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C H

ENTRE
PENSAMENTOS
SOCIEDADES

2ª edição • São Paulo


2018

Alexandre Rocha Jabur Ma


luf
2
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino. São Paulo, 2018
Todos os direitos reservados.

Autor
Alexandre Jabur Maluf

Diretor geral
Herlan Fellini

Coordenador geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial
Hexag Sistema de Ensino

Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista

Revisor
Rodrigo Luis Martins da Silva

Pesquisa iconográfica
Eder Carlos Bastos de Lima

Programação visual
Hexag Sistema de Ensino

Editoração eletrônica
Claudio Guilherme da Silva
Eder Carlos Bastos de Lima
Fernando Cruz Botelho de Souza
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)

Impressão e acabamento
Meta Solutions

ISBN: 78-85-9542-036-6

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra está sendo usado apenas para fins didáticos, não represen-
tando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.

2018
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Telefone: (11) 3259-5005
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CARO ALUNO

O Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Desde 2010, são centenas de aprovações nos princi-
pais vestibulares de Medicina no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e em todo Brasil. O material didático foi, mais uma vez, aperfeiçoado e seu conteúdo
enriquecido, inclusive com questões recentes dos relevantes vestibulares de 2018.
Esteticamente, houve uma melhora em seu layout, na definição das imagens, criação de novas seções e também na utilização de cores.
No total, são 105 livros e 6 cadernos de aula.

O conteúdo dos livros foi organizado por aulas. Cada assunto contém uma rica teoria, que contempla de forma objetiva e clara o que o aluno

realmente necessita assimilar para o seu êxito nos principais vestibulares do Brasil e Enem, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar.

Todo livro é iniciado por um infográfico. Esta seção, de forma simples, resumida e dinâmica, foi desenvolvida para indicação dos assuntos mais abordados
nos principais vestibulares, voltados para o curso de medicina em todo território nacional.
O conteúdo das aulas está dividido da seguinte forma:
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos, de cada coleção, tem como principal objetivo apoiar o estudante na resolução de questões
propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, completos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam
as explicações dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados, e compõem um conjunto abrangente de
informações para o estudante, que vai dedicar-se à rotina intensa de estudos.
TEORIA NA PRÁTICA (EXEMPLOS)
Desenvolvida pensando nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Nesses
compilados nos deparamos com modelos de exercícios resolvidos e comentados, aquilo que parece abstrato e de difícil compreensão torna-se mais aces-
sível e de bom entendimento aos olhos do estudante.
Através dessas resoluções é possível rever a qualquer momento as explicações dadas em sala de aula.
INTERATIVIDADE
Trata-se do complemento às aulas abordadas. É desenvolvida uma seção que oferece uma cuidadosa seleção de conteúdos para complementar
o repertório do estudante. É dividido em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas e livros para o aprendizado do
aluno. Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados. Há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até
sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, sendo conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica. Tudo é selecionado
com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso estudante.
INTERDISCIPLINARIDADE
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é elaborada, a cada aula, a seção interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares
de hoje não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada matéria.
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como biologia e
química, história e geografia, biologia e matemática, entre outros. Neste espaço, o estudante inicia o contato com essa realidade por meio de explicações
que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o estudante
consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas sim, fazendo parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
APLICAÇÃO NO COTIDIANO
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana no desenvolver do dia a dia, dificultando
o contato daqueles que tentam apreender determinados conceitos e aprofundamento dos assuntos, para além da superficial memorização ou “decorebas”
de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios de aprendizagem com os conteúdos, foi desenvolvida a seção "Aplicação no Cotidiano". Como o próprio
nome já aponta, há uma preocupação em levar aos nossos estudantes a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo que eles têm
contato em seu dia a dia.
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
Elaborada pensando no Enem, e sabendo que a prova tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, o estudante deve
conhecer as diversas habilidades e competências abordadas nas provas. Os livros da “Coleção vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas
dessas habilidades. No compilado “Construção de Habilidades”, há o modelo de exercício que não é apenas resolvido, mas sim feito uma análise expo-
sitiva, descrevendo passo a passo e analisado à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurá-las na sua prática, identificá-las na prova e resolver cada questão com tranquilidade.
ESTRUTURA CONCEITUAL
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Geramos aos estudantes o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um
deles é a estrutura conceitual, para aqueles que aprendem visualmente a entender os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas
mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos
principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita sua organização de estudos e até a resolução dos exercícios.
A edição 2018 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo ao aluno um material moderno e completo, um grande aliado para
o seu sucesso nos vestibulares mais concorridos de Medicina.
Herlan Fellini
ENTRE SOCIEDADES
Aula 10: Antropologia e etnocentrismo 7
Aula 11: Cultura 21
Aula 12: Estratificação social e suas formas 37
Aula 13: Sociologia brasileira: Gilberto Freyre e Caio Prado Jr. 53
Aula 14: Sociologia brasileira: Sérgio Buarque de Holanda 67
Aula 15: Minorias no Brasil 81
Aula 16: A questão do trabalho no Brasil 101
Aula 17: Cidadania e política no Brasil 127
INFOGRÁFICO:
Abordagem da SOCIOLOGIA nos principais vestibulares.

FUVEST – Muitos dos temas tratados neste livro são cobrados em questões interdisciplinares e
de atualidades. O candidato deve associar o conteúdo deste livro aos principais acontecimentos
da sociedade brasileira atual. Ater-se aos principais conceitos aqui expostos é fundamental.

UNICAMP – Trata-se de uma prova mais teórica. As questões mesclam temas históricos e atuais com os
principais conceitos expostos neste livro. O caráter desse vestibular é, também, bastante interdisciplinar, exi-
-gindo compreensão de texto e atenção aos principais problemas sociais vividos pelo Brasil, EUA e principais
países da Europa.

ENEM / UFRJ – Questões de âmbito muito interpretativo. Os temas estão inseri-


dos tanto em questões de Geografia quanto de História. É um vestibular bastante
interdisciplinar e que exige boa noção dos temas de inclusão social e de cidadania.

UERJ – Associa os principais temas deste livro à realidade econômica, social e política do Brasil. Exige
bastante destreza do aluno para relacionar todos esses assuntos aos conceitos básicos da Sociologia
e da Antropologia.
Aula 10

Antropologia
e etnocentrismo
Competências 1, 2, 3, 4 e 5
Habilidades 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
13, 15, 16, 18, 20, 22, 23, 24 e 25
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Antropologia e Etnocentrismo
Introdução
A antropologia é uma ciência compreensiva que estuda o Homem e sua cultura no passado e no presente. Em
linhas gerais, a Antropologia aborda temas como costumes, hábitos, aspectos físicos, mitos e religiões de diversos
povos que habitaram e ainda habitam o planeta. A consolidação da Antropologia como ciência deu-se em meados
do século XIX, concomitantemente às expansões neocoloniais das potências industriais europeias, que buscavam
recursos naturais na Ásia, África e Oceania.
Os europeus, imersos em um otimismo exacerbado em relação ao desenvolvimento técnico e material, apro-
ximavam-se cada vez mais de métodos científicos para explicar tanto a realidade física quanto social. Paralelamente
a essa euforia, havia um sentimento de superioridade racial e cultural com relação aos colonizados. Uma espécie de
darwinismo social reinava nas análises: os europeus estariam em um estágio evolutivo superior aos outros povos.
Tal premissa permeou a fundamentação da Antropologia.

O Evolucionismo Cultural: uma teorização etnocêntrica


Um autor proeminente entre os evolucionistas e, por isso, escolhido por nós para demonstrar a teoria foi Lewis Morgan.
Lewis Henry Morgan (1818-1881) nasceu nos Estados Unidos e desde jovem interessou-se na cultura dos
iroqueses, grupo indígena que vivia próximo a seu estado natal, Nova Iorque. Ao ter contato com esses indígenas e
com inúmeros documentos históricos e relatos etnográficos11, sistematizou uma classificação de diferentes estágios
evolutivos das sociedades. Em suas palavras, “Duas linhas de investigação convidam assim, nossa atenção. Uma
passa por invenções e descobertas; a outra, por instituições primárias. Com o conhecimento propiciado por essas
linhas, podemos esperar indicar os principais estágios do desenvolvimento humano.”22.
Significa dizer que a primeira linha de investigação reside na capacidade técnica e material de uma sociedade,
ou seja, como ela produz sua riqueza, com quais materiais e com qual método. A segunda trata de sua complexidade
institucional. Em síntese, há sete pilares institucionais sobre os quais se ancora a classificação evolucionista de Morgan:
I. Subsistência: foi aumentada e aperfeiçoada por uma série de artes sucessivas, introduzidas ao longo do
tempo e conectadas mais ou menos diretamente com invenções e descobertas;
II. Governo: o germe do governo deve ser buscado na organização das famílias, nas sociedades menos avan-
çadas, até o estabelecimento da sociedade política;
III. Linguagem: a fala humana se desenvolveria a partir de formas mais rudes e monossilábicas de expressão
para uma linguagem articulada, utilizando sons vocais;
IV. Família: há estágios de desenvolvimento, mas o mais elevado incorpora sistemas de consanguinidade e
afinidade, ancorados no casamento.
V. Religião: as religiões primitivas são grotescas e ininteligíveis, mas avançam para estágios mais sofisticados.
VI. Vida doméstica e arquitetura: está atrelada ao desenvolvimento da família. A vida doméstica se origina
na cabana selvagem, avança para as habitações comunais bárbaras até atingir a casa das famílias nucleares
das nações civilizadas (europeias).
VII. Propriedade: a ideia de propriedade só maturou nas sociedades civilizadas. A propriedade não apenas
levou a humanidade a superar os obstáculos que atrasavam a civilização, mas também a estabelecer a
sociedade política baseada no território.

1
Etnografia é um relato detalhado da cultura e hábitos de uma sociedade. Era muito comum que alguns viajantes europeus descreves-
sem as minúcias dos comportamentos de outros povos e publicassem tais escritos.
2
A Sociedade Antiga, Lewys Morgan. Texto disponível em Evolucionismo Cultural, organizado por Celso Castro e editado pela Editora
Zahar.

9
Partindo desses itens, Morgan classificou as sociedades humanas em três estágios evolutivos: Selvageria,
Barbárie e Civilização. Para ele, todas as sociedades humanas passariam inevitavelmente pelos três estágios.
As sociedades capitalistas mais poderosas, dessa forma, estariam no auge do processo civilizatório, enquanto as
outras exprimiriam atraso e estagnação. Morgan deixa bem claro que “Ao estudar as condições de tribos e nações
nesses diversos períodos étnicos, estamos lidado, substancialmente, com a história antiga e com as antigas condi-
ções de nossos próprios remotos ancestrais.”

Períodos Condições
Período Inicial da Selvageria Da infância da raça humana até o começo do próximo período.
Da aquisição de uma dieta de subsistência à base de peixes e de um
Período intermediário de selvageria
conhecimento do uso do fogo até.
Período final de selvageria Da invenção do arco-e-flecha até.
Período inicial de barbárie Da invenção da cerâmica.
Da domesticação de animais no hemisfério oriental e, no ocidental,
Período intermediário de barbárie do cultivo irrigado de milho e plantas, com o uso de tijolos de adobe
e pedras.
Da invenção do processo de fundir minério de ferro, com uso de
Período final de barbárie
ferramentas de ferro.
Da invenção do alfabeto fonético, com o uso da escrita, até o tempo
Status de civilização
presente (Europa e nações desenvolvidas).

O princípio do autor é etnocêntrico, pois os povos tribais da América, da África, Ásia e Oceania foram classi-
ficados como menos evoluídos, enquanto os europeus foram classificados no estágio mais elevado da sociabilidade
humana. O próprio critério materialista de Morgan e seus discípulos demonstra um lado eurocêntrico, o que nos
permite indagar:
Será mesmo que o progresso material é o cerne da preocupação dos outros povos tanto quanto para os
europeus?

Funcionalismo: Bronislaw Malinowski (1884-1942)


Como teórico, é considerado o fundador do funcionalismo, escola antropológica que pretende analisar as institui-
ções sociais em termos de satisfação coletiva de necessidades individuais (principalmente biológicas), considerando
cada sociedade como um sistema fechado e coerente. Por isso, opõe-se à aplicação reducionista dos pensadores
evolucionistas.
O objeto do funcionalismo e sua base fundamental é considerar que todas as partes da sociedade humana
estão relacionadas entre si e cumprem uma função dentro de um sistema. Por tal premissa, as sociedades não
devem ser comparadas. Cada uma deve ser observada em sua visão particular de mundo e dentro de sua lógica de
funcionamento. Assim, não se pode julgar o diferente do europeu como atrasado, uma vez que ele reproduz outras
visões de vidas e de necessidades.
Malinowski realizou diversos trabalhos de campo, visitando inúmeras sociedades in loco. Em sua obra Os
argonautas do pacífico ocidental, o autor estuda a sociedade Trobriandesa, onde hoje se encontra a Papua Nova
Guiné. Seu objeto de estudo é a instituição Kula, um sistema de trocas circular, místico e destituído de noção de
posse permanente, que influencia a vida e as instituições dos nativos em quase sua totalidade. Além de descrever
detalhadamente o Kula e sua função, mostra, nessa obra, raro rigor metodológico e lógico na construção de uma
etnografia. Para ele, o antropólogo não deve contentar-se com uma mera observação dos fatos, mas exercer uma
observação participante, isto é, “ser um deles”.

10
Estruturalismo de Lévi-Strauss (1908-2009)
Claude Lévi-Strauss foi um intelectual radicado na França, considerado o fundador da Antropologia Estrutural e
introdutor, nas ciências sociais, do enfoque estruturalista baseado na linguística de Saussure. Dado o peso de sua
obra, dentro e fora da antropologia, é visto como um dos intelectuais mais influentes do século XX. Entre 1935 e
1939 viveu no Brasil, onde levou a cabo seu primeiro trabalho etnográfico, organizando expedições periódicas no
Mato Grosso e na floresta amazônica.
Lévi-Strauss conquistou proeminência no mundo intelectual ao afirmar que as diferentes culturas humanas,
suas condutas, esquemas linguísticos e mitos revelam a existência de padrões comuns a todas elas. Para ele, o en-
foque dos estudos antropológicos deve centrar-se principalmente nas demandas de ordem social. Graças aos seus
estudos, há hoje uma tendência de se rechaçar enfoques etnocêntricos dentro das pesquisas – significa dizer que
comparar sociedades em termos de níveis tecnológico e material não faria mais sentido.
Para Lévi-Strauss, a antropologia estrutural é o estudo científico dos subprodutos gerados pelas operações
inconscientes do espírito humano. As operações mentais, isto é, as estruturas, representam o significado real da
cultura. A abordagem estruturalista evita os perigos do relativismo, na medida em que as diferentes culturas são
consideradas como meros subprodutos distintos do espírito humano - nem melhores nem piores uns que os ou-
tros. Deste modo, os indivíduos estudados são considerados como meros geradores-portadores de cultura: as suas
ações são vazias de todo o sentido que não seja o sentido subjacente que lhes é proporcionado pelas estruturas
universais inconscientes.
No caso da aplicação do estruturalismo na cultura, o problema consiste em descobrir o conjunto constante
de relações existentes entre os elementos básicos que se manifestam como fenômenos culturais. Segundo Lévi-
-Strauss, a vantagem de seu estudo das formas primitivas de organização reside no fato delas possibilitarem um
acesso fácil às estruturas lógicas elaboradas pelo pensamento inconsciente. A estrutura “proporciona os meios
para integrar aqueles fatores irracionais surgidos do acaso e da história”. Assim, a busca das estruturas lógicas
subjacentes à diversidade dos fenômenos culturais exige necessariamente um estudo sincrônico dos costumes,
isto é, um estudo da natureza intrínseca dos fenômenos culturais, antes de passar ao estudo das influências de
elementos externos que operaram as transformações históricas (estudo diacrônico): “Ao mostrar as instituições no
seu processo de transformação, a história torna possível abstrair a estrutura que subjaz às manifestações e que
permanece idêntica através da sucessão dos acontecimentos”.
Dessa forma, ao rejeitar a primazia do estudo histórico, que “organiza os seus dados em relação com as
expressões conscientes da vida social”, a antropologia estrutural “dedica-se a examinar os seus fundamentos (ou
estruturas) inconscientes”.

11
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeos Claude Lévi-Strauss - Saudades do Brasil

Fonte: Youtube

Vídeos Estranhos no Exterior: Fora da varanda...

Fonte: Youtube

Vídeos Neocolonialismo: África E Ásia

Fonte: Youtube

Filme Zulu (1964)

Em Natal, África do Sul, em 1879, um pequeno regimento britânico


de apenas 105 soldados se recusa a abandonar sua posição e resiste
bravamente ao ataque de 4000 guerreiros zulus. Baseado em fatos verídicos.

12
ASSISTIR

Filme O Elo Perdido - Man to Man (2005)

Em 1870, o antropólogo escocês Jamie Dodd se aventura em uma missão na


África. Ao encontrar uma tribo de pigmeus, captura dois deles, Toko e Likola, por
acreditar que eles têm a chave para encontrar o elo perdido.

LER

Livros
Pensamento Selvagem - Lévi-Strauss

Obra fundamental de antropologia do “pai” do estruturalismo, que aqui


se ocupa minuciosa e objetivamente da etnologia tradicional, focalizando
uma característica universal do espírito humano: o pensamento selvagem
que se desenvolve no Homem, seja no antigo ou no contemporâneo.

Os Argonautas do Pacífico Ocidental - Bronislaw Malinowski

Argonautas do Pacífico Ocidental é o título do livro do antropólogo


anglo-polonês Bronislaw Malinowski (1884-1942) publicado em 1922,
com prefácio de James Frazer (1854 - 1941), considerado a primeira
etnografia e precursor do uso etnográfico da fotografia. É o relato do
trabalho de campo do autor, entre 1914 e 1918 nas Ilhas Trobriand,
inaugurando um novo método de trabalho de campo: a etnografia.
Evolucionismo Cultural - Celso Castro

Evolucionismo Cultural é uma compilação dos principais textos dos


autores chamados de evolucionistas: Morga, Tylor e Frazer. Editado pela
editora Zahar e organizado por Celso Castro, trata-se de uma pequena
brochura que proporciona boa introdução aos autores selecionados.

13
INTERDISCIPLINARIDADE

A repartição da África realizou-se de forma despótica, tendo seu ápice quando da realização da Conferência de
Berlim, que se iniciou em 1884 e durou até o ano subsequente.
A Conferência contou com a participação de 15 países, 13 pertencentes à Europa, além dos Estados Unidos
e da Turquia. Apesar dos Estados Unidos não possuírem colônias no continente africano, era um poderio que se
encontrava em fase de crescimento, visando assim à conquista de novos territórios.
Nesse contexto a Antropologia se consolidou. O choque cultural entre colonizadores e colonizados, combi-
nado a uma realidade europeia cientificista, criou condições para o surgimento de inúmeras obras sobre a vida dos
povos não-europeus.

14
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 15 - Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou am-


bientais ao longo da história.

A noção de conflito expressa pela Habilidade 15 não se restringe ao confronto bélico ou militar entre
nações ou grupos, mas também à relação desarmônica entre os mesmos. Na especificidade do tema
aqui abordado, refere-se ao tratamento comum dado aos povos nativos da América pelos europeus.
O estudante deverá relacionar excertos ao contexto histórico e cultural por eles aborda-
dos, tendo em vista a capacidade de trazê-los ao debate sociológico e seus principais conceitos.
Questões inseridas na Habilidade 15 tendem a ser de âmbito interdisciplinar, pois devem ser con-
trastadas com eventos históricos para adquirirem sentido. Cabe, pois, ao estudante a capacidade
de interpretação de texto e de destreza ao lidar com os temas tratados.

Modelo
(Enem 2016) Texto I
Documentos do século XVI algumas vezes se referem aos habitantes indígenas como “os brasis”,
ou “gente brasília” e, ocasionalmente no século XVII, o termo “brasileiro” era a eles aplicado, mas
as referências ao status econômico e jurídico desses eram muito mais populares. Assim, os termos
“negro da terra” e “índios” eram utilizados com mais frequência do que qualquer outro.
Adaptado de: SCHWARTZ, S.B. Gente da terra braziliense da nação. Pensando o Brasil: a construção de um povo.
In: MOTA, C.G. (Org.). Viagem Incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: Senac, 2000.

Texto II
Índio é um conceito construído no processo de conquista da América pelos europeus. Desinteres-
sados pela diversidade cultural, imbuídos de forte preconceito para com o outro, o indivíduo de
outras culturas, espanhóis, portugueses, franceses e anglo-saxões terminaram por denominar da
mesma forma povos tão díspares quanto os tupinambás e os astecas.
SILVA, K.V.; SILVA, M.H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.

Ao comparar os textos, as formas de designação dos grupos nativos pelos europeus, durante o pe-
ríodo analisado, são reveladoras da:
a) concepção idealizada do território, entendido como geograficamente indiferenciado.
b) percepção corrente de uma ancestralidade comum às populações ameríndias.
c) compreensão etnocêntrica acerca das populações dos territórios conquistados.
d) transposição direta das categorias originadas no imaginário medieval.
e) visão utópica configurada a partir de fantasias de riqueza.

16
Análise Expositiva

Habilidade 15
Ao desprezarem a diversidade cultural indígena, os europeus que chegaram ao continente
americano demonstraram seu etnocentrismo, que se manifestou tanto na linguagem que
utilizavam quanto nas atitudes que tomaram nesses novos territórios.
Alternativa C

Estrutura Conceitual
Evolucionismo
1
Cultural

Método Antropologia
Eurocêntrico Universalismo
Comparativo de Gabinete
1
Cultura
= Estudar culturas
Civilização por relatos
Europeia

2 Funcionalismo

Cultura: conjunto de ◊ Estudar formas nativas de vida


Observação
ferramentas, ideias, ◊ Diário pessoal de investigação
participante
costumes e tradições (Etnografia)

Imperativos
Imperativos básicos: Imperativos de
Instituições sociais instrumentais:
Parentesco integração:
têm uma função Economia
Costume A Magia
ou atividade A Lei
Cooperação O Jogo
A Educação

Estruturas inconscientes
determinam o
Esquema mental comum a comportamento
um grupo humano. Reflete
3 Estruturalismo a relação dos homens Indivíduo é secundário
com a natureza, mediante
signos (linguagem) Objetividade e neutralidade
na análise

17
Aprofunde seus conhecimentos
1. (UFU) A humanidade cessa nas fronteiras da outras identidades culturais, tomando nossa
tribo, do grupo linguístico, às vezes mesmo visão de mundo como parâmetro de cultura
da aldeia; a tal ponto, que um grande número e de sofisticação. Na visão etnocêntrica nós
de populações ditas primitivas se autodesig- somos ‘cultos’, ‘educados’, ‘civilizados’, ‘lim-
na com um nome que significa ‘os homens’ pos’ etc. e os outros, ao contrário, tendem a
(ou às vezes – digamo-lo com mais discrição? aparecer como ‘ignorantes’, ‘sem educação’,
– os ‘bons’, os ‘excelentes’, ‘os completos’), ‘selvagens’, ‘sujos’ etc. Com base no que foi
implicando assim que as outras tribos, gru- dito, escolha a alternativa abaixo que define
pos ou aldeias não participam das virtudes ou CORRETAMENTE o conceito de etnocentrismo.
mesmo da natureza humana, mas são, quan- a) Visão de mundo que considera o nosso pró-
do muito, compostos de ‘maus’, ‘malvados’, prio grupo cultural como centro de tudo e
‘macacos da terra’ ou de ‘ovos de piolho’. todas as demais variações culturais são jul-
LÉVI-STRAUSS, C. Raça e História. Antropologia Estrutural gadas através de nossos valores.
Dois. São Paulo: Tempo Brasileiro, 1989: 334. b) Visão de mundo que considera a igualdade
inata de todos os grupos culturais.
Nesse trecho, o antropólogo Claude Lévi-Strauss c) Visão de mundo fundamentada na alteridade
descreve a reação de estranhamento que é co- e no reconhecimento da legitimidade das di-
mum às das sociedades humanas quando de- ferenças entre os vários grupos culturais.
frontadas com a diversidade cultural. d) Visão de mundo fundamentada no uso
Tal reação pode ser definida como uma tendência: da ciência para julgar e classificar as
a) Etnocêntrica diversas expressões culturais.
b) Iluminista e) Visão de mundo que considera que todas as
c) Relativista expressões culturais podem contribuir para
d) Ideológica o desenvolvimento da espécie humana.

2. (Interbits) Assinale a alternativa que relacio- 4. (Interbits) Chega de direito e esquerdo


na, de forma correta, os termos da primeira Você já deve ter ouvido que o lado esquer-
coluna com as suas respectivas definições. do do cérebro é racional, e o direito, emo-
1. Determinismo geográfico cional; que o esquerdo é lógico, e o direito,
2. Determinismo biológico criativo; que o esquerdo é mais ativo do
3. Relativismo cultural que o direito em homens, e o direito mais
4. Etnocentrismo ativo que o esquerdo em mulheres. Faça
( ) Postura segundo a qual se julgo as culturas as contas e você chega à conclusão lógica:
alheias tomando a própria como referên- homens são mais racionais e lógicos, e mu-
cia, considerando as demais inferiores.
lheres mais emocionais e criativas.
( ) Postura segundo a qual se procura relativizar
A neurociência cresceu, descobriu que não
sua própria maneira de agir, pensar e sentir,
era bem assim – mas a psicologia popular
e, assim, compreender a cultura do outro na
não deu bola. É muito mais fácil e aparente-
forma como ela mesma se propõe a ser.
mente instigante propagar ideias manique-
( ) Postura que considera que as diferenças cul-
ístas de uma divisão entre esquerda e direi-
turais entre os seres humanas são origina-
ta, homens e mulheres. Apoia estereótipos
das por diferenças genéticas ou biológicas.
vigentes e vende livros e oficinas “para de-
( ) Postura segundo a qual se acredita que as
senvolver o lado direito do cérebro”.
diferenças de ambiente físico condicio-
Herculano-Houzel, Suzana. Chega de direito e esquerdo.
nam totalmente a diversidade cultural. Folha online. Adaptado. Disponível em: <http://
a) 1 – 2 – 3 – 4.
folha.com/no1335989> Acesso em 04 set. 2013.
b) 2 – 1 – 3 – 4.
c) 4 – 3 – 2 – 1. Esse tipo de divisão binária foi analisado por
d) 4 – 3 – 1 – 2. qual antropologo abaixo? Assinale a alterna-
e) 3 – 4 – 2 – 1. tiva que apresenta o nome desse antropolo-
go e a descrição correta de sua teoria.
3. (Unioeste) Como a Antropologia provou à a) Claude Lévi-Strauss. Segundo ele, esses pa-
exaustão ao longo do século XX, cada socie- res de oposição servem para classificar o
dade humana possui sua própria cultura, sua mundo e guiar o pensamento humano.
própria visão de mundo. No entanto, em nos- b) Pierre Bourdieu. Para ele, as oposições são
sa vivência cotidiana, tendemos a sobrevalo- uma forma de ideologia que inverte a reali-
rizar a identidade de nosso grupo diante de dade e possibilita a dominação de classes.

18
c) Max Weber. Weber considerava que as ideias quais nos guiamos para o confronto cotidia-
maniqueístas acabavam por criar um tipo de vio- no com a diferença. As ideias etnocêntricas
lência simbólica que aprisiona todas as pessoas. que temos sobre as “mulheres”, os “negros”,
d) Marcel Mauss. Segundo Mauss, toda forma de os “empregados”, os “paraíbas de obra”, os
classificação só existe a partir da existência “colunáveis”, os “doidões”, os “surfistas”,
de uma relação corporal entre as pessoas. as “dondocas”, os “velhos”, os “caretas”, os
e) Émile Durkheim. Para Durkheim, as oposi- “vagabundos”, os “gays”, e todos os demais
ções só existem na religião, a partir da divi- “outros” com os quais temos familiaridade,
são entre sagrado e profano. são uma espécie de “conhecimento”, um
“saber” baseado em formulações ideológicas
5. (UFU) A estética nas diferentes sociedades que, no fundo, transforma a diferença pura
vem geralmente acompanhada de marcas e simples num juízo de valor perigosamente
corporais que individualizam seus sujeitos etnocêntrico.”
(ROCHA, Everardo P.G. O que é Etnocentrismo.
e sua coletividade. Discos labiais, piercings, São Paulo: Brasiliense, 1988. Adaptado)
tatuagens, mutilações, pinturas, vestimen-
tas, penteados e cortes de cabelo são algu- A alternativa que apresenta uma interpre-
mas marcas reconhecíveis de um inventário tação correta sobre o que é etnocentrismo é:
possível das técnicas corporais em toda sua a) Vemos que as verdades da vida são menos uma
riqueza e diversidade. Embora universal, as questão de essência das coisas e mais uma
formas das quais se valem os grupos e indi- questão de posição e da relação entre elas.
víduos para se marcarem corporalmente são b) Relativizamos o significado de um ato que é
vistas, às vezes, como estranhas a indivíduos visto não na sua dimensão absoluta, mas no
que pertencem a outros grupos. contexto em que acontece; a verdade está
Essa atitude de estranhamento em relação mais no olhar que naquilo que é olhado.
ao diferente é considerada conceitualmente c) Criamos um conjunto de “outros” que ser-
como: vem para reafirmar, por oposição, uma série
a) preconceito: reconhece no valor das raças o de valores de um grupo dominante que se
que é correto ou não na estética corporal. autopromove como modelo.
b) relativização: o outro é entendido nos seus d) Compreendemos o “outro” nos seus próprios
próprios termos. valores e não nos nossos e, então, vemos que
c) etnocentrismo: só reconhece valor nos seus a riqueza está na diferença.
próprios elementos culturais.
d) etnocídio: afasta o diferente e procura 7. (Interbits) A nossa luta, portanto, era con-
transformá-lo num igual. ceitual: nosso problema era fazer com que o
“ainda” do juízo de senso comum “esse pes-
6. (Unimontes) soal ainda é índio” (ou “não é mais”) não
significasse um estado transitório ou uma
etapa a ser vencida. [...] Em suma, a ideia
era que “índio” não podia ser visto como
uma etapa na marcha ascensional até o in-
vejável estado de “branco” ou “civilizado”.
CASTRO, E. V. de. No Brasil todo mundo é índio, exceto quem
não é. ISA, 2006. Disponível em: <http://pib.socioambiental.
org/files/...Dndio.pdf>. Acesso em 18/07/2012.

A partir da leitura do texto e dos seus conhe-


cimentos sobre cultura, julgue as alternati-
vas a seguir e assinale a INCORRETA.
a) O texto faz uma crítica ao evolucionismo
cultural.
b) Uma pessoa não deixa, simplesmente, de
ser “índio” porque entrou em contato com o
“branco”.
c) As culturas indígenas são estáticas, por isso
que ser índio não significa um estado transi-
tório.
“Nossas próprias atitudes frente a outros d) Há uma diversidade imensa de povos indíge-
grupos sociais com os quais convivemos nas nas no Brasil, o que dificulta a definição de
grandes cidades são, muitas vezes, repletas “o que é ser índio”.
de resquícios de atitudes etnocêntricas. Ro- e) Os povos indígenas podem ser muito diversos
tulamos e aplicamos estereótipos através dos entre si.

19
8. (Uenp) Na madrugada de 1º de novembro de I. As sociedades tribais são tão eficientes para
2009, morre na França o etnólogo e antro- produzir cultura quanto qualquer outra,
pologo Claude Lévi-Strauss aos 101 anos de mesmo quando não possuem certos recur-
idade. Sua morte teve grande repercussão no sos culturais presentes em outras culturas.
Brasil, sobretudo porque foi um dos primei- II. As sociedades selvagens são capazes de
ros professores de sociologia da Universida- produzir cultura, mas estão mal adapta-
de de São Paulo, logo na sua fundação, tendo das ao meio ambiente e, por isso, algu-
feito várias expedições ao Brasil Central. Seu mas nem sequer possuem o Estado.
pensamento influenciou gerações de filóso- III.
As chamadas sociedades indígenas são
dotadas de recursos materiais e simbóli-
fos, antropologos e sociólogos. É correto afir-
cos eficientes para produzir cultura como
mar:
qualquer outra, faltando-lhes apenas
a) A corrente estruturalista, da qual Lévi-
uma linguagem própria.
-Strauss é o principal teórico, surgiu na dé-
IV. As chamadas sociedades primitivas con-
cada de 40 com uma proposta diferente do
seguiram produzir cultura plenamente, ao
funcionalismo, predominante até então. O longo do processo evolutivo, quando insti-
funcionalismo se preocupava com o funcio- tuíram o Estado e as instituições escolares.
namento de cada sociedade e em saber como a) I e II estão corretas.
as coisas existiam na sua função social. O b) Apenas I está correta.
estruturalismo queria saber do trabalho in- c) I e III estão corretas.
telectual. Olhar para os povos indígenas e d) I e IV estão corretas.
buscar uma racionalidade e uma reflexão
propriamente nativa. 10. (UFU) A cultura é uma característica essencial-
b) Lévi-Strauss não encontrou evidências de mente humana, mas nem todas as sociedades
que os povos nativos desenvolvessem um apresentam formas e padrões culturais idênticos.
pensamento selvagem, nem que ocorresse a A partir da afirmação acima, assinale a
passagem de homem natural para o homem alternativa incorreta.
cultural entre os povos indígenas. a) A tolerância e aceitação da diferença permi-
c) Lévi-Strauss acreditava que o homem não é te compreender de forma mais adequada as
uma espécie transitória, e sugeriu uma visão culturas diferentes da nossa a partir de um
essencialista do ser humano, já que o mundo ponto de vista não etnocêntrico.
existe quando o homem o interpreta, che- b) A diferença entre culturas pode ser percebi-
gando a afirmar, em várias passagens, que o da não apenas quando comparamos culturas
mundo começou com o homem e vai termi- distintas, mas também ao observarmos, no
nar com ele. interior das culturas, os grupos e segmentos
d) Lévi-Strauss concorda com Sartre que não diversos que dela fazem parte.
existe oposição entre sociedades com his- c) Compartilhar valores e códigos é essencial
tória e sociedades sem história, sendo que para a definição e compreensão de uma cul-
isso é demonstrando pela sociologia e pela tura, mas isso não significa que a cultura
etnografia contemporâneas ao constatarem seja homogênea e que os indivíduos partici-
que toda sociedade se desenvolve no curso pem dela sempre da mesma forma.
de uma história específica. d) Os povos que não tiveram contato com
e) Não pode ser atribuído ao legado de Lévi- outras culturas mantêm-se inalterados ao
-Strauss o respeito ao pensamento dos cha- longo do tempo, pois a cultura tem por
característica ser estática.
mados povos primitivos, em especial dos po-
vos indígenas da América, pelas diferenças
culturais e pela diversidade, sem as quais a

Gabarito
criatividade humana cessa e, por tudo que
há no mundo, antes e depois da passagem
do humano pela Terra.
1. A 2. C 3. A 4. A 5. C
9. (UFU) “Todo sistema cultural tem a sua pró-
6. C 7. C 8. A 9. B 10. D
pria lógica e não passa de um ato primário
de etnocentrismo tentar transferir a lógica
de um sistema para outro.”
LARAIA, Roque. Cultura, um conceito antropológico.
8ª ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

Considerando o texto acima, marque a alter-


nativa correta acerca das afirmações abaixo.

20
Aula 11

Cultura
Competências 1, 2, 3, 4 e 5
Habilidades 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
13, 15, 16, 18, 20, 22, 23, 24 e 25
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Cultura

Definição de cultura
O conceito de cultura compreende, de um modo geral, a soma das atividades humanas (e dos produtos dessas ativi-
dades) que surgem no âmbito da sociedade. Isto é, toda ação humana é, em algum nível, uma ação cultural. O uso
da palavra em diferentes contextos, no entanto, torna esse problema mais complexo. Por isso, o teórico inglês Terry
Eagleton afirma: “‘cultura’é uma das duas ou três palavras mais complexas da língua inglesa”. Já em outros idiomas,
como o alemão, o termo correlato a “cultura” (“kultur”) pode também significar “sociedade”. Afinal, então, o que é
“cultura”?
A princípio, pode-se dizer que tudo faz parte da cultura, na medida em que qualquer ato humano se insere em
uma ambiente social específico. Ir ao banheiro, por exemplo, é um ato da cultura: só se vai a um banheiro, porque a
ideia de “banheiro” foi inventada por seres humanos como uma forma socialmente (e culturalmente) aceita de realizar
suas necessidades fisiológicas. Do mesmo modo, só se vai ao banheiro de uma forma X ou Y porque essa é a forma
socialmente (e culturalmente) aceita de ir ao banheiro. Ou seja: não existe uma ação humana que não seja um ato da
cultura. Tudo é cultural.
Por outro lado, a palavra “cultura” costuma ser empregada de diferentes formas. Vejamos:
Quando uma pessoa apresenta um repertório vasto, demonstrando conhecer muitos dados literários, filosóficos
e artísticos, diz-se que ela tem “muita cultura”. Isso porque, historicamente, determinadas atividades humanas - como
as atividades intelectuais (a arte, a filosofia etc.) – podem ser mais valorizadas do que outras. Dizer, portanto, que
uma pessoa tem “mais cultura do que outra” significa dizer que essa pessoa está associada a atividades socialmente
mais valorizadas do que outras. Mas dizer isso, por outro lado, é – por si só – um ato cultural. Pois nem todas culturas
consideram as atividades intelectuais mais elevadas. Para a sociedade helênica clássica, por exemplo, o esporte era
considerado uma reverência aos deuses, o que tornava as atividades esportivas muito importantes. Nesse contexto, não
faria sentido dizer que um filósofo tem “mais cultura” do que um maratonista: o maratonista também era responsável
por desempenhar uma atividade cultural das mais valorizadas. Já no Brasil atual, não se costuma dizer que um ótimo
jogador de futebol tem “mais cultura” do que um grande filósofo somente porque ele joga futebol muito bem.
Ou seja: a ideia de cultura também se define culturalmente – também, digamos, varia de cultura para cultura.

Alta cultura e cultura popular


Pode-se dizer que a ideia de “alta cultura” remete às atividades sociais muito valorizadas – as quais, muitas vezes,
exigem grande competência em determinado domínio. Isso, no entanto, não basta para classificar um fenômeno
cultural. Mozart, por exemplo, costuma ser associado à alta cultura, assim como os grandes músicos clássicos.
Já um músico do pagode brasileiro costuma ser associado ao domínio da cultura popular, independentemente
do quão hábil seja com seu instrumento. Isso é particularmente curioso quando pensamos que o próprio Mozart
custou a se estabelecer como um músico clássico, já que suas peças eram tidas como excessivamente populares ou
mesmo vulgares pelo gosto europeu do século XVIII.
Podemos dizer, então, que todas as atividades humanas são atividades culturais – mas apenas algumas são
classificadas como “alta cultura”. Essa classificação é estabelecida pelas instituições da própria cultura – como
universidades, veículos de crítica, etc – e pode variar conforme variem outros dados da própria cultura.
Já ao domínio da cultura popular costumam ser associados quaisquer outros fenômenos sociais que se
tornem comuns e recorrentes e/ou se transformem em costumes. Assim, pertencem à cultura popular não apenas
o pagode e o samba, mas também o futebol, a feijoada e assim por diante.

23
Certamente, isso não quer dizer que a “alta cul- Quando se trata de costumes, porém, certamente
tura” e a “cultura popular” sejam domínios fechados e alguns fenômenos da cultura adquirem maior importân-
impenetráveis. A cultura é extremamente fluida. Frequen- cia do que outros, à medida em que se tornam mais cor-
temente ambos os domínios interagem e se interpene- riqueiros e socialmente mais constantes e/ou relevantes.
tram. O músico paulistano Paulo Vanzolini, por exemplo, Esses costumes podem não serem classificados como
compôs a canção “samba erudito”, mesclando o estilo “alta cultura”, mas podem chegar até mesmo a ser fun-
mais popular da música brasileira a elementos da música damentais para uma comunidade (como um país).
erudita. Inúmeros outros exemplos existem nesse sentido. Isso não necessariamente quer dizer que esses
Além do mais, como Mozart, um dado da cultura pode costumes sejam “bons”. Em uma sociedade machista,
passar do domínio da “alta cultura” para o da “cultura por exemplo, é costume deixar o trabalho doméstico para
popular” e vice-versa. as mulheres. Esse fato é profundamente enraizado na cul-
tura brasileira, mas está sendo cada vez mais questiona-
do e combatido. Pois essa é outra característica da cultu-
ra: ela é um terreno de constante e interminável disputa.

Aculturação
Como já vimos, portanto, as culturas se formam em
meio à interação dos seres humanos entre si e com a
natureza – ou seja: acompanham os processos sociais.
Eventualmente, porém, diferentes culturas podem se
chocar, o que dá origem a conflitos.
Um exemplo de choque cultural muito significa-
Mozart: música erudito já foi considerado popular
tivo foi a colonização da América Latina. Nesse proces-
so histórico, a cultura indígena entrou em conflito aber-
to com a cultura europeia: Os indígenas possuíam sua
Cultura e costumes própria religião, sua própria língua, sua própria arte, sua
própria culinária, sua própria economia, seus próprios
Como já vimos, tudo faz parte da cultura: não apenas costumes – enfim, sua própria cultura; e o mesmo era
as artes ou atividades intelectuais, mas também os atos válido para os portugueses e espanhóis.
mais triviais (como ir ao banheiro). Nesse sentido, a aca- Esse conflito era, sobretudo, um problema eco-
rajé, o chinelo, o pandeiro e o campeonato brasileiro de nômico, pois os europeus desejavam, como se sabe,
futebol são elementos da cultura popular brasileira. E colonizar o chamado “novo mundo”, dominando-o
o fato do grande músico erudito Heitor Villa-Lobos fa- economicamente. Nesse cenário, a solução foi a mais
zer parte do domínio da “alta cultura” nacional não faz violenta possível: os europeus impuseram sua cultura
com que ele seja “mais” ou “menos” parte da cultura sobre os indígenas, proibindo elementos da cultura des-
como um todo. Novamente: tudo é cultural. tes últimos e os exterminando. Com o passar do tempo,
os indígenas assimilaram a cultura do dominador, pas-
saram a falar sua língua, a adorar seus Deuses, adotar
seus costumes e assim por diante. A esse processo se dá
o nome de “aculturação”.
Contudo, até hoje a cultura indígena permanece
viva. Mas, dada a profundidade da destruição violenta
desta pelo europeu, hoje é preciso que ela lute para
sobreviver. Nesse sentido, a cultura indígena se tornou
um dado a ser preservado, sob o risco de se extinguir.
Existem inúmeros exemplos de aculturação na
Feijoada: elemento da cultura brasileira História.

24
Conflitos culturais Contracultura
O conflito entre indígenas e europeus durante a coloni- Determinadas culturas são hegemônicas – isto é: deter-
zação é apenas um exemplo de embate cultural entre minadas culturas têm seus elementos compartilhados e
muitos. Hoje, os choques culturais ainda causam muitos aceitos pelo conjunto de uma comunidade. A constituição
problemas. dessa hegemonia pode se dar, inclusive, por um processo
Em 2010, por exemplo, o Senado francês apro- muito violento (como é o caso do conflito entre europeus
vou uma lei que proibiu as mulheres muçulmanas de e indígenas, o qual já conhecemos). Isso, porém, não quer
usarem a burca e o nicabe, espécies de véus islâmicos dizer que essa hegemonia não possa ser enfrentada. Nes-
que cobrem todo o rosto, diferentes do hijab e do xa- ses casos, têm-se o que se chama de “contracultura” –
dor, que não cobrem a face. O debate sobre o uso de isto é, a constituição de elementos alternativos que bus-
vestimentas islâmicas para as mulheres causa grande cam se opor aos elementos dominantes.
Um exemplo: a Rebelião de Stonewall foi uma sé-
polêmica em outros países europeus que têm iniciativas
rie de violentas manifestações espontâneas de membros
legislativas parecidas, como a Itália, a Holanda, algumas
da comunidade LGBT contra uma invasão da polícia de
regiões da Bélgica e da Alemanha.
Nova York que aconteceu nas primeiras horas da manhã
de 28 de junho de 1969, no bar Stonewall Inn, localizado
no bairro de Greenwich Village, em Manhattan, em Nova
York, nos Estados Unidos. Esses motins são amplamente
considerados como o evento mais importante que levou
ao movimento moderno de libertação gay e à luta pelos
direitos LGBT no país. Neles, os homossexuais, transexu-
ais (etc), se opunham à repressão de sua cultura, que se
expressava, em sua forma mais violenta, na invasão de
seus bares pelos policiais. Nesse caso, os policiais repre-
sentavam a imposição de uma cultura hegemônica - pois
a sociedade norte-americana expressava severos sinais
de homofobia. Já a rebelião de Stonewall representa a
emergência de uma contracultura, isto é, de uma cultura
que se opõe à cultura dominante.

Mulher usa burca na Alemanha

Para os muçulmanos, logicamente, esse dado


significa uma violência, uma proibição à própria cultu-
ra. Nesse sentido, muitas pessoas argumentam também
que a proibição do véu estimula o preconceito. Já para
os proponentes da lei em questão, esta se trataria de
uma importante medida de prevenção ao terrorismo, já
que o véu cobre a face, podendo facilitar a fuga de pra-
ticantes de atos terroristas.
A questão se torna ainda mais polêmica quan- Rebelião de Stonewall
to determinadas práticas culturais são, em si, coloca-
das em questão pelos valores de outras culturas. Nesse Inúmeros exemplos contraculturais existem e,
caso, por exemplo, muitas pessoas argumentam que o hoje, adquirem maior visibilidade e relevância. São
véu é uma instituição machista da cultura islâmica cuja esses os casos dos movimentos: feminista, LGBT (lés-
função é reprimir a mulher. Mas, mesmo que assim seja, bicas, gays, bissexuais e transexuais), negro (contra o
racismo e pela igualdade racial), contra a xenofobia,
isso permite a uma outra cultura proibi-lo? Fazer isso
contra a proibição das drogas, entre muitos outros.
não seria um gesto de intolerância à cultura do outro?

25
O que é Patrimônio Cultural? Um exemplo de patrimônio cultural é o chamado "Ruínas
Patrimônio Histórico? Patrimô- de São Francisco", em Curitiba. Trata-se de uma igreja
nio Ambiental ou Natural? originalmente dedicada a São Francisco, mas que ficou
inacabada. Anos depois, foi erguida em local próximo, no
Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Natural) que é hoje chamado Largo da Ordem de São Francisco
"O Patrimônio Cultural de uma nação, de uma região das Chagas, no centro da cidade.
ou de uma comunidade é composto de todas as ex-
pressões materiais e espirituais que lhe constituem, 3. Patrimônio Ambiental ou Natural
incluindo o meio ambiente natural".
(Declaração de Caracas - 1992). É a inter-relação do homem com seus semelhantes e
tudo o que o envolve, como o meio ambiente, fauna,
Mas, afinal, o que é Patrimônio?
flora, ar, minerais, rios, oceanos, manguezais, e tudo o
O conceito de Patrimônio não existe isolado. Só existe
que eles contêm. Esses elementos estão em contato
em relação a alguma coisa. Podemos dizer que Patri-
com o homem, e acabam interagindo, e até mesmo
mônio é o conjunto de bens materiais e/ou imateriais
interferindo no seu cotidiano.
que contam a história de um povo e sua relação com o
Um exemplo de patrimônio ambiental/natural é o "Ca-
meio ambiente. É o legado que herdamos do passado
minho do Itupava", antiga trilha indígena. São 22 km
e que transmitimos a gerações futuras.
mata adentro, entre as cidades de Curitiba e Morretes,
O Patrimônio pode ser classificado em Histórico, Cul-
e que mais tarde serviu de caminho para os tropeiros,
tural e Ambiental.
quando então recebeu calçamento de pedras. Só pode
1. Patrimônio Histórico ser utilizada a pé, dando aos que o conhecem a possi-
bilidade de ver a natureza em todo o seu esplendor de
É o conjunto de bens que contam a história de uma animais silvestres, rios, cachoeiras, rica flora e monta-
geração através de sua arquitetura, vestes, acessó- nhas, permeado de lendas e assombrações.
rios, mobílias, utensílios, armas, ferramentas, meios de Um patrimônio pode ser MATERIAL ou IMATERIAL.
transportes, obras de arte, documentos. Podemos dizer que patrimônio material são os aspectos
Até final da década de 1970, tinha caráter político/ mais concretos da vida humana, e que fornecem informa-
elitista. A partir de 1980, passaram a ser consideradas ções sobre as pessoas. Cultura material é o mesmo que
outras etnias e classes sociais. objeto ou artefato.
O Patrimônio Histórico é importante para a compre- Patrimônio material é o conjunto de manifestações po-
ensão da identidade histórica, para que os seus bens pulares de um povo, transmitidos oral ou festualmente,
não se desarmonizem ou desequilibrem, e para manter recriados e modificados ao longo do tempo.
vivos os usos e costumes populares de uma determi- Os locais dotados de expressivos valores para a Histó-
nada sociedade. ria, assim como as paisagens, também são representa-
Um exemplo de patrimônio histórico é a Universidade Fe- ções do patrimônio imaterial. A escolha desse tipo de
deral do Paraná. Localizada no centro de Curitiba, capital patrimônio acontece de 2 em 2 anos, através de um
do estado, foi a primeira universidade criada no Brasil. júri internacional.
Características de um patrimônio
2. Patrimônio Cultural A principal característica de um patrimônio é que a sua
conservação seja de interesse público, quer por sua vin-
É o conjunto de bens materiais e/ou imateriais, que
culação a fatos memoráveis da história do lugar e de
conta a história de um povo através de seus costumes,
seu povo, quer por seu excepcional valor arqueológico,
comidas típicas, religiões, lendas, cantos, danças, lin-
guagem superstições, rituais, festas. etnográfico, bibliográfico ou artístico.
Uma das principais fontes de patrimônio cultural está Documentos patrimoniais
nos sítios arqueológicos que revelam a história de civi- São aqueles que carreiam informações relevantes, e que
lizações antiquíssimas. ensinam os mecanismos por meio dos quais uma socie-
Através do patrimônio cultural é possível conscientizar dade se organiza e transforma.
os indivíduos, proporcionando aos mesmos a aquisi- Disponível em http://coral.ufsm.br/ppgppc/
index.php/duvidas-e-dicas/78-patrimonio-
ção de conhecimentos para a compreensão da história -historico-cultural-e-ambiental-natural
local, adequando-os à sua própria história. Daí a sua
importância.

26
ASSISTIR

Vídeos Sociologia #3 - Cultura

Fonte: Youtube

Vídeos Apropriação Cultural - Atualidades

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Vídeos Aculturação

Fonte: Youtube

Vídeos Contracultura

Fonte: Youtube

28
ASSISTIR

Filme A luta pelo direito de amar – Stonewall

O roteiro de Jon Robin Baitz acompanha Danny (Jeremy Irvine, de Cavalo


de Guerra), um jovem expulso de casa que encontra aceitação na cena
gay de Nova York. Por lá, ele conhece pessoas como o gentil Trevor
(Jonathan Rhys Meyers) e o explorador (Ron Perlman), em uma série de
acontecimentos que culminarão no levante de 28 de junho de 1969

Filme As sufragistas

O início da luta do movimento feminista e os métodos incomuns


de batalha. A história das mulheres que enfrentaram seus limites
na luta por igualdade e pelo direito de voto. Elas resistiam à
opressão de forma passiva, mas, a partir do momento em que
começaram a sofrer uma crescente agressão da polícia, decidiram
se rebelar publicamente.

Filme Aguirre, a cólera dos deuses

Baseado em fatos históricos, o filme se inspirou na expedição


de conquistadores espanhóis enviados por Gonzalo Pizarro,
governador de Quito, em busca de El Dorado, a lendária cidade
de ouro, em 1541-1542. No filme, a expedição se deu em 1561 e
foi comandada por Dom Pedro de Urzúa e Lope de Aguirre.

29
INTERDISCIPLINARIDADE

Cultura e Biologia: o exemplo negativo do Conde de Gobineau

Joseph Arthur de Gobineau era filho de uma bem estabelecida família aristocrática do interior da França. Se tornou
diplomata, mas se celebrizou como ensaísta ao escrever o Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas (1855),
seu livro mais célebre, um dos primeiros trabalhos de eugenia e racismo publicados no século XIX.
Segundo ele, a mistura de raças (miscigenação) era inevitável e levaria a raça humana a graus sempre maio-
res de degenerescência física e cultural.
Sua segunda missão diplomática foi no Brasil, onde chegou em 1869, enviado por Napoleão III. Não con-
seguiu ver com bons olhos nenhum aspecto da sociedade brasileira, a não ser seus encontros com D. Pedro II. Para
ele o Brasil não tinha futuro, país marcado pela presença de raças que julgava inferiores. A única saída para os
brasileiros, seria o incentivo à imigração de “raças” europeias, por ele consideradas superiores.
As teorias do conde de Gobineau são um exemplo do fracasso racista em combinar ramos da biologia (ge-
nética) e análises da cultura – em primeiro lugar, porque, como provaria o antropólogo francês Claude Levi-Strauss,
o conceito de raça é falso, visto a raça humana ser uma única; em segundo lugar, a própria ciência comprovaria
que a miscigenação constitui um dos principais fatores de desenvolvimento biológico das populações. Por fim,
Gobineau entrou para a história como um aristocrata racista e preconceituoso, sem ter oferecido nenhuma con-
tribuição à ciência. Seu exemplo nos serve, hoje, para lembrar quão infrutíferas e perigosas são as tentativas de
explicar fatores culturais por características da biologia.

30
Estrutura Conceitual

Cultura
Aculturação Contracultura
(erudita e popular)

Absorção de outra cultura Movimentos de


Formas de agir, pensar e
por um indivíduo, um contestação à cultura
sentir de uma coletividade
grupo ou uma nação vigente

Não são natas: Exemplos: Exemplos:


aprendidas durante a Índios vestindo-se Punks
socialização Uso de expressões estrangeiras Hippies

Caráter anticapitalista

32
Aprofunde seus conhecimentos
1. (Enem) Participei de uma entrevista com o d) um modo de utilizar os ingredientes prove-
músico Renato Teixeira. Certa hora, alguém nientes do extrativismo, associado ao noma-
pediu para listar as diferenças entre a mú- dismo dos quilombos.
sica sertaneja antiga e a atual. A resposta e) uma imposição de identidade cultural, pelo uso
dele surpreendeu a todos: “Não há dife- de produtos cultivados em áreas sertanejas.
rença alguma. A música caipira sempre foi
a mesma. É uma música que espelha a vida 3. (Enem)
do homem no campo, e a música não mente.
O que mudou não foi a música, mas a vida
no campo”. Faz todo sentido: a música cai-
pira de raiz exalava uma solidão, um certo
distanciamento do país “moderno”. Exigir o
mesmo de uma música feita hoje, num in-
terior conectado, globalizado e rico como o
que temos, é impossível. Para o bem ou para
o mal, a música reflete seu próprio tempo.
BARCINSKI. A. Mudou a música ou mudaram os caipiras?
Folha de São Paulo, 4 jun. 2012 (adaptado).

A questão cultural indicada no texto res-


salta o seguinte aspecto socioeconômico
do atual campo brasileiro:
a) Crescimento do sistema de produção extensiva.
b) Expansão de atividades das novas ruralidades.
c) Persistência de relações de trabalho compulsório.
A Estátua do Laçador, tombada como pa-
d) Contenção da política de subsídios agrícolas.
trimônio em 2001, é um monumento de
e) Fortalecimento do modelo de organização cooperativa. Porto Alegre/RS, que representa o gaúcho
(em trajes típicos).
2. (UFG) Leia a receita apresentada a seguir. Disponível em: www.portoalegre.tur.br.
Acessado em: 3 ago. 2012 (adaptado).
TACACÁ
O monumento identifica um(a)
2 litros de tucupi temperado a) exemplo de bem imaterial.
4 dentes de alho b) forma de exposição da individualidade.
4 pimentas de cheiro c) modo de enaltecer os ideais de liberdade.
4 maços de jambu d) manifestação histórico-cultural de uma população.
½ kg de camarão e) maneira de propor mudanças nos costumes.
½ xícara de goma de mandioca
Sal a gosto 4. (Enem) Seguiam-se vinte criados custosamen-
Modo de servir: muito quente, em cuias, te vestidos e montados em soberbos cavalos;
temperado com pimenta. depois destes, marchava o Embaixador do Rei
Disponível em: <www.receitastipicas.com/receita/ do Congo magnificamente ornado de seda azul
tacaca.html>. Acesso em: 9 set. 2013. para anunciar ao Senado que a vinda do Rei
estava destinada para o dia dezesseis. Em res-
Comer é um ato social, histórico, geográfico, posta obteve repetidas vivas do povo que con-
religioso, econômico e cultural. O preparo dos correu alegre e admirado de tanta grandeza.
alimentos, a escolha dos ingredientes e a ma- “Coroação do Rei do Congo em Santo Amaro”, Bahia
neira de servir identificam um grupo social apud DEL PRIORE, M. Festas e utopias no Brasil colonial.
e ajudam a estabelecer uma identidade cul- In: CATELLI JR., R. Um olhar sobre as festas populares
tural. Essa receita, “Tacacá”, comida muito brasileiras. São Paulo: Brasiliense, 1994 (adaptado).
apreciada na culinária paraense, demonstra
a) uma interação cultural, com a incorporação Originária dos tempos coloniais, a festa da Coro-
de ingredientes advindos de tradições culi- ação do Rei do Congo evidencia um processo de
nárias distintas. a) exclusão social.
b) um modo de preparo espontâneo, associado b) imposição religiosa.
aos padrões culinários da colônia. c) acomodação política.
c) um modelo ritualista de servir, vinculado ao d) supressão simbólica.
formalismo religioso africano. e) ressignificação cultural.

33
5. (Enem) No final do século XIX, as Grandes Sociedades carnavalescas alcançaram ampla populari-
dade entre os foliões cariocas. Tais sociedades cultivavam um pretensioso objetivo em relação à
comemoração carnavalesca em si mesma: com seus desfiles de carros enfeitados pelas principais
ruas da cidade, pretendiam abolir o entrudo (brincadeira que consistia em jogar água nos foliões)
e outras práticas difundidas entre a população desde os tempos coloniais, substituindo-os por for-
mas de diversão que consideravam mais civilizadas, inspiradas nos carnavais de Veneza. Contudo,
ninguém parecia disposto a abrir mão de suas diversões para assistir ao carnaval das sociedades. O
entrudo, na visão dos seus animados praticantes, poderia coexistir perfeitamente com os desfiles.
PEREIRA, C. S. Os senhores da alegria: a presença das mulheres nas Grandes Sociedades carnavalescas cariocas em fins do século XIX.
In: CUNHA, M. C. P. Carnavais e outras frestas: ensaios de história social da cultura. Campinas: Unicamp; Cecult, 2002 (adaptado).

Manifestações culturais como o carnaval também têm sua própria história, sendo constantemente
reinventadas ao longo do tempo. A atuação das Grandes Sociedades, descrita no texto, mostra que
o carnaval representava um momento em que as
a) distinções sociais eram deixadas de lado em nome da celebração.
b) aspirações cosmopolitas da elite impediam a realização da festa fora dos clubes.
c) liberdades individuais eram extintas pelas regras das autoridades públicas.
d) tradições populares se transformavam em matéria de disputas sociais.
e) perseguições policiais tinham caráter xenófobo por repudiarem tradições estrangeiras.

6. (Unesp) Cada cultura tem suas virtudes, seus vícios, seus conhecimentos, seus modos de vida, seus erros, suas
ilusões. Na nossa atual era planetária, o mais importante é cada nação aspirar a integrar aquilo que as outras
têm de melhor, e a buscar a simbiose do melhor de todas as culturas. A França deve ser considerada em sua
história não somente segundo os ideais de Liberdade-Igualdade-Fraternidade promulgados por sua Revolução,
mas também segundo o comportamento de uma potência que, como seus vizinhos europeus, praticou durante
séculos a escravidão em massa, e em sua colonização oprimiu povos e negou suas aspirações à emancipação. Há
uma barbárie europeia cuja cultura produziu o colonialismo e os totalitarismos fascistas, nazistas, comunistas.
Devemos considerar uma cultura não somente segundo seus nobres ideais, mas também segundo sua maneira
de camuflar sua barbárie sob esses ideais.
(Edgard Morin. Le Monde, 08.02.2012. Adaptado.)

No texto citado, o pensador contemporâneo Edgard Morin desenvolve


a) reflexões elogiosas acerca das consequências do etnocentrismo ocidental sobre outras culturas.
b) um ponto de vista idealista sobre a expansão dos ideais da Revolução Francesa na história.
c) argumentos que defendem o isolamento como forma de proteção dos valores culturais.
d) uma reflexão crítica acerca do contato entre a cultura ocidental e outras culturas na história.
e) uma defesa do caráter absoluto dos valores culturais da Revolução Francesa.

7. (Upe-ssa) Leia o texto a seguir:


(...) resultante de uma pluralidade de formas de intercâmbio entre diversos modos culturais – cultura erudita, po-
pular, empresarial, etc. – que geram processos de adaptação, assimilação, empréstimo, sincretismo, interpretação,
resistência (...), ou rejeição de componentes de um sistema identitário por um outro sistema identitário. Modos
culturais compósitos, como óperas montadas em estádios de futebol, espetáculos de dança moderna apoiados em
manifestações de origem popular, como jazz, etc. (...).
COELHO, T. Dicionário crítico de política cultural. 3. ed.
São Paulo: FAPESP/ Iluminuras, 2004, p. 36.

Sobre o processo cultural descrito no texto, é CORRETO afirmar que


a) os fatores endógenos são as causas desse processo cultural.
b) a característica fundamental desse processo cultural é a fusão de valores, hábitos e costumes entre
diferentes grupos sociais.
c) as mudanças ocorrem rapidamente, já no primeiro contato dos traços culturais de dois ou mais grupos
sociais.
d) o processo de aprendizagem interna dos elementos que compõem a cultura do grupo social caracteriza
esse processo cultural.
e) o principal elemento constitutivo desse processo é a adoção, por parte de um indivíduo, de um traço
cultural do seu grupo, por meio da imitação ou do comportamento copiado.

34
8. (UERJ) O século XXI tem assistido à ampliação do debate acerca das uniões homoafetivas, o que
possibilitou algumas mudanças, como a observada no quadro.

Essa mudança de costumes expressa principalmente o reconhecimento do seguinte princípio entre


os direitos humanos:
a) inclusão política
b) diversidade cultural
c) uniformidade jurídica
d) igualdade econômica

9. (UEL) Leia o texto a seguir.


O homem ocidental nem sempre se comportou da maneira que estamos acostumados a considerar como
típica ou como sinal característico do homem “civilizado”. Se um homem da atual sociedade civilizada
ocidental fosse, de repente, transportado para uma época remota de sua própria sociedade, tal como
o período medievo-feudal, descobriria nele muito do que julga “incivilizado” em outras sociedades
modernas. Sua reação em pouco diferiria da que nele é despertada no presente pelo comportamento
de pessoas que vivem em sociedades feudais fora do Mundo Ocidental. Dependendo de sua situação
e de suas inclinações, sentir-se-ia atraído pela vida mais desregrada, mais descontraída e aventurosa
das classes superiores dessa sociedade ou repelido pelos costumes “bárbaros”, pela pobreza e rudeza
que nele encontraria. E como quer que entendesse sua própria “civilização”, ele concluiria, da maneira
a mais inequívoca, que a sociedade existente nesses tempos pretéritos da história ocidental não era
“civilizada” no mesmo sentido e no mesmo grau que a sociedade ocidental moderna.
Adaptado de: ELIAS, N. O processo civilizador. v. 1. 2. ed.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994, p. 13.

Com base no texto e nos conhecimentos de Norbert Elias sobre as normas e as emoções disseminadas nas prá-
ticas cotidianas, especialmente no tocante à formação da civilização na sociedade moderna ocidental, assinale
a alternativa correta.
a) A construção social do processo civilizador comprova que este é um fenômeno sem características evolutivas,
dadas as sucessivas rupturas e descontinuidades observadas, por exemplo, em relação aos controles das fun-
ções corporais.
b) Os estudos do processo civilizador comprovam que as emoções são inatas, com origem primitiva, o que
garante a empatia entre indivíduos de diversas sociedades e culturas, bem como de diferentes classes
sociais.
c) Os mecanismos de controle e de vigilância da sociedade sobre as maneiras de gerenciar as funções
corporais correspondem a um aparelho de repressão que se forma na economia política da sociedade,
sendo, portanto, exterior aos indivíduos.
d) O modo de se alimentar, o cuidado de si, a relação com o corpo e as emoções em resposta às funções
corporais são produtos de um processo civilizador, de longa duração, por meio do qual se transmitem aos
indivíduos as regras sociais.
e) O processo civilizador propiciou sucessivas aproximações sociais entre o mundo dos adultos e o das
crianças, favorecendo a transição entre etapas geracionais e reduzindo o embaraço com temas relativos
à sexualidade.

35
10. (UPE-SSA) Trata-se de um processo de aqui-
sição, que ocorre por meio de vários grupos
de culturas diversas, permitindo que indiví-
duos de uma cultura aprendam o comporta-
mento ou as tradições de indivíduos de outra
cultura. É errado pensar que uma cultura de-
sapareça por completo, após sofrer influên-
cias de outra cultura. A cultura morre junto
com o seu povo e, muitas vezes, se fortalece
quando mescla sua cultura com a de outros
povos. Devemos considerar que, mesmo nos
tempos feudais e mercantis, nenhum povo
conseguia viver constantemente isolado e
que a cultura é um processo dinâmico em
constante formação e expansão. A cultura
não é estática ou mórbida, seja por fatores
históricos, humanos e até mesmo bélicos; ela
é capaz de perder, reaver ou absorver novas
referências durante o processo de consolida-
ção ou reorganização de uma sociedade.

Ao processo cultural descrito no texto


acima dá-se o nome de:
a) Endoculturação.
b) Etnocentrismo.
c) Desigualdade.
d) Contracultura.
e) Aculturação.

Gabarito
1. B 2. A 3. D 4. E 5. D
6. D 7. B 8. B 9. D 10. E

36
econômica

política

profissional

Aula 12

Estratificação social
e suas formas
Competências 1, 2, 3, 4 e 5
Habilidades 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
13, 15, 16, 18, 20, 22, 23, 24 e 25
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Estratificação social e suas formas

Introdução
Estratificação Social é o agrupamento dos membros de uma sociedade em camadas ou estratos superpostos e
hierarquizados segundo algum critério de importância sociológica.
Praticamente todas as sociedades desenvolvem sistemas de relações hierárquicas ou estratificação social.
Se não existisse estratificação em uma sociedade, esta, necessariamente, possuiria uma população pequena e
homogênea. Suas ocupações seriam de tal natureza, que não existiria qualquer divisão de trabalho, nem haveria
competição, nem conflito. É difícil imaginar uma sociedade que atenda a estas condições, a não ser em circunstân-
cias muito incomuns ou realmente primitivas, pois uma sociedade mal consegue durar sem uma divisão de suas
funções sociais.
A origem básica da estratificação repousa na tendência universal para avaliar socialmente as diferenças
consequentes às distinções biológicas e culturais das pessoas. Estas variações socialmente significativas condu-
zem a posições diferenciadas que acarretam doses distintas de prestígio e consideração. Já que algumas destas
diferenças estão ligadas às posições na sociedade, o respeito, a consideração, o prestígio e o poder a elas ficam
associados.

A sociedade de Castas
A sociedade de castas é marcada pela rigidez na hierarquização. Baseia-se na hereditariedade, na profissão, na
etnia, na religião, determinando uma situação de respeitabilidade. A definição desses critérios ocorre a partir de um
conjunto de valores, hábitos e costumes definidos pela tradição.
O sistema de castas assenta-se numa relação de privilégios que alguns indivíduos possuem em detrimento
dos demais. Esse tipo de organização social parte do pressuposto de que os direitos são desiguais por natureza,
uma vez que os elementos que os caracterizam são definidos fora dos indivíduos – por exemplo, o critério para a
definição de cargos e profissões se dava pela hereditariedade (o guerreiro, o sacerdote fariam os seus filhos tam-
bém guerreiros e sacerdotes).
Pode-se dizer que, nas sociedades antigas, a organização social baseava-se no sistema de castas. As desi-
gualdades políticas, jurídicas, religiosas, etc. expressavam-se através do lugar que o indivíduo ocupava na estrutura
de cargos e profissões, definidos pela hereditariedade, em primeiro plano.
A Grécia antiga pode ser tomada como exemplo da especialização hereditária, com a caracterização das famí-
lias a partir de suas profissões família de médicos, de sacerdotes, de guerreiros, e assim por diante.
A forma de apropriação da terra dava-se com base num corpo de valores que a legitimava e a deixava
disponível a determinados grupos sociais, sendo inacessível a outros. Acessível, no caso, para os sacerdotes, reis
e soldados. Heródoto (484-425 a.C.) chegou a definir três classificações para a terra: terras militares, terras reais
e terras sagradas.
Note-se, pois, que as desigualdades sociais aparecem no mundo antigo praticamente sem artifícios para
amenizá-las: o escravo nasceu para ser escravo, da mesma forma que alguns homens nasceram para dominar.
Aristóteles (384-322 a.C.) defendia claramente essa ideia.
Ainda hoje, existe na Índia o sistema de castas, embora modificado, pois coexiste com um sistema de
classes sociais; mesmo assim, o estudo dessa sociedade pode oferecer-nos vários elementos para a compreensão
dessa ordem social.

39
Uma das características que marcaram a estratificação social hindu foi a hereditariedade; o nascimento era
a condição básica para se definir uma dada posição na ordem social. A hierarquização dava-se também com base
na hereditariedade e nas profissões, que definiam os indivíduos como pertencentes a grupos de status diferentes.
Nem sempre o caráter hereditário e o profissional convergiam. Por exemplo, dois indivíduos podiam desempenhar
a mesma profissão, mas pertencer a castas diferentes por hereditariedade, o que não os colocava em condições de
igualdade.
Os pertencentes à casta inferior eram considerados impuros e não podiam nem sequer prestar serviços aos
membros das outras castas superiores. A ideia era de que tudo o que os impuros tocassem ficava contaminado,
seja alimento, água ou roupa.
Apenas as castas puras (superiores) eram consideradas aptas a desempenhar funções públicas e a participar
de determinadas atividades religiosas. As castas impuras eram praticamente segregadas, a elas não sendo permi-
tido frequentar escolas, templos etc.
De forma absolutamente generalizada, é possível dizer que as quatro castas principais na Índia, durante
muito tempo, foram: brâmane (brahmin - casta superior a todas), chátria (ksbatriya - casta intermediária formada
pelos guerreiros), vaixiá (vaishya - casta intermediária, mas abaixo da chátria, formada pelos comerciantes, agricul-
tores e pastores) e a sudra ou pária (casta inferior a todas as demais - a dos impuros).
Qualquer exemplo sobre a relação entre as castas na Índia tem que ser regionalizado, uma vez que cada
região conserva um modo próprio de tratar essas questões. Na região de Bengala, as castas se dividiam em dois
grupos principais: os brâmanes e os sudras. Nem todos os sudras eram considerados intocáveis. Havia uma divisão
dos sudras em quatro grupos: sat-sudra e jalacharaniya-sudra (não eram intocáveis), jalabyabahrya-sudra (quase
intocáveis) e asprisya-sudra (totalmente impuros ou intocáveis).
Diante disso, as castas inferiores consideradas totalmente impuras não podiam entrar nos pátios dos gran-
des templos. Na região de Maratha a sombra de um impuro não podia atingir um membro de uma casta superior.
Existiam regiões na Índia que estabeleciam que as castas inferiores tinham de manter uma distância de 24 passos
dos brâmanes para que a sombra de um membro de uma casta inferior não se projetasse jamais sobre um elemento
de uma casta superior.

Disponível em: < http://www.universiaenem.com.br/sistema/faces/pagina/publica/conteu-


do/texto-html.xhtml?redirect=65586078235577153116103251880>

40
Mas como se apresentam as relações entre as castas na atualidade? Pode-se dizer que se mantêm nitida-
mente esses costumes e essas tradições apontados anteriormente, quase na sua totalidade, entre os brâmanes -
casta superior a todas - e entre os sudras - que formam as castas mais inferiores, consideradas impuras. No entanto,
entre as castas intermediárias há algumas diferenças, uma delas é a não-clareza de hierarquia.
Permanecem, porém, os elementos ligados à dieta, que indica a posição da casta na estrutura social. As
castas superiores, por exemplo, não comem alimentos preparados pelos impuros, e um brâmane só se alimenta na
companhia de indivíduos que fazem parte de sua casta.
Outro fator relevante na definição das posições das castas, na organização social hindu, na atualidade, é
o trabalho, já que as atividades consideradas degradantes são vistas como fatores que rebaixam as posições das
castas na estrutura social.
A organização das castas não se dá apenas por critérios econômicos e políticos. É possível assistir a um
membro de uma casta intermediária tratar com todas as diligências definidas pelas tradições outro membro de uma
casta superior, mesmo tendo este último uma situação econômica inferior à daquele primeiro. Isso dá uma ideia da
enorme complexidade do sistema de castas, que envolve não só elementos econômicos e políticos, mas também
questões culturais, que são cultuadas há séculos na sociedade hindu.

Sociedade estamental
A sociedade feudal, que vigorou do século IX ao XIV, tinha a sua organização social baseada em estamentos. A
tradição contava como um dos elementos fundamentais na definição do conjunto de relações estabelecidas entre
os diferentes estamentos: nobreza, clero e servo. A honra, a hereditariedade e a linhagem eram os elementos or-
ganizadores dos estamentos.

41
A sociedade estamental correspondeu a um dado momento da história econômica e política da humani-
dade. As atividades sociais que cada estamento desempenhava nessa ordem social eram encaradas como funções
necessárias à manutenção da sociedade.
Essa relação de privilégios, que tinha fundamento na honra, só era possível porque os estratos não-privi-
legiados também reconheciam, na hereditariedade, na linhagem, a honra do outro. Ou seja, os dominantes incor-
poravam, pelo conjunto de valores culturais vigentes (disseminados e sustentados pela Igreja Católica), a idéia de
que determinados indivíduos estavam, pela tradição, acima dos demais; o que não queria dizer que a aceitação das
regras de dominação abolia a possibilidade de revolta ou o uso da força. O estamento mais importante correspon-
de à nobreza, detentora da terra. O clero tem a supremacia ideológica devido à igreja, e os servos trabalham na
terra. Esses últimos são o estado subordinado aos outros dois.
As lutas entre os estratos sociais existiam, uma vez que a desigualdade de direitos levava, em determinados
momentos, a rebeliões que não desmantelavam a forma de dominação vigente, mas tentavam impor alguns limites
às condições de privilégios de alguns estratos em detrimento dos demais.
A reciprocidade entre o servo (aquele que pagava um tributo pela utilização de um feudo) e o senhor feudal
(aquele que detinha largas extensões de terra) fundava-se na relação estabelecida entre servir e proteger: Não ter
um senhor que lhe desse proteção fazia com que o indivíduo fosse considerado desprotegido pela lei.
Ressalte-se que a propriedade e o uso da terra no feudalismo implicavam contrair uma diversidade de obri-
gações, fazendo com que o proprietário estivesse ligado a uma trama de relações não apenas com o servo. Do pro-
prietário, por exemplo, o rei podia exigir serviços militares. Um nobre proprietário poderia exigir a outro proprietário
de terras, em nome do rei, um número determinado de cavaleiros para atuar na guerra. Dessa forma, para manter
posições de poder, a nobreza exigia obrigação militar de todos os senhores feudais através dos seus vassalos.
No modo de produção feudal, o que alinhava as relações entre os diversos estratos ou estamentos era a
vassalagem. Esta se fundava, como diz Max Weber, no livro Economia e sociedade, numa relação pessoal de fideli-
dade. O vassalo contraía inúmeras obrigações, que tinham sua contrapartida nas obrigações que o senhor assumia
perante ele. Essas obrigações iam além da submissão a um determinado proprietário de terras: era um juramento
de fidelidade que repousava também na força das armas.
Dessa forma, vê-se que o senhor feudal era um tirano sem leis, nos piores casos, ou, nos melhores, um pai
despótico. As obrigações entre eles eram diversas, podendo se enumerar a ajuda de guerra, os ofícios de escudeiro,
as funções da criadagem doméstica, etc.
Existia uma hierarquia de vassalagem que se superpunha a todos os estamentos e os interligava; do estrato
mais inferior (os servos) até o topo da pirâmide social, todos se encontravam ligados por uma trama de obrigações,
reciprocidade e fidelidade.
O nobre proprietário (também denominado suserano ou senhor feudal), embora possuísse diversos vassalos,
era também um vassalo do rei. Este último era o suserano maior e a ele todos deviam obrigações baseadas na
vassalagem.

42
Max Weber afirma que o feudalismo é uma estruturação política patrimonialista por excelência. Isso quer dizer
que a organização política obedecia a uma hierarquização na qual a relação de subordinação se dava a partir das obriga-
ções contraídas entre os diversos estratos com base na posse e no uso da terra (daí a designação patrimonial).
A nobreza com menor extensão de terras e que usava a terra de outro nobre devia-lhe subordinação baseada
no patrimonialismo. O clero também podia estar hierarquicamente superposto à nobreza, uma vez que controlava uma
quantidade exorbitante de terras. O servo era subordinado a um senhor patrimonial, com o qual tinha deveres a cumprir.
O suporte patrimonial das relações estabelecidas definia o tipo de organização política da sociedade
feudal. A administração política, os cargos públicos e as atividades de guerras revelavam o quanto a ordem
política se mantinha com base nas relações patrimoniais. Na base da dominação estamental, a nobreza ocupava
a administração do Estado de forma perfeitamente afinada com os interesses clericais.

As Classes Sociais
As classes sociais propriamente ditas expressam as desigualdades e um modo de interpretação das diferenças so-
ciais intimamente ligados à mentalidade moderna e à sociedade capitalista. A complexidade desse tipo de organi-
zação social define relações que aparecem para os indivíduos de forma nebulosa. Aos indivíduos imersos nessa so-
ciabilidade, só são visíveis e palpáveis as desigualdades gritantes. As relações que produzem essas desigualdades,
contudo, permanecem obscuras, isto é, os fundamentos de sua existência e as formas como elas se reproduzem.
Numa linha de análise marxista, podemos dizer que a apropriação e a expropriação são elementos básicos
que vão delinear o traçado de uma estruturação social desigual. O expropriado é aquele que produz, que age
diretamente no processo de produção. O capitalista apropria-se do resultado dessa produção de forma privada. O
modo de produção capitalista levaria progressivamente à produção de interesses opostos, antagônicos, como parte
do próprio movimento interno da sua estrutura social. As classes se definem como antagônicas tanto no plano
econômico quanto no político. Econômico, no nível da apropriação/expropriação; político, no nível da dominação/
submissão. A divisão da sociedade em classes sociais não é um dado acidental, casual, mas produzido pelas rela-
ções entre os homens. Os sujeitos básicos dessas classes são a burguesia (personificação do capital) e o operariado
(personificação do trabalho assalariado).

Já para Max Weber, em vista da posição em que se situavam em relação ao mercado – se vendedores ou
compradores de bens, serviços ou força de trabalho – os indivíduos poderiam se constituir em uma ou outra classe.
Weber chamou isso de “situação de classe”, ou seja, uma situação que dependeria da posição (comprador ou
vendedor) momentaneamente ocupada. Sendo variável, a posição ocupada na estrutura produtiva não poderia ser
o único fator de estratificação social, nem mesmo estar na origem das revoltas políticas que levariam ao fim do
capitalismo, como vimos em Marx.

43
Classes Sociais (IBGE)
A visão governamental das classes sociais, utilizada pelo IBGE no censo populacional a cada dez anos, é baseada
no número de salários mínimos. Mais simples, divide em apenas cinco faixas de renda ou classes sociais, conforme
a tabela abaixo, válida para este ano (salário mínimo em R$ 937,00 em 2017).
Trata-se de um critério de cálculo fácil e objetivo, mas que leva somente em consideração o salário atual
da pessoa e ignora eventuais conquistas e patrimônio. Mudanças repentinas de salário para cima ou para baixo
podem tornar dar um viés ao resultado e torná-lo impróprio para algumas finalidades.

Classes Sociais por Faixas de Salário-Mínimo (IBGE)

Classe Número de Salários-Mínimos (SM) Renda Familiar (R$) em 2017


A Acima de 20 SM R$ 18.740,01 ou mais
B De 10 a 20 SM R$ 9.370,01 a R$ 18.740,00
C De 4 a 10 SM R$ 3.748,01 a R$ 9.370,00
D De 2 a 4 SM R$ 1.874,01 a R$ 3.748,00
E Até 2 SM Até R$ 1.874,00

44
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeos History channel - Vida medieval

Fonte: Youtube

Vídeos Intocáveis na Índia

Fonte: Youtube

Vídeos Jessé Souza - A construção das classes sociais

Fonte: Youtube

46
LER

Livros
Teorias de Estratificação Social - Octavio Ianni

Obra do brasileiro Octavio Ianni compila e expõe as principais teorias de


estratificação social. Leitura obrigatória para os interessados no tema.

Economia e Sociedade - Max Weber

Economia e sociedade é o grande clássico das ciências sociais, nos


séculos XX e XXI. É, portanto, uma obra indispensável aos sociólogos,
cientistas políticos, historiadores, juristas, economistas e demais
interessados em ciências sociais.

47
INTERDISCIPLINARIDADE

A transição de um tipo de estratificação social para outro quase sempre é acompanhada por rupturas violentas. Um
exemplo claro disso foi a Revolução Francesa, que pôs fim à dominação estamental, instaurando o domínio burguês
e a estratificação por classes no país.
A sociedade francesa do século XVIII era estratificada e hierarquizada. No topo da pirâmide social, estava
o clero que também tinha o privilégio de não pagar impostos. Abaixo do clero, estava a nobreza formada pelo rei,
sua família, condes, duques, marqueses e outros nobres que viviam de banquetes e muito luxo na corte. A base
da sociedade era formada pelo terceiro estado (trabalhadores, camponeses e burguesia) que, sustentava toda a
sociedade com seu trabalho e com o pagamento de altos impostos. Pior era a condição de vida dos desempregados
que aumentavam em larga escala nas cidades francesas.
A vida dos trabalhadores e camponeses era de extrema miséria, portanto, desejavam melhorias na quali-
dade de vida e de trabalho. A burguesia, mesmo tendo uma condição social melhor, desejava uma participação
política maior e mais liberdade econômica em seu trabalho. Com o triunfo da Revolução, a burguesia logrou com
seu projeto.

Queda da Bastilha

48
Estrutura Conceitual

Estratificação
Social

Classes
Castas Estamentos
Sociais

Nenhuma Muita Pouca


mobilidade mobilidade mobilidade

Sociedade Sociedades Sociedades


indiana feudais capitalistas

49
Aprofunde seus conhecimentos
1. (UPE-SSA) Leia o texto a seguir: 3. (UPE-SSA) Observe a imagem a seguir:
Ao estudarmos a estratificação, temos que
considerar não apenas as diferenças entre
posições econômicas ou ocupações mas tam-
bém o que acontece com os indivíduos que as
ocupam. O termo mobilidade social refere-se
ao movimento de indivíduos e grupos entre
diferentes posições socioeconômicas.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6. ed.
Porto Alegre: Penso, 2012, p. 332.

Com base nesse conceito sociológico, qual


dos estratos sociais a seguir NÃO permite a
mobilidade social?
a) Estamento A estratificação social representada nessa
b) Estado imagem é denominada de:
c) Classe social a) Casta.
d) Castas b) Estamento.
c) Classe social.
e) Proletariado d) Camada social socialista.
e) Mobilidade social horizontal.
2. (UPE-SSA) Observe a charge a seguir:
4. (UPE) Observe a figura a seguir:

A sociedade se organiza em camadas ou es-


A estrutura social é um tema presente nos tratos. Estes permitem que os membros do
estudos sociológicos. Com base na charge, é grupo tenham desiguais oportunidades so-
CORRETO afirmar que: ciais e recompensas. A figura apresenta uma
a) a desigualdade social fundamenta-se na ha- maneira de organização dos grupos por ca-
bitação, pois a obtenção de outros elemen- madas ou estratos.
tos de sobrevivência depende, exclusivamen- Sobre esta, é CORRETO afirmar que:
te, dos indivíduos. a) a sociedade brasileira se organiza segundo es-
b) os movimentos sociais funcionam como me- ses critérios com a ressalva de que as oportu-
canismos que incentivam a criação de espa- nidades sociais e recompensas são igualitárias.
ços sociais, a exemplo do apresentado na b) os indivíduos que formam o grupo da figura
charge. pertencem às castas sociais, pois há uma rígi-
c) a estratificação da sociedade brasileira é di- da organização das posições das pessoas pelo
vidida em classes sociais, que são determi- nascimento.
nadas por condições econômicas e sociais de
c) a divisão social é uma forma de estamento,
vida.
pois é regulada por normas, de modo que a
d) o morador de uma das casas da charge com-
para sua residência com a de uma classe so- vida particular, com condições irracionais de
cial superior. Esse fato o deixa satisfeito com consumo, impede a formação livre do mercado.
sua condição social. d) a figura apresenta uma estrutura social for-
e) a classe média no Brasil é caracterizada por mada por classes em que a classe média é
possuir grande acúmulo de dinheiro que a composta pelas pessoas que estão na base
torna uma estrutura social frágil, se compa- da organização e estão sustentando os de-
rada a outras organizações sociais. mais indivíduos do grupo.

50
e) há uma desigualdade social provocada pela O texto acima corresponde a uma crítica à
maneira desigual de distribuição das rique- forma de estratificação que cria a chamada
zas circulantes no grupo social, no qual “Classe C”. Dentre os critérios de estratificação
aqueles que estão mais acima são sustenta- social estudados em Sociologia, quais são os
dos pelos que estão na base do grupo. principais para a definição dessa “Classe C”?
a) Renda e consumo.
5. (Interbits) Basta uma vista de olhos pelas es- b) Escolaridade e renda.
tatísticas ocupacionais de um país pluricon- c) Consumo e capital cultural.
fessional para constatar a notável frequência d) Estilo de vida e acesso a direitos.
de um fenômeno por diversas vezes viva- e) Partido e consumo.
mente discutido na imprensa e na literatura
católicas bem como nos congressos católicos 7. (Ufu) O conceito de classe social, elaborado
da Alemanha: o caráter predominantemente por Marx e por Weber, é útil para evidenciar
protestante dos proprietários do capital e em- que a sociedade tem divisões e diferenças
internas, ou seja, que nem todos os indiví-
presários, assim como das camadas superio-
duos têm a mesma posição na sociedade.
res da mão de obra qualificada, notadamente
Considerando o conceito de classe social
do pessoal de mais alta qualificação técnica
formulado por Marx e por Weber, assina-
ou comercial das empresas modernas.
le a alternativa incorreta.
WEBER, Max. A ética protestante e o “espírito” do
capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 29. a) Para Weber, a relação entre as classes proprietá-
rias e o proletariado moderno é de exploração.
O livro A ética protestante e o “espírito” do b) Para Marx, classe social significa a posição
capitalismo começa com a constatação de uma dos indivíduos nas relações de produção
relação entre dois fenômenos. Que fenôme- e o “motor da história” é a luta travada
nos são esses, expressos no texto acima? entre as classes sociais.
a) Confissão religiosa e estratificação social. c) Para Weber, classe social significa a posição
b) Confissão religiosa e preferência sexual. dos indivíduos em uma escala de estratifi-
c) Estratificação social e desenvolvimento so- cação social, cuja medida é dada pelo mon-
cial. tante de bens e salários, oportunidades de
d) Formação universitária e desenvolvimento eco- renda e capacidade de compra de produtos e
nômico. no mercado de trabalho.
e) Estatística e literatura. d) Para Marx, a relação entre a burguesia e o
proletariado é de conflito.
6. (Interbits) Leia o texto abaixo:
8. (Unicentro) Em relação ao sistema de castas de
uma sociedade, assinale a alternativa correta.
De repente, classe C
a) Existe mobilidade social dentro de uma
sociedade de castas.
Eu me considerava um rapaz razoavelmente
b) A exogamia faz parte dos casamentos reali-
feliz até descobrir que não sou mais pobre e
zados em sociedades de castas.
que agora faço parte da classe C.
c) Não existe mobilidade social dentro de uma
Com a informação, percebi aos poucos que
sociedade de casta.
eu e minha nova classe somos as celebrida-
d) Dentro de um sistema de castas não é impor-
des do momento. Todo mundo fala de nós e,
tante a hereditariedade.
claro, quer nos atingir de alguma forma.
e) Em um sistema de casta não existe a divisão
As empresas viram a luz em cima da minha
entre castas superiores e inferiores.
cabeça e decidiram que minha classe é seu
novo alvo de consumo. Antes, quando eu era
pobre, de certo modo não existia para elas.
9. (Unimontes) O avanço do capitalismo como
modo de produção dominante na Europa oci-
Quer dizer, talvez existisse, mas não tinha
dental foi desestruturando, com velocidade
nome nem capital razoável.
e profundidade variadas, tanto os funda-
De modo que agora elas querem me vender
mentos da vida material como as crenças e
carros, geladeiras de inox, engenhocas ele-
os princípios morais, religiosos, jurídicos e
trônicas, planos de saúde e TV por assinatu-
filosóficos em que se sustentava o sistema
ra. Tudo em parcelas a perder de vista e com
feudal. O esforço para entender as causas e
redução do IPI.
os prováveis desenvolvimentos das novas re-
MACHADO, L. De repente, classe C. Folha de
lações sociais motivou a reflexão que veio a
S. Paulo, São Paulo, 15 jul., 2012.
cristalizar-se na Sociologia.
Adaptado. Disponível em: <http://www1.folha. QUINTANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria L. de
uol.com.br/fsp/opiniao/54594-de-repente- O.; OLIVEIRA, Márcia G. M. de. Um toque de
classe-c.shtml>. Acesso em 16 jul. 2012. clássicos: Marx, Durkheim e Weber.

51
Considerando as reflexões acima, julgue os A alternativa que contém todas as afirmati-
itens a seguir. vas corretas é:
I. A capitalização e modernização da agri- a) I e II
cultura provocaram o êxodo de milhares b) I e III
de famílias que, expulsas de seu habitat c) II e III
ancestral, vagavam à procura de traba- d) I, II e IV
lho. As cidades, receptoras desses fluxos e) II, III e IV
contínuos, foram crescendo acelerada e
desordenadamente junto com inúmeros
problemas sociais.
II. A dinâmica do desenvolvimento capita-
Gabarito
lista e as novas forças sociais por ele ge-
radas provocaram o fortalecimento, mais 1. D 2. C 3. C 4. E 5. A
ou menos rápido, dos estamentos tradi- 6. A 7. A 8. C 9. D 10. B
cionais – aristocracia e campesinato – e
das instituições feudais: servidão, pro-
priedade comunal, organizações corpora-
tivas artesanais e comerciais.
III. A partir da segunda metade do século XVIII,
com as mudanças na estrutura de classes
e o aparecimento de novas forças sociais,
cresceram as pressões por uma maior par-
ticipação política na esfera do Estado, em
muitas das sociedades europeias.
Estão corretos os itens:
a) I, II e III.
b) I e II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I e III, apenas.

1
0. (UEL) De acordo com Octavio Ianni: “Para me-
lhor compreender o processo de estratificação
social, enquanto processo estrutural, convém
partirmos do princípio. Isto é, precisamos
compreender que a maneira pela qual se estra-
tifica uma sociedade depende da maneira pela
qual os homens se reproduzem socialmente”.
Fonte: IANNI, O. Estrutura e História. In IANNI, Octavio
(org). Teorias da Estratificação Social: leitura de
sociologia. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1978, p. 11.

Com base no texto e nos conhecimentos


sobre estratificação social, considere as
afirmativas a seguir.
I. Os estamentos são formas de estratifica-
ção baseadas em categorias socioculturais
como tradição, linhagem, vassalagem,
honra e cavalheirismo.
II. As classes sociais são formas de estratifi-
cação baseadas em renda, religião, raça e
hereditariedade.
III. As mudanças sociais estruturais ocorrem
quando há mudanças significativas na or-
ganização da produção e na divisão social
do trabalho.
IV. As castas são formas de estratificação so-
cial baseadas na propriedade dos meios
de produção e da força de trabalho.

52
©Alberto Henschel

Aula 13

Sociologia brasileira:
Gilberto Freyre e Caio Prado Jr.
Competências 1, 2, 3, 4 e 5
Habilidades 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
13, 15, 16, 18, 20, 22, 23, 24 e 25
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Sociologia brasileira
Os autores aqui tratados compõem a geração de 1930 da teoria social brasileira. Procurando superar as teorias
raciais e biológicas do período, utilizaram-se do estudo da história e de metodologias científicas para basearem
seus argumentos. Lembremos que após a semana de arte moderna de 1922 e da Revolução de 1930, a sociedade
brasileira clamava por progresso material, aliado à industrialização e à constituição de uma nação moderna e ur-
bana. A presença desses autores nas ciências sociais brasileira é recorrente, tornando-se fundamentais a qualquer
estudante e cidadão brasileiro.

Caio Prado Jr. e o Sentido da Colonização


De acordo com Caio Prado Jr., “todo povo tem na sua evolução, vista à distância, um certo ‘sentido’”. Compreender
esse sentido é o objetivo maior de qualquer pesquisador que se propõe a escrever a história de um determinado
povo - pois permitiria entender a “a individualidade da parcela de humanidade que interessa ao pesquisador”. Tal
sentido se constituiria como uma linha mestra que orienta a evolução de um povo de maneira bem definida. Caio
Prado Jr. afirma que este sentido pode variar; “acontecimentos estranhos a ele, transformações internas profundas
do seu equilíbrio ou estrutura, ou mesmo ambas essas circunstâncias conjuntamente, poderão intervir, desviando-o
para outras vias até então ignoradas.”

Para o autor, o sentido da colonização brasileira deve ser compreendido dentro do contexto de “três
séculos de atividade colonizadora que caracterizam a história dos países europeus a partir do século XV”; para ele,
a colonização brasileira derivaria de acontecimentos anteriores a ela, que teriam papel fundamental nos seus des-
dobramentos - e não seria outra coisa senão apenas mais um episódio de um imenso quadro de acontecimentos.

“Ela aparece como um acontecimento fatal e neces-


sário, derivado natural e espontaneamente do sim-
ples fato do descobrimento [...] Esquecemos aí os
antecedentes que se acumulam atrás de tais ocor-
rências, e o grande número de circunstâncias parti-
culares que ditaram as normas a seguir.”
(PRADO JR. Formação Econômica do Brasil Contemporâneo.
Pg. 17. Companhia das Letras. São Paulo, 2011).

55
Este imenso quadro é constituído, dentre outros elementos, pelo deslocamento da principal rota de comér-
cio da época. Daí deriva uma importante consequência: o surgimento de um novo equilíbrio na Europa. Com ele,
os portugueses, em busca de rotas ainda não dominadas, alcançam África, Ásia e América. Declara-se aberta a era
das grandes navegações, e seus grandes acontecimentos “articulam um conjunto que não é senão um capítulo da
história do comércio europeu”, e os acontecimentos seguintes decorrem todos da “empresa comercial” levada a
cabo pelos países europeus.

“Tudo que se passa são incidentes da imensa empre-


sa comercial a que se dedicam os países da Europa
a partir do séc. XV [...] Não têm outro caráter a ex-
ploração da costa africana [...] o roteiro das Índias,
o descobrimento da América, a exploração e ocupa-
ção de seus vários setores.”

Isso ajuda a esclarecer muito sobre o verdadeiro sentido e espírito da colonização brasileira. “A ideia de
povoar não ocorre inicialmente a nenhum. É o comércio que os interessa”. O Brasil só se ocupa com povoamen-
to efetivo, aliás, devido à contingência, necessidade imposta por circunstâncias novas e imprevistas. Era preciso
estabelecer um povoamento capaz de manter as feitorias e organizar a produção de gêneros de exportação que
interessassem à metrópole. Nesse sentido, por ser uma região de clima tropical, o Brasil foi alvo de uma colo-
nização toda baseada na exploração pela empresa comercial portuguesa. Não houve desejo nem preocupação
com o povoamento que não foi subsidiário à manutenção e expansão desta. Pelo contrário: os trópicos “brutos e
indevassados” impõem, na verdade, um obstáculo à colonização pela incompatibilidade com as condições a que
estão acostumados os europeus; por este motivo, somente teriam interesse em vir para os trópicos aqueles que o
fizessem “como empresário de um negócio rendoso”, ou seja, na posição de dirigente; não os agradava a ideia de
vir como trabalhador; somente o fariam a contragosto. Do ponto de vista do desenvolvimento social, esta caracte-
rística teria condições desastrosas, conforme analisa o autor na questão das plantations coloniais: “... para cada
proprietário (fazendeiro, senhor ou plantador), haveria muitos trabalhadores subordinados e sem propriedade”.
Por essas diferenças entre as colônias de zonas tropicais e as temperadas, Caio Prado afirma que o tipo de
colonização realizado no Brasil é de certa forma sui generis; não é tão simples quanto a feitoria comercial, impra-
ticável nas Américas, mas tem os mesmos objetivos: explorar os recursos naturais e constituir a empresa do colono
branco; é uma colonização com “acentuado caráter mercantil”, levada a cabo em proveito do comércio europeu.

Em suma, o Brasil colônia se constitui como uma vasta empresa comercial, com objetivos voltados ao ex-
terior. Na essência de nossa formação, afirma Caio Prado, “nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns
outros gêneros; mais tarde ouro e diamantes; depois, algodão, e em seguida café para o comércio europeu. Nada
mais que isso.” Jamais houve preocupação com a sorte daqueles que aqui habitaram - a não ser que as condições
dos residentes afetassem a empresa europeia; e tal característica, segundo o autor, “se gravará profunda e total-
mente nas feições e na vida do país”.

56
Gilberto Freyre
Em sua obra principal, Casa-Grande & Senzala, Gilberto Freyre se preocupa em explicar como a senzala – aqui com-
preendida como instituição representante dos escravos utilizados como mão de obra na colonização brasileira – e a
Casa-Grande – compreendida, por sua vez, como representante dos senhores, das elites coloniais (e que exploravam
a primeira) – interagem e se mesclam na formação social do Brasil.
A hipótese principal de Freyre é a de que essa formação, influenciada diretamente pela estrutura produtiva co-
lonial (baseada em grandes propriedades fundiárias, mão de obra escrava africana e no patriarcalismo; uma estrutura
em que a “Casa-Grande” e a “Senzala” teriam papeis centrais, afinal), teria se dado, de certa maneira, pela mescla,
pela incorporação de elementos advindos da cultura africana (e também indígena) aos costumes brancos e europeus.

A Casa-Grande, símbolo das elites coloniais e senhores de escravos, teria então este papel: incorporaria e
abrigaria os escravos que, ao mesmo tempo em que sofriam violências diversas (desde o trabalho forçado por co-
erções extraeconômicas a violências sexuais e psicológicas), também entravam em contato com a figura do “bom
senhor”; para Freyre, a Casa-Grande proporcionaria, a despeito das relações por vezes conflituosas entre senhores
e escravos, a “ascensão” da Senzala a seu seio; não era incomum, pois, a existência de empregados domésticos
compartilhando o mesmo espaço com as sinhás; amas de leite criando os filhos dos senhores e possuindo íntima
relação com os mesmos.
Um dos argumentos que o autor usa para embasar sua hipótese é o de que, com a abolição da escravidão, a
condição material dos escravos recém-libertos teria piorado substancialmente; quando integrados à Casa-Grande,
os escravos viveriam com mais conforto e qualidade.
A chave para entender o pensamento do autor é, portanto, compreender a maneira como ele equilibra estas
interações antagônicas entre senhores e escravos, Casa-Grande e Senzala. A violência e a exploração sistemáticas
sofridas pelos escravos contrastavam com a suposta intimidade e harmonia que também poderiam se observar sob
o teto da Casa-Grande; toda a propriedade do senhor (escravos) se incorporavam a ela e a complementavam. Tal
dualidade (entre violência e bom-trato) é, portanto, essencial para compreender o autor.

57
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Quem é Caio Prado Junior?

Fonte: Youtube

Vídeo Luiz Bernardo Pericás fala sobre Caio Prado Jr. no Diálogos...

Fonte: Youtube

Vídeo Gilberto Freyre - O que é o Brasil?

Fonte: Youtube

58
LER

Livros
Formação Econômica do Brasil Contemporâneo – Caio Prado Jr.

‘Formação do Brasil Contemporâneo’ é uma obra acerca do pensamento


social e da historiografia brasileira e apresenta texto sobre as relações entre
nação e colônia no processo histórico que originou o Brasil. O livro trata,
entre outros assuntos, do sentido da colonização; povoamento; raças; eco-
nomia; grande lavoura; agricultura de subsistência; mineração; pecuária;
produções extrativas; artes e indústria e vida social e política.

Casa-Grande & Senzala – Gilberto Freyre

Por meio de sua, obra Gilberto Freyre procurou retratar o pensamento


brasileiro. Esta edição traz a apresentação escrita pelo ex-presidente Fer-
nando Henrique Cardoso, além da revisão das notas bibliográficas e dos
índices onomástico e remissivo.

História Econômica do Brasil – Caio Prado Jr.

“História Econômica do Brasil” procura auxiliar no entendimento das


características estruturais da sociedade brasileira, dos dilemas que herdou
do passado e dos possíveis caminhos de sua superação.

59
INTERDISCIPLINARIDADE

Extremamente raro em países capitalistas ocidentais, a presença de trabalhadores domésticos é rotina na maioria
das famílias abastadas brasileiras. Pedreiros, jardineiros, faxineiros, cozinheiros e babás são-lhes figuras indispen-
sáveis. Justamente heranças de uma sociedade acostumada às relações privadas, desde o período de Casa Grande
e Senzala.
Para termos uma real noção do enraizamento histórico dessas relações, basta notar o atraso histórico da
regulamentação do trabalho doméstico no Brasil, aprovada somente em 2015. Quando, da sanção presidencial,
muitas figuras da elite nacional expressaram insatisfação, pois havia, para eles, um relativo consenso de que esse
tipo de relação trabalhista não seria exatamente igual às outras. A interferência governamental seria imprópria,
dado o tipo de trato doméstico entre ambos.
Independentemente do desgosto desses indivíduos, a lei foi aprovada e está em vigor. Hoje, os trabalhado-
res domésticos contam com:
§§ Registro Profissional;
§§ Jornada de 44 horas semanais;
§§ Descanso de 1 hora;
§§ Hora extra com acréscimo de 50%;
§§ Banco de horas com compensação em até um ano;
§§ Primeiras 40 horas extras devem ser remuneradas;
§§ 20% de adicional noturno entre ás 22 horas até às 5 horas;
§§ Férias, podendo ser fracionadas em até dois períodos.

60
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 14 - Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e in-


terpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições
sociais, políticas e econômicas.

A Habilidade 14 requer capacidade de interpretação de texto dos estudantes. Cabe ressaltar que a
habilidade de comparar pontos de vista não é necessariamente feita por meio de textos dissonantes,
isto é, de visões diametralmente opostas. Em muitas ocasiões, há a comparação entre textos de autores
que pensavam de maneira muito próxima, embora, evidentemente, tenham suas sutis diferenças.
No caso da sociologia brasileira, o estudante deverá ater-se às principais preocupações e in-
quietudes de cada autor. Ele deve situá-los em seus contextos históricos e intelectuais para encontrar
a alternativa correta.

Modelo
(Enem) Para Caio Prado Jr., a formação brasileira se completaria no momento em que fosse supe-
rada a nossa herança de inorganicidade social – o oposto da interligação com objetivos internos
– trazida da colônia.
Este momento alto estaria, ou esteve, no futuro. Se passarmos a Sérgio Buarque de Holanda, en-
contraremos algo análogo. O país será moderno e estará formado quando superar a sua herança
portuguesa, rural e autoritária, quando então teríamos um país democrático.
Também aqui o ponto de chegada está mais adiante, na dependência das decisões do presente.
Celso Furtado, por seu turno, dirá que a nação não se completa enquanto as alavancas do coman-
do, principalmente do econômico, não passarem para dentro do país. Como para os outros dois, a
conclusão do processo encontra-se no futuro, que agora parece remoto.
Adaptado de: SCHWARZ, R. Os sete fôlegos de um livro. Sequências brasileiras. São Paulo: Cia. das Letras, 1999.

Acerca das expectativas quanto à formação do Brasil, a sentença que sintetiza os pontos de vista
apresentados no texto é:
a) Brasil, um país que vai pra frente.
b) Brasil, a eterna esperança.
c) Brasil, glória no passado, grandeza no presente.
d) Brasil, terra bela, pátria grande.
e) Brasil, gigante pela própria natureza.

62
Análise Expositiva

Habilidade 14
Os pontos de vista apresentados na questão sobre o futuro do Brasil foram estabelecidos a
partir de importantes estudos sobre a formação histórica do Brasil. A alternativa B é a cor-
reta, o que se pode comprovar por passagens como “Também aqui o ponto de chegada está
mais adiante, na dependência das decisões do presente”.
Alternativa B

Estrutura Conceitual
Gilberto Caio
1 2
Freyre Prado Jr.

“Democracia Sentido da
racial” colonização

“Escravidão Negros Alta Brasil: colônia Enriquecer


suave” convivem na miscigenação de exploração o exterior
casa-grande
Brasil:
Comparação empreendimento
com o sul dos mercantil
EUA

Causas do
“atraso brasileiro”

63
Aprofunde seus conhecimentos
1. (Interbits ) O principal, e pior, impacto da 2. (Unicentro) Autor brasileiro que entendia a
escravidão seria o de negar ao trabalhador construção do Brasil como a fusão de raças,
sua humanidade. Reduziria o homem à sua regiões, culturas e grupos sociais decorren-
“mais simples expressão, pouco senão nada tes da formação colonial, em que os negros
mais que o irracional”, já que para o empre- e mestiços teriam papel fundamental na for-
endimento colonial interessaria dele “o ato mação da identidade cultural do povo. Essa
físico apenas, com exclusão de qualquer ou- referência identifica
tro elemento ou concurso moral. A ‘animali- a) Gilberto Freyre.
dade’ do Homem, não a sua ‘humanidade’”. É b) Caio Prado Júnior.
difícil imaginar algo mais brutal. [...] c) Florestan Fernandes.
d) Fernando de Azevedo.
Caio Prado nota também que, em razão da
e) Sérgio Buarque de Holanda.
escravidão, “existiu sempre um forte pre-
conceito discriminador de raças” no Brasil.
3. (UFF) Na década de 30, as obras de Gilberto
Considera, portanto, que esse preconceito
Freyre redirecionaram os estudos sobre ne-
não tem motivos biológicos, mas históricos
gros e cultura africana quanto à questão da
e sociais. identidade racial brasileira, pois, contradi-
RICUPERO, B. Sete lições sobre as interpretações do ziam as afirmativas segundo as quais a mis-
Brasil. 2ª ed. São Paulo: Alameda, 2008, p. 144-145.
cigenação tinha causado um dano irrepará-
O texto acima, de Bernardo Ricupero, apre- vel à nossa sociedade.
senta uma explicação da forma como Caio Gilberto Freyre, em seus estudos:
a) trata da confluência do cotidiano rural e ur-
Prado Jr. compreende os efeitos da escravi- bano no Brasil, o que se destaca em sua pri-
dão para a constituição da sociedade brasi- meira obra - Sobrados e Mocambos;
leira. Tendo em conta essa abordagem, assi- b) detém-se na análise das relações multirraciais
nale a alternativa incorreta: vigentes na sociedade baiana do século XVIII;
a) A noção de que a escravidão destitui o ho- c) enfatiza o cunho intensamente patriarcal da
mem da sua humanidade está relacionada ao sociedade brasileira;
conceito marxista de alienação. Na medida d) aprofunda as teorias raciais vigentes no Brasil
em que o homem deixa de possuir direito na segunda metade do século XIX;
sobre aquilo que produz e se constitui so- e) responsabiliza a sociedade derivada da mesti-
mente em mercadoria, ele se aliena do fruto çagem pelos vícios sociais do povo brasileiro
de seu trabalho e se “coisifica”. A escravidão
leva ao limite essa transformação do homem 4. (Fuvest) “No seu conjunto, e vista no plano
em coisa. mundial e internacional, a colonização dos
b) A escravidão causou efeitos perniciosos para trópicos toma o aspecto de uma vasta em-
a constituição da própria sociedade brasi- presa comercial, ... destinada a explorar os
leira. Isso porque possibilitou, entre outras recursos naturais de um território virgem
coisas, a existência do racismo, que se man- em proveito do comércio europeu. É este o
tém até hoje. verdadeiro sentido da colonização tropical,
c) A discriminação racial não existe mais no de que o Brasil é uma das resultantes; e ele
Brasil. Uma vez que o Brasil já está em um explicará os elementos fundamentais, tanto
regime democrático e a escravidão foi abo- no social como no econômico, da formação e
lida há mais de cem anos, as bases sociais evolução dos trópicos americanos”.
que sustentavam essa discriminação já não (Caio Prado Júnior, HISTÓRIA ECONÔMICA DO BRASIL)
existem mais.
d) Não se pode compreender a constituição do Com base neste texto, podemos afirmar que
Brasil sem ter em consideração o período co- o autor
lonial e a importância do escravo negro para a) indica que as estruturas econômicas não
a cultura brasileira. Apesar de ter sofrido condicionam a vontade soberana dos ho-
brutalmente durante esse período, o negro mens.
vindo da África trouxe consigo diversos ele- b) demonstra a autonomia existente entre as
mentos culturais que, posteriormente, foram esferas social e econômica.
incorporados à “cultura brasileira”. c) propõe uma interpretação econômica sobre a
e) A escravidão ainda existe no Brasil. Ainda colonização do Brasil, acentuando seu senti-
que não seja institucionalizada, ainda exis- do mercantil.
tem pessoas trabalhando de maneira forçada d) dá ao Brasil uma especificidade dentro do
e em condições desumanas no país. Não por contexto de colonização dos trópicos.
acaso, diversas associações e empresas são e) confere ao sentido da colonização uma rela-
signatárias de um Pacto Nacional pela Erra- tiva autonomia em relação ao mercado inter-
dicação do Trabalho Escravo no Brasil. nacional.

64
5. (Uem-pas 2017) A nação, a nacionalidade e recorrência está no empenho do autor em
a identidade nacional são construções sócio- a) defender os aspectos positivos da mistura
-históricas, portanto são resultado da ação racial.
de vários agentes sociais. O intelectual é um b) buscar as causas históricas do atraso social.
dos agentes sociais envolvidos na construção c) destacar a violência étnica da exploração co-
das ideias de nação, de nacionalidade e de lonial.
identidade nacional. Para o caso brasileiro, d) valorizar a dinâmica inata da democracia po-
no que diz respeito à criação da identidade lítica.
nacional, um intelectual central foi Gilberto e) descrever as debilidades fundamentais da
Freyre (1900-1987). Em suas obras, Freyre colonização portuguesa.
sistematizou, divulgou e ajudou a sedimen-
tar a ideia do Brasil como país mestiço, atre- 7. (Uem 2017) “(...) o que fica no centro das
lando a identidade nacional brasileira à mis- preocupações, das apreensões e, mesmo, das
cigenação, à mestiçagem. obsessões é o ‘preconceito de não ter pre-
Sobre a identidade nacional brasileira as- conceitos’. Através de processos de mudanças
sentada na miscigenação e na mestiçagem, psicossocial e sociocultural reais sob certos
é correto afirmar: aspectos profundos e irreversíveis, subsiste
01) A identidade nacional brasileira assentada uma larga herança cultural, como se o bra-
nos ideais da mestiçagem e da miscigenação sileiro se condenasse, na esfera das relações
busca conciliar discursivamente uma socie- raciais, a repetir o passado no presente.”
dade altamente estratificada onde o racismo FERNANDES, F. O negro no mundo dos brancos.
é um operador social importante. São Paulo: Global, 2007, p. 42.
02) A construção da identidade nacional brasi-
leira favoreceu a expropriação do patrimônio Com base na citação acima e em estudos rea-
cultural da população negra, uma vez que lizados acerca das relações raciais no Brasil,
elementos da cultura negra foram transfor- assinale o que for correto.
mados em cultura nacional, situação que co- 01) A sociedade brasileira tende a condenar pu-
laborou para fortalecer a ideia da ausência de blicamente o racismo, todavia ele é conside-
uma cultura da população negra no Brasil. rado relativamente aceito em diversos espa-
04) A identidade nacional alicerçada nos ideais ços, momentos e relações sociais de caráter
da miscigenação e da mestiçagem é algo que privado ou coletivo.
foi e ainda é utilizado para encobrir o racis- 02) No Brasil, a democracia racial é uma realida-
mo existente no Brasil. de. O racismo, portanto, não existe.
08) A construção da identidade nacional em tor- 04) A herança cultural da escravidão foi irrelevan-
no do ideal da miscigenação e da mestiça- te para a sociedade brasileira após a abolição.
gem favoreceu o desenvolvimento do mito 08) O mito da democracia racial foi e é uma
da democracia racial e da ausência de racis- construção que colabora para a dissimulação
mo no Brasil. do racismo no Brasil.
16) A identidade nacional calcada nos ideais da 16) Dentre as marcas culturais da escravidão no
miscigenação e da mestiçagem favoreceu o Brasil está a tendência a associar pessoas
surgimento de conflito racial explícito no negras a profissões de menor status social.
Brasil.
8. (Interbits) Com efeito, já nos anos 1930,
6. (Enem (Libras) 2017) A miscigenação que a noção elaborada pelo antropologo Gilberto
Freyre (1930), de que esse era um país ra-
largamente se praticou aqui corrigiu a dis-
cial e culturalmente miscigenado, passava a
tância social que de outro modo se teria
vigorar como uma espécie de ideologia não
conservado enorme entre a casa-grande e a
oficial do Estado, mantida acima das cliva-
mata tropical; entre a casa-grande e a sen-
gens de raça e classe e dos conflitos sociais
zala. O que a monocultura latifundiária e
que se precipitam na época. Nesse contexto,
escravocrata realizou no sentido de aristo-
conceitos são reavaliados, imagens assenta-
cratização, extremando a sociedade brasilei-
das perdem sua mais antiga conotação. Esse
ra em senhores e escravos, com uma rala e
é o caso exemplar de Jeca Tatu, conhecida
insignificante lambujem de gente livre san-
personagem de Monteiro Lobato, que en-
duichada entre os extremos antagônicos, foi
quanto mestiço, pobre e ignorante, de certa
em grande parte contrariado pelos efeitos
forma representava a condição vivenciada
sociais da miscigenação.
pela maioria da população brasileira. Em
FREYRE, G. Casa-grande & senzala. Rio
de Janeiro: Record, 1999. 1919, porém, em O problema vital, Lobato
parece ter mudado de posição, quando, des-
A temática discutida é muito presente na obra viando a atenção para o problema racial,
de Gilberto Freyre, e a explicação para essa apresentava Jeca Tatu não como o resultado

65
de uma formação híbrida, mas como o fruto Decorrem desse fato as críticas que rece-
de doenças epidêmicas. be por parte daqueles que vêm justamen-
SCHWARCZ, L. M. O espetáculo das raças. São Paulo: te no tipo de colonização que tivemos a
Companhia das Letras, 1993, p. 248-249. origem do atraso nacional.
Assinale a alternativa incorreta a respeito da III. Adotando pontos de vista e procedimen-
formação do pensamento brasileiro. tos muito distintos em relação aos de
a) A obra de Gilberto Freyre, na década de Freyre, Florestan Fernandes foi um dos
autores que, na busca de explicações para
1930, contribuiu para que a miscigenação
aspectos da sociedade brasileira, enfati-
fosse percebida de forma positiva.
zou muito mais as mudanças sociais do
b) O texto apresenta um período de mudança
que equilíbrio.
de visão sobre o país, expressa pela trans-
IV. O principal ponto de convergência entre
formação do significado da personagem Jeca
Freyre e Florestan é que com a progressi-
Tatu, de Monteiro Lobato.
va industrialização da sociedade brasilei-
c) O Brasil herdou muito dessa visão da misci-
ra os negros não ocupam, necessariamen-
genação. Com isso, a ideia de uma democra-
te, um lugar marginal.
cia racial continua presente até hoje.
a) Todas as afirmativas estão corretas.
d) Atualmente, o Brasil não é mais visto como
b) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
uma nação miscigenada, e sim maculada
c) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
pela guerra racial. d) Apenas as afirmativas III e IV estão corretas.
e) O início do século XX representou um perío- e) Apenas a afirmativa I está correta.
do histórico em que houve uma maior preo-
cupação com a saúde pública da população.

9. (Unicentro) No Brasil, as primeiras análises


sociológicas, nas primeiras décadas do sécu- Gabarito
lo XX, buscavam equacionar duas problemá-
ticas centrais: a formação do Estado nacional 1. .C 2. A 3. C 4. C 5. 01+02+04+08=15
brasileiro e a questão da identidade nacio-
nal. Sobre essas análises sociológicas no Bra- 6. A 7. 01+08+16=25
sil e seus representantes, é correto afirmar: 8. D 9. E 10. A
a) Plínio Salgado, na sua obra Nosso Brasil, reto-
ma a tese de uma unidade nacional baseada
em diferenças regionais, culturais e éticas.
b) Euclides da Cunha, em Os Sertões, afirmou que
o brasileiro tem como fundamento social a cor-
dialidade.
c) Caio Prado Júnior, em Formação do Brasil Con-
temporâneo, construiu um perfil psicológico
do brasileiro baseado na força dos sertanejos.
d) Sergio Buarque de Holanda, em sua obra Raí-
zes do Brasil, de 1936, analisou a formação do
Estado brasileiro.
e) Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala, en-
fatizou a miscigenação, novidade cultural da
colonização portuguesa.

10. (Unioeste) Observando o parágrafo abaixo


e as afirmações que se seguem, seria correto
dizer que
Em Casa Grande & Senzala Gilberto Freyre refu-
ta as teses que atribuem o “atraso” da socieda-
de brasileira à miscigenação, o que é por muitos
considerado um ponto de vista inovador.
I. Suas concepções podem assim mesmo ser
consideradas conservadoras por enfatizar
a harmonia das relações entre as etnias
constitutivas da sociedade brasileiras, so-
bretudo entre brancos e negros.
II. Freyre faz, no livro citado acima, um elo-
gio à colonização portuguesa no Brasil.

66
©Alberto Henschel

Aula 14

Sociologia brasileira:
Sérgio Buarque de Holanda
Competências 1, 2, 3, 4 e 5
Habilidades 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
13, 15, 16, 18, 20, 22, 23, 24 e 25
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Introdução
Sérgio Buarque de Holanda (11/7/1902-24/4/1982) foi um historiador e crítico literário paulista. Nasceu em São
Paulo, mas mudou-se para o Rio de Janeiro aos 19 anos. Cursa direito e trabalha como jornalista em O Jornal e na
agência de notícias Havas.
Participa da Semana de Arte Moderna de 1922 pela revista Klaxon, como porta-voz do movimento, e como
criador e editor da revista Estética, que discute suas tendências. Trabalhando na Alemanha em 1929, como cor-
respondente dos Diários Associados, entra em contato com ideias de intelectuais como Sombart e Max Weber e
começa a esboçar sua teoria sobre a formação cultural, econômica e social do país, que resultaria na obra Raízes
do Brasil, de 1936.
De volta ao Brasil, trabalha no Instituto Nacional do Livro (1937-1944), na Biblioteca Nacional (1944-1946),
no Museu Paulista (1946-1958) e dá aulas de história na Universidade de São Paulo (USP). Ocupou o cargo de 1956
a 1969, quando pede aposentadoria em solidariedade aos colegas cassados pelo regime militar (1964-1985).
Passa os anos seguintes no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa, especialmente na Itália, onde leciona,
durante dois anos, na Universidade de Roma. Publica outros livros importantes, como Monções, Da Escravidão ao
Trabalho Livre e Visão do Paraíso, além de dirigir a coleção História Geral da Civilização Brasileira.

Sérgio Buarque de Holanda e as Raízes do Brasil


Raízes do Brasil trata, essencialmente, da transição do modo rural para o urbano que se delineava nas primeiras
décadas do século XX na sociedade brasileira. É muito importante perceber que o livro foi escrito diante de um
cenário de centralização administrativa que alterou o lugar dos grupos de poder local e regional, principalmente
depois da Revolução de 1930.
Fazendo uma análise mais global do livro, é possível notar que Sérgio Buarque está se perguntando “que
tipo de urbano será possível em uma sociedade que ainda demonstra muitos aspectos e condutas do antigo meio
rural?”. Segundo sua análise mais complexa, seria imprescindível buscar uma explicação bem longe daqui. Para ele,
Portugal e Espanha não faziam parte do bloco econômico-cultural da Europa. Por esse motivo ele intitula o primeiro
capítulo como “Fronteiras da Europa”, pois, para ele, os ibéricos apresentavam uma cultura muito miscigenada,
influenciada por diversas religiões e invasões de outros povos que não faziam parte do bloco dos países centrais
do continente europeu, como os árabes.

69
Na sociedade ibérica, não só era possível, como também era desejável que houvesse uma ascensão social. Em
outras palavras, a mobilidade social era permitida e até incentivada. Característica muito distinta da que se apresenta-
va na Europa central, pois o Feudalismo europeu se mostrou tão fortemente presente que fora preciso que a burguesia
se organizasse através de uma Revolução para ter condições de penetrar nas classes mais abastadas daquela estrutura
social. Já na Ibéria, até mesmo aqueles indivíduos que ocupavam a posição de escravo, podiam ascender socialmente,
chegando estes a possuir outros escravos.
Na verdade, na concepção Ibérica da natureza humana, há de se valorizar o indivíduo que cresce e se desen-
volve ao longo da vida. É o que Sergio Buarque chama de “Cultura da Personalidade”, um sentimento de autonomia
e independência de um indivíduo que se sobressai em relação aos demais. Isto é tido como um “valor”, sendo dese-
jável e admirável. Este sentimento, muito perene no descobridor desbravador, representa além de outras coisas, uma
característica que confere ao indivíduo a possibilidade de mover-se socialmente na estrutura da sociedade Ibérica.
Tanto em Portugal quanto na Espanha, o regime feudal nunca foi tão rígido, exatamente por isso, não foi
necessário promover uma revolução como as que ocorreram na França e na Inglaterra. O Brasil como herdeiro des-
sa cultura, apresenta uma acomodação desses regimes, promovendo uma transição suave, sem ruptura. A caracte-
rística mais marcante dessa acomodação pode ser exemplificada pela figura do Homem Cordial. Lembrando que
a cordialidade não tem relação com modo cortês, mas se cristaliza pelo trato maleável que o brasileiro costuma se
relacionar no seu dia a dia. Podendo ser compreendido pelo famoso “jeitinho brasileiro”, pela situação corriqueira
de uma pessoa que vendo uma gigantesca fila bancária, logo se apressa em procurar um conhecido que esteja
mais próximo do caixa, com o objetivo de agilizar sua vida, não sendo capaz de perceber que acaba por prejudicar
outras pessoas.
Esta anedota serve para mostrar o que Sérgio Buarque chama de conflito entre público e privado. Para ele,
a presença da cordialidade faz com que os indivíduos tenham dificuldade para discernir o público daquilo que é
privado. Desta maneira, as pessoas acabam usando suas preferências particulares que deveriam ficar restritas aos
relacionamentos e aos assuntos privados, acabem empregado-as no âmbito público.
Segundo Sérgio Buarque, estas relações sociais predominantemente patriarcais, interferem na transição
dessa sociedade, causando um desequilíbrio social. Ele aponta as tensões da cidade como herança do sistema
patriarcal, colocando o patrimonialismo e o personalismo como obstáculos a uma sociedade impessoal, moderna
e livre, que são características imperativas para esses novos tempos de urbanização.

70
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Homem Cordial - Raízes do Brasil

Fonte: Youtube

Vídeo Pedro Monteiro discute a atualidade de ‘Raízes do Brasil’

Fonte: Youtube

Vídeo Programa Campus - Raízes do Brasil

Fonte: Youtube

72
LER

Livros
Raízes do Brasil – Sérgio Buarque de Holanda

Nunca será demasiado reafirmar que ‘Raízes do Brasil’ inscreve-se como


uma das verdadeiras obras fundadoras da moderna historiografia e ciências
sociais brasileiras. Tanto no método de análise quanto no estilo da escrita,
tanto na sensibilidade para a escolha dos temas quanto na erudição ex-
posta de forma concisa, revela-se o historiador da cultura e ensaísta crítico
com talentos evidentes de grande escritor. A incapacidade secular de sepa-
rarmos vida pública e vida privada, entre outros temas desta obra, ajuda a
entender muito de seu atual interesse. E as novas gerações de historiadores
continuam encontrando, nela, uma fonte inspiradora de inesgotável vitali-
dade. Todas essas qualidades reunidas fizeram deste livro, com razão, no
dizer de Antonio Candido, ‘um clássico de nascença’.

Sérgio Buarque: Perspectivas – Pedro Meira Monteiro, João


Kennedy Eugênio

Os ensaios aqui reunidos, de 28 estudiosos de várias gerações e procedências,


além das imagens, da bibliografia e dos textos pouco conhecidos do próprio
historiador, formam um testemunho amplo, polifônico e profundo de uma
obra que ainda impressiona pelas suas diferentes perspectivas, pelo rigor e
pela inventividade que a tornam paradigmática, e que segue a provocar no
leitor as reações mais apaixonadas. A crítica brasileira e internacional ganha
com este livro um panorama novo, que convida à pesquisa e à redescoberta
de Sérgio Buarque de Holanda.

73
INTERDISCIPLINARIDADE

Muitos sociólogos tendem a associar os altos índices de corrupção no Brasil por conta da falta de delimitações
claras, entre os políticos e empresários, do que é público e privado. A partir de 2014, com o desmembramento da
operação Lava-Jato, vimos ações ilegais de empresas, políticos e líderes de estatais que visavam o benefício próprio
à revelia do bem público.
Licitações fraudulentas privilegiavam empreiteiras que, por sua vez, distribuíam parte de seus lucros para
financiamentos de campanhas dos políticos e para o pagamento de propinas aos presidentes das estatais, como a
Petrobrás. Com isso, um ciclo vicioso se retroalimentou na empresa, levando-a a assumir prejuízos consideráveis,
pagos diretamente pelo Tesouro Nacional, isto é, pelos cidadãos. Marcelo Odebrecht, presidente do grupo de
engenharia e petroquímica Odebrecht, foi um dos empresários presos na operação.

74
Estrutura Conceitual
Raízes do
Brasil

Patrimonialismo Estado Moderno


(Brasil) (Europa e EUA)

Racionalismo,
Homem Cordial impessoalidade e
Passional, burocracia
Horror à
afetivo e
hierarquia
irracional

Favores
pessoais no
setor público

Busca pela Influência


intimidade,
familiar no
e não ao
respeito Estado
Prejudica relações
racionais e
burocráticas

75
Aprofunde seus conhecimentos
1. (Uem) “Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque 2. (UEMA) A incivilidade gourmet
desenvolve uma ideia em torno da qual cons- (...) Em entrevista à Folha de S. Paulo, o
trói sua interpretação sociológica: a do ‘ho- sociólogo espanhol Manuel Castells chegou
mem cordial’. Este seria o brasileiro típico, a tempo de enfiar o dedo nas escancaradas
fruto da colonização portuguesa e represen- escaras da sociedade brasileira. (...) “A ima-
tante conceitual de nossa sociedade. gem mítica do brasileiro simpático só existe
(...).
no samba. Na relação entre pessoas, sempre
A cordialidade, tal como entendida por Sérgio
foi violento. A sociedade brasileira não é
Buarque, sugere aversão à impessoalidade.
Nós, brasileiros, estaríamos sempre buscando simpática, é uma sociedade que se mata”.
estabelecer intimidade, pondo os laços pesso- Continua a matéria, “para os leitores de Sér-
ais e os sentimentos como intermediários de gio Buarque de Holanda, o sociólogo espa-
nossas relações. Estamos acostumados a ‘fa- nhol apenas redescobre as raízes da socie-
zer amizade’, ‘contar a vida’, ‘pedir conselho’ dade brasileira plantadas nos terraços da
a pessoas que nunca vimos antes enquanto escravidão, entre a casa-grande e suas sen-
aguardamos na fila do banco ou do supermer- zalas. (...) Sob a capa do afeto, o cordialismo
cado. esconde as crueldades da discriminação e da
(...) desigualdade.”
Podemos concluir, assim, que o ‘homem cor- BELLUZZO, Luiz Gonzaga. A incivilidade
dial’ caracteriza-se fundamentalmente pela gourmet. Carta Capital, Ano XXI, Nº 854.
rejeição da distância e do formalismo nas re-
lações sociais. Mas o caso brasileiro tem outra A matéria retratada aponta como ilusória a
característica: as atitudes e princípios vigen- ideia de que o brasileiro teria como carac-
tes no universo íntimo da família acabaram terística a cordialidade, sendo, ao contrário,
por transbordar para a esfera pública.” preconceituoso e agressivo. As frases expres-
(BOMENY, H.; FREIRE-MEDEIROS, B.; EMERIQUE, R. B.; sivas da arrogância discriminativa presente
O’DONNELL, J. Tempos modernos, tempos de sociologia. no cotidiano da sociedade brasileira estão
São Paulo: Editora do Brasil, 2013, p. 348 e 349).
indicadas em:
Considerando o texto citado e conhecimen- a) “Você não pode discutir comigo porque não
tos sobre os temas das representações, das fez faculdade.” “Quem poderia resolver essa
identidades e das diferenças culturais, assi- situação?”
nale o que for correto. b) “E você, quem é mesmo?” “Um momento en-
01) O homem cordial existe como um tipo ideal, quanto verifico o seu processo.”
isto é, trata-se de uma construção abstrata c) “A culpa é da Princesa Isabel.” “Este é o nú-
que se refere a certos padrões de compor- mero do seu protocolo, agora é só esperar”.
tamento individual relacionados com uma d) “Eu sou o doutor Fulano de Tal.” “O senhor
estrutura política, econômica e cultural pre- será o próximo a ser atendido.”
dominante na vida social brasileira. e) “O senhor sabe com quem está falando?”
02) A noção de cordialidade foi amplamen-
“Coloque-se no seu lugar.”
te difundida dentro e fora do Brasil como
estereótipo da hospitalidade e da simpatia
do brasileiro e até hoje é considerada uma 3. (Unimontes) Entre as décadas de 1920 e
marca de grande valor simbólico no mercado 1940, foram publicados alguns dos mais ins-
turístico internacional. tigantes estudos sobre a formação da socie-
04) A cordialidade se manifesta também na con- dade brasileira, que permanecem sendo ob-
cepção do espaço público como prolonga- jeto de leituras críticas e de debate até hoje
mento do espaço privado. pelos cientistas sociais. Esses estudos podem
08) Interpretações sociológicas baseadas na ser caracterizados como ensaios de interpre-
observação de hábitos e costumes como tação do Brasil, pois apresentam discussões
elementos delineadores de uma identida- sobre as instituições políticas, as classes so-
de nacional marcaram de forma decisiva a
ciais, a produção econômica, o passado, o es-
constituição do pensamento social brasileiro
paço rural e o espaço urbano, as tensões en-
no início do século XX.
16) Ao instaurar um comportamento marcado tre o tradicional e o moderno, e, finalmente,
pela proximidade, pela afetividade e pela sugeriram uma série de impasses e possibili-
emoção, a cordialidade impede o surgimen- dades para o presente e o futuro da socieda-
to de relações desiguais e hierárquicas, tais de brasileira. Sobre esses estudos, relacione
como o preconceito social, o racismo e a vio- as colunas, fazendo a correspondência entre
lência de gênero. autor e respectiva obra.

76
( ) 5. (UEL) “A falta de coesão em nossa vida so-
1. Mário de Andrade cial não representa, assim, um fenômeno
Raízes do Brasil
moderno. E é por isso que erram profunda-
2. Sérgio ( ) mente aqueles que imaginam na volta à tra-
Buarque de Holanda Casa-grande & senzala dição, a certa tradição, a única defesa possí-
( ) vel contra nossa desordem. Os mandamentos
3. Caio Prado Jr. e as ordenações que elaboraram esses erudi-
Macunaíma
tos são, em verdade, criações engenhosas de
( ) espírito, destacadas do mundo e contrárias a
4. Gilberto Freyre
Evolução política do Brasil ele. Nossa anarquia, nossa incapacidade de
organização sólida não representam, a seu
A sequência CORRETA é ver, mais do que uma ausência da única or-
dem que lhes parece necessária e eficaz. Se
a) 3, 1, 2, 4.
a considerarmos bem, a hierarquia que exal-
b) 2, 1, 3, 4.
c) 2, 4, 1, 3. tam é que precisa de tal anarquia para se
d) 1, 3, 4, 2. justificar e ganhar prestígio”.
(HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 33.)

4. (UEM) “O quadro familiar torna-se, assim, Caio Prado Junior, Gilberto Freyre e Sérgio
tão poderoso e exigente, que sua sombra Buarque de Holanda são intelectuais da cha-
persegue os indivíduos mesmo fora do re- mada “Geração de 30”, primeiro momento
cinto doméstico. A entidade privada precede da sociologia no Brasil como atividade au-
sempre, neles, a entidade pública. A nos- tônoma, voltada para o conhecimento sis-
talgia dessa organização compacta, única e temático e metódico da sociedade. Sobre as
intransferível, onde prevalecem necessaria- preocupações características dessa geração,
mente as preferências fundadas em laços considere as afirmativas a seguir.
afetivos, não podia deixar de marcar nos- I. Critica o processo de modernização e de-
sa sociedade, nossa vida pública, todas as fende a preservação das raízes rurais como
nossas atividades. Representando, como já o caminho mais desejável para a ordem e o
se notou acima, o único setor onde o prin- progresso da sociedade brasileira.
cípio de autoridade é indisputado, a famí- II. Promove a desmistificação da retórica li-
lia colonial fornecia a ideia mais normal de beral vigente e a denúncia da visão hierár-
poder, da respeitabilidade, da obediência e quica e autoritária das elites brasileiras.
da coesão entre os homens. O resultado era III. Exalta a produção intelectual erudita e es-
predominarem, em toda a vida social, sen- colástica dos bacharéis como instrumento
timentos próprios à comunidade doméstica, de transformação social.
naturalmente particularista e antipolítica, IV. Faz a defesa do cientificismo como ins-
uma invasão do público pelo privado, do Es- trumento de compreensão e explicação da
tado pela família.” sociedade brasileira.
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Rio Estão corretas apenas as afirmativas:
de Janeiro: José Olympio, 1992, p. 50. a) I e III.
b) I e IV.
Considerando o texto acima e o tema insti- c) II e IV.
tuições sociais, assinale o que for correto. d) I, II e III.
01) O texto trata das relações que os indivíduos e) II, III e IV.
estabelecem com uma instituição social es-
pecífica, o Estado. 6. (UFU) Dentre as várias interpretações sobre
02) No processo de formação da sociedade bra- a brasilidade, destaca-se aquela que atribui
sileira, os interesses privados interferem na a nós, brasileiros, os recursos do jeitinho, da
conduta pública dos indivíduos. cordialidade e da malandragem.
04) No Brasil, a comunidade doméstica promo- De acordo com as leituras weberianas apli-
veu um equilíbrio entre os interesses coleti- cadas à realidade brasileira (por autores tais
vos e privados, revelando sua ação em defesa como: Sérgio Buarque de Hollanda, Gilberto
do que é público. Freyre, Roberto Damatta), a malandragem
08) O autor define que a família colonial é uma significaria
organização compacta, única e intransferí- a) a manifestação prática do processo de misci-
vel, que exerceu profunda influência na for- genação que combinou elementos genéticos
mação social e cultural brasileira. pouco inclinados ao trabalho.
16) O Estado brasileiro manteve-se livre dos par- b) a consagração do fracasso nacional represen-
ticularismos, das visões antipolíticas e dos tado pela incapacidade de desenvolver for-
interesses privados. mas capitalistas de relações sociais.

77
c) a inovação de um estilo especial de se re- c) As duas preocupações dos sociólogos eram
solver os próprios problemas, que tem sua a aculturação indígena e a modernização do
origem nas tradições ibéricas. sistema político brasileiro.
d) a materialização da oposição popular ao tra- d) A orientação das análises sociológicas estava
balho e ao imperialismo europeu, como ca- voltada para as discussões mundiais ditadas
racterística de resistência de classe. por países, como França e Inglaterra.
e) O interesse dos intelectuais desse período
7. (Uel) Leia o texto a seguir. estava voltado para o conhecimento do Bra-
Na verdade, a ideologia impessoal do libera- sil real, do povo, em oposição às análises et-
lismo democrático jamais se naturalizou en- nocêntricas anteriores.
tre nós. Só assimilamos efetivamente esses
princípios até onde coincidiram com a nega- 9. (Uece 2017) Leia atentamente os excertos a
ção pura e simples de uma autoridade incô- seguir:
moda, confirmando nosso instintivo horror “Os escravos são as mãos e os pés do senhor
às hierarquias e permitindo tratar com fami- de engenho, porque sem eles no Brasil não é
liaridade os governantes. possível fazer, conservar e aumentar fazen-
(HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. São Paulo: da, nem ter engenho corrente. E do modo
Companhia das Letras, 1995. p. 160.)
com que se há com eles, depende tê-los bons
O trecho de Raízes do Brasil ilustra a inter- ou maus para o serviço”;
pretação de Sérgio Buarque de Holanda so- (ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil por
suas drogas e minas. Belo Horizonte. Itatiaia, 1982. p. 89.)
bre a tradição política brasileira.
A esse respeito, considere as afirmativas a “A democracia no Brasil foi sempre um la-
seguir. mentável mal-entendido. Uma aristocracia
I. As mudanças políticas no Brasil ocorre- rural e semifeudal importou-a e tratou de
ram conservando elementos patrimonia- acomodá-la, onde fosse possível, aos seus di-
listas e paternalistas que dificultam a reitos ou privilégios, os mesmos privilégios
consolidação democrática. que tinham sido, no Velho Mundo, o alvo da
II. A política brasileira é tradicionalmente luta da burguesia contra os aristocratas”.
voltada para a recusa das relações hierár- (HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio
quicas, as quais são incompatíveis com de janeiro. José Olímpio editora, 1984. p. 119.)
regimes democráticos.
III. As relações pessoais entre governantes e Considerando os vários aspectos da forma-
governados inviabilizaram a instauração ção social do Brasil, pode-se afirmar correta-
do fenômeno democrático no país com a mente que os dois trechos acima tratam
mesma solidez verificada nas nações que a) da inclusão do negro e do pobre no processo
adotaram o liberalismo clássico. democrático que rompeu com os direitos e
IV. A cordialidade, princípio da democracia, privilégios das classes dominantes.
possibilitou que se enraizassem, no país, b) da integração social ocorrida ainda na colo-
práticas sociais opostas aos princípios do nização com o processo de miscigenação ét-
clientelismo político. nica que tornou iguais todos os brasileiros.
Assinale a alternativa correta. c) da condição de exploração e exclusão a que
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. estava sujeita uma parcela significativa da
b) Somente as afirmativas I e III são corretas. população brasileira em razão dos interesses
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. das elites.
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. d) da perfeita inclusão dos negros libertos e
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. da população pobre em geral na sociedade
brasileira, com a criação da República e da
8. (Unicentro) No Brasil, o pensamento socio- democracia no Brasil.
lógico se desenvolve a partir da década 30,
do século passado, com a fundação da Uni- 0. (Uepg) Em “Raízes do Brasil” (1936), um
1
versidade de São Paulo e o crescimento da dos clássicos que tratam da história nacional
produção científica. e da formação de sua sociedade, Sérgio Buar-
Sobre o desenvolvimento dessa ciência no que de Holanda escreveu:
Brasil, no século XX, é correto afirmar: “Da tradição portuguesa, que mesmo em ter-
a) Os sociólogos desse período buscavam des- ritório metropolitano jamais chegara a ser
crever o país por meio de estudos naturalis- extremamente rígida nesse particular, pouca
tas. coisa se conservou entre nós que não tivesse
b) Os grandes nomes desse período foram Eucli- sido modificada ou relaxada pelas condições
des da Cunha, Gilberto Freyre e Sérgio Buar- adversas do meio. Manteve-se melhor do que
que de Holanda. outras, como é fácil imaginar, a obrigação de

78
irem os ofícios embandeirados, com suas in-
sígnias, as procissões reais, o que se explica
simplesmente pelo gosto do aparato e o dos
espetáculos coloridos, tão peculiar à nossa
sociedade colonial.” (p. 59).
Tomando-se por base a passagem acima e
considerando as especificidades da socie-
dade colonial brasileira, assinale o que for
correto.
01) A miscigenação entre europeus, africanos e
ameríndios é uma característica da socieda-
de colonial brasileira desde o século XVI. O
mulato (branco europeu e negro africano) e
o caboclo (branco europeu e indígena) re-
presentam esse processo.
02) O clientelismo, ou seja, a prática em que
homens livres gravitavam ao redor dos se-
nhores de engenho do nordeste açucareiro
do século XVI em troca de benesses, foi uma
das marcas da sociedade colonial brasileira.
A concentração da propriedade da terra e a
inexistência de outras formas produtivas le-
varam ao aparecimento dessa prática.
04) Do ponto de vista de ocupação do território,
entre os séculos XVI e XVIII, a maior parte da
sociedade colonial brasileira esteve fixada em
determinadas capitanias, como Rio de Janei-
ro, Pernambuco, São Paulo e Minas Gerais.
08) A família patriarcal, típica do nordeste açu-
careiro, apresentava como características o
poder absoluto do pai sobre todos os mem-
bros da família e demais agregados, a sub-
missão feminina e, em geral, a presença de
um sacerdote no entorno da casa-grande
devido à forte religiosidade católica dissemi-
nada pelos colonizadores.
16) No século XVIII, momento em que se de-
senvolveu uma forte atividade mineradora
na colônia, verifica-se um modelo próprio
de sociedade. Mais urbana e voltada para as
práticas culturais, a sociedade da mineração
prescindiu do trabalho escravo e adotou a
defesa do abolicionismo como princípio.

Gabarito
1. 01 + 02 + 04 + 08 = 15. 2. E 3. C
4. 01 + 02 + 08 = 11. 5. C 6. C
7. B 8. E 9. C 10. 01+02+04+08=15

79
©Alberto Henschel

Aula 15

Minorias no Brasil
Competências 1, 2, 3, 4 e 5
Habilidades 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
13, 15, 16, 18, 20, 22, 23, 24 e 25
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Minorias no Brasil
Introdução
A consolidação das democracias ocidentais, durante todo o século XX, tinha como um de seus pilares a promoção
da igualdade, tanto jurídica quanto, em muitos casos, econômica entre os indivíduos. Contudo, vê-se que diversos
grupos continuam política e economicamente marginalizados: LGBTs, mulheres, negros e, no caso particular bra-
sileiro, indígenas.
Tais grupos são classificados como Minorias, embora representem, em alguns casos, maiorias numéricas da
população. Não se trata, portanto, de um conceito quantitativo, mas qualitativo: é a revelação de que os interesses
desses grupos são sub-representados na sociedade, ou que os espaços de decisão lhes são blindados. Nos últimos
anos, a discussão de políticas afirmativas, que visem a melhorar tais quadros de exclusão, surgiram com força nos
Estados Nacionais e no debate público.
A qualquer cidadão, é imperativo informar-se sobre a situação objetiva desses grupos. É um exercício de cida-
dania reconhecer que, embora juridicamente iguais, os indivíduos carregam diferenças de diversas outras ordens. A
seguir, exploraremos o caso de alguns dos principais grupos denominados minoritários no Brasil atual.

Indígenas
De acordo com a FUNAI (órgão indigenista oficial do Estado brasileiro), desde que os portugueses atracaram no
território brasileiro até a década de 1970, a população indígena brasileira teve um decréscimo acentuado e inúme-
ros povos indígenas foram extintos. Segundo o órgão, o desaparecimento dos povos indígenas era, neste período,
visto como algo inevitável pelas autoridades e sociedade brasileiras. Este quadro, entretanto, começa a mudar já
na década de noventa: o ritmo de crescimento da população indígena foi, no período, quase seis vezes maior que
o da população em geral (o percentual de indígenas em relação à população total brasileira saltou de 0,2% em
1991 para 0,4% em 2000 - totalizando na época quase 750 mil pessoas). O aumento anual médio da população
indígena, nesta década, foi de 10,8% - enquanto a média de crescimento da população total foi de apenas 1,6%.
Segundo o censo demográfico realizado pelo IBGE em 2010, a atual população indígena, no Brasil, é de
aproximadamente 800 mil pessoas - destas, cerca de 60% vivem no campo e 40% vivem nos centros urbanos.
Note a diferença entre a população indígena e a população total brasileira: desta última, 85% vivem nas cidades
e apenas 15% vivem nas zonas rurais.
O censo também revelou que os povos indígenas estão presentes nas cinco regiões do Brasil, com popu-
lações em todos os estados da Federação. Das cinco regiões brasileiras, a região Norte é a que concentra o maior
número de indígenas: quase 40% do total. Dentro dela, o Amazonas é o estado que possui o maior número de
indígenas, 55% do total da região (ou cerca de 20% da população total de indígenas do Brasil). A região Norte é
seguida da região Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. De novo, podemos observar uma diferença no padrão de
distribuição dos povos indígenas em relação à população brasileira total: desta, a maioria (mais de 40%) se encon-
tra na região Sudeste, que é seguida por Nordeste (com quase 30% da população total), Sul, Norte e Centro-Oeste.

83
Outro dado interessante revelado pelo censo de 2010 é o número de línguas faladas pelos povos
indígenas no Brasil: são 274 idiomas no total, sendo que cerca de 20% da população indígena não fala
português - o que, certamente, é mais um fator de dificuldade na integração destes povos.
Atualmente, segundo a FUNAI, a maior parte da população indígena sofre “uma acelerada e com-
plexa transformação social, necessitando buscar novas respostas para a sua sobrevivência física e cultural
e garantir às próximas gerações melhor qualidade de vida”. Dentre os problemas enfrentados pelas comu-
nidades indígenas, figuram a degradação ambiental, a invasão e a exploração ilegal de seus territórios, ex-
ploração trabalhista e sexual, e não raro, a falta de moradia e condições básicas de sobrevivência quando
estes vivem em grandes centros urbanos. Um bom exemplo é a comunidade indígena situada na encosta
do pico do Jaraguá, em São Paulo, que sobrevive em meio à extrema pobreza. Outras mazelas sociais, como
alcoolismo, suicídio e uso abusivo de drogas são comuns entre algumas populações indígenas.
De acordo com a Constituição Federal de 1988, os povos indígenas detêm o direito originário e o
usufruto exclusivo sobre as terras que tradicionalmente ocupam. A União pode, ainda, estabelecer áreas
destinadas à posse e à ocupação por estes povos em qualquer parte do território nacional.
Entretanto, a questão da demarcação de terras indígenas continua sendo bastante problemática. Há inú-
meras terras cujo processo de demarcação está paralisado, e outras tantas cujo processo nem sequer teve início.
Conflitos fundiários estão no cerne do problema. Agricultores e pecuaristas frequentemente entram em conflito
com os indígenas pela posse das terras. Tal fato se agravou a partir da década de 70, com a expansão da fronteira
agrícola. Interesses extrativistas também compõem a equação: muitas das terras são ricas em minérios que enchem
os olhos de grandes companhias do setor.

Mesmo o Governo Federal, que em teoria deveria zelar por estes povos, acaba por tornar sua existência
ainda mais precária quando decide realizar grandes obras (hidrelétricas e rodovias, por exemplo) em áreas de re-
serva indígena. O período do governo militar é repleto de exemplos de verdadeiros massacres contra a população
indígena em nome do desenvolvimento econômico nacional promovido pela ocupação e realização de grandes
obras na região amazônica. A hidrelétrica de Belo Monte, nos dias atuais, também ilustra bem a situação: inúmeras
famílias foram deslocadas de suas terras para a execução do projeto.
Infelizmente, a questão indígena é um problema que, ao que tudo indica, está ainda bem longe de ser solucio-
nado.

84
A FUNAI
A Fundação Nacional do Índio - FUNAI é o órgão indigenista oficial do Estado brasileiro. Vinculada ao Minis-
tério da Justiça, foi criada em 1967 e é a coordenadora e principal executora da política indigenista do Governo
Federal. Sua missão institucional é proteger e promover os direitos dos povos indígenas no Brasil.
Cabe à FUNAI promover estudos de identificação e delimitação, demarcação, regularização fundiária e re-
gistro das terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas, além de monitorar e fiscalizar as terras indí-
genas. Compete também ao órgão garantir o acesso diferenciado aos direitos sociais e de cidadania aos povos
indígenas.
A atuação da FUNAI está orientada por diversos princípios, dentre os quais se destaca o reconhecimento
da organização social, costumes, línguas, crenças e tradições dos povos indígenas, buscando o alcance da plena
autonomia e autodeterminação dos povos indígenas no Brasil, contribuindo para a consolidação do Estado de-
mocrático e pluriétnico.

O Mito da Democracia Racial


Aos adeptos da teoria da Democracia Racial, um dos principais traços da diversidade brasileira seria o convívio
pacífico entre os diferentes grupos étnicos; além disso, negros e brancos sempre utilizaram o mesmo espaço, isto
é, nunca houve leis que promovessem a segregação no nosso País. Essa harmonia social entre negros e brancos
passou a ser chamada pelas ciências humanas de democracia racial. Esse conceito foi imortalizado aqui no Brasil
na obra Casa-grande & Senzala, de Gilberto Freire, e fazia da sociedade brasileira um modelo a ser seguido no que
diz respeito à convivência entre grupos étnicos diversos.
Apesar do Brasil não ter tido nenhum tipo de lei que segregava os negros como existiu nos Estados Unidos e
na África do Sul, não podemos dizer que vivemos numa democracia racial, pois aqui ainda existem o preconceito e
discriminação contra negros e outros grupos. Como exemplo, podemos citar a fraca presença de negros nas universi-
dades públicas, nos clubes de classe média, na ocupação de cargos executivos, no meio político, mundo da moda etc.
O estudo da Pesquisa Mensal de Emprego, de 2015, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), mostra que, embora o rendimento dos trabalhadores de cor preta ou parda tenha crescido 52,6% entre
2003 e 2015, frente 25% dos brancos, os negros tendem a ganhar 59,2% da renda dos brancos. A população
negra é também mais vulnerável à pobreza. Sete em cada 10 casas que recebem o benefício do Bolsa Família são
chefiadas por negros, segundo dados do estudo Retrato das desigualdades de gênero e raça, do Ipea.
O perfil dos domicílios das favelas brasileiras também aponta para o abismo social que ainda persiste entre bran-
cos e negros no Brasil. Dois terços das casas presentes nestas regiões são chefiadas por homens ou mulheres negros.

85
Em termos educacionais, os dados do IBGE, de Mulheres:
2013, mostram que a população branca tinha 8,8 anos
de estudo em média, já a negra, 7,2 anos. A diferença, a questão de gênero
no entanto, já foi maior. Em 1997, os brancos chegavam
As mulheres, que representam mais da metade da po-
a estudar por 6,7 anos em média e os negros paravam
pulação brasileira, também constituem um grupo que
nos 4,5 anos – isso seria o equivalente ao primeiro ciclo
sofre opressão, violência e relativa marginalização eco-
do ensino fundamental. Mesmo assim, a taxa de analfa-
nômica e política. Embora tal situação não seja novida-
betismo entre os negros (11,5%) é mais de duas vezes
de na sociedade brasileira, diversos movimentos sociais
maior que entre os brancos (5,2%).
vêm se unindo em torno dessa pauta. A busca por maior
Tal abismo econômico e social é refletido nos da-
igualdade e menor opressão de gênero é cada vez mais
dos carcerários brasileiros. Dados oficiais demonstram
patente no debate público, implicando maior número de
que 67% da população carcerária brasileira é preta ou
estudos sobre a dimensão desses problemas.
parda. Além disso, o índice de negros mortos em decor-
rência de ações policiais a cada 100 mil habitantes, em
São Paulo, é quase três vezes o registrado para a popu-
lação branca e a taxa de prisões em flagrante de negros
é duas vezes e meia a verificada para os brancos11.
Essas pesquisas demonstram, portanto, que a
democracia racial no Brasil é apenas um mito. Outro fa-
tor importante a ser lembrado é o fato de existir ainda,
de forma camuflada o racismo que consiste em conside-
rar os negros e os afrodescendentes como inferiores se
Publicado anualmente no Fórum Econômico
comparados aos brancos. Isso pode ser observado atu-
Mundial, o Índice de Desigualdade de Gênero (IDG) leva
almente em diversos jogos de futebol, tanto no nível na-
em consideração estatísticas de 144 países, que ava-
cional ou internacional, onde existe um grande número
liam as condições enfrentadas por mulheres nas áreas
de negros ou pardos. Nesses jogos, é muito comum que
de saúde, educação, paridade econômica e participa-
a torcida rival jogue nos gramados do campo de futebol
ção política. Em 2016, o Brasil ficou na 79ª posição no
bananas para os jogadores, além de imitarem macacos.
ranking, o que implica o fato de a plena igualdade entre
É importante destacar que a prática do racismo
os gêneros ser alcançada somente daqui a 95 anos. O
é crime inafiançável e imprescritível, segundo a Consti-
estudo mostra que 50% das mulheres com idade para
tuição brasileira de 1988.
trabalhar fazem parte da população ativa. No caso dos
homens, o índice é 77%. Segundo o mesmo relatório, a
média salarial das mulheres é 37% menor em relação
comparada a dos homens. Se colocados na mesma fun-
ção, os homens tendem a ganhar 24% a mais do que
as mulheres.
Se no âmbito econômico a mulher é afetada por
amplas desigualdades salariais, fora dele é visível que
sofre inúmeras práticas de violência. O Mapa da Vio-
lência Contra a Mulher (2015) mostra que 31,2% das
agressões contra mulheres ocorrem na rua, enquanto
incríveis 27% em suas casas. A maior parte das vítimas
tem entre 12 e 17 anos, sendo majoritariamente agredi-
Disponível em < http://www.culturamix.com/cul-
tura/politica/democracia-e-populismo>
das por pessoas da família – 25% dos agressores são os
pais, os irmãos e as mães. Já os cônjuges e ex-conjugês
somam 29% das incidências.
1
Estudos disponíveis em: <http://g1.globo.com/sao-pau- Visando a superar o vexatório quadro de vio-
lo/noticia/2014/03/taxa-de-negros-mortos-pela-policia-
-de-sp-e-3-vezes-de-brancos-diz-estudo.html> lência contra as mulheres, houve a edição da Lei no

86
11.340, que ficou conhecida como Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006, que estabelece que
todo o caso de violência domestica contra a mulher é crime e sua apuração deve ser feita mediante inquérito po-
licial e remetido ao Ministério Publico. A lei tipifica situações sobre a violência doméstica que na maior parte dos
casos são provocados pelos maridos ou companheiros. A violência doméstica contra a mulher é tipificada como
física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.
A punição para quem pratica violência contra a mulher é a reclusão de até três anos e fica proibida a pena
pecuniária. Além disso, a mulher que sofreu a agressão deve ser encaminhada aos programas e serviços de proteção.
Outra vitória importante para as mulheres foi a criação da Lei do Feminicídio, sancionada no dia 9 de Março
de 2015 pela presidenta Dilma Rousseff. Para compreender essa lei, é importante conceituar o que é o feminicídio
O feminicídio é caracterizado quando a mulher é assassinada justamente pelo fato de ser mulher. Isso pode
ser visto na forma como o crime for cometido, isto é, mutilação das partes do corpo que tenham relação íntima com
o gênero feminino. Esse tipo de crime também passou a ser considerado como hediondo.
Os crimes hediondos, por sua vez, são considerados de extrema gravidade e, por isso, recebem da justiça um
tratamento bem mais severo, além de serem inafiançáveis.

Disponível em < https://pt.globalvoices.org/2015/03/27/


brasil-aprova-a-lei-do-feminicidio-mas-nao-ha-consenso-quanto-a-sua-eficacia-no-combate-a-violencia-de-genero/>

A questão Homoafetiva
De acordo com a ONU, o Brasil é um dos países com maior número de violações de direitos humanos de lésbicas,
gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs). A discriminação contra pessoas em função de sua orientação se-
xual e/ou identidade de gênero presumidas é chamada de LGBTfobia. Atualmente, a LGBT fobia não é tipificada no
Brasil como crime - embora se saiba que ela já tenha feito inúmeras vítimas.
A discriminação ocorre em todas as esferas da vida cotidiana: do mercado de trabalho à vida privada, os
dados disponíveis para o Brasil são alarmantes. De acordo com o relatório divulgado pela Secretaria de Direitos
Humanos (SDH) em 2012 a respeito do tema, mais de 60% da população LGBT já se sentiu discriminada em fun-
ção de sua orientação sexual ou identidade de gênero. O que mais impressiona nos dados, contudo, é a origem da
discriminação: mais de 10% dos entrevistados afirma ter sofrido preconceito no próprio núcleo familiar.
Já o Grupo Gay da Bahia, responsável pela elaboração do Relatório de Assassinatos LGBT no Brasil, diz que
somente no ano de 2015 foram registradas 318 mortes motivadas por discriminação contra LGBTs - um aumento
considerável em relação a anos anteriores. Se por um lado o aumento das estatísticas se deve a fatores como aces-

87
so a mais informações, por outro ele também se dá graças à ascensão do número de LGBTs que se declaram como
tal. Assumir sua orientação sexual e sua identidade de gênero coloca-os em uma situação de exposição e leva a
uma reação conservadora que, quase sempre, se associa com os crimes.
O relatório, reconhecido pela SDH, mostra os assassinatos de LGBTs podem ocorrer em locais que vão
desde residências até vias públicas (geralmente em horários noturnos), e podem ser perpetrados com armas de
fogo, armas brancas, asfixiamentos e até espancamentos. Aqui também há o problema de subnotificação: embora
o grupo receba informações de fontes variadas, sua principal base de dados são os casos divulgados pela mídia.
Por medo de represálias, muitas das vítimas optam por não fazer boletim de ocorrência. Estudiosos contam que,
devido ao preconceito, muitos policiais ignoram os crimes ou fazem deles pouco caso. Novamente, é provável que
as estatísticas mascarem uma realidade ainda mais violenta para a população LGBT.
O estudo revelou que, no Brasil, uma pessoa LGBT é assassinada a cada 28 horas. Revelou também um
recorte regional nos casos de LGBTfobia: no país, é a região Nordeste quem lidera, proporcionalmente, o ranking
de violações de direitos humanos das pessoas LGBTs. Em números absolutos, quem lidera é a região Sudeste, ala-
vancada por São Paulo - estado da federação em que mais ocorrem crimes do tipo.

Além disso, o estudo revela que as condições em que vivem as pessoas LGBTs também têm influência na
composição do quadro: por geralmente estarem em condição de rua e/ou de prostituição (graças à exclusão de
outros espaços sociais), as travestis tendem a ser o grupo que proporcionalmente mais sofre com a violência. No
Brasil há, aproximadamente, 1,5 milhão de transexuais. Destes, segundo estimativas recentes, 90% se encontram
em condição de prostituição devido à dificuldade de, por conta do preconceito, ter uma formação e arranjar um
emprego formal. Coincidentemente ou não, em 2016 o Brasil liderou o ranking de assassinatos de transexuais. De
todas as mortes de transexuais registradas em mais de 30 países, mais de um terço ocorreu no Brasil.
Ainda segundo o Grupo Gay da Bahia, de todos os assassinatos de LGBTs ocorridos em 2015, apenas ¼
teve o responsável identificado, e somente 10% dos casos acarretou punição para os envolvidos. O relatório con-
tribui para evidenciar uma faceta importante da LGBTfobia: a impunidade para os criminosos.
Como dito anteriormente, a discriminação não se restringe apenas a casos de violência física: ela acontece
diariamente no mercado de trabalho, nas escolas, nas ruas e na vida particular. São comuns relatos de demissões
motivadas por LGBTfobia, assédios diversos e outras formas de violência (psicológica, por exemplo).

88
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeos Maria Rita Kehl: Feminismo, feminilidade...

Fonte: Youtube

Vídeos Raça e racismo no Brasil | Caarlos Medeiros

Fonte: Youtube

Vídeos James Green e a história do movimento LGBT

Fonte: Youtube

Vídeos Desigualdade #4: Desigualdade de gênero

Fonte: Youtube

90
ASSISTIR

Vídeos Raça e racismo no Brasil | Carlos Medeiros

Fonte: Youtube

Vídeos Cidade de Deus

Nas favelas do Rio de Janeiro dos anos 1970, dois rapazes seguem
caminhos diferentes. Buscapé é um fotógrafo que registra o cotidiano
violento do lugar, e Zé Pequeno é um ambicioso traficante que usa as
fotos de Buscapé para provar como é durão.

Vídeos Moonlight

Black trilha uma jornada de autoconhecimento enquanto tenta escapar do


caminho fácil da criminalidade e do mundo das drogas de Miami. Encontrando
amor em locais surpreendentes, ele sonha com um futuro maravilhoso.

91
INTERDISCIPLINARIDADE

As investigações da Comissão Nacional da Verdade (CNV) pela região Amazônica indicam um verdadeiro genocídio de ín-
dios durante o período da ditadura militar. Não há como falar em um número exato de mortos devido à falta de registros.
Os relatos colhidos, no entanto, apontam que cerca de oito mil índios foram exterminados em pelo menos quatro frentes
de construção de estradas no meio da mata, principalmente na construção da rodovia Transamazônica. Estes projetos
foram tocados com prioridade pelos governos militares da década de 1970, no bojo do chamado Milagre Econômico.

92
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 12 - Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.

As questões enquadradas na Habilidade 12 vêm normalmente acompanhadas de excertos de consti-


tuições ou comentários sobre elas, em diferentes nações e épocas. O estudante deverá compreender
as motivações e o teor gerais das principais constituições e leis tratadas pelo ENEM. No caso brasileiro,
especificamente no que tange à constituição de 1988, o candidato deverá levar em conta seu caráter
de inclusão. No caso dos indígenas, ela versa sobre diversas formas de proteger seu patrimônio cultural
e territorial. Trata-se de uma série de regras, por exemplo, de demarcação de terras indígenas que visam
a protegê-los do avanço da agropecuária, da grilagem e do banditismo, permitindo que eles tenham
as terras que lhes pertencem por direito ou reparação histórica.

Modelo
(Enem 2017) Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, compe-
tindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 27 abr. 2017.

A persistência das reivindicações relativas à aplicação desse preceito normativo tem em vista a
vinculação histórica fundamental entre:
a) etnia e miscigenação racial.
b) sociedade e igualdade jurídica.
c) espaço e sobrevivência cultural.
d) progresso e educação ambiental.
e) bem-estar e modernização econômica.

Análise Expositiva

Habilidade 12
O artigo da Constituição de 1988 é claro na relação entre os direitos dos povos indígenas de man-
terem suas tradições e a necessidade de deterem a posse de suas terras. De fato, a persistência de
uma cultura está intimamente relacionada com o território que seus membros ocupam.
Alternativa C

94
Estrutura Conceitual

Minorias

Não é um conceito Identidade em


Vulnerabilidades numérico, mas de formação
desvantagens sociais (LGBT e negros)

Políticas afirmativas Luta contra


◊ Cotas raciais
◊ Cotas de gênero
privilégios
◊ Igualdade salarial históricos

Resistência Demarcação de
conservadora terras indígenas

95
Aprofunde seus conhecimentos
1. (Ufg) Leia o texto e analise a figura a seguir.
Em 1991, a renda média das brasileiras cor-
respondia a 63% do rendimento masculi-
no. Em 2000, chegou a 71%. As conquistas
comprovam dedicação, mas também necessi-
dade. As pesquisas revelam que quase 30%
delas apresentam em seus currículos mais
de dez anos de escolaridade, contra 20% dos
profissionais masculinos.
PROBST, Elisiana Renata. “A evolução da mulher
no mercado de trabalho”. Revista do Instituto “O direito a uma vida livre de violência é um
Catarinense de Pós Graduação. Disponível em:
dos direitos básicos de toda mulher. É pela
<www.icpg.com.br>. Acesso em: 4 abr. 2014
garantia desse direito que marchamos hoje e
marcharemos sempre, até que todas sejamos
livres”.
Esse texto constava entre os inúmeros carta-
zes na Segunda Marcha das Vadias no Distri-
to Federal.
Com base nas informações da charge, do tex-
to e seus conhecimentos sobre o tema, são
verdadeiras as afirmativas, EXCETO:
a) A violência física contra a mulher é o está-
gio de uma série de violências verbais, sim-
bólicas, psicológicas que atingem mulheres
todos os dias. A discriminação histórica con-
tra a mulher não é fruto de uma concepção
patriarcal que ainda impera, mesmo incons-
cientemente, na sociedade.
b) A marcha das vadias objetiva conscientizar
a sociedade de que a culpa do estupro não é
da mulher e o estupro não dever estar asso-
ciado ao modo como ela se veste. Protestam
contra a culpabilização das vitimas nos ca-
sos das violências sofridas. Criticam também
as instituições que sustentam a dominação e
a exploração contra a mulher.
Tendo em vista o texto e o implícito no dis- c) A mercantilização do corpo da mulher, do
curso iconográfico, percebe-se prazer e a banalização da exploração sexu-
a) as diferenças na valorização da força de al são dimensões da globalização econômi-
trabalho entre os gêneros e a ampliação ca. A mulher é considerada alvo estratégico
das demandas das mulheres na luta pelo do consumismo e o apelo sexual o elemento
central nesse método.
reconhecimento social.
d) Mulheres trabalhadoras assalariadas, depois
b) a queda da taxa de fecundidade, elevando a do trabalho nas fábricas, no comércio, no
renda feminina, e os tabus da adequação a campo ou como empregadas domésticas, são
padrões de beleza vigentes. subordinadas à dupla jornada de trabalho ao
c) a alteração do perfil das trabalhadoras que se realizarem as tarefas domésticas ao chega-
tornam mais velhas, casadas e mães e a partici- rem em casa. Já as mulheres burguesas ou
pação das mulheres no movimento feminista. de classe média alta, mesmo que trabalhem,
d) a classificação do trabalho doméstico conta- relegam as mulheres mais pobres a essa se-
bilizado como atividade econômica e a conti- gunda atividade. Logo, em sua grande maio-
ria são as mulheres pobres e trabalhadoras
nuidade de modelos familiares tradicionais. exploradas e oprimidas que lutam de forma
e) as diferenças da jornada de trabalho entre os consciente contra a opressão.
gêneros e a influência da mídia estabelecen- e) A opressão ao sexo feminino nas empresas
do um padrão de corpo feminino. se dá na prática do assédio e abuso sexual
em troca da manutenção do emprego e das
promoções de cargos. As mulheres que não
2. (Uepb) A charge e o texto abaixo retratam aceitam esses “pré-requisitos” têm que se
um dos temas trabalhados pela Geografia: desdobrar e demonstrar capacidade e supe-
Questão de Gênero. rioridade para se manter em seus empregos.

96
3. (UDESC)

Com base nos dados apresentados acima, assinale a alternativa correta.


a) A maior parte dos homofóbicos é do sexo masculino, jovem, branco e desconhecido da vítima.
b) Os dados apontam a correlação entre homofobia, faixa etária e questões raciais.
c) Os casos de homofobia são predominantemente vinculados ao tipo de vida dos próprios homossexuais, uma vez que
se relacionam com pessoas contatadas em chats ou em locais de pouca segurança, como parques e boates gays.
d) A maior parte dos suspeitos prefere não informar sua orientação sexual, o que também se aplica ao perfil das vítimas.
e) Embora porcentagem considerável de mulheres tenham sido vítimas de violência, não se constata
índice relevante de mulheres suspeitas de homofobia.

4. (UFSM) Analise os fragmentos a seguir.


A sociologia, a antropologia e outras ciências humanas lançaram mão [dessa] categoria para demonstrar
e sistematizar as desigualdades socioculturais existentes entre mulheres e homens, que repercutem na
esfera da vida pública e privada de ambos os sexos, impondo a eles papéis sociais diferenciados que foram
construídos historicamente e criaram polos de dominação e submissão. Impõe-se o poder masculino em
detrimento dos direitos das mulheres, subordinando-as às necessidades pessoais e políticas dos homens,
tornando-as dependentes. Portanto, [esse] termo pode ser entendido como um instrumento, como uma
lente de aumento que facilita a percepção das desigualdades sociais e econômicas entre mulheres e ho-
mens, que se deve à discriminação histórica contra as mulheres. Esse instrumento oferece possibilidades
mais amplas de estudo sobre a mulher, percebendo a em sua dimensão relacional com os homens e o
poder. Como uso desse instrumento, pode-se analisar o fenômeno da discriminação sexual e suas imbri-
cações relativas à classe social, às questões étnico-raciais, intergeracionais e de orientação sexual.
TELES, Maria Amélia de Almeida & MELLO, Mônica. O que é violência contra a
mulher. São Paulo: Brasiliense, 2003. p. 16-17. (adaptado)

Fundamental para os estudos históricos na atualidade, o texto se refere ao conceito de


a) gênero.
b) patriarcado.
c) empoderamento.
d) matriarcado.
e) feminismo.

97
5. (Unesp) Em maio deste ano, a divulgação do CORRETO afirmar sobre questões de gênero.
vídeo de uma moça desacordada, vítima de a) O debate sobre gênero na educação interessa
um estupro coletivo, provocou grande indig- apenas aos homens e para as pessoas que só
nação na população. Num primeiro momen- têm atração sexual por pessoas do sexo oposto.
to, prevaleceu a revolta diante da barbárie b) Nas concepções sobre gênero, o sexo biológi-
e a percepção de que o machismo, base da co corresponde a uma identidade cultural que
chamada “cultura do estupro”, persiste na se mantém inalterada até o final da vida.
sociedade. Passado o primeiro momento, as c) A identidade de gênero é determinada
opiniões divergentes começaram a surgir. biologicamente e não pode ser modificada
Entre os que não veem o machismo como pela cultura, pelo meio social, pela educa-
propulsor de crimes desse tipo estão aque- ção nem por todas as relações sociais que
les (e aquelas!) que consideraram os autores fazem parte da vida dos indivíduos.
do ato uns “monstros”, o que faz do episó- d) A compreensão da temática de gênero
dio um caso isolado, perpetrado por pessoas perpassa um sistema de relações de po-
más. Houve quem analisasse o fato do ponto der, baseadas em um conjunto de papéis,
de vista da psicologia, sugerindo que, num identidade, comportamentos e estereótipos
estupro coletivo, o que importa é o grupo, atribuídos a mulheres e homens.
não a mulher (como ocorre nos trotes con- e) As relações de gênero não estão ligadas a
tra calouros e na agressão entre torcidas de contextos de relações de poder e desigualda-
futebol). Mais uma vez, temos uma reflexão de, ao contrário das relações travadas entre
que se propõe explicar os fatos à luz do in- as classes sociais e os grupos étnicos.
divíduo e seu psiquismo. Outros deslocam o
problema para as classes sociais menos favo- 7. (UFU) Até a noite de 28 de junho, lésbi-
recidas. São os que costumam ficar horrori- cas, gays, bissexuais, travestis e transexuais
zados com a existência de favelas, ambientes (LGBT) eram, sistematicamente, acuados e
onde meninas dançam com pouca roupa ao sofriam todo tipo de preconceitos, agressões
som das letras machistas do funk. e represálias por parte do departamento de
(Thaís Nicoleti. “Discursos em torno da ‘cultura do estupro’”. polícia de Nova Iorque. Mas nesta noite, a
população LGBT, presente no bar Stonewall
www.uol.com.br, 09.06.2016. Adaptado.)
Inn, se revoltou contra as provocações e
Considerando o conjunto dos argumentos investidas da polícia e, munida de cora-
mobilizados no texto para explicar a violên- gem, deu um basta àquela triste realidade
cia contra a mulher na sociedade atual, é de opressão. Por três dias e por três noites,
correto afirmar que pessoas LGBT, e aliadas, resistiram ao cer-
a) a “cultura do estupro” é um conceito edu- co policial e a data ficou conhecida como a
cacional relacionado sobretudo com o baixo Revolta de Stonewall. Surgiu o Gay Pride e
nível de escolarização da população. a resistência conseguiu a atenção de muitos
b) as origens e responsabilidades por tais acon- países, em especial a do governo estaduni-
tecimentos devem ser atribuídas tanto aos dense, para os seus problemas.
agentes quanto às vítimas da agressão. Disponível em: <http://www.cepac.org.br/
agentesdacidadania/?page_id=185>.
c) a “cultura do estupro” é um conceito cientí-
fico, relacionado com desvios comportamen- Considerando o texto, é correto afirmar que
tais de natureza psiquiátrica. os novos movimentos sociais:
d) os episódios de barbárie social são provoca- a) São definidos por sua associação às organizações
dos exclusivamente pelas desigualdades ma- de classe e defesa da população marginalizada.
teriais geradas pelo capitalismo. b) Ampliam e redefinem as formas de participa-
e) a abordagem opõe um enfoque antropológico, ção política em regimes democráticos.
baseado em questões de gênero, a argumen- c) Lutam exclusivamente em defesa de seus interes-
tos de natureza moral, psicológica e social. ses econômicos a partir de estruturas partidárias.
d) Reivindicam a extensão de direitos sociais, civis
6. (Unioeste) No dia 22 de junho de 2015, a As- e políticos, necessariamente universalizáveis.
sembleia Legislativa do Paraná colocou como
pauta de discussão o debate sobre a “ideolo- 8. (UFU) Nas últimas décadas, o Brasil expe-
gia de gênero” nas escolas do Paraná. Sabe- rimentou mudanças demográficas, sociais,
-se que o conceito de gênero é fundamental culturais, econômicas e políticas significa-
para a compreensão das desigualdades en- tivas. A crescente inserção das mulheres no
tre homens e mulheres e coloca em xeque as mercado de trabalho e na política, a melho-
atribuições relacionais que a sociedade cons- ria de seu nível educacional, a redução da
trói para homens e mulheres. Dada a reper- fecundidade, a postergação da maternidade,
cussão do tema e a relevância da temática, é a redução da resistência a novos atributos

98
para os papeis feminino e masculino são al- 1
0. (UFU) O discurso sobre a formação da iden-
gumas delas. No entanto, os ritmos de tais tidade nacional brasileira tem como uma de
mudanças parecem seguir descompassados. suas vertentes o estudo das consequências
PICANÇO, Felícia Silva. Amélia e a mulher de verdade: do encontro de três matrizes étnicas: o ne-
representações dos papéis da mulher e do homem em gro, o europeu (branco) e o indígena. Em
relação ao trabalho e à vida familiar. Em: ARAÚJO, meio a este debate, e contrariando as teo-
C. & SCALON, C. (org.). Gênero, família e trabalho
no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
rias raciais, elaborou-se uma tese conhecida
como “democracia racial”, caracterizada por
De acordo com o trecho acima, as desigual- a) defender o direito de participação de represen-
dades de gênero na inserção no mercado de tantes de todas as raças no processo político.
trabalho persistiriam devido à b) pressupor a miscigenação harmoniosa
a) maior participação dos membros masculinos entre os diferentes grupos étnicos que
nas tarefas concernentes ao trabalho domés- formaram a nação brasileira.
tico. c) denunciar os conflitos raciais e a desvalori-
b) representação de que não cabe apenas ao zação dos afrodescendentes no Brasil.
homem, enquanto chefe de família, o papel d) culpar os grupos dominantes pela margina-
de provedor do grupo doméstico. lização dos afrodescendentes e da população
c) crença no fato de que o ingresso feminino indígena brasileira.
no mercado de trabalho gera um prejuízo à
família.
d) crítica à representação da mulher como na-
turalmente disposta a assumir os papéis de
Gabarito
esposa e mãe.
1. A 2. A 3. B 4. A 5. E
9. (Unioeste) No Brasil, ainda são elevados os 6. D 7. B 8. C 9. E 10. B
índices de violência e desigualdades de di-
reitos entre homens e mulheres. Alguns es-
tudos de gênero defendem a necessidade de
analisarmos, com mais propriedade, a situa-
ção das mulheres e demais grupos subalter-
nizados, social e cientificamente. Sobre os
temas ligados aos estudos de gênero, assina-
le a afirmativa INCORRETA.
a) Debater o tema da cidadania das mulheres é
também analisar um processo que envolve a
participação das mulheres na esfera pública
e no mercado de trabalho, marcada por in-
clusões e exclusões que vêm desde o século
XVIII.
b) No âmbito teórico, os movimentos feminis-
tas, ao entrarem na academia e ao fazerem
crítica às categorias de análise, produziram
o conceito de gênero.
c) Quando se fala em estudos de gênero, se
pensa na igualdade de direitos entre mulhe-
res e homens, e, em alguns casos, em rei-
vindicações por atendimentos especiais às
mulheres.
d) As políticas públicas, consideradas em sua
variedade e alcance, são um importante ins-
trumento para a concretização dos objetivos
das mulheres.
e) O problema da violência contra a mulher no
Brasil foi solucionado com a promulgação da
Lei Maria da Penha.

99
econômica

política

profissional

Aula 16

A questão do trabalho
no Brasil
Competências 1, 2, 3, 4 e 5
Habilidades 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
13, 15, 16, 18, 20, 22, 23, 24 e 25
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
O trabalho deve ser visto como algo inerente à natureza humana, isto é, desde a pré-história até o mundo contem-
porâneo o trabalho sempre esteve presente na vida humana.
A importância do trabalho é crucial na vida dos homens, pois é através do trabalho que temos a interven-
ção do homem na natureza, que procura explorar ou transformar os recursos naturais existentes para sua vida;
desse modo, o trabalho pode ser visto como uma condição humana necessária para existência do homem em sua
plenitude.
Para uma melhor compreensão podemos definir trabalho como um conjunto de atividades
realizadas, é o esforço feito por indivíduos, com o objetivo de atingir uma meta. O trabalho também pode
ser abordado de diversas maneiras e com enfoque em várias áreas, como na economia, na física, na filosofia, a
evolução do trabalho na história etc., porém, para ter uma visão que fuja do senso comum, é importante lembrar
que o sentido etimológico da palavra trabalho, que deriva do latim tripalium (tri= três e palum = madeira), ou seja,
o trabalho era uma forma de castigo que os romanos aplicavam aos escravos considerados preguiçosos.
Triplaium

Disponível em: <https://gustavosirelli.wordpress.com/2011/06/21/tripalium/tripalium/>

Foi devido a relações sociais existentes no trabalho, que se desenvolveu ao longo da história humana a sociedade
dividida em classes, que acabou sendo objeto de estudo de grandes pensadores da sociologia, como Karl Marx,
Adam Smith e Max Weber. Esses pensadores queriam compreender o funcionamento da sociedade capitalista,
sendo assim, se debruçaram no funcionamento das relações de produção.
As relações de produção necessitam de indivíduos que se relacionem uns com os outros para a produção
de bens e serviços. Nesse processo, essas pessoas estão ligadas entre si e dependem uma das outras fazendo do
trabalho um ato social, isto é, que é realizado em sociedade. Isso faz da relação social de produção o meio neces-
sário para a distribuição dos bens e serviços necessários à organização da vida social, já que em cada civilização
ou época existe uma visão acerca do trabalho que pode ser positiva ou negativa.
No caso negativo, podemos observar as sociedades que tiveram ou possuam uma forte influência da religião
católica. No catolicismo, durante o período medieval especialmente, predominou a condenação do trabalho como
forma de acumular riqueza; além disso, o lucro e a usura também eram formas de condenação, uma vez que existia
o preço, o justo, e os juros não poderia existir pois, não cabe ao homem comum cobrar pelo tempo que algo divino.
Essa mentalidade religiosa em relação à possibilidade do acúmulo de riqueza ainda está presente na sociedade
brasileira; vejamos o caso do jogador Neymar que saiu do Santos, onde ganhava uma quantia muito superior a de
qualquer profissional bem-sucedido, e que seria suficiente para que ele tivesse o máximo de conforto, porém ele
preferiu ir jogar no Barcelona com um salário de R$ 4,8 milhões por mês, o que dá R$ 51,4 milhões por ano. Para
muitas pessoas, Neymar se tornou um mercenário, já que o seu interesse passou a ser o de ganhar cada vez mais.

103
Já no caso positivo em relação ao trabalho nas quilo que corresponde à evolução do homem e à necessi-
sociedades onde predomina a religião protestante calvi- dade de suprir suas necessidades frente ao meio.
nista, o caso Neymar seria visto como o de um vencedor O economista Adam Smith também foi outro
que usou seu trabalho para chegar onde está. pensador que estudou o trabalho em sua obra A riqueza
Na obra “A ética protestante e o espírito do ca- das nações, apresentando o trabalho como a única fon-
pitalismo”, Weber aponta a relação existente entre o te de riqueza que era fruto das ações individuais em be-
trabalho e o acúmulo de capital. nefício próprio, criando, assim, o liberalismo econômico.
Para Weber, a ética calvinista traz consigo o ím- “Não é da benevolência do padeiro, do açou-
peto do capitalismo no dito “mãos desocupadas, ofici- gueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu
na do diabo”. Esse aforisma transforma o trabalho num jantar, mas sim do empenho deles em promover seu
ethos conjunto dos costumes e hábitos fundamentais, auto interesse”.
no âmbito do comportamento. O calvinismo proclama Assim, acreditava que a iniciativa privada deve-
o trabalho como um dever e uma obrigação moral e ria agir livremente sem a interferência do Estado, já que
também como um poderoso racionalizador da ativida- existiria a mão invisível do mercado para regulamentar
de econômica geradora do lucro, fazendo com que o as ações econômicas.
trabalho renda mais dinheiro, pois ao invés de gastá-lo Agora que tivemos uma síntese sobre o conceito
investe em mais trabalho para gerar mais dinheiro. de trabalho no mundo ocidental, veremos o trabalho
Ao lado das máximas de Benjamin Franklin, o no Brasil.
pensamento weberiano estabelece que no calvinismo Para compreender o trabalho na sociedade bra-
“trabalhar é ganhar para poupar e investir para que se sileira, é preciso lembrar das primeiras relações sociais
possa trabalhar mais e investir mais.” de produção que ocorreram no nosso território antes e
Entretanto, para Marx, em seu livro O capital, depois da presença europeia; o primeiro exemplo a ser
foi graças ao seu trabalho que o homem conseguiu do- destacado é o trabalho do indígena que criava uma re-
minar, em parte, as forças da natureza, colocando-as a lação de degradação menor com o meio, já que o índio
seu serviço. Vejamos o que ele disse: “Como criador de se via parte dessa mesma natureza. Durante o período
valores de uso, como trabalho útil, é o trabalho, por isso, de colonização, o trabalho passou a ser feito sobre o
uma condição de existência do homem, independente sistema de escravidão, que teve duração de mais de 300
de todas as formas de sociedade, eterna necessidade anos, e promoveu uma grande exploração não apenas
natural de mediação do metabolismo entre homem e dos recursos naturais, mas especialmente da mão de
natureza e, portanto, da vida humana.” obra utilizada pelos africanos; e posteriormente tivemos
Os animais também trabalham e produzem, po- o estabelecimento do trabalho livre assalariado que,
rém, somente para atender às exigências práticas ime- apesar desse nome, teve sérias consequências sociais
diatas, exigências materiais diretas dos mesmos ou de durante sua implantação já que a jornada de trabalho
seus filhotes, portanto, não podendo ser livres ao tra- era extremamente longa e não havia direitos sociais que
balharem, pois, a atividade dos mesmos é determinada garantissem o bem-estar do trabalhador, seja na lavou-
unicamente pelo instinto ou pela experiência limitada ra ou na indústria.
que podem ter. O que ocorre ao homem é diferente. An- É importante lembrar que tanto na escravidão
terior à realização de seu trabalho, o homem é capaz de como no trabalho livre a exploração da natureza foi
projetá-lo, ou seja, a capacidade de definir meios diver- imensa devido ao fato dessas formas estarem inseridas
sos que possibilitam o alcance de seu objetivo, possuin- na lógica mercantil de acumulação de capital. O acú-
do a livre escolha da alternativa que melhor se adeque mulo de capital na sociedade capitalista ocorre em duas
a seus meios e procura segui-los. esferas: a primeira, de retirar o máximo de recursos da
Justamente porque o trabalho humano pode ser di- natureza para sua transformação em mercadorias para
ferente do trabalho dos animais, é que o homem modifica que sejam colocadas no mercado à venda; a segunda
a natureza de acordo com suas possibilidades. O que Marx ocorre na forma de exploração da mão de obra assala-
observa na História é a evolução gradativa do trabalho, na- riada para a execução desse trabalho.

104
O trabalho físico ao longo dos séculos sempre esteve relacionado às camadas sociais subalternas e, geral-
mente, não era valorizado pela classe dominante, que o considerava uma atividade que devesse ser praticada por
pessoas inferiores.
A pensadora Marilena Chauí, em seu artigo “Sobre o direito à preguiça”, diz que o trabalho como desonra
e degradação não é algo apenas da sociedade ocidental, já que esse pensamento está presente em vários mitos de
origem. Um exemplo é o caso das sociedades do mundo clássico (Grécia e Roma), onde os poetas e filósofos não se
cansam de proclamar o ócio como um valor indispensável para a vida livre e feliz pelas letras, artes e ciências e para
o cuidado do corpo e da beleza. O trabalho nessas sociedades é uma pena que cabe aos escravos ou aos homens
livres pobres. São estes últimos na sociedade romana que eram chamados de humiliores, os humildes ou inferiores,
em contraposição aos honestiores, os homens bons porque eram livres, senhores das terras, da guerra e da política.
A iconografia a seguir é um quadro da modernista Tarsila do Amaral, pintado no de 1933. Nesse período,
a pintora estava ligada politicamente ao comunismo, além disso, havia visitado a extinta URSS. Sua tela ilustra o
momento político e social brasileiro dos anos de 1930 como a industrialização, a migração do campo para as cida-
des, a consolidação do capitalismo industrial e o surgimento de uma classe social de trabalhadores marginalizada
e explorada. Isso pode ser visto nos rostos sobrepostos, o que indica a massificação e a vida nas cidades. Outro
detalhe é a expressão desses trabalhadores que não demonstram nenhum tipo de alegria em suas feições que
estão dominadas pelo cansaço, além de mostrarem as diferentes etnias da sociedade brasileira.

Os operários (1933), Tarsila do Amaral.

Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/05/22/934979/conheca-operarios-tarsila-do-amaral.html>

105
O trabalho na tradição judaico-cristã e na cultura clássica
O trabalho na visão religiosa do monoteísmo judaico ou cristão apresenta essa atividade como sendo um castigo
divino devido ao pecado original praticado por Adão e Eva. À primeira mulher Deus disse: “multiplicarei as dores
de tua gravidez, na dor darás à luz filhos. Teu desejo te levará ao homem e ele te dominará” (Genesis, 3:16).
Ao primeiro homem, disse Jeová: “Maldito é o solo por causa de ti! Com sofrimentos dele nutrirás todos os
dias de tua vida (...). Com o suor de teu rosto comerás teu pão, até que retornes ao solo, pois dele foste tirado.
Pois tu és pó e ao pó retornarás” (Genesis, 3:17).
Na cultura grega, o panteão de deuses existente possui algumas características em comum, como o fato
de habitar o Monte Olimpo seres eternos e bonitos e de não trabalharem. O único deus que trabalha na religião
clássica grega é Hefestos, que mediante essa condição não pode habitar o Olimpo e, por isso, sua morada passa
a ser a do mundo inferior, além também de ser muito feio e coxo.
Essas narrativas foram durante muito tempo uma forma de organizar a mentalidade da sociedade ocidental
no que diz respeito ao trabalho.

O trabalho na sociedade atual envolve praticamente quase que a totalidade dos diversos grupos sociais,
pois devido ao fato de vivermos na sociedade capitalista, nosso sustento está vinculado à venda de nossa força de
trabalho para empresas privadas ou públicas, quando não somos os proprietários dos meios de produção.
Essa relação social de produção existente no mundo do trabalho no sistema capitalista vem passando por
inúmeras transformações, pois é através do modo de produção predominante que se estabelece a priori a forma
pelo qual os produtos do trabalho são apropriados pela classe dominante.
No Brasil, o longo período da existência do trabalho escravo fez com que as atividades feitas entre homem
e natureza mediadas pelo trabalho produzisse uma sociedade que via no trabalho uma atividade inferior. Porém,
com o estabelecimento da industrialização, a partir dos anos de 1930, o trabalho foi deixando de possuir esse sig-
nificado negativo e foi gradativamente sendo valorizado, já que o processo de industrialização não alterou apenas
a paisagem do Brasil com as indústrias e a urbanização, mas também com o nascimento de uma classe média
urbana e de um operariado que juntos tornaram-se consumidores das diversas mercadorias produzidas no interior
da sociedade capitalista.

A divisão social do trabalho

Disponível em: <http://questoessociologicas.blogspot.com.br/2014/08/alienacao-do-trabalho.html>

A divisão do trabalho corresponde à especialização de tarefas com funções específicas, com finalidade de dinami-
zar e otimizar a produção industrial. Esse processo produz eficiência e rapidez ao sistema produtivo. Os grandes
teóricos que procuraram discutir essa forma de produção foram Karl Marx e Adam Smith.
Podemos situar o aparecimento da divisão social do trabalho após a Revolução Industrial, que passou a
produzir mercadorias em larga escala e, por isso, necessitava de método que fosse capaz de aumentar a produção
de bens sem a necessidade de contratar novos trabalhadores.

106
A divisão do trabalho faz com que o trabalhador adquira, com a tarefa repetitiva, uma agilidade maior e com
isso fique “treinado” na execução de seus movimentos, provocando assim uma diminuição no tempo gasto: o resulta-
do é o aumento da produção em todo período de trabalho. A divisão do trabalho favorece a vida em sociedade, pois
cada indivíduo tem sua função na estrutura social, desempenha algo que é necessário e útil para si e para as outras
pessoas.
Apesar de esse processo organizacional produzir um aumento na produtividade, ocasiona também o surgi-
mento de trabalhadores alienados quanto ao processo produtivo, isso quer dizer que o trabalhador conhece somente
uma única etapa da produção, tornando-se muito limitado. Outro aspecto interessante é a individualidade que gera a
divisão do trabalho social. Cada um desempenha uma função na sociedade, fazendo assim uma coesão social.
Homens trabalhando numa linha de produção

Disponível em: <http://economia.culturamix.com/negocios/taylorismo-e-fordismo

Taylorismo

Otimizar a utilização das máquinas e o tempo de trabalho dos operários. Dentro desse processo, ele constatou
que a especialização era a melhor forma de aperfeiçoar a qualidade e o volume da produção. Dessa forma, foram
criadas várias etapas extremamente mecânicas e monótonas dentro da escala de trabalho. Segundo ele, assim
era possível estabelecer controle, análise e desenvolvimento do processo produtivo de forma precisa e racional.
Aos poucos, o estilo de produção criado por Taylor mostrava-se eficaz e foi sendo adotado pelos industriais.
Para incentivar os operários, era possível criar bonificações após as metas de trabalho serem superadas. Esse
modelo de produção recebeu muitas críticas por conta da submissão dos trabalhadores perante às condições de
trabalho e o afastamento dos mesmos em relação ao processo produtivo. O aumento da concorrência, a busca
desenfreada pelo lucro e a mão de obra abundante levaram os industriais a utilizarem amplamente o sistema de
Taylor pelo mundo afora.

Fordismo
Henry Ford foi o responsável por trazer as ideias de Taylor para a indústria automobilística, na primeira metrada
do século XX. Assim, foram criadas as famosas linhas de montagem para a produção em série. O produto final era
pensado para atingir uma grande massa de indivíduos, excluindo qualquer opção de escolha.
Nas linhas de produção, cada setor era responsável por desenvolver uma peça do produto, que a seguir era
passado para frente através de uma esteira, seguindo até sua completa execução. Cada operário realizava uma
função simples, assim, não era necessária alguma qualificação significante.
Através desse sistema foi possível diminuir os custos de produção e atender uma demanda crescente de
consumidores. O produto mais conhecido na indústria de Ford foi o Modelo T.
Disponível em: <http://economia.culturamix.com/negocios/taylorismo-e-fordismo>

107
Divisão sexual e etária do trabalho – o trabalho feminino
A divisão sexual do trabalho tem sua origem na pré-história, durante o período que trouxe consigo a divisão social
do trabalho, já que os homens eram responsáveis pela caça e pesca e as mulheres pela coleta de frutos. Apesar
da divisão, a relação entre homens e mulheres não era de dominação, até porque a mulher gozava de privilégios
por ser capaz de gerar a vida e de possuir o próprio alimento para sua prole (leite materno). Devido à escassez de
conseguir alimento, muitas crianças acabavam por ajudar os pais, mas eles não tinham obrigação com o trabalho.
Ao longo da história humana, o que caracterizava a vida das famílias era a integração entre as funções
domésticas e o trabalho produtivo que era dividido pela sexualidade. Desse modo, existia uma divisão sexual para
a realização do trabalho produtivo praticado pelos homens, do trabalho doméstico praticado pelas mulheres que
também tinham a obrigação de educar os filhos. As mulheres viviam presas a esse duplo trabalho e gozavam de
uma condição de inferioridade e desigualdade em relação à posição social do homem.
Com o advento da Revolução Industrial no século XVIII, homens, mulheres e crianças foram lançados para
o trabalho produtivo dentro das fábricas com uma extensa jornada de trabalho igual para todos; além disso, as
condições sociais desses trabalhadores eram péssimas. Essa situação precária dos trabalhadores perdurou até o
início do século XX, pois ao longo desse tempo o trabalhador industrial passou a se organizar para exigir melhores
condições de trabalho.
Um exemplo importante da luta por melhores condições de trabalho pode ser visto na greve realizada no dia
8 de março de 1857, na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Nesse dia, um grupo de mulheres reivindicou
a redução da carga horária de trabalho de 16 horas para 10 horas, equiparação de salários com os homens, já que
muitas mulheres recebiam um terço dos salários masculinos e também tratamento digno dentro do ambiente de
trabalho, já que muitas mulheres chegavam a serem abusadas pelos seus superiores.
Essa manifestação foi duramente reprimida, pois as mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi in-
cendiada. Aproximadamente 130 mulheres perderam suas vidas nesse incêndio. Posteriormente, essa data passou
a ser comemorada como o Dia Internacional das Mulheres. É importante destacar que existe uma grande disputa
entre sociólogos e historiadores sobre a origem desse fato e outros que afirmam que tudo isso nada mais é do que
um mito fundador dos direitos das mulheres.
Porém, o objetivo dessa data não está apenas no fato de comemorar, mas sim o de discutir o papel da mu-
lher na sociedade, especialmente no que diz respeito ao mundo do trabalho.
Um fator importante da inserção das mulheres no mundo do trabalho industrial está relacionado diretamen-
te com a Primeira e Segunda Guerra Mundial, já que a maior parte dos homens estavam lutando no front. Com o
término das guerras, muitas dessas mulheres continuaram a trabalhar, pois muitos homens não conseguiram voltar
e outros estavam seriamente mutilados.

Mulheres trabalhando em fábrica de munição na Grã-Bretanha, durante a Primeira Guerra Mundial;


o período pós-Guerra marcou importantes avanços para o sufrágio feminino.
Disponível em: <http://www.brazilianamericandebate.com.br/2015/04/uma-mulher-de-20-dolares-outra-de-50-reais/>

108
Através dessa experiência durante a Grande Guerra, muitas mulheres começaram a se organizar para obter
melhores condições de trabalho conseguindo, assim, a diminuição da jornada de trabalho para 12 horas diárias,
porém o salário feminino continuava sendo inferior ao masculino.
O surgimento da indústria no Brasil ocorreu a partir do século XIX, ainda que de forma tímida com o em-
preendedor Irineu Evangelista, conhecido como o Barão de Mauá e, posteriormente, no início do século XX tivemos
um surto industrial devido a Primeira Guerra Mundial.
O mundo do trabalho brasileiro foi bastante heterogêneo; com diferenças na qualificação, nos salários, bem
como na origem dos trabalhadores. Nos primeiros anos do século XX, a indústria estava localizada basicamente
em São Paulo. Nesse período, o operariado urbano era marcadamente branco e europeu que veio de países como
Portugal, Itália e Espanha, porém eram imigrantes de origem rural e sem experiência fabril. Este quadro muda
quando se analisa o Nordeste brasileiro, onde quase não havia a presença de imigrantes. A realidade dentro das
fábricas brasileiras era bem precária: trabalho feminino e infantil, baixos salários, longas jornadas, pouca ou nenhu-
ma condição de higiene e segurança.
A industrialização efetiva do Brasil somente ocorreu a partir de 1930, com o governo de Getúlio Vargas,
que promoveu uma modernização da economia brasileira. Surgiram novas fábricas, sobretudo nos setores de base
como na criação Companhia Siderúrgica Nacional, em 1941. Essa industrialização tardia pelo qual o Brasil passou
provocou mudanças na sociedade brasileira especialmente no que diz respeito às relações de trabalho.
A Constituição de 1934 é a grande responsável por essas mudanças. Vejamos:
§§ A mulher grávida fica proibida de trabalhar quatro semanas antes e quatro semanas depois do parto.
§§ Fica proibido despedir a mulher grávida pelo motivo de sua gravidez.
§§ A proibição de trabalho a menores de 14 anos, de trabalho noturno a menores de 16 anos e em indústrias
insalubres a menores de 18 anos e a mulheres.

Mulheres brasileiras votam pela primeira vez no Brasil em 1934

Disponível em: <http://www.brazilianamericandebate.com.br/2015/04/uma-mulher-de-20-dolares-outra-de-50-reais/

A Lei 9.029/95

A Lei 9.029, de 13 de abril de 1995, surgiu para combater uma prática discriminatória que se tornou comum após
a promulgação da Constituição de 1988, vez que a estabilidade à gestante foi considerada uma ameaça ao direito
do empregador de demitir suas empregadas: a exigência de atestado negativo de gravidez para as ingressantes
no emprego ou da comprovação de esterilização tanto das postulantes ao cargo quanto das empregadas para a
manutenção de seu posto.

109
Assim, a referida lei criminalizou a conduta do empregador que exigisse teste, exame, perícia, laudo, ates-
tado, declaração ou qualquer outro procedimento relativo à esterilização ou ao estado gravídico. Também foi
considerada crime a adoção de quaisquer medidas, por iniciativa do empregador, que configurassem indução ou
incitamento à esterilização genética ou promoção do controle de natalidade, assim não entendido o oferecimento
de serviços de aconselhamento ou planejamento familiar, realizados através de instituições públicas ou privadas,
submetidas às normas do Sistema Único de Saúde (SUS).
Desta forma, a Lei 9.029 combateu, tornando crime, a prática nas duas frentes em que ela se manifestava:
proibindo a exigência de atestados de gravidez ou de esterilização e o incentivo à esterilização ou controle de
natalidade que não segue as normas do Sistema Único de Saúde (SUS).

A Lei 9.799/99

Esta lei, promulgada em 26 de maio de 1999, inseriu novos artigos no capítulo III da CLT, que trata da proteção ao
trabalho da mulher. As modificações no texto da Consolidação das Leis do Trabalho buscam corrigir as distorções
que afetam a formação profissional e o acesso ao emprego, assim como as condições gerais de trabalho da mulher.
Um dos escopos dessa lei é garantir o igual acesso de mulheres às vagas de emprego, vedando, para tanto,
uma série de atividades que, se promovidas pelo empregador ou futuro empregador, dificultariam ou impediriam
a consecução do emprego pela trabalhadora. Assim, a lei proíbe: publicação de anúncios de emprego cujo texto
faça referência a sexo, idade, cor ou situação familiar; recusa de emprego ou promoção, ou dispensa do trabalho
em razão de sexo, idade, cor, situação familiar ou estado de gravidez; e também condena considerar sexo, idade,
cor ou situação familiar como variável determinante para fins de remuneração, formação profissional e oportuni-
dades de ascensão profissional, bem como impossibilitar o acesso ou adotar critérios subjetivos para deferimento
de inscrição ou aprovação em concursos, em empresas privadas, em razão de sexo, idade, cor, situação familiar ou
estado de gravidez.
E na seção, que versa sobre a proteção à maternidade, inseriu parágrafo que garante à empregada, du-
rante a gravidez, sem prejuízo do salário e demais direitos, sua transferência de função, quando sua condição de
saúde assim o exigir, assegurada a retomada da função anteriormente exercida, logo após o retorno ao trabalho e
também a dispensa do horário de trabalho pelo tempo necessário para a realização de, no mínimo, seis consultas
médicas e demais exames complementares.
Ao longo da história humana, a mulher sempre esteve presente no mundo do trabalho mesmo em momento
em que o patriarcalismo foi vigente numa determinada sociedade, como muitas vezes ocorreu e ocorre no Brasil.
O tecido social que forma o Brasil e que estabelece sua unidade é composto por não por um, mas sim dois sexos:
o masculino e o feminino.
As mulheres, sejam elas trabalhadoras ou do lar, são responsáveis em formar a sociedade brasileira, já que
ainda hoje elas acabam por cumprir uma dupla ou tripla jornada de trabalho, pois trabalham fora, cuidam dos
afazeres domésticos e educam os filhos.

Divisão etária do trabalho – o trabalho infantil


O trabalho infantil pode ser definido como o trabalho exercido por crianças e adolescentes abaixo da idade mínima
legal permitida, conforme a legislação de cada país; desse modo, ele é proibido por lei. Existe determinados tipos
de trabalhos que não são apenas proibidos, mas que constituem crime.
A utilização de trabalho infantil é uma forma de exploração que está bastante presente nos países pobres
localizados na América latina, África e Ásia. No Brasil, a existência desse tipo de trabalho é predominante em zonas

110
rurais, uma vez que os filhos acabam complementando a renda precária dos pais. No caso das grandes cidades, po-
demos perceber um número significativo de crianças trabalhando nos semáforos de avenidas bem movimentadas
ou mesmo pedindo esmolas.
Apesar de os pais serem oficialmente responsáveis pelos filhos, não é hábito dos juízes puni-los. A ação da
justiça aplica-se mais a quem contrata menores, mesmo assim as penas não chegam a ser aplicadas.

Miséria S.A

Senhoras e senhores estamos aqui


Pedindo uma ajuda por necessidade
Pois tenho irmão doente em casa
Qualquer trocadinho é bem recebido
Vou agradecendo antes de mais nada
Aqueles que não puderem contribuir
Deixamos também o nosso muito obrigado
Pela boa vontade e atenção dispensada
Vou agradecendo antes de mais nada
Bom dia passageiros
É o que lhes deseja
A miséria S.A
Que acabou de chegar
(Rappa)

Processo de trabalho e relações de trabalho


As relações trabalhistas entre operários e patrões sempre foram marcadas por conflitos, seja pelo trabalhador que
reivindica melhores salários, ou pelo empresário que procura através de sua influência econômica tentar pres-
sionar o Congresso Nacional para que algumas leis da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) sejam alteradas.
Um exemplo disso pode ser observado no processo de terceirização, que pode ser explicado da seguinte maneira:
uma empresa prestadora de serviço chamada aqui de X é contratada por outra empresa Y para realizar serviços
determinados e específicos na empresa X. A prestadora de serviço fica responsável em contratar os empregados
e, consequentemente, remunerá-los. Nessa relação, os trabalhadores não possuem nenhum tipo de vínculo com a
empresa na qual realizavam sua atividade, mas sim com a empresa Y que mantém um contrato com a empresa X.
Atualmente no Brasil, apenas duas áreas podem realmente ser terceirizadas: segurança e conservação de
limpeza, por isso, o setor empresarial vem pressionando o Congresso Nacional para a aprovação da Lei de Tercei-
rização.
O Projeto de Lei 4.330/04 tem causado uma série de protestos dos sindicatos que acusam os empresários
de acabar com direitos trabalhistas fundamentais para o trabalhador; do outro lado, os empresários afirmam que
a terceirização vai fazer do Brasil um país mais competitivo, já que o custo da produção vai diminuir fazendo com
que o País tenha uma inserção maior no mercado nacional e internacional ao produzir mercadorias com custos
menores, além de criar novas vagas de emprego.

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Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/album/2015/01/05/charges-2015.htm>

A atual fase do capitalismo nas grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Ale-
gre etc., tem criado um comércio que funciona 24 horas diariamente, isso significa que diferente de outros períodos
alguns trabalhadores, especialmente do setor de serviços, trabalham não apenas de madrugada como também nos
finais de semana. Essa nova relação de trabalho causa muitas vezes impactos negativos na sua condição de vida
social com sua família e seus amigos, já que sua jornada de trabalho acaba sendo completamente diferente do
restante das pessoas, promovendo assim um isolamento social no que diz respeito a sua vida em sociedade.
Outro fator importante que merece destaque são os trabalhos análogos à escravidão, que podem ser obser-
vados em diversos jornais impressos ou televisivos. Esse tipo de trabalho vem sendo realizado especialmente por
bolivianos que trabalham no setor têxtil para grandes magazines.
Algumas grandes lojas têm sido acusadas de contribuir para o trabalho escravo desses imigrantes bolivia-
nos, como é o caso das lojas Zara, Renner, M.Officer, Luigi Bertolli, Gregory, Pernambucanas etc. Essas lojas, ao
contratarem determinadas oficinas de costuras para a realização de suas roupas, não tiveram o cuidado necessário
de saber como elas eram realmente produzidas. Isso fez com a justiça brasileira condenasse algumas e colocasse
outras sob investigação.

Transformações no mundo do trabalho


O trabalho constitui, desde a modernidade, uma pré-condição para a integração social dos sujeitos. No entanto,
nem sempre assumiu a forma dominante que o caracterizou nas sociedades pós-revolucionárias, nem teve sempre,
nelas, as mesmas características. Não podemos deixar de recordar neste sentido a complexa sequência que leva do
artesanato até o trabalhador precarizado e excluído de hoje, passando pelo trabalho em domicílio, pela manufatu-
ra, pelo proletariado, pelo assalariado. Todas estas fases comportaram e comportam uma significação social sobre
o trabalho, um sentido subjetivo sobre o mesmo, uma relação social e econômica singular.
A transformação do trabalho dá conta, como talvez nenhuma outra instituição da modernidade, dos proces-
sos políticos, econômicos e culturais que a contextualizam. É o resultado, e em algumas ocasiões também a causa,
de mudanças nos direitos civis e políticos, e nas formas de exercê-los e promovê-los; de transformações tecnológi-
cas às vezes bruscas nos processos produtivos, e no funcionamento dos mercados; de mutações nas capacidades
e modalidades de interpretação individual e social sobre a realidade. O Estado exerceu um papel destacado em
todo este processo, mas também – e não menos importante – foi o papel dos sindicatos e dos movimentos sociais.
Existe certa coincidência em entender que o emprego, forma dominante que o trabalho assume sob a
modernidade ocidental e democrática, constitui um dos espaços privilegiados de disciplinamento da sociedade,

112
que, com o tempo, se converteria em uma posição que nho, não apenas em seu alcance populacional, mas em
daria acesso a direitos e condições de bem-estar. Trata- sua legitimidade como instituição eixo da ordem social.
-se sempre da ambivalência que é própria de muitos Não obstante isso, a sociedade de bem-estar
fenômenos e instituições da modernidade, algo que não constituiu uma sociedade marcada pelo status quo;
neste caso tem a ver com a tensão entre liberdade e pelo contrário, é em seu próprio seio que se tece sua
igualdade, entre distribuição e acumulação, entre inclu- transformação: às vezes, no silêncio, pela acumulação
são e exclusão. de efeitos; outras vezes, aos gritos, ativamente.
Sem dúvida, a fase histórica em que estas ten- Os diversos núcleos institucionais das socieda-
sões se desenrolaram foi aquela na qual o avanço do des salariais se fragilizam progressivamente. O desen-
emprego assalariado permitiu o acesso generalizado volvimento educacional e a subsequente incorporação
a fontes de bem-estar material, cultural e social, e ao da mulher ao mercado de trabalho constituem as mu-
progresso, isto é, à mobilidade social. Tratou-se dos 30 danças mais significativas. É ali que parecem anunciar-
gloriosos anos de alguns dos países europeus centrais -se processos culturais de desencaixe em relação às
(1945-1975), nos quais o desenvolvimento protegido instituições e do desenvolvimento do sujeito, que se
da indústria, o pleno emprego e o aumento do consu- alastram e agudizam com a crise do salário como forma
mo constituíram os eixos econômicos sobre os quais se dominante de relação de trabalho.
construiria a tão desejada paz social.
Concordamos aqui com as colocações que reco-
O desenvolvimento da sociedade salarial de
nhecem também no avanço da modernidade produtiva
bem-estar foi, neste sentido, não apenas o resultado
uma fonte desta crise. A ruptura do “arcaísmo protetor”
dos acordos políticos do pós-guerra, mas também uma
e, com ela, do pleno emprego, resulta das exigências
forma de concreção de velhas aspirações do socialismo,
competitivas de mercados abertos, e de processos pro-
em alguns casos, de princípios confessionais, concre-
dutivos cada vez mais dotados de bens de capital. A for-
ção mediada pela disposição e generalização de uma
taleza tributária permitiu às sociedades mais desenvol-
inovação tecnológica, a do seguro social. É sobre estes
vidas administrar e proteger, via seguros, estas formas
valores e ferramentas que descansa em boa medida a
de instabilidade e/ou desemprego, cujo crescimento não
intervenção do Estado, completando dessa maneira as
teve a velocidade do caso argentino. Mas é também a
políticas mercado-internistas acima aludidas.
fortaleza institucional destas sociedades, e, portanto, da
Por último, cabe assinalar o papel que em tal
permanência de benefícios e de certas crenças sociais,
processo desempenhou a mulher e sua sucedânea, a es-
que opõe freios à introdução selvagem de tecnologia e
cola. Tratou-se, claramente, de uma sociedade de pleno
emprego de viés masculino, onde a mulher ficou reclusa à destruição ilimitada do trabalho assalariado.
à intimidade do lar. Seu papel não foi, contudo, passivo. Este modelo “ideal típico” constitui um bom
A ela e à escola se devem, em boa medida, as possibili- ponto de partida para estudar e interpretar a questão
dades reprodutivas da cultura salarial. É nestes âmbitos das mutações no mundo do trabalho no caso argen-
– o lar e a escola – onde se trabalha cotidianamente tino, cuja condição de integração social, a relação as-
para transmitir as normas e os valores, assim como os salariada industrial, alcançou uma maioria ampla da
recursos cognitivos e sociais, que se permite ao indiví- população? Suas características particulares advêm das
duo contar com os capitais necessários para integrar-se limitações ao exercício da cidadania que comportaram
ao mercado de trabalho. certas tendências à uniformidade político-ideológica;
Em síntese, o mundo do trabalho resulta do en- a constituição de um semissindicalismo de Estado, e a
trelaçamento deste complexo de instituições e da gene- tensão entre clientelismo, meritocracia e universalismo
ralização de uma subjetividade cujas crenças, práticas e na ação estatal. Também é uma característica própria o
representações geram a reprodução dos princípios e re- prolongamento das proteções ao mercado interno, para
gras da ordem social salarial. Pode-se dizer que é sob as além do que aconselhavam as transformações econômi-
condições institucionais da sociedade de bem-estar que cas mundiais e as experiências de sociedades em situa-
o trabalho assalariado consegue seu máximo desempe- ções semelhantes.

113
A sociedade argentina representa um caso pa- crenças de nossos entrevistados nas instituições outrora
radigmático. A morosidade adaptativa frente às mu- típicas da sociedade salarial: sindicatos, partidos polí-
danças do mercado mundial e a progressiva perda de ticos, governos etc. Não obstante este distanciamento
legitimidade de instituições em deterioração abriram as das instituições, os planos sociais de diferentes cate-
portas para as transformações “estruturais” dos anos gorias, aos quais alguns dos trabalhadores da nossa
1990 que, sob modalidades inconsultas, abruptas e de- amostragem tiveram acesso a partir da eclosão da crise
siguais, demoliram uma construção que, embora reves- nos anos 2001-2002, representaram um apoio, às ve-
tisse o caráter limitado que referimos, conjugava os es- zes muito relevante, em processos pessoais e grupais de
forços e aspirações de amplas franjas e várias gerações mudança e desenvolvimento. Para além da sua limita-
da sociedade argentina. ção retributiva, e do clientelismo e da corrupção que os
É nesse complexo marco que se produz um vasto
desacreditam, o acesso aos planos permitiu a mulheres
processo de transformação do mundo do trabalho. Pro-
e homens – aos quais a tradição ou o desemprego ha-
cesso que não é, contudo, simples nem unidirecional,
viam confinado no privado – desenvolver espaços de
já que supõe consequências e significados ambíguos e
encontro com outros, de sociabilidade, mas também de
paradoxais. Entendemos que tais transformações tor-
trabalho.
naram mais diverso o mundo do trabalho, constituin-
O que assinalamos até aqui adquire um signifi-
do um espectro de identidades que, de algum modo,
cado particular no caso das mulheres, que encontraram
se relacionam com as duas grandes esferas do sistema
nos planos oficiais a possibilidade de sair do mundo
social. A sistêmica, cuja “refundação” é proposta por
um certo neoprovidencialismo, e a esfera do mundo da doméstico em que se encontravam reduzidas, para se
vida, cujas experiências advêm das variadas formas or- incorporarem à sociabilidade do trabalho. Em muitos re-
ganizativas da economia social e solidária muitas delas latos surge ou ressurge o sentimento de utilidade social,
enraizadas nos chamados “novos movimentos sociais”. de reconhecimento por parte dos outros, de satisfação
que o reencontro com o trabalho devolve a mulheres
e homens, permitindo que muitas mulheres descubram

Da homogeneidade salarial uma sociabilidade que lhes permite aceder a novos re-
cursos, diminuir sua dependência, transformar as rela-
à diversidade identitária ções de gênero em que se encontram inseridas. Assim
mesmo, é importante insistir na articulação entre a tra-
Contrariamente ao que postulam muitos funcionalistas,
jetória pessoal, a inscrição laboral e as modalidades de
de que existem no sujeito generalizadas capacidades
integração, para discernir o caráter das identidades que
para a construção de uma hermenêutica de si mes-
se forjam entre o relacional e o sistêmico.
mo, estas trajetórias não deixam de ter uma significa-
Em primeiro lugar, não podemos sugerir que
ção social pelo fato de serem subjetivas; outorgam, ao
exista uma direção causal predeterminada, mas antes
contrário, “indicadores” relativos à transformação do
uma articulação complexa que faz com que em certos
mundo do trabalho, às suas modalidades competitivas
e relacionais. Em tais trajetórias, ganham especial rele- casos o sistêmico, em outros o singular, tornem com-
vância as crises provocadas pela vinculação com outras preensível – caracterizável – o identitário. Assim, por
pessoas, com o trabalho e o mundo. São estas crises exemplo, ao mesmo tempo que vemos muitos sujeitos
que constituem pontos de partida para reconstituições inseridos em espaços sistêmicos desenvolverem ou lu-
identitárias que se apoiam, com diferentes ênfases de tarem para desenvolver atividades que estão ligadas ao
acordo com o caso, nas solidariedades próximas, nas mundo da vida, também escutamos colocações vitais
reflexividades possíveis e nas capacidades de atuação. nas quais se articula a instrumentalidade própria da
O espaço semiprivado, de bairro, associativo e de satisfação de necessidades com os valores através dos
trabalho destes processos de reconstituição vem preen- quais se persegue uma aspiração de transformação de
cher o vazio constituído pela frequente fragilidade das tipo social.

114
O que dissemos pode, talvez, ser generalizado diante da ausência dos organismos sindicais, decidem
colocando-se que a cisão entre mundo da vida e sis- constituir seu próprio corpo de delegados, ou quando
tema não pode ser entendida mecanicamente; deve, se associam para construir um espaço de trabalho au-
pelo menos, ser concebida em dois níveis. No espaço do tônomo, ou quando muitos deles criam uma distância
institucional, os relatos permitem observar uma espécie em relação ao trabalho como eixo vertebrador da sua
de interpenetração entre mundo da vida e sistema, in- existência, revalorizando outros espaços vitais.
terpenetração que as pessoas protagonizam, às vezes A análise realizada tende também, como assina-
individualmente, às vezes inseridas em programas insti- lamos anteriormente, a mostrar certas características do
tucionais. Em um segundo nível, o das práticas, as pes- mundo do trabalho. Em primeiro lugar, cabe destacar a
soas devem dar conta de responsabilidades e devem, ausência de um modelo único de organização do tra-
por isso, inscrever-se nas normas prevalecentes, mas balho, e a crescente presença de experiências que se
muitos decidem ao mesmo tempo enfrentar problemas assentam sobre modalidades relacionais, buscando na
éticos, políticos, econômicos que vivem ou observam em capacidade e na reflexividade dos trabalhadores as cha-
sua realidade concreta. ves para o desenvolvimento dos processos de trabalho.
É ali que ganha valor a perspectiva de síntese Os relatos que se referem a estas transformações ten-
que propusemos como orientação epistemológica do dem a interpretar tais tendências – e nessa direção nos
nosso trabalho. A ação das mulheres e homens cujos situamos – como processos orientadores para conseguir
relatos registramos, mas também de grupos e coletivos uma mudança cultural maior. Uma mudança que viabili-
por eles referidos, encontra nas instituições ainda vigen- ze a passagem de uma prática confrontativa – alentada,
tes – mas não dominantes – uma referência que assu- claro, pelas condições econômicas e os ambientes polí-
me, diante da crise de crenças nas mesmas, o caráter ticos – a uma na qual exista um piso básico de acordo
frequente de oportunidade, isto é, de espaço e conjun- que delimite o conflito. Uma mudança que atravesse
tura para a ação transformadora. É neste sentido, o da especialmente a empresa e a torne social e economi-
articulação entre a fragilidade e/ou ausência de regras camente responsável, sobretudo em relação aos seus
institucionais e os motivos – necessidades, aspirações – próprios trabalhadores.
para a ação, que os sujeitos encontram oportunidades Acreditamos ver, também, que as modalidades
para exercer sua condição de agentes. relacional-corporativas de organização do trabalho en-
Os processos de construção de políticas de vida, contram um espaço privilegiado de desenvolvimento no
frequentes e de distinta “intensidade” na amostragem campo das experiências associativas da chamada eco-
teórica analisada, permitem observar que as reconstitui- nomia social, das quais participa um grupo de nossos
ções identitárias, embora recebam dos diversos “nós” entrevistados. O caráter de sócios em igualdade de di-
uma cota de influência nada desprezível, têm nos recur- reitos e obrigações de todos os integrantes destas con-
sos pessoais, em suas capacidades para discernir entre figurações organizacionais – geralmente, cooperativas
heranças e aspirações próprias, na confiança em si mes- de trabalho –, a distribuição equitativa dos resultados
mos, uma fonte interna fundamental. Isto é, a precarie- econômicos, o difícil esforço para garantir um funcio-
dade das referências normativas leva à busca – muitas namento democrático, constituem características que
vezes sofrida e conflitiva – de novas significações e sen- favorecem relações de trabalho que, ao mesmo tempo
tidos. Esta busca é às vezes individual, às vezes asso- que descartam a competição, promovem a confiança e
ciada a grupos, coletivos e a novos movimentos sociais. a cooperação. Até mesmo as ONGs, na medida em que
Como experiência de certa continuidade, é instituinte o trabalho assalariado seja apenas eventual e marginal
de novas regras, de alcance às vezes limitado – familiar, em relação às suas atividades principais, poderiam par-
grupal, de bairro, organizacional –, mas cujo valor está ticipar desta modalidade de organização.
relacionado ao empoderamento dos sujeitos em torno Tais experiências, ao mesmo tempo que se dife-
da sua vida. É ali que o institucional tende a reaparecer renciam do esquema contratual competitivo dominante
sob a forma de experiências coletivas. Isto é evidente, no campo da organização do trabalho – e também da
por exemplo, quando os trabalhadores consultados, política de trabalho –, encontram neste domínio o prin-

115
cipal obstáculo para a sua consecução exitosa. A falta O exercício dos direitos está restringido, quando não
de regulação das regras da competição e de reforma vedado. O esforço dedicado e os riscos que assumem
das leis trabalhistas impede o combate da precarieda- aqueles que trabalham na construção e instituição de
de e o avanço do contrato por tempo indeterminado, representações sindicais não são acompanhados por
condição indispensável para uma política que pretenda outros sindicatos, nem constituem – no momento da
dar uma resposta relacional cabal e duradoura ao vazio realização do trabalho de campo – uma política eficaz
criado pela crise da ordem salarial. Isso constitui uma das instituições do Estado.
demanda não apenas dos trabalhadores materiais, mas Para finalizar estas notas, cabe fazer uma refe-
também dos imateriais. Não obstante, não constitui um rência à disputa intelectual em torno das identidades
tema de agenda para a central sindical tradicional, nem pós-fordistas. É evidente que os relatos que transcreve-
para os coletivos que a integram. mos não permitem pensar em uma generalização das
Também parece claro que o mundo do trabalho situações que angustiam a uns e iludem, talvez mui-
padece de condições de controle sobre os direitos dos to, a outros. Os testemunhos que recolhemos parecem
trabalhadores de qualquer nível. Há uma limitada e in- situar-se num lugar mais próximo de uma espécie de
suficiente ação sobre o trabalho informal por parte do explosão das identidades, com resultante da complexa
Estado, e o ator que nesse sentido deveria exercer um transformação do mundo do trabalho que engendra a
papel central não existe: os sindicatos tradicionais. Estas crise da identidade salarial típica da sociedade indus-
instituições – envelhecidas pela escandalosa permanên- trial. Com efeito, o trabalho realizado sugere que as
cia de seus dirigentes – também não exercem o seu identidades se constroem em referência à situações
papel em relação à proteção das comissões internas, contingentes e à experiências e memórias individuais,
muitas delas eleitas democraticamente, e apoiadas pe- familiares e coletivas.
los trabalhadores. Dito de outro modo, as identidades que vemos
O axioma que nos transmitira um entrevistado, se desenvolverem parecem ter assumido que qualquer
segundo o qual, quando se é delegado e se obtém um interpretação e avaliação do estado das coisas passaria
aumento ou uma melhoria nas precárias condições de primeiro, no nosso meio, pela reivindicação em torno do
trabalho, o que se segue é a demissão, é demonstrativo exercício real dos direitos, isto é, pelo reconhecimento
da ausência, às vezes dramática, deste tipo de proteção. de aspirações e identidades não convencionais. Quer di-
A situação de precariedade e sobre-exigência zer, não parece haver uma necessidade, ao menos geral,
de trabalho a que estão sujeitos muitos trabalhadores de “grandes relatos” ao estilo de Negri e Hardt, como
– embora em graus diferenciados, como é o caso dos também não um apego ao discurso apocalíptico, aquele
telefonistas dos call centers e dos azulejistas e trabalha- da submissão generalizada às condições imperantes.
dores têxteis clandestinos, cuja situação nesta oportuni- As identidades que acreditamos identificar,
dade não pudemos analisar – nos traz à memória aquela também os personagens que elas autorrepresentam,
ideia de Hannah Arendt segundo a qual há uma espécie parecem participar de aspirações muito concretas e
de marginalização da vida pelo trabalho, que faz com de capacidades de atuação que se colocam em ato e
que os trabalhadores, em alguns casos, resintam em seu que têm relação com transformações ao mesmo tempo
corpo e em sua mente as condições que por necessida- subjetivas, locais, reduzidas em seus alcances coletivos,
de devem enfrentar. Dá-se frequentemente a situação mas também materializadas. Isso se observa em todas
pela qual muitos são reduzidos à condição de meros as “regiões” da nossa geografia identitária, no marco
corpos submetidos a duras condições de trabalho. Em de diferentes contextos e valores, sob o influxo de dis-
outras palavras, o retorno da “necessidade” crua que tintas expectativas e perspectivas. Parece-nos possível
observamos nos relatos de nossos entrevistados, e que situar os nossos entrevistados, embora a diferentes
ao nível da sociedade global chega a 35-40% da nossa distâncias, mais próximos da subpolítica, ou daquilo
população em idade de trabalhar, leva, pelo mal-estar que talvez Giddens chamaria de “políticas coletivas de
que produz, a um menosprezo da pessoa, dessa con- vida”, do que de uma intelectualidade de massas que
quista da modernidade democrática que é o cidadão. possa converter-se num sujeito social e politicamente

116
homogêneo, proprietário de uma autonomia drástica em relação às instituições, um sujeito “capaz de comunismo”.
Não nos parece que o que dissemos até agora constitua um suposto plausível no atual contexto. Pelo contrário,
inclinamo-nos a interpretar o presente em torno de uma diversidade identitária que se move entre o mundo da vida
e o sistema, no marco de diferentes modalidades de organização do trabalho e das relações de trabalho.
Acreditamos ver que a ordem em embrionária construção é uma ordem em que a instrumentalidade pura
perde lentamente lugar para dar passagem a uma capacidade de ação orientada pela busca de transformações
progressistas frente ao estado das coisas. Tal horizonte ético parece demandar a reflexividade e a política de vida
evidenciada pela nossa amostragem de trabalhadores. Um horizonte no qual a democracia se erija sobre princípios
e parâmetros ao mesmo tempo igualitários, solidários e dialógicos. Uma democracia capaz de limitar ortodoxias,
dogmas e fundamentalismos, capaz de reconhecer as iniciativas não corporativas da sociedade civil; uma democra-
cia capaz de promover a economia plural e, portanto, a pluralidade identitária dos trabalhadores.

Emprego e desemprego na atualidade


Emprego é a função e a condição das pessoas que trabalham em caráter temporário ou permanente, em qualquer
tipo de atividade econômica. Por desemprego se entende a condição ou situação das pessoas incluídas na faixa
das “idades ativas” (em geral entre 14 e 65 anos), que estejam, por determinado prazo, sem realizar trabalhos em
qualquer tipo de atividade econômica.
A geração de emprego nos últimos anos sofreu um significativo aumento graças ao crescimento da econo-
mia brasileira, porém o número de ofertas de trabalho não foi suficiente para empregar todas as pessoas aptas a
trabalhar.
Um dos problemas que assola o País é a falta de educação e boa qualificação profissional, pois mesmo
tendo uma significativa força de trabalho, o trabalhador brasileiro não possui os mesmos quesitos da mão de obra
existente em parte da Ásia. Como o mercado de trabalho vem se tornando cada vez mais exigente uma grande
parte desses trabalhadores são obrigados a optar pelo trabalho na economia informal, isto é, sem a carteira de
trabalho registrada.
A ausência desse tipo de ralação de trabalho no Brasil é bastante prejudicial para a maior parte das pessoas
que optam por esse tipo de emprego acabam levando uma vida bastante rudimentar no que diz respeito a vida em
sociedade, pois o trabalho realizado é na maior parte das vezes como ambulante. Isso pode ser visto nas grandes
capitais do Brasil.
Mesmo sabendo que o desemprego é uma característica da sociedade capitalista o último século, tem-se
visto novas formas de desemprego, que são:
§§ Desemprego estrutural: característico dos países subdesenvolvidos, ligado às particularidades intrín-
secas de sua economia. Explica-se pelo excesso de mão de obra empregada na agricultura e atividades
correlatas e pela insuficiência dos equipamentos de base que levariam à criação cumulativa de emprego.
§§ Desemprego tecnológico: atinge sobretudo os países mais adiantados. Resulta da substituição do ho-
mem pela máquina e é representado pela maior procura de técnicos e especialistas e pela queda, em maior
proporção, da procura dos trabalhos tidos como braçais.
§§ Desemprego conjuntural: também chamado desemprego cíclico, característico da depressão, quando os
bancos retraem os créditos, desestimulando os investimentos, e o poder de compra dos assalariados cai em
consequência da elevação de preços.
§§ Desemprego friccional: motivado pela mudança de emprego ou atividade dos indivíduos. É o tipo de
desemprego de menor significação econômica.
§§ Desemprego temporário: forma de subemprego comum nas regiões agrícolas, motivado pelo caráter
sazonal do trabalho em certos setores agrícolas.
A desocupação de uma percentagem de três por cento da força de trabalho é considerada nos países

117
capitalistas como desemprego mínimo ou normal e só acima desse índice é que se fala em desemprego. Há quem
considere essa quota como necessária ao desenvolvimento da indústria. Os defensores dessa tese afirmam que
uma certa porcentagem de desemprego é salutar à economia, por constituir uma reserva de mão de obra para a
expansão industrial.

Desemprego na América Latina


O potencial de mão de obra latino-americana está longe de seu pleno aproveitamento. Há na economia agrope-
cuária um desemprego latente, disfarçado e, embora generalizado, dificilmente mensurável em termos estatísticos.
Como nessa região do mundo coexistem formas de exploração da terra em regime semifeudal e pré-capitalista,
ocorre também o subemprego rural, decorrente da concentração da propriedade da terra.
Calcula-se que nos países menos desenvolvidos de 25 a 30% do potencial de trabalho seja perdido por
meio do desemprego e do subemprego. No entanto, a taxa de crescimento demográfico extremamente alta não é
a principal causa de subutilização da força de trabalho. O problema se deve basicamente a graves desequilíbrios
e inadequações nos sistemas econômicos e sociais desses países. Entre esses fatores, aponta-se a má distribuição
de renda.

A taxa de desemprego
A taxa de desemprego é uma porcentagem da População Economicamente Ativa que pode ser calculada com base
em diferentes metodologias. No Brasil, além do IBGE, a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e
o Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômicos (Dieese) medem a taxa de desemprego. O
IBGE utiliza o critério de desemprego aberto, no qual somente as pessoas que no período de referência estavam
disponíveis para trabalhar e realmente procuraram trabalho são consideradas desempregadas. O cálculo é feito
com base em dados de seis regiões metropolitanas: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Sal-
vador e Recife. O Seade e o Dieese – que realizam a pesquisa no Distrito Federal e nas regiões metropolitanas de
São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Recife – adotam o critério de desemprego total, que engloba
também o desemprego oculto. Nessa categoria estão aqueles que não procuraram emprego por desalento ou
porque estavam exercendo um trabalho precário. Esses cálculos levam a resultados muito diferentes. Na região
metropolitana de São Paulo, por exemplo, enquanto o IBGE aponta em agosto de 2000 uma taxa de desemprego
aberto de 6,09%, a Fundação Seade e o Dieese chegam a uma taxa de desemprego total de 17,7%.

118
Estrutura Conceitual

BRASIL

CULT URA
CATÓL ICA

Tripalium:
Trabalho é instrumento
penitência de tortura

Aversão às
atividades braçais

Temporário:
Tecnológico: sazonalidade
Homem -> máquina da produção

DESEMPREGO
Friccional:
Conjuntural:
indivíduo troca
crise econômica
de atividade
Estrutural:
mão-de-obra em
atividades improdutivas

119
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Ruy Braga: O que é o precariado?


Fonte: Youtube

Vídeo A relação de trabalho no Brasil

Fonte: Youtube

Vídeo 1960-2010: Educação e Mercado de Trabalho no Brasil

Fonte: Youtube

120
LER

Livros
A Política do Precariado – Ruy Braga

Em seu novo livro, o sociólogo e professor da Universidade de São Paulo,


Ruy Braga, utiliza os instrumentos teóricos da sociologia marxista crítica, a
fim de propor uma leitura inovadora da história social do Brasil – do popu-
lismo fordista ao atual lulismo hegemônico –, tendo como vetor analítico
a “política do precariado”. Definido como o proletariado precarizado, o
conceito de “precariado” situa esse grupo como parte integrante da classe
trabalhadora, enfatizando a precariedade como inevitável no processo de
mercantilização do trabalho.

Adeus ao trabalho? – Ricardo Antunes

Estará a “classe-que-vive-do-trabalho” desaparecendo? A retração do


operariado tradicional, fabril, da era do fordismo, acarreta inevitavelmente
a perda de referência do ser social que trabalha? Que repercussões as
mudanças do mundo do trabalho estarão provocando nos sindicatos?
A categoria trabalho não é mais dotada do estatuto da centralidade, no
universo de práxis humana existente na sociedade contemporânea? Estas
são as perguntas perseguidas pelo autor. O pano de fundo é formado pelo
processo de globalização, pela difusão acelerada das novas tecnologias nos
processos de produção e pela presença do toyotismo, que expressa a forma
mais acabada da organização do trabalho almejada pelas empresas.

Trabalho em grupo e sociabilidade privada – Leonardo Mello e


Silva

Quais os reflexos das mudanças nas relações de trabalho ocorridas com a


ampla reestruturação produtiva dos últimos vinte anos e com a globalização
da economia? Este livro propõe uma análise baseada no estudo dos ‘times’
ou ‘células de produção’ implantados em setores tão diversos da indústria
brasileira como o químico-farmacêutico e o de confecções.

121
INTERDISCIPLINARIDADE

O Banco Central do Brasil, dentre outras funções, busca controlar a taxa de inflação da economia por meio da taxa
básica de juros (SELIC). Segundo a estimação da Regra de Taylor, uma equação que envolve taxa de juros, inflação
e produto (PIB), o BC aumenta ou diminui a SELIC para atingir a meta de inflação (4,5% ao ano).
Caso a inflação esteja em patamar alto, a Regra de Taylor prevê um aumento na taxa de juros, o que gera
diminuição da atividade econômica e desemprego, fazendo com que os preços cedam. Nos anos de 2015, 2016 e
2017, vimos que a inflação brasileira saiu de um patamar de 10,67% ao ano (2015, segundo IPCA) para menos
de 4% (segundo previsões do IBGE para 2017). A causa para isso é clara: as altas taxas de juros geraram mais
desemprego e, consequentemente, menor inflação.

i – i* = aπ ⋅ ( π – π*) + ay ⋅ (Y – Y*)
(Regra de Taylor)

122
Aprofunde seus conhecimentos
1. (Enem) O mercado tende a gerir e regula- 02) Apesar de a economia brasileira figurar entre
mentar todas as atividades humanas. Até há as maiores do mundo, setores dominantes
pouco, certos campos – cultura, esporte, re- como a pecuária, a produção de cana-de-
ligião – ficavam fora do seu alcance. Agora, -açúcar e outras expressões de agricultura
são absorvidos pela esfera do mercado. Os não familiar exploram força de trabalho es-
governos confiam cada vez mais nele (aban- cravo ou assalariado temporário.
dono dos setores de Estado, privatizações). 04) Sobre os paralelos observados entre as for-
RAMONET, I. Guerras do século XXI: novos temores
mas coloniais e as contemporâneas de tra-
e novas ameaças. Petrópolis: Vozes, 2003.
balho escravo, no Brasil, constatamos, nos
No texto é apresentada uma lógica que cons- dois casos, a ausência de respeito à digni-
titui uma característica central do seguinte dade humana do trabalhador e os abusos do
sistema socioeconômico: empregador em relação a condições mínimas
a) Socialismo. de direitos individuais e trabalhistas, tais
b) Feudalismo. como a alimentação adequada e o descanso
c) Capitalismo. semanal.
d) Anarquismo. 08) A privação da liberdade do trabalhador é um
e) Comunitarismo. fenômeno inexistente no contexto contem-
porâneo, uma vez que as formas tayloris-
2. (UEM) “Uma liminar concedida pelo Supre-
tas de organização do trabalho estão sendo
mo Tribunal Federal, em dezembro de 2014,
impediu o governo federal de divulgar novas substituídas integralmente pela flexibiliza-
atualizações do cadastro de empregadores ção do trabalho e formação continuada do
flagrados com mão de obra escrava, a chama- trabalhador.
da ‘lista suja’, que esteve público entre 2003 16) Tanto o trabalho escravo quanto o latifún-
e 2014. A ministra Cármen Lúcia revogou a dio, o patriarcalismo e o voto de cabresto
medida cautelar que impedia a divulgação são expressões históricas do passado brasi-
da lista no dia 16 de maio deste ano, mas leiro que não encontram paralelos no país
como o Ministério do Trabalho ainda não pu- atualmente.
blicou uma nova relação e não possui data
para isso, uma nova Lista de Transparência
foi solicitada via LAI (Lei de Acesso à In- 3. (UPE-SSA) A partir dos anos 1970, o siste-
formação) para que a sociedade não fique ma de produção fordista começou a entrar
sem informação a respeito do tema. (...) Os em crise, pois a superprodução gerou uma
nomes permaneciam na ‘lista suja’ por, pelo diminuição acentuada da lucratividade.
menos, dois anos, período durante o qual o Como alternativa, surge, no Japão, um novo
empregador deveria fazer as correções ne- sistema de trabalho capitalista, que possui
cessárias para que o problema não voltasse como modelo produtivo a flexibilização da
a acontecer e quitasse as pendências com o produção. Além de reordenar as relações de
poder público. O cadastro, criado em 2003, é trabalho, esse novo sistema produtivo per-
um dos principais instrumentos no combate mitiu o avanço tecnológico em muitas áreas.
a esse crime, e citado como referência mun- A imagem a seguir representa um novo tipo
dial pelas Nações Unidas.” de trabalhador exigido por esse sistema de
SAKAMOTO, L. “Lista de Transparência” traz 349
produção capitalista das sociedades moder-
nomes flagrados por trabalho escravo. Repórter
Brasil. 06/06/2016. In: http://reporterbrasil. nas.
org.br/2016/06/lista-detransparencia - traz-349-
nomes-flagrados-por-trabalho-escravo/.

Considerando o texto acima, e conhecimen-


tos de história e de sociologia, assinale o que
for correto.
01) O Brasil reconheceu, em 1995, a existência
de trabalhadores submetidos a formas con-
temporâneas de escravidão. De 1995 a 2011,
o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)
resgatou 42 mil trabalhadores escravizados.
Esse cenário remete a continuidades histó-
ricas relativas a profundas desigualdades
sociais no país que remontam ao período co-
lonial.

124
Sobre as características desse sistema de 01) Em sociedades como a nossa, organizadas a
produção, é CORRETO afirmar que: partir de relações produtivas nas quais os
a) a consequência dessa organização do tra- trabalhadores detêm apenas sua força de
balho permitiu a inserção de taxas de lucro trabalho e os empresários capitalistas são
com a superexploração da força de trabalho. donos dos recursos produtivos, Karl Marx
b) o trabalhador é especializado em uma única identificou um fenômeno chamado explora-
função, deixando-o limitado a uma ativida- ção de mais valia.
de repetitiva, sem nenhuma visão global do 02) Sociedades organizadas a partir de divisão
produto final. social do trabalho, nas quais há especializa-
c) o controle de qualidade da produção é feito ção de atividades e funções, expressam um
no final do processo, em um setor específico tipo de vínculo que Émile Durkheim chamou
da fábrica. de solidariedade orgânica.
d) o salário é uniforme, pois todos os traba- 04) Max Weber defendeu que as ações sociais
lhadores produzem o mesmo produto; ainda nas sociedades industrializadas são predo-
assim os prêmios e as bonificações ficam res- minantemente orientadas em relação a seus
fins, fato que denominou racionalidade.
tritos a empresários e capitalistas.
08) O bordão “tempo é dinheiro”, cunhado por
e) o aumento das tecnologias robóticas e de
Benjamin Franklin, é recuperado por Émile
automação nesse processo de produção ca-
Durkheim em seus trabalhos e se refere aos
pitalista possibilitou a ampliação do número
bons princípios de organização social da so-
de vagas de emprego, criando um mercado
ciedade moderna.
de trabalho para profissões e funções cada
16) Segundo Émile Durkheim, o trabalho não
vez mais específicas. pode ser um fato social enquanto a socieda-
de não alcançar o pleno emprego.
4. (Uem 2017) Sobre o conceito de trabalho,
assinale o que for correto. 6. (Enem)
01) Na sociedade moderna, o trabalho é uma
mercadoria e pode ser vendido da mesma
maneira que qualquer outro bem ou produ-
to.
02) O trabalho pode ser visto como uma ação
racional referente a fins, isto é, como uma
atividade orientada para a produção de bens
e serviços para os outros ou para si próprio.
04) As transformações na estrutura produtiva
na sociedade contemporânea privilegiam
as formas de trabalho orientadas por ações
afetivas, ou seja, por práticas marcadas pela Na imagem, estão representados dois mo-
espontaneidade, pela liberdade de escolha e delos de produção. A possibilidade de uma
pela geração de prazer pessoal. crise de superprodução é distinta entre eles
08) São as formas tradicionais de organização do em função do seguinte fator:
trabalho que caracterizam os diferentes se- a) Origem da matéria-prima.
tores de serviço público, por isso a lentidão b) Qualificação da mão de obra.
dos processos, os altos salários dos servido- c) Velocidade de processamento.
res, a obsolescência dos equipamentos e a d) Necessidade de armazenamento.
ineficiência dos procedimentos. e) Amplitude do mercado consumidor.
16) A especialização do trabalhador é uma das
características da divisão do trabalho social 7. (Enem) Um trabalhador em tempo flexível
e é verificável na indústria, na ciência e nas controla o local do trabalho, mas não adqui-
diversas profissões existentes. re maior controle sobre o processo em si. A
essa altura, vários estudos sugerem que a
supervisão do trabalho é muitas vezes maior
5. (Uem 2017) “Não sois máquinas! Homens é
para os ausentes do escritório do que para os
que sois!”
presentes. O trabalho é fisicamente descen-
Trecho do último discurso de Charlie Chaplin no final
tralizado e o poder sobre o trabalhador, mais
do filme O grande ditador, 1940. www.culturabrasil.
org/discurso_grande_ditador_chaplin.htm. direto.
SENNETT, R. A corrosão do caráter: consequências
A partir da afirmação acima e de conheci- pessoais do novo capitalismo. Rio de
Janeiro: Record, 1999 (adaptado).
mentos em sociologia, assinale o que for
correto:

125
Comparada à organização do trabalho ca- virada do século XX para o século XXI, é o (a)
racterística do taylorismo e do fordismo, a a) aumento do contingente de trabalhadores
concepção de tempo analisada no texto pres- fabris.
supõe que b) redução significativa dos índices de trabalho
a) as tecnologias de informação sejam usadas feminino e infantil.
para democratizar as relações laborais. c) aumento da inclusão de jovens no mercado
b) as estruturas burocráticas sejam transferidas de trabalho.
da empresa para o espaço doméstico. d) aumento do número de trabalhadores no se-
c) os procedimentos de terceirização sejam apri- tor de serviços.
morados pela qualificação profissional. e) redução do número de trabalhadores no se-
d) as organizações sindicais sejam fortalecidas tor informal da economia.
com a valorização da especialização funcional.
e) os mecanismos de controle sejam deslocados 1
0. (Unisc) Em recente artigo publicado na Re-
dos processos para os resultados do trabalho. vista Brasileira de Educação, a pesquisadora
Heloisa Helena Martins analisa a relação en-
8. (UFPI) Em meados da década de 1990, em um tre juventude e mercado de trabalho.
artigo intitulado “Globalização: as oportuni- No seu texto, ela apresenta o seguinte co-
dades e os riscos”, publicado no jornal Gazeta mentário: “Informações referentes às mon-
Mercantil, o economista Gilberto Dupas apon- tadoras de carros no Brasil revelam que no
tava a automação e o desemprego estrutural período de 1991 a 1995 houve um cres-
como “uma mancha escura pairando no co- cimento da produção de 70% e de 78% na
ração do capitalismo vitorioso”. Sobre essa produtividade, enquanto verificou-se uma
questão, analise as alternativas a seguir, assi- redução no emprego de 5%. No setor de au-
nalando a que estiver INCORRETA: topeças, no mesmo período, houve um au-
a) A globalização diz respeito a uma mudan- mento no faturamento de 74%, de 97% na
ça estrutural que atinge, indistintamente, produtividade, e uma diminuição de 12% no
as diferentes regiões do planeta e que pode emprego (DIEESE, 1996a). O que esses da-
ser exemplificada pela formação de blocos dos demonstram é o crescimento econômi-
econômicos e associações regionais de livre co acompanhado pela redução dos postos de
mercado. trabalho e que, apesar da exigência cada vez
b) Na origem da globalização está o que alguns menor de mão de obra, obtêm-se cada vez
chamam de “Terceira Revolução Industrial”, mais bens e serviços.”
cujas bases são a microeletrônica, a biotec- (MARTINS, Heloísa Helena Teixeira de Souza. O jovem
nologia e a química fina. no mercado de trabalho. Rev. Bras. Educ. 1997, n.05-
c) As condições favoráveis ao Neoliberalismo, 06, pp. 96-109. Disponível em: http://educa.fcc.
feição política da globalização, deram-se a org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
24781997000200009&lng=pt&nrm=iso. ISSN 1413-2478.)
partir dos governos de Margareth Thatcher,
na Inglaterra, Ronald Reagan, nos Estados Com base no argumento da autora, é possível
Unidos e Helmut Kohl na Alemanha. afirmar
d) O desemprego estrutural, ao qual Dupas se a) que o crescimento econômico é motivo do
refere, diz respeito à ausência de recursos aumento da oferta de empregos para os jo-
tecnológicos na agricultura, o que favore- vens.
ce, no mundo globalizado, um preocupante b) que apesar do crescimento econômico e do
êxodo rural que resulta na seração de uma
aumento da oferta de bens e serviços, dimi-
camada social de miseráveis nas grandes ci-
nui-se a oferta de postos de trabalho.
dades em todo o mundo.
c) que o aumento da produção leva a um au-
e) No âmbito das gestões públicas, a globali-
mento de emprego na indústria automobilís-
zação é marcada pela busca de um “Estado
tica brasileira.
Mínimo”, redimesionando o tamanho e o
d) Todas as alternativas estão corretas.
papel dos Estados especialmente através das
e) Nenhuma das alternativas está correta.
privatizações.

9. (Ufpa) Como reflexos das transformações


nas políticas de gestão e de organização do
trabalho no contexto atual de globalização, Gabarito
tem-se o novo perfil de trabalhador ou da
classe social que vive do trabalho e uma re- 1. C 2. 01 + 02 + 04 = 07 3. A
configuração no mercado de trabalho. Assim,
podemos afirmar corretamente que um dos 4. 01 + 02 + 16 = 19. 5. 01 + 02 + 04 = 07
impactos da atual globalização e da reestru-
turação produtiva no mundo do trabalho, na 6. D 7. E 8. D 9. D 10. B

126
Aula 17

Cidadania e política no Brasil


Competências 1, 2, 3, 4 e 5
Habilidades 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
13, 15, 16, 18, 20, 22, 23, 24 e 25
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
A cidadania hoje
A cidadania, desde seu surgimento, tem estado em constante evolução, sendo modificada e ampliada ao longo da
história; se antes sua relação era diretamente com o exercício de direitos e deveres políticos, hoje ela é muito maior,
pois envolve a participação de diferentes grupos sociais que procuram construir uma sociedade mais livre e justa.
Desse modo, a cidadania é hoje a soma das conquistas sociais de grupos completamente distintos, como
negros, mulheres, crianças, idosos, gays, lésbicas, portadores de necessidades especiais, trabalhadores urbanos e
rurais, ambientalistas, empresários etc. Essa somatória de interesses diversos tem contribuído para a realização
de mudanças significativas em várias partes do mundo, tendo como base o direito de nascer, viver e morrer com
dignidade.

Disponível em: <http:www.cidadaniafm.com.br>

Direitos civis, políticos, sociais e humanos


Os direitos civis são os direitos que todos os cidadãos têm de viver em sociedade, como está descrito no artigo
5o da Constituição Federal; já os direitos políticos são direitos que os cidadãos têm de concorrer ao cargo público
executivo da política, quando se filiam a um determinado partido.
Direitos sociais são os direitos que as pessoas têm em viver bem, como a possibilidade de conviver com
outras pessoas, escola, trabalho etc.
Sobre os direitos humanos, são os direitos que as pessoas têm à vida e viver dignamente. A Declaração
Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas afirma: todos os seres humanos nascem livres
e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em
espírito de fraternidade.

A expansão da cidadania para grupos especiais:


crianças e adolescentes, idosos e mulheres

Um estatuto é um regulamento ou código com significado e valor de lei ou de norma. É o caso do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), do Estatuto do Idoso e do Estatuto do Índio, que regem a proteção e a promoção
dos direitos desses cidadãos.

129
O Estatuto da Criança e do Adolescente
O ECA é um marco não apenas no Brasil, mas no mundo, já que esse importante documento é um marco legal
que procura garantir os direitos da criança e do adolescente. Seus princípios estão alicerçados na Convenção das
Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (1989). O ECA, que foi instituído no Brasil no dia 13 de julho de 1990
pela Lei nº 8.069, reforça, organiza e detalha os direitos das crianças e dos adolescentes. É importante lembrar que
muitos desses direitos já apareciam na Constituição de 1988, como forma de proteger de forma integral a criança
e o adolescente, por isso, a garantia desses direitos é um dever da família, da sociedade e do Estado.
Segundo o ECA, nenhuma criança ou adolescente pode sofrer maus tratos, como preconceito, descuido,
exploração ou violência. O ECA define como criança-cidadão aqueles que possuem até 12 anos incompletos; já
aqueles com idade entre 12 e 18 anos são considerados adolescentes. Quando a criança ou adolescente sofrer
qualquer tipo de maus tratos que fere o ECA, o Conselho Tutelar deve ser acionado.
A educação pela família é outro direito da criança e do adolescente, pois os pais têm o dever de promover
o sustento, a educação e a guarda dos filhos; caso os pais não tenham condições financeiras para garantir esses
direitos, o Estado deve incluir esses pais num programa de auxílio do Estado.
O atendimento prioritário é outro direito que o ECA garante às crianças e aos adolescentes, em postos de
saúde e hospitais. Nos diversos casos de acidentes ou emergência, a prioridade também são desses cidadãos.
O ECA também proíbe o trabalho de menores de 14 anos, se não estiverem na condição de aprendiz, e o
trabalho no período noturno fica proibido ao lado de ambientes que possam causar doenças.

Disponível em: < http://antonioribeironoticias.blogspot.com.br/2010/07/charge-sobre-os-20-anos-do-eca.html>

Estatuto do Idoso
O Estatuto do Idoso foi instituído no dia 1o de outubro de 2003, pela Lei no 10.741. Esse estatuto foi o resultado de
um intenso processo de mobilização por parte da sociedade civil, representantes dos idosos. É considerado idoso
o cidadão com mais de 60 anos.
Uma das medidas previstas no Estatuto do Idoso é a assistência social a cidadãos com mais de 65 anos que
não possuam meios para garantir sua subsistência nem possam contar com a ajuda da família para isso. O estatuto
prevê que essas pessoas recebam o benefício mensal de um salário mínimo.

Outros direitos importantes para o idoso são:

§§ O de receber remédios gratuitamente, principalmente aqueles utilizados para o controle da hipertensão e


diabetes.
§§ Próteses e outros recursos para tratamento, habilitação ou reabilitação.
§§ Atendimento preferencial no Sistema Único de Saúde.

130
§§ Os planos de saúde não podem discriminar os idosos e cobrar valores diferenciados em razão da idade.
§§ Uso gratuito nos transportes públicos, desde que apresente sua carteira de identidade.
§§ Desconto de 50% em atividades de cultura, esporte e lazer.
O estatuto do idoso determina que esses cidadãos não podem receber nenhum tipo de maus tratos ou dis-
criminação. A punição para quem fizer isso é de seis meses a um ano de reclusão, além do pagamento de multa. O
abandono de idosos e a apropriação de seus rendimentos, como salário, também sofre punição.

Disponível em: <http:// humortadela.bol.uol.com.br>

A Constituição brasileira de 1988

A Constituição de 1988 é a atual carta magna da República Federativa do Brasil. Foi elaborada no espaço
de 20 meses por 558 constituintes entre deputados e senadores à época, e trata-se da sétima na história do País
desde sua independência. Promulgada no dia 5 de outubro de 1988, ganhou quase que imediatamente o apelido
de Constituição Cidadã, por ser considerada a mais completa entre as constituições brasileiras, com destaque
para os vários aspectos que garantem o acesso à cidadania.
A Constituição está organizada em nove títulos que abrigam 245 artigos dedicados a temas como os princí-
pios fundamentais, direitos e garantias fundamentais, organização do Estado, dos poderes, defesa do Estado e das
instituições, tributação e orçamento, ordem econômica e financeira e ordem social. Entre as conquistas trazidas
pela nova carta, destacam-se o restabelecimento de eleições diretas para os cargos de presidente da república,
governadores de estados e prefeitos municipais, o direito de voto para os analfabetos, o fim à censura aos meios
de comunicação, obras de arte, músicas, filmes, teatro e similares.
A preocupação com os direitos do cidadão é claramente uma resposta ao período histórico diretamente
anterior ao da promulgação da Constituição, a chamada “ditadura militar”. Durante vinte anos, o povo foi repe-
tidamente privado de várias garantias. O presidente da república devia ser necessariamente membro das forças
armadas (exemplo disso foi o que ocorreu com Pedro Aleixo, o vice-presidente civil de Artur da Costa e Silva, que
foi sumariamente impedido de assumir a presidência, quando da morte deste). Somado às restrições e proibições,
tínhamos ainda graves casos de tortura e perseguição política.
Tal cenário causou uma gradual reação da opinião pública, com reflexo na assembleia constituinte respon-
sável pela confecção da carta. É nesse ponto que convergem a maioria das críticas ao texto, pois, num anseio de
incluir o máximo de garantias e tornar o documento um espelho do período pós-ditadura, este ficou “inchado”,
repetitivo em inúmeros pontos, além de trazer matérias que não são típicas de uma constituição. Exemplo fla-
grante disso é o título VI, dedicado à tributação e orçamento, tema mais apropriado a uma lei ou código especí-
fico do que uma seção da carta magna. Há ainda o problema do número crescente de emendas constitucionais,
responsáveis por uma desfiguração de vários pontos do texto original. Em 2013, eram 74 as emendas aprovadas.

131
Em relação às constituições anteriores, a Constituição de 1988 representou um avanço. As modificações
mais significativas foram:
§§ Direito de voto para os analfabetos.
§§ Voto facultativo para jovens entre 16 e 18 anos.
§§ Redução do mandato do presidente de 5 para 4 anos.
§§ Eleições em dois turnos (para os cargos de presidente, governadores e prefeitos de cidades com mais de
200 mil eleitores).
§§ Os direitos trabalhistas passaram a ser aplicados, além de aos trabalhadores urbanos e rurais, também
aos domésticos.
§§ Direito à greve.
§§ Liberdade sindical.
§§ Diminuição da jornada de trabalho de 48 para 44 horas semanais.
§§ Licença maternidade de 120 dias (sendo atualmente discutida a ampliação).
§§ Licença paternidade de 5 dias.
§§ Abono de férias.
§§ Décimo terceiro salário para os aposentados.
§§ Seguro desemprego.
§§ Férias remuneradas com acréscimo de 1/3 do salário.
Modificações no texto da Constituição só podem ser realizadas por meio de Emenda Constitucional, sendo
que as condições para uma emenda modificar a Carta estão previstas na própria Constituição, em seu artigo 60.
Disponível em: < http://www.infoescola.com/direito/constituicao-de-1988/>

Segue, abaixo, os principais aspectos da


Constituição estadual de São Paulo
Art. 124. Os servidores da administração pública durar o mandato, recebendo seus vencimentos e vanta-
direta, das autarquias e das fundações instituídas ou gens, nos termos da lei.
mantidas pelo Poder Público terão regime jurídico único § 2º O tempo de mandato eletivo será computa-
e planos de carreira. do para fins de aposentadoria especial.
§ 1º A lei assegurará aos servidores da adminis-
tração direta isonomia de vencimentos para cargos de Art. 126. O servidor será aposentado:
atribuições iguais ou assemelhados do mesmo Poder, ou I - por invalidez permanente, sendo os proventos
entre servidores dos Poderes Legislativo, Executivo e Ju- integrais, quando decorrentes de acidente em serviço,
diciário, ressalvadas as vantagens de caráter individual moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou
e as relativas à natureza ou ao local de trabalho. incurável, especificadas em lei, e proporcionais nos de-
§ 2º No caso do parágrafo anterior, não haverá
mais casos.
alteração nos vencimentos dos demais cargos da car-
II - compulsoriamente, aos setenta anos de ida-
reira a que pertence aquele cujos vencimentos foram
de, com proventos proporcionais ao tempo de serviço;
alterados por força da isonomia.
III - voluntariamente:
Art. 125. O exercício do mandato eletivo por a) aos trinta e cinco anos de serviço, se homem,
servidor público far-se-á com observância do art. 38 da e aos trinta, se mulher, com proventos integrais;
Constituição Federal. b) aos trinta anos de serviço em funções de ma-
§ 1º Fica assegurado ao servidor público, eleito gistério, docentes e especialistas de educação, se ho-
para ocupar cargo em sindicato de categoria, o direito mem, e aos vinte e cinco anos, se mulher, com proventos
de afastar-se de suas funções, durante o tempo em que integrais;

132
c) aos trinta anos de serviço, se homem, e aos Art. 133. O servidor, com mais de cinco anos de
vinte e cinco, se mulher, com proventos proporcionais efetivo exercício, que tenha exercido ou venha a exercer,
ao tempo de serviço; a qualquer título, cargo ou função que lhe proporcione
d) aos sessenta e cinco anos de idade, se ho- remuneração superior à do cargo de que seja titular, ou
mem, e aos sessenta, se mulher, com proventos propor- função para a qual foi admitido, incorporará um décimo
cionais ao tempo de serviço; dessa diferença, por ano, até o limite de dez décimos.

Art. 127. Aplica-se aos servidores públicos esta- Art. 134. O servidor, durante o exercício do man-
duais, para efeito de estabilidade, o disposto no art. 41 dato de vereador, será inamovível.
da Constituição Federal.
Art. 135. Ao servidor público estadual será con-
Art. 128. As vantagens de qualquer natureza só
tado, como de efetivo exercício, para efeito de aposen-
poderão ser instituídas por lei e quando atendam efeti-
tadoria e disponibilidade, o tempo de serviço prestado
vamente ao interesse público e às exigências do serviço.
em cartório não oficializado, mediante certidão expedi-

Art. 129. Ao servidor público estadual é assegu- da pela Corregedoria Geral da Justiça.
rado o percebimento do adicional por tempo de serviço, Art. 136. O servidor público civil demitido por
concedido no mínimo por quinquênio, e vedada a sua ato administrativo, se absolvido pela Justiça, na ação
limitação, bem como a sexta-parte dos vencimentos referente ao ato que deu causa à demissão, será rein-
integrais, concedida aos vinte anos de efetivo exercí-
tegrado ao serviço público, com todos os direitos ad-
cio, que se incorporarão aos vencimentos para todos os
quiridos.
efeitos, observado o disposto no Art. 115, XVI, desta
Constituição. Art. 137. A lei assegurará à servidora gestante
mudança de função, nos casos em que for recomenda-
Art. 130. Ao servidor será assegurado o direito do, sem prejuízo de seus vencimentos ou salários e de-
de remoção para igual cargo ou função, no lugar de mais vantagens do cargo ou função-atividade.
residência do cônjuge, se este também for servidor e
houver vaga, nos termos da lei.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-
-se também ao servidor cônjuge de titular de mandato
eletivo estadual ou municipal.

Art. 131. O Estado responsabilizará os seus ser-


vidores por alcance e outros danos causados à admi-
nistração, ou por pagamentos efetuados em desacordo
com as normas legais, sujeitando-os ao sequestro e per-
dimento dos bens, nos termos da lei.

Art. 132. Os servidores públicos estáveis do Esta-


do e de suas autarquias, desde que tenham completado
cinco anos de efetivo exercício, terão computado, para
efeito de aposentadoria, nos termos da lei, o tempo de O Estado brasileiro é a ordem jurídica soberana
serviço prestado em atividade de natureza privada, ru- que tem por fim o bem comum de um povo situado em
ral e urbana, hipótese em que os diversos sistemas de determinado território. Seu nome oficial é República Fe-
previdência social se compensarão financeiramente, se- derativa do Brasil, que tem como forma de governo uma
gundo critérios estabelecidos em lei. república e na forma de Estado uma federação.

133
O Estado brasileiro é uma organização política administrativa que tem ação soberana, ocupa um território,
é dirigido por um governo próprio e se institui pessoa jurídica de direito público internacionalmente reconhecida.
Nessa linha de pesquisa, território é o limite dentro do qual o Estado exerce o seu domínio soberano sobre pessoas
e bens e compreende a extensão circunscrita pelas fronteiras, as águas territoriais, o ar e o subsolo corresponden-
tes. O governo soberano é o componente que conduz o Estado, que detém e exerce o poder absoluto emanado
do povo. O povo é o componente humano, submetido juridicamente ao Estado. O sistema político brasileiro é a
democracia semidireta, participativa e representativa.
Na Organização Político-administrativa do Brasil, a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios
são caracterizados como entidades autônomas, ficando a União com a função de exercer a soberania do Estado
brasileiro no contexto internacional.
O Artigo 37 estabelece que a Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos municípios obedecerá aos princípios de: legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência.
Quanto à legalidade, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
No item impessoalidade, todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Todo ato administra-
tivo será determinado para atender aos interesses sociais e não vinculará à conveniência de qualquer pessoa. Em
relação à moralidade, todos são submetidos à obediência aos princípios morais e éticos. Na esfera da publicidade,
todos têm direito ao acesso às informações disponíveis na administração pública, ou a ela entregues, pois públi-
cos devem ser os seus atos. Quanto à eficiência, esse princípio significa a busca de qualidade e produtividade, de
resultado, nas deliberações e procedimentos da Administração. Exige da Administração Pública, de seus órgãos e
agentes, a efetivação das tarefas com máxima rapidez e prontidão, com a qualidade perfeita e de forma eficiente
e eficaz no atendimento à população.
A ética na esfera da gestão pública, caracteriza-se pela interligação profunda, entre o Estado e a socieda-
de, especialmente, quanto ao exercício da cidadania. E, necessariamente, acontece se houver uma transformação
fundamental na cultura da própria sociedade e, mais nomeadamente, na cultura pública. Para o exercício da ética
no trato público, é de fundamental importância respeitar e exercitar os princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade e eficiência, consubstanciados na nossa Constituição Federal e, que amparam a boa gestão pública.
Ainda na esfera do trato público, há necessidade de atenção à finalidade pública da atuação, o respeito ao cidadão
e aos usuários do serviço público. A satisfação dos interesses da população e a realização das necessidades sociais
são os fundamentos de toda atividade administrativa.
A crise ética que enfrentamos atualmente exige da família, dos educadores e de toda sociedade o investi-
mento na formação de jovens que tragam enraizados dentro de si valores e princípios éticos. Só atingiremos este
estágio quando a riqueza for mais bem compartilhada, o que implica na democratização do conhecimento e da
informação.

134
Sistemas de governo

Monarquia
Monarquia é um sistema de governo em que o monarca, imperador ou rei, governa um país como chefe de Estado.
O governo é vitalício, ou seja, até morrer ou abdicar e a transmissão de poder ocorre de forma hereditária (de pai
para filho), portanto não há eleições para a escolha de um monarca.
Este sistema de governo foi muito comum em países da Europa durante a Idade Média e Moderna. Neste
último caso, os monarcas governavam sem limites de poder. A monarquia ficou conhecida como absolutismo. Com
a Revolução Francesa (1789), este sistema de governo entrou em decadência, sendo substituído pela República,
na grande maioria dos países.
Hoje em dia, poucos países utilizam este sistema de governo e, os que ainda o usam , conferem poucos
poderes nas mãos do rei. Neste sentido, podemos citar as Monarquias Constitucionais do Reino Unido, Austrália,
Noruega, Suécia, Canadá, Japão e Dinamarca. Nestes países, o rei possui poderes limitados e representa o país
como uma figura decorativa e clássica.
O período monárquico no Brasil ocorreu entre os anos de 1822 e 1889, com os reinados de D. Pedro I e
D. Pedro II.

Parlamentarismo
O Parlamentarismo é um sistema de governo em que o poder legislativo (parlamento) proporciona a sustentação
política (apoio direito ou indireto) para o poder executivo. Sendo assim, o poder executivo necessita do poder do
parlamento para ser constituído e também para governar. No parlamentarismo, o poder executivo é, na maioria das
vezes, exercido por um primeiro-ministro (chanceler).
O sistema parlamentarista pode se apresentar de duas maneiras:
§§ Na república parlamentarista, o chefe de estado (com poder de governo) é um presidente eleito pelo povo
e empossado pelo parlamento, por tempo determinado.
§§ Nas monarquias parlamentaristas, o chefe de governo é o monarca (rei ou imperador), que assume de forma
hereditária. Neste último caso, o chefe de estado (quem governa de fato) é um primeiro-ministro, também
chamado de chanceler.
O parlamentarismo tem sua origem na Inglaterra Medieval. No final do século XIII, nobres ingleses passa-
ram a exigir maior participação política no governo, comandado por um monarca. Em 1295, o rei Eduardo I tornou
oficiais as assembleias dos representantes dos nobres. Nascia assim, o parlamentarismo inglês.
Países parlamentaristas na atualidade: Canadá, Inglaterra, Suécia, Itália, Alemanha, Portugal, Holanda, No-
ruega, Finlândia, Islândia, Bélgica, Armênia, Espanha, Japão, Austrália, Índia, Tailândia, República Popular da China,
Grécia, Estônia, Egito, Israel, Polônia, Sérvia e Turquia.
O sistema parlamentarista é um sistema mais flexível que o presidencialista, pois em caso de crise política,
por exemplo, o primeiro-ministro pode ser substituído com rapidez e o parlamento pode ser derrubado o que no
caso do presidencialismo, o presidente cumpre seu mandato até o fim, mesmo em casos de crises políticas.

135
Presidencialismo
O presidencialismo é um sistema de governo no qual o presidente é o Chefe de Estado e de Governo. Este presi-
dente é o responsável pela escolha dos ministros que o auxiliam no governo.
No sistema de presidencialismo, o presidente exerce o poder executivo, enquanto os outros dois poderes,
legislativo e judiciário, possuem autonomia.
O Brasil é uma República Presidencialista desde 15 de novembro de 1889, quando ocorreu a Proclamação
da República.
No Brasil, o sistema parlamentarista existiu entre 7 de setembro de 1961 e 24 de janeiro de 1963, durante
o governo do presidente João Goulart.

Organização dos Poderes Executivo, Legislativo


e Judiciário

O território brasileiro está divido em Estados, e estes estão divididos em municípios. Como eles são governados?
Quem governa o município, o Estado e o país?
O Brasil, seus estados e municípios têm um governo. Esse governo é responsável pela elaboração de leis,
cobrança dos impostos e prestação de serviços à população. Quem cuida da iluminação pública e da coleta de
lixo, por exemplo, é a prefeitura (o governo municipal). Já a segurança pública é de responsabilidade do governo
estadual. E, todas as questões ligadas à defesa do país (Exército) cabem à União (o governo federal).
Os municípios são governados são pelos prefeitos e vice-prefeitos. Os Estados, pelos governadores e vice-
-governadores e o país é governado pelo presidente e pelo vice-presidente. Todos eles são eleitos pela população,
ou seja, são escolhidos por meio do voto da maioria das pessoas, para que assim possam exercer o poder em nome
delas. Ocupam cargos públicos que podem ser preenchidos tanto por homens quanto por mulheres.
O poder exercido pelos prefeitos, governadores e presidente recebe o nome de Poder Executivo. Recebe este
nome porque cabe a seus representantes colocar as leis em prática, ou seja, executá-las e administrar os negócios
públicos, como cobrar impostos, decidir onde o dinheiro recolhido será aplicado, quantas escolas ou hospitais públi-
cos serão construídos em um ano, quantas e quais as ruas receberão calçamento etc. O Poder Executivo é auxiliado,
em sua tarefa de governar, pelo Poder Legislativo e pelo Poder Judiciário.
O Poder Legislativo é responsável pela elaboração e aprovação das leis. Para compor o Poder Legislativo,
também são eleitos através do voto, os vereadores, os deputados (estaduais e federais) e os senadores.
O Poder Judiciário é o fiscalizador. Ele cuida para que essas leis sejam cumpridas e zela pelos direitos dos
indivíduos. Do Poder Judiciário fazem parte os juízes e os promotores de justiça.

136
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo “A cidadania no Brasil: o longo caminho”

Fonte: Youtube

Vídeo Política e Cidadania com Mario Sergio Cortella

Fonte: Youtube

Vídeo D-05 - Caminhos da Cidadania no Brasil I (1/2)

Fonte: Youtube

Vídeo As conquistas da Constituição de 1988

Fonte: Youtube

138
ASSISTIR

Vídeo A Constituição da Cidadania (programa completo)


Fonte: Youtube

LER

Livros
Presidencialismo de Coalizão - Exame do Atual Sistema de
Governo Brasileiro – Sérgio Antônio Ferreira Victor

Esta obra traz ao meio jurídico brasileiro uma reflexão sobre o


funcionamento do nosso sistema de governo. O mérito da obra consiste
em cuidar do tema Presidencialismo de Coalizão inserindo-o nos
debates político e jurídico desde o pensamento clássico, que estuda
os sistemas de governo a partir da teoria da separação dos poderes,
até o exame pormenorizado das nuances relacionadas à forma como
opera, na prática, o atual sistema de governo brasileiro. O autor, Sérgio
Antônio Ferreira Victor revela como se dão as relações entre os Poderes
Executivo e Legislativo no Brasil pós-Constituição de 1988, em seus dois
períodos mais representativos: os mandatos dos presidentes Fernando
Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Cidadania no Brasil – José Murilo de Carvalho

A obra é um guia sobre a longa jornada da democracia brasileira,


desde os primeiros passos do Brasil independente, ainda monárquico,
passando pela República, até os movimentos de rua recentes. A nova
edição chega quando tudo está em ebulição e em transição. Hora
perfeita para entender o que o país construiu em quase dois séculos
de jornada.
139
LER

Livros
Poder Legislativo no presidencialismo de coalizão – Fabiano
dos Santos

A redemocratização do país, iniciada em meados dos anos 1980,


trouxe consigo a retomada dos estudos sobre o funcionamento
do Poder Legislativo no Brasil. No centro do debate, encontram-
se as virtudes e fraquezas de nosso presidencialismo de coalizão,
assentado na separação dos poderes e no multipartidarismo. Este
livro compara o desempenho da Câmara dos Deputados em dois
períodos democráticos distintos – o período 1946-1964 e o período
atual – e prova como o aumento das prerrogativas do Executivo do
primeiro para o segundo período é fator decisivo na compreensão do
comportamento de deputados, partidos e comissões permanentes em
nosso sistema político.

História da Cidadania – Jaime Pinsky e Carla Pinsky

Ser cidadão é ter direitos civis, políticos e sociais. Exercer a cidadania


plena é ter direitos civis, políticos e sociais. Este livro trata do processo
histórico que levou a sociedade ocidental a conquistar esses direitos,
assim como dos passos que faltam para integrar os que ainda não são
cidadãos plenos. A obra, só com textos inéditos, escritos por alguns
dos principais intelectuais brasileiros, começa com a pré-história da
cidadania, analisa as bases da cidadania moderna, descreve sua
expansão e, em seguida, traz a questão para o Brasil. História da
Cidadania já surge como obra de referência. Ao organizar a discussão
sobre um assunto de que tanto se fala e tão pouco se sabe, o livro
dá conteúdo a um conceito esvaziado pelo uso indevido, e propicia
uma reflexão sólida e consequente. Indispensável para estudantes,
professores, jornalistas, políticos, advogados, militantes, ativistas...
enfim, para qualquer cidadão.

140
INTERDISCIPLINARIDADE

Dentro da perspectiva da divisão de poderes, tão presente na obra de Montesquieu, cada poder (Executivo, Legis-
lativo e Judiciário) possui certa autonomia em suas ações, sendo constantemente vigiado pelos demais. Contudo,
há momentos em que o princípio específico de um poder é exercido pelo outro.
Trata-se do caso da chamada judicialização da política, quando temas sensíveis ao Legislativo são decididos
pelo Judiciário. Vimos, nos últimos anos, a decisão pelo Superior Tribunal Federal, por exemplo, sobre o aborto de
fetos diagnosticados com anencefalia. Em 2012, o veredicto do Supremo permitiu a prática abortiva, mesmo sob
duras críticas, de diversos parlamentares conservadores.

141
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 14 - Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e


interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições
sociais, políticas e econômicas.

A Habilidade 14 tem um escopo muito grande, podendo abranger diversas questões dentro do
arcabouço das Ciências Humanas. No caso da sociologia, especificamente tratando-se de Brasil, trata
da análise de excertos de intelectuais brasileiros, preocupados com algum aspecto social, político ou
econômico da nação, mas sempre focados em suas manifestações institucionais.
O estudante, no caso de Brasil, deve compreender como cada constituição desenhou nosso
arranjo institucional e político, compreendendo as limitações e os alcances de cada poder, seja ele o
Executivo, o Legislativo ou o Judiciário.
Além disso, diante de um momento de crise econômica, moral e institucional em que o país
vive, é fundamental acompanhar os principais desenlaces da vida pública brasileira, focando sempre
em relacioná-los à história e à sociologia.

Modelo
(Enem 2017) A grande maioria dos países ocidentais democráticos adotou o Tribunal Constitucio-
nal como mecanismo de controle dos demais poderes. A inclusão dos Tribunais no cenário político
implicou alterações no cálculo para a implementação de políticas públicas. O governo, além de
negociar seu plano político com o Parlamento, teve que se preocupar em não infringir a Constitui-
ção. Essa nova arquitetura institucional propiciou o desenvolvimento de um ambiente político que
viabilizou a participação do Judiciário nos processos decisórios.
Adaptado de: CARVALHO, E.R. Revista de Sociologia e Política, n. 23, nov. 2004.

O texto faz referência a uma importante mudança na dinâmica de funcionamento dos Estados
contemporâneos que, no caso brasileiro, teve como consequência a:
a) adoção de eleições para a alta magistratura.
b) diminuição das tensões entre os entes federativos.
c) suspensão do princípio geral dos freios e contrapesos.
d) judicialização de questões próprias da esfera legislativa.
e) profissionalização do quadro de funcionários da Justiça.

142
Análise Expositiva

Habilidade 14
Se acompanharmos o contexto político e jurídico atual, verificaremos que o Poder Judiciário
tem sido constantemente chamado a decidir questão de natureza legislativa. Essa tendência
de judicialização é própria da democracia brasileira, não, somente em âmbito político, tem
apelado cada vez mais para soluções de natureza jurídica em seus conflitos.

Alternativa D

143
Estrutura Conceitual

REPÚBLICA FEDERATIVA
DO BRASIL

EXECUTIVO JUDICIÁRIO

União Estados Municípios Federal Ministério


Público

Presidente Governadores Prefeitos Supremo Tribunal Local


Federal
Comum
Supremo Tribunal
Ministros de Secretários Secretários Militar
de Justiça
Estado Estaduais Municipais
Tribunais
Regionais Federais

Especiais
(Trabalho, Eleitoral, Militar)

LEGISLATIVO

União Estados Municípios

Senado Câmara dos Assembleia Câmara


Federal Deputados Legislativa Municipal

Deputados Deputados
Senadores Vereadores
Federais Estaduais

144
Aprofunde seus conhecimentos
1. (Vunesp) Tereza Caldeira escreveu que a ci- riqueza coletiva; incluem o direito à saúde,
dadania brasileira é disjuntiva porque, em- a um salário justo, ao trabalho, à aposen-
bora o Brasil seja uma democracia política e tadoria, enfim, um mínimo bem-estar para
ainda que os direitos sociais sejam razoavel- todos.
mente legitimados, aspectos civis da demo- c) Diz respeito aos direitos essenciais à vida, ao
cracia são continuamente violados. Com base direito de propriedade e à igualdade perante
nessa ideia, pode-se afirmar que: a lei. Trata-se de um direito que se desdobra
a) a democracia brasileira não avançou em rela- na garantia de ir e vir, de escolher o seu
ção à ditadura civil-militar. próprio trabalho, de liberdade de expressão,
b) há poucos registros de violação de direitos de não ser condenado sem processo legal re-
civis durante a ditadura civil-militar brasi- gular, de garantias da liberdade individual.
leira. d) Diz respeito aos elementos que garantem
c) paradoxos marcam a constituição da demo- a existência de uma máquina burocrática
cracia no Brasil. administrativa do Poder Executivo. A ideia
d) no Brasil, direitos sociais devem ser superio- central desse direito é a justiça social.
res aos direitos civis. e) Diz respeito à participação de poucos indi-
e) na história brasileira, a democracia política víduos no governo da sociedade. Está mais
vem acompanhada do respeito aos direitos voltado para pessoas vinculadas a partidos
civis. políticos que elaboram projetos sociais.

2. O termo cidadania é explicado pelo seguinte 4. É o ato de um grupo ou pessoa ser eleito,
conceito: normalmente por votação, para representar
a) exprime a afirmação de um indivíduo diante um povo ou uma população, isto é, para agir,
da sociedade e do Estado. falar e decidir em nome do povo. Os eleitos
b) é a condição de um indivíduo como mem- se agrupam em instituições chamadas Par-
bro de um Estado e portador de direitos e de lamento, Congresso ou Assembleia da Repú-
obrigações. blica. A esta forma de governo chamamos
c) encerra uma ação recíproca de ideias, atos democracia:
ou sentimentos entre indivíduos, entre gru- a) ateniense.
po, ou entre ambos. b) representativa.
d) expressa maneiras de agir, sentir e pensar, c) parlamentar.
próprias de um grupo, da sociedade ou da d) republicana.
civilização a que um indivíduo pertence. e) tirânica.
e) constitui um agrupamento de indivíduos en-
volvidos em um esforço organizado para pro- 5. O Estado Federativo tem como características
mover ou resistir a mudanças na sociedade. principais:
a) Eletividade dos mandatários e temporalida-
3. O conceito de cidadania é considerado um de dos mandatos.
dos mais importantes nas Ciências Sociais. b) Soberania e autonomia dos entes federados.
Diz respeito à participação de um cidadão na c) Divisão de competências entre os entes fe-
comunidade, e no compartilhamento de va- derados e participação dos Estados-membros
lores comuns. Pode-se dizer que, nos últimos nas decisões nacionais.
anos, a construção da cidadania diz respeito d) Representatividade dos mandatários e sobe-
à própria construção da nacionalidade. rania popular.
e) Relação rígida entre o Poder Executivo e o
Para que ela se realize plenamente, o cida-
Poder Legislativo.
dão pleno seria aquele titular de três direi-
tos fundamentais: os direitos civis, os direi-
tos políticos e os direitos sociais. Entre as 6. O Governo Republicano tem como traços dis-
questões abaixo, assinale a alternativa refe- tintivos:
rente às características dos direitos civis. a) O acesso do povo ao poder.
a) Diz respeito à participação no governo da b) A divisão de competências entre as entida-
sociedade, de fazer demonstrações políticas. des federativas.
Através dele podemos discutir problemas do c) A eletividade dos mandatários e a transito-
governo, de organizar partidos, de votar, de riedade dos mandatos eletivos.
ser votado. d) A vitaliciedade e a hereditariedade.
b) Diz respeito à vida em sociedade que garan- e) A centralização das decisões políticas e ad-
te a participação das pessoas no governo; ministrativas.
garante a participação na distribuição da

145
7. A República Federativa do Brasil se constitui 1
0. (Vunesp) Leia o texto a seguir.
em:
a) Estado Republicano de Direito. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS
b) Estado Federativo de Direito. HUMANOS
c) Nação Democrática de Direito. Adotada e proclamada pela resolução
d) Estado Democrático de Direito. 217 A (III) da Assembleia
e) Estado Popular de Direito.
Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro
de 1948.
8. (Vunesp) Estaria tudo perdido se um mes- Artigo XV
mo homem (...) exercesse esses três poderes
(...) 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionali-
Sendo o corpo Legislativo composto de duas dade.
partes, uma acorrentará a outra pela mútua 2. Ninguém será arbitrariamente privado de
‘faculdade de impedir’. Ambas serão amarra- sua nacionalidade, nem do direito de mu-
dar de nacionalidade.
das pelo poder Executivo, o qual o será, a seu
(Disponível em: http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_
turno, pelo Legislativo. intern/ddh_bib_inter_universal.htm.
(Montesquieu. O Espírito das Leis, 2010.) Acesso em12.05.2013)

O escrito anuncia, desde o século XVIII, a com- Entende-se por direito à nacionalidade:
preensão científica da separação e equilíbrio a) direito de pertencer a uma cultura.
dos poderes, pedra angular da democracia, que b) direito de possuir uma identidade.
se expressa, por exemplo, na polêmica votação c) direito de habitar um determinado territó-
do novo Código Florestal pelo Congresso Nacio- rio.
nal, com a possibilidade do uso do veto pela d) direito de participar das instâncias de poder
Presidente da República. político de um Estado.
Observando-se o processo, sem entrar no e) direito de proteção de um Estado.
mérito da legislação ambiental, é possível
afirmar:
a) O veto é antidemocrático porque atrapalha o
funcionamentodo Legislativo.
b) O direito ao veto, tal como teorizado no sé- Gabarito
culo XVIII, está previsto na Constituição do
Brasil e em nada prejudica o funcionamento 1. C 2. B 3. C 4. B 5. C
ou o equilíbrio entre os três poderes.
c) Atualmente, existe um quarto poder, exer- 6. C 7. D 8. B 9. E 10. A
cido pelas Forças Armadas, que atua como
moderador e, por força da Constituição na-
cional, tem autoridade para fechar o Con-
gresso.
d) O Legislativo pode ser fechado, com base
nas prerrogativas do veto do Executivo, sem
ferir a democracia no país.
e) O único poder cujas prerrogativas são claras
é o Judiciário, ao qual cabe realmente fazer
as leis, uma vez que é compostopor juristas.

9. (Vunesp) Segundo a Constituição da Repúbli-


ca Federativa do Brasil de 1988, “todo poder
emana do povo, que o exerce por meio dere-
presentantes eleitos ou diretamente”, nesse
sentido, o exercício do poder é atribuído:
a) aos poderes executivo e legislativo, por se-
rem escolhidos pelo voto popular.
b) ao poder legislativo pela prerrogativa de
criar leis.
c) ao Governo constituído a partir de eleições
majoritárias livres e diretas.
d) ao poder judiciário pela prerrogativa de ga-
rantir o cumprimento das leis.
e) aos cidadãos pelo poder do voto e também pe-
los mecanismos legais de democracia direta.

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