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ILHÉUS – BAHIA
2013
HAÍSA WILSON LIMA CRUZ
ILHÉUS – BAHIA
2013
HAÍSA WILSON LIMA CRUZ
Ilhéus, 05/06/2013
___________________________________________
Marlúcia Mendes da Rocha – Doutora
(DLA/UESC)
(Orientadora)
____________________________________________
Rita Virgínia Alves Santos Argollo – Doutora
(DLA/UESC)
_____________________________________________
Verbena Córdula Almeida – Doutora
(DLA/UESC)
AGRADECIMENTOS
Brisa Moura
“AZUL E ROSA”: Analisando as noções de gênero no vídeo educativo infantil
RESUMO
RESUMO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 7
2. GÊNERO: IMPLICAÇÕES HISTÓRICO-CULTURAIS DAS DIFERENÇAS..... 9
2.1 O novo movimento feminista...................................................................................
13
3. EDUCAÇÃO INFANTIL E A CONSTRUÇÃO DA IGUALDADE....................... 15
3.1 Suécia: modelo de educação igualitária........................................................16
3.2 PCNs de Orientação Sexual: um primeiro passo a ser aproveitado........... 17
4. O PAPEL DO VÍDEO EDUCATIVO................................................................... 19
5. AZUL E ROSA: UMA ANÁLISE CRÍTICA SOBRE O VÍDEO EDUCATIVO
INFANTIL...........................................................................................................23
5.1 “Um menino muito maluquinho”....................................................................23
5.2 “Azul e rosa”......................................................................................................24
5.3 Análise crítico-construtuva...............................................................................
26
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................29
REFERÊNCIAS..................................................................................................34
ANEXOS..............................................................................................................
37
APÊNDICE.........................................................................................................42
7
1. INTRODUÇÃO
1
Termo utilizado por Pierre Bourdieu em “A Dominação Masculina” (2007) para designar o
exercício da dominação masculina sobre o sexo feminino por via de argumentos simbólicos
naturalizados culturalmente.
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educação escolar formal, assim como para qualquer pessoa em exercício pleno de
suas faculdades cognitivas, os meios de comunicação, principalmente a televisão,
desempenham grande importância na educação informal. Tais meios disseminam
valores e criam correntes de pensamentos e opiniões sendo, portanto, parcialmente
responsáveis pelo rumo que a sociedade toma em diversos aspectos. Em paralelo,
há aqueles que ainda estão em fase escolar, majoritariamente crianças que, por sua
vez, também estão em formação cognitiva e, por isso, são suscetíveis aos valores
que lhes são ensinados. Em atenção a essa parcela da população é necessário
trabalhar valores de liberdade e igualdade de gênero que lhes permita exercer suas
potencialidades naturais sem repreensão externa, assim como sem que os mesmos
possam um dia reproduzir tais opressões ou padrões.
9
O movimento feminista teve sua primeira “onda” iniciada ainda no século XIX,
no Reino Unido e Estados Unidos, e tinha como objetivo básico a igualdade para nos
direitos contratuais e de propriedade para homens e mulheres, e se opunha à cultura
dos casamentos arranjados, bem como a propriedade de mulheres casadas e seus
filhos pelos maridos. A segunda onda, que começou na década de 1960, ainda trazia
objetivos da primeira, continuando assim a luta pela obtenção de direitos, como
também contou com aspectos mais ideológicos de fundamentos intelectuais, como o
fim da desigualdade e da discriminação do gênero. (PINTO, 2010). Nas últimas três
décadas ele se reergueu, trazendo velhas e novas bandeiras que abarcam inclusive
a luta pela educação igualitária. Em sua base ideológica está, em suma, a luta pelo
fim das definições das “essencialidades da feminilidade”. De caráter pós-
estruturalista, a terceira fase busca reinterpretações dos conceitos de “gênero” e
“sexualidade”, enfatiza a “micropolítica” existente nas relações de poder e, mais
recentemente, tem feito uso do alcance da internet para interferir em problemáticas
consideradas ainda “primárias” de culturas orientais.
A terceira onda do movimento feminista atingiu seu ápice após 2011, com a
repercussão da SlutWalk, ou “Marcha das vadias”, que começou no Canadá em
protesto contra “a crença de que as mulheres que são vítimas de estupro pediram
isso devido as suas vestimentas” (WIKIPEDIA, 2013), e se repetiu em vários países,
se tornando a forma de protesto feminista com maior visibilidade na última década.
No Brasil, a marcha, que já ocorreu em diversas cidades, inclusive em Itabuna,
pioneira na Bahia, tem como bandeira principal a luta contra o estupro e as diversas
formas de violência física e simbólica contra mulheres.
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fincados na cultura ocidental que são elencados pelas próprias crianças quando
questionadas, pois aprenderam ainda previamente, em casa, desde que passaram a
compreender em algum nível sua linguagem nativa, que essas são as principais e
imutáveis diferenças entre os gêneros.
O modelo é apoiado pelo governo do país que, em 1988, lançou uma lei
exigindo que as escolas garantissem oportunidades iguais entre os gêneros. O
17
Através dos PCNs voltados para orientação sexual, que abrangem também
questões gerais do gênero, seria possível dar início a novas formas de abordagem
com relação à igualdade de gênero. A instituição escolar carrega a função social da
18
valores socialmente estabelecidos para cada gênero: meninas devem ser românticas
e delicadas (“coraçõezinhos, moranguinhos e ursinhos fofinhos”) e meninos devem
ser agressivos e competitivos (“brigar, arrotar, peidar e dar rasteira”). Somente o
protagonista e sua amiga enxergam que tais marcações não beneficiam a ninguém,
e se unem para fazer isso ser notado pelos dois grupos.
É possível afirmar, a partir das elaborações alcançadas em capítulos
anteriores, que o vídeo educativo ficcional infantil “Azul e rosa”, da série “Um menino
muito maluquinho”, contribui imensamente para a diluição das demarcações de
gênero no tocante às performances socialmente pré-estabelecidas. O personagem
principal, que é tido pelas gerações infantis como exemplo de sabedoria e bons
valores, serve de meio para causar a reflexão a respeito dessas marcas culturais.
Observa-se ainda, através das alternâncias de faixas etárias, que os padrões
culturais têm diferentes efeitos na criança à medida que ela cresce. Aos 5 anos de
idade, as crianças demonstram “saber” de todos os lugares sociais aos quais
pertencem meninos e meninas: elas fazem ou gostam de determinadas coisas
relativas ao seu gênero, e eles, por sua vez, de outras. Nessa fase, entretanto, a
internalização desses valores ainda não se deu, pairando apenas na superficialidade
da repetição de exemplos. É apenas com idade mais avançada, aos 10 anos, início
da puberdade, que as demarcações sociais de gênero se veem aplicadas através de
rivalidades, demonstrando a cristalização desses valores.
Apesar dos excelentes exemplos e respectivas aplicações, o vídeo “Azul e
rosa” ainda deixa escapar pequenas demarcações cuja diluição seria pertinente. O
objetivo final da trama é demonstrar que meninos e meninas podem sim conviver
juntos sem rivalizar. Entretanto, os “gostos” ou hábitos tidos como características
erroneamente consideradas naturais, e que parecem ser contestados no começo do
vídeo, se reforçam do desenrolar da trama. Isso pode ser exemplificado com os
valores aplicados às “festas” de cada gênero: meninas dançam e gostam de coisas
delicadas, e meninos são rudes e brigões. Ou seja: no desfecho da trama, alcança-
se a afirmativa de que meninos e meninas não precisam rivalizar; entretanto, não se
demonstra mais que meninos e meninas podem ter gostos e hábitos diferentes dos
estabelecidos para os seus gêneros. Dessa forma, o vídeo acaba afirmando que
“homens e mulheres podem socializar mesmo APESAR das destoantes diferenças”
em vez de mostrar que homens e mulheres podem ter gostos e hábitos diferentes ou
iguais, independente do sexo, e que isso é uma característica individual que pode
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ser tolhida, mas também liberta através do exercício das diluições de padrões.
Por fim, em um apanhado geral, o episódio “Azul e rosa” contribui para a não
rivalização entre os sexos, fazendo refletir sobre o fato de que as diferenças não
precisam motivar desavenças e segregações. Faltou apenas reforçar que tais
diferenças não estão inscritas no sexo, e são, sim, potencialidades de qualquer
pessoa, que se for ensinada desde a infância a contestar tais demarcações (ou até
mesmo se essas demarcações não forem ensinadas), poderá exercer atividades ao
seu gosto, sem que isso seja considerado um equívoco.
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Bibliográficas:
ABGLT. Manual de comunicação LGBT. Curitiba: Ajir Artes Gráficas e Editora Ltda,
2009. 52 p.
BEAUVOIR, S. O segundo sexo II: a experiência vivida. 2ª ed. São Paulo: Difusão
Europeia do livro, 1967. 502p.
FERRÉS, Joan. Vídeo e Educação. 2a ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. 156
p.
PIAGET, J. et al. Educar para o futuro. Série Informação & Comunicação. Rio de
Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1974. 110 p.
PINTO, C. R. J. Feminismo, história e poder. In: Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 18,
n. 36, jun. 2010, p. 15-23.
Videográficas:
AZUL E ROSA. In: Um menino muito maluquinho. Episódio 11. Direção: César
Rodrigues. Produção: TVE Brasil. Roteiro: Anna Muylaert. Rio de Janeiro: TVE
Brasil, 28 de maio de 2006 (31 min), color., 1 links.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=s6UFjUFtCcM>. Acesso em: 3
de dez. 2012.
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On-line:
ANEXO I
Imagem: Divulgação
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ANEXO II
Imagem: Divulgação
APÊNDICE I
PROFESSORA
Qual será a diferença entre
menino e menina?
CRIANÇA
Menino gosta de azul e menina
gosta de rosa.
CRIANÇA
Menina brinca de boneca, e
menino de carrinho!
PROFESSORA
Mas não tem nenhuma menina aqui
que goste de brincar de bola?
Ou nenhum menino que goste de
brincar de casinha?
PROFESSORA
Ora, quando eu era pequena, eu
gostava de brincar de bola. Eu
soltava pipa melhor que meu
irmão. Mas gostava de brincar
de boneca também. Porque
criança gosta é de brincar, não
importa qual seja o brinquedo.
MENINA
44
Eu gosto de carrinho de
controle remoto. Mas nunca tive
um, porque todo mundo diz que é
coisa só de menino...
MENINO
Eu brinco de comidinha com
minha irmã mais nova. A gente
até brinca com comida de
verdade às vezes.
PROFESSORA
A gente não pode ter vergonha
de brincar com o que gosta, só
porque outra pessoa disse que
um brinquedo só serve pra
menino, e um só serve pra
menina. Brinquedo é tudo
brinquedo, e criança é tudo
criança. Mas não é só brinquedo
que a gente tem mania de
separar entre menino e menina.
Sapato, por exemplo. Sapato
também é só sapato. O pé de
todo mundo não é igualzinho?
Pois eu, que sou menina, acho
que aquele tênis que acende a
luzinha é super legal. Quantas
meninas aqui queriam tem um
tênis daquele?
PROFESSORA
Vamos fazer uma brincadeira.
Faz de conta que não existe
essa coisa de menino ou menina.
Todo mundo aqui é criança, e
pronto. Vamos todo mundo
brincar de bola!
PROFESSORA
Não é só sapato de luzinha que
eu acho legal. Eu também acho
que todo mundo deveria poder
usar paletó e gravata quando
quisesse. Ou vestido quando
estivesse fazendo calor. Ou um
sapato cor-de-rosa, por que
não?
PROFESSORA
Sabiam que um dos maiores
bailarinos da história era
homem? O nome dele era Fred
Astaire.
PROFESSORA
Sabem que é o melhor jogador de
futebol do Brasil? (Aguarda
manifestação das crianças).
Aposto que vocês conhecem.
PROFESSORA
Tudo isso significa que não
importa se a gente é menino ou
menina. O que importa é a gente
fazer o que gosta e que nos faz
feliz.
PROFESSORA
A gente não pode crescer tendo
medo de fazer o que gosta, ou
de praticar o esporte que
realmente queremos, ou de
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MÃE
Filho, trouxe pra você aquele
chocolate que vem com uma
surpresa dentro.
MÃE
Ai que pena, é de menina...
MENINO
Que nada mãe, menino também
pode gostar de rosa!
MENINA
Papai, eu queria fazer karatê.
Você deixa?
PAI
Por que você quer fazer karatê?
47
MENINA
Eu sempre quis, mas achava que
era coisa só de menino. Mas a
professora explicou que o
importante é a gente fazer o
que gosta. Eu gosto de luta.
PAI
Tudo bem. Eu sempre quis ter
uma filha lutadora.
FIM.