Sie sind auf Seite 1von 35

GESTÃO FINANCEIRA:

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
Professor:
Me. Julyerme Tonin
DIREÇÃO

Reitor Wilson de Matos Silva


Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Diretoria Executiva Pedagógica Janes Fidelis Tomelin


Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho
Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha
Head de Projetos Educacionais Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano
Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho
Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey
Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo
Projeto Gráfico Thayla Guimarães
Designer Educacional Giovana Vieira Cardoso
Editoração Flávia Thaís Pedroso

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação


a Distância; TONIN, Julyerme.

Conceitos de Gestão Financeira. Julyerme Tonin.
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.
35 p.
“Pós-graduação Universo - EaD”.
1. Gestão 2. Financeira 3. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0014-6
CDD - 22 ed. 352.4
CIP - NBR 12899 - AACR/2

As imagens utilizadas neste livro foram


obtidas a partir do site shutterstock.com

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900
Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
sumário
01 06| IMPORTÂNCIA E PRINCIPAIS FUNÇÕES DA GESTÃO
FINANCEIRA

02 15| ANÁLISE DOS RISCOS: CONTEXTO HISTÓRICO

03 22| ANÁLISE DOS RISCOS NO AMBIENTE EXTERNO DA


EMPRESA
GESTÃO FINANCEIRA: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
•• Definir os conceitos de função financeira, gestão financeira e análise
financeira, destacando a importância do gestor financeiro para a empresa.
•• Mostrar os principais riscos existentes decorrentes do ambiente econômico
e financeiro no qual a empresa está inserida.
•• Evidenciar que o fluxo internacional de capitais e a volatilidade presente
nos diferentes mercados bem como alterações na taxa de câmbio, na taxa
de juros e inflação são fontes de risco para as empresas.

PLANO DE ESTUDO

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:


•• Importância e Principais Funções da Gestão Financeira
•• Análise dos Riscos: Contexto Histórico
•• Análise dos Riscos no Ambiente Externo da Empresa
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), iniciamos nosso estudo sobre Conceitos de Gestão Financeira,


destacando a relevância do termo “Gestão”, sempre presente no dia a dia dos
stakeholders, e a atualidade do termo “financeiro”. Em suma, os aspectos financeiros
permeiam todas as instâncias da vida moderna, sendo que terminologias, como
administração financeira, crise financeira, gestão financeira, mercado financeiro,
entre outras, já são corriqueiras. Desse modo, nesta unidade, buscamos introduzir
o conceito de gestão financeira e demais conceitos correlatos a esse tema.
A atuação em um mercado financeiro em franca expansão, a tomada de
decisões em grandes corporações, ou mesmo em uma empresa de base familiar,
requer o conhecimento de aspectos ligados à Gestão Financeira. Um bom
gestor financeiro não é afetado pelo “achismo”, ele se baseia em indicadores,
ele não é conduzido pelo viés retrospectivo (Eu avisei! Se tivesse feito isso!) ou
pelos alarmistas de plantão. O gestor toma decisões com base em uma análise
fundamentada, preocupando-se com o planejamento financeiro, a captação e
gestão dos recursos existentes na empresa, o fluxo de caixa, os estoques, fica
de olho nas mudanças econômicas que podem influenciar a sua companhia.
Em suma, é exigida desse profissional certa versatilidade.
Com isso, espera-se que o conteúdo apresentado desperte seu interesse para
a multiplicidade de aspectos que circundam o conceito de gestão financeira.
Ou seja, não temos a intenção de encerrar o debate sobre esse vasto tema, a
ideia aqui é apresentar conceitos introdutórios, que somados a outros conceitos
vão solidificar a base para o entendimento da importância da gestão financeira.
Como o gestor financeiro atua em várias frentes dentro de uma empresa, o
presente material constitui-se em um subsídio para que o aluno seja apresentado
a vários dos temas correlatos à gestão financeira, sem a pretensão de grande
aprofundamento nessas questões. Enfim, seja bem-vindo(a) e aproveite essa
interessante temática, que é a gestão financeira.

introdução
6 Pós-Universo

IMPORTÂNCIA
E PRINCIPAIS
FUNÇÕES
DA GESTÃO
FINANCEIRA
Dentro da vasta área das finanças, Weston e Brigham (2000) destacam que existem três
áreas correlacionadas: mercado monetário e de capitais, investimentos e administração
financeira. O mercado monetário é composto por bancos, companhias de seguro, de
poupança e de empréstimo; associações de crédito coexistem, no qual os agentes se
preocupam com aspectos relacionados à taxa de câmbio, taxa de juros, regulamentação
das instituições financeiras.
O mercado de investimentos é composto por bancos, fundos mútuos ou
companhias de seguros que administram carteiras de investimentos. Por fim, tem-se a
administração financeira, a mais ampla das três áreas segundo o autor, que envolve
decisões desde a expansão de uma fábrica, estoques, capital de giro até a distribuição
de dividendos (WESTON; BRIGHAM, 2000).
Para Gitman (2004), a administração financeira compreende as mais diversas
tarefas financeiras, avaliação de projetos, planejamento financeiro, captação de
recursos, concessão de crédito a clientes, entre outras. Para Ansoff (1977), as empresas
têm que tomar decisões estratégicas, administrativas e operacionais. As decisões
estratégicas referem-se às relações entre a empresa e seu ambiente, e são decisões
da alta administração que geram atos com efeito duradouro.
Pós-Universo 7

reflita
O procedimento natural de uma pequena empresa é esquivar-se do
planejamento. Sendo que o planejamento financeiro nas pequenas empresas
é caracterizado pela informalidade, com uma tendência de que os objetivos
e procedimentos sejam focados no futuro próximo. Como as pequenas
empresas não têm a prática de contratar um gestor financeiro, qual seria o
caminho para a implantação de um planejamento financeiro “formal” que
atenda às necessidades dessas empresas?

Por sua vez, as decisões administrativas ou tácitas ocorrem no nível gerencial, produzem
efeitos a médio prazo e estão relacionadas com a estruturação dos recursos da
empresa visando ao melhor resultado possível. As decisões operacionais estão ligadas
ao dia a dia da empresa, e são tomadas para alcançar padrões de funcionamento
preestabelecidos, com o intuito de criar as condições adequadas para a realização
do trabalho diário da organização (ANSOFF, 1977).
Esse tipo de decisão permite a geração de um nível detalhado de informação
de tarefas ou atividades possibilitando a criação de indicadores plausíveis sobre a
situação da empresa. Essas decisões são inerentes ao gestor financeiro, destacando,
assim, a importância desse profissional para a empresa e como a gestão financeira
está intrinsecamente ligada às demais atividades da empresa.

fatos e dados
O painel “Os desafios dos grandes empreendimentos e importância da
engenharia de projetos no Brasil”, apresentado na edição 2012 da Rio Oil e
Gas, no Rio de Janeiro, destaca que o foco em ferramentas de gestão é um
dos destaques do Plano de Negócios e Gestão 2012-2016. Nessa ocasião,
após sete anos da primeira descoberta de petróleo na camada pré-sal,
ocorrida em 2006, a Petrobras atingiu a marca de 300 mil barris por dia. Na
porção americana do Golfo do México, por exemplo, foram necessários 17
anos, depois da primeira descoberta, para se alcançar a produção de 300
mil barris de petróleo por dia. Nesse contexto, o equilíbrio entre os Ciclos
Operacional Econômico e Financeiro é de fundamental importância para
essa empresa. Leia o artigo na íntegra em: <http://www.conselhos.org.br/
site.aspx/Detalhe-de-Destaque-COG?codNoticia=uPVzULtLj70=>.
8 Pós-Universo

No âmbito dessa área das finanças, denominada por Weston e Brigham (2000) como
administração financeira, é necessário definir alguns conceitos: função financeira,
gestão financeira e análise financeira. Para Ferreira e Esperto (2007), a função financeira
compreende um conjunto de atividades relacionadas com a gestão dos valores
movimentados por todas as áreas da empresa, e engloba a preparação, execução e
controle das decisões financeiras da empresa.
Ou seja, trata dos meios para que a empresa compre, produza, venda ou
simplesmente troque recursos financeiros. Encontrada em diferentes tipos de empresa,
a função financeira tem um papel importante no desenvolvimento das atividades
operacionais, assegurando que a soma dos resultados obtidos nessas atividades
contribua para o sucesso do empreendimento.
Ferreira e Esperto (2007) destacam que a função financeira conduz os responsáveis
da organização e outras entidades no processo de tomada de decisão. Dentre os
objetivos da função financeira, podem-se destacar: assegurar os fluxos econômicos
e financeiros da empresa, maximizando o resultado obtido; adequar as fontes de
financiamento minimizando os riscos; elaborar estudos avaliativos sobre a situação
econômico-financeiro da empresa, e disponibilizar informações para todos os
envolvidos no processo decisório.
Ademais, a gestão financeira consiste em um conjunto de rotinas, centralizadas
hierarquicamente ou não, que preocupam-se com a mobilidade funcional do capital,
tanto no ambiente interno quanto no ambiente externo da empresa. Para Ferreira e
Esperto (2007), a gestão financeira envolve aspectos relacionados ao passado (registro
e monitoramento), ao presente (controle financeiro) e ao futuro (planejamento
financeiro) da instituição. Dentre os objetivos da gestão financeira, podem-se citar:
assegurar a estrutura financeira mais adequada; manter a integridade do capital e
promover o seu reforço sempre que possível; assegurar a rentabilidade e solvabilidade
da empresa.
Na gestão financeira de uma empresa, é possível identificar qual é o montante
de recursos disponíveis; o que se pode fazer com os recursos disponíveis perante
as alternativas de investimento; qual o recurso necessário para um determinado
empreendimento, no qual é possível obter os recursos necessários.
Pós-Universo 9

Hoji (2009) divide as decisões do gestor financeiro em três etapas. A primeira


etapa seria a de Análise, Planejamento e Controle Financeiro, que consiste na
coordenação, monitoramento e avaliação de todas as atividades da empresa, por meio
de relatórios financeiros. A segunda etapa compreende as Decisões de Investimento,
as quais se referem à destinação dos recursos financeiros, considerando uma adequada
relação de risco e retorno entre os capitais investidos. Por fim, têm-se as Decisões de
Financiamento, a qual compreende as decisões tomadas para captação de recursos
financeiros, considerando a estrutura de capital adequada, composta por capitais de
curto e longo prazo.
Para Hoji (2009, p. 415), o planejamento de modo geral deve atender aos seguintes
princípios: contribuição aos objetivos, precedência, abrangência, maior eficiência,
eficácia e efetividade. Para Zdanowicz (2003), o planejamento financeiro deve
levar em conta alguns princípios básicos, tais como: ser exequível, a meta proposta
deve ser viável, possível de ser realizada; ser quantificável, dados concretos passíveis
de análise estatística; ser flexível, permitir adequações a situações imprevistas, e ser
único, integrado em um plano geral.
Como uma terceira etapa da administração financeira, tem-se a Análise Financeira.
A Análise financeira engloba um conjunto de instrumentos, técnicas e métodos que
permitem conhecer, avaliar e interpretar (realizar diagnósticos) a situação financeira
e econômica da empresa.
Dentre os objetivos da análise financeira, pode-se destacar: diagnosticar, propor
medidas e detectar tendências futuras; informar todos os interessados sobre o
desempenho da empresa; e colaborar na definição da estratégia de expansão da
empresa. Para Helfert (2000), pode ser usada para interpretar o desempenho do
sistema empresarial, sendo agrupada de acordo com os seguintes pontos de vista
analíticos: contabilidade financeira, análise do investidor e engenharia econômica.
10 Pós-Universo

Enfim, ao falar sobre função, gestão ou análise financeira, estamos descrevendo o


processo decisório da empresa. Sendo que o sucesso da operação, do desempenho e da
viabilidade, a longo prazo, de qualquer negócio depende de uma sequência contínua
de decisões. Essas decisões financeiras envolvem o diagnóstico, monitoramento,
a tomada de decisões e prognósticos quanto ao futuro do empreendimento, sendo
que essas decisões impactam os recursos financeiros existentes.
No tocante às decisões financeiras, as mesmas podem ser divididas em decisões de
curto e de longo prazo. Para Ferreira e Esperto (2007), as decisões financeiras de curto
prazo englobam colocação de disponibilidades, cessão de créditos, endividamento
e recursos bancários. Por sua vez, as decisões de longo prazo englobam aquisição de
ativos corpóreos (edifícios, equipamentos etc.), ativos incorpóreos (alvarás) e ativos
financeiros.
Em última instância, falamos de informação financeira, sendo a informação que
as empresas preparam com base e regras em princípios contábeis, e devem, entre
outros aspectos, ser apresentados de forma clara e compreensível, sendo factíveis e
confiáveis, permitindo comparabilidade quando necessário e, sempre que possível,
serem tempestivas, ou seja, apresentadas no momento apropriado.

saiba mais
Silva (2002), em seus estudos sobre pequenas e médias indústrias de confecção
no Paraná, concluiu que os instrumentos de gestão mais utilizados são:
administração de caixa, de contas a receber, de estoques, de contas a pagar
e de custos de produção. Segundo o pesquisador, os gestores financeiros
responsáveis pela tomada de decisão nessas empresas classificam como
informações importantes: o ciclo financeiro, o prazo médio de recebimento,
o prazo médio de pagamento, a necessidade de capital de giro. Enquanto
que informações sobre prazo médio de estocagem, ciclo econômico etc.
são variáveis menos valorizadas, com base nos resultados do estudo.
Fonte: SILVA, A. A. (2002).
Pós-Universo 11

Até aqui foram apresentadas várias terminologias (função financeira, gestão financeira,
análise financeira, decisões financeiras e informação financeira). Conhecendo essas
terminologias, destacando que as mesmas são indissociáveis, doravante, trataremos
do termo Gestão Financeira. O próximo passo da análise é apresentar os diferentes
ciclos da empresa e sua relação com o processo de gestão.
Para Hoji (2009), o Ciclo Operacional de uma empresa compreende o período
que se inicia na aquisição da matéria-prima para produção (empresas industriais)
ou na aquisição de mercadoria (empresas comerciais), ou na prestação de serviços
(empresas de serviços), e se finaliza no recebimento pelo produto ou serviço final.
Para o autor, o ciclo operacional é a soma do prazo de rotação dos estoques e prazo
de recebimento da venda.
Por sua vez, Assaf Neto e Silva (1997) dizem que o Ciclo Financeiro mede
exclusivamente as movimentações de caixa, abrangendo o período compreendido
entre o desembolso inicial de caixa e o recebimento da venda do produto. Ou seja,
representa o intervalo de tempo de que a empresa irá necessitar efetivamente ao
financiamento para suas atividades.
Por fim, Hoji (2009) destaca que o Ciclo Econômico inicia-se com os desembolsos
ou gastos na compra da matéria-prima (esses gastos podem ser feitos antes da efetiva
obtenção da matéria-prima) e encerra-se com o recebimento pelo produto fabricado.
Para Assaf Neto e Silva (1997), o ciclo econômico não leva em conta os reflexos de
caixa verificados em cada fase operacional, ou seja, os prazos de recebimentos das
vendas e os pagamentos dos gastos incorridos. A Figura 1 apresenta a relação entre
os ciclos econômico, financeiro e operacional da empresa.
12 Pós-Universo

Figura 1: Ciclos Econômico, Financeiro e Operacional para uma empresa industrial


Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2007, p. 521)
Nota: PMEMP - Prazo médio de estocagem da matéria-prima
PMF - Prazo Médio de Fabricação
PMV - Prazo Médio de Venda
PMC - Prazo Médio de Cobrança (ou de recebimento)
PMPF - Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores
Para Assaf Neto (2007), a diferença entre os ciclos operacional, econômico e financeiro
pode ser explicitada por meio das seguintes fórmulas:

Ciclo Operacional = PMEMP + PMF + PMV + PMC

Ciclo Econômico = PMEMP + PMF + PMV

Ciclo Financeiro = (PMEMP + PMF + PMV + PMC) – PMPF


Pós-Universo 13

O gestor financeiro pode avaliar a dinâmica desses três ciclos por meio do cálculo
de alguns indicadores de prazo médio. O prazo médio de estocagem da matéria-
prima é dimensionado levando em conta o custo de capital, custo das instalações,
custo dos serviços e risco de estocagem (BRAGA, 1995).
O prazo médio de fabricação depende do ramo de atividade da empresa, e o
prazo de venda depende das características do mercado em que a empresa atua,
sendo variáveis exógenas ao gestor, ou seja, na maioria das vezes, o gestor não tem
como promover alterações nesse prazo.
O prazo médio de cobrança ou recebimento indica o tempo decorrido, em
média, entre a venda de seus produtos e o efetivo ingresso dos recursos. Esse prazo
é afetado pela política de crédito da empresa. O prazo médio de pagamentos
representa o tempo decorrido, em média, o prazo que a empresa vem obtendo de
seus fornecedores para quitar suas obrigações advindas da compra de matérias-primas
ou serviços (BRAGA, 1995). Esses prazos são indicadores muito importantes, sendo
utilizados pelo gestor para aumentar a eficiência da gestão dos recursos da empresa.
Enfim, esses distintos ciclos são utilizados para mensurar o tempo em que cada
atividade da empresa é desenvolvida. São úteis na medida em que refletem a cultura
organizacional da empresa, sendo que o entendimento desses ciclos é um ponto
primordial na elaboração do orçamento, para projetar as necessidades de capital de
giro e entender o fluxo de caixa da empresa, elementos que serão analisados nas
próximas aulas.
14 Pós-Universo

saiba mais
Quando temos problemas de saúde, procuramos um médico, relatamos
os sintomas da doença que nos atinge. Em seguida, esse médico irá fazer
uma série de perguntas, tais como: idade, hábitos alimentares, prática
esportiva, aspectos laborais etc. Essas informações, juntamente com exames
laboratoriais, ajudam no diagnóstico para que o médico recomende um
tratamento. Após algum tempo, retornamos ao médico para avaliação, se
o tratamento foi adequado, ficaremos curados e felizes.
No campo empresarial, a situação é quase idêntica, você sabia? Quando uma
empresa está com alguma dificuldade ou “doença empresarial”, procura ajuda
de um consultor ou um profissional qualificado, selecionado normalmente
por intermédio de boas referências e experiências na resolução de problemas
empresariais. No primeiro contato, o gestor da empresa expõe o problema,
e o consultor, por meio de técnicas e procedimentos adequados, avalia a
situação apresentada, efetua um diagnóstico e propõe um plano de ação
visando solucionar os problemas empresariais apresentados.
A decisão é do gestor da empresa de aceitar ou não o plano de ação
proposto. Caso concorde, o passo seguinte é a implantação do plano de
ação e avaliação dos resultados. Com essa abordagem ilustrativa, o SEBRAE
lançou a série Guia do Empreendedor, composta por cinco fascículos,
que traz informações para a gestão de micro e pequenas empresas, sendo
que um desses fascículos trata de uma maneira simples e direta a Gestão
Financeira.
Fonte: SEBRAE (2014)
Pós-Universo 15

ANÁLISE
DOS RISCOS:
CONTEXTO
HISTÓRICO
As finanças das empresas já são elementos de estudo da Ciência Econômica desde
os primórdios. Para Assaf Neto (2007), a Grande Depressão da década de 1930, a
influência de diferentes vertentes teóricas, a crescente complexidade dos negócios
possibilitaram a criação e a expansão da teoria das finanças. Nesse contexto, as
décadas de 1950 e 1960 foram prodigiosas para o ramo das finanças, sendo que os
gestores financeiros da atualidade se beneficiam das inovações de autores, como
Harry Markowitz, William Sharpe, Franco Modigliani, Merton Miller, Eugene Fama,
entre outros.

fatos e dados
Os cientistas já citados receberam o Prêmio Nobel de Economia. Franco
Modigliani, em 1985; Harry Markowitz, William Sharpe e Merton Miller, em
1990; Myron Scholes, em 1997; e Eugene Fama, em 2013.
Para saber a lista completa, acesse:<http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/
economic-sciences/laureates/>.
16 Pós-Universo

Na década de 1950, surgem duas correntes com forte influência sobre as finanças
modernas: Markowitz, em 1952, e Modigliani e Miller, em 1958. Harry Markowitz lança
as bases da teoria do portfólio, avaliando a relação risco e retorno, sendo seguido por
autores como Tobin (1952) e Sharpe (1964), mas a importância dos seus estudos só
foi reconhecida a partir da década de 1970. Por sua vez, no teorema Modigliani-Miller,
esses autores desenvolveram a concepção de que o valor da empresa independe de
sua estrutura de capital (SAITO; SAVOIA; FAMÁ, 2006).
Nesse sentido, a moderna gestão do risco, especificamente o risco financeiro,
ganhou ímpeto com a teoria do portfólio de Markowitz (1952). A contribuição
desse autor, com a teoria do portfólio, se baseia na redução do risco por meio da
diversificação de ativos, rejeitando a hipótese de que os investidores devem formar
o seu portfólio embasado somente no maior retorno esperado. A partir de então, a
relação risco e retorno foi avaliada por outro prisma; deixou-se de avaliar unicamente
o risco isolado de cada ativo para avaliar os resultados de risco e retorno inerentes
a uma carteira de ativos.
De uma forma simplista, seria o equivalente ao ditado popular “não coloque todos
os ovos em uma cesta só”. Entretanto, o autor alertou que somente a quantidade de
ativos não mitiga o risco, é necessário escolher ativos pouco relacionados. O ponto
aqui é que com a sistematização matemática da teoria do portfólio, a escolha dos
ativos que compõem essa “cesta” ou portfólio passou a ser um passo importante para
a gestão de qualquer patrimônio. Bernstein (1997, p. 257) destaca a importância da
contribuição de Markowitz:

““
O artigo Portfolio Selection revolucionou a atividade de gerência de
investimentos, ao elevar o risco à mesma importância do retorno esperado.
O artigo, junto com o livro de mesmo nome que Markowitz escreveu em 1959,
foi a base de quase todos os trabalhos teóricos de finanças que se seguiram.

atenção
Cabe destacar que tal teoria leva em conta o retorno esperado, a correlação,
a volatilidade e as covariâncias entre os ativos que compõem a carteira, e
toda uma construção matemática que não será abordada neste livro.
Fonte: o autor
Pós-Universo 17

Com base no exposto, Tobin (1952) contribui com essa vertente teórica, demonstrando
que o investidor toma suas decisões combinando um ativo livre de risco com o
portfólio situado na Fronteira Eficiente. Em outras palavras, esse autor criou a Teoria
da Separação, demonstrando que o investidor primeiro determina o portfólio de
ativos mais eficientes, e depois determina a proporção de recursos a ser alocados
nos ativos livres de risco e nos ativos de risco. Em última instância, para o autor, o
grau de diferenciação vai depender da maior ou menor tolerância ao risco (SAITO;
SAVOIA; FAMÁ, 2006).
Por sua vez, William Sharpe (1964), aprofundando os conceitos da teoria do
portfólio, criou um índice para avaliar a eficiência dos investimentos, para então
classificar diferentes ativos levando em conta a relação entre o retorno esperado e a
volatilidade do ativo (RENNER, 2010). Esse autor, de certo modo, simplificou a teoria
do portfólio ao demonstrar que o risco total é composto do risco sistêmico e do risco
não-sistêmico (ou diversificável).

Figura 2: Tipo de risco existente na composição de uma carteira de ativos


Fonte: adaptada de Assaf Neto (2007, p. 236)
18 Pós-Universo

quadro resumo
• Risco diversificável é o risco que pode ser total ou parcialmente diluído
pela diversificação de carteira.
• Risco sistemático é o risco que está sempre presente na estrutura do
portfólio, é o risco decorrente das mudanças do sistema econômico
como um todo (ASSAF NETO, 2007, p. 236).

William Sharpe também ficou conhecido por suas contribuições no modelo de


avaliação de ativos de capital ou CAPM. Nesse modelo, o autor introduziu o conceito
de beta que mensura a relação existente entre o retorno de um ativo e o mercado.
Essa variável beta pode ser explicada por meio da fórmula:

r − rf = β(rm − rf)
em que,
r é a taxa de retorno do investimento, ou taxa mínima de atratividade;
rf é a taxa de retorno de um investimento livre de risco; e
rm é a taxa média de retorno do mercado
ß é o beta

Como já disse Albert Einstein, “para descrever a verdade, deixe a elegância para os
alfaiates”. Então, essa fórmula aparentemente simples nos leva a uma importante
conclusão: o prêmio de risco esperado de um determinado investimento (r - rf) é igual
ao beta multiplicado pelo prêmio de risco esperado no mercado (r - rm). Por exemplo,
um prêmio de risco esperado por um investidor com um beta de 0,5 é metade do
prêmio de risco esperado pelo mercado (BREALEY et al., 2008).
Já os investidores Modigliani-Miller seguiram outra linha. De acordo com Oga
(2007, p. 13), em 1958, Franco Modigliani e Merton Miller demonstraram que, sob
certas condições, as decisões reais são separadas das decisões financeiras. Nesse
sentido, esse teorema demonstra que as empresas não têm que ajustar suas decisões
às preferências de risco dos diversos investidores e que a política de dividendos das
firmas não afeta o seu valor de mercado.
Pós-Universo 19

Na década de 1970, Eugene Fama define a Hipótese de Mercado Eficiente (HME),


alvo de muitos trabalhos empíricos até os dias atuais, onde postula que o preço
de mercado de uma ação ou de um outro título deve corresponder ao seu “preço
justo”. Nesse sentido, o que determina, em curto prazo, o preço do ativo é o seu
risco, definido pela volatilidade dos retornos esperados, segundo o modelo CAPM.
Sem entrar no detalhamento desse modelo, a década de 1970 incorporou um novo
segmento de estudo na teoria das finanças: a gestão de risco. O arcabouço teórico
das finanças ganhou mais um capítulo, a teoria de avaliação das opções de Fisher
Black e Myers Scholes.
Enfim, em um espaço de pouco mais de duas décadas, a teoria das finanças
havia se diversificado, assumindo diversas facetas que vão desde a teoria de carteiras
de Markowitz, a teoria de avaliação de risco de Modigliani-Miller, o modelo CAPM
de Sharpe, a teoria de eficiência dos mercados financeiros de Fama e o Modelo de
apreçamento de ativos de Black-Scholes. A ideia aqui é demostrar o amplo arcabouço
teórico sobre o tema de que estamos tratando e que foram muitos os desdobramentos
teóricos ao longo dos últimos 50 ou 60 anos para chegarmos à concepção atual de
gestão financeira.

reflita
Não há a possibilidade de eliminar, mas sim de reduzir o risco. O grande
problema não é conviver com o risco, e sim não percebê-lo. Por isso, quanto
maior o risco percebido, maior será o retorno potencial.
Fonte: o autor

Caro(a) aluno(a), findamos a primeira etapa dessa aula apresentando uma concepção
histórica da análise do binômio risco X retorno, mostrando um pouco da metodologia
existente para a avaliação do risco existente. Seguindo em nossa análise, é necessário
definir adequadamente o termo risco e identificar as principais fontes de risco.
Até aqui, utilizou-se o termo risco, mas para um gestor financeiro, é de fundamental
importância que ele entenda a diferença entre risco e incerteza. Para clarificar essa
questão, abaixo seguem algumas definições.
20 Pós-Universo

Para Knight (1972), risco é uma contingência desfavorável e pode ser medido
em termos de probabilidade objetiva, e a incerteza refere-se a situações singulares,
em que não há a possibilidade do cálculo, a priori, de algo acontecer. Para Crouhy,
Galai e Mark (2004), riscos são fenômenos que se podem identificar e medir, avaliar
e minimizar por meio de uma gestão técnica, enquanto que incerteza é todo evento
derivado do desconhecido, de uma fonte sem controle. Para Gastineau e Kritzman
(1999), a terminologia risco expressa, de uma maneira geral, um fenômeno que
expõe o agente econômico a mudanças por conta da adversidade que ocorre em um
mercado ou até mesmo um país. Também, para Garofalo Filho (2004), o risco indica
perigo, sobretudo, possibilidade de perda financeira ou econômica.
Portanto, existe uma percepção do risco por parte dos agentes, em que se pode
antecipar uma série de decisões, podendo até se tirar proveito desse processo.
Enquanto que a incerteza está ligada a fatos futuros desconhecidos, não passíveis
de perfeita mensuração e quantificação, por força da sua própria particularidade.
Desse modo, risco e retorno são variáveis financeiras indissociáveis. Dessa análise,
criou-se o jargão “quanto maior o risco, maior o retorno”. Então, a essa altura, você já
deve ter percebido que estamos abordando dois pontos distintos: risco e incerteza.
Na existência de incerteza, vamos corrigir essa máxima para “quanto maior o risco
percebido maior será o retorno potencial”.
Embora as incertezas possam ser ainda não conhecidas, no entanto, podem
ser minimizadas, tornando-se, assim, um grande desafio dos gestores, diretores,
investidores etc. Então, caro(a) aluno(a), saber que existe incerteza já é um primeiro
passo, pois assim a atuação profissional será realizada buscando “aparar as arestas”, para
evitar surpresas, derivadas do desconhecido, e para antecipar decisões minorando
os riscos conhecidos e até tirar proveitos de certas situações.
A classificação dos riscos é conhecida na literatura como tipologia de exposição
ao risco. Utilizando as definições de Gitman (2004, p. 185), os riscos podem ser
caracterizados conforme o Quadro 1.
Pós-Universo 21

Quadro 1: Fontes populares de risco para administradores financeiros e acionistas


Fontes de
Descrição
Risco
Riscos Específicos da Empresa
Risco Risco decorrente da possibilidade da empresa não conseguir cobrir
Operacional seus custos de operação.
Risco Risco decorrente da possibilidade da empresa não ser capaz de saldar
Financeiro suas obrigações financeiras.
Riscos Específicos dos Acionistas
Risco de Taxa Risco associado à possibilidade de que mudanças nas taxas de juros
de Juros afetem negativamente o valor de um investimento.
Risco de Está relacionado com a possibilidade de que um ativo não possa ser
Liquidez liquidado com facilidade a um preço concebível
Risco de Existe em decorrência da possibilidade de que o valor de um ativo
Mercado caia por causa dos fatores de mercado independentes do ativo.
Riscos para a empresa e o Acionista
Advém da possibilidade de que um evento totalmente inesperado
Risco de
exerça efeito significativo sobre o valor da empresa ou de um ativo
evento
específico.
Os fluxos de caixa esperados para o futuro estão expostos às
Risco de
flutuações das taxas de câmbio, sendo uma importante fonte de risco
câmbio
para as empresas.
Risco de
Está atrelado à possibilidade de que a variação dos níveis gerais de
poder
preços afetem desfavoravelmente os fluxos de caixa.
aquisitivo
Risco da Risco decorrente de mudanças adversas na legislação tributária que
Tributação venham a ocorrer.
Fonte: adaptado de Gitman (2004, p. 185)

Dada a diferença entre riscos e incertezas, diante do reconhecimento de que diversos


ambientes afetam ou determinam os riscos existentes, com isso, há uma vasta gama
de riscos existentes, assim, pode-se assumir que não existe uma possibilidade definitiva
de eliminar os riscos e as incertezas. Assim o gestor toma decisões influenciado pelas
preferências (aversão ou aceitação dos riscos), com informações incompletas, e há o
desconhecimento das reais consequências dessas decisões.
22 Pós-Universo

ANÁLISE DOS
RISCOS NO
AMBIENTE
EXTERNO DA
EMPRESA
Para administrar financeiramente uma empresa, tem que se ter em mente um
conjunto de decisões. Partindo da análise, planejamento e controle financeiro, onde
o orçamento, o fluxo de capital e a identificação da necessidade de capital de giro são
variáveis importantes, o gestor se defronta com duas decisões importantes: decisão
de financiamento (captação de recursos) e decisão de investimento (aplicação de
recursos).
O gestor sabe que além do ciclo financeiro, deve levar em conta os ciclos
econômico e operacional da empresa, que a percepção do risco e a precaução são
condutas adequadas em suas decisões. Além disso, seu grau de aversão ao risco e à
informação incompleta sobre todas as variáveis que afetam sua empresa vão afetar
os resultados das suas decisões.
Aqui temos um ponto importante em nossa análise, o gestor não tem uma
informação completa, o pleno conhecimento de todas as variáveis que afetam a sua
empresa ou empreendimento. Até aqui falamos dos principais aspectos do ambiente
interno que afetam a tomada de decisão. Mas há uma série de variáveis relacionadas
ao ambiente externo da empresa, que serão avaliadas nesta aula.
Pós-Universo 23

Os negócios estão se tornando cada vez mais competitivos, a lucratividade da


empresa depende da estratégia operacional da empresa, porém, com a globalização,
o capital especulativo percorre o mundo atrás de rentabilidade e retorno, fato que
afeta as economias de diversos países e, com isso, também influencia o dia de dia
das empresas.
Primeiramente, as empresas realizam seu planejamento financeiro que, segundo
Weston e Brigham (2000, p.343), envolve a realização de projeções de vendas, renda
e ativos baseada em estratégias alternativas de produção e marketing, seguidas pela
decisão de como atender às necessidades financeiras previstas. Por sua vez, o controle
financeiro situa-se na fase de implementação dos planos, caracterizando-se como um
processo de ajustamento. Dessa definição, vamos avaliar tanto as projeções quanto
os fluxos de mercadorias e os fluxos financeiros.
Quanto às projeções de vendas, para que as empresas atinjam suas metas, uma
série de variáveis externas à empresa deve ser considerada: mudanças na renda da
população, mudanças nos preços das empresas concorrentes, novos bens substitutos
etc. Em uma escala mais ampla, um determinado mercado pode ser afetado pela
atuação de uma empresa multinacional.
Para Hoji (2009), as multinacionais são empresas que distribuem sua produção
em mais de um país, buscando redução do custo e economia de escala. Para Weston e
Brigham (2000), as empresas estão buscando o caminho internacional devido a cinco
principais motivos: buscar novos mercados, novas matérias-primas, novas tecnologias,
aumentar a eficiência na produção e evitar problemas políticos e regulatórios.
Um caminho encontrado pelas empresas para atuar em mercados globais é o das
fusões e aquisições. Para Weston e Brigham (2000), a busca por sinergias é um dos
motivos das fusões, sendo que dentre as principais sinergias, pode-se citar: economias
de escala, maior eficiência administrativa e maior poder de mercado. Outros motivos
estariam relacionados a questões tributárias, à compra de ativos abaixo do seu custo
de substituição e à diversificação, entre outros.
24 Pós-Universo

reflita
A ordem liberal das finanças internacionais caracteriza-se pela expansão
do capital financeiro nos mercados globais e pelo enfraquecimento do
poder regulatório estatal. Desse modo, as crises financeiras recorrentes e
cada vez mais intensas na economia global devem-se ao processo natural
de expansão dos mercados financeiros ou devem-se à falta de regulação?
Fonte: BELLUZZO, L. G. M.; COUTINHO, L. (1996)

Logo, uma determinada empresa, ao fazer suas projeções de vendas e receitas, tem
que levar em conta que o ambiente competitivo está em constante mudança. Nesse
ponto, pode-se distinguir a gestão financeira doméstica da gestão financeira
multinacional. Weston e Brigham (2000) destacam que a tarefa de um gestor de uma
empresa multinacional é mais complexa, pois envolve o conhecimento de: diferentes
denominações monetárias, das ramificações econômicas e legais de uma determinada
operação, diferentes idiomas, diferenças culturais, diferente papel e atuação dos
governos e o risco político.
Para Hoji (2009), em uma operação comercial internacional, surgem dois outros
tipos de risco, o risco de cambial e o risco político. O risco cambial pode ser definido
como a variação inesperada e não quantificável da moeda estrangeira em relação
à moeda local. Para Gitman (2004), como muitas empresas atuam também em
mercados estrangeiros, parte das suas receitas e de seus custos está atrelada à moeda
estrangeira, desse modo, o risco cambial é causado pela oscilação da taxa de câmbio
entre as moedas doméstica e estrangeira, causando assim oscilações na receita e
nos custos da empresa.
Para reduzir o risco de câmbio, são adquiridas divisas no mercado a termo ou é
realizado hedging no mercado futuro (HOJI, 2009). Na gestão internacional de caixa,
uma empresa multinacional pode reagir aos riscos de câmbio existentes protegendo
(fazendo hedge) suas exposições indesejáveis em termos de caixa ou realizando certos
ajustes em suas posições (GITMAN, 2004, p. 661). O Quadro 2 apresenta uma lista de
ferramentas para redução do risco de câmbio.
Pós-Universo 25

Quadro 2: Ferramentas utilizadas para redução do risco de câmbio


Ferramenta Descrição/ Impacto sobre o risco
Descrição: captação ou aplicação em diversas moedas seria uma
aplicação da teoria do portfólio para tirar vantagem/desvalorização
Captação ou
das diferentes moedas.
Aplicação
Impacto sobre o risco: pode ser usada para compensar a exposição
em ativos/passivos existentes e receitas/despesas esperadas.
Descrição: contratos elaborados sob medida, configurando-se com
uma obrigação de compra/venda de um determinado volume, taxa
e prazo de vencimento de uma determinada moeda.
Contrato a termo
Impacto sobre o risco: reduz o risco de perda, mas também reduz
qualquer possibilidade de ganho (o preço futuro é travado) e o seu
sucesso depende do cumprimento do contrato entre as duas partes.
Descrição: contratos padronizados negociados em bolsas
organizadas. O volume, prazo, local de entrega segue um padrão
da bolsa, o que facilita a negociação, aumenta e a liquidez dos
Contrato Futuro negócios.
Impacto sobre o risco: reduz o risco de perda e o agente pode
sair do negócio a qualquer hora, assim o agente pode aproveitar
oportunidades de ganho.
Descrição: contrato padronizado que dá o direito (e não obrigação)
de comprar/vender um ativo financeiro em uma data futura. Tem
Contrato de
um custo inicial, o prêmio.
Opções
Impacto sobre o risco: pode eliminar o risco de perda, preservando
a possibilidade de ganho.
Descrição: permite a troca de séries de fluxos de caixa a uma
taxa de juros por outra, seu custo é em termos de comissão ao
Swap de taxa de intermediário.
juros Impacto sobre o risco: permite à empresa trocar a estrutura de
taxa de juros de seus ativos/passivos e obter redução de custo,
com acesso a mercado mais amplo.
Descrição: duas partes inicialmente trocam os principais em duas
moedas estrangeiras diferentes, fazem os pagamentos de juros um
ao outro e depois desfazem a troca de principais a uma taxa de
Swap de taxa de
câmbio prefixada na data de vencimento.
câmbio
Impacto sobre o risco: possui todas as características dos swaps
de taxa de juros, além de permitir à empresa trocar a estrutura de
moedas de seus ativos/passivos.
Descrição: uma variedade de combinações de algumas das
ferramentas anteriores.
Híbridos
Impacto sobre o risco: podem criar, com a combinação apropriada,
uma proteção efetiva contra a exposição ao risco de câmbio.
Fonte: adaptado de Gitman (2004, p. 663)
26 Pós-Universo

Por sua vez, o risco político existe quando o governo do país devedor não permite
a remessa de divisas para o exterior, em determinadas circunstâncias. Hoji (2009)
destaca que para reduzir o risco político, são exigidas cartas de crédito, seguro de
crédito para exportação, fianças bancárias internacionais e garantias de agências
oficiais de fomento. No Quadro 2, é apresentada uma lista de medidas para mitigar
o risco político

Quadro 3: Enfoques para lidar com riscos políticos


Enfoque Positivo Enfoque Negativo
• Negociação prévia de controles e • Restrição ao uso de licenças ou
contratos operacionais; patentes sob acordos internacionais;
• Acordo prévio de venda; • Controle de matérias-primas externas;
• Joint venture com governo, setor • Controle do transporte;
privado local ou bancos locais; • Controle do processamento;
• Uso de pessoal local na administração; • Controle dos mercados externos.
• Uso de fornecedores locais;
• Uso de distribuidores locais.
Fonte: adaptado de Gitman (2004, p. 655)

Outro ponto importante para a empresa é a decisão de como atender às necessidades


financeiras previstas, uma decisão de investimento. Entretanto, o crescente fluxo de
capital especulativo entre os países aumenta a volatilidade no preço de diversos
ativos financeiros, os quais exercem influência nos ativos reais da economia.

fatos e dados
Em 1944, celebrou-se o Acordo de Bretton Woods, que deu vida ao que
muitos consideram o mais bem-sucedido arranjo institucional das finanças
internacionais dos últimos 150 anos. Dele emergiu uma nova ordem financeira
internacional, que procurava combinar a estabilidade propiciada pelo regime
de câmbio fixo do antigo padrão ouro com a flexibilidade necessária no
período pós-guerra. A partir de 1973, findou-se esse acordo e as moedas
dos diferentes países passaram a oscilar livremente, sendo a taxa de câmbio
uma importante variável nas análises econômicas, a partir de então.
Fonte: CUNHA, A. M., 2006, p. 483-501.
Pós-Universo 27

De acordo com Hull (2006), a volatilidade de um ativo é a medida de incerteza


quanto aos retornos por ele proporcionados. Essa característica implica em maior
instabilidade na realização dos negócios, devido ao elevado grau de risco presente
na comercialização do produto. Segundo Purcell e Koontz (1999), o cálculo da
volatilidade é realizado a partir de uma série temporal histórica dos preços diários
de um determinado ativo, por meio da fórmula:

1

n
S= (ri − r−)2
n−1 i=1

em que,

s é a volatilidade histórica;
n é o número de variações nos preços (logo, n+1 é o número de observações de preços);
ri = ln ( Si ) , sendo si o preço do ativo que está sendo analisado, com média r .
Si-1
Enfim, incorporamos novas variáveis relacionadas à decisão de planejamento e
controle financeiro do gestor público. Em um ambiente cada vez mais competitivo,
o gestor público se defronta com variáveis que estão fora do seu controle e uma
dessas variáveis é a concorrência. Como o ambiente competitivo está em constante
mudança, o gestor deve considerar esse ponto em sua análise. Em uma estratégia
de longo prazo, esse ambiente competitivo conduz à busca de economias de escala,
maior eficiência administrativa, novos insumos, diversificação etc., fato que faz com
que o gestor cogite a possibilidade de atuar em novos mercados, especialmente em
mercados internacionais. Nessa esfera, identificamos novos riscos, o risco cambial e
o risco político e os instrumentos utilizados para reduzir esses riscos, demonstrando
que o simples crescimento do mercado financeiro propicia um maior movimento
especulativo dos ativos e, consequentemente, atribui uma maior volatilidade do
mercado. Saber calcular e interpretar essa volatilidade é uma ferramenta importante
na gestão financeira de uma empresa.
atividades de estudo

1. O sucesso da operação, do desempenho e da viabilidade a longo prazo, de qualquer


negócio, depende de uma sequência contínua de decisões. Dentre as decisões
presentes no planejamento de uma empresa, é correto afirmar:

a) As decisões estratégicas estão ligadas ao dia a dia da empresa, tomadas para


alcançar padrões de funcionamento preestabelecidos.
b) As decisões administrativas permitem a geração de um nível detalhado de
informação de tarefas ou atividades possibilitando a criação de indicadores
plausíveis sobre a situação da empresa.
c) As decisões operacionais ocorrem no nível gerencial e produzem efeitos a médio
prazo; estão relacionadas com a estruturação dos recursos da empresa visando
ao melhor resultado possível.
d) As decisões financeiras envolvem tanto o diagnóstico, monitoramento, a tomada
de decisões e prognósticos quanto ao futuro do empreendimento, sendo que
essas decisões impactam sobre os recursos financeiros existentes.
e) As decisões financeiras de longo prazo englobam colocação de disponibilidades,
cessão de créditos, endividamento e recursos bancários.
atividades de estudo

2. A atuação profissional de um gestor financeiro é a de “aparar as arestas”, ou seja, se


precaver de surpresas derivadas do desconhecido e antecipar decisões minorando
os riscos conhecidos. Em última instância, esse gestor está lidando com o risco e a
incerteza. Nesse contexto, classifica as opções abaixo em risco e incerteza:

I) Contingência desfavorável e pode ser medido em termos de probabilidade objetiva.


II) Todo evento derivado do desconhecido.
III) Situações singulares, em que não há a possibilidade do cálculo, a priori, de algo
acontecer.
IV) São fenômenos que se pode identificar e medir, avaliar e minimizar por meio de
uma gestão técnica.

A classificação correta é:
a) I- incerteza; II - risco; III - risco; IV - incerteza.
b) I- risco; II - incerteza; III - incerteza; IV - risco.
c) I- risco; II - risco; III - incerteza; IV - risco.
d) I- incerteza; II - incerteza; III - risco; IV - incerteza.
e) I- risco; II - risco; III - incerteza; IV - incerteza.

3. O risco pode ser classificado de acordo com as suas fontes e os agentes que são
afetados por esse risco. Quanto à tipologia dos riscos, é correto afirmar:

a) O risco operacional está associado à capacidade da empresa de saldar suas


operações.
b) O risco financeiro está associado à capacidade da empresa de cobrir seus custos
de produção.
c) O risco de liquidez está relacionado com a possibilidade de que um ativo não
possa ser liquidado com facilidade a um preço concebível.
d) O risco de mercado está atrelado à volatilidade da taxa de câmbio.
e) O risco de evento está atrelado a mudanças adversas na legislação tributária.
resumo

No campo das finanças, a administração financeira é uma ampla área que envolve decisões
estratégicas, tácitas e operacionais da empresa. Nessa área, podemos ilustrar os conceitos de
função financeira, gestão financeira e análise financeira. A função financeira engloba a preparação,
execução e controle das decisões financeiras da empresa.

Por sua vez, a gestão financeira é um conjunto de rotinas relacionadas a aspectos do passado
(registro e monitoramento), do presente (controle financeiro) e do futuro (planejamento financeiro)
da instituição. E a análise financeira engloba um conjunto de instrumentos, técnicas e métodos
necessários para gerar informações úteis à gestão financeira.

As decisões são tomadas levando em conta três ciclos que coexistem dentro da empresa: ciclo
operacional, ciclo econômico e financeiro. Esses ciclos refletem a cultura organizacional da
empresa e afetam decisões, como a estocagem e a política de crédito, além de influenciar aspectos
relacionados ao fluxo de caixa e capital de giro da empresa.

Para entender o estado da arte da gestão financeira, apresentamos alguns fatos históricos e teorias
que foram responsáveis pelo arcabouço institucional da gestão financeira moderna. Porém, como
ponto de partida, focamos na década de 1950, período em que foram formadas as bases das
finanças modernas. O passo seguinte é mostrar os riscos decorrentes do ambiente econômico
no qual a empresa está inserida.

Com a análise do binômio risco-retorno, reescrevemos um conhecido ditado popular para “quanto
maior o risco percebido maior será o retorno potencial”, identificando assim a importante diferença
de risco e incerteza. Posteriormente, classificamos os diferentes riscos existentes: financeiro,
operacional, liquidez, mercado etc. Posteriormente, vamos realizar uma análise do ambiente
institucional, apresentando os conceitos de Sistema Financeiro Nacional, Mercado Financeiro e
Mercado de Capitais.
referências

ANSOFF, H. Estratégia Empresarial. São Paulo: MC Graw-Hill, 1977.

ASSAF NETO, A. Finanças coorporativas e valor. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

ASSAF NETO, A.; SILVA, C. A. T. Administração do capital de giro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997.

BELLUZZO, L. G. M.; COUTINHO, L. Desenvolvimento e estabilização sob finanças globalizadas.


Economia e Sociedade, Campinas, n. 7. Instituto de Economia/Unicamp, 1996.

BERNSTEIN, P. L. Desafio aos deuses: a fascinante história do risco. 10. ed. Rio de Janeiro: Campus,
1997.

BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Atlas, 1995.

BREALEY, R. A.; MYERS, S. C.; ALLEN, F. Princípios de Finanças Corporativas. 9. ed. São Paulo:
McGraw-Hill, 2008.

CROUHY, Michel; GALAI, D.; MARK, Robert. Gerenciamento de risco: abordagem conceitual e
prática: uma visão integrada dos riscos de crédito operacional e de mercado. São Paulo, SERASA,
2004.

CUNHA, A. M. Estratégias periféricas sessenta anos depois do acordo de Bretton Woods. Revista
de Economia Política, v. 26, n. 4 (104), p. 483-501, 2006.

FAMA, E. Efficient Capital Markets: A Review of Theory and Empirical Work. Journal of Finance,
v. 25, n. 2: 383-417, 1970.

FERREIRA, N.; ESPERTO, S. Visão Geral sobre Gestão Financeira. Instituto Politécnico de Coimbra,
Working Paper, Jun. /2007.

GAROFALO FILHO, Emílio. Dicionário de Comércio Exterior e Câmbio. São Paulo: Saraiva, 2004.

GASTINEAU, Gary L.; KRITZMAN, Mark P. Dicionário de administração de Risco Financeiro. 5.


impr. São Paulo: BM&F, 1999.

GITMAN, L. J. Princípios da Administração Financeira. 9. ed. São Paulo: Pearson Addison Wesley,
2004.
referências

GOMES, J. H.; SILVA, S. F. Análise Financeira e Econômica da empresa Marisol S.A. Universidade
Federal de Itajubá. Disponível em: <http://www.iepg. unifei.edu.br/edson/CGprograma_arquivos/
Marisol.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2013.

HELFERT, E. A. Técnicas de análise financeira: um guia prático para medir o desempenho dos
negócios. 9. ed. Porto Alegre: Bookman, 2000.

HOJI, M. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira aplicada, estratégias


financeiras, orçamento empresarial. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

HULL, J. C. Options, Futures and Other Derivatives. 6. ed. Upper Saddle River, New Jersey:
Prentice-Hall, 2006.

KNIGHT, F. H. Risco, incerteza e lucro. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1972.

MARKOWITZ, H. Portfolio Selection. Journal of Finance, v. 7, n. 1, p. 77-91, 1952.

OGA, L. F. A. Teoria da Ciência no Modelo Black-Scholes de apreçamento de opções. São Paulo,


2007. Dissertação (Mestrado em Filosofia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo.

PURCELL, W. D.; KOONTZ, S. R. Agricultural futures and options: principles and strategies. 2. ed.
New Jersey: Prentice Hall, 1999.

RAMOS, M. V. M. Utilizando o ciclo operacional para fazer o Orçamento de Caixa e calcular a


Necessidade de Capital de Giro (NCG). Revista Científica da Escola de Gestão e Negócios -
CONEXIO, Universidade Potiguar, v.1, n.1, 2001.

RENNER, M. C. Teoria do Portfólio de Markowitz em momentos de crise. Rio Grande do Sul,


2010. Monografia (Especialização em Mercado de Capitais). Universidade Federal do Rio Grande
do Sul.

SAITO, A. T.; SAVOIA, J. R. F.; FAMÁ, R. A evolução da função financeira. Revista de Gestão USP,
São Paulo, v. 13, n. especial, p. 31-44, 2006.

SHARPE, W. F. Capital asset prices: a theory of market equilibrium under conditions of risk. Journal
of Finance, Berkeley, v. 19: 425-42, 1964.
referências

TOBIN, J. Liquidity Preference as Behavior Towards Risk. The Review of Economics Studies, v. 7,
p. 65-86, 1952.

WESTON. J. F.; BRIGHAM, E. F. Fundamentos da Administração Financeira. São Paulo: Pearson


Makron Books, 2000.

ZDANOWICZ, J. E. Criando valor através do orçamento. Porto Alegre: Novak, 2003.

SEBRAE. Guia do empreendedor. Disponível em:<http://201.2.114.147/bds/bds.nsf/


AC2B673CD4E74AA183256F66006B8F1E/$File/NT000A215A.pdf>. Acesso em: 10 out. 2014.
resolução de exercícios

1. d) As decisões financeiras envolvem tanto o diagnóstico, monitoramento, a tomada


de decisões e prognósticos quanto ao futuro do empreendimento, sendo que essas
decisões impactam sobre os recursos financeiros existentes.

2. b) I- risco; II - incerteza; III - incerteza; IV - risco.

3. c) O risco de liquidez está relacionado com a possibilidade de que um ativo não


possa ser liquidado com facilidade a um preço concebível.

Das könnte Ihnen auch gefallen