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O Sertão em Oswaldo Lamartine de Faria e Djacir Menezes: O espaço entre a

experiência direta e indireta.

Maria Samara da Silva

Resumo:

Introdução:

Na historiografia Brasileira existe uma profunda ligação com os espaços, essa ligação
é especialmente prolifica no Nordeste que tem sido alvo de várias investigações por autores de
áreas e trajetórias distintas desempenhando seus modos de ver.

Esta espacialidade também é marcada por uma multiplicidade de paisagens dada a


extensão de seu território. No litoral, a terra úmida possibilitou a implantação da cana de açúcar
e de toda uma cultura provinda do engenho a qual Gilberto Freyre dedicou vários estudos
incluindo ai seu livro Nordeste dedicado a enaltecer essa sociedade. Outra face desde Nordestes
é o Sertão que desponta como espacialidade mais provocadora do que a Zona da mata
produzindo assim como esta uma sociedade e uma cultura de caracteres fortes. O Sertão da
caatinga, da terra seca e dos homens fortes tem sido imagens frequentes projetadas no
imaginário nacional através de páginas e páginas escritas por décadas a fio sendo por vezes
narrado com sentimentos de saudade, dor, compaixão ou revolta.

Sendo o espaço sertanejo foco desta análise é importante destacar sua complexidade.
Segundo Amado () Sertão tem sido uma das mais importantes categorias espaciais. Foi utilizada
para nomear diversas regiões do Brasil sendo que no Nordeste tem seu uso mais fecundo
chegando ao ponto de se tornar quase um sinônimo daquela região.

A palavra Sertão já era usada pelos portugueses antes mesmo das grandes navegações
para denominar as áreas distantes de Lisboa. Logo se percebe que desde sua origem a palavra
Sertão tem a ver com terras interiores e distantes das cidades ou se formos mais longe da própria
ideia de civilização. No Brasil essa expressão continuará a ser utilizada com esse propósito
denominado as vastas terras a partir do litoral onde se construíram as primeiras vilas e cidades.
Novamente a ideia de lugar inóspito e distante se aplica.

Além da questão das distancias o Sertão também foi historicamente definido como
terras sem lei onde as instituições não conseguem chegar. É neste contexto que surgem
movimentos como o cangaço e o messianismo que florescem em meio a ignorância da
população.

Tais imagens tem sido comumente associada a obra de Euclides da Cunha Os Sertões
que na passagem do século XIX para o XX chocou o país com a narrativa da tragédia de
canudos. Nicolazzi ao discutir sobre Os Sertões apresenta como o autor constrói fortes
dicotomias entre o Sertão e o litoral; o Sertanejo e o Paulista e entre a selvageria e a civilização.
Além disso toda a viagem euclidiana se apresenta como uma trajetória não só no espaço como
no tempo onde o Sertão seria um retorno ao arcaico ou ao antigo e para ter esse efeito ele liga
na sua escrita certas estruturas sertanejas as construções de Grécia de Roma e até mesmo de
tempos pré históricos.

Albuquerque Junior () comentando a obra nos mostra que o Sertão por ter essa
característica de interior de afastado da civilização surge como o espaço da essência ou da alma
nacional bem como do verdadeiro brasileiro. Temos ai um processo de construção em que o
Sertão é colocado como um contraponto a identidade cosmopolita ou moderna. Outro aspecto
do Sertão é o saudosismo flagrante de suas elites sobretudo no contexto pós 1930 em que por
um lado temos a Revolução de 1930 que afetou seu poder político e o processo de modernização
com a chegada de eletricidade e dos veículos ao interior. Tais processos vão destruindo muitos
dos referenciais culturais que foram eleitos como definidores de uma vida em meio ao Sertão a
exemplo uso de animais para transporte ou do lampião a gás cuja luz era testemunha das lendas
e causos contados pelos mais velhos nos alpendres.

Vemos então que o Sertão é uma espacialidade que desperta uma grande diversidade
de interesses e sentimentos. E também uma espacialidade envolta em disputas políticas de longa
dada. Isso tudo oferece a possibilidade de narrativas múltiplas que enxerguem esse espaço de
maneiras totalmente distintas

Seguindo essa linha tomamos como objetos desta pesquisa os discursos sobre o Sertão
presentes em Djacir Menezes e Oswaldo Lamartine de Faria tendo por objetivo perceber como
suas trajetórias de vida contextos sociais, formação e interesses influenciaram na forma como
eles dão forma e esse espaço e se relacionam com ele.

Os personagens:

Djacir Menezes.
Djacir Menses foi um intelectual cearense cujo pai, Paulo Elpíno, é oriundo da região do Cariri
cearense da onde imigra ainda jovem e vai à procura de melhores condições de vida em cidades
como fortaleza. Através dos estudos conseguiu se formar em Direito e chegar a procurador do
estado do Ceará cargo que exerceu por quarenta anos. Djacir, o mais velho dos quatro filhos,
nasce em 1907 em Maranguape, porém, terá sua infância e adolescência em Fortaleza junto a
praia de Iracema. Foi bem sedo apresentado ao mundo da literatura tendo o pai como guia Terá
o itinerário regular de muitos dos filhos da classe média alta de sua época passando pelo Ateneu
Cearense e pela Faculdade de direito.

Pouco foi pesquisado sobre Djacir Menezes em termos acadêmicos até onde alcança
nosso olhar só encontramos um dossiê que traz em si uma comparação entre O Nordeste de
Gilberto Freyre e O outro Nordeste de Menezes. Neste trabalho Arcanjo () nos mostra como
cada autor se posiciona no contesto de renovação dos estudos sociais na década de 1930.
Enquanto Freyre busca fazer uma defesa do Nordeste da cana de açúcar e do engenho como um
modelo de sociedade ideal onde se coadunam perfeitamente aspectos econômicos, étnicos e
morais.

Além dessa pesquisa encontramos alguns textos escritos por amigos e colegas em que
se conta sobre sua vida e carreira. Em um deles Meneses () descreve sua carreira como docente
e administrador em tanto na Universidade do Ceara quanto na Universidade do Rio de Janeiro
onde exerceu cátedras em cursos como Direito e Economia. É também homenageada sua
variada produção escrita contando com vastos estudos sobre a obra de Hegel bem como suas
análises sobre literatura.

Logo sedo se interessa pelo jornalismo fundando ainda no Liceu o Jornal A ideia. Mais
tarde colaborará com o periódico O Ceará de Julho de Matos Ibiapina. Essa relação será
determinante para a construção em Menezes de um espirito de combate contra as injustiças de
sua época, pois uma das principais bandeiras de Ibiapina era a de que o cerne de toda a miséria
que assolava o Ceará estava na politicagem domestica que sugava os cofres públicos em
benefício próprio. Desta forma Menezes vai desenvolvendo uma perspectiva social combativa
se aproximado do Marxismo em certos aspectos como na crítica a exploração dos mais pobres
bem como na aversão aos misticismos.

Desta forma o olhar de Djacir Meneses é permeado por uma grande gama de leituras
em áreas múltiplas o que lhe rendeu uma perspectiva cientifica forte de acordo com teorias
inovadoras na área das ciências sociais e antropologia no período pós 1930 com isso suas
analises buscam a realidade objetiva da sociedade. A ideia do Marxismo também é presente
com certas ressalvas a seus “aspectos inconsequentes”. Sua função é possibilitar o estudo das
condições materiais e dos meios de produção em que a sociedade se encontra no sentido de
perceber como estes influenciam nas relações sociais.

Oswaldo Lamartine

Com relação a Oswaldo Lamartine temos algumas pesquisas dentro da academia tanto
na área de História quanto na área de letras. Medeiros Neta (2007) tratou da Historiografia
seridoense a partir de autores como Manuel Dantas, José Augusto de Medeiros Juvenal
Lamartine e próprio Oswaldo. Esta pesquisa proporcionou pensar em como esses autores
ligados por laços de parentesco puderam construir o espaço do Seridó em seus textos. Já Peñero
(2010) procurou fazer uma comparação entre os textos Sertões do Seridó (1980) de Lamartine
e Grande Sertão Veredas (2011) de Guimarães Rosa buscando traçar um elo entre a construção
do Sertão em Rosa e suas aproximações com o Sertão de Oswaldo. No trabalho mais recente
Castro (2015) nos apresenta um panorama sobre a vida de Oswaldo Lamartine trazendo para
tanto uma grande gama de fontes.

Seu pai Juvenal Lamartine (1874-1956) foi um político que desenvolveu carreira nas
primeiras décadas do século XX no contexto de modificações políticas e sociais. Ocupando
vários cargos políticos, desde 1906 a 1930 Lamartine se põe do lado de Washington Luís e
quando chega a Revolução de 1930 é retirado do posto de governador bem como forçado a se
exilar na Europa.

Como um dos dez filhos do governador deposto, Lamartine vê seu pai e sua família se
desmoronado aspecto que o marcará profundamente.

Sua educação foi quase toda realizada em colégios internos. Primero no Recife e
posteriormente no Rio de Janeiro. Sua formação superior inclui o curso na Escola Superior de
agronomia de Lavras em Minas Gerais o mesmo curso que fez seu irmão Octavio Lamartine
assassinado em 1935.

Perambulando entre pessoas simples como pescadores artesãos e vaqueiros e grandes


intelectuais como é o caso de Camara Cascudo e Rachel de Queiroz, ele entrou em contato com
uma grande gama de tradições como o encouramento, os adivinhos da chuva, a pesca, a caça, o
cordel, os causos, e as heranças de família. São práticas recortadas do cotidiano das pessoas que
atravessaram gerações e que representavam para Lamartine uma grande riqueza a ser guardada,
a escrita foi a forma que ele encontrou para realizar esse objetivo.

Mesmo que durante sua vida tenha sido levado a morar em cidades como Natal, Recife
e, posteriormente, Rio de Janeiro, Lamartine sempre que possível voltava ao Seridó. Já na
velhice ao retornar ao Rio Grande do Norte algumas propriedades que alimentaram tais
sentimentos foram a fazenda Acauã, (Riachuelo-RN), e a Fazenda Lagoa Nova (São Paulo do
Potengi-RN).

Já o olhar de Oswaldo será marcado pela experiência do espaço, mesmo que em


pequenas quantidades, ele teve acesso durante a vida a um contato direto com o Sertão. Além
disso, assim como Meneses Lamartine era um leitor apaixonado pelos temas sertanejos. E se
Meneses se ampara nas contribuições das ciências Lamartine se alicerça na sua formação em
agronomia para o entendimento dos ritmos da terra. É um escritor alinhado a tradição de escrita
regionalista que segundo Albuquerque Junior () tem como seu precursor Gilberto Freyre.

Fontes:

O outro Nordeste (1970) foi originalmente publicado em 1937 fazendo parte da Coleção dos
documentos brasileiros organizada pela José Olympio Editora na década de 1930. Para Franzini
(2006) essa coleção foi tida em sua época como um veículo de difusão de novas visões sobre o
Brasil contando com autores das mais variadas orientações teóricas. Ela também seria
fundamental para a ampliação do conhecimento histórico para além dos círculos do IHGB e das
incipientes Faculdades de Filosofia. Grande parte do sucesso desta coleção se deve ao tino
comercial e aos contatos de seu proprietário José Olympio Pereira Filho (1902-1990) que
mantinha boas relações tanto com os escritores quanto com figuras de poder da época como
Filinto Müller (1900-1973), Lourival Fontes (1899-1967) e o próprio presidente Getúlio Vargas
(1882-1954).

Franzini ainda acentua a importância de Gilberto Freyre na escolha dos livros a serem
publicados na coleção. Neste momento, após a publicação de Casa grande & senzala () Freyre
já contava com um grande prestigio sendo escolhido como o diretor da coleção. Meneses
escreve o texto Ensaio sobre a evolução social e política do Nordeste da “civilização do couro”
e suas implicações históricas nos problemas gerais e o encaminha a José Olympio que
prontamente mostra a Freyre. Ele por sua vez identifica o potencial do texto e solicita que seja
publicado na coleção sob o nome de O outro Nordeste uma vez que na sua visão era um estudo
complementar de seu O Nordeste (1937).
Em 1970 Meneses decide por republicar o livro. Ele assim justifica no prefacio da segunda
edição “Já se vê que correu tempo suficiente para revisão mais cuidadosa, beneficitária de
ulteriores pesquisas, ao calor de mais larga experiência” Meneses (1970). Portanto, o texto da
reedição foi ampliado e corrigido nos pontos em que o autor considerou necessário corrigir
“exageros infantis” e “deslizes”.

Indicação sumária dos textos que compõem a historiografia do tema:

A questão dos espaços se constitui enquanto uma temática muito importante para a
atual historiografia. É especialmente relevante tratar dentro dessa temática dos modos como os
espaços são narrados e transmitidos aos variados públicos e por múltiplos narradores. Neste
estudo nos focaremos na discussão sobre a experiência direta e indireta dos espaços. Para isto
discutiremos dois textos. O primeiro é o capitulo, De Alexandria ao Cairo: Praticas eruditas e
identificação dos espaços no final do século XVIII do livro Por uma nova História urbana de
Bernard Lepetit (2001) que refere-se as formas pelas quais os europeus buscavam descrever e
apreciar os espaços do oriente no século XVIII.

Temos aqui um texto bastante rico em informações mas que será interessante para
nosso estudo na medida em que aborda como tema transversal a narrativa espacial primeiro em
uma perspectiva direta ou através do olhar do viajante e em um segundo momento a perspectiva
de uma apreensão dos espaços preocupada com o conhecimento com a erudição. Essas duas
visões estão profundamente relacionadas tanto com as intenções dos autores que as produziram
quanto com os usos que seriam feitos destes textos. Além disso não se pode deixar de destacar
as respectivas formações intelectuais e sociais destes autores pois, estas bagagens serão um
elemento importante na construção de suas análises.

No mesmo sentido, mas com preocupações totalmente distintas Yi – fu Tuan apresenta


na introdução e no capitulo A perspectiva experiencial de seu livro Espaço e lugar: A
perspectiva da experiência (2013) uma questão semelhante. Para ele o espaço pode ser
conhecido tanto através da experiência direta que se dá através dos sentidos e dos sentimentos
quanto por meio do conhecimento adquirido, do ouvir dizer ou mesmo de imagens produzidas
por esse lugar. Para Tuan a medida que nosso contato com um espaço engloba as experiências
diretas e indiretas podemos falar de uma experiência total do espaço e portanto teremos ai a
construção de um lugar.

Referencias:
ARCANJO, José Estevão Machado. O gordo e o magro: O Nordeste segundo Gilberto Freyre
e Djacir Menezes. Revista de Ciências Sociais, Cuiabá, v. 1, n. 27, p.73-83, jun. 1996.

FARIA. Oswaldo Lamartine de. Sertões do Seridó. Brasília: Senado federal centro Gráfico,
1980.

LEPETIT, Bernard. De Alexandria ao Cairo: Praticas eruditas e identificação dos espaços no


final do século XVIII. In: LEPETIT, Bernard. Por uma nova História urbana. São Paulo:
Edusp, 2001. p. 87-113.

MENEZES, Djacir. O outro Nordeste. 2. ed. Rio de Janeiro: Artenova Itda, 1970.

TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983.

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