíveis com o exercício do mandato legislativo.
Gozam, ainda, os parlamentares de outras imunidades:
Vedação à prisão (art. 53, § 2º da Constituição)
Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não
poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão
remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria

13 A imunidade relativa, embora somente prevaleça em matéria penal, não abrange todos os crimes; estão excetuados
os delitos contra a honra, para os quais prevalece a imunidade material.
de seus membros, resolva sobre a prisão.
Foro por prerrogativa de função (art. 53, § 1º da Constituição)
Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão
submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. Somente prevalece durante
o exercício do mandato.
Sigilo da fonte (art. 53, § 6º da Constituição)
Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre
informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as
pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações.
E, também, de outras prerrogativas:
Isenção do serviço militar (art. 53, § 7º da Constituição)
A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores, embora
militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva.
Subsídio
Corresponde à “remuneração dos parlamentares”, devendo ser fixado em
parcela única, defeso o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, verba de
representação ou outra qualquer espécie remuneratória (art. 39, § 4º da Constituição),
cabendo ao próprio Congresso Nacional fixá-lo (art. 49, inc. VII da Lei Maior), não podendo
exceder o subsídio mensal dos Ministros do Supremo Tribunal Federal (art. 37, inc. XI da
Carta Política).
Impedimentos ou incompatibilidades
Como já referido, os impedimentos ou incompatibilidades são vedações
impostas aos parlamentares para evitar o uso indevido do cargo em proveito próprio ou de
outrem. São classificados em funcionais, negociais e políticas.
Funcionais (art. 54, inc. I, alínea “b” e inc. II, alínea “b”)
Aos Deputados Federais e Senadores é vedado o exercício de outras
atividades remuneradas com entidades públicas. Não poderão:
a) desde a expedição do diploma, aceitar ou exercer cargo, função ou
emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis “ad nutum” (a qualquer
tempo), nas pessoas jurídicas de direito público, autarquias, empresas públicas,
sociedades de economia mista ou empresas concessionárias de serviço público; e
b) desde a posse, ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis “ad
nutum”, nas entidades retro citadas.
Negociais (art. 54, inc. I, alínea “a” e inc. II, alíneas “a” e “c”)
Não poderão, ainda, Deputados Federais e Senadores negociar com
entidades públicas. É vedado a eles:
a) desde a expedição do diploma, firmar ou manter contrato com qualquer
pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia
mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a
cláusulas uniformes; e
b) desde a posse: 1. ser proprietários, controladores ou diretores de
empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público,
ou nela exercer função remunerada; e 2. patrocinar causa em que seja interessada
qualquer das entidades retro citadas.
Políticas (art. 54, inc. II, alínea “d”)
De igual modo, é vedado aos Deputados e Senadores o exercício de mais
de um cargo público, nos seguintes termos:
a) não poderão, desde a posse, ser titulares de mais de um cargo ou
mandato público eletivo; e
b) não perdem o cargo, porém, quando investidos nos cargos de ministro
de Estado, governador de Território, secretário de Estado, do Distrito Federal ou de
Território, secretário de prefeitura de capital ou chefe de missão diplomática, ocasiões em
que devem optar por uma das remunerações.
Perda do mandato (art. 55 da Constituição)
A Constituição estabelece, taxativamente, as hipóteses de perda do
mandato14 de Deputados e Senadores, por decisão da Casa ou da mesa diretora

14 A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise ou possa levar à perda do mandato, terá seus
efeitos suspensos até a deliberação final da respectiva Casa, conforme o caso.
respectiva.
A perda por decisão da Casa se dará pelo voto secreto e maioria absoluta
dos membros dela, mediante provocação da Mesa ou de partido político representado no
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa, nos casos de:
a) infringência a qualquer das proibições funcionais, negociais ou políticas;
b) procedimento declarado incompatível com o decoro parlamentar15; e
c) condenação criminal em sentença transitada em julgado.
A perda por decisão da mesa diretora da Casa respectiva, será declarada
de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político
representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa, nos casos em que:
a) deixar de comparecer o parlamentar, em cada sessão legislativa, à terça
parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta
autorizada;
b) perder ou tiver suspensos os direitos políticos; e
c) o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos na Constituição.
1.8. PROCESSO LEGISLATIVO

O processo legislativo16 é o procedimento previsto na Constituição Federal


para a formulação das normas primárias, normas que retiram sua eficácia da própria “Lex
Mater”.
O processo legislativo é fruto do Poder constituinte originário que atribuiu
ao Congresso Nacional a competência de elaborar normas constitucionais derivadas e
normas infraconstitucionais.

15 É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno das Casas, o
abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens
indevidas.
16 O Supremo Tribunal Federal tem admitido o controle incidental da constitucionalidade do processo
legislativo, desde que a medida seja intentada por membros do Congresso Nacional. O objetivo é assegurar
aos parlamentares o direito público subjetivo de elaborar os atos legislativos da forma prescrita na
Constituição.
1.8.1. ESPÉCIES NORMATIVAS: EMENDA CONSTITUCIONAL, LEI
COMPLEMENTAR, LEI ORDINÁRIA, MEDIDA PROVISÓRIA, LEI
DELEGADA, DECRETO LEGISLATIVO, RESOLUÇÃO
A elaboração de normas constitucionais derivadas – que modificam a
Constituição Federal – configura o Poder reformulador ou reformador e é exercido por meio
de emendas constitucionais.
A instituição de normas infraconstitucionais – que materializam a
competência legislativa da União – conforma o Poder regulamentar e é praticado via leis
complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos
e resoluções.
1.8.2. CLASSIFICAÇÃO DOS PROCESSOS LEGISLATIVOS
No Brasil há três espécies de processos legislativos: ordinário ou comum,
sumário e especiais.
O processo ordinário ou comum é destinado à elaboração das leis
ordinárias. É o mais completo, pois nele estão presentes todas as fases do processo
legislativo: introdutória, constitutiva e complementar. Ocorre em um único turno de votação.
O processo sumário também é utilizado para a edição de leis ordinárias,
porém, em regime de urgência. Visa evitar a obstrução do Poder Executivo pelo Legislativo,
permitindo ao presidente da República solicitar urgência na apreciação dos projetos de sua
iniciativa.
Já os processos especiais são previstos para a elaboração de normas
específicas: emendas constitucionais, leis complementares, leis delegadas, medidas
provisórias, decretos legislativos e resoluções.
1.8.3. PROCESSO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: FASES INTRODUTÓRIA,
CONSTITUTIVA E COMPLEMENTAR
O processo legislativo ordinário ou comum é utilizado para elaboração de
leis ordinárias e possui três fases: introdutória, constitutiva e complementar.
A fase introdutória corresponde ao início do processo legislativo, à
apresentação do projeto de lei ao Congresso Nacional. É materializada pela iniciativa, a
qual se apresenta como comum, reservada e popular.
A iniciativa comum cabe aos parlamentares: qualquer membro do
Congresso Nacional (art. 61, “caput” da Lei Maior) ou de quaisquer de suas comissões.
Pode ser exercida isoladamente ou em conjunto.
A iniciativa reservada é atribuída a uma só pessoa ou órgão: presidente da
República, Supremo Tribunal Federal, Tribunais Superiores, Procurador-Geral da
República.
A iniciativa popular é exercida pelos cidadãos para proposição de projetos
de leis ordinárias e complementares. Constitui importante instrumento de democracia
participativa adotado na Constituição da República, tanto no âmbito federal (art. 61, § 2º)17
como no municipal (art. 29, inc. XIII). Na esfera de atuação dos Estados, a questão é tratada
nas respectivas Constituições estaduais.
A fase constitutiva representa a maturação do projeto de lei. É formada
pelas deliberações parlamentar e executiva.
A deliberação parlamentar é o momento em que o projeto de lei é analisado
pelo Congresso Nacional, seja pelas Comissões que o compõem, seja pelo plenário.
A deliberação executiva é o momento em que o projeto de lei é analisado
pelo chefe do Poder Executivo, pelo Presidente da República, que poderá sancioná-lo ou
vetá-lo.
A sanção é a aquiescência do chefe do Executivo ao projeto de lei aprovado
pelo Congresso Nacional. Pode ser expressa ou tácita. A sanção é expressa quando o
presidente da República manifesta sua concordância. É tácita quando aquela autoridade
deixa de manifestar-se, por escrito, sobre o projeto de lei, no prazo de quinze dias.
O veto representa a discordância do chefe do Executivo ao projeto de lei
aprovado pelo Congresso Nacional. Considerando a motivação do ato, o veto é jurídico –
quando o presidente da República o faz em razão de inconstitucionalidade (art. 66, § 1º da
Lei Maior) – ou político – quando a discordância do chefe do Executivo tem como
fundamento o interesse público.

17A iniciativa popular, no âmbito federal, é exercível pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto
de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados,
com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.
O processamento do veto apresenta-se da seguinte forma:

A fase complementar é a parte final do processo legislativo, em que o


projeto de lei aprovado torna-se ato legislativo típico, torna-se lei. É materializada pela
promulgação e pela publicação. A promulgação é o ato pelo qual se atesta a existência de
uma lei. Já a publicação é a comunicação feita a todos, via Diário Oficial, noticiando a
existência de uma nova lei, assim como o conteúdo dela.
Processo legislativo sumário
O processo legislativo sumário também é utilizado para elaboração de leis
ordinárias e difere fundamentalmente do processo ordinário no que se refere à fase de
deliberação parlamentar, a qual se apresenta com prazos determinadas para aprovação ou
rejeição, sob pena de trancamento da pauta de votação da Casa respectiva.
Processos legislativos especiais
Os processos legislativos especiais se referem à produção das demais
normas primárias: emenda constitucional, lei complementar, lei delegada, medida
provisória, decreto legislativo e resolução.
Os procedimentos para elaboração de emenda constitucional, lei
complementar, lei delegada e medida provisória podem ser assim sintetizados:
Emenda constitucional
Lei complementar

Lei delegada
Medida provisória

1.8.4. PROCESSO LEGISLATIVO ESPECIAL DAS LEIS ORÇAMENTÁRIAS


O processo legislativo especial das leis orçamentárias é tratado no art. 166
da Constituição da República.
Tipos
As chamadas leis orçamentárias, sujeitas ao processo legislativo especial
aqui tratado, são as leis relativas ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao
orçamento anual e aos créditos adicionais.
Iniciativa
A iniciativa é reservada, do presidente da República.
Analise preliminar pela Comissão mista permanente de orçamento
Recebido o projeto de lei encaminhado pelo presidente da República, será
ele apreciado pela Comissão mista permanente de orçamento, a qual cabe examinar e
emitir parecer sobre:
I - sobre os projetos recebidos e sobre as contas apresentadas anualmente
pelo presidente da República; e
II - os planos e programas nacionais, regionais e setoriais, bem como
exercer o acompanhamento e a fiscalização orçamentária, sem caráter de exclusividade.
Emendas parlamentares
Os parlamentares apresentarão suas emendas diretamente à Comissão de
Orçamento que sobre elas emitirá parecer.
No caso específico da lei orçamentária anual, somente poderá ser
aprovada caso compatível com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias;
indique os recursos necessários, admitidos apenas os provenientes de anulação de
despesas, com as limitações impostas pela Carta Republicana (dotações para pessoal e
seus encargos, serviço da dívida e transferências tributárias para os demais entes
Federados); e sejam relacionadas com a correção de erros ou omissões ou com
dispositivos previstos em projeto de lei.
As emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias devem ser
compatíveis com o plano plurianual.
Emendas presidenciais
O presidente da República pode enviar emendas aos projetos de lei
orçamentária, que serão apreciadas pela Comissão de Orçamento caso ainda não iniciada
a votação da parte cuja alteração é objeto da proposta.
Apreciação pelo Plenário, sanção presidencial e promulgação
Emitido o parecer pela Comissão de Orçamento, o projeto de lei será
apreciado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, nessa ordem, seguindo-se
os demais trâmites do processo legislativo ordinário.
Particularidades
Dada a imprescindibilidade das leis orçamentárias, não há que falar em
rejeição dos projetos pelo Congresso Nacional nem em veto total pelo presidente da
República.
1.8.5. PROCESSO LEGISLATIVO NOS ESTADOS E MUNICÍPIOS
O processo legislativo nos Estados-membros, Municípios e no Distrito
Federal é regido por legislação própria (constituição estadual ou lei orgânica, conforme o
caso), observado o que dispõe a Constituição da República sobre o tema.
A Constituição do Estado do Pará trata da matéria no art. 120 e ss. Ao
contrário da Carta Republicana, não prevê a medida provisória, o que significa que, no
âmbito do Estado do Pará, as espécies normativas são: emenda constitucional18, lei

18
Art. 103. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Assembléia Legislativa;
II - do Governador;
III - do Tribunal de Justiça, após aprovação pela maioria dos Desembargadores;
IV - de mais da metade das Câmaras de Vereadores dos Municípios do Estado, manifestando-se, cada uma
delas, pela maioria relativa de seus membros;
V - popular, na forma do art. 8°.
§ 1°. A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal no Estado, de estado de
defesa ou de sítio.
§ 2°. A proposta será discutida e votada em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em cada um
deles, três quintos dos votos dos membros da Assembléia Legislativa.
§ 3°. A emenda à Constituição será promulgada pela Mesa da Assembléia Legislativa, com o respectivo
número de ordem.
§ 4°. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa do Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
§ 5°. A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de
nova proposta na mesma sessão legislativa.
complementar19, lei ordinária20, lei delegada21, decreto legislativo e resolução22.

19
Art. 113. As leis complementares e suas alterações serão aprovadas por maioria absoluta.
§ 1°. Dentre outras previstas nesta Constituição, consideram-se leis complementares:
I - os Códigos de Finanças Públicas e Tributário do Estado;
II - as Leis Orgânicas do Ministério Público, da Procuradoria-Geral do Estado, da Defensoria
Pública, do Tribunal de Contas do Estado, do Tribunal de Contas dos Municípios, do Magistério
Público, da Polícia Civil e da Polícia Militar;
III - a Lei de Organização Judiciária do Estado.
§ 2°. As leis complementares terão numeração distinta da numeração das leis ordinárias.
20
Art. 104. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da
Assembléia Legislativa, ao Governador, ao Tribunal de Justiça do Estado, a órgãos e pessoas referidos
nesta Constituição.
Parágrafo único. A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Assembléia Legislativa de projeto
de lei subscrito por, no mínimo, meio por cento do eleitorado estadual, na forma do art. 8°.
Art. 105. São de iniciativa privativa do Governador as leis que:
I - fixem ou modifiquem os efetivos da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar;
II - disponham sobre:
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua
remuneração, ressalvada a competência dos demais Poderes, órgãos e instituições referidos nesta
Constituição;
b) servidores públicos do Estado, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria de
civis, reforma e transferência de militares para a inatividade;
c) organização da Procuradoria-Geral do Estado e da Defensoria Pública;
d) criação, estruturação e atribuições das Secretarias de Estado e órgãos da administração pública;
e) o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os orçamentos anuais.
Art. 106. Não será admitido aumento da despesa prevista:
I - nos projetos de iniciativa exclusiva do Governador, salvo se se tratar de emenda ao projeto de lei do
orçamento anual ou aos projetos que o modifiquem, de emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias,
observado o disposto no art. 166, §§ 3°. e 4°., da Constituição Federal;
II - nos projetos sobre organização dos serviços administrativos da Assembléia Legislativa, Tribunal de Justiça
do Estado, Tribunal de Contas do Estado, Tribunal de Contas dos Municípios, Ministério Público,
Procuradoria-Geral do Estado e Defensoria Pública;
Art. 107. O Governador, o Presidente da Assembléia Legislativa ou o Presidente do Tribunal de Justiça do
Estado poderá solicitar urgência para a apreciação de projetos de sua iniciativa.
§ 1°. Se, no caso deste artigo, a Assembléia Legislativa não se manifestar, em até quarenta e cinco dias sobre
a proposição, será esta incluída na ordem do dia, sobrestando-se a deliberação quanto aos demais assuntos,
para que se ultime a votação.
§ 2°. O prazo do parágrafo anterior não corre no período de recesso da Assembléia Legislativa, nem se aplica
aos projetos de códigos e de leis orgânicas.
§ 3°. A solicitação de urgência poderá ser feita após a remessa do projeto à Assembléia e em qualquer fase
de sua tramitação.
§ 4°. Em qualquer dos casos deste artigo, o prazo para deliberação começa a ser contado da data do
recebimento da solicitação.
Art. 108. O projeto de lei aprovado pela Assembléia Legislativa será enviado ao Governador, que,
aquiescendo, o sancionará.
§ 1°. Se o Governador considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse
público, veta-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento e
comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente da Assembléia Legislativa os motivos do veto.
§ 2°. O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.
§ 3°. Decorrido o prazo de quinze dias úteis, o silêncio do Governador importará sanção.
§ 4°. O veto será apreciado dentro de trinta dias, a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo
voto da maioria absoluta dos Deputados, em escrutínio secreto.
§ 5°. Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Governador.
§ 6°. Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4°., o veto será colocado na ordem do dia da
sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final.
§ 7°. Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Governador, nos casos dos §§ 3°. e
5°., o Presidente da Assembléia Legislativa a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, deverão fazê-
los os Vice-Presidentes da Assembléia, sucessivamente, na ordem de sua numeração.
§ 8°. Se a Assembléia estiver em recesso, o veto será publicado e o prazo referido no § 4°. começará a correr
do dia do reinício das reuniões.
1.9. TRIBUNAL DE CONTAS

Conforme já referido, o controle dos atos do Poder Público, incluídos os da


Administração indireta, é atribuição do Poder Legislativo.
O controle externo das contas do Poder Público, portanto, é exercido pelo
Poder Legislativo com o auxílio dos Tribunais de Contas, em todos os níveis (federal,
estadual, distrital e municipal).
1.9.1. TRIBUNAL DE CONTAS: TIPOS DE CONTROLE
A Constituição da República prevê duas formas de controle. O externo (art.
170, caput), exercido pelo Poder Legislativo com o auxílio dos Tribunais de Conta; e o
interno ou autocontrole (art. 74, inciso IV), exercido pelos próprios Poderes da República,
cada qual no âmbito da própria jurisdição.
1.9.2. TRIBUNAL DE CONTAS: SISTEMAS DE CONTROLE EXTERNO
O controle externo cabe ao Parlamento, em seus diferentes níveis. Os

§ 9°. No caso do parágrafo anterior, se considerar urgente a deliberação sobre o veto, o Presidente da Mesa
ou a Comissão Representativa referida no art. 101, § 5°, poderá convocar extraordinariamente a Assembléia
Legislativa.
Art. 109. Respeitada a ordem da respectiva promulgação, o Governador mandará publicar imediatamente a
lei.
Art. 110. A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na
mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros da Assembléia Legislativa.
Art. 111. Decorridos sessenta dias do recebimento de um projeto, o Presidente da Assembléia, a requerimento
de qualquer Deputado, mandará incluí-lo na ordem do dia, para discussão e votação, com ou sem parecer.
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Art. 112. As leis delegadas serão elaboradas pelo Governador, que deverá solicitar a delegação à
Assembléia Legislativa.
§ 1°. Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva na Assembléia Legislativa a matéria
reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria Pública, do Tribunal de Contas do
Estado, do Tribunal de Contas dos Municípios, a carreira e a garantia de seus membros;
II - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
§ 2°. A delegação ao Governador terá a forma de decreto legislativo da Assembléia, que especificará seu
conteúdo e os termos de seu exercício.
§ 3°. Se o decreto legislativo determinar a apreciação do projeto pela Assembléia, esta a fará em votação
única, vedada qualquer emenda.
22
Art. 114. Através de decreto legislativo, a Assembléia Legislativa se manifesta sobre as matérias de sua
competência exclusiva, e, através de resolução, regula matéria de seu interesse interno, político ou
administrativo.
Parágrafo único. Os decretos legislativos e as resoluções serão promulgados pela Mesa Diretora.
Tribunais de Conta o auxiliam a exercer o controle.
Os Tribunais de Conta, entretanto, não estão subordinados ao Poder
legislativo. A Carta Republicana lhes outorga autonomia para cumprimento de seu mister.
1.9.3. TRIBUNAL DE CONTAS: MODELO DE CONTROLE EXTERNO NO BRASIL
O controle externo adotado pela Constituição brasileira envolve a
fiscalização contábil, financeira, orçamentária, patrimonial e operacional de dinheiro
público, tanto da Administração Pública direta, como da indireta.
E, na forma do art. 170, caput, da Carta Republicana, há quatro
modalidades de fiscalização: legalidade, financeira, legitimidade e economicidade. Nas
palavras de Bulos (2009: p. 1008):
Há quatro modalidades distintas de fiscalização (CF, art. 170, caput):
• fiscalização da legalidade – vincula o administrador público ao império da lei, verificando a
validade formal e material dos atos administrativos em face da Constituição e do ordenamento
infraconstitucional;
• fiscalização financeira – controla a aplicação das subvenções, a renúncia de receitas, as
despesas e as questões contábeis;
• fiscalização da legitimidade – as finanças públicas devem ser geridas conforme os objetivos
politicamente aceitos pela Nação, a qual cumpre ser informada sobre o modo de gestão da coisa
pública; e
• fiscalização da economicidade – às finanças públicas cumpre perseguir o princípio do
custo/benefício. Logo, a despesa deve adequar-se à receita, de modo que os tributos pagos pela
população tenham destino útil. Noutras palavras, deve-se diminuir o gasto e aumentar o lucro,
em nome da eficiência administrativa (CF, art. 37, caput).
Na forma do parágrafo único do art. 170, da Lex Mater pátria, qualquer
pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou
administre bens e valores públicos ou pelos quais o Poder Público responda, ou, em nome
dele, assuma obrigações de natureza pecuniária, portanto, até mesmo, os Tribunais de
Contas, devem prestar contas, estando, assim, submetidas ao controle externo.
1.9.4. TRIBUNAL DE CONTAS: HISTÓRICO DOS TRIBUNAIS DE CONTAS
Sobre o histórico dos Tribunais de Conta brasileiros, mister citar o breve
relato de Bulos (2009: p. 1010), nos seguintes termos:
A iniciativa para criar Tribunais de Contas, no Brasil, partiu dos Senadores do Império,
Visconde de Barbacena e José Inácio Borges, em 1826.
Nos idos de 1845, Manoel Alves Branco reforçou a ideia, que não saiu do papel, nada
obstante os apelos de Pimenta Bueno, Silveira Martins, Visconde de Ouro Preto e João Alfredo.
Assim, o Brasil-Império não conheceu as Cortes de Contas.
Com o Decreto n. 966-A instituíram-nas, por insistência de Ruy Barbosa. Mas a
constitucionalização do Tribunal de Contas só ocorreu com a Carta Republicana de 1891 (art. 89),
mantendo-se nas constituições seguintes.
É curioso notar que o Texto de 1946 deu bastante espaço à instituição (art. 77), enquanto
a Lei Magna de 1967, e suas alterações posteriores, sufragaram-na no elenco considerável de
prerrogativas.
Promulgada a Carta de 1988, o Tribunal de Contas soergueu-se com enorme galhardia,
jamais vista antes.
Sua ampliação foi uma “consciente opção política feita pelo legislador constituinte, a
revelar a inquestionável essencialidade dessa instituição surgida nos albores da república. A
atuação dos tribunais de contas assume, por isso, importância fundamental no campo do controle
externo e constitui, como natural decorrência do fortalecimento de sua ação institucional, tema de
irrecusável relevância”. (STF. Pleno. ADIn 215/PB, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 3-8-1990, p.
7234)
1.9.5. TRIBUNAL DE CONTAS: NATUREZA JURÍDICA DOS TRIBUNAIS DE
CONTAS
A natureza jurídica dos Tribunais de Contas é administrativa. Eles não se
enquadram no contexto de órgãos jurisdicionais.
1.9.6. TRIBUNAL DE CONTAS: ORGANIZAÇÃO, COMPOSIÇÃO, SEDE E
JURISDIÇÃO DOS TRIBUNAIS DE CONTAS
TRIBUNAL DE CONTAS: PROCESSO DE ESCOLHA, GARANTIAS,
PRERROGATIVAS E IMPEDIMENTOS DOS MEMBROS
Tribunal de Contas da União (TCU)
Na forma do art. 73, caput da Constituição da República, o TCU é integrado
por nove Ministros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em
todo o território nacional.
Os Ministros do TCU serão nomeados (§ 1º do art. 73 da Constituição)
dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes requisitos:
a) mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade;
b) idoneidade moral e reputação ilibada;
c) notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros
ou de administração pública;
d) mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade
profissional que exija os conhecimentos mencionados no inciso anterior.
Os Ministros do TCU serão escolhidos (§ 2º do art. 73 da Constituição):
a) um terço pelo Presidente da República, com aprovação do Senado
Federal, sendo dois alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto
ao Tribunal, indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e
merecimento;
b) dois terços pelo Congresso Nacional.
Os Ministros do TCU possuem garantias e impedimentos (§ 3º do art. 73),
as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros
do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se lhes, quanto à aposentadoria e pensão as
mesmas normas dos servidores públicos titulares de cargos efetivos (Art. 40 da
Constituição). O auditor, quando em substituição a Ministro, terá as mesmas garantias e
impedimentos do titular e, quando no exercício das demais atribuições da judicatura, as de
juiz de Tribunal Regional Federal.
As competências do TCU estão listadas no art. 71 da Constituição, tendo
ainda outras atribuições:
a) Sustação de contrato (§§ 1º e 2º do art. 71 da Constituição): no caso de
contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional, que
solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis. Se o Congresso Nacional
ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não a efetivar, o próprio Tribunal decidirá
a respeito.
b) Eficácia das decisões (§ 3º do art. 71 da Lei Maior): as decisões do TCU
de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de título executivo.
c) Prestação de contas (§ 4º do art. 71 da Constituição): o TCU
encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral e anualmente, relatório de suas atividades.
d) Denúncias (§ 2º do art. 74 da Lei Maior): qualquer cidadão, partido
político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar
irregularidades ou ilegalidades perante o TCU.
Tribunal de Contas dos Estados
As normas disciplinadoras do TCU aplicam-se, no que couber, à
organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito
Federal, cabendo às Constituições estaduais disporem sobre os Tribunais de Contas
respectivos, que serão integrados por sete Conselheiros.
A Constituição paraense trata das atribuições do Tribunal de Contas do
Estado (TCE), no art. 11623.

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Art. 116. O controle externo, a cargo da Assembléia Legislativa, será exercido com o auxílio do Tribunal de
Contas do Estado, ao qual compete:
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Governador, mediante parecer prévio, que deverá ser
elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento;
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da
administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público
estadual e as contas daqueles que derem causa à perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte
prejuízo ao erário público;
As demais normas de organização do TCE estão inclusas nos arts. 118 a
12024 da Carta paraense.

III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na
administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas
as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias,
reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato
concessório;
IV - realizar, por iniciativa própria, da Assembléia Legislativa, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções
e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades
administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II;
V - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pelo Estado, mediante convênio, acordo, ajuste
ou outros instrumentos congêneres;
VI - fiscalizar a aplicação das quotas entregues pela União ao Estado, referentes ao Fundo de Participação
estabelecido no art. 159 da Constituição Federal;
VII - prestar as informações solicitadas pela Assembléia Legislativa, ou por qualquer de suas Comissões,
sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de
auditorias e inspeções realizadas;
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções
previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário;
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato cumprimento da
lei, se verificada ilegalidade;
X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Assembléia Legislativa;
XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados.
§ 1°. No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pela Assembléia Legislativa, que
solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis;
§ 2°. Se a Assembléia Legislativa ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar as medidas
previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.
§ 3°. As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de título executivo.
§ 4°. O Tribunal encaminhará à Assembléia Legislativa, trimestral e anualmente, relatório de suas atividades.
§ 5°. É assegurado ao Deputado Estadual, no Tribunal de Contas do Estado, acesso a processos de
diligências, inspeções, auditorias e de contas, dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário,
independentemente de já terem sido julgados pelo Tribunal.
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Art. 118. O Tribunal de Contas do Estado e o Tribunal de Contas dos Municípios, integrados por sete
Conselheiros, cada um, têm sede na Capital, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território
estadual, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 160, cabendo-lhes a iniciativa de leis que
disponham sobre a criação e extinção dos cargos de suas secretarias e serviços auxiliares, e fixação dos
respectivos vencimentos, provendo por concurso público de provas, ou de provas e títulos, os cargos
necessários à realização de suas atividades, exceto os de confiança assim definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização do Tribunal de Contas do Estado e do Tribunal de Contas
dos Municípios podendo dividi-los em câmaras e criar delegações ou órgãos destinados a auxiliá-los no
exercício de suas funções, visando à descentralização e interiorização de seus trabalhos.
Art. 119. Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado e do Tribunal de Contas dos Municípios serão
nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes requisitos:
I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade;
II - idoneidade moral e reputação ilibada;
III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública;
IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija os conhecimentos
mencionados no inciso anterior.
§ 1°. Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado e do Tribunal de Contas dos Municípios serão
escolhidos:
I - três pelo Governador, com aprovação da Assembléia Legislativa, sendo um de livre escolha, e dois,
alternadamente, dentre Auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal, indicados em lista tríplice
pelo Tribunal, segundo os critérios de antigüidade e merecimento;
II - Quatro pela Assembléia Legislativa.
§ 2°. Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado e do Tribunal de Contas dos Municípios terão as
mesmas garantias, prerrogativas e impedimentos, vencimentos e vantagens dos Desembargadores do
Tribunal de Justiça do Estado, aplicando-se-lhes quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do
art. 40 da Constituição Federal.
O controle das contas do próprio TCE é tratado no art. 122 25 da
Constituição paraense.
Tribunal de Contas dos Municípios
Também as normas estabelecidas do TCU se aplicam, no que couber, à
organização, composição e fiscalização dos Tribunais e Conselhos de Contas dos
Municípios. Mister destacar que, na forma do art. 31, § 4º da Constituição, é expressamente
vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de contas municipais, tendo sido
mantidos, entretanto, os Tribunais Municipais que já existiam antes da promulgação da
atual Carta Política.
Naqueles Municípios, onde não há Tribunais de Contas, o controle externo
é exercido pelas Câmaras Municipais, com o auxílio do Tribunal de Contas do Estado
respectivo.
No Estado do Pará temos o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), que
auxilia todas as Câmaras Municipais paraenses a exercer o controle externo das contas
municipais.
A Carta paraense dá ao TCM a mesma estruturação do TCE, nos arts. 118
a 120, retro transcritos.
2. PODER JUDICIÁRIO
O Poder Judiciário, na clássica tripartição dos poderes, é encarregado da
administração da justiça, da resolução dos conflitos intersubjetivos de interesses entre as
pessoas – físicas e jurídicas, de direito público e privado. É incumbido, portanto, da função
jurisdicional, ou seja, da função de fazer justiça.
Alguns autores colocam o judiciário como exercendo uma função por sua
natureza igual à desempenhada pela administração, executar ou aplicar a lei, o que não
significa que se recomende a fusão com o executivo.

§ 3º O Auditor, quando em substituição a Conselheiro, terá as mesmas garantias e impedimentos do titular


e, quando o exercício das demais atribuições da judicatura, as de Juiz de Direito de última Entrância.
§ 4° Os Conselheiros, nos casos de crimes comuns e nos de responsabilidade, serão processados e julgados,
originariamente, pelo Superior Tribunal de Justiça.
Art. 120 Os Auditores do Tribunal de Contas do Estado do Pará e do Tribunal de Contas dos Municípios,
serão nomeados pelo Governador, obedecida a ordem de classificação em concurso público de provas e
títulos, devendo o candidato preencher os seguintes requisitos:
I - diploma em curso superior referente aos conhecimentos mencionados no art. 119, III.
II - mais de trinta anos de idade, na data da inscrição do concurso, até 31 de dezembro de 2012 e mais de
trinta e cinco anos a partir de 01 de janeiro de 2013.
III - idoneidade moral e reputação ilibada;
IV – cinco anos, pelo menos, de efetiva atividade profissional, até 31 de dezembro de 2012, e 10 anos, pelo
menos, de efetiva atividade profissional a partir de 01 de janeiro de 2013.
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Art. 122. O Tribunal de Contas do Estado prestará suas contas, anualmente, à Assembléia Legislativa, no
prazo de sessenta dias da abertura da sessão legislativa.
A independência do Judiciário é uma necessidade da liberdade individual,
pois devem existir no Estado órgãos independentes que possam aplicar a lei, inclusive
contra o governo e contra a administração. Cientificamente falando, não existe uma função
jurisdicional diversa da administrativa. Politicamente falando, para salvaguarda da liberdade
individual, a aplicação da lei em casos concretos deve ser sempre confiada, em última
análise, a órgãos independentes e imparciais, não subordinados ao governo, mas somente
ao direito impessoal.
Assim é que, no Estado democrático de direito, cabe ao Judiciário o papel
de defender os cidadãos em face das leis inválidas e de garantir a legalidade e a
transparência dos poderes públicos contra seus próprios atos ilícitos. E é precisamente em
torno desses valores que reside o caráter democrático da jurisdição, como garantia, de um
lado, dos direitos de todos, dos direitos fundamentais e, de outro lado, do exercício legal
dos poderes públicos.
Princípios
O Poder Judiciário está sujeito a três princípios fundamentais: inércia,
devido processo legal e efeito inter partes.
Pelo princípio da inércia, o Judiciário somente se manifesta quando
provocado, de sorte a garantir sua atuação imparcial. O direito de ação é justamente a
prerrogativa de invocar a tutela jurisdicional do Estado.
Já o princípio do devido processo legal dispõe que, na prestação
jurisdicional, é mister se observe todas as formalidades legais.
Quanto ao princípio do efeito inter partes, releva que, via de regra, a
decisão judicial somente produz efeitos entre as partes que participam do processo.
Excepcionalmente, entretanto, é admitida a prestação jurisdicional com efeitos erga omnes,
em relação a todos.
Funções
O Poder Judiciário tem funções típicas e atípicas.
Poder Típicas: O Poder Judiciário é incumbido da função jurisdicional, ou
Judiciário seja, da função de fazer justiça. Ainda que com reservas, é possível
Funções aloca-lo como exercendo uma função por sua natureza igual à
desempenhada pela administração pública, executar ou aplicar a lei,
o que não significa que se recomende a fusão com o executivo.

Atípicas: Ao Poder Judiciário, na forma da Constituição, são


deferidas atribuições atípicas, como legislar (poder normativo da
Justiça do Trabalho, súmulas vinculantes...) e administrar
(orçamento, gerenciar o próprio quadro de pessoal...).
2.1. ESTATUTO DA MAGISTRATURA
O estatuto da magistratura representa o conjunto de garantias e vedações
impostas aos membros do Poder Judiciário.
Na forma do art. 93 da Carta Republicana brasileira, é matéria reservada à
lei complementar, observadas as regras expressamente previstas nos diversos incisos do
citado art. 93.
2.2. GARANTIAS E VEDAÇÕES DO PODER JUDICIÁRIO
Garantias
De sorte a oferecer a segurança indispensável aos membros do Poder
Judiciário, para que estes possam exercer seu mister, o ordenamento constitucional previu
o Estatuto da Magistratura, conjunto de garantias e vedações.
As garantias (art. 95) são a vitaliciedade, a inamovibilidade e a
irredutibilidade do subsídio.
Pela vitaliciedade os membros da Magistratura somente perdem o cargo
por sentença judicial transitada em julgado, mediante regular processo (ação civil) que corre
perante o tribunal ao qual estejam vinculados. Em primeiro grau, tal garantia e assegurada
após o estágio probatório correspondente a dois anos de efetivo exercício. Nos tribunais
(segundo grau), seus integrantes a adquirem a partir da posse, caso já não sejam vitalícios.
No que se refere à inamovibilidade, os juízes não podem ser removidos de
forma compulsória, qualquer que seja o motivo, da comarca em que exercem seu mister,
salvo por motivo de interesse público e somente após a deliberação favorável do tribunal
ao qual estejam vinculados, pelo voto de dois terços dos seus membros, assegurada ampla
defesa ao magistrado envolvido.
Quanto à irredutibilidade do subsídio, a “verba remuneratória” dos juízes,
em sentido nominal (não real), goza de irredutibilidade. Não gera, portanto, direito à
recomposição automática para preservação do valor decorrente de perdas inflacionárias.
Vedações
As vedações (art. 95, parágrafo único) são: parcialidade, defesa de
interesses particulares, percepção de vantagens, exercício de atividade político-partidária
e acumulação de cargos ou funções.
Pela parcialidade, é defeso aos juízes exercer atividades que possam
comprometer a posição de absoluta imparcialidade que devem observar em uma ação
judicial.
Quanto à defesa de interesses particulares, não pode o magistrado
envolver-se em atividades que redundem em defesa de interesses particulares. Assim é
que não poderão exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastaram, antes de
decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.
No que se refere à percepção de vantagens, não é lícito aos juízes receber,
a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo. Também não poderão
receber auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas,
ressalvadas as exceções legais.
O exercício de atividade político-partidária não é permitida ao magistrado
que, para dedicar-se a ela, deve se afastar do cargo.
A acumulação de cargos ou funções também não é facultada aos juízes,
ainda que em disponibilidade, salvo uma de magistério e desde que aja compatibilidade de
horário.
2.3. ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO
A estrutura organizacional do Poder Judiciário apresenta a justiça
especializada e a comum.
A justiça especializada é incumbida da prestação jurisdicional relativa a
matérias especiais (militar, eleitoral e trabalhista).
A justiça comum é toda aquela remanescente da justiça especializada; não
sendo especializada, é comum (estadual e federal).
No ápice do ordenamento jurídico encontra-se o Supremo Tribunal Federal,
representante maior de uma jurisdição especial, a jurisdição constitucional.
No Estado do Pará, a justiça é organizada em entrâncias e tem como órgão
superior o Tribunal de Justiça do Estado do Pará. A carreira da magistratura segue os
ditames constitucionais e é constituída pelos juízes (substitutos e titulares de primeira,
segunda e terceira entrância) e desembargadores.

Mister, ainda, destacar, que a Constituição da República consagrou o


quinto constitucional, reserva de vagas em alguns tribunais a advogados e membros do
Ministério Público (art. 94).

2.4. PRECATÓRIOS JUDICIAIS


Os precatórios judiciais são cartas expedidas pelos juízes que executam
sentenças contra a Fazenda Pública, endereçadas ao presidente do tribunal ao qual estão
vinculados, requisitando o pagamento da quantia certa devida pelo Poder Público.
O presidente do tribunal notifica a Instituição devedora para que inclua o
valor devido no orçamento para pagamento futuro. Se a notificação for entregue até o dia
1º de julho do ano em curso, a quantia devida será inclusa no orçamento do exercício
seguinte. Após tal data, será inclusa no orçamento do exercício posterior. O depósito em
juízo será realizado até o mês de dezembro, observada a ordem cronológica de
recebimento das notificações.
Na forma da Súmula 144 do Superior Tribunal de Justiça, “créditos de
natureza alimentícia gozam de preferência, desvinculados os precatórios da ordem
cronológica dos créditos de natureza diversa”.
Bulos (2009: p. 1065), entre outros, critica este instituto jurídico, por partir
“do pressuposto equivocado de que é impossível o Estado cometer ilícito quando os fatos
e dados comprovam o contrário”. E complementa:
Daí a impropriedade do art. 100 da Carta Magna, que isenta o Estado de cumprir
sentenças judiciais. Se foi ele que proibiu a justiça de mão própria, que assumiu o monopólio da
prestação jurisdicional, que instituiu o Judiciário e que estabeleceu o princípio da obediência à coisa
julgada, resta-lhe cumprir, espontaneamente, a sentença condenatória, quando vencido em juízo.
Trata-se de instituto tipicamente brasileiro, remanescente de um Estado
paternalista, arbitrário e cerceador dos legítimos direitos de seus nacionais.
2.5. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO:
ESCOLHA DOS MEMBROS DOS TRIBUNAIS SUPERIORES E
DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS JURISDICIONAIS
Escolha dos membros dos Tribunais Superiores
A escolha dos ministros dos Tribunais superiores é um ato complexo, que
envolve a vontade compartilhada dos Poderes Executivo, que indica o candidato ao cargo,
e Legislativo, que o aprova ou rejeita.
No caso do Supremo Tribunal Federal, seus onze ministros são escolhidos
entre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de
notável saber jurídico e reputação ilibada. O processo de nomeação dos ministros envolve:
1. a indicação pelo presidente da República; 2. a aprovação do indicado pelo Senado
Federal por maioria absoluta de votos; e 3. a nomeação pelo presidente da República.
Supremo Tribunal Federal
O Supremo Tribunal Federal – STF é o órgão de cúpula do Poder Judiciário
encarregado precipuamente da guarda da Constituição da República. É composto por onze
ministros.
A estrutura do STF: plenário, presidência e turmas.
SUPREMO
TRIBUNAL
FEDERAL

Plenário Presidência Turmas

O plenário é o órgão máximo da Instituição, composto pelos onze ministros


e com as competências – jurisdicionais e administrativas – estabelecidas nos arts. 5º, 6º,
7º e 8º do Regimento Interno – RISTF.
A presidência é exercida por um dos Ministros, eleito por seus pares para
um mandato de dois anos, vedada a reeleição para o período subsequente e com as
atribuições previstas no art. 13 do RISTF.
As turmas são órgãos fracionários, compostas por cinco Ministros e as
competências previstas nos arts. 8º e 9º do RISTF.
O STF tem competências originárias e recursais.
As competências originárias expressam o mister conferido aos ministros do
STF de julgar, originariamente ou em 1ª instância, as causas que lhes são submetidas.
Podem ser classificadas em: jurisdição constitucional26 - dirimir conflitos

26 Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;
c) nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de
Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente;
d) o "habeas-corpus", sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de
segurança e o "habeas-data" contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados
e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio
Supremo Tribunal Federal;
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros,
inclusive as respectivas entidades da administração indireta;
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
i) o “habeas corpus”, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade
ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate
de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância;
l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;
n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela
em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou
indiretamente interessados;
p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;
q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da
República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma
dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio
Supremo Tribunal Federal;
r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público;
§ 1.º A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada
pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.
com base na Lei Maior – e jurisdição ordinária27 – solução de conflitos com fundamento na
legislação infraconstitucional.
As competências recursais configuram o mister confiado aos ministros do
STF de, em grau de recurso, conhecer e decidir as causas já sentenciadas ou deliberadas
por juízes ou tribunais inferiores. É a consagração do princípio do duplo grau de jurisdição.
São os recursos ordinário28 e extraordinário29.
A Constituição da República conferiu também ao STF uma outra importante
competência, a de editar súmulas vinculantes (art. 103-A).
A súmula vinculante pode ser entendida como a sumulação de reiteradas
decisões da Suprema Corte sobre matéria constitucional que, depois de aprovada e
publicada na imprensa oficial, tem efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e
municipal.
A súmula vinculante tem por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia
de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários
ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e
relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.
As súmulas vinculantes são editadas pelo STF, de ofício ou por provocação

27 Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso
Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República;
c) nas infrações penais comuns, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de
Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente;
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o
Território;
j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;
m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições
para a prática de atos processuais;
o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais
Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal;

28 Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
II - julgar, em recurso ordinário:
a) o "habeas-corpus", o mandado de segurança, o "habeas-data" e o mandado de injunção decididos em
única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão;
b) o crime político;

29 Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a
decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.
(legitimados ativos para propositura de ação direta de inconstitucionalidade), mediante
decisão de dois terços dos seus membros. Cabe também ao STF, observado o mesmo
processo, a revisão ou o cancelamento de súmula vinculante por ele editada.
Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável
ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que,
julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial
reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula,
conforme o caso.
Conselho Nacional de Justiça
O Conselho Nacional de Justiça – CNJ é o órgão colegiado instituído para
efetuar o controle externo do Poder Judiciário, mais precisamente: o controle da atuação
administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais
dos juízes.
É composto por quinze membros com mais de trinta e cinco e menos de
sessenta e seis anos de idade, com mandato de dois anos, admitida uma recondução,
sendo: 1. dez magistrados; 2. um membro do Ministério Público; 3. dois advogados; e 4.
dois cidadãos.
O processo de nomeação de seus integrantes observa o seguinte
procedimento: 1. a indicação pelas Instituições expressas nos incisos II a XIII do art. 103-
B da Constituição da República; 2. a aprovação do indicado pelo Senado Federal por
maioria absoluta de votos; e 3. a nomeação pelo presidente da República. Não efetuadas,
no prazo legal, as indicações, caberá a escolha ao Supremo Tribunal Federal.
A estrutura do CNJ: plenário, presidência e corregedoria.
CONSELHO
NACIONAL
DE JUSTIÇA

Plenário Presidência Corregedoria

Procurador-Geral da República
Presidente do Conselho Federal da OAB

O Plenário é o órgão máximo da Instituição, formado por todos os


Conselheiros e se reúne com a presença de pelo menos dez de seus integrantes. Junto a
ele atuam o Procurador-Geral da República e o Presidente do Conselho Federal da Ordem
dos Advogados do Brasil, sem direito a voto. Sua competência está expressa no art. 4º do
Regimento Interno – RICNJ.
A Presidência é exercida pelo Presidente do STF e, nas suas ausências e
impedimentos, pelo Vice-Presidente do STF. As atribuições do Presidente estão listadas no
art. 6º do RICNJ.
A Corregedoria é ocupada pelo Ministro do Superior Tribunal de Justiça
com assento no CNJ. Sua função precípua é o processamento das reclamações e
denúncias contra o mau funcionamento dos juízes e tribunais. As competências constam
do art. 8º do RICNJ.
O CNJ tem as competências expressas no § 4º do art. 103-B30 da
Constituição da República.
Superior Tribunal de Justiça
O Superior Tribunal de Justiça – STJ é o órgão de cúpula da justiça comum,
encarregado precipuamente da uniformização da interpretação da legislação federal. É
composto por trinta e três ministros, sendo: (1) um terço (onze) ente os juízes dos Tribunais
Regionais Federais e um terço entre os desembargadores dos Tribunais de Justiça
estadual, indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio STJ; e (2) um terço, em partes
iguais, entre advogados e membros do Ministério Público (Federal, Estadual e do Distrito
Federal e Territórios), alternadamente, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de
representação das respectivas classes.
No primeiro caso, a lista tríplice será enviada ao presidente da República
que indicará um dos seus integrantes, seguindo-se o processo de forma similar ao dos
membros do STF (aprovação pelo Senado Federal, por maioria absoluta de seus membros,

30 § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do


cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem
conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir
atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos
administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou
fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da
competência do Tribunal de Contas da União;
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra
seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por
delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos
tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a
aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções
administrativas, assegurada ampla defesa;
IV - representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de abuso de
autoridade;
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais
julgados há menos de um ano;
VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da
Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;
VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a situação do Poder
Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo
Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da abertura da sessão legislativa.
e nomeação pelo presidente da República).
No segundo caso, da lista sêxtupla, o STJ formará lista tríplice, seguindo-
se o mesmo procedimento referido no parágrafo anterior.
O STJ também tem competências originárias e recursais. As competências
originárias estão expressas nas diversas alíneas do inciso I do art. 105 da Carta
Republicana brasileira. As recursais, expressas nas alíneas do inciso II (recurso ordinário)
e do inciso III (recurso especial) no mesmo artigo.
Tribunal Superior do Trabalho
O Tribunal Superior do Trabalho – TST é o órgão de cúpula da justiça
especializada do trabalho, encarregado precipuamente da uniformização da interpretação
da legislação trabalhista. É composto por vinte e sete ministros, sendo: (1) um quinto (cinco)
entre advogados e membros do Ministério Público do Trabalho, alternadamente, indicados
em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes; e (2) os demais
(vinte e dois) entre desembargadores federais do trabalho, oriundos da magistratura da
carreira, indicados pelo próprio TST.
O processo segue as mesmas regras retro dispostas para a nomeação dos
integrantes do STJ.
As competências da Justiça do Trabalho, não do TST, estão dispostas nas
diversas alíneas do art. 114 da Constituição da República.
Tribunal Superior Eleitoral
O Tribunal Superior Eleitoral – TSE é o órgão de cúpula da justiça
especializada eleitoral, encarregado precipuamente da uniformização da interpretação da
legislação eleitoral. É composto por sete ministros, sendo: (1) três entre os ministros do
Supremo Tribunal Federal e dois entre os ministros do Superior Tribunal de Justiça, eleitos
por seus pares (os membros dos Tribunais respectivos); e (2) dois entre advogados,
escolhidos e nomeados pelo presidente da República, a partir de indicação pelo STF (a
Suprema Corte elabora uma lista tríplice para cada cargo).
Na forma do art. 121 da Carta Republicana brasileira, lei complementar
disporá sobre a organização e estrutura da justiça eleitoral.
Superior Tribunal Militar
O Superior Tribunal Militar – STM é o órgão de cúpula da justiça militar da
União, encarregado precipuamente da uniformização da interpretação da legislação penal
militar aplicável às Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica). Não tem jurisdição
sobre os policiais militares estaduais. É composto por quinze ministros, sendo: (1) três entre
oficiais generais da Marinha, quatro do Exército e três da Aeronáutica; e (2) três advogados
e dois entre juízes auditores e membros do Ministério Público da Justiça Militar, de forma
paritária.
Os militares serão indicados e nomeados pelo presidente da República,
após a aprovação da indicação pelo Senado Federal. Já os civis, serão escolhidos e
nomeados pelo presidente da República.
Na forma do art. 124 da Constituição da República, compete à Justiça
Militar processar e julgar os crimes militares definidos em lei (Código Penal Militar).
3. MINISTÉRIO PÚBLICO
O Ministério Público, na forma da Carta Republicana brasileira, pode ser
conceituado como instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais
e individuais indisponíveis.
3.1. MINISTÉRIO PÚBLICO: ORIGEM HISTÓRICA
Bulos (2009), afirma do Ministério Público na França, em 1302, na
“ordonnance” do Rei Felipe, o Belo, que instituiu o cargo de “procureurs de roi”
(procuradores da coroa ou do rei).
Sobre a origem do Ministério Público brasileiro, o breve relato de Bulos
(2009: p. 1143-1144):
No Brasil, foi o Alvará de 7 de março de 1609 que criou o Tribunal de Relação da Bahia,
inaugurando as figuras do procurador dos feitos da Coroa e do promotor de justiça.
Em 1832, com o Código de Processo Criminal do Império, houve rápida referência ao
nomen juris, o “promotor da ação penal”.
Nascia, assim, o Ministério Público brasileiro, regulamentado, depois, pelo Decreto n. 120,
de 21 de janeiro de 1843, que prescrevia os critérios de nomeação dos promotores.
Com a Concolidação Ribas, de 1876, apareceu na segunda entrância o procurador da
Coroa, que não tinha o status de chefe dos procuradores.
Mas foi durante a primeira República, por obra do Ministro da Justiça do Governo
Provisório, Campos Sales – o precursor da independência do Ministério Público pátrio – que foi editado o
Decreto n. 848, de 11 de outubro de 1890, o qual veiculou a reforma da Justiça brasileira, atribuindo à
instituição ministerial contornos de grande importância para a época.
Nesse mesmo ano de 1890, também veio a lume o Decreto n. 1.030, que implementou,
definitivamente, o Ministério Público no Brasil.
3.2. ORGANIZAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
A estrutura do Ministério Público é assim definida: Ministério Público da
União e Ministérios Públicos dos Estados.
O Ministério Público da União é assim composto: 1. Ministério Público
Federal; 2. Ministério Público do Trabalho; 3. Ministério Público Militar; e 4. Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios. Tem por chefe o Procurador-Geral da República,
nomeado pelo presidente da República dentre integrantes da carreira, maiores de 35 anos,
após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal,
para mandato de dois anos, permitida a recondução. A destituição deste, por iniciativa do
presidente da República, será precedida de autorização da maioria absoluta do Senado
Federal.
Os Ministérios Públicos dos Estados organizam-se na forma da constituição
estadual e legislação específica. São chefiados por um Procurador-Geral de Justiça,
escolhido e nomeado pelos governadores dos Estados a partir de lista tríplice formada
dentre integrantes da carreira, para mandato de dois anos, permitida uma recondução.
O Ministério Público dispõe, ainda, de autonomia funcional e administrativa,
nos limites da Constituição da República e das leis. Em função dela, pode propor ao Poder
Legislativo a: 1. criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por
concurso público de provas ou de provas e títulos; 2. política remuneratória e os planos de
carreira.
3.3. PRINCÍPIOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Tem como princípios institucionais: unidade, indivisibilidade e
independência funcional.
O princípio da unidade releva que os membros do Ministério Público
integram uma só Instituição, sob direção única. O da indivisibilidade aduz que seus
membros não se vinculam aos processos em que atuam. Silva (ob. cit.: p. 595) deu uma
interpretação convergente destes dois princípios:
“Realmente, a pretensão da unidade nesse sentido já constava da exposição de motivos
da Comissão elaboradora dos estudos e do anteprojeto da antiga Lei Orgânica do MP... e
consagrado na atual... segundo a qual o Ministério Público é, em seus lineamentos básicos, uma só
instituição, que atua quer no plano federal, junto à justiça comum ou especial, quer no plano dos
Estados, Distrito Federal e Territórios. ‘Unidade nesse sentido’, disse acima, porque não é
simplesmente a unidade e a indivisibilidade da velha doutrina – unidade puramente interna e
intrínseca, independente da base constitucional, que permite a realização do princípio da devolução,
que dá ao chefe o poder de avocar funções de subordinados, ou a realização do princípio da
substituição que possibilita um membro cumprir funções do outro. Esta unidade também existe (CF,
art. 127, § 1º). Mas esta não passa, hoje, de reflexo da unidade mais ampla, de base constitucional,
aquela pela qual a Constituição envolve todos os ramos do Ministério Público nacional numa única
Instituição de caráter nacional.”
O princípio da independência funcional ressalta que seus membros só
devem obediência às leis e a sua consciência. Nas palavras de Silva (ob. cit.: p. 596):
“Portanto, ‘independência funcional’ que dizer apenas que no exercício de sua atividade-fim o
membro do Ministério Público, assim como seus órgãos colegiados, tem inteira liberdade de
atuação, não fica sujeito a determinações superiores, e só deve observância à Constituição e às
leis. Ninguém tem o poder legítimo de lhe dizer ‘faça isso’, ou ‘faça aquilo’, ‘faça assim’ ou ‘faça de
outro modo’. E, se o disserem, ele não está obrigado a atender... Essa independência não exclui
fique o membro do Ministério Público sujeito a correições dos órgãos superiores... no que tange à
sua conduta administrativa.”
3.4. GARANTIAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO
As garantias constitucionalmente asseguradas aos membros do Ministério
Público são as mesmas dos magistrados, ou seja:
(1) Vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo
senão por sentença judicial transitada em julgado.
(2) Inamovibilidade, salvo por interesse público, mediante decisão do
órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da maioria
absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa.
(3) Irredutibilidade de subsídio, salvo as deduções constitucionalmente
previstas.
3.5. MINISTÉRIO PÚBLICO: VEDAÇÕES CONSTITUCIONAIS
As vedações são as seguintes:
(1) Receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários,
percentagens ou custas processuais.
(2) Exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de
decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou
exoneração.
(3) Participar de sociedade comercial, na forma da lei.
(4) Exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública,
salvo uma de magistério.
(5) Exercer atividade político-partidária.
(6) Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de
pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as
exceções previstas em lei.
3.6. FUNÇÕES INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO
O Ministério Público tem as funções institucionais listadas no art. 129 31 da

31 Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos
assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
Constituição da República.
3.7. MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO TRIBUNAL DE CONTAS
Urge, finalmente, destacar, a existência de Ministério Público junto aos
Tribunais de Contas que, embora não façam parte da estrutura do Ministério Público, a seus
membros aplicam-se as disposições da Constituição da República pertinentes a direitos,
vedações e forma de investidura dos membros do Ministério Público.
4. OUTRAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA
4.1. ADVOCACIA
A advocacia, é um dos elementos indispensáveis à administração
democrática da justiça. Abrange a advocacia pública e a advocacia privada.
A advocacia privada é exercida pelos advogados – bacharéis em Direito
regularmente inscritos nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil –, invioláveis por
seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.
Com efeito, essa garantia constitucional – inviolabilidade – coaduna-se com
a necessária intervenção e participação da nobre classe dos advogados na vida de um
Estado democrático de direito. Trata-se do reconhecimento do papel do advogado como
elo responsável pela conexão entre as pessoas e o Poder Judiciário.
O tema é detalhado no Estatuto da Advocacia e da OAB (Lei nº 8.906, de
1994) que, em seu art. 1º estabeleceu como atividade privativa de advocacia “a postulação
a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais”.
A indispensabilidade do advogado para postular em juízo, entretanto, não
é absoluto. Por meio de leis especiais, o ordenamento jurídico brasileiro consagrou o “ius
postulandi” na Justiça do Trabalho, nos Juizados Especiais, bem como na postulação via
“habeas corpus” e revisão criminal.
Mister destacar que estar desacompanhado de advogado não é direito,
mas desvantagem; a parte desacompanhada de advogado fica em nítida desvantagem
técnica perante a outra parte. No âmbito trabalhista, por exemplo, já na reclamação verbal,

IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos


Estados, nos casos previstos nesta Constituição;
V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;
VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e
documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo
anterior;
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos
jurídicos de suas manifestações processuais;
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe
vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.
a parte fica na dependência da interpretação jurídica que dos fatos dá o funcionário que
reduz a termo suas afirmações; depois vêm as dificuldades do leigo na instrução e nos
demais atos processuais.
De se concluir, portanto, que o “ius postulandi” é um direito reconhecido às
pessoas de, na forma da lei, buscar diretamente a tutela jurisdicional do Estado, sem a
interveniência obrigatória de advogado. Embora o preceito traga consigo a vantagem da
celeridade no ajuizamento de ação, acarreta a desvantagem proveniente da ignorância
jurídica do postulante, isto é, do desconhecimento ou do conhecimento superficial das leis
e da consequente impossibilidade de produzir a melhor defesa em face das teses em
debate.
4.2. ADVOCACIA PÚBLICA
A advocacia pública, no nível federal, é exercida pela Advocacia-Geral da
União que, diretamente ou via órgão vinculado, representa a União, judicial e
extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua
organização e funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do
Poder Executivo. É chefiada pelo Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo
Presidente da República dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber
jurídico e reputação ilibada. O ingresso nas classes iniciais das carreiras se faz mediante
concurso público de provas e títulos.
4.3. DEFENSORIA PÚBLICA
A Defensoria Pública é essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa dos necessitados (pessoas que não podem
arcar com os custos do processo), em todos os graus.
No âmbito federal é organizada pela Lei Complementar nº 80, de 12 de
janeiro de 1994, que dispõe sobre a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e
dos Territórios e prescreve as normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos
de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos,
assegura a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e veda o exercício da advocacia
fora das atribuições institucionais.

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