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Ailton Krenak “Meu Herói” - Questões

1. Ailton Krenak, em recente livro publicado pela Azougue Editorial (“Encontros”,


2015), o senhor fala que uma das razões da constituição e do ativismo público-político
do Movimento Indígena brasileiro, em fins da década de 1970, foi a consciência de
que os povos indígenas não sobreviveriam ao tipo de projeto de desenvolvimento e de
colonização fomentado pelos governos militares. Em outras entrevistas recentes, que
também foram publicadas no mesmo livro, você fala de rompimento do pacto
democrático assumido e dinamizado pela Constituição Federal de 1988, em termos de
quebra ou até de recusa dos compromissos e dos acordos de classe ali construídos e
afirmados, e de uma radicalização daquele modelo de desenvolvimento e de
colonização outrora assumido pelos governos militares, hoje viabilizado por governos
civis. Nesse sentido, no atual momento de nossa sociedade, pode-se afirmar que os
povos indígenas ainda têm medo de desaparecer em face desse modelo de
desenvolvimento? Como os povos indígenas estão compreendendo esse nosso
momento histórico-político? O que propugnam junto à sociedade civil e como? E o
que podem trazer para o debate político democrático relativamente à questão do
desenvolvimento?

2. No mesmo livro acima citado, há uma passagem muito marcante e pungente que serve
como crítica ao nosso processo de modernização socioeconômica, que diz: “O menor
abandonado foi uma das figuras mais fantásticas que eu conheci na tradição ocidental”
(“Encontros”, 2015, p. 97). Essa passagem é uma magnífica crítica da modernidade
feita por um intelectual indígena, o que também equivale a dizer que os povos
indígenas representam e assumem uma perspectiva de crítica a um tipo de
modernização excludente que se tornou naturalizado, hoje em dia. Nesse sentido,
como a crítica à modernização – e, no caso brasileiro, a uma modernização
conservadora e excludente – encontra nas culturas, tradições e valores indígenas uma
de suas bases fundamentais? Por outras palavras, como as culturas, tradições e valores
indígenas fundam e dinamizam uma crítica substantiva à modernização ocidental,
tornando-a reflexiva?

3. A tradição ocidental possui na correlação de ciência e técnica institucionalizadas,


racionalização epistemológica e neutralidade-impessoalidade-imparcialidade
axiológicas seus núcleos centrais. Ao dizer que o menor abandonado é uma das figuras
mais fantásticas da tradição ocidental, o senhor tem em mente também uma crítica a
esse modelo epistemológico que é a base para a produção, a legitimação e a
vinculação pública do conhecimento? Se sim, em que sentido as culturas indígenas,
seus valores, suas práticas e suas experiências vitais permitem-nos pensar em outras
epistemologias necessárias à compreensão e à transformação seja de nossa sociedade,
uns para com os outros, seja de nossa relação com a Terra? Cite-nos exemplos, se o
senhor assim julgar conveniente, de perspectivas epistemológicas importantes,
próprias aos povos indígenas, para o repensar de nosso processo de modernização e,
de um modo mais geral, como forma de crítica a essa noção epistemológica altamente
institucionalista, cientificista e tecnicista própria à racionalização europeia.

4. Hoje, movimentos, intelectuais, artistas e escritores indígenas utilizam de modo


acentuado a esfera pública, política e cultural, com os seus variados espaços e
instrumentos tecnológicos, para o fomento da cultura indígena, para a crítica social em
torno à condição dos povos indígenas no país e, em tudo isso, para a conquista de
hegemonia cultural dos e pelos indígenas. O Acampamento Terra Livre ou mesmo a
sua (de você, Ailton Krenak) marcante e pungente participação na Assembleia
Nacional Constituinte são exemplos disso. A opção pelo ativismo, pela militância e
pelo engajamento na esfera público-política é o grande horizonte norteador desses
movimentos indígenas, de vossa atuação como lideranças, intelectuais e artistas
indígenas? Como os povos, escritores e intelectuais indígenas compreendem essa
esfera pública democrática e esses instrumentos?

5. Retomando o livro acima mencionado, “Encontros”, de 2015, publicado pela Azougue


Editorial, o senhor disse lá que um dos motes centrais de sua postura como liderança e
intelectual indígena consistiu e consiste na desconstrução das caricaturas em torno ao
significado do “índio”, pré-conceitos que ainda minam o seu reconhecimento pela
sociedade brasileira de um modo geral e que não apenas deslegitimam as
reivindicações e a dignidade dos indígenas, senão que embasam muito da violência
cometida contra estes. Há ainda muito por se fazer, ainda, no tocante a isso? Que
estratégias são utilizadas pelos povos, pelas lideranças e pelos intelectuais indígenas
em termos dessa desconstrução? Pode-se dizer que tais caricaturas simbólico-culturais
são o maior desafio a ser enfrentado pela sociedade brasileira de um modo geral e
pelos povos indígenas em particular?

6. Em sua percepção, quais são os problemas mais gritantes vivenciados por nossa
sociedade hoje? E que propostas os povos indígenas podem oferecer para a
tematização e a resolução deles?

7. Política e partidariamente falando, os povos indígenas conseguem tecer parecerias e


assumir representatividade institucional, ou a condição, as reivindicações e o futuro da
luta e da resistência indígenas estão mais enraizados na sociedade civil que entre
nossos partidos e instituições políticos? Quais as perspectivas do movimento indígena
em relação a isso? É por meio da política e da participação política permanentes que
os povos indígenas conseguirão minimizar sua situação de marginalização e de
exclusão dentro do grande processo de nossa modernização conservadora e periférica?

8. Gostaria de acrescentar algo mais?

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