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APEC – ASSOCIAÇÃO PIAUIENSE DE EDUCAÇÃO E CULTURA

CESVALE – CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO VALE DO PARNAIBA


COORDENAÇÃO DO CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
Prof. Ana Karina de Sousa Campelo

TEXTO ANTROPOLOGIA POLÍTICA

1. Noções

A abordagem da políítica pela antropologia pode ser definida de uma forma simples:
explicar como os atores sociais compreendem e experimentam a política, isto é, como
significam os objetos e as práticas relacionadas ao mundo da política.

A compreensaã o de grupos especííficos, em circunstaâ ncias particulares, leva a


comparaçoã es e diaí logos com a literatura sobre contextos sociais mais amplos.

Embora aparentemente simples, trata-se de uma proposta complexa de ser executada e


que implica pelo menos dois pressupostos.

O primeiro, de que a sociedade eí heterogeâ nea, formada por redes sociais que
sustentam e possibilitam muí ltiplas percepçoã es da realidade.

O segundo, de que o "mundo da políítica" naã o eí um dado a priori, mas precisa ser
investigado e definido a partir das formulaçoã es e dos comportamentos de atores sociais e de
contextos particulares.

O interesse da antropologia pela políítica existe desde os primoí rdios da disciplina, uma
vez que o estudo de sociedades e relações sociais é estreitamente ligado à temática das
relações de poder. No contexto da tradiçaã o evolucionista, que marcou a fase inicial da
antropologia, o foco recaíía sobre as formas e os sistemas de poder em sociedades
"primitivas", cujas caracteríísticas deveriam ser comparadas e classificadas em relaçaã o ao
sistema políítico das sociedades modernas, consideradas mais "evoluídas". Propunha-se,
entaã o, uma linha evolutiva das formas de organizaçaã o políítica, que começava com a
"hordaprimitiva" e chegava ao Estado moderno. Nessa eí poca, entre o final do seí culo XIX e o
iníício da deí cada de 1920, a grande maioria dos estudos antropoloí gicos naã o tinha a políítica
como tema central de interesse, nem a antropologia políítica era pensada ou formalizada como
uma subaí rea de estudos.

Com o avanço da tradiçaã o estrutural-funcionalista britaâ nica, no entanto, a políítica


ganhou espaço, sobretudo nas etnografias realizadas no contexto colonial anglo-africano.
Muitos desses estudos buscavam entender a organização social de grupos e etnias sem a
presença de um sistema político formal, isto é, sem Estado. EÉ nessa direçaã o que surgem as
reflexoã es sobre a importaâ ncia dos sistemas de parentesco para a hierarquia e a coesaã o sociais.
Tendo como refereâ ncia inicial Radcliffe-Brown, sucederam-se autores como Evans-Pritchard,
Meyer Fortes, Max Gluckman, Edmund Leach e Victor Turner, entre outros. Alguns dos textos
fundamentais da entaã o receí m-nomeada "antropologia políítica" foram produzidos nesse
contexto, como a coletaâ nea African political systems (Fortes e Evans-Pritchard, [1940] 1961) e
a monografia Os Nuer (Evans-Pritchard, [1940] 1978). Essa abordagem, por sua vez, tambeí m
gerou crííticas. A definiçaã o de poder teria se tornado taã o ampla que poderia ser encontrada em
qualquer situaçaã o social, englobando literalmente todos os temas da disciplina (Vincent,
2002). Mas eí nessa fase que se consolidou institucionalmente o campo de uma antropologia
política (Easton, 1959). EÉ fundamental ressalvar que, embora dialogando entre si com mais ou
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menos frequü eâ ncia, esses antropoí logos naã o produziram em absoluto abordagens homogeâ neas
da políítica. Se numa primeira etapa foi dada maior eâ nfase aos aspectos de coesaã o e equilííbrio
social, aà medida que avançamos no tempo, observamos uma maior preocupaçaã o com as
transformaçoã es sociais, discutindo as relaçoã es de poder no tempo e no espaço, a partir de
temaí ticas relacionadas a conflitos, rituais, mitos, identidades, status, representaçoã es e
praí ticas.

A partir da deí cada de 1950, principalmente depois do claí ssico Sistemas políticos da
Alta Birmânia, de Edmund Leach ([1954] 1996), desenvolve-se uma nova fase no campo da
antropologia política, com o afastamento do cânone tradicional e a pulverização de
problemas teóricos e temas de pesquisa, cujo alcance foge ao âmbito deste texto.
Entretanto, haí um certo consenso de que esses novos campos saã o fruto sobretudo do
enfrentamento dos desafios impostos por uma conjuntura mundial na qual convivem forças
políticas e culturais em diversos níveis como comunismo, capitalismo, colonialismo e
movimentos sociais de diversos tipos. Entre estes, a aí rea dos estudos feministas e dos
movimentos anticolonialistas ganhou destaque por sua importante contribuiçaã o para a
reflexaã o em torno do poder (Vincent, 2002).

No contexto brasileiro, desenvolveu-se, na deí cada de 1990, um conjunto de trabalhos


autodenominados antropologia da política, que tiveram sua institucionalizaçaã o mais
importante no Nuí cleo de Antropologia da Políítica (NuAP), sediado no Museu Nacional da
UFRJ, mas envolvendo grupos em outras universidades federais, como as de Brasíília, Cearaí e
Rio Grande do Sul, entre outras. O objetivo do NuAP, como definiu Peirano (1998), era partir
da "suposiçaã o baí sica de que a categoria políítica eí sempre etnograí fica". Ao investigar a políítica
legitimada pelos padroã es ocidentais modernos, "deslegitimando pretensoã es essencialistas,
socioceâ ntricas e conformistas", revela-se que a proí pria percepçaã o da "políítica" como uma
esfera social aà parte de outras esferas eí produto dessa ideologia moderna. No caso brasileiro,
alerta Peirano, o antropoí logo enfrentaria uma "combinaçaã o complexa" de universalismo
cientíífico e ideologia nacional de moldes "holistas".

Isso tem sido observado em muitos estudos empííricos, desde o claí ssico Coronelismo,
enxada e voto (Leal, 1948) ateí as recentes etnografias e coletaâ neas publicadas no aâ mbito do
NuAP (Palmeira e Goldman, 1996; Barreira e Palmeira, 1998; Heredia, Teixeira e Barreira,
2002; Palmeira e Barreira, 2006). A política é entendida, aqui, principalmente como um
meio de acesso aos recursos públicos, no qual o político atua como mediador entre
comunidades locais e diversos níveis de poder. Esse fluxo de trocas eí regulado pelas
obrigaçoã es de dar, receber e retribuir, o que o antropoí logo Marcel Mauss ([1924] 1974)
chamou de "loí gica da daí diva", e cujo princíípio fundamental estaí no comprometimento social
daqueles que trocam para aleí m das coisas trocadas.

As pessoas que participam dessas redes, seja como eleitores, seja como polííticos, nunca
concordariam com os acadeâ micos que consideram suas açoã es um mero "clientelismo". Do
ponto de vista "nativo", os polííticos naã o estaã o "privatizando bens puí blicos" (para usar uma
definiçaã o claí ssica de clientelismo); ao contraí rio, os polííticos estaã o dando acesso a bens e
serviços puí blicos a pessoas que naã o os teriam de outra forma. Nesse contexto, a palavra
"puí blico" naã o significa "recursos que pertencem a todos", mas "recursos monopolizados pelas
elites polííticas e econoâ micas". Ou seja, pessoas "ordinaí rias" – de estratos inferiores da
sociedade – naã o participariam dessa definiçaã o de "puí blico". Por isso mesmo, o acesso aà s fontes
puí blicas de bens e serviços precisa ser intermediado pelo políítico e eí visto como um bem
extraordinaí rio, "que naã o tem preço".

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No entanto, essa rede naã o se constitui apenas pelo acesso e intermediaçaã o de recursos
puí blicos. A distribuição de bens e serviços em locais de "atendimento", como centros de
assistência social ou escritórios políticos, é prática corrente. Para manter esse tipo de
serviço, o políítico precisa manter fortes laços com empresaí rios ou grupos economicamente
favorecidos que lhe forneçam dinheiro ou mercadorias demandados pela comunidade. Essa
ajuda externa eí retribuíída, por sua vez, na forma de alvaraí s, licenças, anistia de multas e
outros benefíícios diversos. Pode tambeí m, sem duí vida, em certos casos, caracterizar-se como
corrupçaã o pura e simples.

Como se coloca, então, a antropologia da política ante a questão da democracia?


Se nos basearmos nos seus princíípios conceituais, relaçoã es de troca do tipo acima
mencionadas saã o um grande desserviço. Entretanto, como intelectuais, temos que evitar que
nosso desejo de melhorar a qualidade da democracia interfira na forma como coletamos e
interpretamos os dados de pesquisa. Senaã o, ficaremos perpetuamente rotulando as pessoas
em vez de tentar compreendeâ -las. Seguindo a proposta de Peirano (1998), esses mesmos
roí tulos operam segundo loí gicas de poder da academia ou ateí loí gicas de poder mais amplas.
Assim, o mesmo fenoâ meno classificado como "maí quina políítica", nos Estados Unidos, torna-se
"clientelismo", na Ameí rica Latina, ou "serviços aos eleitores", no Reino Unido (Posada-Carboí ,
2005).

Categorias como "mandonismo", "coronelismo", "clientelismo", entre outras, trazem


embutidas a ideí ia de que as nossas praí ticas polííticas saã o imperfeitas, atrasadas ou inferiores.
Trata-se de classificações que tomam por base o princípio de que as sociedades
modernas devem estar comprometidas com os princípios democráticos universais
inspirados nas experiências européia e norte-americana. Desse ponto de vista, o
clientelismo seraí sempre visto como sintoma de nosso estaí gio de "subdesenvolvimento" e,
portanto, um problema para a "modernizaçaã o" da políítica.

Seguindo em outra direçaã o, podemos tomar o "clientelismo" como expressaã o de valores


culturais que privilegiam as relaçoã es sociais entre pessoas, por oposiçaã o aà s relaçoã es entre
indivííduos, no sentido que Roberto Da Matta (1979) emprestou ao termo. Isto eí , trata-se de
trocas e relaçoã es sociais que envolvem noçoã es como honra, gratidaã o e díívida moral. Em muitos
casos, isso ajuda tambeí m a perceber que as relaçoã es de troca empiricamente observadas naã o
se constituem numa esfera "políítica" aà parte, muito menos saã o a principal fonte de recursos da
populaçaã o. Tanto eí assim que muitos dos bens doados por polííticos saã o itens aparentemente
supeí rfluos, como perucas, camisas para times de futebol, brinquedos, latas de tinta etc.

Para a antropologia, eí preciso investigar tais trocas dentro do contexto etnograí fico em
que ocorrem, buscando a compreensaã o das relaçoã es sociais envolvidas. Em muitos casos, essa
compreensaã o eí fundamental para percebermos que a política opera com valores da
sociedade mais abrangente, tradicionalmente associados a outras esferas da vida
social, como família e religião, mas considerados ilegítimos quando operados na esfera
política. Isso naã o quer dizer, obviamente, que se queira justificar nem defender essas praí ticas
– cumpre, antes de tudo, compreendeâ -las.

Onde ficaria, entaã o, a responsabilidade e a contribuição da antropologia para com os


princíípios da democracia representativa e o aperfeiçoamento das suas instituiçoã es?

Como afirmou Abeí leà s (1997), a antropologia não tem como objetivo criticar as
práticas políticas, mas entender a maneira pela qual as relações de poder emergem
numa situação determinada, adquirindo significado para os atores sociais. Parte
sempre do pressuposto de que a "democracia" é um modelo teórico, e que, portanto,
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não existe de forma pura. Questionar conceitos como "clientelismo" eí deixar de tomar esse
modelo como ponto de partida; eí naã o considerar universais termos como, por exemplo,
"individualismo", "representaçaã o" e "domíínio puí blico"; eí , finalmente, perceber que o
universalismo eí um valor inspirado no paradigma da modernizaçaã o, na crença de que a
imparcialidade e a objetividade devem prevalecer sobre as emoçoã es e a subjetividade (como
as que estaã o presentes nas relaçoã es baseadas na honra e na daí diva).

A abordagem antropoloí gica privilegia teí cnicas de pesquisa qualitativas, voltadas para a
realizaçaã o de trabalho de campo com observaçaã o participante e entrevistas em profundidade,
frequü entemente produzindo "estudos de casos". No entanto, o antropoí logo naã o ignora que as
praí ticas e as representaçoã es observadas estaã o inseridas numa sociedade maior, num sistema
políítico formal, com instituiçoã es de larga escala. Nesse esforço, a antropologia de um modo
geral oscila entre sua fidelidade ao particular e a necessidade de produzir generalizaçoã es
(Lewellen, 1992). Por isso, eí fundamental que se estabeleça um diaí logo com outras
disciplinas, como a histoí ria, a cieâ ncia políítica, a sociologia, a linguü íística e a comunicaçaã o. EÉ a
partir de abordagens multi e interdisciplinares e da adoçaã o de uma perspectiva comparativa
que se pode chegar a compreender naã o soí as representaçoã es e as praí ticas da políítica num
grupo especíífico, mas tambeí m as relaçoã es desse material etnograí fico com a sociedade mais
ampla.

A antropologia pode contribuir nesse debate porque sua principal tarefa é


estudar não o que a política deve ser, mas o que ela é para um determinado grupo, em
um contexto histórico e social específico. Compreender, "do ponto de vista do nativo",
praí ticas muitas vezes diferentes daquelas que idealizamos pode gerar incoâ modo, intelectual
ou cíívico, mas um incoâ modo necessaí rio, pois, como disse Geertz, "se quiseí ssemos verdades
caseiras, deverííamos ter ficado em casa" (2001, p. 67).

ANTROPOLOGIA POLÍTICA – ESTUDO DIRIGIDO

Analise crítica do texto

1. Entender a organizaçaã o social de grupos e etnias sem a presença de um sistema


políítico formal, isto eí , sem Estado.

2. A políítica eí entendida, aqui, principalmente como um meio de acesso aos recursos


puí blicos, no qual, o políítico atua como mediador entre comunidades locais e diversos
nííveis de poder.

Complementação do Estudo com a pesquisa:

1. Pesquisar conceitos de poder, políítica e estado.

2. Conceito de direitos polííticos.

3. Quais saã o os direitos polííticos elencados na constituiçaã o de 1988.

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