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Introdução
2. O que é poesia
3. Os livros poéticos
4. A Poesia Hebraica
O QUE É POESIA?
Muito mais que mera composição métrica de versos melodiosos, a poesia é aquilo
que permite ao homem transcender a mediocridade para deparar-se frente a frente com a
Beleza Universal. É a mais pura expressão da alma, uma leitura espiritual da vida e, como
diria C. S. Lewis, “uma pequena encarnação que dá corpo ao que outrora foi invisível e
inaudível.".
OS LIVROS POÉTICOS
Sendo a Bíblia uma coletânea de diversas obras, é comum que haja elementos
poéticos distribuídos por toda a sua extensão. Apesar desse fator, entretanto, os hebreus
distinguiam três livros como predominantemente poéticos: Jó, Salmos e Provérbios. Mais
tarde, no séc. IV, a Vulgata de São Jerónimo incluiria nesse hall os livros didáticos -
Eclesiastes e Cantares - de forma que o conjunto de livros poéticos hoje pode ser dividido em
duas subcategorias:
Seu conteúdo abarca temas profundos, revelando os mais íntimos sentimentos dos
autores, bem como suas maiores obras de contemplação. Sendo a poesia a própria
expressão da alma, as passagens poéticas são ferramentas poderosas para a meditação e
comunhão com Deus, e estudá-las é atentar-se à revelação cósmica presente na criação,
retratada no texto das seguintes maneiras:
● A poesia como expressão do cotidiano: é um erro imaginar que o transcendente é
necessariamente excepcional. O texto bíblico nos mostra a sabedoria e a beleza que
nascem de aspectos simples da realidade, ensinando-nos a espelhar no comum a
Graça Divina.
Paralelismo Sinônimo:
Acontece quando o poeta repete uma ideia já apresentada no texto com alteração no
emprego das palavras.
Ex: Então Israel entrou no Egito, e Jacó peregrinou na terra de Cão. (Salmos 105:23)
Paralelismo Antitético:
Caracterizado por uma oposição de uma ideia previamente apresentada.
Ex: Porque o Senhor conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá.
(Salmos 1:6)
Paralelismo Sintético:
Caracterizado por uma progressão de continuidade do texto.
Ex: A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é fiel, e dá
sabedoria aos símplices. (Salmos 19:7)
Paralelismo emblemático:
Fazendo uso de uma linguagem figurada seguida de uma explicação literal do objeto descrito
(ou vice-versa), o texto trabalha com a ilustração mútua das palavras do autor.
Ex: Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. (Salmos
42:1)
Paralelismo analítico:
Nada mais que a análise racional das premissas estabelecidas no texto, o paralelismo
analítico faz uso de princípios lógicos para chegar a uma conclusão.
Ex: O SENHOR reina; tremam os povos. Ele está assentado entre os querubins; comova-se
a terra. (Salmos 99:1)
Paralelismo de quiástico:
Acontece quando a segunda parte do texto repete a primeira, mas há aí uma inversão da
ordem dos termos.
Ex: Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as
minhas transgressões. (Salmos 51:1)
Além dos paralelismos, há outros aspectos da poesia hebraica que devem ser
observados. Uma técnica amplamente empregada é o uso dos chamados Acrósticos, textos
onde toda a poesia constrói-se a partir da utilização das letras do alfabeto hebraico.
Autoria:
Há várias teorias acerca da identidade do autor do Livro de Jó. Muitos acreditam ser
o próprio Jó, outros creditam o livro a Moisés. Há ainda quem defenda que o texto foi escrito
por outras pessoas, como Salomão, Jeremias, Eliú, amigo de Jó, ou até mesmo um
anônimo.
Datação:
● Não há no texto menção alguma da nação de Israel, indicando que a história narrada
precede sua fundação.
● O livro faz uso constante do termo Shaday, amplamente empregado na era dos
patriarcas.
Historicidade:
● Tiago refere-se ao livro de Jó como um relato concreto, não uma invenção fantasiosa.
Informações adicionais:
Esboço do livro:
3. Epílogo:
a. Auto realização de Jó
b. Oração de Jó pelos amigos
c. Restauração de Jó
Pode-se também encontrar em Jó a chamada Teologia da Crise, que demonstra que a dor e
o sofrimento possuem não apenas um propósito didático para o ser humano (como a imagem
do Pai que corrige o filho), mas também um significado cósmico Divino.
O ponto central do livro é o amor a Deus pelo simples fato de Deus ser Deus, e não
por quaisquer benefícios que Ele possa conceder a seus servos. Fica evidente em todo o
texto que Deus não é um meio para um fim, mas o próprio fim em si mesmo. Ora, uma vez
que o amor do homem a Deus não deve estar condicionado a bênçãos, as adversidades da
vida, sejam elas quais forem, não carregam motivos para abalar a nem nossa fé, nem nosso
relacionamento com Deus.
A condição de Jó também nos ensina que não é próprio do homem viver sem
sofrimentos. Mesmo na condição de servo justo e fiel, Jó é vítima de catástrofes das mais
variadas. De fato, a Bíblia nos mostra que o lamento de Jó não lhe é imputado como pecado,
visto que o choro é parte da dor. Nossa esperança não está numa promessa de que jamais
passaremos por dificuldades, mas sim na certeza de que resistiremos a elas.
Até mesmo quando Jó anseia pela morte, ele ainda coloca Deus acima de si, considerando
Sua mão esmagadora uma bênção protetora. “Se tão somente fosse atendido o meu pedido,
se Deus me concedesse o meu desejo, se Deus se dispusesse a esmagar-me, a soltar a mão
protetora e eliminar-me!” (Jó 6:8,9)
Mas quem é Deus para que exija a submissão dos homens? Jó responde a isso
também. Vide, por exemplo, o discurso Divino que se estende do capítulo 39 ao 40. Nele,
Deus estabelece sua autoridade apelando para o fato de que Ele, ele apenas Ele, é o Criador
soberano.
Jó também deixa clara a questão da pessoalidade de Deus. No texto, Ele se apresenta como
alguém que se envolve com o homem e não uma força imóvel.
A cristologia em Jó:
Jó sente-se desolado, mas jamais renega a Deus. Assim, sem ter a quem recorrer,
ele clama pelo mediador e, portanto, aponta messianicamente para a vinda de Cristo. Vide
1Tm 2:5: Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus.
De fato, de uma forma figurada e, é claro, guardadas as devidas proporções, Jó é uma
espécie de Cristo no Velho Testamento. Ambos foram declarados justos pelo Pai, sofreram
ataques do diabo, foram acusados injustamente por aqueles ao seu redor e julgados como
indivíduos reprováveis.
Considerações finais:
Søren Kierkegaard vai dizer que o segredo do livro de Jó, a força vital, o ponto central,
a ideia é que apesar de tudo, Jó está certo. No fim das contas, a mensagem central do texto
é a mesma de toda a Bíblia: Deus. É o foco na esperança que há em Deus que dá forças ao
homem, de forma que nem mesmo o diabo pode atentar contra a salvação dos fiéis. É como
dizia Lutero: o diabo é um cão selvagem na coleira de Deus.
O título original do Livro de Salmos é Sefer Tehilim. Tehilim ( ְּת ִה ִליםou )תהיליé um
termo do hebraico que significa Louvores. Salmos vem de Psalmoi (ψαλμοί), verbo grego
utilizado na Septuaginta que significa “tocar instrumentos de corda”. No Novo Testamento,
esse verbo é utilizado quatro vezes: Romanos 15:9, 1Coríntios 14:15, Efésios 5:19 e Tiago
5:13.
É importante notar que os “cânticos” dos Salmos não são apenas músicas ou cantigas,
mas sim orações e profundas expressões de louvor da alma.
Autoria:
Apesar do nome Salmos de Davi, há vários outros autores que contribuíram para a
coletânea de textos que forma esse livro da Bíblia. Abaixo uma lista dos autores conhecidos:
● Asafe: autor de 12 salmos (Sl 50 e Sl 73-89), Asafe trata bastante sobre a soberania
de Deus e também sobre a prosperidade dos ímpios em relação ao justo.
● Filhos de Coré: autores de dez salmos (Sl 42, 44, 45, 47, 49, 84, 85, 87 e 88).
Além dos textos onde o autor é identificado, há uma série de salmos considerados
“órfãos” pela ausência de atribuição a um escritor.
Datação:
Os salmos foram produzidos durante cerca de 1000 anos, desde os tempos de Moisés
até o período pós-exílio. A Enciclopédia Judaica data o primeiro texto de Moisés em aprox.
1430 a.C. Várias datas já foram sugeridas para os Salmos, entre elas: o período dos
Macabeus (depois descartada), a época de Davi (1020-970 a.C.), a época de Salomão (970-
921 a.C.), a época dos filhos de Asafe e Coré (anterior ao exílio) e o época dos homens de
Ezequias (700 a.C.).
É interessante notar que uma quantidade tão ampla de autores vindos dos mais
variados períodos e contextos gerar um texto não uníssono é por si só atestado da veracidade
do relato bíblico. Em cada um dos autores a mensagem doca na mesma pessoa: o messias.
Especificações técnicas:
Muitos Salmos possuem títulos individuais (134 deles no hebraico, 148 no grego).
Ainda que não façam parte do texto original, eles têm sua origem datada na antiguidade. Além
disso, há títulos que servem de indicativo sobre o modo como deveriam ser cantados. Segue
abaixo uma explicação dos termos mais utilizados:
● Shir ()שיר:
ִ significa cântico ou, mais especificamente, ode. 30 salmos carregam esse
título. Shir pode aparecer em combinação com Mizmor (Sl 46) ou Maaloh (degraus)
nos Cânticos de Romagem (Sl 120-134).
● Shiggayon ()שגָיֹון:
ִ também de significado incerto, pode significar “hino” ou “salmo
penitencial”. O mesmo termo aparece em Habacuque (Hc 3:1) e ocorre apenas uma
vez (Sl 7).
Tais epígrafes eram tanto direcionadas ao público geral (direcionando e identificando
o contexto do texto) quanto aos responsáveis por sua execução. Os usos dos títulos são os
seguintes:
● Apontam a autoria
Há também no texto algumas palavras técnicas para as quais alguma atenção se faz
necessária:
● Alamot: plural da palavra hebraica Almar ( )אלמרque significa virgem, o que indica
um coral feminino ou vozes de soprano. (Sl 41:6).
● Al tashet: um termo de difícil tradução, seu significado mais próximo é “não destruas”
ou “não desperdices”. Indica ser um cântico típico da época de colheitas. Aqui,
colheita também pode ter um significado alegórico. (Sl 57, 59 e 75).
● Jitit: acredita-se que o termo faça referência a “alguém natural de Gate” ou, talvez,
aos instrumentos típicos da região ou seu estilo musical. (Sl 81, 84 e 88).
● Higgayon ()הגָיֹון:
ִ possui significado de meditação, um convite à reflexão. Implica
reflexão e racionalidade. (Sl 9, 16, 14 e 19).
● Selah ()סֶ לָ ה: expressão que indica o fechamento do texto. Possivelmente o termo
possa sinalizar uma pausa na música. Aparece cerca de 70 vezes nos salmos.
Cada uma dessas especificações técnicas serve para nos dar uma noção mais
ampla e completa do contexto original no qual os salmos foram apresentados.
Categorização:
● Salmos históricos
Relatam eventos que transpareceram na história. Salmos como esses servem de
celebração da memória de um povo e das misericórdias de Deus ao longo do tempo.
Uma visão ampla da ação de Deus revela Sua integridade no cuidado de Seu povo.
● Salmos proféticos
Salmos proféticos evidenciam acontecimentos futuros.
● Salmos messiânicos
Salmos messiânicos apontam, como o nome sugere, para o messias até então ainda
vindouro. Nesses textos podemos encontrar descrições do ministério de Cristo
enquanto rei, sacerdote e justo sofredor.
● Salmos imprecatórios:
Salmos que evidenciam a ira justa contra o mal. O termo significa “maldizer”, o que
revela certo grau de imaturidade teológica por Jesus no Novo Testamento. Salmos
desse tipo são a expressão de indignação de homens e mulheres levada a Deus,
posta sobre o altar para que haja a possibilidade de perdão.
O Livro de Salmos e o Livro de Isaías são os dois textos do Antigo Testamento mais
citados no Novo. De fato, Isaías é comumente conhecido como o “quinto evangelho”. No caso
dos Salmos, os trechos messiânicos projetam a imagem daquilo que viria se concretizar com
a vinda de Cristo. Dessa forma, cada explicação neotestamentária serve como uma
ampliação do significado original do texto.
Estrutura do livro:
Esdras reuniu os Salmos e ordenou-os em 450 a.C. Os Salmos são divididos em cinco
livros:
● Livro I: contém os Salmos de número 1 a 41. Seu texto apresenta o tetragrama judaico
YHWH (que aparece cerca de 270 vezes) para fazer referência a Deus.
● Livro II: contém os Salmos de número 42 a 72. Seu texto apresenta o termo Elohim
(que aparece cerca de 164 vezes) para fazer referência a Deus. Essa diferença de
termos denota uma diferença no período e na concepção teológica dos escritores.
● Livro III: contém os Salmos de número 73 a 89. Tanto o tetragrama YHWH (44 vezes)
quanto o nome Elohim (57 vezes) aparecem com mais ou menos a mesma frequência.
● Livro IV: contém os Salmos de número 90 a 106. Aqui o tetragrama YHWH (103 vezes)
é novamente predominante ao termo Elohim (19 vezes).
● Livro V: contém os Salmos de número 107 a 150. Novamente, YHWH (190 vezes)
aparece mais presente que Elohim (27 vezes).
Tamanha densidade de termos de referência a Deus não podem significar outra coisa
que não seu papel de centralidade no Livro dos Salmos. Todo salmo aponta pra Deus.
LIVRO DE PROVÉRBIOS:
A BELEZA DA SABEDORIA
Sobre o título:
Autoria:
Salomão é certamente o autor mais influente, tendo sido ele o compilador dos
capítulos 1 a 24 e autor dos capítulos 24 a 29. Há discussões se foi ele quem de fato escreveu
esses últimos capítulos, mas sua história, bem como seu contexto, nos fornece uma boa
margem para atribuir-lhe a autoria. Além dele há Agu, autor do capítulo 30, e o rei Lemuel
(que alguns acreditam ser um pseudônimo de Salomão).
É dito que Salomão escreveu cerca de 3000 provérbios, mas apenas os que estão na
Bíblia chegaram até nós. Certamente isso serve para nos mostrar que não é o acúmulo de
conhecimentos que nos torna sábios.
Datação:
Acredita-se que o Livro dos Provérbios tenha sido escrito num longo intervalo de
tempo, desde 950 a.C. a cerca de 725 a.C.
Objetivos do livro:
1. Ensinar a sabedoria às novas gerações. O texto é uma enorme aula onde o sábio
passa à frente seus conhecimentos sobre a natureza, o homem e Deus.
2. Advertir os homens acerca dos riscos de se orientar a vida de acordo com os impulsos
e desejos carnais da natureza caída do ser humano.
Estrutura literária:
● Disposição em pares:
Há um pareamento de ideias onde a primeira expressa um pensamento e a segunda
suplementa, completa e amplia-o. A disposição em pares é em muito semelhante ao
princípio de Paralelismo da poesia hebraica.
Ex: “O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas é sábio” (Pv 11:30)
● Disposição em grupos:
Acontece quando o texto tece uma série de ideias acerca do mesmo tema, formando
pequenos grupos referentes ao mesmo assunto.
Ex: Pv 25:2-7 (a Glória de Deus), Pv 26:1-12 (o insensato), Pv 26:13-16 (o
preguiçoso), Pv 31 (a mulher extraordinária).
● Epigrama:
Epigrama é um provérbio ampliado com o âmago em duas linhas com pensamento
aforístico, onde o restante do texto é suplementar.
Ex: “Filho meu, ouve o ensino de teu pai e não deixes a instrução de tua mãe.
Porque serão diadema de graça para a tua cabeça.” (Pv 1:8,9)
● Soneto:
Uma composição poética de 14 versos (o número em si pode variar). Começa com
um dístico expressando o tema do texto e formando dois pensamentos que serão
desenvolvidos alternadamente. Sonetos funcionam ao propósito de uma educação
bela, com princípios artísticos e poéticos.
● Monólogo dramático:
Acontece quando o autor personifica objetos ou ideias abstratas e faz deles o
narrador do texto.
Ex. “Grita na rua a Sabedoria, nas praças, levanta a voz; do alto dos muros clama, à
entrada das portas e nas cidades profere as suas palavras: Até quando, ó néscios,
amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos,
aborrecereis o conhecimento?” (Pv 1:20-22)
● Acróstico:
Textos acrósticos têm sua centralidade no alfabeto hebraico. Aqui, a construção de
significado do texto parte dos caracteres da língua. Essa técnica demonstra a
importância do alfabeto de do conhecimento gramatical na cultura hebraica.
Ex: O trecho da Mulher Virtuosa (Pv 31:10-31)
Breve esboço:
1. Primeira parte:
a. O texto trabalha com o louvor e a exaltação à Sabedoria, e o reconhecimento
de seu lugar na história e na cultura (Pv 1:1-9, 18)
b. Há a apresentação da autoria por meio dos títulos do escritor, bem como a
explicitação de seus objetivos (Pv 1:1-7)
c. O texto apresenta uma forte exortação para a juventude, evidenciando seu
caráter didático.
d. O autor também discorre sobre os benefícios da sabedoria apresentando
avisos contra o comportamento imprudente e contrastando a sabedoria com a
insensatez.
2. Segunda parte:
a. Aqui há, no texto, a coleção de provérbios de Salomão
b. Essa sequência de provérbios caracteriza-se pelo emprego de antíteses e
paralelismos, ressaltando o contraste entre tipos de comportamento.
3. Terceira parte:
a. A apresentação palavra dos sábios
4. Quarta parte:
a. Provérbios de Salomão pelos escribas
b. Apêndices finais: as palavras de Agu, o rei Lemuel e o acróstico da mulher
ideal
A sabedoria em Provérbios:
Provérbios é um manual prático, um tutorial que aborda temas morais e filosóficos que
regem a vida cristã. Deve-se ler Provérbios da mesma forma como se ouve atentamente a
uma aula. Além disso, o livro também é poesia. É arte e beleza que atingem a todos, inclusive
o preguiçoso e o insensato.
A terminologia de Provérbios:
Provérbios utiliza-se de diversos termos para retratar tanto a sabedoria quanto à tolice.
Especificações terminológicas nos ajudam a compreender mais precisamente qual era a ideia
original do autor. Há três termos utilizados pelo autor para designar a sabedoria:
● O insensato: o termo aqui não trata de uma vítima ingênua que acaba caindo na falta
de conhecimento, mas sim de uma escolha racional e deliberada de se tornar um
princípio de desunião entre as pessoas.
● O louco (quesil): termo que designa aqueles que odeiam o conhecimento e desprezam
a sabedoria. O tolo de Provérbios encontra seu prazer na maldade, e o sofrimento
alheio lhe é razão de divertimento. O texto trata o louco como um covarde que foge
da verdade.
● Salmos versa sobre o relacionamento do homem com Deus, isto é, algo orientado
na verticalidade. Já Provérbios trata sobre as relações dos homens com os homens,
num plano horizontal. Provérbios nos mostra que o cristão não pode cometer o erro
de tentar se isolar, uma vez que o cristianismo é uma fé comunicativa.
Considerações finais:
ECLESIASTES:
POESIA E FILOSOFIA DE UM PREGADOR
(Agostinho de Hipona)
Título:
Terceiro livro do Ketuvim, o nome Eclesiastes vem do hebraico Qōheleṯ ( )קֹ הֶ לֶ תe do
grego Ekklēsiastēs (Ἐκκλησιαστής), significa reunir em assembleia, aquele que reúne ou,
como é tradicionalmente traduzido, o pregador (termo este que aparece sete vezes no livro).
Autoria:
Em seu tempo, o povo de Israel foi liderado por três tipos de líderes espirituais: os
sacerdotes, os profetas e os sábios, dentre os quais havia Salomão. A época de Salomão é
conhecida como o início do período áureo da literatura de sabedoria hebraica.
O autor se apresenta como filho de Davi, Rei em Jerusalém, o que aponta para
Salomão. O Talmud atribui o livro aos sábios do Rei Ezequias.
Datação:
Na condição de obra de Salomão, o texto data de aprox. 935 a.C. Há quem diga,
entretanto, que o contexto apresentado no livro não condiz com o vivido por Salomão, e que
portanto a autoria não seria dele. Outros pontos dessa tese são: o nome de Salomão não
aparece no livro, ao contrário do que acontece em Cantares e Provérbios; Há expressões
linguísticas específicas do período do pós-exílio no texto, e ainda vestígios de uma influência
fenícia. Posicionando o texto muito mais à frente.
Conteúdo:
Eclesiastes é um texto que trabalha muito bem a ideia do absurdo. O pregador tece
uma série de conclusões a partir de uma observação precisa da vida como ela é, sem que o
olhar esteja acorrentado por pressupostos vazios de um otimismo tolo. De fato, este não é
um livro para covardes.
O livro retrata de uma forma poética e sublime a guerra das emoções e, ao pesar a
felicidade na balança, destrói o idealismo da vida ao dizer:
“Melhor é ir à casa onde há luto do que ir a
casa onde há banquete; porque naquela se
vê o fim de todos os homens, e os vivos o
aplicam ao seu coração.
Melhor é a mágoa do que o riso, porque a
tristeza do rosto torna melhor o coração.
O coração dos sábios está na casa do luto,
mas o coração dos tolos na casa da
alegria.”
(Eclesiastes 7:2-4)
O autor versa sobre tudo o que encontre debaixo do Sol, e admite em toda a sabedoria
e humildade que a vida não tem sentido fora de Deus. Não faz sentido viver a vida por si
mesma, é apenas vaidade, é correr atrás do vento. Viver só pode fazer sentido quando se
vive em Cristo. Novamente, Ele é a solução para o problema.
A Teologia em Eclesiastes:
O livro trabalha principalmente através de contrastes entre a vida vazia do homem tolo
(carente de significado) e a alegria e propósito da vida em Deus. A vida em Deus é repleta
de sentido, todo o resto é vaidade de vaidades, é como correr atrás do vento.
Título:
Cântico dos Cânticos do hebraico Šīr HašŠīrīm (;)שיר הַ ִש ִיר)םִ do grego Âisma
Aismátōn (ᾎσμα ᾈσμάτων); na Vulgata, recebe o nome de Canticum Canticorum.
O quarto livro dos Ketuvim e o primeiro livro dos cinco rolos dos Megillot , Cantares
foi um dos últimos textos a serem introduzidos no Cânon devido à ausência do nome de Deus
e por seu conteúdo. O livro acabou por ser incluído ser considerado uma alegoria sobre a
relação de Deus com seu povo e pelo nome de Salomão estar vinculado à obra.
Autoria:
O autor mais provável para o livro de Cantares é o rei Salomão. Há quem diga que o
texto foi escrito acerca de Salomão, e não sobre ele, uma vez que o escritor emprega termos
estrangeiros em sua obra.
A teoria, entretanto, não se sustenta. Salomão tinha bastante conhecimento de
línguas estrangeiras, uma vez que ele casou-se com diversas mulheres estrangeiras. Seus
muitos casamentos também conferem-no propriedade para tratar de assuntos referentes ao
amor conjugal.
Além disso, o primeiro versículo do livro atribui a autoria a Salomão, e seu nome é
referenciado 5 vezes no texto, sendo que a última citação dirige-se diretamente ao rei. “A
vinha que me pertence está ao meu dispor; tu, ó Salomão, terás os mil siclos, e os guardam
o fruto dela, duzentos.” (Cantares 8:12).
Há ainda outros pontos que implicam a autoria de Salomão: 1 Reis 4:32 nos mostra
que ele compôs mil e cinco cânticos. O autor também demonstra conhecimento sobre
diversos tipos de plantas, animais e saberes geográficos apontam para um autor versado em
questões intelectuais. A tradição judaica também considera Salomão como o autor, e seu
estilo literário remete assemelha-se muito ao de Eclesiastes e Provérbios.
Datação:
Conteúdo:
“Eu sou do meu amado, e o meu amado
é meu”
(Cânticos 6:3)
Interpretação:
1. Hipótese do pastor: trata o texto como uma espécie de drama que retrata Sulamita,
uma camponesa apaixonada por seu noivo, resistindo às investidas amorosas de
Salomão e permanecendo fiel a seu esposo.
Contribuições singulares:
2. Dia do casamento:
Há um aumento gradativo na narrativa, que culmina na noite de núpcias: o momento
que representa o clímax da relação, uma entrega mútua e total de um para o outro
onde ambos se tornam um.
3. Eventos posteriores:
Acontece o sonho de Sulamita a canção sobre seu amado.
Relações intertextuais:
Cantares é um texto que conversa muito com os outros livros da Bíblia, e podemos
achar uma correlações entre eles:
Os Livros Poéticos são um oásis de poesia numa época carente de beleza, onde a
banalidade e a praticidade existencialista reduziram tudo a um absurdo sem sentido. A poesia
eleva o homem, e serve para desvencilhar-lo das amarras do cotidiano.
O mundo está cego, não há mais o senso de maravilha presente no coração dos
poetas. Não havendo o balizador moral do que é belo, tudo pende para os extremos. A arte
é o descanso do caos da vida moderna, é equilíbrio. Nisso, ela é como a fé cristã. A Bíblia
nos ensina que há tempo para tudo, de forma que a vida deve ser temperada tanto por
alegrias quanto por tristezas.
Em suma, esses livros são a junção harmoniosa da beleza, inspiração e
espiritualidade. É fundamental conhecê-los para que possamos nos aperfeiçoar a partir das
experiências de vida dos autores. A beleza do texto nos liberta da banalidade da vida comum.
A espiritualidade e devoção cristãs estão enraizada nos Livros Poéticos.
A família é um tema central nessa coleção de livros. Jó é próspero ter uma restituição
familiar; Salmos honra a família, para a cultura judaica, prosperidade significa viver para ver
os filhos dos filhos; Provérbios ensina a sabedoria para reger o filho no caminho em que deve
andar; Eclesiastes ordena que vivamos e amemos intensamente a esposa; Cantares é um
enorme poema sobre amor.
● A Lição de Jó: Jó nos ensina que jamais estamos distantes do olhar de Deus. Este é
um livro que nos trás conforto e esperança. Nele percebemos que o próprio Deus é
testemunha de nossas vidas, que e é Ele quem está no controle. Com Deus no centro
de nossas vidas, a existência humana não é um constante desespero. A segurança
de se estar sob cuidado divino possibilita que resistamos a qualquer tipo de crise que
possa se levantar. Ao olhar do Senhor, nossas vidas são como poesias que cantam
Sua glória.
● A Lição dos Salmos: não há espaço na vida do homem para uma espiritualidade
desassociada da vida. O Livro dos Salmos nos mostra a mais pura e genuína
manifestação de um espírito de adoração a Deus. A adoração nos Salmos não é mero
ritualismo litúrgico ou retribuição por bênçãos e circunstâncias favoráveis. Tanto na
crise quanto na felicidade é possível – melhor: necessário – cantar ao Senhor.
Devemos cantar em todos os lugares e a todo o tempo uma canção salvífica e
vivificadora.
● A Lição de Eclesiastes: lembra-te do teu Criador. Eclesiastes nos ensina a não passar
pela vida de olhos fechados. O texto estuda a vida em seus mais diversos aspectos e
chega a uma única conclusão: tudo é vaidade. Então tudo o que nos resta é olhar para
Deus, e percebe que Ele governa sobre tudo. A vida não faz sentido fora de Deus, e
é apenas Nele que podemos descansar o descanso do sábio.
● A Lição de Cantares: não é digno ao homem viver sem amor. O Cântico dos Cânticos
de Salomão transpira amor em cada página. Figurada ou literalmente, o texto versa
sobre a mais pura e bela expressão de amor e afeto.
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Site: www.monergismo.com