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Edições paulinas:
São Paulo. Éducation dela Pureté et du sentimento. Editions Familiades: Paris.
1961. Disponível em: <http://alexandriacatolica.blogspot.com>
A FAMÍLIA
É na família que a criança encontra o ambiente mais propício à sua pureza. O pai
e a mãe preocupam-se, naturalmente, em evitar sobretudo os espetáculos e as
conversas que poderiam prejudicar ou perturbar a sua imaginação. Convém, pois
vigiar os filhos, habituando-os, ao mesmo tempo, a uma inteira confiança, de
forma que o culpado ou a vitima não hesite em relatar aos pais o que viu ou ouviu
para que estes possam retificar ou corrigir o que, insensivelmente, degeneraria
em maus hábitos. É preciso, principalmente, que os pais tenham certa perspicácia
psicológica para perceberem no olhar e na atitude da criança algo de fugido e
inquietador que, ordinariamente, é o prenuncio do pecado.
Sensibilidade
(...) Além disso, a sensibilidade, mais do que qualquer outra das nossas
faculdades, está sujeita à fadiga e instabilidade. Um estado doentio,
circunstancias externas ou inquietadoras, um capricho da imaginação e muitas
outras causas difíceis de descobrir, podem, momentaneamente, enlanguescer e
paralisar a sensibilidade, ou, inversamente, excitá-la e exaltá-la. Há mais:
entregue a si mesma, pode expandir-se em ímpetos apaixonados, em cujos
excessos consome-se. Isto levava um psicólogo a afirmar que o que caracteriza a
paixão, é o seu “caráter passageiro”. Trata-se, apenas, de um dito espirituoso, mas
que traduz, entretanto, um verdade real, isto é, que a sensibilidade, quando
descontrolada e entregue a seus arrebatamentos, gasta-se e destrói-se a si mesma.
Assim sendo, a sensibilidade é desigual, instável, passando frequentemente do
entusiasmo à indiferença. Nossos sentimentos mais arraigados e conscientes
conhecem essas alternativas de ardor e de frieza; se, nas primeiras, todo o esforço
é simples e fácil, pelo contrário, durante o período oposto que pode alcançar a
aridez e o desânimo, somos tentados a abandonar até mesmo as nossas mais caras
afeições, se não fossem a consciência do dever e a vontade de lhe permanecermos
fiéis. Cega e instável, a sensibilidade aparece-nos, pois, como uma força poderosa,
incapaz, porém, de orientar-se por si mesma. Por conseguinte, nada de mais
perigoso do que deixa-la dirigir a alma e pautar a vida. Cabe à razão e à
consciência desempenharem esse papel.
Convêm falar?
Portanto, ao aprender que sua mãe a alimentou com seu sangue e arriscou sua
vida na dor para dar-lhe a luz, a criança verá crescer o carinho e a afeição que lhe
dedicava, e se sentirá disposta a fazer todos os esforços para jamais entristece-la.
Seu egoísmo natural cederá diante do sentimento de gratidão e, deixando de se
considerar como o centro do mundo, compreenderá perfeitamente quanto deve
às gerações que a precederam. Consciente da intimidade dos elos que a unem à
mãe, o amor que lhe devotava será dez vezes maior. Mais tarde, nos albores da
puberdade, quando lhe serão reveladas as potencias criadoras que se escondem
em seu próprio corpo, terá noção de suas responsabilidades pessoais e, por
conseguinte, estará naturalmente disposta à pureza e ao domínio de si mesma.
Finalmente, quando vier a saber que sua própria existência originou-se no amor
recíproco de seu pai e sua mãe, compreenderá por que deve afastar de seu coração
qualquer afeição falsa, reservando seu amor para, mais tarde, realizar sua própria
vocação.
(...) Sim, é o coração das mães, ou melhor, pertinho do seu coração, que o bom
Deus coloca as criancinhas, às quais quer dar vida. É lá que, durante nove meses,
elas guardam preciosamente, alimentando-as de seu amor e de seu próprio
sangue, até o dia em que, bastante fortes, possam ver a luz do dia. Foi assim que
Deus te confiou a mim. Enquanto te trazia em meu seio, causaste-me muitos mal-
estares e fadigas. Suportei tudo com alegria porque já amava muito o bebezinho
que Deus me confiava. Para que nascesses em boas condições e que desde cedo te
inclinasses a fazer o bem, apliquei-me a não ter para ti senão desejos de perfeição
durante o tempo que tu e eu éramos um só. Sabia que o dia em que te separarias
de mim, meu corpo passaria grandes dores e riscos a ponto de colocar minha vida
em perigo. Mas, de antemão, aceitaria todos os sofrimentos, pronta a tudo
suportar pelo filho que eu já amava mais do que a mim mesma. Quando vieste ao
mundo, sofri tanto que pensei morrer. Fiquei doente durante quarenta dias. Mas
tudo me parecia leve, comparado à alegria de ter um filho, certa de que um dia
ele seria um homem bom e perfeito. Este filho, és tu, hoje eu o possuo, ele é o
fruto de meu ventre. Compreendes agora porque meu amor por ti é mais forte
que todo outro amor, e que a própria morte não pode mais separar-nos? Só tenho
um desejo, é que meu filho nunca pratique o mal”
(...) “Sabe, igualmente, que tua beleza feminina não está destinada a excitar a
admiração de um transeunte qualquer, suscetível de nele despertar pensamentos
que te fariam corar, se os conhecesses. A jovem honesta deve revestir-se de pudor.
Ela se “guarda” inteirinha, de corpo e alma para aquele que um dia Deus lhe der
por esposo. Aliás, é uma falta contra a pureza excitar os olhares masculinos, e é
igualmente outra alimentar a imaginação com um amor ilícito. Vigiai, pois, teu
coração e tua sensibilidade, de maneira a conservar integral a capacidade de amar
com que Deus te prodigalizou. Talvez venhas a fundar um lar; então te darás para
sempre àquele que Deus tiver escolhido para teu marido e serás capaz de elevar a
alma de teus filhos às sublimes realidades da vida espiritual, porque soubeste
conservar-te pura.”
(...) A vocação da mulher não é provocar os desejos dos homens, mas sim de se
guardar para aquele ao qual se unirá para sempre. Para que o sentimento adquira
toda sua nobreza e toda sua eficácia é preciso, pois, começar por respeitar a
mulher, todas as mulheres, e não se deixar dominar pelo desejo de as possuir.
Foram feitas para se dedicarem, serem fieis no amor e consagrarem-se à obra da
maternidade. A mulher ideal não é outra senão a nossa mãe, e é através do papel
que esta tiver representado em nossa própria existência, que devemos encarar as
outras mulheres, quer elas tenham ou não compreendido a sublimidade de sua
vocação.
(...) É o que fazem os jovens que se divertem. Considerar as mulheres--- e as
modas femininas concorrem para isso--- como instrumento de prazer. Aliás, o
hábito que adquirem de fazer de seus desejos a lei soberana da vida, leva-os a
falsear definitivamente os mais elementares princípios da moral. Justificam em
sua vida pessoal o mal que condenam na mulher, esquecendo que a lei moral é
idêntica para ambos os sexos. O fato de o homem ser mais tentado do que a
mulher, não é justificativa para suas fraquezas. Se tem mais combates a enfrentar,
é para fortificar sua vontade diante das graves responsabilidades que lhe são
pessoalmente atribuídas na direção da sociedade familiar. A luta contra as
tentações deve prepara-lo a adquirir esse domínio que lhe valera mais tarde ser,
para a companheira, guia seguro e conselheiro forte e esclarecido. Se
considerarmos que igualmente responsável pela obra de fecundação no
casamento e que terá de guardar a continência cada vez que as circunstancias o
exigirem, concebe-se que a aprendizagem da luta seja para ele a condição de sua
moralidade.
O ato sexual fora do casamento
(...) O jovem deve encarar lealmente todas as consequências do ato sexual, tanto
para si como para aquela que com ele compartilha das responsabilidades desse
ato. Assim esclarecido, logo se certificará de que todo e qualquer ato sexual
realizado fora do casamento é praticamente um ato contra a natureza. Se daí
resultasse uma concepção antes que as obrigações do casamento tenham sido
deliberadas e definitivamente aceitas, o filho seria necessariamente a vítima
inocente, ao mesmo tempo que a mulher arriscar-se-ia a ficar abandonada com
seu peso sagrado. E ainda, se em vista de evitar uma concepção, ele burla a
natureza, comete uma falta imperdoável rompendo as regras da moral mais
elementar. Essas considerações devem ser suficientes para esclarecer a
consciência do jovem e preservá-lo contra qualquer arrebatamento dos sentidos.
O que é o amor?
As moças e a vaidade
O sonho
A mulher enganada
A mulher que foi enganada uma primeira vez, jamais conhecerá o pleno equilíbrio
moral. Sente-se como desorientada, tem raiva de si mesma, e queixa-se dos
homens. Seu ímpeto é julgá-los todos através daquele que abusou de seus
sentimentos. Ou então, descerá às fraquezas de sua natureza e perderá pouco a
pouco o senso da própria dignidade. Entrega-se aos prazeres da vida,
assemelhando-se, assim, àquelas infelizes que, por uma estranha ironia, são
chamadas de “filhas do prazer”, quando seu verdadeiro nome deveria ser “filhas
do sofrimento”. Se a mulher não for dominada por um sentimento único e estável,
perde seu equilíbrio. Ora, de todos os amores, só existe um que pode plenamente
satisfazer sua natureza: depois do amor a Deus e do próximo, é a afeição que
dedicará, um dia, a um companheiro digno, para juntos constituírem família.
Importa, pois, desenvolver na jovem o desejo de dar a seus sentimentos uma
orientação positiva. Ela o fará mediante esforços diários de dedicação, cujo
resultado será o de alimentar seu coração, seja qual for o estado para o qual Deus
a predestinou.
Moral e higiene
(...) De todos os excessos propícios a diminuir a vida, diz o Dr. Hufeland, não
conheço nenhum, cuja ação seja mais destruidora e reúna num mais alto grau as
propriedades antivitais como os abusos venéreos; podemos considera-los a
quinta-essência de tudo o que pode abreviar a vida
(...) Há uma ideia singularmente falsa e que urge combater, declara o Dr. E.
Périer, porquanto introduz-se, muitas vezes, não somente na mentalidade dos
filhos, mas, também, na dos pais, parecendo autorizar-lhes a justificar o mau
procedimento do jovem: é a ideia dos perigos imaginários de uma continência
absoluta. A virgindade dos rapazes é uma salvaguarda física, moral e intelectual;
torna-se necessário procurar conservá-la, incitendo-os à prática dos antigos
costumes dos gauleses, de que nos fala Montaigne.
(...) O homem que deseja o triunfo pelas forças morais em se mesmo, conhece
lutas difíceis. Porém, a vitória que obtém contra seus instintos é a única conforme
à sua natureza, porquanto exige o domínio das forças espirituais sobre as
inferiores. Eis por que, finalmente, o homem que luta para realizar a mais alta
moralidade possível, muito longe de prejudicar o seu organismo físico, alcança,
progressivamente, um equilíbrio capaz de resistir aos mais violentos embates.
Por conseguinte, é um erro e um crime afirma aos jovens que a satisfação das
necessidades sexuais é uma condição indispensável ao bom funcionamento
fisiológico. Este não poderá ser plenamente atingido senão pelo desabrochar
interno das faculdades morais. A alegria interior é um elemento de saúde tão
poderoso quanto a satisfação dos desejos sexuais. É uma observação corrente que
os vícios contra a natureza e as excitações sexuais desenvolvem-se numa
proporção inversa das alegrias da consciência. Menos uma alma sente essas
alegrias, e mais o corpo é tentado a supri-las pelos prazeres sensuais; pelo
contrário, quanto mais a alma desfruta a paz de uma boa consciência, menos ela
conhece as perturbações e excitações sexuais. Aliás, está comprovado que um
vício, ao provocar a tristeza e o desencanto, abre caminho a outros vícios,
enquanto que as alegrias oriundas do esforço entusiasmam a alma e ajudam-na a
elevar-se sempre mais. É, pois, uma verdadeira provocação à libertinagem
pretender substituir a educação moral por simples noções de higiene.
Embora útil, a higiene por si mesma não é suficiente. Causa-se praticamente
maior prejuízo do que benefício aos jovens soldados, por exemplo, quando sob
pretexto de profilaxia venérea, indicam-lhes os meios de evitar as doenças
contagiosas, deixando-lhes crer que as relações sexuais são naturais e
necessárias. A mais elementar educação moral deveria fazer apelo à sua
consciência e mostrar-lhes como a liberdade sexual contribui para aumentar,
cada vez mais, o número de graves perturbações individuais e sociais. Isto não
quer dizer que se deva recusar os cuidados e os conselhos necessários àqueles que
caem nessas fraquezas. Mas deixa-los acreditar que têm o direito de satisfazer
seus instintos à condição de tomar as necessárias precauções de higiene, é
praticamente incitá-los a rebaixar a lei moral do homem ao nível do instinto, nos
animais.
O homem e a mulher
O homem, menos sensível, acredita, facilmente, que lhe basta cumprir o dever de
proteção e ser fiel à mulher para lhe testemunhar seu amor. Esquece muito
depressa que a sensibilidade feminina é uma flor delicada que é preciso cultivar
sempre. A boa compreensão entre o homem e a mulher é um compromisso
perpétuo. Se a esposa pretende acompanhar o marido sob pretexto de que tem
necessidade de sua presença constante, logo o cansará. Por pouco que exerça
sobre ele seu domínio, sua tirânica afeição privará o marido de toda inciativa e
atividade pessoal. Se o marido for dotado de uma personalidade vigorosa,
abandonará facilmente a mulher e dela se desapegará. Se, por outro lado, se
mostrar indiferente e distraído, não se dando ao trabalho de dedicar-lhe uma
parte de seu tempo, se não souber entendê-la para compreendê-la, provocará
insensivelmente no coração da esposa um sentimento de solidão que pode, então,
mudar-se em tristeza e em tristes separações. Assim a diversidade das naturezas
explica-se pela diversidade dos encargos. Seria vão e odioso procurar definir a
superioridade do homem e da mulher. Com efeito, não é possível decidir qual das
duas funções, a de proteger ou a de manter a união dos corações, é a mais sublime.
O casamento