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FERNANDO PESSOA - contextualização

As tensões do início do século XX

No início do século XX, a Europa continua a sofrer a crise do capitalismo e a agitação social que
busca a democracia. Enquanto a revolução científica, técnica e industrial traz a crença no progresso e uma
grande euforia perante as potencialidades da máquina e de “todas as dinâmicas”, a revolução socialista põe
em perigo a burguesia. Quando em 1914 se inicia a 1ª Guerra Mundial, o mundo inteiro questiona os valores
e descrê dos sistemas políticos, sociais e filosóficos. A “belle époque” surge entre o conforto da vida e
confiança no futuro e a necessidade de aproveitar o presente, pois a guerra criara a incerteza.
Portugal também se ressente desta situação europeia, embora tenha os seus motivos específicos:
Portugal pretendia ocupar os territórios situados entre Angola e Moçambique. Fez várias explorações nesse
sentido. Esta pretensão ia contra os planos da Inglaterra: unir a cidade do Cabo à do Cairo por caminho-de-
ferro. A 11/01/1890 o governo inglês envia um ultimatum1 ao governo português2 que o acatou, mas levantou
uma fortíssima indignação popular e uma grande reacção dos intelectuais republicanos, que imediatamente
tentaram o derrube da monarquia.3 O ultimatum foi considerado uma humilhação para Portugal.
O ultimatum, a crise financeira daí resultante, as tensões políticas e sociais, o fracasso da revolução
republicana em 31 de Janeiro, o regicídio em 1908 e a implantação da República em 1910 revelam a situação
do País e tornam-se causas próximas do novo espírito mental e cultural. A participação de Portugal na 1ª
Grande Guerra (1914 -1918) e as várias crises do regime republicano, que acabam por provocar a instauração
da ditadura militar em 1926, contribuem igualmente para o acentuar dos problemas.
No início do século XX, as correntes estéticas, influenciadas por todas estas situações, começam a
perfilar-se. As tendências novi-românticas permitem movimentos tradicionalistas como o neogarrettismo, o
nacionalismo e o integralismo; numa outra direcção aparece o movimento da Renascença Portuguesa onde
se estabelece uma filosofia de revigoramento da cultura nacional, que acabará por descobrir o saudosismo de
Teixeira de Pascoaes (1878-1952). Grupos importantes fazem também a sua literatura e apresentam a sua
cultura. É o caso da Seara Nova, que de início se opôs às doutrinas integralistas e que acabou por se abrir, a
partir da década de 30, às problemáticas neo-realistas; é o grupo da Presença, que procura uma literatura
viva pela originalidade, pela sinceridade, pela inteligência, pela imaginação.
Fernando Pessoa (1888-1935), Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), Afonso Duarte (1884-1958) e
outros, que fizeram no Saudosismo a sua iniciação, rapidamente transitam para o Modernismo com todas as
influências das correntes estéticas e filosóficas europeias, denominadas Vanguardas Europeias. Com aqueles
autores surge a revista Orpheu, que procura traduzir as novas ideias.
Artistas como Amadeo de Souza-Cardoso, Almada Negreiros, Eduardo Viana, Santa-Rita Pintor ou os
escritores do Orpheu fazem parte do primeiro Modernismo português, que verá a sua acção prosseguida e

1
Terno latino. Documento através do qual um estado apresenta a outro as últimas condições e cuja não aceitação terá como resultado o início de
hostilidades (guerra). Decisão final e irrevogável.
2
A Inglaterra ameaça com uma intervenção militar se Portugal não abandonasse os territórios em causa (actual Zimbabwe e Malawi). O projecto
português ficou conhecido como mapa cor-de-rosa.
3
Um ano depois, no Porto, na revolta de 31 de Janeiro de 1891, pretenderam a instauração da República.
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esclarecida pelo grupo da Presença (2º Modernismo), com José Régio, Casais Monteiro, Miguel Torga e
outros.

As vanguardas e o Modernismo
No meio de diversas tensões sociais, políticas e mentais, a Arte e a Literatura tentam a ruptura com o
passado e buscam o futuro de promessas. Procurando separar-se da burguesia e do seu materialismo, por
meio de uma arte refinada e estetizante, surge o Modernismo, que se expande entre 1880-1914. O
Modernismo representa a inquietude de uma época. Denomina-se também como Vanguarda ou
Vanguardismo e apresenta-se como corrente artística e literária que procura a novidade contra o gosto
estabelecido, abrangendo ou recobrindo todos os ismos: Futurismo, Cubismo, Impressionismo, Dadaísmo,
Expressionismo, Interseccionismo, Paúlismo, Sensacionismo…
São marcas do Modernismo:
a liberdade criadora;
o sentido aristocrático da arte, contra a vulgaridade;
a perfeição formal;
o cosmopolitismo;
a correspondência entre as várias artes – literatura, pintura, escultura, música;
o gosto pelo exótico, pelo clássico e pelo pitoresco;
o impressionismo descritivo;
a renovação vocabular e dos recursos expressivos;
a simplificação da sintaxe;
o aproveitamento das imagens visuais e dos vocábulos musicais;
a versificação irregular e o verso livre;
a liberdade estrófica.
Cada uma das correntes de vanguarda assumiu um carácter específico, mas tinham sempre de comum
o sentimento de romper com o passado, muitas vezes, exprimindo a subjectividade e o irracionalismo
humano, na ânsia de encontrar novas formas de expressão capazes de traduzir uma nova realidade para a sua
contemporaneidade.
Na arte, estes movimentos de vanguarda celebrizaram-se com pintores como Matisse, Picasso, Dali4;
com músicos como Stravinsky5. Na literatura, merecem referência Henri James, Kafka, Jorge Luís Borges6 e
poetas como Apollinaire, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros7.
Algumas tendências literárias e estéticas do início do século XX
Na transição do século XIX para o século XX, encontramos o Parnasianismo, o Decadentismo e o
Simbolismo. O Decadentismo é, em parte, o ponto de chegada do Romantismo, exprimindo o cansaço, o
tédio, a busca de novas sensações; o Parnasianismo defende a “arte pela arte” contra a subjectividade e
4
E outros: Rouault, Chagall, Braque, Kandinsky, Klee, Max Ernst, Mondrian, Miró
5
E outros: Schõnberg, Bela Bartok.
6
E outrso: Joyce, Hermann Hesse, John Dos Passos, E. E. Cummings.
7
E outros: Mallarmé, Marinetti, Max Jacob, Ezra Pound, Valery, André Breton, Maïakovski, Gertrude Stein, T.S. Eliot.
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excessos de imaginação românticas; o Simbolismo valoriza a palavra, os efeitos musicais e cria o inefável,
sugerindo os elementos da construção de novos objectos.
Estas três tendências estéticas estão na base do Modernismo, que abrange na sua complexidade
Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo, Cubismo, Expressionismo, Interseccionismo, Paúlismo,
Sensacionismo...

Futurismo
Movimento estético revolucionário iniciado pelo escritor italiano Filippo Tommaso Marinetti, que em
20/02/1909 publica o primeiro manifesto. O Futurismo caracteriza-se pela exaltação da energia, de “todas as
dinâmicas”, da velocidade e da força até situações de paroxismo. Procura um corte e mesmo o aniquilamento
do passado para exaltar a necessidade de uma nova vida futura, onde se tenha a consciência da sensação do
poder e do triunfo. Defende a destruição dos símbolos do passado, como museus e bibliotecas, e procura uma
nova sintaxe, através da abolição da pontuação.
Em Portugal teve grande influência na geração do Orpheu, como se pode observar em Almada
Negreiros, Amadeo de Souza-Cardoso ou Fernando Pessoa, que através do heterónimo Álvaro de Campos
nega a arte aristotélica ou procura de forma vigorosa a inovação estética e ideológica da arte.
E. Melo e Castro, in As Vanguardas na Poesia Portuguesa do Século XX, considera que o Futurismo
se exprime “pela enorme quantidade de frases exclamativas, de invectivas e de insultos, com o intuito de
desmistificar, demolir, acabar com os hábitos culturais esclerosados e retrógrados”.

Dadaísmo
O movimento Dadá nasceu na Alemanha, durante a 1ª Guerra Mundial, como revolta contra essa
guerra e os valores morais, sociais e estéticos estabelecidos. Dadá é uma revista publicada em Zurique, em
1916. O termo Dadá significa “cavalinho de pau”, ou seja, algo que se aproxima dos instintos primários do
homem, à sua capacidade de criação espontânea, sem comprometimentos com as tradições. Procura chocar o
espectador através de um certo anarquismo infantil, pela produção de simples objectos do quotidiano. O
dadaísmo é a negação de tudo, a destruição, a contestação.
No slogan deste movimento afirma-se que “Dada doute de tout. Dada est tout. Tout est dada. Dada ne
signifie rien”8.

Surrealismo
Nas primeiras décadas do século XX, aparece, com Freud (1856-1939), a psicanálise como ciência do
inconsciente psíquico. Freud, Jung9 utilizam a psicanálise como método terapêutico para diversas doenças
nervosas. Procuram trazer à superfície os impulsos e as tendências que se situam no inconsciente e se
projectam na consciência.
O Surrealismo apoia-se nas teorias da psicanálise, acreditando que pelo subconsciente se pode atingir
8
Tradução: “Dadá duvida de tudo. Dadá é tudo. Tudo é Dada. Dadá não é nada”
9
E outros: Adler, Lacan ou Eric From.
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a libertação total da imaginação. André Breton, em Outubro de 1924, apresenta o primeiro manifesto onde se
recusam as regras que definem a ordem e a beleza e se defende a restauração dos sentimentos humanos e do
instinto, uma escrita automática e a exploração dos sonhos. O Surrealismo é um movimento que se carac-
teriza pela rejeição do racionalismo, da lógica e pela sobrevalorização do inconsciente.
O Dadaísmo influencia profundamente o Surrealismo que também defendeu a transgressão dos valores
morais e sociais.

Cubismo
O termo Cubismo10 designa um modo de expressão que recria através de planos geométricos
elementos da realidade. O espírito de geometria e dos volumes procura sugerir a visão simultânea dos
diferentes ângulos do objecto. Picasso e Braque são as primeiras grandes figuras deste movimento.
O Cubismo tenta apresentar os objectos tal como a mente os concebe. Há três etapas no Cubismo: o
Cubismo primitivo (1907), de que são exemplo Les Demoiselles d’Avignon; o Cubismo analítico (1910-
1912), que apresenta uma decomposição dos objectos simples em cores ocre, verde-escuro e cinzento, usa
faces sobrepostas para representar simultaneamente diferentes aspectos do mesmo objecto; o Cubismo
sintético (1913), que emprega signos visuais que se comparam a metáforas poéticas, traduz cada objecto por
um código correspondente.

Expressionismo
A crise denunciada pelo Dadaísmo tem no Expressionismo o seu espelho. Nasce de uma necessidade
de expressão dos próprios conflitos e paixões. Surge ainda antes da guerra de 1914 e dura até cerca de 1925.
Utiliza a deformação da realidade exterior para dar forma à visão interior do artista. Nasce das artes visuais
dos grupos das vanguardas, como, por exemplo, o Die Brücke (“A Ponte”) ou o Der Blaue Reiter (“O
Cavaleiro Azul”), a que pertence Kandinsky. Caracteriza-se pelo desejo de “exprimir” todos os sentimentos
do artista, como os provocados pelos horrores da guerra e pela fome, como os que traduzem a angústia
humana, provinda da guerra.

Modernismo e o Orpheu
O Saudosismo de Teixeira de Pascoaes e A Águia atraíram alguns jovens, dentre os quais Fernando
Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Mário Beirão (1892-1965), Afonso Duarte (1886-1957), Raul Leal (1886-
1964) e outros. Em pouco tempo, todavia, eles alcançam superar a iniciação saudosista, e à luz das modernas
correntes europeias no terreno estético e no filosófico (Picasso, o Cubismo, o Futurismo, Max Jacob,
Apollinaire Max Nordau, etc), evoluem francamente para o Modernismo, por momentos confundido com o
Futurismo
Em 1915, alguns deles, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Raul Leal, mais Augusto de Santa-
Rita Pintor, Luís de Montalvor, Almada Negreiros, Rui Coelho, Tomás de Almeida, Alfredo Guisado,

10
Surge na pintura com Matisse, em 1908, ao criticar um quadro de Braque, no Salon des Indépendants.
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Armando Cortes-Rodrigues e, de passagem, o brasileiro Ronald de Carvalho resolveram fundar uma revista
que servisse de porta-voz e concretização de seus ideais estéticos, em consonância com o que vai no resto da
Europa. Nasce o Orpheu11. Na “Introdução” Luís de Montalvor procura fazer a profissão de fé literária de
todo o grupo. […]
De acordo com essas ideias estetizantes e confessadamente esotéricas, põem-se a criar uma poesia
alucinada, chocante, irritante, irreverente, com o fito de provocar o burguês, símbolo acabado da estagnação
em que se encontra a cultura portuguesa. A poesia, elevada ao mais alto grau, entroniza-se como a forma
ideal de expressar o espanto de existir, e sintetiza toda uma filosofia de vida estética, sem compromisso com
qualquer ideologia de carácter histórico, político, científico ou equivalente. A aderência ao Modernismo
significa, pois, o rompimento com o passado, inclusive em sua feição simbolista.
Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa. I2.ª ed., 5. Paulo, Cultrix, 1974
Texto adaptado e com supressões

Discurso no Orpheu
Olhado hoje, Orpheu é o espaço onde se defrontam uma vez mais dois discursos: um conservador
outro revolucionário. Querendo-se apenas revista de “literatura”, apresentando-se sem carácter doutrinário, é
na prática da poesia e não na teoria que o confronto tem lugar: dum lado a herança do Decandentismo
francês do outro o esprit nouveau duma Europa que mesmo em armas não deixava de lutar por uma estética
de vanguarda. Mas o que nos parece agora pura evidência não o era de modo nenhum para os jovens do
Orpheu pois o que neles era derivação do que o Simbolismo produzira de mais enfático e barroco12 era a
“modernidade” que aqueles espíritos ávidos de “cosmopolitismo” tinham à mão. Mas o equívoco não passou
despercebido àquele que curiosamente foi o pai e a mãe do Paúlismo: logo no primeiro número da revista
publica Fernando Pessoa a “Ode Triunfal” de Álvaro de Campos, seguida imediatamente da “Ode
Marítima”, textos onde a subversão não atingia apenas a linguagem mas as próprias instituições. É
exactamente graças às magnificantes Odes de Álvaro de Campos e a alguns versos mais pungentes e
desafectados de Sá-Carneiro, sem esquecer o que de provocatório havia em ambos, que Orpheu ia ser essa
coisa raríssima, se não única, em Portugal: um momento de sincronia perfeita com uma Europa esteticamente
avançada.

Eugénio de Andrade “Inquérito. O significado histórico do Orpheu 1915/1975”, in Colóquio Letras, Julho 1975.
Texto adaptado

11
O 1º número aparece em 1915, sob a direcção de Luís de Montalvor, para Portugal, e de Ronald de Carvalho, para o Brasil.
12
Entre nós encontrava expressão efémera no Paulismo, onde confluíam algumas águas do Saudosismo.
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