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DESCARTES.

1º MEDITAÇÃO (abreviada)
“Era preciso, portanto, que, uma vez na vida, fossem postas abaixo todas as coisas, todas as opiniões em que até então
confiara, recomeçando dos primeiros fundamentos, se desejasse estabelecer em algum momento algo firme e permanente
nas ciências (dans les sciences) (§1). A razão já me persuade de que é preciso coibir o assentimento, (...) bastará que
encontre, em cada uma, alguma razão de duvidar para que as rejeite todas (§2). (...) se os fundamentos se afundam, desaba
por si mesmo tudo o que foi edificado sobre eles, atacarei de imediato os próprios princípios em que se apoiava tudo
aquilo em que outrora acreditei (§2). Apesar de os sentidos nos enganarem às vezes acerca de certas coisas miúdas e
muito afastadas, muitas outras coisas haja, contudo, sobre as quais não se pode de modo algum duvidar (...) (§4). Mas,
pensando nisto cuidadosamente, como não recordar que fui iludido nos sonos por pensamentos semelhantes, em outras
ocasiões! E, quando penso mais atentamente, vejo do modo mais manifesto que a vigília nunca pode ser distinguida do
sono por indícios certos, fico estupefato e esse mesmo estupor quase me confirma na opinião de que estou dormindo (§5).
Entretanto, é preciso por certo confessar que as coisas vistas no sono são como certas imagens pintadas e não puderam ser
essa ficção, a não ser pela similitude das coisas verdadeiras. De sorte que, pelo menos essas coisas gerais — olhos,
cabeça, mãos e o resto do corpo— não são coisas imaginárias, mas, existem deveras (§6). Por igual razão, (...) é preciso
confessar, todavia, que são pelo menos necessariamente verdadeiras e existentes algumas outras coisas, ainda mais
simples e universais, a partir das quais são figuradas, como a partir de cores verdadeiras, todas as imagens de coisas que
estão em nosso pensamento, quer verdadeiras, quer falsas. Desse gênero parecem ser a natureza corporal comum e sua
extensão, bem como a figura das coisas extensas; a quantidade ou grandeza delas e seu número; o lugar onde existem e o
tempo pelo qual duram e que mede sua duração, e coisas semelhantes (§7). A Aritmética, a Geometria e outras — que não
tratam senão de coisas muito simples e muito gerais, pouco se preocupando com que estejam ou não na natureza das
coisas — contêm algo certo e fora de dúvida (§8). Entretanto, fixa em minha mente, tenho uma certa velha opinião de que
há um Deus, que pode todas as coisas e pelo qual fui criado tal qual existo. Mas, de onde sei que ele não tenha feito que
não haja de todo terra alguma, céu algum, coisa extensa alguma, figura alguma, grandeza alguma, lugar algum e que não
obstante eu sinta todas essas coisas e que, no entanto, todas elas não me pareçam existir diferentemente de como me
aparecem agora? Mais: do mesmo modo que julgo que os outros às vezes erram acerca de coisas que presumem saber à
perfeição, não estaria eu mesmo de igual maneira errando, cada vez que adiciono dois a três ou conto os lados do
quadrado ou faço outra coisa que se possa imaginar ainda mais fácil? Mas, talvez Deus não tenha querido que eu
fosse enganado dessa maneira, pois dizem-o sumamente bom. Ora, se criar-me para que sempre erre repugna à
sua bondade, parece que a essa bondade deva também repugnar a permissão para que eu erre às vezes,
mas não posso duvidar que ele o permita (§9). Talvez haja, em verdade, aqueles que, a ter de crer que todas as outras
coisas são incertas, prefiram negar um Deus tão poderoso. Não os contraditemos e admitamos que tudo o que dissemos
sobre Deus seja fictício. Que suponham tenha eu chegado a ser o que sou pelo fado, pelo acaso, por uma série
contínua das coisas ou por qualquer outro modo, pois que enganar-se e errar parecem ser uma certa imperfeição,
quanto menos poderoso for o autor que designem à minha origem tanto mais provável será que eu seja tão
imperfeito para que sempre erre. Argumentos a que em verdade não tenho o que responder, mas sou finalmente
forçado a confessar que nada há de todas as coisas que considerava outrora verdadeiras de que não me seja permitido
duvidar, não por não as considerar ou por leviandade, mas por robustas e meditadas razões. Por isso, também a elas não
menos que às coisas manifestamente falsas, devo, de agora em diante, negar cuidadosamente o meu assentimento, se
quero encontrar algo certo nas ciências. (§10). (...). Manter-me-ei obstinadamente firme nesta meditação, de maneira que,
se não estiver em meu poder conhecer algo verdadeiro, estará em mim pelo menos negar meu assentimento aos erros, às
coisas falsas (§12)”.

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