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RESUMO: O texto tem como objetivo ABSTRACT: The text has as its main purpose
descrever parte da argumentação jurídica de to describe part of the juridical arguments
dois importantes autores da filosofia do developed by two important Philosophy of
direito do século XX: Herbert Lionel Law authors from the 20th century: Herbert
Adolphus Hart e Carlos Santiago Nino. O Lionel Adolphus Hart and Carlos Santiago
recorte teórico escolhido foi a questão da Nino. Emphasis is given on the matter of the
decisão judicial, tomando-se como ponto de judicial decision, taking as a starting point
partida a imprescindibilidade da análise da the need for the analysis of the matter of Law
questão do direito e da moral para o estudo and of moral. The confrontation between the
do tema. O assunto é abordado a partir da arguments developed not only by the
confrontação de argumentos, tanto dos aforementioned authors but also by other
autores referidos como de outros importantes thinkers broaches the subject. The text also
pensadores que interferiram criticamente no aims at putting forth the traditional discussion
diálogo teórico estudado. Tem-se como carried through in the beginning of the 20th
objetivo trazer à tona a tradicional discussão century in order to help provide an adequate
realizada em meados do século XX como reflection concerning the limits and the
forma de subsidiar uma adequada reflexão a possibilities of interpretation of Law and of
respeito dos limites e das possibilidades da
the judicial decision nowadays.
interpretação do direito e da decisão judicial
KEYWORDS: Herbert L. A. Hart; C. S. Nino;
na contemporaneidade.
law and moral; judicial decision.
PALAVRAS-CHAVE: Herbert L. A. Hart;
C. S. Nino; direito e moral; decisão judicial.
** Professor de Direito Administrativo na UniBrasil.
Diretor Geral do Instituto de Direito Romeu Felipe
* Professora de Direito Constitucional UFPR. Bacellar. Mestre e Doutorando em Direito do Estado
Mestre e Doutoranda em Direito do Estado na UFPR. na UFPR.
165
Revista da Faculdade de Direito - UFPR, Curitiba, n.48, p.165-186, 2008.
I. ALGO SOBRE HART E NINO uma teoria analítica, mas sim ao estudo da
matéria por estudantes da graduação. Segundo
Uma expressão interessante para definir
o próprio autor, trata-se de um “ensaio de
a variedade de possibilidades epistemológicas
sociologia descritiva” na medida em que não
compreendidas dentro do chamado
se restringe a propor uma investigação sobre
“positivismo jurídico” é a utilizada por
o significado teórico da palavra “direito”.
Jean-Cassien Billier e Aglaé Maryoli:
Ao contrário, afirma que os conceitos, em
“metamorfoses”.1 Na realidade, o positivismo
geral, são mais bem explicados mediante
jurídico parece ter passado por mudanças
um estudo sobre os “usos-padrão” de
substanciais dentro de um mesmo espectro,
expressões relevantes, ou seja, dependem de
dependendo da interpretação que lhe confere
um contexto social.3
uma específica escola, um determinado
Apesar do sucesso obtido com a
conjunto de pensadores, ou mesmo, a partir
publicação, 4 essa metodologia acabou
da obra de um certo autor. Este é o caso de
propiciando uma grande quantidade de
Herbert Lionel Adolphus Hart, um dos pilares
críticas, pois a tentativa de aglutinação entre
tanto da nova compreensão positivista, típica
a tradição da “teoria analítica” (Hobbes,
da metade do século XX, quanto do próprio
Bentham, Austin) e o que autodenominou
círculo hermenêutico que lhe sucedeu.
“sociologia descritiva” não foi muito bem
Hart foi advogado sem nunca ter cursado
recebida, não só pela pouca expressão
direito. Na realidade, o pensador formou-se
epistemológica de seu trabalho, como
em filosofia na Universidade de Oxford em
também pela ausência de uma maior
1930, tendo sido aluno de J. L. Austin. Na
preocupação com a justificação do ponto de
época era possível àqueles interessados ao
vista adotado.5 Na realidade, ao contrário de
ingresso na advocacia apenas prestar um
autores como Ronald Dworkin, que buscam
exame para o exercício da profissão. Foi o
encontrar uma teoria de justificação e
que fez Hart, embora por pouco tempo (1930-
interpretação dirigida a uma cultura concreta
1940). Com o advento da Segunda Guerra
(o direito anglo-americano), Hart afirmou a
Mundial, passou a trabalhar para o serviço de
intenção de desenvolver uma “teoria geral”
inteligência britânica, não retornando mais à
(também descritiva) sobre o direito (não
advocacia devido à sua aprovação como
professor de filosofia em Oxford.2
3
A obra mais importante de Hart, sem HART, Herbert L. A. O conceito de direito.
Tradução de A. Ribeiro Mendes. 4.ed., Lisboa: Fundação
dúvida, foi “O Conceito de direito”, publicada Calouste Gulbenkian, 2005, p. 01.
em 1961 e destinada não à apresentação de 4
Segundo Ronald Dworkin o sucesso de Hart
decorre de seu “instinto para problemas de princípio e
uma lucidez maravilhosa para expô-los”. Cf.: DWORKIN,
1
BILLIER, Jean-Cassier; MARYOLI, Aglaé. Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução de Nelson
História da Filosofia do direito. Tradução de Maurício Boeira. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 12.
de Andrade. Barueri – SP: Manole, 2005, p. 387 e ss. 5
ROBLES, Gregório. Hart: algunos puntos
2
PARANO, Juan Ramón de. Entrevista de H. L. críticos. Actas del XVIII Congreso mundial de la
A. Hart. Doxa: Cuadernos de filosofia del derecho, n. 5 Asociación Internacional de Filosofia Jurídica y social.
(1988), p. 340. Buenos Aires, 1977, p. 371.
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pensamento alemão e propôs um modelo judicial e sobre posição de Hart será utilizada
baseado na adoção explícita de princípios principalmente sua obra “Derecho, Moral y
de justiça e moralidade social. Suas Política. Una revisión de la teoría general
investigações filosóficas sempre se voltaram del Derecho”.
para problemas práticos, como o concurso
no direito penal, a legítima defesa e o aborto, II. A RELAÇÃO ENTRE DIREITO E
em uma relação teoria/aplicação bastante MORAL
intensa. Característica esta que também o O neopositivismo hartiano propõe de
aproxima de Hart, que foi um ativista forma inovadora que o ser e o dever ser
político preocupado com as questões reais estão unidos e são inseparáveis, ainda que
de seu tempo. 11 grandes positivistas como Bentham e Austin
Particularmente para o presente estudo, não admitam esta realidade, por insistirem
centrado na questão da decisão judicial e os que o direito é, necessariamente, o “direito
limites da relação entre o direito e a moral, que deve ser”.13 Hart, na realidade, ao firmar
interessa a tese de Nino de que “a motivação sua posição não recusa a distinção entre a
justificatória de soluções jurídicas requer esfera do ser e a do dever ser. Contudo,
necessariamente premissas valorativas, o que relativiza o exagero do positivismo clássico
(que simplesmente negou a esfera do ser)
tem conseqüências sumamente relevantes
mediante a proposição da íntima conexão
para a ciência jurídica e para a administração
entre as duas esferas.
da justiça.” 12 Desse modo, torna-se possível
Nino não se contenta com este suave
ser estabelecida uma ponte entre seu
avanço, asseverando que “o argumento de
pensamento crítico e as proposições Hart e de tantos outros positivistas de que há
inovadoras de Hart, contidas de forma que distinguir o direito que ‘é’ do direito que
sistematizada em “O Conceito do direito” ou ‘deve ser’ pressupõe um conceito descritivo
em outros trabalhos como “Derecho y Moral: de direito como um conjunto de normas que
contribuciones a su análisis”. Para o estudo são de fato reconhecidas”. Mas, segundo o
do pensamento de Nino sobre a decisão autor, caso fosse adotado “um conceito
valorativo de direito, como um conjunto de
normas que devem ser reconhecidas, se
11
Veja-se, por exemplo, as polêmicas posições de poderia estabelecer a mesma distinção mas
Hart sobre a descriminalização das práticas homossexuais
empregando conceitos diferentes: haveria de
e da prostituição (particularmente decorrentes dos
trabalhos da Comissão Wolfenden, em 1957). Sobre o distinguir entre ‘o que é considerado’ direito
assunto e a forte controvérsia com Lord Devlin ver: e o que ‘é direito’, correspondendo cada
MALEM, Jorge. De la imposición de la moral por el termo deste segundo par aos termos do
derecho: la disputa Devlin-Hart. Revista Isonomía. n. 04
(1996). Ver também os comentários de Ronald Dworkin
primeiro par na mesma ordem.”14
em: DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério.
Op. cit., p. 375 e ss.
13
12
HART, Herbert L. A. Derecho y moral:
Apresentação de si mesmo, de sua trajetória
contribuciones a su análisis. Op. cit., p. 3.
filosófica e das principais questões da teoria do direito
14
que Carlos Santiago Nino faz no primeiro número da NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
revista Doxa: Cuadernos de Filosofía del Derecho. política. Una revisión de la teoría general del Derecho.
Universidad de Alicante, 1984, p. 175-177. Barcelona: Ariel, 1994, p. 33.
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direito, pelo fato de terem sido prescritos por aplicável em diferentes sistemas. Para tanto,
uma certa autoridade ou fonte e excluindo o autor busca características que se façam
outras razões que podem participar da presentes neste modelo a ser construído.
construção da decisão judicial (como os E uma das mais importantes características é
precedentes, os costumes e os princípios) o justamente a sua “textura aberta”, que
conceito descritivo institucional de direito decorre, portanto, da inter-relação social,
pode ser ainda mais restrito (quando exclui consistindo em um aspecto da própria
do conceito de direito todos os standards que linguagem humana, além do que, retrata
os órgãos primários não estejam obrigados a um certo “preço a pagar” pela adoção de
aplicar). Aqui se localizam, para Nino, Hart classificações gerais.21
e Joseph Raz e é daqui que partem as críticas Ademais, a própria inabarcabilidade
de Dworkin contra o positivismo.19 das situações de fato, aliada a uma “relativa
Os conceitos normativos de direito indeterminação” das ações humanas também
consideram o conjunto de standards que impõe um caráter faticamente aberto ao
devem ser reconhecidos na aplicação do sistema. 22 De acordo com Jean-Cassien
direito. O problema está na definição do que Billier e Aglaé Maryoli, a conseqüência desta
torna obrigatório o comando que torna os formulação é que a aplicação das regras irá
demais comandos obrigatórios. De acordo depender da sua finalidade. Existem casos
com Nino, para que não seja auto-referente em que não se apresenta qualquer dúvida; já
este primeiro comando está além do dever, há outros em que se apresentam dúvidas.
está além do círculo compreendido como O núcleo de certeza da regra depende,
direito. Aqui cabe uma crítica à teoria de portanto, de dois fatores essenciais: a) a
Kelsen, cujo entendimento Nino denomina de formulação lingüística (seja ela descritiva,
conceito “normativo hipotético de direito”.20 seja ela de avaliação); e b) o contexto de
Hart possui uma compreensão a respeito aplicação (organização do processo, fatos,
do direito que não permite tal relativismo provas). Ou seja, “a mesma regra jurídica que
conceitual (ainda que aceite a influência do em certo caso é clara, precisa e não traz
relativismo fático). Segundo o autor, em nenhuma dificuldade de interpretação, pode
qualquer grande grupo, as regras gerais, os não ser assim em um caso diferente”.23
padrões e os princípios devem ser o mais Neste ponto, Nino concorda com Hart. As
importante mecanismo de controle da indeterminações semânticas exigem uma
sociedade, e não as diretivas particulares determinação por parte do intérprete que
dadas separadamente a cada um. Sua pretensão demanda valorações. É a textura aberta das
de universalidade, característica da tradição
analítica, busca um conceito de direito
21
HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op.
cit., p. 137.
19 22
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op.
política. Op. cit., p. 37. cit., p. 141.
20 23
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y BILLIER, Jean-Cassier; MARYOLI, Aglaé.
política. Op. cit., p. 37-38. História da Filosofia do direito. Op. cit., p. 403.
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Mais restritivo, propõe Hart que é fator moral em que se busca a realização de uma
característico de um sistema com textura situação fática eqüitativa em que se deve
aberta e, ainda, deve ser típico de um “bom tratar “da mesma maneira casos semelhantes
sistema jurídico”, a sua conformação com a e diferentemente os casos diferentes”.33
justiça e com a moral.29 Todavia, não há uma Por outro lado, Nino apresenta um
correlação necessária entre direito e moral. conceito misto de direito que, segundo
Diferentemente do direito, as características propõe, se coaduna com a concepção
fundamentais da moral são: a) importância interpretativa de direito de Dworkin e que
(ou relevância social); b) imunidade à não aceita os termos da relação entre direito
alteração deliberada (a moral é algo que e moral presentes em Hart. 34 Essa pluralidade
“existe para ser reconhecido e não feito por de conceitos aceitáveis de direito defendida
uma ação humana intencional”); c) caráter por Nino impede que se estabeleça como
voluntário (os delitos morais dependem da verdadeira uma determinada relação
vontade consciente do agente); d) a existência conceitual entre direito e moral.
de uma forma de pressão social específica.30 Para o positivismo jurídico clássico,
Quanto à justiça, trata-se da “mais jurídica tradicionalmente opositor do jusnaturalismo,
31
das virtudes” e a “mais pública delas”, em não é necessário, de forma alguma, que as
razão do que implica a existência de certos leis satisfaçam exigências da moral para que
deveres que exigem o sacrifício de interesses sejam válidas (embora freqüentemente façam
privados, o que é uma situação essencial à isso). 35 Todavia, a aplicação do direito requer
própria sobrevivência de qualquer sociedade.32 decisões humanas cuja lógica ou racionalidade
Mas, na realidade, os “princípios de justiça” implica uma decisão sobre o que o direito
nada mais são do que um segmento da própria “deve ser”; e isso já é um juízo moral. Por
este motivo não é possível negar que há uma
ligação necessária entre o direito e a moral.
limitada e não controlamos o produto final, o racional
pode ser eleger, não o modelo ou princípio mais Tanto o utilitarismo de Jeremy Bentham
defensável, senão outros como méritos menores. Este quanto o positivismo de John Austin erraram,
tipo de racionalidade, constrita na obra coletiva pelas
eleições dos demais, poderia ser denominada de ‘o
segundo Hart, porque se desligaram da
segundo melhor’, considerando que, muitas vezes, nos
leva a um afastamento progressivo do modelo ótimo, em
atenção a seus efeitos sobre a obra global”. Cf.: NINO, 33
HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op.
Carlos Santiago. Derecho, moral y política. Op. cit., cit., p. 173.
p. 136-137. 34
Segundo Nino “o direito está formado por
29
HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op. aqueles standards reconhecidos efetivamente em suas
cit., p. 221. decisões por quem tem acesso ao aparato coativo para
30
fazer cumprir tais decisões e aqueles standards que
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op.
devem ser reconhecidos por eles como a melhor
cit., p. 190 e ss.
justificação do reconhecimento do primeiro tipo de
31
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op. Standard.” NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
cit., p. 182. política. Op. cit., p. 39.
32 35
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op. HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Op.
cit., p. 186. cit., p. 202.
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43 46
PARANO, Juan Ramón de. Entrevista de H. L. HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op.
A. Hart. Op. cit., p. 346. cit., p. 26-29.
44 47
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op. HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op.
cit., p. 309. cit., p. 87.
45 48
BILLIER, Jean-Cassier; MARYOLI, Aglaé. HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op.
História da Filosofia do direito. Op. cit., p. 397. cit., p. 59.
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e que gera a crítica ao desvio.49 Conforme Tanto com relação ao direito como em
descreve Hart, “para que uma regra social relação à moral, há uma primazia lógica do
exista, alguns membros, pelo menos, devem ponto de vista interno sobre o externo53.
ver no comportamento em questão um padrão Não é possível compreender a moral positiva
geral a ser observado pelo grupo como um de uma sociedade sem passar pelo juízo
todo”. Já o aspecto externo reporta-se à que faz o sujeito quando toma como válido
existência fática de um hábito social regular determinado princípio. Assim, para Nino,
e uniforme de qualquer um.50 também se passa com o direito. Sua tese,
Santiago Nino relaciona os conceitos como já apontado, é que a perspectiva interna
descritivo e normativo do direito com a relaciona-se com o direito em seu viés
posição do observador externo e a dos normativo e “está indissoluvelmente ligada
participantes da prática jurídica e com a à perspectiva interna da moral e, em especial,
distinção de Hart entre o ponto de vista à perspectiva interna da prática discursiva que
externo e o ponto de vista interno em relação a modernidade acoplou à moral positiva”.
ao direito. Ressalta, no entanto, que a visão E afirma: “Se isso é assim, a perspectiva
de Hart é sempre dentro do seu conceito de externa do direito como prática social se
direito, puramente descritivo.51 A análise distorce se não relaciona explicativamente
desde esses dois pontos de vista não é
essa prática social com a prática social do
exclusiva do direito, mas alcança qualquer
discurso moral”.54
outra configuração da práxis humana, como
A partir da relação entre as perspectivas
por exemplo a moral positiva. Tomada esta
interna e externa, Hart distingue com
como uma prática social, é possível, desde o
adequação duas situações aparentemente
ponto de vista externo, compreendê-la como
idênticas: “ter a obrigação de fazer”, que
um conjunto de condutas e atitudes tomadas
independe de fatos e motivos para agir e “ser
desde a adesão a juízos normativos a partir
obrigado a fazer”, em que pode ser observada
de sua presumida validade intrínseca e que
a existência de crenças e motivos pelos quais
permite desvalorar condutas distoantes; e, de
há uma ação. Assim diferencia-se a idéia de
um ponto de vista interno, considerá-la como
“dever” da idéia de “obrigação”. As regras
um conjunto de princípios válidos.52
primárias são relativas diretamente às
obrigações, propiciando incerteza e uma certa
49
Segundo Billier e Maryoli o aspecto interno das ineficácia da pressão social difusa. As regras
regras implica uma atitude crítica e reflexiva em razão secundárias têm a função de corrigir a função
do que os comportamentos desviantes são reprovados
pelo grupo social. Cf.: BILLIER, Jean-Cassier; das regras primárias, conferindo a elas
MARYOLI, Aglaé. História da Filosofia do direito. sistematicidade e dinamicidade a partir de
Op. cit., p. 398.
“regras de reconhecimento”, “regras de
50
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op.
cit., p. 65.
51 53
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
política. Op. cit., p. 43-45. política. Op. cit., p. 47.
52 54
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
política. Op. cit., p. 45. política. Op. cit., p. 50.
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alteração” e “regras de julgamento”. Assim as nada mais faria do que afirmar que o hábito
regras secundárias remediam a ineficácia das de obediência é o fator determinante de
primárias de três formas: a) estabelecendo um identificação das regras, na medida em que
critério de identificação; b) definindo o não faz parte do direito positivo, mas sim
processo de inclusão de regras primárias no decorre da sua aceitação generalizada.
sistema; e c) conferindo poder aos sujeitos para O autor afirma que Hart seria mais bem
dizer, com autoridade, se determinada regra sucedido se ao invés de ter criado a
55
foi violada em uma situação concreta. “misteriosa” regra de reconhecimento, tivesse
Hart abandona a noção fundamental de dito simplesmente que a identificação das
Austin de que “os fundamentos de um sistema regras de um sistema ocorre mediante a
jurídico consistem num hábito de obediência observação de sua aceitação prática.59 Ricardo
a um soberano juridicamente ilimitado”, A. Guibourg segue a linha crítica asseverando
afirmando que o adequado fundamento do que a regra de reconhecimento nada mais
direito está na existência da “regra última de é do que uma “versão soft” da norma
56
reconhecimento”. Esta regra de caráter fundamental de Kelsen,60 o que é contestado
particular possui uma íntima ligação com a por Hart ao afirmar que a regra de
validade jurídica. Trata-se de um “critério reconhecimento, embora semelhante,
supremo” que na modernidade implica uma diferencia-se da “norma fundamental” de
combinação de critérios (até porque, como Kelsen porque: a) é um dado empírico, de
ocorre no direito inglês, várias são as fato (a norma fundamental é uma suposição);
57
fontes, como a lei, as decisões e o costume). b) admite como fonte e critério de validade
A característica fundamental que a diferencia jurídica os princípios e valores morais (já a
de outras regras é porque ela somente existe norma fundamental não aceita que uma regra
como uma efetiva “prática” (dos tribunais, jurídica válida seja afastada por um princípio
dos funcionários, dos particulares) ao moral conflitante). 61
identificarem o direito por intermédio de Para Nino, o conceito de validade jurídica
certos critérios. Desse modo, a “sua existência é a ponte entre o discurso jurídico justificatório
é uma questão de fato”.58 e o discurso moral. A validade não se resume
Robles afirma que esta concepção de à eficácia ou ao pertencimento a um sistema
Hart possui uma série de contradições e jurídico (como pressupõe um conceito
ambigüidades. A regra de reconhecimento descritivo) ou à justificabilidade ou à força
obrigatória (como em uma concepção
55
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito.
Op. cit., p. 104-106. 59
ROBLES, Gregório. Hart: algunos puntos
56
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. críticos. Op. cit., p. 393-398.
Op. cit., p. 122. 60
GUIBOURG, Ricardo A. Hart, Bulygin y Ruiz
57
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Manero: tres enfoques para un modelo. Doxa: Cuadernos
Op. cit., p. 112. de Filosofia del derecho, n. 14, 1993, p. 429.
58 61
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. HART, Herbert. L. A. O conceito de direito.
Op. cit., p. 121. Op. cit., p. 274.
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normativa). A validade exige considerações essa norma básica é uma norma hipotética
62
para além da esfera jurídica. Desta forma é (ficcional, segundo sua obra tardia) e para
que devem ser analisadas suas críticas ao Ross a obediência à Constituição deriva de
positivismo kelseniano e ao neopositivismo uma ideologia pressuposta. Ambos os
de Hart. Tanto a norma fundamental hipotética fundamentos estão fora do âmbito jurídico,
quanto a regra de reconhecimento último para além do campo normativo. São princípios
(sejam elas identificáveis ou não) são extrajurídicos, já no campo da moral.65
inconcebíveis no interior de uma lógica Embora Kelsen mantenha a terminologia
puramente jurídica – levando em consideração normativa, denominando “norma” a razão de
o direito como conceituado pelo positivismo. obediência do sistema jurídico, a observância
A fundamentação última de ambas as teorias desta “norma” não deriva de outra norma ou
contradiz seu desenvolvimento, pois remete de sua formulação por uma autoridade
a uma aceitação no âmbito moral. 63 competente. 66 Ainda que os jusfilósofos
Nino se debruça sobre a teoria de Hart e positivistas neguem há, no fundamento da
menciona o “paradoxo de Ross” em relação ordem jurídica, um conceito de validade
às alterações da regra de reconhecimento em como força obrigatória moral.
função do que ela mesma dispõe. Alf Ross Nino sustenta que o discurso jurídico não
aponta a necessidade de ser assumida uma é isolado, mas tampouco é uma parcela do
auto-referência inexplicável da regra de discurso moral. O discurso moral, como
reconhecimento e também sua perpetuidade estrutural da modernidade, transpassa todo
como fundamento de validade de outras discurso justificatório, exceto quando ele
regras, ainda quando já não exista mais por mesmo exclui sua aplicação, “seja porque se
força de sua modificação substancial.64 mova em uma dimensão diferente, ou porque
A norma que determina a observância defina uma área de indiferença, ou porque
contínua da Constituição – ainda quando for seja aplicável algum princípio defensível no
discurso moral e que permita a justificação
modificada, desde que de forma regular – é
logicamente anterior à Constituição, ápice do
ordenamento jurídico positivo. Para Kelsen, 65
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
política. Op. cit., p. 74-75.
66
“A ordem jurídica, especialmente a ordem jurídica
62
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y cuja personificação é o Estado, é, portanto, não um sistema
política. Op. cit., p. 72. de normas coordenadas entre sim que se acham, por assim
63
dizer, lado a lado, no mesmo nível, mas uma hierarquia
E mesmo no âmbito da fundamentação moral
de diferentes níveis de normas. A unidade dessas normas
Nino renuncia a uma fundamentação última e afirma que
é constituída pelo fato de que a criação de uma norma – a
somente é possível um discurso coletivo moral localizado
inferior – é determinada por outra – a superior – cuja
no tempo e no espaço. Para uma análise mais do que
criação é determinada por outra norma ainda mais
qualificada de sua teoria ver: ALEXY, Robert. La
superior, e de que esse regressus é finalizado por uma
fundamentación de los derechos humanos en Carlos S.
norma fundamental, a mais superior, que, sendo o
Nino. Doxa: Cuadernos de Filosofía del Derecho.
fundamento supremo de validade da ordem jurídica inteira,
Universidad de Alicante. n. 26, 2003, p. 173-201.
constitui a sua unidade”. KELSEN, Hans. Teoria Geral
64
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y do direito e do Estado. Tradução de Luís Carlos Borges.
política. Op. cit., p. 73. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 181.
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não pode ser combinada com a “negação de significado estabelecido e o simples fato de
que existem regras”. A própria existência dos que este significado possa não ser reconhecido
tribunais precisa decorrer de regras secundárias em determinada situação concreta não
73
que estabelecem sua competência. Esta implica, necessariamente, a existência de uma
posição, por certo, é totalmente oposta aquela falha no sistema.76
do “indeterminismo radical”, propugnada É preciso reconhecer como um fato
pelos teóricos pragmatistas e, em particular, que as regras possuem uma característica
pelos autores ligados ao movimento Critical especial implícita de terminarem sempre
74
Legal Studies. com a expressão “a menos que...”. E “uma
Hart assevera que os céticos parecem regra que termina com a expressão ‘a menos
“absolutistas desapontados”. Como eles que...’ é ainda uma regra”. 77 E como
observam que as regras não são tão previsíveis decorrência deste caráter aberto, é possível
como eles esperavam em seu “paraíso extrair a conclusão de que não há uma só
formal”, então acabam achando que elas não resposta correta a descobrir no processo
75
servem para nada. Isso é um equívoco. Por de aplicação do direito. A resposta é, na
certo as regras possuem um núcleo de realidade, “um compromisso razoável entre
muitos interesses conflitantes”.78
Nesse sentido, Juan Carlos Bayón
73
HART, Herbert L. A. O conceito de direito.
Op. cit., p. 150.
esclarece que esta teoria da fundamentação
74
(que não é exclusiva de Hart, mas de outros
Ao menos, esta é a advertência de Juan Carlos
Bayón. Cf.: BAYÓN, Juan Carlos. Por qué es derrotable importantes autores como Alf Ross, ainda
el razonamiento jurídico? In: BAYÓN, Juan Carlos; que em termos distintos) é uma das mais
RODRÍGUES, Jorge L. Relevancia normativa en la
justificación de las decisiones judiciales: el debate
importantes contribuições da história recente
Bayón-Rodríguez sobre la derrotabilidad de las normas para a filosofia do direito. Ou seja, superando-
jurídicas. Bogotá: Universidade Externado de Colômbia.
se o positivismo clássico, passou-se a
2003, p. 43. Jean-Cassien Billier e Aglaé Maryoli
parecem concordar com a proposição afirmando que “os reconhecer o “caráter derrotável” do sistema.
procedimentos de adoção e de aplicação do direito, as Esta nova forma de proposição passa a
regras secundárias, segundo H. L. A. Hart, são percebidos
como técnicas axiologicamente neutras, sem prejulgar
reforçar a idéia de que: a) o mais importante
a escolha política a fazer. Elas constituem unicamente na análise da fundamentação jurídica é seu
um quadro dentro do qual acontece o debate relativo às caráter “não monotônico”; ou seja, o direito
políticas que serão perseguidas pelo legislador. Isso é
errado aos olhos dos CLS, porque todo procedimento
consiste em repartir entre as forças envolvidas o poder 76
Sobre a distinção entre derrotabilidade e
de impacto que elas podem ter sobre a decisão a tomar.”
falibilidade ver: BAYÓN, Juan Carlos. Por qué es
Cf.: BILLIER, Jean-Cassien; MARYOLI, Aglaé.
derrotable el razonamiento jurídico? In: BAYÓN, Juan
História da filosofia do direito. Op. cit., p. 459.
Carlos; RODRÍGUES, Jorge L. Relevancia normativa
75 en la justificación de las decisiones judiciales. Op. cit.,
E o autor exemplifica: marcamos um compromisso;
no momento agendado temos que socorrer um doente e p. 284.
faltamos ao compromisso agendado. O fato de que esta 77
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito.
razão é aceite para que justifiquemos a ausência ao
Op. cit., p. 153.
compromisso não significa que desapareça a regra de que
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temos que cumprir com nossos compromissos. Cf.: HART, HART, Herbert L. A. O conceito de direito.
Herbert. L. A. O conceito de direito. Op. cit., p. 153. Op. cit., p. 146.
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“mas essa pode tornar-se aceitável com Caracterizar a primeira norma como
produto racional de escolha esclarecida e jurídica implicaria a substituição do conceito
imparcial”).84 de direito por um que incluísse todas as razões
Nino acredita ser insuficiente entender o trazidas pelo juiz em uma decisão judicial.
direito a partir da aplicação de determinadas Além disso, essa norma não poderia ser
normas pelos juízes, utilizadas por eles válida apenas para o juiz ou ser formulada
porque consideradas válidas em virtude de por ele, com base em interesses ou impressões
sua origem em uma autoridade legítima e puramente pessoais, ou sua decisão seria
legalmente competente (e esta conclusão rechaçada. Essa norma, necessariamente
o autor compartilha com Hart). Nino aceita pela comunidade, está sempre
concorda, ainda, que os conceitos de validade, submetida a uma potencial discussão. Para
autoridade, legitimidade e competência são Nino, a adoção de normas que legitimem as
conceitos normativos. E mesmo que esse fontes das normas jurídicas está submetida
reconhecimento parta de uma convenção, a a uma prática discursiva que a relaciona
necessária tomada de posição exige um ponto intimamente com a moral positiva.87
de vista interno em determinado sentido.85 Aqui Assim, uma decisão judicial reflete sobre
está o núcleo da crítica à teoria de Kelsen. Os todo o ordenamento, relaciona-se com as
juízes aplicam determinadas normas porque
decisões já tomadas e com as decisões que
as consideram válidas. A validade decorre da
virão, podendo ser rechaçada ou elevada a
elaboração da norma por legisladores
uma razão de decidir. Além disso, a atuação
legitimados e com conteúdo determinado por
do juiz (como a do constituinte, do legislador
outras normas. A legitimidade dos legisladores
e do administrador) deve contribuir para
decorre de uma norma de competência.
preservar e melhorar a ordem jurídica.
A derivação de normas a partir de normas
A decisão deve incluir na sua construção e na
chega a um limite – a cadeia de normas de
sua motivação a consideração de seus efeitos
competência não pode ser infinita. A norma
sobre a ordem jurídica. A tomada de uma
última não é jurídica: está fora do conceito
decisão moralmente justificada, para Nino,
kelseniano de direito. “O direito é identificado,
passa pela preservação da ordem jurídica a
segundo esse conceito, acudindo a normas
partir do momento em que se considera legítimo
não jurídicas. A motivação dos juízes se baseia,
o ordenamento. Sob este entendimento,
neste conceito de direito, em proposições
afastam-se as decisões incompatíveis com a
normativas não jurídicas, posto que não são
preservação do direito positivo. O autor
aceitas pelos juízes pelo fato de terem sido
ressalta, portanto, que não há uma sobreposição
prescritas por autoridades legítimas”.86
da moral no direito. A valoração moral atua
quando do reconhecimento da legitimidade
84
HART, Herbert. L. A. O conceito de direito. Op. do ordenamento jurídico e no preenchimento
cit., p. 221.
das indeterminações normativas. “Essas
85
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
política. Op. cit., p. 56-57.
86 87
NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y NINO, Carlos Santiago. Derecho, moral y
política. Op. cit., p. 57. política. Op. cit., p. 59.
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Por esse motivo, torna-se importante a e Gaston Jezè 106 (e até mesmo como o próprio
teorização de Nino, para quem, na construção Kelsen admite),107 o autor reconhece que os
da decisão judicial há uma relação intrínseca juízes muitas vezes podem “reorientar toda a
entre o direito e a moral que, todavia, não prática constitucional” desconsiderando
justifica, a priori, qualquer decisionismo. totalmente um consenso democrático
Internamente, portanto, há sempre uma contrário. Algo que, no mínimo, deve ser
remissão a uma justificativa que não está colocado em discussão.108
inserida nas normas jurídicas: uma norma
moral – partilhada coletivamente e submetida
à discussão – para além das normas de compreendida ou abstrata do Estado de direito” e que
competência. Contudo, em Estados leva a uma politização da justiça que dissimula uma
democráticos, o “processo democrático” é a decisão política sob o manto da neutralidade e da
imparcialidade. SCHMITT, Carl. O guardião da
única fonte de legitimidade da autoridade da
Constituição. Tradução de Geraldo de Carvalho. Belo
ordem jurídica. 103 O papel do Poder Judiciário Horizonte: Del Rey, 2007, p. 33 e seguintes.
em um Estado democrático, portanto, e a 106
Em debate com Kelsen no Instituto Internacional
extensão do controle de constitucionalidade de direito Político em outubro de 1928, Duguit aceita
é uma discussão que extrapola o campo apenas o afastamento de uma norma considerada
jurídico e inclui razões axiológicas sobre o inconstitucional pelo juiz em um caso concreto, mas
afirma que a declaração de nulidade de uma norma por
fundamento da democracia e o conteúdo dos
uma jurisdição constitucional especial seria criar
direitos fundamentais.104 uma terceira ou primeira assembléia política. Jezè, na
Segundo Nino, “a eventual faculdade dos mesma ocasião, defende o controle político de
juízes de desqualificar uma norma jurídica constitucionalidade no âmbito do Poder Legislativo,
“porque é necessário desconfiar do espírito conservador
de origem democrática por violar uma
dos juízes e mesmo dos juristas, que por natureza são
prescrição constitucional, seja em relação ao tradicionalistas e propensos a imobilizar a interpretação
procedimento ou ao conteúdo da norma, é dos textos: é perigoso confiar a eles a missão de dizer
uma arma poderosa nas mãos de órgãos que o direito em matéria política”. KELSEN, Hans.
Jurisdição constitucional. Tradução do alemão
não são o resultado direto de consensos
Alexandre Krug, tradução do italiano Eduardo Brandão,
democráticos nem estão submetidos a tradução do francês Maria Ermantina Galvão, revisão
responsabilidade democrática direta”. técnica Sérgio Sérvulo da Cunha. São Paulo: Martins
Fugindo da condescendência de Hart e Ross Fontes, 2003. p. 192 e 194.
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