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BEM-VINDO(A)!

Muito prazer, meu nome é Lucas Marin Cebrian.

Sou advogado, professor de direito penal e processo penal, e não faz muito tempo que
eu estava na mesma situação que você está hoje.

Após a tão suada aprovação na primeira fase do Exame de Ordem, eu sabia que a
segunda fase, ao menos para mim, seria mais fácil. Afinal de contas, eu faria em direito
penal, matéria que eu sempre tive facilidade e prazer em estudar. Mas, ao mesmo
tempo, inúmeras perguntas e receios ocupavam os meus pensamentos:

▪ Devo fazer rascunho?


▪ Quais teses devo alegar?
▪ Como identificar a peça prático-profissional?
▪ Posso colocar meu nome no final da peça?
▪ Existe uma ordem correta para alegar as teses?
▪ Qual é a data que se deve colocar ao final da peça?
▪ Ao qualificar meu cliente, devo inventar informações?

Sei exatamente o que você está vivendo agora e sei também o que está passando pela
sua cabeça.

Embora muitos considerem a segunda fase mais fácil, sem um bom método de estudos
ela pode ser mais complicada. Aqui, não basta você saber o conteúdo. É preciso que
você saiba minutar a chamada peça prático-profissional.

E digo mais, se você trabalha na área penal, minutar uma peça conforme você faz no seu
dia a dia não é o suficiente. É preciso que você sabia redigir a sua peça de acordo com
o método de avaliação da banca.

Para alguns de vocês essa é a prova mais importante da vida, para outros apenas uma
etapa. Alguns, inclusive, estão tentando obter a aprovação há alguns exames. Mas,
independentemente de quem você é, se você está lendo esse texto, fique sabendo que
o mais difícil já passou.

Eu tenho certeza que se você se dedicar de corpo e alma, em algumas semanas você
será aprovado no XXIX Exame de Ordem!
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SOBRE O CURSO PRODIGE

Acredito cegamente que quando a gente ama o que faz, e com muito esforço e
dedicação, nosso produto ou serviço pode chegar ao Estado da Arte.

Dito isso, quero que você saiba que venho dedicando nos últimos anos grande parte do
meu tempo para criar um curso completo e especializado para a segunda fase do Exame
de Ordem em Direito Penal.

Após pesquisar à exaustão o que há de melhor e pior no mercado, posso te dizer que
montei um curso do absoluto zero, com todo o suporte da Prodige Preparatório,
visando preparar dois nichos de pessoas:

▪ Pessoas que nunca tiveram prática na área penal e precisam aprender a minutar uma
peça prático-profissional do zero.

▪ Pessoas que, mesmo atuando na área, tem a plena consciência de que a peça exigida
no Exame de Ordem não reflete a prática profissional no mundo real.

Neste sentido, como você já deve ter ouvido por aí, o Exame de Ordem é elaborado de
modo a testar do bacharel o máximo de conhecimento possível. Justamente por isso
que memoriais, recurso de apelação e resposta à acusação são as peças mais cobradas
no Exame.

Em decorrência disso, o método de correção que a banca adota é o famoso


espelhamento.

Isto é, o corretor da sua prova não irá analisar a sua persuasão ou a sua eloquência. Ele
simplesmente vai “bater o olho” na sua prova e verificar se ali estão as teses cobradas
no gabarito (espelho).

Isto é, mais importante do que como colocar é o que colocar.

Mas não se preocupe, saiba que se você adquirir o curso você aprenderá justamente o
necessário e suficiente para obter a sua aprovação. E aprenderá, principalmente, como
minutar todas as peças prático-profissionais do zero!
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SOBRE ESTE MATERIAL

Esse e-book que você está lendo é apenas parte de um dos materiais que
disponibilizamos em nosso curso completo, onde são abordadas todas as peças prático-
profissionais que podem cair no seu Exame de Ordem (são mais de 20).

Para saber mais sobre o curso, siga-nos no Instragram:

▪ @prof.cebrian
▪ @prodige.preparatorio

No presente material, você aprenderá como minutar, do zero, as cinco peças que mais
foram cobradas no Exame de Ordem:

▪ Alegações finais sob a forma de memoriais


▪ Recurso de apelação
▪ Resposta à acusação
▪ Recurso em sentido estrito (RESE)
▪ Agravo em execução

Após a unificação do Exame, essas peças foram cobradas em 75% das provas. Só o
recurso de apelação, por exemplo, foi cobrado 9 vezes entre os 37 exames realizados. A
peça de memoriais também foi cobrada por 9 vezes.

Perceba, portanto, a importância de se aprender essas peças.


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RECOMENDAÇÕES PARA O DIA DO EXAME E DÚVIDAS FREQUENTES

▪ Qual material devo levar no dia do exame?

Por questão de segurança, e se possível, leve dois vade-mécuns. Sim, dois vade-
mécuns. Por que? Porque eventualmente o fiscal de prova pode confiscar o seu
material por achar que seus grifos constituem estruturação de peça. E, na ocasião,
você estando ou não com a razão, não conseguirá reverter a situação.

Por isso, recomendo que você estude com dois vade-mécuns e grife/sublinhe um
só deles, deixando o outro como reserva. Foi isso que eu fiz e eu recomendo.

É obrigatório e extremamente necessário? Não.

E a marca e o tipo do vade-mécum? Bem, escolha de acordo com a sua preferência.


Mas utilize ao menos um específico de direito penal para não ter problemas
desnecessários.

▪ Devo fazer o rascunho da peça inteira antes transcrevê-la na folha de respostas?

Minha recomendação é não. Não faça o rascunho da sua peça inteira. Utilize a
folha de rascunho para, tão somente, estruturar a sua peça, listando as teses e os
artigos que serão colocados na peça quando você for redigi-la na folha de
respostas.

Por que? Porque você possui apenas 5 (cinco) horas para realizar a sua prova. Vai
por mim, aposto que no fim do seu exame você ficará sabendo de alguém que teve
que entregar a prova incompleta ante a falta de tempo por ter feito o rascunho.

▪ O que eu faço primeiro: peça ou questões?

Não existe verdade absoluta para essa pergunta pois é muito subjetivo, varia de
acordo com o desempenho de cada um.

O que eu recomendo, o que eu fiz, e o que a grande maioria dos professores


recomendam, é que você faça primeiro a peça para depois iniciar as questões.
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DO DIAGNÓSTICO

Imagine que você está com febre alta, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, manchas na
pele e extremo cansaço. Você marca uma consulta, vai até o médico e, após ele realizar
algumas perguntas, te dá o diagnóstico de dengue (que, posteriormente, é corroborado
pelos devidos exames).

Perceba que a ferramenta que que o médico se utiliza para diagnosticar o problema é o
questionamento. Com as respostas (no caso, sintomas), ele dá o devido diagnóstico.

No seu Exame de Ordem, assim que você for elaborar a peça prático-profissional, a
primeira coisa que você vai fazer é o diagnóstico!

▪ Atenção: O diagnóstico é a etapa mais importante do seu exame. Ele possibilita que
você faça uma análise completa do problema e, principalmente, não esqueça teses
fundamentais. Por isso, é imprescindível a sua realização.

O QUE É O DIAGNÓSTICO?

O diagnóstico é um método devidamente testado, aprovado e consolidado há anos nos


cursos preparatórios para a segunda fase do Exame de Ordem.

Consiste em um formulário com 7 (sete) perguntas que devem ser respondidas na sua
folha de rascunho, sobre o caso apresentado, antes de minutar a peça prático-
profissional.

As respostas para essas perguntas serão a base da sua peça prático-profissional, onde
constarão as informações mais importantes. Deste modo, é indispensável que você
memorize exatamente cada uma dessas perguntas.

ONDE FAZER ESSE DIAGNÓSTICO?

Com o caderno de prova em mãos, quando for elaborar a sua peça, você irá escrever o
referido formulário na folha de rascunho e, em seguida, o responder.
13

Após realizar o devido diagnóstico, você pode dar início, ainda na folha de rascunho, à
estrutura da sua peça1.

AS 7 QUESTÕES DO DIAGNÓSTICO

As perguntas que você deve responder para colher todas as informações necessárias
são:

1. Quem é o seu cliente?

2. Qual é a infração penal/pena?

3. Qual é a espécie de ação penal?

4. Qual é o procedimento adequado?

5. É admissível suspensão condicional do processo?

6. Qual é a peça?

7. Quais teses serão alegadas?

1. Quem é o seu cliente?

O primeiro passo é você anotar se o seu cliente é o réu ou a vítima.

Sim, exatamente isso. Embora raríssimo, não necessariamente seu cliente será o réu.
Você, enquanto advogado, também pode atuar como assistente da acusação.

1
Atenção: Já disse antes e ainda vou repetir algumas vezes, se você fazer o rascunho inteiro da sua peça
para depois passar a limpo, não dará tempo. Por isso, recomendo que você apenas estruture a peça
escrevendo as teses e tópicos que serão alegadas.
14

E ter isso anotado, por escrito, te ajudará a não confundir a peça cabível.

Ademais, anote também as informações pessoais do seu cliente, fornecidas pelo caso
prático, como por exemplo: ser o agente menor de 21 (vinte e um) na data do fato, ou
maior de 70 (setenta) anos na data da sentença2.

Isso lhe auxiliará em relação às teses de prescrição, um dos temas mais cobrados na
segunda fase do Exame de Ordem.

2. Qual é a infração penal praticada e qual é a pena cominada?

Saber qual é a infração penal e, principalmente, deixar anotado, te auxilia em teses


sobre competência. A pena cominada, por sua vez, é o que determina o procedimento
cabível.

São coisas simples, mas que, durante a prova, seja pela tensão ou seja pela quantidade
de informações que o problema traz, pode passar em branco. Por isso, há a necessidade
de anotá-las.

Atenção: É preciso que você anote a infração penal que está sendo/foi imputada ao
seu cliente e não aquela infração penal que você acha a tipificação mais adequada!

3. Qual é a espécie de ação penal

Ação penal é o direito do Estado-acusação (Ministério Público), ou da vítima/ofendido,


ingressar em juízo solicitando a prestação jurisdicional e a aplicação do direito penal
para aquele que praticou uma infração penal.

ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL. Existem aqueles crimes que além de atingir a vítima, atingem
a estrutura social e, por consequência, sua punição é de interesse geral. De outro lado,

2
Código Penal, Art. 115.
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existem aqueles crimes cujas consequências recaem massivamente sobre a vítima e


pouca influência tem na estrutura social.

Em virtude desses níveis de interesse, a nossa legislação classifica a ação penal segundo
o seu titular. São duas as suas espécies: I – Ação penal pública; e II – Ação penal privada.

A regra é que os crimes sejam de ação penal pública, conforme determina o artigo 100
do Código Penal3. Somente estaremos diante de um crime de ação penal privada, ou
ação penal pública condicionada, quando a legislação expressamente declarar.

Essa declaração expressa em contrário estará ou no próprio crime, ou nas disposições


gerais que estará no final do título que o crime está previsto.4

Ter plena consciência sobre qual é a espécie de ação penal do crime fará com que você
não deixe passar em branco, por exemplo, teses acerca de nulidade por ilegitimidade de
parte.5

4. Qual é o procedimento adequado?

A importância de se saber qual o procedimento adequado reside não só nas teses de


nulidade, mas, principalmente, na identificação da peça.

Neste sentido, estabelece o artigo 394 do Código de Processo Penal:

▪ Art. 394. O procedimento será comum ou especial.

§ 1o O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo:

3
CP, Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido.
4
Atenção: os crimes de lesão corporal leve e lesão corporal culposa são exceções dessa regra pois,
embora esses crimes estejam previstos no artigo 129 do CP, é o artigo 88 da Lei dos Juizados Especiais
(Lei nº 9.099/95) que determina que, em relação a esses crimes, a ação penal será pública condicionada.
Não será pública condicionada apenas de for lesão corporal leve ou culposa resultante de violência
doméstica (Súmula 542 do STF – Art. 41 da Lei 11.340/2006).
5
No módulo II existe uma aula específica sobre ação penal. Recomendo que você assista.
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I - Ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou
superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade;

II - Sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4
(quatro) anos de pena privativa de liberdade;

III - Sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei.

A leitura do mencionado dispositivo legal nos induz a adotar um método errôneo para
encontrar o procedimento adequado, fazendo com que a gente faça primeiro a análise
acerca do quantum de pena.

Contudo, o método mais acertado é o método de eliminação, realizado por meio das
seguintes perguntas:

1. É infração penal de menor potencial ofensivo?

2. Há previsão de procedimento especial?6

3. Qual a pena aplicada?

Atenção: O procedimento sumaríssimo sempre prevalecerá sobre os demais


procedimentos vez que é um rito previsto na constituição.

É por isso que, mesmo tendo um procedimento especial, os crimes contra a honra são
julgados pelo procedimento sumaríssimo, no juizado Especial Criminal.

O mesmo acontece com os crimes funcionais com pena menor que 2 (dois) anos.

Nestes casos, só se aplicará o procedimento especial quando a pena somada passar de


dois anos.

6
Por exemplo: crimes contra a vida, crimes contra a honra, crimes da lei de drogas, crimes funcionais e
crimes contra a propriedade imaterial.
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5. É admissível suspensão condicional do processo?

A suspensão condicional do processo está prevista no artigo 89 da Lei nº 9.099/95 (Lei


dos Juizados Especiais):

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano,
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor
a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo
processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos
que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

Observações importantes:

▪ É preciso que haja o requerimento do Ministério Público, não pode o juiz


aplicar de ofício. E quando for ação penal privada? A lei não prevê a
possibilidade. Todavia, a jurisprudência e a doutrina admitem a proposta
pelo querelante.

▪ Se houver concurso de crimes aplica-se a Súmula 243 do STJ: O benefício da


suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais
cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva,
quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência
da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.7

▪ Não se aplica a suspensão condicional do processo nos crimes praticados no


âmbito da violência doméstica, não importando a pena8.

▪ Se presente os requisitos e o Ministério Público não fizer o pedido: Na peça,


faça os seguintes pedidos: I) nulidade (CPP, 564, IV9); e II) remessa dos autos

7
No mesmo sentido existe a Súmula 723 do STF: Não se admite a suspensão condicional do processo
por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um
sexto for superior a um ano.
8
Lei n.º 11.340/2006 - Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
9
CPP, Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: [...] IV - por omissão de formalidade que
constitua elemento essencial do ato.
18

para o Procurador Geral, por analogia ao artigo 2810 do CPP, nos termos da
Súmula 69611 do STF.

▪ Conforme a Súmula 337 do STJ: É cabível a suspensão condicional do


processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão
punitiva.

6. Qual é a peça prático-profissional?

Com as perguntas anteriores devidamente respondidas, já é possível saber a peça que


está sendo cobrada.

Assim, basta anotá-la no seu formulário do diagnóstico.

Por ora a identificação das peças pode parecer um “bicho de sete cabeças” para você,
mas te garanto que, quando começarmos a estudar as peças em espécies, isso será
facilitado.

7. Quais teses serão alegadas?

A última questão é a mais importante do diagnóstico. Aqui, você irá mencionar quais
teses você alegará na peça.

Podemos classificar todas as teses em 4 (quatro) grandes grupos:

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CPP, Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o
arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar
improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-
geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou
insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.
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Súmula 696, STF: Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo,
mas se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao
Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.
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I. Teses nulidade;
II. Teses de extinção da punibilidade;
III. Teses de mérito;
IV. Teses subsidiárias;

Antes de iniciarmos a análise das espécies de teses, preciso fazer uma observação.

Uma das perguntas mais frequentes dos alunos é: Como redigir a tese?

Para alegar as teses na sua peça é muito simples e existe uma fórmula para isso.

Primeiro, é preciso que você saiba que o seu corretor não vai analisar a sua persuasão,
a sua eloquência ou a sua habilidade com as palavras. Ele tem centenas de provas para
corrigir.

O seu corretor simplesmente vai “bater o olho” na sua prova e tentar identificar se você
alegou as teorias prevista no espelho de correção.

Por isso, preocupe-se mais com o que colocar e menos com a forma de colocar.

Isso não quer dizer que você pode ser desleixado. Isso quer dizer que você tem que ser
objetivo, nada de parágrafos grandes ou palavras diferentes.

Assim, para alegar uma tese, utilize-se da seguinte estrutura:

1. Diga o que a lei diz;


2. Depois fale sobre o fato;
3. Por fim, diga a conclusão.

Exemplo:

Conforme prevê o artigo 158 do Código Penal, incorre no crime de extorsão


aquele que constrange alguém, mediante violência ou grave ameaça, para
obter vantagem econômica indevida.

No caso em tela, o réu constrangeu a vítima para obter a quitação de uma


dívida devidamente comprovada por notas promissórias. Isto é, trata-se de
vantagem devida.
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Deste modo, observa-se que, por estar ausente a elementar “vantagem


indevida” na conduta do réu, esta é atípica. Podendo, no máximo,
enquadrar-se no delito de exercício arbitrário das próprias razões (Art. 345
do Código Penal). A absolvição do réu, portanto, é medida que se impõe, com
fulcro no artigo 386, III do Código de Processo penal.

I. TESES DE NULIDADE

Nulidades são vícios processuais que decorrem da inobservância de exigências legais,


capazes de invalidar o processo (no todo ou em parte).

ESPÉCIES DE NULIDADE: São duas as espécies de nulidade: I. Nulidade relativa; II.


Nulidade absoluta.

I. Nulidade relativa: É o vício que decorre da inobservância de formalidade


estabelecida em norma infraconstitucional. A invalidação do ato, contudo,
fica condicionada à demonstração do efetivo prejuízo, bem como à sua
alegação em momento oportuno, sob pena de preclusão. O juiz também não
poderá declarar de ofício.

Resguarda o interesse das partes.

II. Nulidade absoluta: Vício decorrente da inobservância de normas (regras


e princípios) constitucionais12. O prejuízo é presumido e não precisa ser
demonstrado para invalidar o ato. Aqui, ao contrário da nulidade relativa,
não há preclusão, podendo o juiz reconhecê-la de oficio e em qualquer
momento do processo.

Visa garantir o interesse público, não somente o das partes.

Toda e qualquer nulidade encontrará fundamento no artigo 564 do Código de Processo


Penal e será tratada como preliminar de mérito.

12
A Súmula 523 do STF constitui exceção a esta regra: “No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade
absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.” Trata-se de exceção porque
mesmo que diga respeito ao princípio da ampla defesa (princípio constitucional), dependerá de efetiva prova do
prejuízo.
21

Deste modo, para encontrar o fundamento da nulidade basta ir ao artigo 564 do CPP e,
por critério de eliminação, fazer a subsunção a partir do inciso I em diante.

Se eventualmente não existir nos incisos I, II e III, previsão específica, fundamente a


nulidade no inciso IV, que é genérico.

Atenção:

▪ No caso do inciso IV, é preciso combinar com outro dispositivo legal, pois é
genérico. Por exemplo: Art. 564, IV c/c art. 185, §5º do CPP.

▪ Se possível, e se for o caso, combine também com um artigo da constituição (art.


5º, inciso LIII, LIV e LV).

II. TESES DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

As teses de extinção da punibilidade, assim como as teses de nulidade, são tratadas


como preliminares de mérito.

As causas de extinção da punibilidade estão previstas no artigo 107 do Código Penal, em


um rol exemplificativo13, in verbis:

▪ Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:

I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que
não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI
- pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; IX - pelo perdão judicial, nos
casos previstos em lei.

13
A composição civil dos danos (Art. 74 da Lei nº 9.099/95), por exemplo, é uma causa de extinção da
punibilidade que não encontra previsão no artigo 107 do Código Penal.
22

III. TESES DE MÉRITO

Identificar as teses de mérito é um dos maiores medos daqueles que vão realizar a
segunda fase do Exame de Ordem.

Fique tranquilo, é mais fácil do que você imagina. Com o decorrer do curso e conforme
você for assistindo as aulas e fazendo os simulados, identificar as teses de mérito se
torna algo mecânico.

Preste bastante atenção nisso: Quando falamos em teses de mérito, falamos


necessariamente sobre situações que vão excluir um dos elementos do crime.

Explicação completa sobre a o conceito de crime você encontra nas aulas do Módulo III
e na apostila respectiva. Por ora, explicarei o suficiente e necessário.

CONCEITO DE CRIME. Atualmente, doutrina e jurisprudência conceituam crime como


um fato típico, ilícito e culpável. Isto é, diz-se que o crime é composto por três
elementos: I. Tipicidade; II. Ilicitude; III. Culpabilidade.

▪ TIPICIDADE: Tipicidade é a adequação perfeita da conduta do agente ao tipo


penal incriminador. Assim, a conduta daquele que subtrai dolosamente para
si coisa alheia móvel é um fato típico, haja vista que se enquadra com
perfeição no tipo penal incriminador constante do artigo 155 do Código
Penal (furto).

Não quer dizer, necessariamente, que essa conduta será crime. Para isso, é
necessário que este fato também seja ilícito e culpável.

A tipicidade é composta, ainda, por quatro elementos: I. Conduta; II.


Resultado Naturalístico; III. Nexo causal; e IV. Tipicidade (propriamente
dita).

As teses principais acerca da tipicidade e seus elementos são: atipicidade;


crime impossível; erro de tipo; princípio da insignificância; princípio da
adequação social; coação física irresistível e concausas absolutamente
independentes.
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▪ ILICITUDE: Também chamada de antijuridicidade, a ilicitude pode ser


definida como a contrariedade entre o fato típico e o ordenamento jurídico.

O juízo de ilicitude é posterior ao juízo de tipicidade, de modo que todo fato


ilícito é necessariamente típico. Todavia, nem todo fato típico será ilícito. A
tipicidade é um indício da ilicitude.

Assim, se a conduta é típica mas é LÍCITA não haverá crime.

Como saberemos, então, se o fato é lícito? Simples, sempre que estiver


configurada uma causa de exclusão de ilicitude.

Deste modo, as principais teses sobre a ilicitude serão justamente as suas


excludentes: legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular de
um direito, estrito cumprimento do dever legar e consentimento do
ofendido.

▪ CULPABILIDADE: Enquanto elemento do crime, podemos definir a


culpabilidade como um juízo de reprovação que recai sobre a conduta do
agente.

Dizemos, portanto, que há reprovabilidade (culpabilidade, portanto) na


conduta do agente que, podendo agir segundo o direito, age de maneira
ilícita.

Assim, aquele que comete um fato típico (adequado no tipo penal


incriminador) e ilícito (contrário ao ordenamento jurídico) mas não podia
agir segundo o direito (por doença mental, por exemplo) não cometerá
crime, pois lhe falta a culpabilidade.

A culpabilidade, assim como a tipicidade, possui alguns elementos. Caso


esteja ausente um desses elementos, não haverá culpabilidade. Não
havendo culpabilidade, não há crime. São elementos da culpabilidade: I)
imputabilidade; II) potencial consciência da ilicitude; III) exigibilidade de
conduta diversa.

As teses acerca da culpabilidade serão, justamente, as suas excludente:


inimputabilidade (doença mental; menoridade e embriaguez completa e
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acidental); erro de proibição; coação moral irresistível e obediência


hierárquica a ordem não manifestamente ilegal.

IV. TESES SUBSIDIÁRIAS DE MÉRITO

As teses subsidiárias de mérito são utilizadas para o caso de eventual condenação e


dizem respeito à pena.

Por isso, essas teses não podem ser alegadas em sede de resposta à acusação. Após a
análise da resposta à acusação, no procedimento comum, o juiz irá absolver
sumariamente o réu ou designar a audiência de instrução e julgamento. Não há
possibilidade de condenação neste momento.

As teses subsidiárias podem ser sobre: I. Dosimetria, II. Regimes penitenciários; e III.
Benefícios (Código Penal, Art. 59, II, III e IV).

I. Dosimetria: Requerer: desconsideração de circunstâncias judiciais e


fixação da pena no mínimo legal (primeira fase); desconsideração de
agravantes e reconhecimento de atenuantes (segunda fase);
desconsideração de causas de aumento e reconhecimento de causas de
diminuição (terceira fase).

II. Regimes penitenciários: Aqui, você deverá fazer uma sugestão ao juiz
sobre regime penitenciário cabível (favorável ao seu cliente).

III. Benefícios: Substituição por penas restritivas de direitos ou suspensão


condicional da pena.

São essas, em apertada síntese, as principais teses cobradas na segunda fase do Exame
de Ordem.
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Não posso fazer aqui, agora, neste material e neste módulo, um estudo aprofundado
acerca de todas as teses, vez que:

I. Você foi aprovado(a) na primeira fase do exame, o que gera a presunção


relativa de que você é conhecedor(a) do básico de direito penal;

II. O propósito do curso é te ensinar a minutar, do zero, todas as peças prático-


profissionais;

III. Teses foram trabalhadas e estão no Módulo III (Direito Penal Essencial),
bastando você assistir às aulas quando tiver alguma dúvida específica sobre
uma das teses;

IV. Durante o estudo das peças em espécie nós veremos essas teses e a
maneira de alegá-las.
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1.1 MOMENTO PROCESSUAL E IDENTIFICAÇÃO DA PEÇA

A peça de resposta à acusação é, em regra, a primeira manifestação da defesa dentro


da ação penal. Nos procedimentos ordinário e sumário, por exemplo, assim que o juiz
receber a denúncia ele mandará citar o réu para responder à acusação.14

A palavra mágica, portanto, para identificar que a sua peça se trata de uma resposta à
acusação é: citação.

▪ CPP, Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o
juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para
responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

Desse modo, no caso prático, é preciso que a denúncia tenha sido oferecida, recebida e
o juiz tenha mandado citar o réu. Não poderá, portanto, já ter sido realizada a audiência
de instrução e julgamento.

Atenção: Nem sempre no enunciado constará a sequência completa desses atos. Neste
caso, é preciso somente identificar que a citação foi o último ato do processo.

1.2 FUNDAMENTO LEGAL

O fundamento legal da presente peça serão os artigos 396 e 396-A do Código de


Processo Penal:

▪ Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz,
se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para
responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

14
Atenção: no procedimento sumaríssimo (Juizado Especial Criminal) primeiro é apresentada a resposta à acusação
para depois o juiz receber a denúncia (Art. 81 da Lei nº 9.099/95). Mas, ainda assim, a resposta à acusação é precedida
pela citação.
30

▪ Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que interesse
à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e
arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.

Verbo da peça: No preâmbulo, utilize o verbo apresentar.

1.3 COMPETÊNCIA E ENDEREÇAMENTO

Se a ação penal estiver tramitando na justiça estadual, o endereçamento será:

▪ Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz da __ Vara Criminal da Comarca de ___.

Se, todavia, tramitar na justiça Federal, será:

▪ Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da __ Vara Criminal da Seção Judiciária


de ___.

1.4 TESES E PEDIDOS

▪ Teses de nulidade: Quando verificadas teses de nulidade, em relação a elas haverá


dois pedidos: I. Anulação do processo; e II. Rejeição da denúncia, subsidiariamente15.

▪ Teses de extinção da punibilidade: Em regra, quando estivermos frente à extinção


da punibilidade, o pedido será de declaração de extinção da punibilidade. Todavia,
quando estivermos diante da extinção da punibilidade em sede de resposta à
acusação, o pedido será de absolvição sumária (397, IV). Atenção: Não se usa o artigo
386 do CPP na resposta à acusação.

▪ Teses de mérito: O pedido será de absolvição sumária, também com base no artigo
397.

15
Segundo o STJ, é possível, sim, pedir a rejeição da denúncia na resposta à acusação (rejeição tardia),
ainda que o juiz já tenha a recebido.
31

Teses de desclassificação: Por não ser o momento adequado, na resposta à acusação


só poderá pedir a desclassificação quando esta gerar:

a. Nulidade: Ex.: Dano com violência a pessoa é crime de ação penal pública.
Assim, desclassificando o crime para a figura do caput, a ação penal torna-
se privada. E, portanto, haverá ilegitimidade de parte, haja vista que a parte
legítima para proceder a ação penal seria a vítima e não o Ministério Público.

b. Extinção da punibilidade: Ex.: O sujeito é denunciado por apropriação


indébita, mas com a desclassificação para crime contra a ordem tributária
há a extinção da punibilidade porque o sujeito pagou o tributo.

c. Cabimento de suspensão condicional do processo: Ex.: O sujeito é


denunciado por furto qualificado (pena 2 a 8 anos), mas, com a
desclassificação para o furto do caput (pena de 1 a 4 anos), torna cabível a
suspensão condicional do processo.

1.5 PRAZO PARA A APRESENTAÇÃO DA PEÇA

Saber o prazo processual é de suma importância porque, como se sabe, o caso prático
do Exame de Ordem exige, em regra, que você date a peça com o último dia do prazo.

Assim, conforme determina o já citado artigo 396 do Código de Processo Penal, o prazo
para apresentar a resposta à acusação será de 10 (dez) dias.

▪ Ao contrário do processo civil, no processo penal todos os prazos serão


contínuos, isto é, não correrão apenas em dia útil. O prazo não se
interrompe por férias, domingo ou feriados16.

▪ Contudo, se o prazo iniciar17 ou terminar18 em dia não útil (sábado,


domingo ou feriado), considera-se prorrogado até o dia útil seguinte
imediato.

16
CPP, Art. 798 Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por
férias, domingo ou dia feriado.
17
CPP, Art. 798 [...] §3º O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o dia útil
imediato.
18
Súmula 310 STF - Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita
nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que
começará no primeiro dia útil que se seguir.
32

▪ Conforme Súmula 710 do STF: No processo penal, contam-se os prazos da


data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta
precatória ou de ordem.

▪ Ainda, como se trata de prazo processual penal, não se computa o dia do


começo (citação), incluindo-se, porém, o dia do vencimento19. Deste modo,
se o réu for citado dia 1, o prazo começa a correr dia 2. Isso implica dizer que
o último dia do prazo será dia 11 (partindo do pressuposto que dia 11 é dia
útil).

1.6 TESTEMUNHAS

É preciso, ao final, arrolar as testemunhas mencionadas no caso.

Quando for procedimento ordinário, permite-se no máximo 8 (oito) testemunhas20. No


procedimento sumário esse número é reduzido para 5 (cinco)21. Todavia, dificilmente o
caso da sua peça prático-profissional mencionará mais de duas testemunhas que
presenciaram o caso.

1.7 DEFESA PRELIMINAR (CRIMES FUNCIONAIS)

19
CPP, Art. 798 [...], §1º Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o dia do vencimento.
20
CPP, Art. 401. Na instrução poderão ser inquiridas até 8 (oito) testemunhas arroladas pela acusação e 8 (oito) pela
defesa;
21
CPP, Art. 532. Na instrução, poderão ser inquiridas até 5 (cinco) testemunhas arroladas pela acusação e 5 (cinco)
pela defesa.
33

Os crimes funcionais (crimes praticados por funcionários públicos)22 não serão julgados
pelo procedimento comum, mas sim pelo procedimento especial23, previsto a partir do
artigo 513 do Código de Processo Penal.

Nesse procedimento, a primeira manifestação da defesa será por meio de uma peça
chamada DEFESA PRELIMINAR, que, em linhas gerais, possui a mesma estrutura de uma
resposta à acusação.

A grande diferença é que esta peça é juntada no processo antes do recebimento da


denúncia. Assim, oferecida a denúncia, o juiz notificará24 o denunciado para apresentar,
em 15 (quinze) dias, defesa preliminar. Somente após de apresentada a defesa
preliminar é que o juiz receberá a denúncia e mandará citar o réu.

O fundamento legal da peça será o artigo 514 do Código de Processo Penal.

▪ Teses e pedidos: Serão exatamente as mesmas teses da resposta à


acusação. A diferença é que o pedido principal não será de absolvição
sumária, mas sim de rejeição da denúncia, vez que o processo ainda não
iniciou.

Em tese, quando alegada a tese de mérito, seria necessário apenas pedir a


rejeição da denúncia. Todavia, como existe uma divergência
doutrinária/jurisprudencial acerca da necessidade de posterior
oferecimento de resposta à acusação, recomenda-se que no seu exame –
para evitar maiores problemas – você faça o pedido, com os devidos
fundamentos legais, nos seguintes moldes: “Por ser atípico o fato, requer a
rejeição da denúncia ou absolvição sumária.”

Por fim, preste atenção no conteúdo da Súmula 330 do STJ, que é mais provável que
seja cobrado em questões:

▪ Súmula 330 do STJ - É dispensável a defesa preliminar quando a denúncia ou


queixa forem precedidas de inquérito.

22
Artigo 312 ao 326 do Código Penal.
23
Salvo se for infração penal de menor potencial ofensivo. Como o procedimento sumaríssimo tem
previsão constitucional, ele prevalecerá.
24
Observa-se, portanto, que aqui a palavra mágica é notificação.
34

1.8 DEFESA PRÉVIA (LEI DE DROGAS)

Os crimes previstos na Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006) serão julgados por um


procedimento especial nela previsto (Artigo 48 e seguintes)25.

Neste procedimento, a primeira manifestação da defesa será por meio de uma peça
chamada DEFESA PRÉVIA, que, em linhas gerais, assim como a defesa preliminar, possui
a mesma estrutura de uma resposta à acusação.

Pode-se dizer, grosso modo, que a defesa prévia é a resposta à acusação da Lei de
Drogas.

A grande diferença é que esta peça é juntada no processo antes do recebimento da


denúncia. Assim, oferecida a denúncia, o juiz notificará26 o denunciado para apresentar,
em 10 (dez) dias, defesa prévia. Somente após de apresentada a defesa prévia é que o
juiz receberá a denúncia e mandará citar o réu.

O fundamento legal da peça será o artigo 55, I, da Lei nº 11.343/2006.

▪ Teses e pedidos: Serão exatamente as mesmas teses da resposta à


acusação. A diferença é que o pedido principal não será de absolvição
sumária, mas sim de rejeição da denúncia, vez que o processo ainda não
iniciou.

1.9 RESOLUÇÃO DE PEÇA

(VIII Exame de Ordem) Visando abrir um restaurante, José pede vinte mil reais
emprestados a Caio, assinando, como garantia, uma nota promissória no aludido valor,
com vencimento para o dia 15 de maio de 2010. Na data mencionada, não tendo havido
pagamento, Caio telefona para José e, educadamente, cobra a dívida, obtendo do
devedor a promessa de que o valor seria pago em uma semana.
25
Salvo em relação ao crime previsto no artigo 28 na referida lei (porte de drogas para uso pessoal). Neste
caso, conforme prevê o artigo 48, §1º da Lei de Drogas, a referida infração penal será julgada pelo
procedimento sumaríssimo, previsto na Lei nº 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais). A não ser que o crime
do artigo 28 seja praticado em concurso com outro crime da Lei de Drogas.
26
Observa-se, portanto, que aqui a palavra mágica é notificação.
35

Findo o prazo, Caio novamente contata José, que, desta vez, afirma estar sem dinheiro,
pois o restaurante não apresentara o lucro esperado. Indignado, Caio comparece no dia
24 de maio de 2010 ao restaurante e, mostrando para José uma pistola que trazia
consigo, afirma que a dívida deveria ser saldada imediatamente, pois, do contrário, José
pagaria com a própria vida. Aterrorizado, José entra no restaurante e telefona para a
polícia, que, entretanto, não encontra Caio quando chega ao local.

Os fatos acima referidos foram levados ao conhecimento do delegado de polícia da


localidade, que instaurou inquérito policial para apurar as circunstâncias do ocorrido.
Ao final da investigação, tendo Caio confirmado a ocorrência dos eventos em sua
integralidade, o Ministério Público o denuncia pela prática do crime de extorsão
qualificada pelo emprego de arma de fogo. Recebida a inicial pelo juízo da 5ª Vara
Criminal, o réu é citado no dia 18 de janeiro de 2011.

Procurado apenas por Caio para representá-lo na ação penal instaurada, sabendo-se
que Joaquim e Manoel presenciaram os telefonemas de Caio cobrando a dívida vencida,
e com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo
caso concreto acima, redija, no último dia do prazo, a peça cabível, todos os argumentos
em favor de seu constituinte. (Valor: 5,0)

*A peça resolvida está na próxima página e ela é explicada ao final da respectiva aula*
36
37
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39

2.1 MOMENTO PROCESSUAL E IDENTIFICAÇÃO DA PEÇA

Os memorais é, em regra, a segunda manifestação por escrito da defesa dentro da ação


penal. O seu momento processual é após a audiência de instrução e antes da sentença.

A frase típica utilizada no exame para comunicar que se trata de memoriais é:


“Encerrada a instrução, a parte foi intimada para apresentar manifestação.”

Atenção: Ao contrário da resposta à acusação, que é peça exclusiva da defesa, a peça


de memoriais pode ser oferecida também pelo assistente da acusação. Neste caso,
como você será a acusação, por óbvio a lógica das suas teses será justamente o
contrário. Seu objetivo será a condenação do réu.

2.2 FUNDAMENTO LEGAL

O fundamento legal das alegações finais na forma de memorias está previsto, a


depender da situação, nos artigos 403, §3º e 404, parágrafo único, do Código de
Processo Penal:

▪ Art. 403, §3º: O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados,
conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de
memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença.

▪ Art. 404. Ordenado diligência considerada imprescindível, de ofício ou a requerimento da


parte, a audiência será concluída sem as alegações finais.

Parágrafo único. Realizada, em seguida, a diligência determinada, as partes apresentarão,


no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por memorial, e, no prazo de 10
(dez) dias, o juiz proferirá a sentença.
40

Até hoje, a OAB nunca se utilizou da situação prevista no artigo 404. Portanto, quando
pensar no fundamento dos memoriais, pense no artigo 403, §3º. Só estaremos diante
da hipótese prevista no artigo 404, parágrafo único, quando, ao final da audiência de
instrução, o juiz determinar diligências complementares.

Verbo da peça: No preâmbulo, utilize o verbo apresentar.

2.3 COMPETÊNCIA E ENDEREÇAMENTO

Se a ação penal estiver tramitando na justiça estadual, o endereçamento será:

▪ Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz da __ Vara Criminal da Comarca de ___.

Se, todavia, tramitar na justiça Federal, será:

▪ Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da __ Vara Criminal da Seção Judiciária


de ___.

2.4 TESES E PEDIDOS

TESES

Ao contrário do que ocorre na resposta à acusação, onde não se pode alegar teses
subsidiárias de mérito e desclassificação, em memoriais toda e qualquer tese pode ser
trabalhada.

Inclusive, como já ocorreu a instrução probatória, pode ser alegado, também, a


ausência/insuficiência de provas.

▪ Existe alguma ordem para se alegar as teses? Bem, não existe


necessariamente uma ordem obrigatória, preestabelecida, cuja observância
é pontuada na correção. O que a gente sabe é que existe uma ordem lógica
que é utilizada na prática.
41

Deste modo, como a correção é feita mediante espelhamento, visando


evitar que o corretor da sua prova deixe de observar alguma tese que você
alegou, recomenda-se seguir a seguinte ordem:

1. Nulidades;
2. Extinção da Punibilidade;
3. Teses de Mérito;
4. Teses subsidiárias.

PEDIDOS

Conforme já estudamos, para toda tese existirá um pedido correspondente, com o


devido fundamento legal.

▪ Nulidades: Anulação do processo, do início ou a partir de um ato.


▪ Extinção da Punibilidade: Declaração de extinção da punibilidade.27
▪ Teses de mérito: Absolvição do réu.28
▪ Teses subsidiárias: “Em caso de condenação, requer [...]”

2.5 PRAZO PARA A APRESENTAÇÃO A PEÇA

Conforme determina o artigo 403, §3º, do Código de Processo Penal, o prazo para
apresentar as alegações finais na forma de memoriais será de 5 (cinco) dias.

E para que fixada na sua na sua cabeça, é preciso sempre lembrar que:

27
Na resposta à acusação, quando se configura uma hipótese de extinção da punibilidade o pedido será
de absolvição sumária por conta do artigo 397, IV. Mas isso só ocorre na resposta à acusação. No restante
das peças, o pedido será de declaração de extinção da punibilidade.
28
Agora será com base no artigo 386 do CPP e não no artigo 397 que fundamenta a absolvição sumária
da resposta à acusação. Sumária é somente a absolvição que ocorre logo depois de apresentada a
resposta à acusação.
42

▪ Ao contrário do processo civil, no processo penal todos os prazos serão


contínuos, isto é, não correrão apenas em dia útil. O prazo não se
interrompe por férias, domingo ou feriados29.

▪ Contudo, se o prazo iniciar30 ou terminar31 em dia não útil (sábado,


domingo ou feriado), considera-se prorrogado até o dia útil seguinte
imediato.

▪ Conforme Súmula 710 do STF: No processo penal, contam-se os prazos da


data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta
precatória ou de ordem.

▪ Ainda, como se trata de prazo processual penal, não se computa o dia do


começo (intimação), incluindo-se, porém, o dia do vencimento32. Deste
modo, se o réu for intimado dia 1, o prazo começa a correr dia 2. Isso implica
dizer que o último dia do prazo será dia 8.

29
CPP, Art. 798 Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por
férias, domingo ou dia feriado.
30
CPP, Art. 798 [...] §3º O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o dia útil
imediato.
31
Súmula 310 STF - Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita
nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que
começará no primeiro dia útil que se seguir.
32
CPP, Art. 798 [...], §1º Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o dia do vencimento.
43

2.6 RESOLUÇÃO DE PEÇA

(XVII Exame de Ordem) Daniel, nascido em 02 de abril de 1990, é filho de Rita, empregada
doméstica que trabalha na residência da família Souza. Ao tomar conhecimento, por meio de
sua mãe, que os donos da residência estariam viajando para comemorar a virada de ano, vai até
o local, no dia 02 de janeiro de 2010, e subtrai o veículo automotor dos patrões de sua genitora,
pois queria fazer um passeio com sua namorada.

Desde o início, contudo, pretende apenas utilizar o carro para fazer um passeio pelo quarteirão
e, depois, após encher o tanque de gasolina novamente, devolvê-lo no mesmo local de onde o
subtraiu, evitando ser descoberto pelos proprietários. Ocorre que, quando foi concluir seu
plano, já na entrada da garagem para devolver o automóvel no mesmo lugar em que o havia
subtraído, foi surpreendido por policiais militares, que, sem ingressar na residência,
perguntaram sobre a propriedade do bem.

Ao analisarem as câmeras de segurança da residência, fornecidas pelo próprio Daniel,


perceberam os agentes da lei que ele havia retirado o carro sem autorização do verdadeiro
proprietário. Foi, então, Daniel denunciado pela prática do crime de furto simples, destacando
o Ministério Público que deixava de oferecer proposta de suspensão condicional do processo
por não estarem preenchidos os requisitos do Art. 89 da Lei nº 9.099/95, tendo em vista que
Daniel responde a outra ação penal pela prática do crime de porte de arma de fogo.

Em 18 de março de 2010, a denúncia foi recebida pelo juízo competente, qual seja, da 1ª Vara
Criminal da Comarca de Florianópolis. Os fatos acima descritos são integralmente confirmados
durante a instrução, sendo certo que Daniel respondeu ao processo em liberdade. Foram
ouvidos os policiais militares como testemunhas de acusação, e o acusado foi interrogado,
confessando que, de fato, utilizou o veículo sem autorização, mas que sua intenção era devolvê-
lo, tanto que foi preso quando ingressava na garagem dos proprietários do automóvel.

Após, foi juntada a Folha de Antecedentes Criminais de Daniel, que ostentava apenas aquele
processo pelo porte de arma de fogo, que não tivera proferida sentença até o momento, o laudo
de avaliação indireta do automóvel e o vídeo da câmera de segurança da residência. O Ministério
Público, em sua manifestação derradeira, requereu a condenação nos termos da denúncia. A
defesa de Daniel é intimada em 17 de julho de 2015, sexta feira. Com base nas informações
acima expostas e naquelas que podem ser inferidas do caso concreto, redija a peça cabível,
excluída a possibilidade de habeas corpus, no último dia do prazo para interposição,
sustentando todas as teses jurídicas pertinentes. (Valor: 5,00)

*A peça resolvida está na próxima página e ela é explicada ao final da respectiva aula*
44
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3.1 MOMENTO PROCESSUAL E IDENTIFICAÇÃO DA PEÇA33

Como veremos nos próximos tópicos, o recurso de apelação é o recurso interposto da


sentença definitiva, ou com força de definitiva, com a finalidade de modificar, total ou
parcialmente, a decisão do juízo a quo.

A palavra mágica, portanto, para identificar que se trata de um recurso de apelação é:


sentença.

O recurso de apelação será, justamente, o ato subsequente da sentença.

O problema dirá para você, por exemplo, que: finda a instrução – e/ou apresentados os
memoriais da acusação e da defesa – o juiz julgou procedente/improcedente os pedidos.
Pode dizer ao final do problema, também, que o réu deseja recorrer da decisão. Ou
ainda, que o advogado foi intimado da sentença.

Tudo isso são evidencias de que a sua peça se trata de um recurso de apelação. Isso não
quer dizer que o problema dirá exatamente o que foi dito acima, por isso é
extremamente importante que você entenda os procedimentos.34

3.2. ESTRUTURA DA APELAÇÃO

A apelação, via de regra, possui duas petições: I. Interposição (CPP, Art. 593) e II. Razões
(Art. 600).

33
Não veremos, aqui, a apelação do tribunal do júri. Haverá uma aula específica para as peças desse
procedimento.
34
No Módulo III – Direito Penal Essencial, existe uma aula específica sobre procedimentos. A apostila do
respectivo módulo também conta com um capítulo sobre a matéria.
49

▪ Como é na prática:

Intimado o réu/advogado sobre a sentença, será interposta a apelação (peça de


interposição) no prazo de 5 dias, que é uma petição onde a parte declara que quer
recorrer.

A mesma parte que interpôs a apelação, terá em sequência o prazo de 8 dias para
a presentar as razões do recurso de apelação, que é a peça com os fatos,
fundamentos e pedidos do recurso, onde serão expostos os seus argumentos para
a reforma da sentença.

Depois de juntada as razões de apelação, a parte contrária será intimada para


apresentar as suas contrarrazões. Por fim, os autos serão remetidos à instância
superior para o julgamento do recurso.

▪ Como é cobrado no Exame de Ordem:

A OAB cobra, no mesmo exame, tanto a peça de interposição quanto as razões do


recurso. Na prática, inclusive, é normal – e nada impede – que a interposição seja
juntada nos autos já com as razões.

Deste modo, na primeira folha de respostas você minutará a peça de interposição


e nas demais páginas minutará as razões do recurso.

Mas então qual prazo devo adotar, 5 dias ou 8 dias? Nesta situação acima
mencionada você deverá adotar, para ambas as peças, o prazo da interposição (5
dias) uma vez que as petições estão sendo apresentadas juntas.

▪ Como a OAB pode eventualmente cobrar:

Embora a OAB venha cobrando tanto a interposição quando as razões, nada


impede que, por exemplo, o caso prático diga que você já interpôs a apelação
(peça de interposição).
50

Neste caso, resta tão somente as razões do recurso para ser minutada. Assim, nas
suas folhas de respostas, na primeira página será minutada uma petição de
juntada (com fundamento no artigo 600 do CPP) e nas demais páginas você
minutará as razões do recurso.

▪ Atenção:

A regra/tendência é que a OAB traga um problema onde você é advogado do réu


e este foi condenado. Todavia, é possível/provável que seja cobrada, também, as
seguintes situações:

1. Que você seja o advogado do querelante em ação penal privada. Ou que você
seja assistente da acusação.

2. Que você seja advogado do réu e que o Ministério Público tenha recorrido da
decisão porque o os pedidos da defesa foram procedentes. Neste caso, a sua
peça será contrarrazões35. Peça com a mesma estrutura das razões de
apelação, onde você irá requerer o não conhecimento e o improvimento do
recurso do MP, apenas reforçando as teses trabalhadas em memoriais.

Aqui, todavia, não terá petição de interposição. No seu lugar haverá a petição
de juntada.

3.3 FUNDAMENTO LEGAL

O fundamento legal do seu recurso de apelação será o artigo 593, I, do Código de


Processo Penal, in verbis:

▪ Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:

I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz


singular;

35
Fique tranquilo, ao final deste capítulo, vamos resolver um recurso de apelação e uma contrarrazões.
51

Isso quer dizer que sempre o fundamento do recurso de apelação será o inciso I do artigo
593? Não. Existem duas exceções.

▪ Art. 593, II: Embora seja pequena a chance de ser cobrada desta forma, é preciso
que você saiba que o recurso de apelação ainda poderá ser interposto de
decisões definitivas, ou com força de definitivas.

São essas decisões: Impronúncia; decisão do juiz que decreta o sequestro de


bens; decisão do juiz que indefere o pedido de levantamento do sequestro;
decisão do juiz sobre a restituição de coisa apreendida (se for do delegado será
mandado de segurança); decisão do juiz que julga pedido de explicações nos
crimes contra a honra; (é possível que caia como peça – e já caiu uma vez – mas
é mais provável que caia como questão).

▪ Art. 593, III: Será o fundamento do recurso de apelação no procedimento


especial do tribunal do júri. Mais a frente estudaremos, em capítulo específico,
as peças do desse procedimento.

Verbo da peça: Interpor.

3.4 COMPETÊNCIA E ENDEREÇAMENTO

PEÇA DE INTERPOSIÇÃO

Se a ação penal estiver tramitando na justiça estadual, o endereçamento será:

▪ Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz da __ Vara Criminal da Comarca de ___.

Se, todavia, tramitar na justiça Federal, será:

▪ Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da __ Vara Criminal da Seção Judiciária


de ___.
52

RAZÕES DO RECURSO

Se a ação penal estiver tramitando na justiça estadual, o endereçamento será:

▪ Egrégio Tribunal de Justiça do Estado...

Se, todavia, tramitar na justiça Federal, será:

▪ Egrégio Tribunal Regional Federal da ... Região.

3.5 TESES E PEDIDOS

Aqui, é preciso saber quem é seu cliente e se você é o recorrente ou se você é o


recorrido.

Advogado do réu:

• Recorrente: Se você é o recorrente é porque o seu cliente foi condenado (ou foi
absolvido, mas outros pedidos foram indeferidos pelo juiz). Aqui, você se
utilizará dos mesmos argumentos utilizados nos memoriais, com a diferença que
agora você tentará convencer os ministros/desembargadores do tribunal a
reformar a sentença do juiz singular.

• Recorrido: Se você é o recorrido é porque os seus pedidos em memoriais foram


procedentes e o Ministério Público recorreu. Aqui, você, enquanto defesa, irá
requerer o improvimento do recurso36, o indeferimento dos pedidos do MP,
com a manutenção das teses e pedidos da defesa que foram acolhidos pelo juiz
singular.

A peça aqui, todavia, não será o recurso de apelação. Será, na verdade,


contrarrazões.

36
A primeira coisa que você deve analisar, neste caso, é o prazo em que o recurso do MP foi interposto,
para alegar a intempestividade, com o posterior não reconhecimento do recurso pelo tribunal e
consequente improvimento.
53

Assistente da acusação/ querelante:

• Recorrente: Se você é o recorrente é porque o réu foi absolvido. Neste caso, você
se utilizará dos mesmos argumentos utilizados nos memoriais, com a diferença
que agora você tentará convencer os ministros/desembargadores do tribunal a
reformar a sentença do juiz singular, no sentido de condenar o réu.

• Recorrido: Se você é o recorrido é porque os seus pedidos foram procedentes e


o advogado do réu recorreu. Aqui, você, enquanto advogado assistente da
acusação/ do querelante, irá requerer o improvimento do recurso37, o
indeferimento dos pedidos da defesa, com a manutenção das suas teses e
pedidos que foram acolhidos pelo juiz singular.

3.6 PRAZO PARA A APRESENTAÇÃO DA PEÇA

O prazo para a interposição do recurso é de 5 (cinco) dias, conforme determina o artigo


593 do CPP. O prazo para oferecer as razões, todavia, será de 8 (oito) como estabelece
o artigo 600 do CPP.

Contudo, duas situações podem ocorrer:

1. Situação provável: É a situação onde o caso exige que você minute tanto a
peça de interposição, quanto as razões de apelação. Essa é maneira que a
OAB vem cobrando o recurso de apelação nos últimos anos.

Neste caso, como a interposição e as razões serão apresentadas no mesmo


ato, você deverá considerar o prazo de 5 (cinco) da interposição, previsto no
artigo 593 do Código de Processo Penal.

2. Situação improvável: Improvável, porém possível, é a situação onde o


problema diz que você já interpôs a apelação. Neste caso, portanto, como
você minutará apenas as razões do recurso (com uma petição de juntada),

37
A primeira coisa que você deve analisar, neste caso, é o prazo em que o recurso da defesa foi interposto,
para alegar a intempestividade, com o posterior não reconhecimento do recurso pelo tribunal e
consequente improvimento.
54

considerar-se-á o prazo de 8 (oito) dias, previsto no artigo 600 do Código de


Processo Penal.

Atenção:

▪ No JECRIM, todavia, o prazo será de 10 (dez) dias, conforme determina o


artigo 82, §1º, da Lei nº 9.099/95.38

▪ Da sentença são intimados o próprio réu e o advogado. Geralmente, essas


intimações ocorrem em prazos diferentes. Quando isso acontece, inicia-se a
contagem do prazo a partir da última intimação.

Atenção redobrada: Se você for advogado assistente da acusação, é preciso observar se


você já estava habilitada nos autos, ou se você ainda vai se habilitar.

• Habilitado: Se você já estiver habilitado nos autos, o prazo de interposição


do recurso será, também, de 5 (cinco) dias. Todavia, conforme determina a
Súmula 448 do STF: “O prazo para o assistente recorrer, supletivamente,
começa a correr imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério
Público.”

• Não habilitado: Se você ainda não está habilitado nos autos, você necessita
de um prazo mais dilatados. Por isso a lei, nesse caso, determina um prazo
de 15 (quinze) dias, a contar do dia que terminar o prazo do Ministério
Público, conforme determina o artigo 598, parágrafo único, do Código de
Processo Penal.

Orientações gerais sobre prazo:

38
Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser
julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede
do Juizado. § 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença pelo
Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido
do recorrente.
55

▪ Ao contrário do processo civil, no processo penal todos os prazos serão


contínuos, isto é, não correrão apenas em dia útil. O prazo não se
interrompe por férias, domingo ou feriados39.

▪ Contudo, se o prazo iniciar40 ou terminar41 em dia não útil (sábado,


domingo ou feriado), considera-se prorrogado até o dia útil seguinte
imediato.

▪ Conforme Súmula 710 do STF: No processo penal, contam-se os prazos da


data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta
precatória ou de ordem.

▪ Ainda, como se trata de prazo processual penal, não se computa o dia do


começo (intimação), incluindo-se, porém, o dia do vencimento42. Deste
modo, considerando o prazo de 5 (cinco) dias, se o réu for intimado dia 1, o
prazo começa a correr dia 2. Isso implica dizer que o último dia do prazo será
dia 8.

39
CPP, Art. 798 Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por
férias, domingo ou dia feriado.
40
CPP, Art. 798 [...] §3º O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o dia útil
imediato.
41
Súmula 310 STF - Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita
nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que
começará no primeiro dia útil que se seguir.
42
CPP, Art. 798 [...], §1º Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o dia do vencimento.
56

3.7 RESOLUÇÃO DE PEÇA

(XII Exame de Ordem) Rita, senhora de 60 anos, foi presa em flagrante no dia 10/11/2011
(quinta-feira), ao sair da filial de uma grande rede de farmácias, após ter furtado cinco tintas de
cabelo. Para subtrair os itens, Rita arrebentou a fechadura do armário onde estavam os referidos
produtos, conforme imagens gravadas pelas câmeras de segurança do estabelecimento. O valor
total dos itens furtados perfazia a quantia de R$49,95 (quarenta e nove reais e noventa e cinco
centavos).

Instaurado inquérito policial, as investigações seguiram normalmente. O Ministério Público,


então, por entender haver indícios suficientes de autoria, provas da materialidade e justa causa,
resolveu denunciar Rita pela prática da conduta descrita no Art. 155, § 4º, inciso I, do CP (furto
qualificado pelo rompimento de obstáculo). A denúncia foi regularmente recebida pelo juízo da
41ª Vara Criminal da Comarca da Capital do Estado ‘X’ e a ré foi citada para responder à
acusação, o que foi devidamente feito. O processo teve seu curso regular e, durante todo o
tempo, a ré ficou em liberdade.

Na audiência de instrução e julgamento, realizada no dia 18/10/2012 (quinta-feira), o Ministério


Público apresentou certidão cartorária apta a atestar que no dia 15/05/2012 (terça-feira)
ocorrera o trânsito em julgado definitivo de sentença que condenava Rita pela prática do delito
de estelionato. A ré, em seu interrogatório, exerceu o direito ao silêncio. As alegações finais
foram orais; acusação e defesa manifestaram-se.

Finda a instrução criminal, o magistrado proferiu sentença em audiência. Na dosimetria da pena,


o magistrado entendeu por bem elevar a pena base em patamar acima do mínimo, ao
argumento de que o trânsito em julgado de outra sentença condenatória configurava maus
antecedentes; na segunda fase da dosimetria da pena o magistrado também entendeu ser
cabível a incidência da agravante da reincidência, levando em conta a data do trânsito em
julgado definitivo da sentença de estelionato, bem como a data do cometimento do furto (ora
objeto de julgamento); não verificando a incidência de nenhuma causa de aumento ou de
diminuição, o magistrado fixou a pena definitiva em 4 (quatro) anos de reclusão no regime inicial
semiaberto e 80 (oitenta) dias-multa. O valor do dia-multa foi fixado no patamar mínimo legal.
Por entender que a ré não atendia aos requisitos legais, o magistrado não substituiu a pena
privativa de liberdade por pena restritiva de direitos. Ao final, assegurou-se à ré o direito de
recorrer em liberdade. O advogado da ré deseja recorrer da decisão.

Atento ao caso narrado e levando em conta tão somente as informações contidas no texto,
elabore o recurso cabível. (Valor: 5,0)
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60
61

3.8 RESOLUÇÃO DE PEÇA

João, 22 anos, no dia 04 de maio de 2018, caminhava com o adolescente Marcelo, cada
um deles trazendo consigo uma mochila nas costas. Realizada uma abordagem por
policiais, foi constatado que, no interior da mochila de cada um, havia uma certa
quantidade de drogas, razão pela qual elas foram, de imediato, encaminhadas para a
Delegacia. Realizado laudo de exame de material entorpecente, constatou-se que João
trazia 25 g de cocaína, acondicionados em 35 pinos plásticos, enquanto, na mochila do
adolescente, foram encontrados 30 g de cocaína, quantidade essa distribuída em 50
pinos.

Após a oitiva das testemunhas em sede policial, da juntada do laudo e da oitiva do


adolescente e de João, que permaneceram em silêncio com relação aos fatos, foram
lavrados o auto de prisão em flagrante em desfavor do imputável e o auto de apreensão
em desfavor do adolescente. Toda a documentação foi encaminhada aos Promotores
de Justiça com atribuição. O Promotor de Justiça, junto à 1ª Vara Criminal de Maceió/AL,
órgão competente, ofereceu denúncia em face de João, imputando-lhe a prática dos
crimes previstos nos artigos 33 e 35, ambos com a causa de aumento do Art. 40, inciso
VI, todos da Lei nº 11.343/06. Foi concedida a liberdade provisória ao denunciado,
aplicando-se as medidas cautelares alternativas. Após a notificação, a apresentação de
resposta prévia e o recebimento da denúncia e da citação, foi designada a audiência de
instrução e julgamento, ocasião em que foram ouvidas as testemunhas de acusação.
Estas confirmaram a apreensão de drogas em poder de Marcelo e João, bem como que
eles estariam juntos, esclarecendo que não se conheciam anteriormente e nem tinham
informações pretéritas sobre o adolescente e o denunciado. O adolescente, ouvido,
disse que conhecera João no dia anterior ao de sua apreensão e que nunca o tinha visto
antes vendendo drogas.

Em seguida à oitiva das testemunhas de acusação e defesa, foi realizado o interrogatório


do acusado, sendo que nenhuma das partes questionou o momento em que este foi
realizado. Na ocasião, João confirmou que o material que ele e Marcelo traziam seria
destinado à ilícita comercialização. Ele ainda esclareceu que conhecera o adolescente
no dia anterior, que era a primeira vez que venderia drogas e que tinha a intenção de
praticar o ato junto com o adolescente somente aquela vez, com o objetivo de conseguir
dinheiro para comprar uma moto. Foi acostado o laudo de exame definitivo de material
entorpecente confirmando o laudo preliminar e a Folha de Antecedentes Criminais de
João, onde constava uma anotação referente a crime de furto, ainda pendente de
julgamento.

O juiz, após a devida manifestação das partes, proferiu sentença julgando parcialmente
procedente a pretensão punitiva estatal. Em um primeiro momento, absolveu o acusado
do crime de associação para o tráfico por insuficiência probatória. Em seguida,
condenou o réu pela prática do crime de tráfico de drogas, ressaltando que o réu
confirmou a destinação das drogas à ilícita comercialização. No momento de aplicar a
62

pena, fixou a pena-base no mínimo legal, reconhecendo a existência da atenuante da


confissão espontânea; aumentou a pena em razão da causa de aumento do Art. 40,
inciso VI, da Lei nº 11.343/06 e aplicou a causa de diminuição de pena do Art. 33, § 4º,
da Lei nº 11.343/06, restando a pena final em 1 ano, 11 meses e 10 dias de reclusão e
195 dias multa, a ser cumprida em regime inicial aberto. Entendeu o magistrado pela
substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos. O Ministério
Público, ao ser intimado pessoalmente em 22 de outubro de 2018, apresentou o recurso
cabível, em 25 de outubro de 2018, acompanhado das respectivas razões recursais,
requerendo:
a) nulidade da instrução, porque o interrogatório não foi o primeiro ato, como prevê a
Lei nº 11.343/06;
b) condenação do réu pelo crime de associação para o tráfico, já que ele estaria agindo
em comunhão de ações e desígnios com o adolescente no momento da prisão, e o Art.
35 da Lei nº 11.343/06 fala em “reiteradamente ou não”;
c) aumento da pena-base em relação ao crime de tráfico diante das consequências
graves que vem causando para a saúde pública e a sociedade brasileira;
d) afastamento da atenuante da confissão, já que ela teria sido parcial;
e) afastamento da causa de diminuição do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06,
independentemente da condenação pelo crime do Art. 35 da Lei nº 11.343/06,
considerando que o réu seria portador de maus antecedentes, já que responde a ação
penal em que se imputa a prática do crime de furto;
f) aplicação do regime inicial fechado, diante da natureza hedionda do delito de tráfico;
g) afastamento da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos,
diante da vedação legal do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06. Já o acusado e a defesa
técnica, intimados do teor da sentença, mantiveram-se inertes, não demonstrando
interesse em questioná-la.

O magistrado, então, recebeu o recurso do Ministério Público e intimou, no dia 05 de


novembro de 2018 (segunda-feira), sendo terça-feira dia útil em todo o país, você,
advogado(a) de João, a apresentar a medida cabível. Com base nas informações
expostas na situação hipotética e naquelas que podem ser inferidas do caso concreto,
redija a peça cabível, excluídas as possibilidades de habeas corpus e embargos de
declaração, no último dia do prazo, sustentando todas as teses jurídicas pertinentes.
(Valor: 5,00)
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69

4.1 MOMENTO PROCESSUAL E IDENTIFICAÇÃO DA PEÇA43

De modo contrário ao que ocorre no processo civil, no processo penal vigora a


irrecorribilidade das decisões interlocutórias. Da decisão que recebe a denúncia, por
exemplo, não é cabível recurso.

Todavia, para algumas decisões interlocutórias no processo penal será cabível o


chamado Recurso em Sentido Estrito (RESE). Tratam-se de hipóteses expressamente
previstas em lei, que estão dispostas no artigo 581 do Código de Processo Penal.

▪ Todavia, antes de estudarmos as hipóteses de admissibilidade do RESE é


preciso que você saiba diferenciá-las das hipóteses de cabimento de Recurso
de Apelação.

Muitos alunos confundem o cabimento das duas peças porque em algumas


situações uma decisão poderá dispor, ao mesmo tempo, sobre algumas das
hipóteses previstas no artigo 593 (Recurso de Apelação) e hipóteses
previstas no artigo 581 (RESE).

Imagine, por exemplo, uma decisão que ao mesmo tempo, absolve o réu em
relação a um crime e julga extinta a punibilidade em relação a outro crime.
Sabemos que da sentença que absolve ou condena o réu cabe apelação, nos
termos do artigo 593, I. Por outro lado, sabemos também que da decisão
que julga extinta a punibilidade caberá RESE, como determina o inciso VIII
do artigo 581 do CPP.

Neste caso, como proceder? Cabe apelação? Cabe RESE? Ou cabe os dois?

Para solucionar esse problema é muito simples:

➢ Se estivermos diante de sentença absolutória ou condenatória (Art. 593,


I), ainda que parte dela diga respeito a hipótese de RESE, o recurso cabível
sempre será o recurso de apelação. É o caso do exemplo supracitado.

43
Não veremos, aqui, a apelação do tribunal do júri. Haverá uma aula específica para as peças desse
procedimento.
70

➢ Se, contudo, estivermos frente à decisão definitiva ou com força de


definitiva (Art. 593, II) e parte dela trata de matéria de RESE, o recurso
cabível será o RESE.
o

Agora, já podemos estudar as hipóteses de cabimento do RESE, que estão previstas no


artigo 581 do Código de Processo Penal.

Atenção: Por força de alterações legislativas, alguns incisos foram tacitamente


revogados. É caso, por exemplo, das decisões que hoje em dia são atacadas mediante
agravo em execução. Por isso, é importante que você risque, de maneira sutil, esses
incisos no seu código: XI44, XII, XVII, XIX, XX, XXI, XXII, XXIII e XXIV.

▪ Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou


sentença:

I – que não receber a denúncia ou queixa;

Atenção: No procedimento sumaríssimo, da decisão que rejeitar a


denúncia/queixa caberá apelação, conforme previsto no artigo 82 da Lei nº
9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais).

II – que conclui pela incompetência do juízo;

Se a incompetência for reconhecida de ofício, o fundamento será o inciso II.


Se mediante provocação, inciso III.

III – que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;

IV – que pronunciar o réu;

V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança,


indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder
liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante;

44
A decisão que concede o a suspensão condicional da pena é a mesma que condena o réu. Cabe,
portanto, recurso de apelação. Por sua vez, a decisão que revoga o sursis será feita em fase de execução,
e para toda decisão em fase de execução caberá agravo em execução.
71

Hoje em dia, além da fiança, existem outras medidas cautelares diversas da


prisão (Art. 319 do CPP). Assim, entende o STJ que esse dispositivo se aplica
não só a fiança, como também se estende às demais medidas cautelares.

VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;

VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a


punibilidade;

Atenção: Se na mesma decisão o juiz absolver ou condenar o réu, a peça


cabível será recurso de apelação.

IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra


causa extintiva da punibilidade;

Atenção: Se na mesma decisão o juiz absolver ou condenar o réu, a peça


cabível será recurso de apelação.

X – que nega ou concede habeas corpus;

Atenção: É preciso que seja em primeira instância (contra ato do delegado,


por exemplo).45

XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;

Atenção: Se na mesma decisão o juiz absolver ou condenar o réu, a peça


cabível será recurso de apelação.

XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;

XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta;

Quando a apelação não é conhecida em primeiro grau, na interposição (seja


por ser intempestiva, não ser hipótese de cabimento ou não ter
sucumbência, por exemplo), caberá o RESE.

45
No mundo real não é usual. Primeiro que o HC na primeira instância é raro, e segundo que, quando
negado, a primeira medida que o advogado toma é entrar com outro HC no tribunal, justamente pela
celeridade. Mas não é isso que você deve fazer na sua prova.
72

XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão


prejudicial;

XVIII - que decidir o incidente de falsidade;

Obs1: Além dos incisos do mencionado artigo, também existem outras hipóteses
previstas em legislação especial. Dentre elas, destaca-se o artigo 294, parágrafo único,
do Código de Trânsito Brasileiro46.

Obs2: Fique atento para o teor da Súmula 707 do STF:

▪ Súmula 707 do STF: Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer
contra-razões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação
de defensor dativo.

Obs3: Existe uma grande peculiaridade no RESE que é o chamado juízo de retratação, e
está previsto no artigo 589 do Código de Processo Penal:

▪ Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que,
dentro de dois dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso
com os traslados que Ihe parecerem necessários.

Parágrafo único. Se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por simples
petição, poderá recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz
modificá-la. Neste caso, independentemente de novos arrazoados, subirá o recurso nos
próprios autos ou em traslado.

Nos termos do parágrafo único do artigo 589 do CPP, se por seu conteúdo da decisão de
retratação couber RESE, a parte vencida, na retratação, não precisará interpor recurso
e arrazoar. Bastará, por simples petição, interpor recurso. As contrarrazões já oferecidas
servirão como razões e as razões da parte contrária servirão como contrarrazões.

46
Trata-se da suspensão cautelar do direito de dirigir. Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da
ação penal, havendo necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar,
de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da autoridade
policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo
automotor, ou a proibição de sua obtenção.
73

4.2. ESTRUTURA DO RESE

A estrutura do RESE é muito parecida com a estrutura do recurso de apelação, de modo


que também terá, em regra, duas petições: I. Petição de interposição (direcionada ao
juízo de 1ª instância); e II. Petição das razões (direcionada ao juízo de segunda instância).

Obs1: Não haverá petição de interposição se o caso prático demonstrar que


você já interpôs o RESE. Neste caso, você minutará uma petição juntada47 e
depois minutará as razões do recurso em sentido estrito.

Obs2: Pode ser, também, que quem tenha recorrido seja o Ministério
Público. Neste caso, você será intimado para apresentar as contrarrazões
razões do recurso em sentido estrito. Deverá ser minutada, então, uma
petição de juntada e depois minutada a mencionada contrarrazões.

Obs3: Fique atento, você também poderá estar na posição de advogado do


querelante ou na posição de assistente da acusação.

4.3 FUNDAMENTO LEGAL

O fundamento legal será o artigo 581 do Código de Processo Penal, combinado com um
dos seus incisos, de acordo com o caso fornecido.

Verbo da peça: interpor.

4.4 COMPETÊNCIA E ENDEREÇAMENTO

47
A diferença em relação à petição de interposição é, grosso modo, o verbo da peça. Na petição de juntada
utilizaremos o verbo apresentar, enquanto que na petição de interposição utilizaremos o verbo interpor.
74

PEÇA DE INTERPOSIÇÃO

Se a ação penal estiver tramitando na justiça estadual, o endereçamento será:

▪ Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz da __ Vara Criminal da Comarca de ___.

Se, todavia, tramitar na justiça Federal, será:

▪ Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da __ Vara Criminal da Seção Judiciária


de ___.

RAZÕES DO RECURSO

Se a ação penal estiver tramitando na justiça estadual, o endereçamento será:

▪ Egrégio Tribunal de Justiça do Estado...

Se, todavia, tramitar na justiça Federal, será:

▪ Egrégio Tribunal Regional Federal da ... Região.

4.5 TESES E PEDIDOS

TESES

Grosso modo, poderão ser cobradas teses relacionadas a todos os tipos: I. Nulidades; II.
Extinção da punibilidade; III. Teses de mérito; e IV. Teses de desclassificação.

Não possível arrolar de maneira sistemática as possíveis teses que deverão ser alegadas
no RESE, mas saiba que elas terão estrita relação com o fundamento que motivou o
recurso, isto é, às hipóteses previstas no artigo 581 do Código de Processo Penal.
75

PEDIDOS

No RESE, assim como nas demais peças, os pedidos deverão ter correlação com as teses.
E, além desses pedidos específicos para as teses, como se trata de recurso, é necessário
pedir inicialmente o conhecimento e provimento do recurso, com consequente reforma
da decisão atacada.

4.6 PRAZO PARA A APRESENTAÇÃO DA PEÇA

O prazo para a interposição do RESE é de 5 (cinco) dias, conforme determina o artigo


586 do CPP. O prazo para oferecer as razões, todavia, será de 2 (dois) como estabelece
o artigo 589 do CPP.

Contudo, duas situações podem ocorrer:

1. Situação provável: É a situação onde o caso exige que você minute tanto a
petição de interposição, quanto a petição de razões do recurso em sentido
estrito. Essa é maneira que a OAB habitualmente cobra.

Neste caso, como a interposição e as razões serão apresentadas no mesmo


ato, você deverá considerar o prazo de 5 (cinco) da interposição, previsto no
artigo 586 do Código de Processo Penal.

2. Situação improvável: Improvável, porém possível, é a situação onde o


problema diz que você já interpôs o RESE. Neste caso, como você minutará
apenas as razões do recurso (com uma petição de juntada), considerar-se-á
o prazo de 2 (dois) dias, previsto no artigo 589 do Código de Processo Penal.

Orientações gerais sobre prazo:


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▪ Ao contrário do processo civil, no processo penal todos os prazos serão


contínuos, isto é, não correrão apenas em dia útil. O prazo não se
interrompe por férias, domingo ou feriados48.

▪ Contudo, se o prazo iniciar49 ou terminar50 em dia não útil (sábado,


domingo ou feriado), considera-se prorrogado até o dia útil seguinte
imediato.

▪ Conforme Súmula 710 do STF: No processo penal, contam-se os prazos da


data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta
precatória ou de ordem.

▪ Ainda, como se trata de prazo processual penal, não se computa o dia do


começo (intimação), incluindo-se, porém, o dia do vencimento51. Deste
modo, considerando o prazo de 5 (cinco) dias, se o réu for intimado dia 1, o
prazo começa a correr dia 2. Isso implica dizer que o último dia do prazo será
dia 8.

48
CPP, Art. 798 Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se
interrompendo por férias, domingo ou dia feriado.
49
CPP, Art. 798 [...] §3º O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado
até o dia útil imediato.
50
Súmula 310 STF - Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação
for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente,
caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir.
51
CPP, Art. 798 [...], §1º Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o dia do
vencimento.
77

4.7 RESOLUÇÃO DE PEÇA

(XI Exame de Ordem) Jerusa, atrasada para importante compromisso profissional, dirige seu
carro bastante preocupada, mas respeitando os limites de velocidade. Em uma via de mão dupla,
Jerusa decide ultrapassar o carro à sua frente, o qual estava abaixo da velocidade permitida.
Para realizar a referida manobra, entretanto, Jerusa não liga a respectiva seta luminosa
sinalizadora do veículo e, no momento da ultrapassagem, vem a atingir Diogo, motociclista que,
em alta velocidade, conduzia sua moto no sentido oposto da via. Não obstante a presteza no
socorro que veio após o chamado da própria Jerusa e das demais testemunhas, Diogo falece em
razão dos ferimentos sofridos pela colisão. Instaurado o respectivo inquérito policial, após o
curso das investigações, o Ministério Público decide oferecer denúncia contra Jerusa,
imputando-lhe a prática do delito de homicídio doloso simples, na modalidade dolo eventual
(Art. 121 c/c Art. 18, I parte final, ambos do CP). Argumentou o ilustre membro do Parquet a
imprevisão de Jerusa acerca do resultado que poderia causar ao não ligar a seta do veículo para
realizar a ultrapassagem, além de não atentar para o trânsito em sentido contrário.

A denúncia foi recebida pelo juiz competente e todos os atos processuais exigidos em lei foram
regularmente praticados. Finda a instrução probatória, o juiz competente, em decisão
devidamente fundamentada, decidiu pronunciar Jerusa pelo crime apontado na inicial
acusatória. O advogado de Jerusa é intimado da referida decisão em 02 de agosto de 2013
(sexta-feira). Atento ao caso apresentado e tendo como base apenas os elementos fornecidos,
elabore o recurso cabível e date-o com o último dia do prazo para a interposição. (Valor: 5,0)

A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não pontua.


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81
82

5.1 ORIENTAÇÕES GERAIS

Após o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, encerra-se o processo de


conhecimento e inicia o processo de execução da pena.

Assim, a guia de recolhimento é encaminhada ao juízo das execuções onde será gerado
outro processo com outro número. Será nesses autos que haverá o acompanhamento
do cumprimento da pena pelo apenado. Eventuais pedidos de progressão de regime,
liberdade condicional ou unificação de penas serão feitos nesses autos e serão
deferidos, ou não, pelo juiz da execução.

Deste modo, existem basicamente duas peças da fase de execução, que tratam sobre
execução pena: I. Petição simples; e II. Agravo em execução.

▪ Petição simples: Como o próprio nome diz, se trata de um pedido simples,


endereçado ao juízo da execução de pena, sem nenhuma formalidade
específica, cuja finalidade é o requerimento de benefícios como progressão
de regime, liberdade condicional e unificação de penas.

▪ Agravo em execução: Trata-se de um recurso cabível contra a decisão do


juízo da execução da pena que negar um dos pedidos acima mencionados
na petição simples. Assim, de toda e qualquer decisão proferida pelo juízo
das execuções penais caberá agravo em execução.

Antes de estudarmos a estrutura dessas peças, vamos relembrar os principais pontos


sobre a pena e a sua execução, que poderão ser cobrados nessas peças.

5.2 MATÉRIAS COMUNS NA EXECUÇÃO PENAL

5.2.1 PROGRESSÃO DE REGIME

REGIMES PENITENCIÁRIOS. Trata-se do meio pelo qual ocorre o cumprimento da pena


privativa de liberdade que, conforme o artigo 33 do CP, poderá ser: I) fechado; II)
semiaberto; ou III) aberto.
83

Na dosimetria da pena, três fatores serão analisados para a escolha do regime inicial de
cumprimento da pena privativa de liberdade: a) a quantidade da pena; b) a reincidência;
e c) as circunstâncias judiciais. Vejamos.

• Regime fechado: Inicia-se o cumprimento de pena privativa de liberdade em


regime fechado quando a condenação for superior a 8 (oito) anos52. A pena
será cumprida em estabelecimento de segurança máxima ou média.53

• Regime semiaberto: Inicia-se o cumprimento de pena privativa de liberdade


em regime semiaberto quando a condenação for superior a 4 (quatro) anos,
não exceder a 8 (oito) anos, e o condenado não for reincidente54. A pena
será cumprida em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar55.

• Regime aberto: Inicia-se o cumprimento da pena privativa de liberdade em


regime aberto quando a pena for igual ou inferior a 4 (quatro) anos e o
condenado não for reincidente56. A pena será cumprida em casa de
albergado ou estabelecimento adequado57.

Atenção. É possível, contudo, que em relação ao condenado primário seja imposto um


regime mais gravoso que o permitido pela pena aplicada. É o que dispõe o §3º, do art.
33, do CP, in verbis: § 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-
se-á com observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código.

Neste mesmo sentido dispõe a Súmula 719 do STF: A imposição de regime de


cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea.

Ainda prevê a Súmula 718 do STF que: “A opinião do julgador sobre a gravidade em
abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais
severo do que o permitido segundo a pena aplicada.”

PROGRESSÃO DE REGIME. Dentre os sistemas de progressão de regime, diz-se que o


Brasil adotou, em linhas gerais, o sistema inglês, o qual se baseia no isolamento do
apenado no início do cumprimento de sua pena, com a posterior autorização para o
trabalho e com a liberdade condicionada na última etapa.

52
Código Penal, artigo 33, §2, a;
53
Código Penal, artigo 33, §1, a;
54
Código Penal, artigo 33, §2, b;
55
Código Penal, artigo 33, §1, b;
56
Código Penal, artigo 33, §2, c;
57
Código Penal, artigo 33, §1, c;
84

Assim, neste sistema progressivo o condenado inicia o cumprimento de sua pena no


regime fechado e com o cumprimento de certa parcela da pena lhe é permitido migrar
para o regime semiaberto e, posteriormente, para o regime aberto.

Segundo a nossa legislação, o benefício da progressão de regime depende de dois


requisitos cumulativos, que estão previstos no artigo 112 da Lei de Execuções Penais
(LEP):

I) cumprimento de 1/6 da pena (requisito objetivo)58 59 60; e

II) bom comportamento (requisito subjetivo).

Obs1. Progressão e crimes contra a administração pública: conforme


estabelece o §4º do artigo 33 do Código Penal, o condenado por crime
contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento
da pena condicionada, além dos dois requisitos supracitados, à reparação
do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os
acréscimos legais.

Obs2. Progressão e crimes hediondos: Nos crimes hediondos, tais como


homicídio qualificado, latrocínio e estupro, o requisito objetivo não será o
cumprimento de 1/6 da pena. Será, contudo, 2/5 (dois quintos) da pena, se
o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.61

Obs3. Súmula 471 do STJ - Os condenados por crimes hediondos ou


assemelhados cometidos antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-
se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para
a progressão de regime prisional.

Obs4. Súmula 534 do STJ - A prática de falta grave interrompe a contagem


do prazo para a progressão de regime de cumprimento de pena, o qual se
reinicia a partir do cometimento dessa infração.

▪ O que ocorreria se, por exemplo, o sujeito foi condenado a 11 anos de


reclusão pela prática de um crime comum e um crime hediondo (5

58
Quanto a segunda progressão de regime, o entendimento majoritário é de que se calcula 1/6 da pena restante,
vez que pena cumprida é pena extinta.
59 Súmula 715 do STF: A pena unificada para atender ao limite de 30 (trinta) anos de cumprimento, determinado pelo

artigo 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional
ou regime mais favorável de execução.
60 Súmula 491 do STJ - É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional.
61 Lei n. 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos), artigo 2º, §2º,
85

anos para o tráfico e 6 anos por roubo)? A progressão ocorreria com


o cumprimento de 1/6 ou 2/5?

Neste caso, a progressão de regime ocorreria com o cumprimento de


3 anos de pena (2 anos para crime de tráfico e 1 ano para o crime de
furto).

5.2.2 LIVRAMENTO CONDICIONAL

O livramento condicional (ou liberdade condicional) é um benefício com previsão legal


no Código Penal e na Lei de Execução Penal (LEP), onde será concedida liberdade ao
apenado quando presentes os requisitos

▪ Os seus requisitos estão previstos no Código Penal, em seu artigo 83:

Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena


privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:

I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime


doloso e tiver bons antecedentes;

II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso;

III - comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom


desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria
subsistência mediante trabalho honesto;

IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela


infração;

V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime
hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico
de pessoas e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes
dessa natureza.

Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou
grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à
constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a
delinquir.

▪ Suas condições estão previstas no artigo 132 da LEP:


86

Art. 132. Deferido o pedido, o Juiz especificará as condições a que fica subordinado
o livramento.

§1º Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações seguintes:

a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho;

b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação;

c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia


autorização deste.

§2° Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras obrigações,
as seguintes:

a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da


observação cautelar e de proteção;

b) recolher-se à habitação em hora fixada;

c) não frequentar determinados lugares.

Obs. A realização do exame criminológico do parágrafo único do artigo 83 é dispensável.


Conforme de interpreta da Súmula 439 do STJ: Admite-se o exame criminológico pelas
peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada

5.2.3 UNIFICAÇÃO DE PENAS

A Constituição Federal determina em seu artigo 5º, inciso XLVII, alínea “b”, que não
haverá penas de caráter perpétuo.

Neste diapasão, estabelece o artigo 75 do Código Penal:

▪ Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode


ser superior a 30 (trinta) anos.
§1º - Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma
seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite
máximo deste artigo.

§2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da


pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena
já cumprido.
87

Esse procedimento previsto no §2º chama-se unificação das penas e é de competência


do juízo das execuções, conforme prevê o artigo 66, III, alínea “a” da LEP:

Art. 66. Compete ao Juiz da execução:

[...] III - decidir sobre: a) soma ou unificação de penas;

Também é chamada de unificação de penas o reconhecimento tardio do crime


continuado, que ocorre quando os crimes que formam um crime continuado foram
julgados em processos diferentes. Nessa situação, será necessário unificar as penas.
Trata-se de pedido endereçado ao juízo das execuções, fundamentado no artigo 66, III,
“a” da LEP.

5.3 – PEÇAS DA EXECUÇÃO PENAL

5.3.1 – PETIÇÃO SIMPLES

Como mencionado no início desse capítulo, a petição simples, omo o próprio nome diz,
se trata de um pedido simples, endereçado ao juízo da execução de pena, sem nenhuma
formalidade específica, cuja finalidade é o requerimento de benefícios como progressão
de regime, liberdade condicional e unificação de penas.

Será uma peça endereçada ao juízo das execuções penais, onde você irá requerer um
benefício possível de ser concedido na fase de execução como, por exemplo, os acima
citados.

No preâmbulo, se for o caso de progressão de regime, por exemplo, você minutará da


seguinte forma:

NOME, já qualificado nos autos, vem, respeitosamente, por intermédio do


advogado que esta subscreve, à presença de Vossa Excelência, requerer:
PROGRESSÃO DE REGIME
Com fulcro no artigo 66, III, b e 112, ambos da Lei nº 7.210/8462, pelas razões de fato
e de direito a seguir expostas.

62
É o fundamento legal da progressão de regimes, para os demais benefícios você deverá utilizar o
fundamento adequado.
88

Após fazer uma breve descrição dos fatos, no tópico direito você deverá expor a razão
pela qual o seu cliente tem direito ao benefício requerido.

Nos pedidos, basta requerer que seja concedido respectivo benefício.

Ao final, como de praxe, coloque: “local”, “data”63, “advogado” e “oab nº”.

5.3.2 – AGRAVO EM EXECUÇÃO

Trata-se de um recurso cabível contra decisão do juízo de execução penal. Assim, de


toda e qualquer decisão proferida pelo juízo das execuções penais caberá agravo em
execução.

Na sua prova, provavelmente o problema dirá que foi feito um dos pedidos que
estudamos na peça anterior (petição simples) e o juiz da execução negou.

A previsão legal do agravo em execução está no artigo 197 da LEP:

▪ Art. 197. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo.

Esse é o único dispositivo que trata sobre esse recurso. Isso ocorre porque enquanto
tramitava o projeto de lei da LEP, também tramitada um projeto de lei de um novo
código de processo penal onde estaria previsto o procedimento do agravo em execução.
Contudo, o mencionado código não entrou em vigor.

Frente a esta situação, os tribunais pacificaram o entendimento de que o agravo em


execução seguirá o mesmo rito do recurso em sentido estrito – RESE, o que implica dizer
que também será admissível o juízo de retratação.

▪ Cabimento e identificação da peça: Cabe de denegação de pedido pelo juiz


da vara de execuções penais.

▪ Fundamento Legal: Artigo 197 da Lei nº 7.210/84 (LEP)

63
Não existe prazo para a petição simples. Você juntará no processo sempre que entender que seu cliente
faz jus ao direito.
89

▪ Competência e endereçamento: Como se trata de um recurso, a peça possui


duas petições. Uma petição de interposição endereçada ao juízo da vara de
execução penal e outra com as razões do recurso de apelação endereçada
ao tribunal.

Obs1. Se o problema mencionar que você já interpôs o recurso, basta


que você minute a petição de juntada (endereçada ao juízo de
primeiro grau) e, depois, as razões do agravo em execução.

Obs2. Pode ser que você esteja no outro polo da ação. Neste caso,
você será intimado para apresentar contrarrazões ao recurso de
apelação (aqui não há petição de interposição, há petição de juntada).

▪ Teses e pedidos: As teses, que deverão estão correlacionadas com o pedido,


irão dispor estritamente sobre o que foi negado na petição simples pelo juiz
da vara de execução penal.

▪ Prazo: Por ausência de previsão legal, o prazo será o mesmo do recurso em


sentido estrito – RESE. Isto é, 5 (cinco) dias para interpor o agravo em
execução e 2 (dois) dias para juntar as razões do agravo em execução. É que
determina a Súmula 700 do STF: É de cinco dias o prazo para interposição de
agravo contra decisão do juiz da execução penal.
90

5.4 RESOLUÇÃO DE PEÇA

(XVI Exame de Ordem) Gilberto, quando primário, apesar de portador de maus


antecedentes, praticou um crime de roubo simples, pois, quando tinha 20 anos de idade,
subtraiu de Renata, mediante grave ameaça, um aparelho celular. Apesar de o crime
restar consumado, o telefone celular foi recuperado pela vítima. Os fatos foram
praticados em 12 de dezembro de 2011. Por tal conduta, foi Gilberto denunciado e
condenado como incurso nas sanções penais do Art. 157, caput, do Código Penal a uma
pena privativa de liberdade de 04 anos e 06 meses de reclusão em regime inicial fechado
e 12 dias multa, tendo a sentença transitada em julgado para ambas as partes em 11 de
setembro de 2013. Gilberto havia respondido ao processo em liberdade, mas, desde o
dia 15 de setembro de 2013, vem cumprindo a sanção penal que lhe foi aplicada
regularmente, inclusive obtendo progressão de regime. Nunca foi punido pela prática
de falta grave e preenchia os requisitos subjetivos para obtenção dos benefícios da
execução penal. No dia 25 de fevereiro de 2015, você, advogado(a) de Gilberto,
formulou pedido de obtenção de livramento condicional junto ao Juízo da Vara de
Execução Penal da comarca do Rio de Janeiro/RJ, órgão efetivamente competente.

O pedido, contudo, foi indeferido, apesar de, em tese, os requisitos subjetivos estarem
preenchidos, sob os seguintes argumentos: a) o crime de roubo é crime hediondo, não
tendo sido cumpridos, até o momento do requerimento, 2/3 da pena privativa de
liberdade; b) ainda que não fosse hediondo, não estariam preenchidos os requisitos
objetivos para o benefício, tendo em vista que Gilberto, por ser portador de maus
antecedentes, deveria cumprir metade da pena imposta para obtenção do livramento
condicional; c) indispensabilidade da realização de exame criminológico, tendo em vista
que os crimes de roubo, de maneira abstrata, são extremamente graves e causam
severos prejuízos para a sociedade. Você, advogado(a) de Gilberto, foi intimado dessa
decisão em 23 de março de 2015, uma segunda-feira. Com base nas informações acima
expostas e naquelas que podem ser inferidas do caso concreto, redija a peça cabível,
excluída a possibilidade de habeas corpus, no último dia do prazo para sua interposição,
sustentando todas as teses jurídicas pertinentes. (Valor: 5,00)

Responda justificadamente, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a


fundamentação legal pertinente ao caso.
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