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X Café com Leitura e V Seminário de Leitura, Espaço e Sujeito

Tema Central “Leituras de Mundo”


Faculdade de Informação e Comunicação – FIC/UFG
Câmpus Samambaia, 27 e 28 de junho de 2019

AÇÃO CULTURAL E AÇÃO COMUNICATIVA: COMO REFLETIR SOBRE


FOTOGRAFIA DOCUMENTAL

Gabriela Alves Campos 1


Ana Rita Vidica2

Leitura: imagem e imaginário

1 INTRODUÇÃO: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO DA FOTOGRAFIA DO SÉCULO


XIX NO BRASIL
Este trabalho pretende realizar reflexões acerca da fotografia documental
brasileira do século XIX e como ela chega ao público no século XXI, sendo vista, portanto
como produtora de ação comunicativa por meio de ações culturais, a exemplo das exposições
fotográficas. Será realizado, metodologicamente, levantamento bibliográfico sobre a
fotografia documental do século XIX, a fim de relacionar com os conceitos de ação
comunicativa e ação cultural propostos por Teixeira Coelho (1989).
Grande parte do acervo da fotografia do século XIX, produzida em território
brasileiro, se encontra no Instituto Moreira Salles (IMS), compondo cerca de 30 mil imagens.
Estas fotografias se vinculam ao ideal do pensamento positivista de progresso, conclusão
obtida a partir do estudo do registro das temáticas principais: o negro, o índio, a paisagem, a
modernidade e a profissão3 , que, em conjunto, demonstram o que Vasquez (2003) defende
como dois fenômenos do século XIX: o primeiro deles é o das grandes reformas urbanas, tais
como as de saneamento e modernização; o outro é o de anseio pela descoberta do mundo,
impulsionado pelas expedições científicas e desenvolvimento de tecnologias que permitiu a
popularização do turismo organizado, por meio das ferrovias e da navegação a vapor.
A fotografia documental no Brasil do século XIX, através das temáticas citadas,
dá origem a grupos de imagens de indígenas, por exemplo, expostas no Exterior,
especialmente nas Exposições Universais. Eles são apresentados pelo seu caráter exótico,
destacando-se pela construção de tipologias. Assim, imagens, como a dos índios, eram
construções que transitavam entre a Antropologia e a Frenologia (JOHNSON et al, 2015),

1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Goiás.
2
Professora Doutora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de Goiás e
orientadora do trabalho.
3
Trata-se do Trabalho de Conclusão de Curso de Gabriela Alves Campos, apresentado em 2017 à Faculdade
de Informação e Comunicação da Universidade Federal de Goiás, que teve por título “Fotografia
Documental: um olhar sobre a produção fotográfica no Brasil do século XIX”.

1
expostas sem expressividade do caráter cultural que carregam. À exemplo temos a obra do
fotógrafo alemão, Albert Frisch, que realizou uma série de fotografias nos arredores de
Manaus por volta de 1865, são imagens ao ar livre, as primeiras que retratam o habitat
indígenas (TACCA, 2011).
As fotografias de Frisch participaram da Exposição Internacional de Paris em
1867 com encomenda de George Leuzinger. Foi a primeira vez que imagens do Amazonas,
com índios e seus costumes, fauna e flora da região foram expostas internacionalmente, como
amostragem da construção de faces de um Brasil desenvolvido, civilizado, recheado de
belezas naturais e povos exóticos.
No século XIX é essa imagem, a exemplo da produção de Frisch, que chega ao
olhar do outro, o que demonstra que a natureza da fotografia não se vincula a uma construção
neutra da realidade, mas passa por questões ideológicas. O discurso fotográfico é, portanto,
produtor de um modo de ver o Brasil oitocentista. Nesse sentido, compreender o discurso
fotográfico significa acentuar as relações entre o mundo e o referencial fotográfico, e ainda,
explorar o caráter transformador do seu poder comunicativo (CAMARGO, 1999). É dessa
forma que se pretende investigar a produção da ação comunicativa no contexto da fotografia
documental.
Por isso propõe-se os seguintes questionamentos: Como a fotografia do século
XIX chega na contemporaneidade? Quais são os percursos conscientes e inconscientes de
reflexão que as fotografias produzidas nesse período percorrem para promover algum
conhecimento e/ou reflexão sobre a produção fotográfica brasileira?

2 AÇÃO CULTURAL E AÇÃO COMUNICATIVA COMO CAMINHOS PARA


REFLEXÃO SOBRE A FOTOGRAFIA DOCUMENTAL
A premissa deste trabalho é a de que os caminhos que as fotografias, produzidas
no Brasil do século XIX, percorrem se ligam a propostas de ação cultural, promovendo
formas de ação comunicativa. Parte-se da definição de Teixeira Coelho que compreende ação
comunicativa a partir de três perspectivas principais:

Processo interativo de transmissão e renovação do saber cultural, do ponto


de vista da intercompreensão; de promoção da integração social pela
solidariedade, do ponto de vista da coordenação da ação, e de formação da
identidade pessoal, do ponto de vista da socialização. (COELHO, 1989, p.
31)

O conceito de Ação Comunicativa, como o processo interativo de transmissão e


renovação do saber cultural (COELHO,1997), caminha exatamente ao encontro da ideia de
2
ação cultural de criação, pois identifica a cultura como um meio de estoque de conhecimentos
que possibilita a visão crítica e interpretativa do mundo.
Entendendo que nem toda ação comunicativa é uma ação cultural, esta última,
segundo Teixeira Coelho (1989), serviria como “conjunto de procedimentos, envolvendo
recursos humanos e materiais, que visam pôr em prática os objetivos de uma determinada
política cultural”. Esse mesmo conjunto de procedimentos teria como principal finalidade
promover uma ponte entre o público e uma obra de cultura ou arte. Assim, a ação cultural
deve recorrer a agentes culturais previamente preparados para tal tarefa e considera público
determinados.
Nessa trilha de desdobramentos e ramificações do pensar cultura, Coelho (1997)
destaca três momentos nos quais identifica como divisões das manifestações de ação cultural.
O primeiro deles, de atenção exclusiva à obra, sem muitas preocupações com o público; o
segundo, que surge nas primeiras décadas do século XX, se caracteriza pelo propósito de
oferecer estruturas físicas para apreciação de obras de cultura e por criar condições para que
as obras fossem entendidas e apreciadas, o que acontece inicialmente em países socialistas; e
num terceiro momento, que se dá na década de 60, os programas de ação cultural voltam sua
preocupação para o indivíduo, como ser singular, criando condições de experimentação e
criação cultural, buscando “na medida do possível, oferecer ao indivíduo isoladamente, as
mesmas condições de fruição ou de criação artística experimentadas pelo criador de cultura ou
de arte” (COELHO, 1997).
A fotografia documental organizada em coleções nas instituições museológicas,
como o Instituto Moreira Salles se encontra no primeiro desses momentos, que diz respeito à
ação cultural de atenção exclusiva à obra, como patrimônio digno de evocação, mas sem
grandes preocupações com o acesso do público, na maioria das vezes restrito.

Quanto os museus, por exemplo, começam a multiplicar-se, um público cada


vez maior tem acesso às obras mas a preocupação central do que pode de
algum modo ser chamado de ação cultural continua ser a obra em si, sua
preservação e seu agrupamento em coleções. (COELHO, 1997, p. 35)

Essa afirmação de Coelho pode ser discutível no que tange às ações culturais
museais como é o caso da montagem de exposições e mostras, que além de serem uma
estrutura física de alojamento de objetos de cultura/arte, podem suscitar novos interesses ou
aprofundar nossos conhecimentos acerca de nós mesmos e do mundo que vivemos (LORD;
PIACENTE, 2014), temas que muito se assemelham à produção de ação comunicativa. Nesse
sentido, a fotografia do século XIX, abre-se aos segundo e terceiro momentos, criando

3
estruturas físicas e virtuais pela disponibilização das fotografias em espaços expositivos e no
site do instituto, além de programas de ação cultural, possibilitando que o público tenha
contato com a fotografia do século XIX.

2.1 UM PASSO EM BUSCA DA FOTOGRAFIA DOCUMENTAL COMO AÇÃO


CULTURAL DE CRIAÇÃO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Com a disponibilização das fotografias do IMS, o público pode dar continuidade
ao processo de continuidade da ação destas imagens, seguindo a proposição de ação cultural,
de Teixeira Coelho, em que se admite a criação, tendo sido proposta a exposição “Fotografia
no Brasil-Império: Nascimento da foto de Imprensa”4, com o intuito de aproximar público da
época retratada e recontar a história do nascimento da foto de imprensa, acionando diferentes
sentidos do visitante.
A proposta de exposição escolhida foi a Hands-on, um instrumento de
comunicação que surgiu com o desenvolvimento dos modelos de exposição e nela se propõe
uma estrutura física que possibilite ao visitante desenvolver uma ligação direta com o tema,
participando ativamente da visitação, criando conhecimentos, entendendo os fenômenos e
despertando outros sentidos para além da visão (LORD; PIACENTE, 2014). Esse tipo de
exposição muito se assemelha ao terceiro momento de ação cultural, quando a intenção passa
a ser a de sensibilização do indivíduo apreciador.
O acervo virtual do Instituto Moreira Sales foi o ponto de partida para munir a
curadoria coletiva das fotografias a serem expostas, que seguiu o fluxo criativo e investigador
de cada um dos curadores, estudantes do curso de Jornalismo da Faculdade de Informação e
Comunicação da Universidade Federal de Goiás. A promoção da exposição perpassou todas
as etapas de Desenvolvimento, Design e implementação definidas na teoria de exposição
Hands-on por Lord e Piacente (2014), teóricos de exposições.
Na fase de Desenvolvimento, propôs-se a ideia original, no qual as curadoras,
Lisbeth Oliveira e Gabriela Alves Campos, desenvolveram os temas e autores que seriam
relevantes para o trabalho, com a seleção das fotografias. Foram escolhidos retratos, a
principal forma de aplicação da fotografia do século XIX; também as fotografias que faziam
ver imagens de progresso, tais como as ferrovias e centros urbanos; e ainda as fotografias de
escravos e índios.

4
O projeto de exposição “Fotografia no Brasil Império: Nascimento da foto de Imprensa” surgiu no interior da
disciplina “Jornalismo Especializado: Nascimento da fotografia de Imprensa no Brasil”, oferecida ao Curso
de Jornalismo da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC/UFG) no ano de 2016. A exposição foi
estruturada em uma das salas do prédio da FIC e aberta ao público universitário e à comunidade vizinha ao
Campus II da UFG durante o mês de outubro do mesmo ano.

4
Na fase de Desenvolvimento foram realizadas a impressão das fotografias;
construção da moldura e legendas; estruturação da ambientação, arte e apresentação. Para a
estrutura foi escolhido um tecido artesanal, nomeado de Juta, que combinava com o tom sépia
das fotografias. O tecido foi usado para cobrir as paredes, sendo pano de fundo para as
fotografias e legendas. Para compor a ambientação foram espalhados galhos e folhas secas,
remetendo à vegetação muitas vezes colocadas nos primeiros ateliês fotográficos para
exaltação da natureza (KOSSOY, 2002). Também um design de moda foi convidado pela
equipe para trabalhar a ambientação com exposição de indumentárias e adereços que
remetiam à época, Brasil-Império.
Outra intervenção do Desenvolvimento foi a gravação de uma peça audiovisual,
com imagens de outras fotografias do IMS, que combinavam imagem a músicas que remetiam
às temáticas. Para abertura da exposição ao público foram servidas comidas típicas da
culinária brasileira, tendo como base o fubá de milho e a mandioca, e ainda máscaras e
vestimentas foram disponibilizadas para que o público pudesse vestir como personagens da
época.
Na fase de Implementação foram colocados em prática todos os passos definidos
no Desenvolvimento, com o auxílio de todos os curadores e colaboradores convidados. A
exposição foi aberta ao público com o intuito de produzir, no conjunto de acessos – paladar,
auditivo, visual e tátil – uma possibilidade de ponte, para conduzir o visitante a outro tempo,
outra história, a que se dava no Brasil-Império.
As considerações sobre a exposição “Fotografia no Brasil Império: Nascimento da
foto de Imprensa” caminham ao lado das limitações encontradas, pois, segundo Oliveira
(2016) “realizar uma exposição de época requer atenção e cuidados especiais, investigação,
dedicação e tempo de pesquisa”, assim como todas as exposições que se destinam ao
acionamento de diversos sentidos para um coletivo de visitantes que antes de coletivo são
indivíduos, singulares, que passam pela visitação-experimentação de formas diferentes, um
desafio enquanto ação comunicativa.
A exposição, no entanto, enquanto ação cultural foi realizada de forma
satisfatória, é o que se tem demonstrado na pesquisa quantitativa5 implementada através de
questionários que teve como base a Escala Somada e que pretende contribuir não só com a
pesquisa do instrumento Exposições para a área de comunicação, mas com o uso de
fotografias documentais enquanto objeto de Ação Comunicativa.

5
Os dados coletados pelos questionários implementados na exposição “Fotografia no Brasil Império:
Nascimento da foto de Imprensa” fazem parte de uma pesquisa em curso pela Faculdade de Informação e
Comunicação.

5
3 CONCLUSÃO
A compreensão do discurso fotográfico, dentro do exercício de comparação entre
as produções fotográficas, mais intimamente do grupo de fotografias documentais, é um
exercício possível de diferenciação, ao possibilitar a reflexão e a descoberta de expressões
culturais passadas, que podem se revelar como muito atuais, ao passo que as fotografias
reconstroem olhares, sentimentos, cultura de seus tempos, também refletem e narram a
história.
A exposição relatada é apenas uma das possibilidades de ação cultural e
comunicativa que se vincula a instituições como IMS e que possibilitam, ao passo que, como
na situação-exemplo, podem ser usadas como ponto de partida para intervenções e acessos. É
possível, através desse exemplo, compreender como as exposições tem o poder de suscitar o
imaginário e criar novas significações e compreensões, que nada mais é do que servir como
ponte, uma ação comunicativa de facilitação para ação cultural de criação.
Também o trabalho com a imagem traz seus desafios. Por ser objeto polissêmico
e, por essência, passível de inúmeras interpretações, serve ao exercício de interpretação das
realidades, como fontes de uma época e espaço determinados, retratos de sociedades e
culturas plurais. Nesse sentido, ler e refletir sobre discursos fotográficos é uma forma de
assistir o passado através de seus registros e interpretar a história pelos seus significados
simbólicos. Uma atitude que pode significar abertura dos horizontes do estudo documental,
múltipla e liberta de especificidades dos saberes que, para tanto, é dependente da promoção de
condições e estruturação de acessos para, como ação cultural, promover ação comunicativa
eficiente, que promova o acesso à cultura para descortinar o mundo através das construções
ideológicas presentes nas imagens.

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da
cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.

COELHO, Teixeira. O que é ação cultural. São Paulo: Brasiliense, 1989. (Coleção Primeiros
Passos).

COELHO, Teixeira. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo: Iluminuras. 1997.

JOHNSON, William; RICE, Mike; WILLIAMS, Carla. A history of photography: from


1839 to the present. [S.l.]: Taschen, 2015.

LORD, Barry; PIACENTE, Maria. The manual of museum exhibitions. [S.l.]: Altamira
Press, 2014.
6
TACCA, Fernando de. O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio.
Imagens, v. 18, n. 1, jan./mar. p. 191-223, 2011.

OLIVEIRA, Lisbeth. Exercício de exposição coletiva hands-on: o nascimento da fotografia


no Brasil na expressão histórica do invento. Estudos Contemporâneos em Jornalismo,
UFG, p. 175-189, 2016.

VASQUEZ, Pedro. Fotografia no império. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2002.

VASQUEZ, Pedro. O Brasil na fotografia oitocentista. [S.l.]: Metalivros. 2003.

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