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Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem agüentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão porque o terror de alguma coisa após a morte
—
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante — nos confunde a
vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos para outros que desconhecemos?
E assim a reflexão faz todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma no doentio pálido do pensamento.
E empreitadas de vigor e coragem,
Refletidas demais, saem de seu caminho,
Perdem o nome de ação.
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A atualização do Direito das Coisas não é assunto opcional, em termos de mera perfectibilidade
teórica, mas sim imperativo de ordem social e econômica, que decorre do novo conceito constitucional
de propriedade e da função que a esta se atribui na sociedade hodierna.
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b) O reconhecimento do direito de propriedade, que deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de tal modo que sejam preservados, de conformidade com o
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais e o equilíbrio ecológico, bem como
evitada a poluição do ar e das águas.
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solidariedade4.
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objeto de fortes dúvidas e contrastes, em virtude de
mutações sociais em curso, ou na dependência de
mais claras colocações doutrinárias, ou ainda quando
fossem previsíveis alterações sucessivas para
adaptações da lei à experiência social e econômica.
m) Acolher os modelos jurídicos validamente
elaborados pela jurisprudência construtiva de nossos
tribunais, mas fixar normas para superar certas
situações conflitivas, que de longa data
comprometem a unidade e a coerência7 de nossa
vida jurídica.
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modernidade artificialmente revertendo-se a seta do tempo12, utilizando-se de
valores ultrapassados, revestidos de atualidade apenas pela data de
publicação legislativa.
É humano, mas não real. É mais uma das artimanhas psicológicas que nos
tranqüilizam, ao menos até o próximo golpe do acaso.
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toda a transversalidade, de toda a finalidade, de toda a contradição, ruptura
ou complexidade numa sociedade irradiada pela norma, votada à
transparência sinalética dos mecanismos de informação.”14
É o código dos que têm, onde os que não têm ficam à margem, sem
alteridade, sem proteção e sem a possibilidade de entrarem no sistema. É o
caso do Mestre Vitalino (Pág. 147/148), como o de tantos outros. Quem está
à margem é fantasma, mas que não assombra, que não é...
14
Jean Baudrillard, ob. cit., Pág. 50.
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No entanto, a verdade sempre esbarra na percepção humana e na
linguagem. O objeto da observação não é o objeto que apreendemos e
definimos como observado. Objeto e percepção se distanciam.
Hannah Arendt não concorda com Nietzsche que diz que o deserto está em
nós, o que demonstra no Epílogo do mesmo livro: “O moderno crescimento
da ausência-de-mundo, a destruição de tudo o que há entre nós, pode ser
também descrito como a expansão do deserto.” 16 Ela adverte que o
problema está em pensarmos que não conseguimos fazer do deserto um
lugar humano, em nos acostumarmos à vida no deserto, em nos adaptarmos
a ele.
Falar em conceitos para justificar segurança absoluta é irreal, não faz parte
do mundo pós moderno, não está adequado com a linguagem
contemporânea. É prender o direito e a vida em sociedade num “simulacro”,
onde ação e reação são previamente planejadas.
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que constou da exposição de motivos do novo Código, trouxe a expectativa
de que viesse a ter a adequada previsão no seu texto. No entanto, somente
se encontra adotado expressamente o princípio da boa-fé.
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– imóveis utilizados na produção agrícola: 0,03%
Hamlet finge estar louco ou está realmente louco pelo desejo de vingança
que lhe foi apresentado pelo fantasma de seu pai? Onde está o real? O real
se confunde com o simulacro do real. É o hiper-real, pois a origem do que foi
encenado em Hamlet não se encontra na realidade, na medida em que
Hamlet não sabe qual é a realidade, ele encena o que imagina ter sido real, o
que o fantasma de seu pai lhe disse.
O sistema jurídico precisa mais, o sistema jurídico precisa ser informado por
valores integradores, valores que proporcionem a sua abertura e
18
BAUMAN, Zygmunt. A Arte da Vida. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. Pág. 31.
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adaptabilidade para que possa alcançar uma realidade complexa, mutante e,
por vezes, entrópica, que importa em uma sincronicidade de eventos que se
interrelacionam.
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O novo código é assim, insensível à realidade axiológica constitucional.
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reconhecimento pleno da solidariedade social e da dignidade da pessoa
humana (alteridade).
Nós nunca vamos deixar de ter medo, o medo ancestral era de ser comido
por vários bichos, hoje em dia a gente passa a vida sem ter experiência de
ser cadeia alimentar (só depois que a gente morre22), que só acontece
raramente, mas o medo não é só medo de objeto, o medo é uma forma da
consciência (Becker), é forma de você ser consciente, forma de se relacionar
com o meio ambiente (só o louco não tem medo23) uma pessoa normal tem
medo.
22
Também essa característica do homem, de finitude e de irmos todos ao mesmo lugar, é retirada de
Hamlet: “Uma certa convocação de vermes políticos está ainda agora a atacá-lo. O verme é o único
imperador da dieta: cevamos todas as outras criaturas para que nos engordem, e cevamos a nós mesmos
para as larvas. O rei gordo e o mendigo esquelético não são mais que variedade de cardápio – dois
pratos para a mesma mesa. Esse é o fim.” (BLOOM, ob. cit., Pág. 68 e 260.) Aqui é presente a
percepção que no fim, todos os homens, ricos ou pobres, são iguais.
23
Aqui entra Ofélia, que, enlouquecida, não tem medo da morte e comete suicídio.
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Mesmo em ambiente civilizado mas o caráter inexorável de aparecerem
coisas das quais a gente tem medo aparecem o tempo todo, o que temos
que aprender é a enfrentá-lo, a coragem vive ao lado do medo. O problema
não é ter medo, é ser capaz de continuar de pé, mesmo com medo. É ter
consciência que o universo não foi feito para ser um berço. O naufrágio é
contrário à mentira, que não é o que se inventa (acorda e diz hoje eu vou
mentir), é o que está embutido na sua experiência de sucesso adaptativo –
mentira caracteriológica sustenta sua vida e em algum momento fracaça e
vai se tendo brechas da consciência de fundo - animal acoado o tempo todo
- e é nesse jogo que a vida vai se desenvolvendo.
É por isso que admiramos os heróis porque no fundo queremos ser heróis.
Quando você sonha ser herói? Quando em cada minuto da existência se tem
a visão de que outro fracassaria e você não fracassou.
Por mais mentiroso que a gente seja, todo mundo sabe reconhecer alguém
que está tendo coragem. Mesmo que seja o pequeno heroísmo cotidiano, a
experiência fundamental do heroísmo não pede platéia, aquele que tem atos
heróicos para que as pessoas saibam, não é o herói é um narcisista (na
clínica Freudiana não é o que se apaixona por si mesmo e morre é quem tem
o ego fraco que depende do olhar do outro o tempo todo).
Outra coisa é conseguir sobreviver aos próprios afetos, uma coisa que
caracteriza a experiência humana é a desordem da alma, de afetos
desordenados, se a alma for muito ordenada é sinal que a pessoa não está
bem, um certo grau de desordem é necessário, mas não se sabe qual o grau
que faz bem...
Ser herói não é racional. O medo está dentro de cada um e ninguém foge de
dentro de si. Ninguém sabe o que é humanidade, nós conhecemos seres
humanos, conhecemos nossos vizinhos, mas não sabemos quem é a
humanidade. Racional do ponto de vista “entendendo a razão” – estrutura
mental que garante a sobrevivência, organiza a vida em comum, reduz a
margem de mau estar e amplia a de bem estar.”
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bem, ainda bem que alguns seres humanos conseguem ir além do medo,
mesmo diante de todas as razões para voltar atrás, conseguem enfrentar o
que a maioria não enfrentaria, mas paga-se um preço alto por isso.”
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homem insuficiente busca formas de organizar uma natureza inexistente.”24
24
PONDÉ, Luiz Felipe. O Homem Insuficiente: Comentários de Antropologia Pascaliana. São Paulo:
Edusp, 2001. Pág. 88.
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O homem não pode estabelecer uma ordem suficiente porque ele mesmo não o é. Sendo ele a fonte
única das leis, sendo ele mesmo incapaz de ordem, somente a arbitrariedade pode operar: deve-se
“inventar” um jogo e submeter-se a ele. Sendo o homem um ser mergulhado em concumpiscência pura,
deverá ser uma instancia de primeira ordem (a concupiscência mais “pesada” por apresentar a
“gravidade” do corpo) a capacitada a impor alguma oprtanização – “inventar”o jogo: a força física que
submete os corpos pelo medo. O sistema que tem “legitimamente”o direito a essa força pouco importa,
contanto que funcione. Trata-se de um jogo, logo a legitimidade é puramente o fato de manter as
pessoas jogando dentro das regras, e como não há comunicação com a justiça ou a razão absolutas – a
não ser justiça e razões locais e definidas em termos artificiais - , uma vez tendo-se um parâmetro
invariável, ele deve ser mantido. (Pondé, ob. cit., pág 177)
26
BLOOM, ob. cit., Pág. 73 e 264/265.
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Por um príncipe jovem e sensível,
Cuja paixão, numa ambição divina,
Faz muxoxo às possíveis conseqüências,
Expondo o que é mortal e duvidoso
A toda essa aventura, à morte, ao risco,
Por uma casca de ovo...Pois ser grande
Não e mover-se sem motivo sério,
Mas com grandeza se bater por nada,
Se a honra está em jogo. Como posso
Eu, que tenho o pai morto e a mãe infame –
Estímulos do espírito e do sangue –
Deixar tudo dormir, enquanto vejo,
Para vergonha minha, a sorte absurda
De vinte mil soldados, que por causa
De um sonho, ou de uma promessa de uma glória,
Vai para a tumba como para o leito,
Lutam por um pedaço de terreno
Onde não cabem todos os seus corpos,
Para a todos servir de sepultura?
Doravante, terei ódio sangrento,
Ou nada valerá meu pensamento.
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momento da escolha) muito além do nosso alcance, e
padrões de excelência que, de modo perturbador,
parecem permanecer teimosamente muito acima de
nossa capacidade (pelo menos a já atingida) de
harmonizar com o que quer que estejamos ou
possamos estar fazendo. Precisamos tentar o
impossível E, sem apoio de um prognóstico favorável
fidedigno (que dirá da certeza), só podemos esperar
que, com longo e penoso esforço, sejamos capazes de
algum dia alcançar esses padrões e atingir esses
alvos, e assim mostrar que estamos à altura do
desafio. 28
28
BAUMAN, Zygmunt. A Arte da Vida. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. Pág. 31.
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