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Revista da Faculdade de Direito - UFPR, Curitiba, n.48, p.165-186, 2008.

OS FUNDAMENTOS DEMOCRÁTICOS DA DECISÃO JUDICIAL E A


QUESTÃO DO DIREITO E DA MORAL – UMA VISÃO A PARTIR DO
NEOPOSITIVISMO DE HART E A CRÍTICA DE NINO
DEMOCRATIC BASIS OF LEGAL DECISION AND THE ISSUE OF
LAW AND MORAL – A VISION FROM HART’S NEW POSITIVISM
AND CARLOS SANTIAGO NINO’S CRITIQUE

Eneida Desiree Salgado*


Emerson Gabardo**

RESUMO: O texto tem como objetivo ABSTRACT: The text has as its main purpose
descrever parte da argumentação jurídica de to describe part of the juridical arguments
dois importantes autores da filosofia do developed by two important Philosophy of
direito do século XX: Herbert Lionel Law authors from the 20th century: Herbert
Adolphus Hart e Carlos Santiago Nino. O Lionel Adolphus Hart and Carlos Santiago
recorte teórico escolhido foi a questão da Nino. Emphasis is given on the matter of the
decisão judicial, tomando-se como ponto de judicial decision, taking as a starting point
partida a imprescindibilidade da análise da the need for the analysis of the matter of Law
questão do direito e da moral para o estudo and of moral. The confrontation between the
do tema. O assunto é abordado a partir da arguments developed not only by the
confrontação de argumentos, tanto dos aforementioned authors but also by other
autores referidos como de outros importantes thinkers broaches the subject. The text also
pensadores que interferiram criticamente no aims at putting forth the traditional discussion
diálogo teórico estudado. Tem-se como carried through in the beginning of the 20th
objetivo trazer à tona a tradicional discussão century in order to help provide an adequate
realizada em meados do século XX como reflection concerning the limits and the
forma de subsidiar uma adequada reflexão a possibilities of interpretation of Law and of
respeito dos limites e das possibilidades da
the judicial decision nowadays.
interpretação do direito e da decisão judicial
KEYWORDS: Herbert L. A. Hart; C. S. Nino;
na contemporaneidade.
law and moral; judicial decision.
PALAVRAS-CHAVE: Herbert L. A. Hart;
C. S. Nino; direito e moral; decisão judicial.
** Professor de Direito Administrativo na UniBrasil.
Diretor Geral do Instituto de Direito Romeu Felipe
* Professora de Direito Constitucional UFPR. Bacellar. Mestre e Doutorando em Direito do Estado
Mestre e Doutoranda em Direito do Estado na UFPR. na UFPR.

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I. ALGO SOBRE HART E NINO uma teoria analítica, mas sim ao estudo da
matéria por estudantes da graduação. Segundo
Uma expressão interessante para definir
o próprio autor, trata-se de um “ensaio de
a variedade de possibilidades epistemológicas
sociologia descritiva” na medida em que não
compreendidas dentro do chamado
se restringe a propor uma investigação sobre
“positivismo jurídico” é a utilizada por
o significado teórico da palavra “direito”.
Jean-Cassien Billier e Aglaé Maryoli:
Ao contrário, afirma que os conceitos, em
“metamorfoses”.1 Na realidade, o positivismo
geral, são mais bem explicados mediante
jurídico parece ter passado por mudanças
um estudo sobre os “usos-padrão” de
substanciais dentro de um mesmo espectro,
expressões relevantes, ou seja, dependem de
dependendo da interpretação que lhe confere
um contexto social.3
uma específica escola, um determinado
Apesar do sucesso obtido com a
conjunto de pensadores, ou mesmo, a partir
publicação, 4 essa metodologia acabou
da obra de um certo autor. Este é o caso de
propiciando uma grande quantidade de
Herbert Lionel Adolphus Hart, um dos pilares
críticas, pois a tentativa de aglutinação entre
tanto da nova compreensão positivista, típica
a tradição da “teoria analítica” (Hobbes,
da metade do século XX, quanto do próprio
Bentham, Austin) e o que autodenominou
círculo hermenêutico que lhe sucedeu.
“sociologia descritiva” não foi muito bem
Hart foi advogado sem nunca ter cursado
recebida, não só pela pouca expressão
direito. Na realidade, o pensador formou-se
epistemológica de seu trabalho, como
em filosofia na Universidade de Oxford em
também pela ausência de uma maior
1930, tendo sido aluno de J. L. Austin. Na
preocupação com a justificação do ponto de
época era possível àqueles interessados ao
vista adotado.5 Na realidade, ao contrário de
ingresso na advocacia apenas prestar um
autores como Ronald Dworkin, que buscam
exame para o exercício da profissão. Foi o
encontrar uma teoria de justificação e
que fez Hart, embora por pouco tempo (1930-
interpretação dirigida a uma cultura concreta
1940). Com o advento da Segunda Guerra
(o direito anglo-americano), Hart afirmou a
Mundial, passou a trabalhar para o serviço de
intenção de desenvolver uma “teoria geral”
inteligência britânica, não retornando mais à
(também descritiva) sobre o direito (não
advocacia devido à sua aprovação como
professor de filosofia em Oxford.2
3
A obra mais importante de Hart, sem HART, Herbert L. A. O conceito de direito.
Tradução de A. Ribeiro Mendes. 4.ed., Lisboa: Fundação
dúvida, foi “O Conceito de direito”, publicada Calouste Gulbenkian, 2005, p. 01.
em 1961 e destinada não à apresentação de 4
Segundo Ronald Dworkin o sucesso de Hart
decorre de seu “instinto para problemas de princípio e
uma lucidez maravilhosa para expô-los”. Cf.: DWORKIN,
1
BILLIER, Jean-Cassier; MARYOLI, Aglaé. Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução de Nelson
História da Filosofia do direito. Tradução de Maurício Boeira. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 12.
de Andrade. Barueri – SP: Manole, 2005, p. 387 e ss. 5
ROBLES, Gregório. Hart: algunos puntos
2
PARANO, Juan Ramón de. Entrevista de H. L. críticos. Actas del XVIII Congreso mundial de la
A. Hart. Doxa: Cuadernos de filosofia del derecho, n. 5 Asociación Internacional de Filosofia Jurídica y social.
(1988), p. 340. Buenos Aires, 1977, p. 371.

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destinada, portanto, a qualquer ordenamento ou comandos, como propõe o positivismo


6
em concreto). Esta tentativa de adoção de clássico de Austin.9
uma perspectiva ampla acabou propiciando Contemporâneo de Hart, Carlos Santiago
um entendimento mais elastecido do direito Nino nasceu na Argentina em 1943, tendo
que, segundo autores como Gregório Robles, graduado-se em direito na Universidade de
implicaram o desenvolvimento de um Buenos Aires e realizado seu doutorado
“conceito tridimensional”: a norma (objeto em Oxford, na Inglaterra. Sua notoriedade
da ciência analítica); o fato social (objeto da lhe rendeu convites para ser professor
visitante na Universidade de Yale (EUA) e na
sociologia descritiva); o valor mínimo (objeto
Universidade Pompeu Fabra (Espanha),
do direito natural).7
entre outras instituições. Durante o governo
Hart não tem como foco o “direito
de Raúl Alfonsín foi assessor presidencial e
positivo” e nem mesmo a “ciência jurídica”,
coordenador do Consejo para la consolidación
mas sim o “pensamento jurídico”,8 a partir de
de la democracia, que buscava reformar o
algumas questões recorrentes de caráter
Estado argentino recém-democratizado no
fundamental, tais como: a) todos os sistemas
início dos anos 80. Nino foi designado membro
jurídicos acabam reproduzindo, em termos da Comissão de Reforma do Código Penal,
substanciais, algumas exigências de caráter além de ter sido o responsável pela criação do
moral, ou seja, “o direito e a moral partilham importante Centro de Estudos Constitucionais.
de um vocabulário de direitos e deveres”; Acabou falecendo em 1993, vitimado por uma
b) em geral há um consenso de que o direito crise de asma em La Paz, onde trabalhava na
é um conjunto de regras, mas a questão reforma da Constituição boliviana.
fundamental é saber o que são as regras Assim como ocorreu com Hart, 10 os
(considerando-se que há uma diferença primeiros escritos de Nino se concentraram
estrutural entre meros comportamentos na teoria do direito e da moral, no conceito
convergentes e as regras sociais decorrentes de sistema jurídico, na interpretação legal, no
de um dever compartilhado); c) a decisão debate entre juspositivismo e jusnaturalismo
judicial nunca admite somente um resultado, e no conceito de validade das normas.
principalmente nos casos mais importantes, Ou, como ele mesmo afirma, centraram-se
cabendo ao juiz a decisão sobre o que o na “metodologia da ciência jurídica e da
decisão judicial”. Na teoria do direito
precedente significa, podendo valer-se de um
afastou a análise dogmática de inspiração no
poder discricionário subjetivo, se necessário;
d) o direito não é apenas baseado em ameaças
9
HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op.
6
cit., p. 10-21.
HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op.
cit., p. 300. 10
Para o conhecimento de alguns dos primeiros
7
ensaios de Hart a respeito das temáticas ora tratadas ver
ROBLES, Gregório. Hart: algunos puntos críticos.
a coletânea organizada por Genaro Carrió: HART,
Op. cit., p. 372.
Herbert. L. A. Derecho y moral: contribuciones a su
8
ROBLES, Gregório. Hart: algunos puntos críticos. análisis. Tradución de Genaro Carrió. Buenos Aires:
Op. cit., p. 373. Depalma, 1962.

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pensamento alemão e propôs um modelo judicial e sobre posição de Hart será utilizada
baseado na adoção explícita de princípios principalmente sua obra “Derecho, Moral y
de justiça e moralidade social. Suas Política. Una revisión de la teoría general
investigações filosóficas sempre se voltaram del Derecho”.
para problemas práticos, como o concurso
no direito penal, a legítima defesa e o aborto, II. A RELAÇÃO ENTRE DIREITO E
em uma relação teoria/aplicação bastante MORAL
intensa. Característica esta que também o O neopositivismo hartiano propõe de
aproxima de Hart, que foi um ativista forma inovadora que o ser e o dever ser
político preocupado com as questões reais estão unidos e são inseparáveis, ainda que
de seu tempo. 11 grandes positivistas como Bentham e Austin
Particularmente para o presente estudo, não admitam esta realidade, por insistirem
centrado na questão da decisão judicial e os que o direito é, necessariamente, o “direito
limites da relação entre o direito e a moral, que deve ser”.13 Hart, na realidade, ao firmar
interessa a tese de Nino de que “a motivação sua posição não recusa a distinção entre a
justificatória de soluções jurídicas requer esfera do ser e a do dever ser. Contudo,
necessariamente premissas valorativas, o que relativiza o exagero do positivismo clássico
(que simplesmente negou a esfera do ser)
tem conseqüências sumamente relevantes
mediante a proposição da íntima conexão
para a ciência jurídica e para a administração
entre as duas esferas.
da justiça.” 12 Desse modo, torna-se possível
Nino não se contenta com este suave
ser estabelecida uma ponte entre seu
avanço, asseverando que “o argumento de
pensamento crítico e as proposições Hart e de tantos outros positivistas de que há
inovadoras de Hart, contidas de forma que distinguir o direito que ‘é’ do direito que
sistematizada em “O Conceito do direito” ou ‘deve ser’ pressupõe um conceito descritivo
em outros trabalhos como “Derecho y Moral: de direito como um conjunto de normas que
contribuciones a su análisis”. Para o estudo são de fato reconhecidas”. Mas, segundo o
do pensamento de Nino sobre a decisão autor, caso fosse adotado “um conceito
valorativo de direito, como um conjunto de
normas que devem ser reconhecidas, se
11
Veja-se, por exemplo, as polêmicas posições de poderia estabelecer a mesma distinção mas
Hart sobre a descriminalização das práticas homossexuais
empregando conceitos diferentes: haveria de
e da prostituição (particularmente decorrentes dos
trabalhos da Comissão Wolfenden, em 1957). Sobre o distinguir entre ‘o que é considerado’ direito
assunto e a forte controvérsia com Lord Devlin ver: e o que ‘é direito’, correspondendo cada
MALEM, Jorge. De la imposición de la moral por el termo deste segundo par aos termos do
derecho: la disputa Devlin-Hart. Revista Isonomía. n. 04
(1996). Ver também os comentários de Ronald Dworkin
primeiro par na mesma ordem.”14
em: DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério.
Op. cit., p. 375 e ss.
13
12
HART, Herbert L. A. Derecho y moral:
Apresentação de si mesmo, de sua trajetória
contribuciones a su análisis. Op. cit., p. 3.
filosófica e das principais questões da teoria do direito
14
que Carlos Santiago Nino faz no primeiro número da NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
revista Doxa: Cuadernos de Filosofía del Derecho. política. Una revisión de la teoría general del Derecho.
Universidad de Alicante, 1984, p. 175-177. Barcelona: Ariel, 1994, p. 33.

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Hart, na defesa de sua posição de significado cognoscitivo da palavra, porque


positivista moderado, encampa a idéia de que provoca ora sua extensão, ora sua restrição.
a identificação de um conceito de direito Ante a vagueza da palavra “direito”,
inserido na realidade conjuntural exige o alguns juristas essencialistas buscam
reconhecimento de que na aplicação das incessantemente construir um liame entre os
regras sempre haverá uma dualidade entre diversos fenômenos jurídicos para permitir
um “núcleo de certeza” e uma “penumbra de sua compreensão intrínseca. E, a partir do
dúvida”. Esta imprecisão implica a existência pressuposto da existência ou não de uma
de uma textura aberta, típica do sistema relação entre direito (cada qual com seu
jurídico e do conceito de direito que o autor próprio conceito) e moral, coloca-se a disputa
entre jusnaturalismo e juspositivismo e
procura descrever. 15
suas derivações.
Santiago Nino, contudo, vai além e
Para Nino os conceitos são criações
questiona a própria necessidade de um
convencionais (que não refletem a essência
“conceito de direito”, afirmando que o debate
do objeto) estabelecidos por exigência de
entre as diversas escolas de pensamento parte
entendimento e de comunicação. Nesta
de diferentes concepções do que seja direito
posição convencionalista, admite a existência
defendidas como se fossem as verdadeiras e
de uma pluralidade de conceitos de direito,
únicas aceitáveis. O autor acentua que a
adequados a distintas necessidades
palavra “direito” tem um “significado
discursivas. 17 Aduz, ainda, que cada conceito
emotivo favorável. Nomear com esta palavra
de direito admitido leva a um conjunto
uma ordem social implica condecorar-lhe distinto de razões admitidas para a justificação
com um rótulo honorífico e reunir ao seu das decisões jurídicas.18
redor as atitudes de adesão das pessoas”.16 Levando em conta apenas os standards
Essa conotação emotiva prejudica o efetivamente reconhecidos pelos órgãos
primários, responsáveis pela aplicação do
15
HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op.
cit., p. 129. Artur Stamford da Silva, Murilo Otávio
17
Lubambo de Melo e Romero Barreto Barbosa, em bem- NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y política.
humorado artigo, afirmam que Hart critica o formalismo, Una revisión de la teoría general del Derecho. Op. cit.,
relacionado à hermenêutica tradicional – que pretende p. 32. Na página seguinte, Nino se refere diretamente ao
retirar da lei uma única decisão correta por um processo título da obra de Hart e à armadilha da pretensão de um
estritamente intelectual – e também o ceticismo, espécie conceito exclusivo e excludente de direito.
de voluntarismo amorfo que vê no juiz o criador do 18
“Por exemplo, os jusfilósofos realistas, como Alf
direito, afirmando que “suas idéias são uma espécie de
Ross, adotam um conceito descritivo realista de direito,
evolução de dialética resultante do confronto entre essas
considerando como tal o “conjunto de standards que são
duas correntes extremadas”. SILVA, Artur Stamford et
ou serão provavelmente e de fato reconhecidos – ou seja,
alli. Construção judicial do direito. Desde Kelsen e Hart.
empregados ou empregáveis na exposição de razões
Ainda somos os mesmos… e vivemos. Revista de
justificatórias de suas decisões – por parte de quem tenha
Informação Legislativa, Brasília, n. 165, p. 205-218, jan/
capacidade efetiva de mobilizar em casos concretos,
mar 2005.
através de tais decisões, o aparato que quase monopoliza
16
NINO, Carlos Santiago. Introducción al análisis a coação em uma sociedade”. Cf.: NINO, Carlos
del derecho. Buenos Aires: Editorial Astrea de Alfredo Santiago. Derecho, moral y política. Una revisión de la
y Ricardo Depalma, 1998, p. 16. teoría general del Derecho. Op. cit., p. 36.

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direito, pelo fato de terem sido prescritos por aplicável em diferentes sistemas. Para tanto,
uma certa autoridade ou fonte e excluindo o autor busca características que se façam
outras razões que podem participar da presentes neste modelo a ser construído.
construção da decisão judicial (como os E uma das mais importantes características é
precedentes, os costumes e os princípios) o justamente a sua “textura aberta”, que
conceito descritivo institucional de direito decorre, portanto, da inter-relação social,
pode ser ainda mais restrito (quando exclui consistindo em um aspecto da própria
do conceito de direito todos os standards que linguagem humana, além do que, retrata
os órgãos primários não estejam obrigados a um certo “preço a pagar” pela adoção de
aplicar). Aqui se localizam, para Nino, Hart classificações gerais.21
e Joseph Raz e é daqui que partem as críticas Ademais, a própria inabarcabilidade
de Dworkin contra o positivismo.19 das situações de fato, aliada a uma “relativa
Os conceitos normativos de direito indeterminação” das ações humanas também
consideram o conjunto de standards que impõe um caráter faticamente aberto ao
devem ser reconhecidos na aplicação do sistema. 22 De acordo com Jean-Cassien
direito. O problema está na definição do que Billier e Aglaé Maryoli, a conseqüência desta
torna obrigatório o comando que torna os formulação é que a aplicação das regras irá
demais comandos obrigatórios. De acordo depender da sua finalidade. Existem casos
com Nino, para que não seja auto-referente em que não se apresenta qualquer dúvida; já
este primeiro comando está além do dever, há outros em que se apresentam dúvidas.
está além do círculo compreendido como O núcleo de certeza da regra depende,
direito. Aqui cabe uma crítica à teoria de portanto, de dois fatores essenciais: a) a
Kelsen, cujo entendimento Nino denomina de formulação lingüística (seja ela descritiva,
conceito “normativo hipotético de direito”.20 seja ela de avaliação); e b) o contexto de
Hart possui uma compreensão a respeito aplicação (organização do processo, fatos,
do direito que não permite tal relativismo provas). Ou seja, “a mesma regra jurídica que
conceitual (ainda que aceite a influência do em certo caso é clara, precisa e não traz
relativismo fático). Segundo o autor, em nenhuma dificuldade de interpretação, pode
qualquer grande grupo, as regras gerais, os não ser assim em um caso diferente”.23
padrões e os princípios devem ser o mais Neste ponto, Nino concorda com Hart. As
importante mecanismo de controle da indeterminações semânticas exigem uma
sociedade, e não as diretivas particulares determinação por parte do intérprete que
dadas separadamente a cada um. Sua pretensão demanda valorações. É a textura aberta das
de universalidade, característica da tradição
analítica, busca um conceito de direito
21
HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op.
cit., p. 137.
19 22
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op.
política. Op. cit., p. 37. cit., p. 141.
20 23
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y BILLIER, Jean-Cassier; MARYOLI, Aglaé.
política. Op. cit., p. 37-38. História da Filosofia do direito. Op. cit., p. 403.

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normas jurídicas derivada da linguagem unívoca, consistente, precisa e isenta de


reconhecida por Hart que dá ao intérprete um considerações morais – para cada caso, com
espaço de discricionariedade em face da neutralidade valorativa e com uma lógica
vagueza (por gradiente, combinatória, por irretocável. E, desta forma, sustenta ser o
textura aberta) e da ambigüidade. A aplicação ordenamento jurídico completo, coerente e
da norma a um caso concreto exige a razoável, onde o juiz, ainda que lhe sobre
superação das indeterminações semânticas, algum espaço de decisão, decidirá nos limites
sintáticas e pragmáticas, em um momento no conjunto de opções da própria ordem
essencial e inafastavelmente valorativo.24 jurídica. Nada mais inatingível por críticas à
Ainda, na interpretação, há eventualmente a ordem posta e à atuação plena do Poder
necessidade de preencher uma lacuna lógica Judiciário na realização do direito e na
(quando o sistema jurídico não oferece uma proteção do sistema. 26
solução normativa para determinado caso), Santiago Nino, vai além de Hart e defende
afastar uma contradição lógica ou uma uma conexão direta entre direito e moral.
redundância; exige-se também a superação O autor enfrenta, portanto, os paradoxos de
das indeterminações lógicas. Para Nino, ainda ser considerada essa conexão, que poderia
que existam regras para afastar essas levar, inclusive, à irrelevância do direito para
indeterminações, há, sempre, um espaço que a solução de casos concretos, afirmando que,
somente pode ser preenchido com opções de por vezes, uma norma jurídica afasta uma
índole moral, muitas vezes declaradas sob a indeterminação moral.27
alegação de que aquela escolhida é a solução Para Nino o direito é uma prática política,
mais justa. Finalmente há interferência de tanto em sua elaboração quanto em sua
opções valorativas quando se dá a subsunção aplicação. A estrutura da motivação prática
da norma ao caso concreto, com uma revisão tem que ter em conta que as ações ou decisões
das opções valorativas já realizadas25. Ou jurídicas são parte de um processo duradouro
seja, em todos os passos da aplicação do de interação coletiva. Há uma racionalidade
direito estão presentes, inafastavelmente,
específica quando se participa em uma obra
considerações não-jurídicas, de índole moral.
coletiva, com uma ação que se soma à obra
A negação de tais valorações, mascarando-as
sem que o autor tenha o controle sobre toda
em argumentos pretensamente puramente
a obra.28
jurídicos, impede a avaliação da decisão
pela não declaração dos reais motivos que
26
a fundamentam. NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
política. Op. cit., p. 101-102.
O positivismo jurídico clássico afirma
27
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
poder determinar uma solução correta –
política. Op. cit., p. 130-131.
28
“O que resulta afetado, e se modifica quando
24
atuamos coletivamente em vez de individualmente, não
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
é a validade dos princípios valorativos últimos. As ações
política. Op. cit., p. 87-95.
coletivas requerem diferentes critérios de racionalidade
25
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y na eleição de princípios ou modelos valorativos, posto
política. Op. cit., p. 95-100. que, como nossa agregação a uma obra coletiva é

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Mais restritivo, propõe Hart que é fator moral em que se busca a realização de uma
característico de um sistema com textura situação fática eqüitativa em que se deve
aberta e, ainda, deve ser típico de um “bom tratar “da mesma maneira casos semelhantes
sistema jurídico”, a sua conformação com a e diferentemente os casos diferentes”.33
justiça e com a moral.29 Todavia, não há uma Por outro lado, Nino apresenta um
correlação necessária entre direito e moral. conceito misto de direito que, segundo
Diferentemente do direito, as características propõe, se coaduna com a concepção
fundamentais da moral são: a) importância interpretativa de direito de Dworkin e que
(ou relevância social); b) imunidade à não aceita os termos da relação entre direito
alteração deliberada (a moral é algo que e moral presentes em Hart. 34 Essa pluralidade
“existe para ser reconhecido e não feito por de conceitos aceitáveis de direito defendida
uma ação humana intencional”); c) caráter por Nino impede que se estabeleça como
voluntário (os delitos morais dependem da verdadeira uma determinada relação
vontade consciente do agente); d) a existência conceitual entre direito e moral.
de uma forma de pressão social específica.30 Para o positivismo jurídico clássico,
Quanto à justiça, trata-se da “mais jurídica tradicionalmente opositor do jusnaturalismo,
31
das virtudes” e a “mais pública delas”, em não é necessário, de forma alguma, que as
razão do que implica a existência de certos leis satisfaçam exigências da moral para que
deveres que exigem o sacrifício de interesses sejam válidas (embora freqüentemente façam
privados, o que é uma situação essencial à isso). 35 Todavia, a aplicação do direito requer
própria sobrevivência de qualquer sociedade.32 decisões humanas cuja lógica ou racionalidade
Mas, na realidade, os “princípios de justiça” implica uma decisão sobre o que o direito
nada mais são do que um segmento da própria “deve ser”; e isso já é um juízo moral. Por
este motivo não é possível negar que há uma
ligação necessária entre o direito e a moral.
limitada e não controlamos o produto final, o racional
pode ser eleger, não o modelo ou princípio mais Tanto o utilitarismo de Jeremy Bentham
defensável, senão outros como méritos menores. Este quanto o positivismo de John Austin erraram,
tipo de racionalidade, constrita na obra coletiva pelas
eleições dos demais, poderia ser denominada de ‘o
segundo Hart, porque se desligaram da
segundo melhor’, considerando que, muitas vezes, nos
leva a um afastamento progressivo do modelo ótimo, em
atenção a seus efeitos sobre a obra global”. Cf.: NINO, 33
HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op.
Carlos Santiago. Derecho, moral y política. Op. cit., cit., p. 173.
p. 136-137. 34
Segundo Nino “o direito está formado por
29
HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op. aqueles standards reconhecidos efetivamente em suas
cit., p. 221. decisões por quem tem acesso ao aparato coativo para
30
fazer cumprir tais decisões e aqueles standards que
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op.
devem ser reconhecidos por eles como a melhor
cit., p. 190 e ss.
justificação do reconhecimento do primeiro tipo de
31
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op. Standard.” NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
cit., p. 182. política. Op. cit., p. 39.
32 35
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op. HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op.
cit., p. 186. cit., p. 202.

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aplicação do direito, preocupando-se em Entretanto, embora tenham opiniões


demasia com o formalismo. 36 coincidentes quanto à existência de alguma
Hart ressalta que esta dicotomização não conexão entre direito e moral, as concepções
traduz a relação verdadeiramente existente de Hart e Dworkin diferem radicalmente na
entre direito e moral. Aliás, o seu próprio forma e termos em que se estabelece esta
entendimento a respeito do que seja direito conexão. Hart sustenta que “não há conexões
passa pela confirmação social de uma conceituais necessárias entre o conteúdo do
necessária conexão entre as instâncias. direito e o da moral”, ainda que o direito
Afirma o autor que “sem a cooperação possa ter incorporado critérios morais para
voluntária deles [um número relevante de sua identificação. Desse modo, entende que
pessoas] assim criando autoridade, o poder podem “ter validade, enquanto regras ou
coercitivo do direito e do governo não
princípios jurídicos, disposições moralmente
pode estabelecer-se”.37 Ademais, a prática
iníquas”. 40 Dworkin discorda desta
verificável em sistemas como os EUA e a
possibilidade e, ademais, chega a afirmar
Inglaterra denota que o critério último de
que, apesar da evolução propiciada pela
validade jurídica incorpora explicitamente
teoria de Hart (sobre a de Austin),41 o autor
“princípios de justiça ou valores morais
nada mais é do que “o mais claro exemplo da
substantivos”. 38 Nesse sentido, também
teoria positivista”.42
propõe Dworkin que a leitura moral não
Isso ocorre, pois Hart é direto ao afirmar
é algo novo, pois ela está refletida nas
a necessidade de uma “concepção moral
interpretações que se utilizam de uma
forma coerente de hermenêutica da
Constituição. Tal situação é exemplificada sido inicialmente desenvolvido em: DWORKIN, Ronald.
Levando os direitos a sério. Op. cit. e DWORKIN, Ronald.
com a facilidade com que é possível
O império do direito. Tradução de Jefferson Luiz
distinguir juristas liberais e conservadores. Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Cada qual se diferencia pela sua peculiar visão 40
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op.
moral da Constituição, que vai influenciar na cit., p. 331.
interpretação dos princípios.39 41
“Hart resgata os princípios fundamentais do
positivismo dos erros de Austin. Hart concorda com
Austin que as regras jurídicas válidas podem ser criadas
36
Embora lembra o autor que Austin não entendia através de atos de autoridades e instituições públicas.
o direito como um sistema fechado, pois a própria Contudo, Austin pensava que a autoridade dessas
natureza da linguagem é aberta. Cf.: HART, Herbert. L. instituições encontrava-se tão-somente no seu monopólio
A. Derecho y moral: contribuciones a sua análisis. Op. do poder. Hart localizava a autoridade dessas instituições
cit., p. 28. no plano dos padrões constitucionais a partir dos quais
37
elas operam, padrões constitucionais esses previamente
HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op.
aceitos pela comunidade que é por eles governada, na
cit., p. 217.
forma de uma regra de reconhecimento fundamental.
38
HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op. Esse plano legitima as decisões do governo e lhes confere
cit., p. 220. a forma e o caráter de obrigação que faltavam às ordens
39
cruas do soberano de Austin.” Cf.: DWORKIN, Ronald.
DWORKIN, Ronald. La lectura moral y la premisa
Levando os direitos a sério. Op. cit. p. 34.
mayoritarista. In: KOH, Harold Hongju e SLYE, Ronald
42
(Comp.). Democracia deliberativa y derechos humanos. DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério.
Barcelona: Gedisa, 2004, p. 152. O argumento já havia Op. cit. p. 74.

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neutra”. Ou seja, discorda de Dworkin (e hierarquia); ele emite ordens baseadas em


Nino) principalmente por conta da aceitação ameaças, visando à obediência. O direito
(por estes autores) de uma moralidade que também possui regras gerais e, sem dúvida,
não está expressa na Constituição, nem na há probabilidade de sua execução mediante
legislação, nem nos precedentes, mas pode ameaças. Todavia, seu fundamento ultrapassa
ser acatada como efetivos princípios jurídicos. a questão da ameaça, pois há um hábito geral
Sendo assim, Dworkin aceita a equivalência de obediência que produz supremacia dentro
entre princípios implícitos e explícitos de um território e independência em face de
propiciando uma interferência (indevida) outros sistemas.46 Nesta perspectiva, o povo
da moral no direito. 43 Hart recusa esta não é um soberano livre de limitação jurídica,
possibilidade, ao tempo em que também havendo um rompimento com as teorias
nega a interpretação (errada) que Dworkin clássicas da soberania e da democracia,
faz de sua teoria, quando a denomina de devido à regulação decorrente do sistema
um mero “positivismo factual”, pois, para o jurídico.47 Desse modo, este “hábito geral”,
autor, os critérios últimos de validade de baseado em regras, não se confunde com o
uma ordem jurídica podem incorporar “costume”, pois este não é direito. O costume
explicitamente “princípios de justiça” ou só é direito se faz parte de uma categoria de
valores morais substantivos (sem que isso costumes que é “reconhecida” pelo direito
implique uma confusão entre direito e moral). (reconhecimento jurídico – com a participação
Desse modo, prefere intitular-se como um do soberano). O “súdito” presta obediência
44
“positivista moderado”. habitual e esta relação é tão essencial ao direito
O positivismo tradicional, bem como “a coluna vertebral o é no homem”:
representado por John Austin, afirma que a hábito de obediência, continuidade da
existência do direito deve corresponder à autoridade de criação, persistência das leis
presença de um soberano político (que para além do desaparecimento do autor – estas
estabelece um comando a ser obedecido são características fundamentais do direito.48
habitualmente).45 Hart critica esta percepção Essa relação permite a identificação, na
do fenômeno jurídico explicando que há uma esfera social, de regras gerais que possuem
variedade de imperativos na vida real. Um dois aspectos fundamentais: o aspecto interno
assaltante, por exemplo, não emite uma e o aspecto externo. O aspecto interno
simples “ordem”, decorrente do respeito diferencia o “bom” do “mal”; implica uma
por uma autoridade (em que se presume opinião consolidada sobre a correção da regra

43 46
PARANO, Juan Ramón de. Entrevista de H. L. HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op.
A. Hart. Op. cit., p. 346. cit., p. 26-29.
44 47
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op. HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op.
cit., p. 309. cit., p. 87.
45 48
BILLIER, Jean-Cassier; MARYOLI, Aglaé. HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op.
História da Filosofia do direito. Op. cit., p. 397. cit., p. 59.

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e que gera a crítica ao desvio.49 Conforme Tanto com relação ao direito como em
descreve Hart, “para que uma regra social relação à moral, há uma primazia lógica do
exista, alguns membros, pelo menos, devem ponto de vista interno sobre o externo53.
ver no comportamento em questão um padrão Não é possível compreender a moral positiva
geral a ser observado pelo grupo como um de uma sociedade sem passar pelo juízo
todo”. Já o aspecto externo reporta-se à que faz o sujeito quando toma como válido
existência fática de um hábito social regular determinado princípio. Assim, para Nino,
e uniforme de qualquer um.50 também se passa com o direito. Sua tese,
Santiago Nino relaciona os conceitos como já apontado, é que a perspectiva interna
descritivo e normativo do direito com a relaciona-se com o direito em seu viés
posição do observador externo e a dos normativo e “está indissoluvelmente ligada
participantes da prática jurídica e com a à perspectiva interna da moral e, em especial,
distinção de Hart entre o ponto de vista à perspectiva interna da prática discursiva que
externo e o ponto de vista interno em relação a modernidade acoplou à moral positiva”.
ao direito. Ressalta, no entanto, que a visão E afirma: “Se isso é assim, a perspectiva
de Hart é sempre dentro do seu conceito de externa do direito como prática social se
direito, puramente descritivo.51 A análise distorce se não relaciona explicativamente
desde esses dois pontos de vista não é
essa prática social com a prática social do
exclusiva do direito, mas alcança qualquer
discurso moral”.54
outra configuração da práxis humana, como
A partir da relação entre as perspectivas
por exemplo a moral positiva. Tomada esta
interna e externa, Hart distingue com
como uma prática social, é possível, desde o
adequação duas situações aparentemente
ponto de vista externo, compreendê-la como
idênticas: “ter a obrigação de fazer”, que
um conjunto de condutas e atitudes tomadas
independe de fatos e motivos para agir e “ser
desde a adesão a juízos normativos a partir
obrigado a fazer”, em que pode ser observada
de sua presumida validade intrínseca e que
a existência de crenças e motivos pelos quais
permite desvalorar condutas distoantes; e, de
há uma ação. Assim diferencia-se a idéia de
um ponto de vista interno, considerá-la como
“dever” da idéia de “obrigação”. As regras
um conjunto de princípios válidos.52
primárias são relativas diretamente às
obrigações, propiciando incerteza e uma certa
49
Segundo Billier e Maryoli o aspecto interno das ineficácia da pressão social difusa. As regras
regras implica uma atitude crítica e reflexiva em razão secundárias têm a função de corrigir a função
do que os comportamentos desviantes são reprovados
pelo grupo social. Cf.: BILLIER, Jean-Cassier; das regras primárias, conferindo a elas
MARYOLI, Aglaé. História da Filosofia do direito. sistematicidade e dinamicidade a partir de
Op. cit., p. 398.
“regras de reconhecimento”, “regras de
50
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op.
cit., p. 65.
51 53
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
política. Op. cit., p. 43-45. política. Op. cit., p. 47.
52 54
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
política. Op. cit., p. 45. política. Op. cit., p. 50.

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alteração” e “regras de julgamento”. Assim as nada mais faria do que afirmar que o hábito
regras secundárias remediam a ineficácia das de obediência é o fator determinante de
primárias de três formas: a) estabelecendo um identificação das regras, na medida em que
critério de identificação; b) definindo o não faz parte do direito positivo, mas sim
processo de inclusão de regras primárias no decorre da sua aceitação generalizada.
sistema; e c) conferindo poder aos sujeitos para O autor afirma que Hart seria mais bem
dizer, com autoridade, se determinada regra sucedido se ao invés de ter criado a
55
foi violada em uma situação concreta. “misteriosa” regra de reconhecimento, tivesse
Hart abandona a noção fundamental de dito simplesmente que a identificação das
Austin de que “os fundamentos de um sistema regras de um sistema ocorre mediante a
jurídico consistem num hábito de obediência observação de sua aceitação prática.59 Ricardo
a um soberano juridicamente ilimitado”, A. Guibourg segue a linha crítica asseverando
afirmando que o adequado fundamento do que a regra de reconhecimento nada mais
direito está na existência da “regra última de é do que uma “versão soft” da norma
56
reconhecimento”. Esta regra de caráter fundamental de Kelsen,60 o que é contestado
particular possui uma íntima ligação com a por Hart ao afirmar que a regra de
validade jurídica. Trata-se de um “critério reconhecimento, embora semelhante,
supremo” que na modernidade implica uma diferencia-se da “norma fundamental” de
combinação de critérios (até porque, como Kelsen porque: a) é um dado empírico, de
ocorre no direito inglês, várias são as fato (a norma fundamental é uma suposição);
57
fontes, como a lei, as decisões e o costume). b) admite como fonte e critério de validade
A característica fundamental que a diferencia jurídica os princípios e valores morais (já a
de outras regras é porque ela somente existe norma fundamental não aceita que uma regra
como uma efetiva “prática” (dos tribunais, jurídica válida seja afastada por um princípio
dos funcionários, dos particulares) ao moral conflitante). 61
identificarem o direito por intermédio de Para Nino, o conceito de validade jurídica
certos critérios. Desse modo, a “sua existência é a ponte entre o discurso jurídico justificatório
é uma questão de fato”.58 e o discurso moral. A validade não se resume
Robles afirma que esta concepção de à eficácia ou ao pertencimento a um sistema
Hart possui uma série de contradições e jurídico (como pressupõe um conceito
ambigüidades. A regra de reconhecimento descritivo) ou à justificabilidade ou à força
obrigatória (como em uma concepção
55
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito.
Op. cit., p. 104-106. 59
ROBLES, Gregório. Hart: algunos puntos
56
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. críticos. Op. cit., p. 393-398.
Op. cit., p. 122. 60
GUIBOURG, Ricardo A. Hart, Bulygin y Ruiz
57
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Manero: tres enfoques para un modelo. Doxa: Cuadernos
Op. cit., p. 112. de Filosofia del derecho, n. 14, 1993, p. 429.
58 61
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. HART, Herbert. L. A. O conceito de direito.
Op. cit., p. 121. Op. cit., p. 274.

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normativa). A validade exige considerações essa norma básica é uma norma hipotética
62
para além da esfera jurídica. Desta forma é (ficcional, segundo sua obra tardia) e para
que devem ser analisadas suas críticas ao Ross a obediência à Constituição deriva de
positivismo kelseniano e ao neopositivismo uma ideologia pressuposta. Ambos os
de Hart. Tanto a norma fundamental hipotética fundamentos estão fora do âmbito jurídico,
quanto a regra de reconhecimento último para além do campo normativo. São princípios
(sejam elas identificáveis ou não) são extrajurídicos, já no campo da moral.65
inconcebíveis no interior de uma lógica Embora Kelsen mantenha a terminologia
puramente jurídica – levando em consideração normativa, denominando “norma” a razão de
o direito como conceituado pelo positivismo. obediência do sistema jurídico, a observância
A fundamentação última de ambas as teorias desta “norma” não deriva de outra norma ou
contradiz seu desenvolvimento, pois remete de sua formulação por uma autoridade
a uma aceitação no âmbito moral. 63 competente. 66 Ainda que os jusfilósofos
Nino se debruça sobre a teoria de Hart e positivistas neguem há, no fundamento da
menciona o “paradoxo de Ross” em relação ordem jurídica, um conceito de validade
às alterações da regra de reconhecimento em como força obrigatória moral.
função do que ela mesma dispõe. Alf Ross Nino sustenta que o discurso jurídico não
aponta a necessidade de ser assumida uma é isolado, mas tampouco é uma parcela do
auto-referência inexplicável da regra de discurso moral. O discurso moral, como
reconhecimento e também sua perpetuidade estrutural da modernidade, transpassa todo
como fundamento de validade de outras discurso justificatório, exceto quando ele
regras, ainda quando já não exista mais por mesmo exclui sua aplicação, “seja porque se
força de sua modificação substancial.64 mova em uma dimensão diferente, ou porque
A norma que determina a observância defina uma área de indiferença, ou porque

contínua da Constituição – ainda quando for seja aplicável algum princípio defensível no
discurso moral e que permita a justificação
modificada, desde que de forma regular – é
logicamente anterior à Constituição, ápice do
ordenamento jurídico positivo. Para Kelsen, 65
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
política. Op. cit., p. 74-75.
66
“A ordem jurídica, especialmente a ordem jurídica
62
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y cuja personificação é o Estado, é, portanto, não um sistema
política. Op. cit., p. 72. de normas coordenadas entre sim que se acham, por assim
63
dizer, lado a lado, no mesmo nível, mas uma hierarquia
E mesmo no âmbito da fundamentação moral
de diferentes níveis de normas. A unidade dessas normas
Nino renuncia a uma fundamentação última e afirma que
é constituída pelo fato de que a criação de uma norma – a
somente é possível um discurso coletivo moral localizado
inferior – é determinada por outra – a superior – cuja
no tempo e no espaço. Para uma análise mais do que
criação é determinada por outra norma ainda mais
qualificada de sua teoria ver: ALEXY, Robert. La
superior, e de que esse regressus é finalizado por uma
fundamentación de los derechos humanos en Carlos S.
norma fundamental, a mais superior, que, sendo o
Nino. Doxa: Cuadernos de Filosofía del Derecho.
fundamento supremo de validade da ordem jurídica inteira,
Universidad de Alicante. n. 26, 2003, p. 173-201.
constitui a sua unidade”. KELSEN, Hans. Teoria Geral
64
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y do direito e do Estado. Tradução de Luís Carlos Borges.
política. Op. cit., p. 73. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 181.

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própria de algum subdiscurso.”67 Esse não é III. OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO


o caso do direito. Razões relacionadas a JUDICIAL
interesses pessoais ou a um cálculo econômico
O uso do precedente como fonte do direito
de eficiência são insuficientes para preencher
(típico do sistema vinculante inglês – stare
a necessidade de justificação das decisões
decisis) parece implicar que: a) não há um
jurídicas. 68 Conclusão esta que afasta
método único na aplicação do direito; b) não
totalmente Nino (e neste ponto também Hart)
de qualquer abordagem analítico-econômica há formulação exclusiva e correta; c) os juízes
de justificação do direito (como em Richard passam a exercer legitimamente certa
Posner, por exemplo).69 “atividade legislativa” (função criadora das
Nino destaca que mesmo a fundamentação regras).71 Todavia, não é assim que os fatos
democrática, que relaciona a força obrigatória ocorrem. Na realidade, o stare decisis não
das normas jurídicas ao consentimento dos comunga com qualquer espécie de ceticismo
interessados – mais alegórico do que factual – sobre as regras. Apesar de reconhecer que
implica em um princípio moral que convalida o poder discricionário dos juízes é capaz
o consentimento. Afinal, tomando o direito de tornar preciso um padrão inicialmente
para além de uma conceituação puramente vago das regras e também de resolver
descritiva, “não existem razões jurídicas problemas de incerteza das leis, Hart
que possam justificar ações e decisões com critica as interpretações que se apóiam
independência de sua derivação de razões nesta característica do sistema para afirmar
morais”.70 Quando o discurso jurídico se uma certa “natureza mítica” das regras
limita a justificar as decisões com base em (defendendo, como conseqüência, que o
normas jurídicas, pressupõe uma justificação direito consiste apenas na decisão dos juízes).
extrajurídica que reconhece como válido o O reconhecimento da abertura do sistema e
conjunto de normas jurídicas. da existência comum da área de incerteza não
é compatível com uma “obsessão pela zona
67
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
de penumbra”, pois interpretações exageradas
política. Op. cit. p. 80. podem chegar a ponto de “abandonar a noção
68
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y de que as regras estão dotadas de autoridade”,
política. Op. cit., p. 81. sendo uma “fonte rica de confusão.”72
69
“Nos últimos anos, a tentativa mais ambiciosa e O autor denuncia essas teses, típicas do
talvez mais influente de elaborar um conceito abrangente
ceticismo (ou mesmo do “realismo jurídico”)
de justiça, que poderá tanto explicar a tomada de decisões
judiciais quanto situá-las em bases objetivas, é aquela como sendo componentes de um núcleo de
dos pesquisadores que atuam no campo interdisciplinar pensamento bastante incoerente; afinal, a
de ‘direito e Economia’ (Law and Economics), como se
costuma chamar a Análise Econômica do direito afirmação de que “existem decisões judiciais”
(Economic Analysis of Law).” Cf.: POSNER, Richard
A. Problemas de filosofia do direito. Tradução de
71
Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, HART, Herbert L. A. O conceito de direito.
2007, p. 473. Op. cit., p. 149.
70 72
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y HART, Herbert, L. A. Derecho y moral:
política. Op. cit., p. 81-82. contribuciones a su análisis. Op. cit., p. 40.

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não pode ser combinada com a “negação de significado estabelecido e o simples fato de
que existem regras”. A própria existência dos que este significado possa não ser reconhecido
tribunais precisa decorrer de regras secundárias em determinada situação concreta não
73
que estabelecem sua competência. Esta implica, necessariamente, a existência de uma
posição, por certo, é totalmente oposta aquela falha no sistema.76
do “indeterminismo radical”, propugnada É preciso reconhecer como um fato
pelos teóricos pragmatistas e, em particular, que as regras possuem uma característica
pelos autores ligados ao movimento Critical especial implícita de terminarem sempre
74
Legal Studies. com a expressão “a menos que...”. E “uma
Hart assevera que os céticos parecem regra que termina com a expressão ‘a menos
“absolutistas desapontados”. Como eles que...’ é ainda uma regra”. 77 E como
observam que as regras não são tão previsíveis decorrência deste caráter aberto, é possível
como eles esperavam em seu “paraíso extrair a conclusão de que não há uma só
formal”, então acabam achando que elas não resposta correta a descobrir no processo
75
servem para nada. Isso é um equívoco. Por de aplicação do direito. A resposta é, na
certo as regras possuem um núcleo de realidade, “um compromisso razoável entre
muitos interesses conflitantes”.78
Nesse sentido, Juan Carlos Bayón
73
HART, Herbert L. A. O conceito de direito.
Op. cit., p. 150.
esclarece que esta teoria da fundamentação
74
(que não é exclusiva de Hart, mas de outros
Ao menos, esta é a advertência de Juan Carlos
Bayón. Cf.: BAYÓN, Juan Carlos. Por qué es derrotable importantes autores como Alf Ross, ainda
el razonamiento jurídico? In: BAYÓN, Juan Carlos; que em termos distintos) é uma das mais
RODRÍGUES, Jorge L. Relevancia normativa en la
justificación de las decisiones judiciales: el debate
importantes contribuições da história recente
Bayón-Rodríguez sobre la derrotabilidad de las normas para a filosofia do direito. Ou seja, superando-
jurídicas. Bogotá: Universidade Externado de Colômbia.
se o positivismo clássico, passou-se a
2003, p. 43. Jean-Cassien Billier e Aglaé Maryoli
parecem concordar com a proposição afirmando que “os reconhecer o “caráter derrotável” do sistema.
procedimentos de adoção e de aplicação do direito, as Esta nova forma de proposição passa a
regras secundárias, segundo H. L. A. Hart, são percebidos
como técnicas axiologicamente neutras, sem prejulgar
reforçar a idéia de que: a) o mais importante
a escolha política a fazer. Elas constituem unicamente na análise da fundamentação jurídica é seu
um quadro dentro do qual acontece o debate relativo às caráter “não monotônico”; ou seja, o direito
políticas que serão perseguidas pelo legislador. Isso é
errado aos olhos dos CLS, porque todo procedimento
consiste em repartir entre as forças envolvidas o poder 76
Sobre a distinção entre derrotabilidade e
de impacto que elas podem ter sobre a decisão a tomar.”
falibilidade ver: BAYÓN, Juan Carlos. Por qué es
Cf.: BILLIER, Jean-Cassien; MARYOLI, Aglaé.
derrotable el razonamiento jurídico? In: BAYÓN, Juan
História da filosofia do direito. Op. cit., p. 459.
Carlos; RODRÍGUES, Jorge L. Relevancia normativa
75 en la justificación de las decisiones judiciales. Op. cit.,
E o autor exemplifica: marcamos um compromisso;
no momento agendado temos que socorrer um doente e p. 284.
faltamos ao compromisso agendado. O fato de que esta 77
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito.
razão é aceite para que justifiquemos a ausência ao
Op. cit., p. 153.
compromisso não significa que desapareça a regra de que
78
temos que cumprir com nossos compromissos. Cf.: HART, HART, Herbert L. A. O conceito de direito.
Herbert. L. A. O conceito de direito. Op. cit., p. 153. Op. cit., p. 146.

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admite várias possibilidades de sua compreensão; Nesse sentido, a advertência é particularmente


e b) a lógica jurídica clássica é insuficiente válida para a teoria de Alf Ross, para quem a
para a análise do fenômeno jurídico. Desse validade das regras jurídicas depende da forma
modo, “afirmar que as normas jurídicas são de utilização particular delas pelos juízes.82
derrotáveis – ou abertas – equivale a sustentar Como aponta Hart, “a utilização normativa das
que estão sujeitas a exceções implícitas que regras não se esgota na experiência psicológica
não podem ser identificadas exaustivamente à qual se refere o conceito de validade do
de antemão”.79 filósofo dinamarquês”.83
Para os céticos, a afirmação de que um Fato é que leis exigem uma interpretação,
supremo tribunal estava errado é irrelevante sendo esta, inclusive uma característica
para o sistema. A falibilidade não interessa, fundante dos sistemas abertos. E os juízes são
pois o que importa é a definitividade. Assim, intérpretes fundamentais, devendo, no tocante
“o direito (com a Constituição) é o que os à sua atividade, ser considerado que: a) não
tribunais dizem que é”. Hart critica esta estão obrigados a uma interpretação mecânica
posição e afirma: “é verdade que, para os fins de regras (que teriam um sentido pré-
do jogo, o resultado é aquilo que o marcador determinado apenas a ser “descoberto”);
diz que é. Mas é importante ver que a regra b) freqüentemente utilizam-se da razoabilidade
de pontuação continua a ser o que era antes e da finalidade como critério hermenêutico;
e é dever do marcador aplicá-la o melhor que c) consideram princípios de moral e justiça
puder.” Todavia, em sendo o marcador um na aplicação do direito; d) promovem
ser humano sua decisão é falível e “trará escolhas entre valores conflitantes. Todavia,
consigo o mesmo risco de erro não intencional nenhuma destas características da atividade
de abuso ou de violação”. Não parece possível judicial permite concluir que o juiz possui
ou razoável imaginar a criação de regras para alguma espécie de função legislativa. Aliás,
a correção de violações de toda e qualquer ao contrário do legislador, o juiz necessita
espécie.80 Por certo a adesão do juiz à busca objetivar algumas “virtudes essenciais”, tais
por uma solução pautada nas regras é uma como: a) imparcialidade e neutralidade; b)
exigência fundamental para a manutenção consideração de todos os interesse envolvidos;
dos próprios padrões, mas o juiz não os cria.81 c) embasamento da decisão em princípios
aceitáveis racionalmente (levando-se em
79
conta que sua decisão não é a única correta,
BAYÓN, Juan Carlos. Por qué es derrotable el
razonamiento jurídico? In: BAYÓN, Juan Carlos;
RODRÍGUEZ, Jorge. Relevancia normativa en la 82
Ross usa a terminologia “direito vigente” e
justificación de las decisiones judiciales. Op. cit., p. 293.
afirma que “um ordenamento jurídico nacional,
80
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op. considerado como um sistema vigente de normas, pode
cit., p. 156. ser definido como o conjunto de normas que
81
efetivamente operam na mente do juiz, porque ele as
Segundo o autor, “os tribunais não consideram as
sente como socialmente obrigatórias e por isso as
regras jurídicas como predições, mas antes como padrões
acata”. ROSS, Alf. Direito e justiça. Tradução de Edson
a seguir na decisão, suficientemente determinadas, apesar
Bini. Bauru: EDIPRO, 2003, p. 59.
de sua textura aberta, para limitar o seu caráter
83
discricionário, embora sem o excluir”. Cf.: HART, BILLIER, Jean-Cassien; MARYOLI, Aglaé.
Herbert. L. A. O conceito de direito. Op. cit., p. 161. História da filosofia do direito. Op. cit., p. 266.

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“mas essa pode tornar-se aceitável com Caracterizar a primeira norma como
produto racional de escolha esclarecida e jurídica implicaria a substituição do conceito
imparcial”).84 de direito por um que incluísse todas as razões
Nino acredita ser insuficiente entender o trazidas pelo juiz em uma decisão judicial.
direito a partir da aplicação de determinadas Além disso, essa norma não poderia ser
normas pelos juízes, utilizadas por eles válida apenas para o juiz ou ser formulada
porque consideradas válidas em virtude de por ele, com base em interesses ou impressões
sua origem em uma autoridade legítima e puramente pessoais, ou sua decisão seria
legalmente competente (e esta conclusão rechaçada. Essa norma, necessariamente
o autor compartilha com Hart). Nino aceita pela comunidade, está sempre
concorda, ainda, que os conceitos de validade, submetida a uma potencial discussão. Para
autoridade, legitimidade e competência são Nino, a adoção de normas que legitimem as
conceitos normativos. E mesmo que esse fontes das normas jurídicas está submetida
reconhecimento parta de uma convenção, a a uma prática discursiva que a relaciona
necessária tomada de posição exige um ponto intimamente com a moral positiva.87
de vista interno em determinado sentido.85 Aqui Assim, uma decisão judicial reflete sobre
está o núcleo da crítica à teoria de Kelsen. Os todo o ordenamento, relaciona-se com as
juízes aplicam determinadas normas porque
decisões já tomadas e com as decisões que
as consideram válidas. A validade decorre da
virão, podendo ser rechaçada ou elevada a
elaboração da norma por legisladores
uma razão de decidir. Além disso, a atuação
legitimados e com conteúdo determinado por
do juiz (como a do constituinte, do legislador
outras normas. A legitimidade dos legisladores
e do administrador) deve contribuir para
decorre de uma norma de competência.
preservar e melhorar a ordem jurídica.
A derivação de normas a partir de normas
A decisão deve incluir na sua construção e na
chega a um limite – a cadeia de normas de
sua motivação a consideração de seus efeitos
competência não pode ser infinita. A norma
sobre a ordem jurídica. A tomada de uma
última não é jurídica: está fora do conceito
decisão moralmente justificada, para Nino,
kelseniano de direito. “O direito é identificado,
passa pela preservação da ordem jurídica a
segundo esse conceito, acudindo a normas
partir do momento em que se considera legítimo
não jurídicas. A motivação dos juízes se baseia,
o ordenamento. Sob este entendimento,
neste conceito de direito, em proposições
afastam-se as decisões incompatíveis com a
normativas não jurídicas, posto que não são
preservação do direito positivo. O autor
aceitas pelos juízes pelo fato de terem sido
ressalta, portanto, que não há uma sobreposição
prescritas por autoridades legítimas”.86
da moral no direito. A valoração moral atua
quando do reconhecimento da legitimidade
84
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op. do ordenamento jurídico e no preenchimento
cit., p. 221.
das indeterminações normativas. “Essas
85
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
política. Op. cit., p. 56-57.
86 87
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
política. Op. cit., p. 57. política. Op. cit., p. 59.

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indeterminações permitem, na realidade, mais, desqualificar-se quando um ‘punhado


um enriquecimento e evolução da prática de homens sábios’ chegam à conclusão,
jurídica até formas mais aceitáveis de por pura reflexão de gabinete, que dito
legitimidade sem risco de ruptura, já que são resultado viola princípios morais, em
situações em que é possível buscar as função dos quais a Constituição é justificada
soluções axiologicamente preferíveis sem e interpretada”.90
enfrentar-se às inconsistências das Nino, assim, assume a interferência da
implicações na prática”.88 moral sobre a decisão, mas não aceita um
O direito positivo e a aplicação do direito argumento moral individual ou coletivamente
são ações coletivas, inspiradas por uma restrito. Em um Estado democrático, as
soluções jurídicas mais adequadas são aquelas
intenção coletiva, estendidas no tempo e
construídas coletivamente em uma discussão
inspiradas por princípios de justiça e
política na busca de um consenso efetivo – ou
moralidade social. Nino concorda com Ross
seja, na esfera política democrática.91
(e Hart) ao entender que o direito deve ser
Relacionando (ou reconhecendo as
obedecido pela adesão das pessoas aos seus
relações entre) direito, moral e política, Nino
comandos e não simplesmente por temor à
chega à conclusão que a decisão deve –
sanção, o que exige que o direito se apóie em
porque precisa – preencher as indeterminações
convicções morais coletivas: direito não é só
das preposições jurídicas, mas tomando as
coação, mas coação e autoridade e a autoridade
normas jurídicas como produto de um
do direito pressupõe que ele seja socialmente consenso alcançado por um processo
considerado como moralmente legítimo.89 democrático. O direito positivo deve ser
Ao tratar da conexão entre moral e observado, valorado, no entanto, não pela sua
política, Nino volta ao tema do controle de derivação de uma norma fundamental ou pelo
constitucionalidade pelo Poder Judiciário, reconhecimento de uma norma de competência
ponto essencial da discussão sobre o em relação à sua fonte, mas por derivarem
decisionismo. O autor afasta o individualismo de uma construção coletiva democrática.
epistêmico de Rawls por considerar que não E, assim tomadas, as normas jurídicas devem
é possível que uma pessoa sozinha, sem ser tidas como razões substanciais para
colocar seus argumentos à prova, chegue a justificar ações e decisões.92
uma posição de imparcialidade. Também
nega o elitismo epistêmico que, sob o pretexto 90
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
de afastar o direito da política (e a política do política. Op. cit., p. 175.
direito), permite que “juízes, juristas e 91
Nino analisa a democracia como um modelo ideal
filósofos assumam muitas vezes que o de caráter processual, ligado à moral, mas imperfeito em
face da substituição do consenso pela regra da maioria.
resultado da política democrática pode, sem
Para uma análise ligada à justificação da democracia ver:
RODENAS, Ángeles. Sobre la justificación de la
democracia en la obra de Carlos S. Nino. Doxa:
88
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y Cuadernos de Filosofía del Derecho. Universidad de
política. Op. cit., p. 137-143. Alicante. n. 10, 1991, p. 279-293.
89 92
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
política. Op. cit., p. 144-145. política. Op. cit., p. 188-190.

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Ao decidir, o juiz deve confiar na reflexão, indeterminado número de casos admite


discussão e decisão democráticas como exceções implícitas às regras e, em certas
capazes de determinar soluções moralmente questões, mais do que isso, realmente não
corretas e não em sua reflexão individual. oferece qualquer resposta. Afinal, as situações
A proposta de Nino, enfim, resume-se em de fato não estão de pronto definidas e
asseverar que o direito, entendido a partir do escritas para que os juízes simplesmente as
ponto de vista interno, está “conectado a leiam. “Ao contrário, ao aplicar as regras
certos princípios ideais de justiça e moralidade jurídicas alguém deve assumir a
social, que constituem a fonte das razões responsabilidade de decidir que as palavras
justificatórias na motivação jurídica”. Todavia, se referem ou não a certo caso, com todas as
não é possível olvidar que “esses princípios conseqüências práticas que esta decisão
ideais não se aplicam diretamente às ações ou implica”.95
decisões jurídicas, mas se aplicam a práticas O próprio Hart observa que Dworkin
coletivas, de modo que se estas resultam rejeita a incompletude e a responsabilização
justificadas por aqueles, as ações e decisões discricionária, pois o que seria admissível é
têm que ser, por um lado, compatíveis com a apenas uma controvérsia razoável que às
preservação de tais práticas e, por outro, têm vezes não permite demonstração conclusiva
que contribuir para que a prática se aproxime se a inferência é falsa ou verdadeira.96 Assim,
o mais possível de ditos princípios ideais de torna-se possível identificar uma interessante
justiça e moralidade.” E, finalmente, é preciso dicotomia entre a posição de Hart (do “direito
considerar que tais princípios ideais não podem incompleto”) e de Dworkin (do “direito
ser conhecidos de modo suficientemente controvertido”). Em termos mais específicos,
confiável “pela mera reflexão individual Hart afirma que o dever fundamental do juiz
isolada, senão através de processos políticos é ter o “melhor juízo moral que puder sobre
93
coletivos de caráter democrático.” quaisquer questões morais que possa ter para
Deve-se registrar que, nessa seara, talvez decidir”. 97 Dessa forma, o autor parece
o ponto mais polêmico e sensível de Hart reconhecer que há uma esfera subjetiva na
esteja justamente na afirmação de um poder decisão do juiz (a partir de suas próprias
discricionário que é atribuível aos juízes não
porque há casos difíceis (como em Dworkin),
possível ser oposta barreira alguma à irrupção do
mas simplesmente porque o direito é
discurso moral geral.” Cf.: BAYÓN, Juan Carlos.
incompleto e derrotável,94 ou seja, em um Proposiciones normativas e indeterminación del derecho.
In: BAYÓN, Juan Carlos; RODRÍGUEZ, Jorge.
Relevancia normativa en la justificación de las
93 decisiones judiciales. Op. cit., p. 42.
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
política. Op. cit., p. 193. 95
HART, Herbert. L. A. Derecho y moral:
94 contribuciones a su análisis. Op. cit., p. 26.
Bayón explica adequadamente esta situação: “Em
definitivo, o direito se concebe como parcialmente 96
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito.
indeterminado. O espaço em que resulta indeterminado
Op. cit., p. 314.
seria o espaço da discricionariedade do intérprete, no
97
qual a solução dos casos, por definição, não pode fazer- HART, Herbert. L. A. O conceito de direito.
se derivar do direito e no qual por isso mesmo não é Op. cit., p. 316.

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convicções), que depende de sua pré- de sentido ressaltam as convenções sociais


compreensão e não pode ser verificada pelo lingüísticas, que limitam, inclusive, a
direito. Nesse sentido, portanto, contrapondo- referência às intenções do autor do texto
se fortemente a Dworkin, que defende a legislativo. O sentido subjetivista encontra
presença de uma “moral de caráter objetivo” um sério obstáculo quando a construção do
na decisão judicial.98 Ou, ainda, como prefere texto normativo se dá por um órgão plural,
Vera Karam de Chueiri, “a concepção do colegiado. A busca de atas de discussões e
direito como integridade se estrutura sobre sessões legislativas na tentativa de encontrar
uma conexão racional (hermenêutico-crítica) uma intenção comum que possa servir para
entre o direito e a moral.” Desse modo, elucidar o significado do texto, para Nino,
segundo a autora, a teoria de Dworkin acaba “implica uma completa idealização, resultado
oferecendo um distinto ponto de partida também de uma série de valorações”. 100
interpretativo do direito ao propiciar uma A valoração, portanto, sempre estará presente
“nova feição ao debate secular entre direito no preenchimento do sentido geral dos
e moral, entre ser e dever ser, a superar a materiais jurídicos.
dicotomia positivista, bem como a confusão A resistência de Hart em sua vinculação
do direito natural”.99 positivista parece decorrer, num primeiro
Percorrendo caminho semelhante, por sua momento, da tentativa de afastar qualquer
vez, Nino sustenta que a interpretação versão psicologizante (tal como em Ross),
transforma o material jurídico em proposições afirmando que é necessário ao juiz se apoiar
que podem ser empregadas na motivação nos “conteúdos de um texto jurídico, nas
prática. A interpretação inicia-se com o técnicas de interpretação aceitas, nos trabalhos
preenchimento dos materiais jurídicos – preparatórios, nos precedentes, nos princípios
expressos pela linguagem, sempre complexa jurídicos (padrões)”.101 Mas, mesmo assim,
e freqüentemente controvertida – de um segundo concluem Jean-Cassien Billier e
sentido geral. Isso pode dar-se em um sentido Aglaé Maryoli, na sua concepção (e assim
subjetivista (que busca a intenção do autor também pensava Kelsen), o juiz decide de
do texto) ou objetivista (que considera o uso forma subjetiva, pois também acaba
comum dos termos). Neste preenchimento sendo fonte do direito, decidindo a partir
de princípios extrajurídicos, imperativos
materiais e “boas razões”. Neste campo
98
Segundo Dworkin, deve ser respeitado o requisito
haveria, portanto, uma “ação decisionista” do
da “integridade constitucional”. Ou seja, não devem os
juízes dedicir conforme suas convicções particulares. juiz (que age na prática como um legislador,
Eles devem associar-se a um todo constitucional. E sua embora sem legitimidade). 102
decisão deverá ser legitimada mediante uma
fundamentação que parta desta premissa. Cf.:
DWORKIN, Ronald. La lectura moral y la premisa 100
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
mayoritarista. In: KOH, Harold Hongju e SLYE, Ronald
política. Op. cit., p. 91.
(Comp.). Democracia deliberativa y derechos humanos.
101
Op. cit., p. 110. BILLIER, Jean-Cassien; MARYOLI, Aglaé.
99
História da filosofia do direito. Op. cit., p. 268.
CHUEIRI, Vera Karam de. Filosofia do direito e
102
Modernidade: Dworkin e a possibilidade de um discurso BILLIER, Jean-Cassien; MARYOLI, Aglaé.
instituinte de direitos. Curitiba: JM, 1995, p. 108. História da filosofia do direito. Op. cit., p. 405.

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Por esse motivo, torna-se importante a e Gaston Jezè 106 (e até mesmo como o próprio
teorização de Nino, para quem, na construção Kelsen admite),107 o autor reconhece que os
da decisão judicial há uma relação intrínseca juízes muitas vezes podem “reorientar toda a
entre o direito e a moral que, todavia, não prática constitucional” desconsiderando
justifica, a priori, qualquer decisionismo. totalmente um consenso democrático
Internamente, portanto, há sempre uma contrário. Algo que, no mínimo, deve ser
remissão a uma justificativa que não está colocado em discussão.108
inserida nas normas jurídicas: uma norma
moral – partilhada coletivamente e submetida
à discussão – para além das normas de compreendida ou abstrata do Estado de direito” e que
competência. Contudo, em Estados leva a uma politização da justiça que dissimula uma
democráticos, o “processo democrático” é a decisão política sob o manto da neutralidade e da
imparcialidade. SCHMITT, Carl. O guardião da
única fonte de legitimidade da autoridade da
Constituição. Tradução de Geraldo de Carvalho. Belo
ordem jurídica. 103 O papel do Poder Judiciário Horizonte: Del Rey, 2007, p. 33 e seguintes.
em um Estado democrático, portanto, e a 106
Em debate com Kelsen no Instituto Internacional
extensão do controle de constitucionalidade de direito Político em outubro de 1928, Duguit aceita
é uma discussão que extrapola o campo apenas o afastamento de uma norma considerada
jurídico e inclui razões axiológicas sobre o inconstitucional pelo juiz em um caso concreto, mas
afirma que a declaração de nulidade de uma norma por
fundamento da democracia e o conteúdo dos
uma jurisdição constitucional especial seria criar
direitos fundamentais.104 uma terceira ou primeira assembléia política. Jezè, na
Segundo Nino, “a eventual faculdade dos mesma ocasião, defende o controle político de
juízes de desqualificar uma norma jurídica constitucionalidade no âmbito do Poder Legislativo,
“porque é necessário desconfiar do espírito conservador
de origem democrática por violar uma
dos juízes e mesmo dos juristas, que por natureza são
prescrição constitucional, seja em relação ao tradicionalistas e propensos a imobilizar a interpretação
procedimento ou ao conteúdo da norma, é dos textos: é perigoso confiar a eles a missão de dizer
uma arma poderosa nas mãos de órgãos que o direito em matéria política”. KELSEN, Hans.
Jurisdição constitucional. Tradução do alemão
não são o resultado direto de consensos
Alexandre Krug, tradução do italiano Eduardo Brandão,
democráticos nem estão submetidos a tradução do francês Maria Ermantina Galvão, revisão
responsabilidade democrática direta”. técnica Sérgio Sérvulo da Cunha. São Paulo: Martins
Fugindo da condescendência de Hart e Ross Fontes, 2003. p. 192 e 194.

com a subjetividade judicial potencialmente 107


Kelsen considera extremamente perigosa a
antidemocrática, e alinhando-se, nesta atuação do Poder Judiciário quando enfrenta termos
abertos em preceitos constitucionais, pois permite que
advertência, a Carl Schmitt,105 Leon Duguit
concepções como justiça, liberdade, igualdade e
moralidade sejam preenchidas com qualquer significado
e revestem a jurisdição constitucional com uma força
103
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y “simplesmente insuportável”, pois permitiria que se
política. Op. cit., p. 66-67. opusesse à maioria da população com um evidente
104
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y deslocamento do poder político. KELSEN, Hans.
política. Op. cit., p. 71. Jurisdição constitucional. Op. cit., p. 167-169.
105 108
Para Schmitt, a eleição do Poder Judiciário como NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
guardião da Constituição decorre de “uma idéia mal política. Op. cit. p. 68.

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Sérgio Sérvulo da Cunha. São Paulo: Martins
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