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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES


INSTITUTO DE APLICAÇÃO FERNANDO RODRIGUES DA
SILVEIRA

Liberalismo Clássico
Estagiário: Marcio Francisco Teixeira de Oliveira.

O Liberalismo clássico é uma conseqüência de duas teorias políticas


importantíssas, são elas o jusnaturalismo e o contrato social. Os principais
representantes do liberalismo clássico foram os filósofos: Thomas Hobbes, John Locke,
Barão de Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau. Destes quatro filósofos, Hobbes,
Locke e Rousseau apresentaram o modo pelo qual os homens, pelo contrato, puderam
legitimar a formação do Estado. Veremos como o jusnaturalismo e o contrato social
deram oportunidade ao liberalismo clássico.
A estrutura etimológica de “jusnaturalismo” aponta facilmente para seu
conceito, pois o prefixo “jus” concerne à palavra “direito” e “naturalismo” àquilo que é
natural. Jusnaturalismo é, portanto, o “direito natural”. No campo moral e político o
emprego do jusnaturalismo reivindica a autonomia da razão que o cartesianismo afirma
no campo filosófico e científico, ou seja, o direito divino é substituído por um direito
natural que deve ser comum a todos e entendido racionalmente.
Outro conceito fundamental para entendermos o surgimento do liberalismo é o
de “contratualismo”. O contratualismo, com o jusnaturalismo, se transforma em um
poderoso instrumento de luta pela reivindicação dos direitos humanos, pois o contrato
possibilita que os seres humanos, que estavam sob as leis do estado de natureza, façam
um acordo, mediante contrato social, para construir a sociedade civil. Cada filósofo
mencionado no início deste texto possui uma compreensão peculiar sobre o
jusnaturalismo e o contrato. Vejamos:

Thomas Hobbes:

E dado que a condição do homem (conforme foi declarado no capítulo anterior)


é uma condição de guerra de todos contra todos, sendo neste caso cada um governado
por sua própria razão, e não havendo nada, de que possa lançar mão, que não possa
servir-lhe de ajuda para a preservação de sua vida contra seus inimigos, segue-se daqui
que numa tal condição todo homem tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos
dos outros. Portanto, enquanto perdurar este direito de cada homem a todas as coisas,
não poderá haver para nenhum homem (por mais forte e sábio que seja) a segurança de
viver todo o tempo que geralmente a natureza permite aos homens viver.
Consequentemente é um preceito ou regra geral da razão, que todo homem deve
esforçar-se pela paz, na medida em que tenha esperança de consegui-la, e caso não a
consiga pode procurar e usar todas as ajudas e vantagens da guerra. A primeira parte
desta regra encerra a lei primeira e fundamental de natureza, isto é, procurar a paz, e
segui-la. A segunda encerra a suma do direito de natureza, isto é, por todos os meios
que pudermos, defendermo-nos a nós mesmos.
Desta lei fundamental de natureza, mediante a qual se ordena a todos os
homens que procurem a paz, deriva esta segunda lei: Que um homem concorde,
quando outros também o façam, e na medida em que tal considere necessário para
a paz e para a defesa de si mesmo, em renunciar a seu direito a todas as coisas,
contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma liberdade que aos
outros homens permite em relação a si mesmo. Porque enquanto cada homem
detiver seu direito de fazer tudo quanto queira todos os homens se encontrarão
numa condição de guerra. Mas se os outros homens não renunciarem a seu direito,
assim como ele próprio, nesse caso não há razão para que alguém se prive do seu,
pois isso eqüivaleria a oferecer-se como presa (coisa a que ninguém é obrigado), e
não a dispor-se para a paz. É esta a lei do Evangelho: Faz aos outros o que queres
que te façam a ti. E esta é a lei de todos os homens: Quod tibi jïeri non vis, alteri ne
feceris.1

John Locke:

57. Uma mesma lei devia reger Adão e toda a sua posteridade, a lei da razão. Mas como
sua descendência veio ao mundo de uma maneira diferente da dele, por um nascimento
natural que a produzia ignorante e desprovida do uso da razão, ela não se encontrou
imediatamente sob essa lei. Pois ninguém pode estar sujeito a uma lei que não é
promulgada para ele; e como apenas a razão promulga e faz conhecer a lei, não se pode
admitir que ela se aplique a quem não chegou à idade da razão. Os filhos de Adão, que
não eram regidos por esta lei da razão desde o seu nascimento, não eram de início
livres. A lei, em sua verdadeira noção, não é tanto a limitação, mas a direção de um
agente livre e inteligente em seu próprio interesse, e só prescreve visando o bem
comum daqueles que lhe são submetidos. Se eles pudessem ser mais felizes sem ela,
a lei desapareceria como um objeto inútil; não é confinando alguém que lhe
tornamos inacessíveis os lodaçais e os precipícios. De forma que, mesmo que possa
ser errada, a finalidade da lei não é abolir ou conter, mas preservar e ampliar a
liberdade. Em todas as situações de seres criados aptos à lei, onde não há lei, não
há liberdade. A liberdade consiste em não se estar sujeito à restrição e à violência
por parte de outras pessoas; o que não pode ocorrer onde não há lei: e não é, como
nos foi dito, uma liberdade para todo homem agir como lhe apraz. (Quem poderia
ser livre se outras pessoas pudessem lhe impor seus caprichos?) Ela se define como
a liberdade, para cada um, de dispor e ordenar sobre sua própria pessoa, ações,
possessões e tudo aquilo que lhe pertence, dentro da permissão das leis às quais
está submetida, e, por isso, não estar sujeito à vontade arbitrária de outra pessoa,
mas seguir livremente a sua própria vontade.2

Jean-Jacques Rousseau:

Efetivamente, é fácil ver que, entre as diferenças que distinguem os homens, muitas
passam por naturais, quando são unicamente a obra do hábito e dos diversos gêneros de
vida adotados pelos homens na sociedade. Assim, um temperamento robusto ou
delicado, a força ou a fraqueza que disso dependem, vêm muitas vezes mais da maneira
dura ou efeminada pela qual foi educado do que da constituição primitiva dos corpos.
Acontece o mesmo com as forças do espírito, e a educação não só estabelece diferença
entre os espíritos cultivados e os que não o são, como aumenta a que se acha entre os
primeiros à proporção da cultura; com efeito, quando um gigante e um anão marcham
na mesma estrada, cada passo representa nova vantagem para o gigante. Ora, se se
comparar a diversidade prodigiosa do estado civil com a simplicidade e a uniformidade
da vida animal e selvagem, em que todos se nutrem dos mesmos alimentos, vivem da
mesma maneira e fazem exatamente as mesmas coisas, compreender-se-á quanto a
diferença de homem para homem deve ser menor no estado de natureza do que no de

1
HOBBES, Thomas. Leviatã; cap. XIV. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da
Silva. Versão eletrônica, IPC. 2010.

2
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil e outros escritos: ensaio sobre a origem, os
limites e os fins verdadeiros do governo civil. Trad. de Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. 3ª ed.
Petrópolis: Vozes, 2001.
sociedade; e quanto a desigualdade natural deve aumentar na espécie humana pela
desigualdade de instituição.3

“Enfim, cada qual, dando-se a todos, não se dá a ninguém, e, como não existe um
associado sobre quem não se adquira o mesmo direito que lhe foi cedido, ganha-se
o equivalente de tudo o que se perde e maior força para conservar o que se tem.
Portanto, se afastarmos do pacto social o que não constitui a sua essência,
acharemos que ele se reduz aos seguintes termos: “Cada um de nós põe em comum
sua pessoa e toda a sua autoridade, sob o supremo comando da vontade geral, e
recebemos em conjunto cada membro como parte indivisível do todo.” Logo, ao
invés da pessoa particular de cada contratante, esse ato de associação produz um
corpo moral e coletivo, composto de tantos membros quanto a assembléia de vozes,
o qual recebe desse mesmo ato sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade.
A pessoa pública, formada assim pela união de todas as outras, tomava outrora o
nome de cidade, e toma hoje o de república ou corpo político, o qual é chamado
por seus membros: Estado, quando é passivo; soberano, quando é ativo;
autoridade, quando comparado a seus semelhantes. No que concerne aos
associados, adquirem coletivamente o nome de povo, e se chamam particularmente
cidadãos, na qualidade de participantes na autoridade soberana, e vassalos,
quando sujeitos às leis do Estado. Todavia, esses termos freqüentemente se
confundem e são tomados um pelo outro. É suficiente saber distingui-los, quando
empregados em toda a sua precisão.”4

Em cada passagem acima, o que diz respeito ao jusnaturalismo foi sublinhado, e


o que se refere ao contratualismo está em negrito. Vê-se que os filósofos fazem
interpretações distintas acerca das condições naturais que propiciaram o contrato entre
os homens. Esta divergência de opiniões é clara, pois, enquanto Hobbes enxerga um
“estado de natureza” no qual haja disputa e guerra de todos contra todos, Locke acredita
que o homem pertencente ao estado de natureza é um homem ignorante, pois não faz
uso da razão e, por isso, não é livre, visto que a liberdade é fruto das leis que a razão
pode construir. Para Rousseau, o homem que vive no estado de natureza não vive em
guerra e nem é ignorante, pois a ignorância e a guerra são frutos da vida em sociedade,
não somente a ignorância e a guerra, mas tudo o que é peculiar a vida em sociedade
retira dele o que é, por natureza, bom; pois, de acordo com Rousseau, a natureza criou o
homem de modo perfeito, que, no entanto, foi arruinado pela maldade e mentalidade
divisora próprias da vida em sociedade. Cada modelo de contrato destes filósofos é
conseqüente das visões acerca do direito natural. Hobbes compreende o contrato como
possibilidade de findar a atmosfera de insegurança que permeia a vida dos homens do
estado de natureza, por este contrato cada indivíduo cede poder ao soberano; Locke
compreende que o contrato é decisivo para que a lei seja instaurada, pelo uso da razão,
para que haja liberdade e paz para todos. Neste contrato o homem é livre para agir, é
livre para utilizar suas propriedades, seu corpo, contanto que não fira a liberdade de
outrem; Rousseau, por sua vez, transfere o poder para o povo, o povo é o seu próprio
soberano e sua vontade deve ser respeitada, o povo faz a lei ao mesmo tempo em que
também as obedece.

3
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem da desigualdade, p.37. Edição eletrônica:
Publicações Eletrônicas LCC.

4
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social, cap. VI. Tradução: Rolando Roque da Silva. Edição
eletrônica: Ed Ridendo Castigat Mores (www.jahr.org).
O jusnaturalismo e o contratualismo foram de suma importâcia ao liberalismo
clássico, pois puderam sustentar as principais transformações políticas, éticas e
econômicas ocorridas naquele período, favorecendo a assunção da burguesia. Pensar o
liberalismo deve ser pensar o poder que a burguesia assume frente à sociedade; com o
advento do liberalismo podemos encontrar diversas mudanças, a saber, no Liberalismo
Político: o Absolutismo Real e a legitimação do poder no direito divino dos reis, na
tradição e na herança são gradualmente substituídos pelo consentimento dos cidadãos;
L. Ético: há um processo de luta pela garantia da liberdade de pensamento, expressão e
religião; L. Econômico: a oposição ao poder do rei nos negócios – que estava centrado
na concessão de monopólios e privilégios – é criticada e mudada (por exemplo: os
economistas ingleses Adam Smith e David Ricardo apoiavam a propriedade privada dos
meios de produção e a livre-iniciativa). No lugar do Estado intervencionista que
“equilibraria” a economia, surge a “mão invisível do Estado” que regula a economia
pela lei de oferta e de procura. Locke foi fundamental neste processo, pois lutou pela
liberdade de propriedade e foi teórico da revolução gloriosa; Montesquieu, a fim de
descentralizar ainda mais o poder e garantir maior autonomia ao cidadão, luta pela
separação dos três poderes nos seguintes termos "Toda sociedade, em que não for
assegurada a garantia dos direitos e determinada a separação dos poderes, não tem
Constituição”5, e Rousseau, lutando ainda mais pela autonomia do indivíduo social,
transfere ao mesmo o poder de, pela vontade de geral – contra a “vontade de todos”,
enquanto vontade particular –, decidir o futuro do Estado ( podendo ser interpretado
como um dos precursores da democracia direta). O jusnaturalismo, por “atribuir aos
indivíduos direitos originários e inalienáveis” 6, e o contratualismo, por “considerar a
sociedade humana e o Estado como fruto de convenção entre indivíduos” 7
possibilitaram, portanto, a consolidação do Liberalismo como esta doutrina de
emancipação do homem frente às estruturas que limitavam sua ação.

5
Declaração dos direitos do homem e do cidadão, de 1789:

6
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Martins Fontes. São Paulo: 1998.
7
Ibidem.

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