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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ


CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL ENSINO NA SAÚDE

GISELE LOPES OLIVEIRA

FORMAÇÃO DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE NA


ATENÇÃO ÀS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS:
PESQUISA-AÇÃO COMO MEDIAÇÃO DE SABERES

FORTALEZA-CE
2015
2

GISELE LOPES OLIVEIRA

FORMAÇÃO DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE NA


ATENÇÃO ÀS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS:
PESQUISA-AÇÃO COMO MEDIAÇÃO DE SABERES

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado


Profissional Ensino na Saúde - CMEPES da
Universidade Estadual do Ceará, como
requisito para obtenção do título de Mestre em
Ensino na Saúde.

Área de Concentração: Formação e


Desenvolvimento Docente na Saúde.

Linha de Pesquisa: Processo Ensino-


Aprendizagem nos Serviços de Saúde.

Orientadora: Dra. Cleide Carneiro

FORTALEZA-CE
2015
3
4
5
6

AGRADECIMENTOS

Inicialmente, a Deus, por sempre se fazer presente na minha vida, por ser refúgio nos
momentos de angústia e aflição, fonte inesgotável de fé e esperança, fazendo-me acreditar que
tudo é possível, e jamais desanimar em momentos difíceis.

Aos meus pais, Ana Geny Oliveira e Valdery Lopes, que na sua humildade e simplicidade
sempre me apoiaram nos desafios e vibraram comigo nas conquistas; pela formação sempre
fundamentada na valorização da educação, da honestidade, da lealdade, e no respeito ao
próximo.

A Flávio Ribeiro, meu noivo, pela compreensão e pelo apoio ao longo dessa jornada, sempre
disposto a assumir nossos compromissos, deixando-me mais livre para o mestrado e a
execução deste trabalho.

Aos meus irmãos, Patrícia Oliveira e Waldebergson Oliveira, pelo apoio ofertado durante
esta jornada, criando condições de possibilidade para que eu pudesse ter maior dedicação ao
curso e à pesquisa.

A Lariza Montenegro, grande amiga, pelo apoio, incentivo nos momentos mais difíceis
deste percurso. Você foi fundamental! Obrigada!

Aos colegas do Programa de Mestrado em Ensino na Saúde - Universidade Estadual do Ceará,


em especial Laudicéia Noronha e Karla Bruna, pelo convívio, pela solidariedade, amizade
e pelas discussões acadêmicas.

Aos professores do Programa de Mestrado em Ensino na Saúde - Universidade Estadual do


Ceará, pela inestimável contribuição no meu processo de formação.

À Profa. Dra. Cleide Carneiro, enquanto coordenadora do Programa de Mestrado em Ensino


na Saúde - Universidade Estadual do Ceará, por ter possibilitado condições que favoreceram a
aprendizagem e o crescimento profissional em diferentes fases da minha formação. Enquanto
minha orientadora, amiga e condutora deste processo. Os sentimentos de respeito, admiração
e gratidão repercutem de maneira mais intensa, ao chegar ao momento final dessa jornada.
7

Agradeço pela acolhida generosa, ao aceitar-me como orientanda, dispondo-se a colaborar


com a minha formação. Sou inteiramente grata por sua incansável disposição em apoiar-me
ao longo da caminhada. Muito obrigado pela oportunidade de aprendizado e crescimento!

Ao Prof. Dr. Carlos Garcia Filho, pelos ensinamentos e, sobretudo, pelo apoio incondicional
na construção desta Dissertação, expressos durante os momentos de enfrentamentos
necessários para uma condução mais tranquila da minha formação.

Aos professores que compõem a Banca Examinadora, doutores José Jackson Coelho
Sampaio e Ana Patrícia Pereira Morais, pela colaboração e disponibilidade em
compartilhar o conhecimento.

Às funcionárias do Programa de Mestrado em Ensino na Saúde - Universidade Estadual do


Ceará, Cláudia e Tatiana, pelo apoio e pela prontidão em atender as nossas demandas
acadêmicas.

Aos gestores e trabalhadores da Rede Municipal de Saúde de Iguatu, em especial aos Agentes
Comunitários de Saúde, personagens fundamentais e imprescindíveis nas ações da Atenção
Básica no município. Obrigada pelo acolhimento, apoio e pela colaboração necessários ao
desenvolvimento desta pesquisa.
8

Eu recuso qualquer posição fatalista


diante da história, diante dos fatos. (...)
Nenhuma realidade é assim mesmo.
Toda realidade está aí, submetida à
nossa possibilidade de intervenção nela.

Paulo Freire
9

Oliveira GL. Formação de Agentes Comunitários de Saúde na Atenção às Doenças Crônicas


não Transmissíveis: Pesquisa-Ação como Mediação de Saberes. [Dissertação] Fortaleza – CE:
Universidade Estadual do Ceará – UECE; 2015.

RESUMO

As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são a causa principal de mortalidade e


incapacidade prematura na maioria dos países do mundo. Frente à tamanha complexidade,
põe-se em questão a formação dos Agentes Comunitários de Saúde no enfrentamento ao
maior problema de saúde pública no Brasil. Com isso, a pesquisa objetivou analisar a
formação dos Agentes Comunitários de Saúde frente à complexidade das DCNT, além de
caracterizar o perfil socioeconômico e formativo dos ACS e mapear os conhecimentos destes
sobre as DCNT a partir da formação e prática. Metodologia: O estudo foi do tipo pesquisa-
ação, e teve como cenário a Atenção Básica do Município de Iguatu, mais precisamente a
Unidade Básica de Saúde Alencar I. O estudo contou com a participação de 12 participantes,
considerados informantes-chave para pesquisa. Contou-se, ainda, com mais seis pessoas
envolvidas no estudo: médico da Unidade, enfermeiro, dentista e três usuários. Estes
participantes formaram o “grupo de observação” que foi responsável pela elaboração do plano
de ação educativo. Utilizou-se como técnica para coleta de dados a observação participante,
entrevista semiestruturada e grupos focais. Lançou-se mão do diário de campo para registro
das informações observadas. A pesquisa em questão seguiu os passos da pesquisa-ação
identificadas neste estudo pelo estabelecimento do contato com o grupo pesquisado.
Realização da Observação Participante e Entrevista Individual, da pactuação e constituição do
Grupo de Observação, composição do plano de ação educativo, de oficinas temáticas e,
posteriormente, a fase de avaliação com a técnica do seminário. A pesquisa obedeceu à
Resolução 466/12 e foi aprovada pelo Comitê de Ética, conforme parecer nº723.857.
Resultados e discussões: Para caracterização dos sujeitos, observou-se que a faixa etária
predominante foi de 30 a 40 anos, 11 eram do sexo feminino, todos concluíram o Ensino
Fundamental, 10 concursados. Em relação à formação, foram observados que apesar dessa
exigência, existiam profissionais que trabalhavam como ACS há mais de três anos e nunca
realizaram o curso introdutório, nove ACS realizaram o curso apenas parcialmente. As falas
demonstraram fragilidades na formação na atenção às DCNT, ficando evidente a
aprendizagem adquirida com as experiências vivenciadas na comunidade e a equipe.
Identificando as limitações, procedeu-se aos encontros para oficinas com especialistas
direcionadas às temáticas definidas no plano de ação elaborado no grupo de observação,
totalizando cinco encontros, realizadas na UBS estudada. Após esse momento, ocorreu o
Seminário, empregado de maneia avaliativa, com a finalidade de divulgar o conhecimento
adquirido nas oficinas aos demais ACS do município. Considerações finais: Entendendo que
a formação de um profissional deve ser contínua, é importante salientar a necessidade de
ações voltadas para formação permanente, fazendo-se necessária a implementação da Política
de Educação Permanente nesse município, para assim propiciar qualificação mais adequada
ao trabalho pelos desempenhados dos ACS. Acredita-se que foi estabelecida relação dialógica
e horizontalizada entre pesquisadora e participantes, possibilitando a identificação de suas
necessidades, o respeito pelas habilidades e os conhecimentos prévios, além de contribuir e
provocar, sobremaneira, a reflexão e a crítica.

Palavras-Chave: Agentes Comunitários de Saúde. Doenças Crônicas. Formação.


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ABSTRACT

The Chronic Noncommunicable Diseases (NCDs) are the leading cause of mortality and
premature disability in most countries of the world. Faced with such complexity puts into
question the training of Community Health Workers in addressing the major public health
problem in Brazil. With this, the paper analyzes the training of Community Health Agents
with the complexity of NCDs, and characterize the socioeconomic and training profile of the
ACS and map the knowledge of ACS on NCDs from their training and practice.
Methodology: The study was the type action research, and took place at the Primary Care in
the city of Iguatu, specifically the Basic Health Unit Alencar I. The study included the
participation of 12 participants, considered key informants for research. We also have six
people involved in the study: Medical Unit, nurse, dentist and 3 users. These participants
formed the "watch group" that was responsible for preparing the educational plan of action.
Used as a technique for data collection participant observation, semi-structured interviews and
focus groups. We used a field diary to record information observed. The research in question
followed the steps of action research identified in this study by establishing contact with the
research group, Achievement of Participant Observation and Personal Interview, Realization
of the agreement and constitution of the Monitoring Group, composition of the education
action plan, conducting thematic workshops and subsequently the assessment phase with the
technical seminar. The study followed the Resolution 466/12 and was approved by the ethics
committee with the opinion nº723.857. Results and discussion: To characterize the subjects
observed that the predominant age group was 30-40 years old, 11 are female, all completed
elementary school, 10 gazetted. Regarding the formation was observed that despite this
requirement there are professionals working as ACS for more than 3 years and have never
performed the introductory course, 9 ACS took the course only partially. The statements show
weaknesses in training in attention ace NCDs, evidencing the acquired learning from the
experiences in the community and with the team. Identifying constraints proceeded to the
meetings for workshops with experts addressed the issues set out in the action plan prepared
in the observation group, totaling five meetings, held at UBS itself. After that moment came
the Seminar, employee maneia evaluative in order to disseminate the knowledge gained in the
workshops to other ACS in the city. Final Thoughts: Understanding the formation of a
professional should be continuous, it is important to stress the need for further actions to
ongoing formation, making it necessary to the implementation of the permanent education
policies in this municipality, thus providing a better qualification to work by ACS played. We
believe that a dialogical and horizontally relationship between researcher and participants was
established, enabling the identification of their needs, respect for the skills and previous
knowledge, and contribute and cause greatly in reflection and criticism.

Keywords: Community Health Workers. Chronic Diseases. Training.


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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABS – Atenção Básica à Saúde


ACS - Agente Comunitário de Saúde
ADA - American Diabetes Association
ADO – Antidiabéticos Orais
CIB – Comissão Intergestora Bipartite
DCNT- Doenças Crônicas Não Transmissíveis
ESF- Estratégia Saúde da Família
EPS – Educação Permanente em Saúde
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LILACS - Sistema Latino-Americano e do Caribe de Informações em Ciências da Saúde
MS - Ministério da Saúde
NASF – Núcleo de Apoio ao Saúde da Família
NOAS – Norma Operacional da Atenção Básica
OMS – Organização Mundial da Saúde
OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde
PAB – Piso Assistencial Básico
PACS – Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PBL – Aprendizagem Baseada em Problemas
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PSF– Programa Saúde da Família
SBD – Sociedade Brasileira de Diabetes
SIAB – Sistema de Informação da Atenção Básica
SUS – Sistema Único de Saúde
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UBS– Unidade Básica de Saúde
UPA – Unidade de Pronto Atendimento
UECE – Universidade Estadual do Ceará
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LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 1: Mortalidade proporcional por grupo de causas x 100.00 hab no 54


Município de Iguatu-CE, 2014
Tabela 2: Distribuição dos Agentes de Saúde e número de famílias acompanhadas 55
por equipe de saúde no município de Iguatu-CE, 2014
Tabela 3: Caracterização do perfil sociodemográfico 69
Quadro I: Passos e adequação da pesquisa-ação ao cenário da investigação 51
Quadro II: 1ª Oficina Temática: Roteiro de Trabalho 87
Quadro III: 2ª Oficina Temática: Roteiro de Trabalho 87
Quadro IV : 3ª Oficina Temática: Roteiro de Trabalho 88
Quadro V: 4ª Oficina Temática: Roteiro de Trabalho 89
Quadro VI:- 5ª Oficina Temática: Roteiro de Trabalho 90
Quadro VII : Seminário: Roteiro de Trabalho 91
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GRÁFICOS E ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Modelo de Atenção às condições crônicas adotado no Brasil, Mendes 30


(2013)
Mapa 1: Municípios pertencentes a 18ª Regional de Saúde do Ceará 51
Mapa 2: Município de Iguatu 127
Mapa 3: Territorialização do Distrito de Alencar I – Iguatu-CE 128
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 15
1.1 DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO, PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E
OBJETIVOS DA INVESTIGAÇÃO ........................................................................... 15
1.2 PROBLEMATIZAÇÃO ............................................................................................. 19
1.3 JUSTIFICATIVA........................................................................................................ 22
1.4 OBJETIVOS .............................................................................................................. 26

2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 27


2.1 DESAFIO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS.................. 27
2.1.1 Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT): Epidemiologia e Situação de 27
Saúde no Brasil......................................................................................................
2.1.2 Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT): Modelo de Cuidados no Brasil... 29
2.1.3 Atenção Primária a Saúde no enfrentamento às DCNT: rastreamento, controle e 34
estratificação de risco...........................................................................................
2.2 AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE E O PROCESSO DE TRABALHO NA
ATENÇÃO BÁSICA................................................................................................ 37
2.3 FORMAÇÃO DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE ................................... 43
2.4 POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE:
POSSIBILIDADES DE EMANCIPAÇÃO............................................................. 47
3 METODOLOGIA......................................................................................................... 52
3.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO ......................................................................... 52
3.1.1ADEQUAÇÃO DA PESQUISA-AÇÃO AO CENÁRIO DESTA
INVESTIGAÇÃO...................................................................................................... 54
3.2 LOCAL E PERÍODO DO ESTUDO...................................................................... 56
3.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO........................................................................ 59
3.4 TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS.......................... 61
3.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS.................................................... 69
3.6 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA .................................................................. 71
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................... 73
CAPÍTULO I CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DO ESTUDO E
ASPECTOS FORMATIVOS .......................................................................................... 73
15

1 CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO ................................... 73


2 ACS E A FORMAÇÃO PARA PRÁTICA EM SAÚDE: PERCEPÇÕES DO
COTIDIANO DO TRABALHO....................................................................................... 75

CAPÍTULO II DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: SABERES E


PRÁTICAS NO COTIDIANO DO TRABALHO DOS AGENTES COMUNITÁRIOS
DE SAÚDE........................................................................................................................
81
CAPÍTULO III PLANO DE AÇÃO (INTERVENÇÃO EDUCATIVA) E 86
AVALIAÇÃO (SEMINÁRIO).....
1 CONSTITUIÇÃO DO GRUPO DE OBSERVAÇÃO .............................................. 86
1.1 ENCONTROS COM O GRUPO DE OBSERVAÇÃO .......................................... 87
2 OFICINAS TEMÁTICAS REFLEXIVAS ................................................................. 89
3 SEMINÁRIO .............................................................................................................. 95
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 100

REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 104

APÊNDICES.................................................................................................................... 111
15

1 INTRODUÇÃO

1.1 Delimitação do objeto de estudo, pressupostos teóricos e objetivos da investigação

Com base nos principais problemas de saúde ligados à população assistida na


Estratégia Saúde da Família (ESF) pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), estão
incluídas as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Com esse advento, o Ministério
da Saúde lançou uma rede de combate e enfrentamento às doenças crônicas. Essa rede
funciona com linhas de cuidados específicas voltadas à prevenção e ao tratamento das DCNT,
principalmente o diabetes, a hipertensão arterial, alguns tipos de cânceres, além de combater o
excesso de peso e a obesidade, incluindo o tratamento cirúrgico para obesidade severa
(MENDES, 2012).
A Atenção Básica (AB) vem sendo formada cada vez mais por equipes da
Estratégia Saúde da Família, cuja expansão progressiva melhorou o acesso ao cuidado
integral e contínuo, propiciando, assim, uma plataforma para a prevenção e o
gerenciamento dessas doenças. Contudo, lacunas relevantes permanecem na atenção básica,
uma vez que somente agora aspectos importantes do modelo de cuidados crônicos estão
começando a ser incorporados.
Para ter acesso à atenção especial para as DCNT, a porta de entrada dos pacientes
são as Unidades Básicas de Saúde (UBS), que acolhem os pacientes com equipes
multidisciplinares formada por médicos, enfermeiros, ACS, além de outros profissionais. Os
ACS representam um segmento considerável da força de trabalho, pois, conforme dados do
Ministério da Saúde, em 2014, estão atuando cerca de 285 mil agentes de saúde em todo o
País. Não é exagero afirmar que a universalização da cobertura dos serviços, como
contrapartida do dever do Estado de assegurar o direito social à saúde, dificilmente alcançaria
o nível atual não fosse a atuação desses trabalhadores.
De acordo com Bógus (2007), os profissionais de saúde têm grande
responsabilidade na educação e no alerta à família para prevenção do adoecimento, pois estes
lhe conferem uma grande responsabilidade, a de promover saúde. São interventores ativos na
mudança de comportamentos e atitudes, no sentido da prevenção de agravos e minimização
das sequelas que deles podem advir.
As DCNT constituem problema de saúde global e ameaça à saúde e ao
desenvolvimento humano, além de serem doenças previsíveis, passível de ser medido
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clinicamente no caminho causal que podem resultar na doença cardiovascular sintomática


que, por sua vez, geram o maior custo referente a internações hospitalares no sistema de
saúde nacional. Em 2007, 12,7% das hospitalizações não relacionadas a gestações e
27,4% das internações de indivíduos de 60 anos ou mais foram causadas por doenças
cardiovasculares (BRASIL, 2013c). [Brasil, 2013 a e b devem vir antes no texto e ao final]
As DCNT possuem condições que são muito prevalentes, multifatoriais, com
coexistência de determinantes biológicos e socioculturais, e sua abordagem, para ser efetiva,
necessariamente, envolve as diversas categorias profissionais das equipes de Saúde e exige o
protagonismo dos indivíduos, suas famílias e comunidade.
A atenção ao portador de DCNT na ESF é um desafio exatamente por ser uma
doença crônica, de evolução progressiva, que pode possibilitar o aparecimento de agravos à
saúde quando não tratada adequadamente. Exige especial atenção tanto dos profissionais da
saúde, como do paciente, motiva manutenção de atendimento de equipe multidisciplinar e, por
parte do paciente, educação permanente de autogestão e suporte para prevenção de
complicações agudas e redução do risco de complicações ao longo prazo. Os padrões de
cuidados se destinam a proporcionar aos pacientes a elaboração de metas desejáveis e melhor
adesão ao tratamento (BORNSTEIN; STOTZ, 2009).
O número temático da revista The Lancet sobre a Saúde no Brasil apresenta, no
capítulo sobre doenças crônicas não transmissíveis, o enorme desafio para o controle dessas
doenças e seus fatores de risco. Às doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas, renais,
diabetes e cânceres foram atribuídos cerca de 70% dos óbitos, em 2007 (SCHMIDT, 2011).
Muitas doenças deste grupo têm fatores de risco comuns e demandam por
assistência continuada de serviços e ônus progressivo, na razão direta do envelhecimento dos
indivíduos e da população. Para Mendes (2011), o modelo de atenção não tem acompanhado a
mudança no perfil epidemiológico da população, na qual há ascensão das doenças crônicas,
mostrando-se inadequado para enfrentar os desafios postos por essa situação de saúde.
O campo de estudo das Doenças Crônicas, cada vez mais explorado, seja pelo
aumento significativo da população atingida, seja por questões que os incluem nos
determinantes de riscos sociais ou da saúde, como os Doentes Renais Crônicos, Vítimas de
Amputações ou cegueira adquirida, que oneram ainda mais os serviços de saúde, traz à tona a
preparação dos ACS para o trabalho junto à comunidade.
O Modelo de Atenção para o cuidado das pessoas com doenças crônicas adotado no
Brasil tem seus fundamentos embasados no Chronic Care Model, e propõe um modelo para
atenção às condições crônicas que foi implantado com adaptações. Em seus princípios, estão a
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organização da atenção à saúde, os recursos da comunidade, o autocuidado apoiado, desenho


da linha de cuidado, suporte às decisões clínicas, sistema de informações clínicas (BRASIL,
2013).
A partir desse modelo, das experiências internacionais e dos modelos de
determinação social da saúde e de pirâmide de riscos, Mendes (2011) propõe o Modelo de
Atenção às Condições Crônicas (MACC), o qual estrutura-se pela estratificação de cinco
níveis de intervenções de saúde sobre seus determinantes e suas populações a partir da qual se
definem ações e práticas da equipe de saúde mais adequadas a cada grupo-estrato.
Com o MACC implantado no Brasil, a Atenção Básica vem sendo considerada
espaço privilegiado para atuação no enfrentamento das DCNT, pois dos cinco níveis de
intervenção, em uma escala progressiva, a atenção básica possui forte atuação em três níveis,
estando fora da sua gerência apenas os níveis 4 e 5, que tratam de condições mais complexas
e de alto risco, que exigem profissionais especializados e atenção secundária e terciária.
Mesmo com os níveis fora da gerência da Atenção Básica, os portadores de condições
crônicas ainda são acompanhados pela equipe de saúde e necessitam, ainda, do apoio ao
autocuidado.
Diante de um modelo de atenção baseado em um cuidado prolongado, deve-se
ressaltar a importância de uma equipe composta por profissionais capacitados para o
gerenciamento dessas condições que impõem a estes profissionais a competência necessária
para atuar junto aos portadores das doenças crônicas.
Nessa conjuntura, os ACS surgem como um dos profissionais responsáveis pela
promoção da saúde da família. O Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) foi
introduzido no Brasil em 1991, como uma tática para o desenvolvimento de atividades
relacionadas à prevenção de doenças e educação em saúde. Em 1994, o Ministério da saúde
propôs o Programa Saúde da Família (PSF) como estratégia de reestruturação da atenção à
saúde (BRASIL, 2006a).
Por desenvolver o trabalho, em especial, na conjunção familiar, o ACS membro da
equipe de saúde emerge como um profissional importante, tanto na perspectiva da prevenção
de agravos a saúde, incluindo a detecção precoce de sinas e fatores de risco nos ambientes
familiares, como no manejo dos casos em que não foi possível evitar a doença. Conforme
Lara, Brito e Rezende (2012), o cotidiano dos ACS é composto por práticas educativas
direcionadas aos cuidados preventivos específicos ou gerais e àquelas de promoção da saúde
que melhoram a qualidade de vida, tendo como principal foco a família e como instrumento, a
visita domiciliar.
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Marzari, Junges e Selli (2011) enfatizam que o ACS surge como um elo que
possibilita a confiança e o vínculo entre a equipe de saúde e a comunidade assistida. Contudo,
sua “formação” para o desempenho dessas funções precisa ser revista, considerando a
amplitude do seu papel. Koyashiki, Souza e Garanhani (2008) corroboram ao afirmar que,
muito embora se tenha conhecimento do volume de atribuições que lhe é conferido, percebe-
se o ACS como instrumento de valor inestimável ao processo de construção social da saúde,
uma vez que sua atuação oferece possibilidades de importantes avanços rumo à integralidade
da atenção.
Mesmo com tamanha importância no contexto da Atenção Básica, estudos como os
de Lunardelo (2004), Nunes et al. (2010), Silva e Dalmaso (2012) e Tomaz (2002) apontam a
insatisfação do agente quanto ao processo de capacitação para o trabalho, relatam que o
processo de formação ainda é desestruturado, fragmentado e, na maioria das vezes,
insuficiente para desenvolver as novas competências necessárias para o adequado
desempenho de seu papel.
A dimensão técnica é necessária, deve ser exercida com qualidade, mas sem perder
de vista a dimensão social, política e formativa. Investir na formação desses profissionais que
estão em maior número de profissionais da ESF e diretamente ligados à família, onde
possuem a função primordial da prevenção do desenvolvimento de agravos é necessário,
imprescindível.
De maneira geral, o discurso predominante concebe que o ACS deve atuar nos
processos de atenção e educação em saúde, principalmente como mediador entre a instituição
saúde, seus referenciais científicos, seus instrumentos e técnicas, de um lado, e a população,
seu conhecimento cotidiano e seus valores, de outro. Entretanto, a formação profissional dos
agentes de saúde tem se caracterizado pela precariedade e diversidade, uma vez que para
função de ACS, desde o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e durante
muitos anos, o Ministério da Saúde (MS) estabeleceu como critério de escolaridade as
habilidades de ler e escrever (BRASIL, 2006a). A formação profissional restringiu-se, em
geral, à capacitação em serviço, realizada pelo enfermeiro-supervisor, principalmente no caso
do PACS, ou pela equipe do Programa Saúde da Família (PSF), operando-se de forma distinta
nos diversos municípios que adotaram a Estratégia Saúde da Família (FILGUEIRAS; SILVA
2011).
Após alguns anos de atuação, sensibilizou-nos a dificuldade de atuação do ACS na
assistência ao portador de DCNT. Além disso, a busca de alguns pacientes por assistência, em
decorrência de problemas de saúde já instalados, ensejava preocupação ao pensar que muitas
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das situações apresentadas no serviço de atenção básica são passíveis de prevenção. Para
tanto, a equipe deve estender suas atividades para esta população, com a busca e o
conhecimento da realidade que se apresenta na comunidade.
O contexto atual clama pela estruturação do trabalho das equipes de Atenção
Básica, cujos processos de trabalho devem responder a muitas prevalentes e complexas
doenças crônicas, que não “curam”, como as doenças agudas, mas permanecem ao longo da
vida dos indivíduos. Recentes evidências mostram que equipes multidisciplinares, atuando de
forma coordenada, preparadas para orientar e apoiar as pessoas a lidar com suas condições e a
responder às agudizações desses processos, alcançam melhores resultados (BRASIL, 2013d).
A Atenção dispensada às famílias e comunidade, bem como estratificação de risco
e rastreamento de portadores de Doenças Crônicas é de responsabilidade da Atenção Básica,
em que se deve considerar o seu papel, enquanto ordenadora da rede de atenção e
coordenadora do cuidado. Os profissionais atuantes na ESF devem estar preparados para
atuação na prevenção do agravo e complicações nos portadores já diagnosticados. Com
tamanha responsabilidade, o que ainda se faz necessário refletir é sobre a competência do
ACS para atuação na ESF, pois após sua implantação, seu papel foi ampliado, saiu do foco
materno-infantil para família e comunidade, além de exigir novas competências no campo
político e social. Deste modo, é necessário que o ACS tenha incorporado em sua profissão
nível de escolaridade mais elevado, para abranger esse novo papel, bem mais complexo e
abrangente (CHIESA; FRACOLLI, 2004).
De forma geral, o processo de Educação Permanente em Saúde deve contribuir para
melhorar a qualificação dos profissionais, uniformizar e sistematizar um atendimento ao
usuário em termos de integralidade, educação em saúde e desenvolvimento do
autogerenciamento. O intercâmbio e a análise das informações favorecem a aprendizagem
multiprofissional e interdisciplinar, na qual ação-reflexão-ação podem ser concebidas ao
mesmo tempo.

1.2 Problematização

Com o passar do tempo, o ACS foi construindo junto com a equipe a sua função,
ocupando o lugar de articulador entre a comunidade e a equipe de saúde, ampliando o poder
de atuação junto à população e qualificando a assistência prestada. A equipe de saúde hoje
reconhece o trabalho desse profissional, sendo que, às vezes, há até um exagero de ações
atribuídas a ele.
20

O fato de o agente comunitário de saúde morar na área de abrangência do serviço


no qual atua, confere-lhe a possibilidade de conviver com a realidade e as práticas de saúde
das famílias, conhecendo profundamente a população, tornando-se um representante da
comunidade no serviço de saúde, aumentando o vínculo entre os profissionais de saúde e a
comunidade, o que em certa medida contribui para melhoria da atenção à saúde.
É esperado que o agente comunitário de saúde seja protagonista na construção de
vínculos entre a comunidade, as pessoas e a família com os serviços de saúde e que
intermedeiam o saber (prática biomédica) e a cultura da sociedade (território no qual
trabalha). Neste sentido, o trabalho deste profissional tem sido pautado em fortalecer a relação
entre a população e a equipe de saúde, e para que isso ocorra, é necessária qualificação e
exatidão em suas funções e competência (BRASIL, 2009c). [Onde estão Brasil 2009 a e b?
Também devem vir antes do c no texto e ao final.]
Observa-se que na maioria das regiões do país, os ACS iniciaram seus trabalhos
sem formação específica, receberam informações básicas sobre o que coletar em suas visitas e
aprendem no cotidiano dos trabalhos o aprender-fazendo, dependendo do bom senso e
julgamento de cada um (MARZARI; JUNGES; SELLI, 2011).
Ao considerar a formação dos agentes comunitários de saúde como um dos pilares
que sustenta a inserção e as práticas desenvolvidas por esses profissionais, os ACS trazem à
tona a necessidade de incorporar novos elementos à sua prática e aos seus conceitos, a partir
de desconfortos experimentados no cotidiano do trabalho, percebendo que o modo de fazer é
insuficiente para abranger os desafios postos. A vivência e a reflexão sobre as práticas vividas
produzem insatisfação, levando à busca permanente de alternativas para enfrentar o desafio e
produzir transformações na realidade concreta.
Da compreensão do trabalho do ACS como um trabalho simples, que não requer
formação específica e complexa para realização, podendo ser desenvolvido a partir dos
atributos que este trabalhador possui a priori pelo fato de ser originário da comunidade,
reforça-se a não profissionalização dessa função e a manutenção de uma política de
qualificação precária (MARTINES; VEIGA 2008).
Para Tomaz (2002), é sugerido que os agentes comunitários de saúde sejam
incluídos em processos de educação permanente, que de acordo com Ceccim (2004, p. 3):

...traz em sua centralidade a porosidade à realidade mutável e mutante das ações e


dos serviços de saúde, a sua ligação política com a formação de perfis profissionais
e de serviços, a introdução de mecanismos, espaços e temas que geram auto-análise,
autogestão, implicação, mudança institucional, enfim, pensamento (disruptura com
instituídos, fórmulas ou modelos) e experimentação (em contexto, em afetividade –
sendo afetado pela realidade).
21

A partir da concepção adotada para efetivar a formação do agente comunitário de


saúde, constata-se que a educação deve ser permanente, visto que o lugar é dinâmico e as
ações desenvolvidas nesse espaço são transitórias. O território, portanto, passa a ser
considerado como um espaço privilegiado de interação, diálogo, reflexão, tessitura do
conhecimento, daquilo que ainda não se sabe, mas que busca, do exercício da dúvida e da
investigação como possibilidade (FILGUEIRAS; SILVA, 2011).
Diante dessas informações e alicerçada na observação empírica do número
significativo de portadores de DCNT, aduz-se para o cerne da discussão alguns apontamentos
e observações com base na vivência da atenção Básica junto a estes profissionais: o primeiro
remete à ineficiência na formação destes profissionais e o segundo à falta de habilidade que
decorre da carência de formação adequada para atuar no enfrentamento das DCNT.
Tendo em vista a observância na prática da produção em saúde desses
trabalhadores, a insuficiência e inadequada formação dos ACS, que acontece de forma
descontínua e baseada em simplificação técnica e de senso comum diante da complexidade
das Doenças Crônicas na Atenção Básica, faz-se necessário repensar formação e competência
deste profissional diante do maior problema de saúde pública no Brasil.
Dentro desse contexto, e de relevante papel, os ACS tornam-se personagens
fundamentais para a devida assistência, deverão estar munidos do saber construído junto à
equipe da ESF, na contribuição para diminuição/controle dos principais agravos à saúde da
população. Em meio a tantas incumbências, este profissional deverá sentir-se capaz para
realizar esta atividade que seja a construção de saberes e troca de experiências, além de
repassar os conhecimentos no cuidado às famílias.
Quando se discorre sobre o desenvolver ações educativas como atividades amplas
e complexas, não significa, necessariamente, afirmar que são difíceis. As ações educacionais
desenvolvidas pelo ACS fazem parte do cotidiano. Essas ações devem buscar a interação para
superação conjunta das dificuldades, por meio do exercício do diálogo, do saber escutar. São
momentos de encontro, como definiu o educador Paulo Freire. Segundo este educador, “nesse
encontro não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos: há homens que, em comunhão,
buscam saber mais”. [Faltam ano e páginas]
Alicerçada por tantos questionamentos sobre as funções, características e
competências peculiares a esse profissional, acredita-se que a pesquisa possa mostrar a
realidade sobre aspectos relativos à formação dos ACS frente aos desafios das doenças
crônicas, e também colaborar com novos estudos, além de fornecer informações a outros
22

profissionais da Estratégia Saúde da Família e Gestores, na perspectiva de compreensão das


funções e responsabilidades desses profissionais que atuam em comunidades. Vale ressaltar
que é de interesse do Ministério da Saúde não somente a ampliação mais a efetivação do
Programa Saúde da Família, atual Estratégia Saúde da Família, como também o
desenvolvimento de estudos que possam dar visibilidade e impacto ao trabalho e à formação
dos agentes.
É nesta perspectiva que surge o outro ponto para relevância da pesquisa, pois
através desta, poder-se-á propor um canal para implementação de uma estratégia educativa
que colabore para que os ACS reconheçam sua importância no processo de promoção da
saúde de pessoas portadoras de DCNT, e por meio das visitas domiciliares, possam ser
sensibilizados a reconhecerem fatores de risco potencialmente causadores de adoecimento,
através de uma proposta que visa trabalhar, coletivamente, problemas identificados não
somente por pesquisadoras, mas, principalmente, pelos próprios participantes do estudo.
A partir do enfoque apresentado, este estudo poderá fornecer à comunidade
científica informações acerca do conhecimento dos ACS sobre DCNT, podendo ainda ser
capaz de motivar o interesse para novas pesquisas.
Frente ao exposto, é mister assegurar que o aperfeiçoamento das competências
conduz o enriquecimento cognitivo, senso crítico e capacidade de intervenção sobre suas
vidas e o ambiente social, com o qual devem respeitar as necessidades dos usuários e da
comunidade de modo individual e humanizada, além de favorecer a reflexão sobre a realidade
do cuidado prestado no ambiente de trabalho, dando autonomia ao profissional no
gerenciamento das soluções do problema existente.

1.3 Justificativa

A Política de Educação Permanente em Saúde vem também ao encontro das


demandas por formação dos profissionais de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), pois
destina-se à qualificação das práticas dos profissionais de saúde, fortalecendo a promoção e
prevenção de agravos no SUS, oferecendo assistência integral e autonomia aos trabalhadores
de saúde para eficácia da prática educativa. Busca também a formação de um profissional
crítico, capaz de aprender a reaprender, de trabalhar em equipe, de considerar a realidade
social para prestar assistência humana e de qualidade (BRASIL, 2006b).
Em 2009, iniciaram-se as atividades da autora como enfermeira na Estratégia Saúde
da Família, do Município de Iguatu-CE. Com o decorrer do tempo e desempenhando o
23

trabalho na Atenção básica, aproximou-se das ações realizadas junto aos Agentes
Comunitários de Saúde (ACS). Nitidamente, o estudo tem como motivação central o sujeito
implicado no processo de formação profissional em saúde, visto que a vivência da
pesquisadora despertou o interesse por temática tão importante como sua formação
relacionada às DCNT.
Deparou-se com a realidade referente à dificuldade do ACS na prestação de
assistência sistematizada aos portadores de DCNT, observando diariamente o desenvolver de
duas atividades na prevenção dos agravos que ainda possam advir ao paciente, instigou-lhe a
possibilidade de pesquisar sobre suas competências para atuar no enfrentamento às DCNT.
As potencialidades do ACS na Atenção Básica se apresentam como peça
fundamental no desenvolvimento da população para o enfrentamento dos problemas de saúde,
principalmente na modificação das condições de vida que prejudicam os benefícios à saúde.
Entre as atribuições específicas destes profissionais, desenvolvidas nos domicílios e
ambientes comunitários de sua área de abrangência, estão incluídas algumas atividades que
diretamente têm relação com a temática deste estudo: a identificaqção de indivíduos e famílias
expostas a fatores de risco; o repasse de informações aos demais membros da equipe sobre a
situação das famílias acompanhadas, particularmente àquelas em situações de risco; e o
desenvolvimento de ações de educação e vigilância à saúde, com ênfase na promoção da
saúde e na prevenção de doenças/agravos (BRASIL, 2009b).
Ademais, o trabalho do ACS na prevenção de adoecimento e complicações
causado por essas doenças, também é apontado no Guia Prático do Agente Comunitário de
Saúde, do Ministério da Saúde, que enfatiza entre as ações de prevenção das doenças e
promoção à saúde o incentivo às boas práticas alimentares e atividades físicas, bem como a
orientação quanto à tomada de medicação, a busca ativa dos faltosos às consultas, atribuições
fundamentais desse profissional (BRASIL, 2004).
A meta de reduzir a mortalidade por DCNT, acima de tendências existentes, como
tem sido recomendado pela OMS, requer a redução da taxa atual de ocorrência das DCNT
no Brasil – um enorme desafio, visto que as tendências para as principais doenças e fatores de
risco não são favoráveis e dada a crescente epidemia de obesidade, não é provável que
essas tendências sejam revertidas em um futuro próximo. As desigualdades sociais
potencialmente evitáveis na distribuição do risco das DCNT continuarão a agir como um
grande e persistente gerador dessas condições para o futuro previsível. Além disso, o
desafio enfrentado pelo Brasil faz parte de um desafio global maior na área da saúde, que
precisa de ação política combinada mundialmente (BRASIL, 2013c).
24

AS DCNT constituem prioridades em saúde pública no Brasil e políticas para sua


prevenção e controle têm sido implementadas. Embora nem sempre haja uma avaliação
formal, o SUS tem feito grandes avanços, entre eles a implantação de intervenções
altamente custo-efetivas, como o controle do tabaco e a ampla distribuição de
medicamentos àqueles que têm alto risco de desenvolver doenças cardiovasculares. No
entanto, muito mais pode ser feito (MENDES, 2011).
O sistema de saúde brasileiro precisa ser fortalecido para oferecer assistência
aos portadores mediante modelos de atenção a condições crônicas, com base em
experiências locais; expansão e qualificação da Estratégia Saúde da Família; acesso
ampliado a medicamentos custo-efetivos; maior comunicação entre a atenção básica e
outros níveis de cuidado e formação adequada dos profissionais (FARIA, 2009).
A pesquisa em questão justifica-se, ainda, pois realizou-se busca nas bases de
dados por meio do Sítio da Biblioteca Virtual em Saúde, utilizando os descritores: Agente
Comunitário de Saúde and Doenças crônicas não transmissíveis, em que não se encontrou
publicação relacionando os dois temas. Percebeu-se, assim, “lacuna bibliográfica” com
relação à temática pretendida com este estudo, necessitando de intervenção para que se possa
investigar as ações voltadas a uma atenção qualificada pelo ACS no tocante à temática das
DCNT.
A relevância do estudo decorre, primeiramente, da contribuição para compreender
as lacunas existentes na formação destes ACS na perspectiva das DCNT, principalmente por
entender que estes profissionais não recebem formação específica, a oferta de cursos é
irregular. Ademais, concorda-se com Marzari, Junges e Selli (2011) quando afirmam que os
ACS compreendem que o trabalho cotidiano exige constante atualização e que, por isso,
necessitam de cursos de formação continuada. Contudo, essa formação e educação
permanente não podem acontecer de forma isolada e descontextualizada.
Os ACS realizam grande parte do acompanhamento de pessoas com DCNT. Por
isso, é fundamental que esses profissionais estejam preparados para identificar os fatores de
risco relacionados com a alimentação e que saibam realizar orientações sobre alimentação
saudável para um adequado controle metabólico e prevenção das complicações.
Na intenção de refletir e buscar estratégias no âmbito da prevenção de agravos e
na promoção da saúde, torna-se necessário o desenvolvimento de ações de cunho educativo,
direcionadas aos ACS que irão estar em contato com as famílias, no sentido de prevenir
complicações e aparecimento de novos casos.
25

Além do exposto, este tema buscou responder que as questões levantadas


apresentam relevância, a medida que os resultados possam servir de apoio para repensar os
processos formativos destes profissionais que prestam assistência na atenção primária, suas
práticas de saúde, produzindo mudanças no saber fazer do profissional.
É no trabalho e na luta dos agentes comunitários na atenção básica, que se percebe
como se dá o significado ao seu trabalho, evidencia-se o propósito de superar a precarização e
produzir processos de formação para esses profissionais mais adequados à complexidade de
seu processo de trabalho. Isso tem sido feito no sentido de demandar políticas públicas que
superem a contradição de os agentes serem profissionais centrais, mas desvalorizados; que
têm a missão de estabelecer vínculos intensos com as pessoas de sua comunidade, mas que
trabalham com vínculos precários: essas políticas devem superar a ideia de que tais
profissionais não precisam de uma formação para além de algo bastante simples e rápido. São
essas as contradições que mobilizam a pesquisa em questão.
O sistema de saúde brasileiro precisa ser fortalecido para oferecer assistência aos
portadores de DCNT, mediante modelos de atenção a condições crônicas, com base em
experiências locais; expansão e qualificação da Estratégia Saúde da Família; acesso ampliado
a medicamentos custo-efetivos; maior comunicação entre a atenção básica e outros níveis de
cuidado e aperfeiçoamento dos trabalhadores do SUS (BRASIL, 3013c).
O desafio de preparar profissionais adequados às necessidades do SUS implica,
dentre outras mudanças, profundas alterações na forma de organização da formação destes
profissionais. A busca de alternativas que propiciem a construção de programas de ensino que
possibilitem a maior aderência aos desenhos de organização da atenção à saúde,
aprendizagens significativas e desenvolvimento da capacidade de intervenção crítica e criativa
no sistema nacional de saúde, leva à incorporação do conceito de competência profissional,
cuja compreensão perpassa pela vinculação entre educação e trabalho, formação e
desenvolvimento institucional, aprendizagem e resolutividade da rede de atenção à saúde.
Assim, este estudo buscou compreender os problemas relativos à formação e ao
trabalho dos ACS em amplitude com relação à atenção a um dos maiores desafios atuais da
saúde no Brasil, o combate às DCNT, utilizando para isso os referenciais da pesquisa-ação e
com isso discutiu com os atores envolvidos a formação e atuação do ACS no enfrentamento
ao maior problema de saúde no Brasil, buscando implementar estratégias educativas que
pudessem auxiliar os ACS na formação e prática em ações junto à comunidade assistida.
26

1.4 OBJETIVOS

Geral
 Analisar a formação dos Agentes Comunitários de Saúde frente à complexidade das
DCNT.
 Estruturar um processo formativo para os ACS no tocante à temática das DCNT.

Específicos

 Caracterizar o perfil socioeconômico e formativo do ACS, mapeando os


conhecimentos sobre as DCNT a partir da sua formação e prática;
 Identificar as necessidades formativas dos ACS em relação às DCNT;
 Realizar ações de ensino-aprendizagem a partir das lacunas de conhecimentos sobre
DCNT, avaliando o processo de ensino-aprendizagem nas ações desenvolvidas.
27

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Segundo Thiollent (2011), a construção de uma investigação não depende apenas


da informação colhida por intermédio de técnicas empíricas. Na existência de um problema,
este deverá ser objeto de estudos mais aprofundados, sendo que as informações
circunstanciadas que são trazidas nas estratégias da pesquisa devem ser interpretadas à luz de
conhecimentos teóricos. De modo geral, pode-se considerar que o projeto da pesquisa-ação
precisa ser articulado dentro de uma problemática, com um quadro de referência teórica,
objetivando a geração de ideias, hipóteses ou diretrizes para orientar a pesquisa e as
interpretações.
Corroborando com a citação acima e articulando com o objeto da pesquisa – o
conhecimento do Agente Comunitário de Saúde acerca das DCNT, houve a necessidade de
aprofundamento de estudos para melhor entender o assunto e expor elementos importantes
encontrados dentro do contexto literário.
A composição do estudo ocorreu por meio da leitura de artigos, livros e manuais
ministeriais, que foram selecionados, em sua maior parte, a partir da busca virtual na
Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), em que foram encontrados artigos indexados nas diversas
bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Literatura Internacional em Ciências da
Saúde (MEDLINE), dentre outras. Para o levantamento dos artigos, utilizaram-se os
descritores controlados da Biblioteca Virtual em Saúde, por meio dos Descritores em Ciências
da Saúde, como Agentes Comunitários de Saúde and Doenças Crônicas. Os artigos
selecionados encontravam-se entre os anos de publicação 2008 a 2014. Enfatiza-se que
algumas informações tiveram que ser obtidas por meio da leitura de periódicos não indexados
nestas bases de dados, por conter aspectos regionais que também necessitam ser apresentados
no corpo do texto.
Dessa forma, expõe-se o conteúdo literário pertinente ao objeto em discussão.

2.1 DESAFIO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS

2.1.1 Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT): Epidemiologia e Situação de


Saúde no Brasil
28

Um grande desafio atual para as equipes de Atenção Básica é a Atenção em Saúde


para as doenças crônicas. Estas condições são muito prevalentes, multifatoriais, com
coexistência de determinantes biológicos e socioculturais, e sua abordagem, para ser efetiva,
necessariamente, envolve as diversas categorias profissionais das equipes de saúde e exige o
protagonismo dos indivíduos, famílias e comunidade.
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) vêm aumentando de forma
alarmante. Das 57 milhões de mortes que ocorreram no mundo, em 2008, 36 milhões delas
(63%) foram por doenças não transmissíveis, ou seja, doenças crônicas. O crescimento
populacional e o aumento da expectativa de vida estão entre os fatores que aumentam as cifras
de mortes devido a esses tipos de doenças. A previsão é que tais enfermidades matem cerca de
55 milhões de pessoas ao redor do mundo até 2030 (WORLD HEALTH ORGANIZATION –
WHO, 2011).
No Brasil, verificou-se que do total de óbitos registrados, em 2009, por todas as
causas (cerca de um milhão), 742.779 foram por DCNT (72%), representando a principal
causa de mortalidade no país. Entre as mortes por DCNT, 80,7% delas foram provocadas por
doenças cardiovasculares, câncer, doença respiratória crônica e diabetes (BRASIL, 2013c).
A situação de saúde no Brasil, provocada pela transição demográfica e
epidemiológica, exige que o sistema de saúde brasileiro responda pela “tripla carga de
doenças” (MENDES, 2007).
Esta é caracterizada por:
1. Presença das doenças infecciosas e parasitárias: dengue, H1N1, malária,
hanseníase, tuberculose;
2. Aumento das doenças crônicas pelo envelhecimento das pessoas e dos fatores
de risco (fumo, sedentarismo, inatividade física, sobrepeso e má alimentação); e
3. Elevação da violência e morbimortalidade por causas externas.
Em termos de mortes atribuíveis, os grandes fatores de risco globalmente
conhecidos são: pressão arterial elevada (responsável por 13% das mortes no mundo),
tabagismo (9%), altos níveis de glicose sanguínea (6%), inatividade física (6%) e sobrepeso e
obesidade (5%) (WHO, 2009). As taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares e
respiratórias crônicas estão diminuindo, possivelmente como resultado do controle do
tabagismo e do maior acesso à Atenção Primária (SCHMIDT, 2011).
Os quatro grupos de doenças crônicas de maior impacto mundial (doenças do
aparelho circulatório, diabetes, câncer e doenças respiratórias crônicas) têm quatro fatores de
risco em comum (tabagismo, inatividade física, alimentação não saudável e álcool). No
29

Brasil, esses fatores de risco são monitorados por meio de diferentes inquéritos de saúde, com
destaque para o monitoramento realizado pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para
Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) (BRASIL, 2012d).
Fatores comportamentais, como o sedentarismo, o consumo de tabaco, o uso
nocivo de álcool e a má alimentação, são responsáveis por 80% das doenças tidas como
crônico-degenerativas. Tais fatores de risco provocam quatro alterações metabólicas e
fisiológicas graves, a saber: elevação da pressão arterial, obesidade, hiperlipidemia e
hiperglicemia. Com o aumento dos fatores comportamentais supracitados e a elevação dos
seus fatores de risco, as DCNT ganham destaque, estando entre as principais causas de
incapacidades e correspondendo aos maiores gastos em saúde no mundo (WHO, 2014).
Fatores de risco relacionados à carga de doenças têm sido acompanhados por
sistemas de vigilância para doenças crônicas e seus fatores de risco. O VIGITEL (BRASIL,
2011) soma-se a outros inquéritos, como o da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF)
(BRASIL, 2010), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) (IBGE, 2010),
Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) (IBGE, 2009) e Pesquisa Nacional de Saúde
(PNS). Os principais fatores de risco para doenças crônicas são tabagismo, alcoolismo,
alimentação não saudável, inatividade física e excesso de peso.

2.1.2 Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT): Modelo de Cuidados no Brasil

O cuidado de usuários com doenças crônicas deve ocorrer de forma integral. O


modelo vigente, que utiliza propostas de cuidado formatadas a priori, não tem obtido sucesso
em suas condutas por não conseguir chegar ao singular de cada indivíduo e por impor olhares
e fazeres que nada têm a ver com o usuário real, que está necessitando de atenção e cuidado
(MALTA; MERHY, 2010). Ainda para o autor, essa atenção integral somente é possível se o
cuidado for organizado em rede. Cada serviço deve ser repensado como um componente
fundamental da integralidade do cuidado, como uma estação no circuito que cada indivíduo
percorre para obter a integralidade de que necessita.
De acordo com as diretrizes para implementação da RAS, é necessária mudança
no modelo hegemônico no SUS, que é centrado na doença e, em especial, no atendimento à
demanda espontânea e na agudização das doenças crônicas. Ou seja, a implantação da RAS
exige intervenção concomitante sobre as doenças agudas e crônicas, em uma organização que
construa a intersetorialidade para promoção da saúde, contemple a integralidade dos saberes
com o fortalecimento do apoio matricial, considere as vulnerabilidades de grupos ou
30

populações e suas necessidades, qualificando e fortalecendo as ações sobre as doenças


crônicas (BRASIL, 2010a).
O Chronic Care Model, inicialmente apresentado em 1998 pelo MacColl Institute
for Health Care Innovation, propõe um modelo para atenção às condições crônicas que foi
implantado, com diversas adaptações, em uma série de países. Tem como princípios:
• Organização da atenção à saúde;
• Recursos da comunidade;
• Autocuidado apoiado;
• Desenho da linha de cuidado;
• Suporte às decisões clínicas;
• Sistema de informações clínicas.
A partir desse modelo, das experiências internacionais e dos modelos de
determinação social da saúde e de pirâmide de riscos, Mendes (2011) propõe o Modelo de
Atenção às Condições Crônicas (MACC). Esse modelo estrutura-se pela estratificação de
cinco níveis de intervenções de saúde sobre seus determinantes e suas populações, a partir da
qual se definem ações e práticas da equipe de saúde mais adequadas a cada grupo-estrato,
conforme Figura 1.
Figura 1: Modelo de Atenção às condições crônicas adotado no Brasil.

Fonte: Mendes (2011).

No nível 1 do MACC, opera-se com a população total de uma rede de atenção à


saúde, com foco nos determinantes sociais intermediários, ou seja, os macrodeterminantes,
condições de vida e trabalho, o acesso aos serviços essenciais e as redes sociais e
31

comunitárias. Nesse nível, propõem-se as intervenções de promoção da saúde para população


total, realizadas por meio de ações intersetoriais.
No nível 2 do MACC, opera-se com subpopulações estratificadas por fatores de
risco, com foco nos determinantes proximais ligados aos comportamentos e estilos de vida,
por meio de intervenções de prevenção de doenças, voltadas para indivíduos e subpopulações.
A prevenção ocorre com a modificação de fatores de risco comportamentais, como a
alimentação inadequada, o sedentarismo, o tabagismo, o excesso de peso e o uso excessivo de
álcool.
A partir do nível 3 do MACC, trabalha-se com subpopulações que já apresentam
doença crônica estabelecida. Nele, as condições crônicas são de baixo ou médio risco ou a
subpopulação apresenta fatores de risco biopsicológicos. Nesse nível, a atenção à saúde é
fortemente ancorada em ações de autocuidado apoiado, mas existe também a atenção clínica
ao indivíduo realizada, de maneira geral, pela atenção básica.
No nível 4, opera-se com subpopulações com condição crônica de alto ou muito
alto risco. Nesse nível, além do autocuidado apoiado, observa-se a necessidade mais
significativa de cuidados profissionais, incluindo o especializado.
No nível 5, têm-se subpopulações que apresentam condição de saúde muito
complexa e que chegam a consumir a maior parte dos recursos globais de um sistema de
atenção à saúde. Nesse nível, as intervenções podem ser realizadas pela tecnologia da gestão
de caso e, em geral, exigem planos de cuidado mais singulares.
Com o evidente aumento dessas doenças e alicerçado no Modelo de Atenção
estabelecido, o Ministério vem realizando esforços no sentido de reduzir as taxas de
incidência e de complicações das DCNT e com isso estruturou o Plano de Enfrentamento de
Doenças Crônicas, em que estudos vêm sendo realizados no Brasil, cujos temas abordados
englobam: contextualização das DCNT no Brasil e no mundo; pesquisas nacionais que
monitoram os fatores de risco e proteção das DCNT; intersetorialidade necessária para
implementação das ações de promoção da saúde e cuidado integral; plantio de alimentos
saudáveis como alternativa de diversificação de cultura para quem cultiva fumo; estratégias
para o envelhecimento saudável; experiências positivas de implantação de programas de
atividade física, incluindo experiências estaduais e municipais; linhas de atenção no cuidado à
obesidade e ao sobrepeso, incluindo parcerias com a Educação, ANVISA, indústrias de
alimentos; programa Melhor em Casa; assistência farmacêutica ao paciente com hipertensão
arterial e outras ações para o controle do paciente com risco cardiovascular (BRASIL, 2013).
32

Nessa perspectiva, o MS vem adotando estratégias prioritárias, dentre elas a


promoção da saúde com acompanhamento das ações executadas por cada área de
concentração:
Política Nacional de Promoção da Saúde –aprovada em 2006, visa promover a
qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde, estabelecendo agenda de ações
prioritárias nos seguintes eixos: alimentação saudável, práticas corporais e atividade física,
ambiente sustentável, prevenção de uso de tabaco, álcool e drogas, prevenção de violências e
cultura da paz. Foram investidos, nos últimos anos, recursos para fomento de experiências em
estados e municípios. Além disso, foram realizadas campanhas nacionais de mobilização para
prática de atividade física e estudos para avaliar a efetividade de programas de promoção das
práticas corporais/atividade física dos municípios.
Programa Academia da Saúde –instituído pelo Ministério da Saúde, por meio da
Portaria nº 719, de 7 de abril de 2011. Tem como objetivo principal a construção de espaços
físicos para o desenvolvimento de ações de atividade física, lazer e modos de vida saudáveis
por profissionais de saúde em conjunto com a comunidade. Dentre as atividades propostas,
destacam-se a orientação para prática de atividade física e alimentação saudável,
desenvolvimento das práticas corporais, incluindo tai chi chuan, yoga, lian gong e oficinas de
arte e dança, abordando temas da promoção da saúde e prevenção das doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT).
Tabaco – o sucesso da política antitabaco é um ponto de grande relevância no
declínio da prevalência das DCNT e está relacionado com a estratégia multisetorial do
governo brasileiro, envolvendo, sob a liderança do setor saúde, com forte arcabouço
regulatório, outros setores, como os econômicos, de desenvolvimento agrário, agricultura,
educação e trabalho, e com a descentralização das ações e recursos iniciados a mais de 20
anos por meio do SUS. Destacam-se ações regulatórias, como a proibição de propaganda,
promoção e patrocínio de cigarros (com exceção dos pontos de venda), vinculação de imagens
de advertências nos maços e pacotes de produtos do tabaco, proibição de fumar em ambientes
fechados, entre outras.
Alimentação – são inúmeros os avanços nesta área, desde o estímulo à Política
Nacional de Alimentação Saudável (1999), ao aleitamento materno, que tem crescido no país,
passando pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, pela organização do Sistema de
Vigilância Alimentar (SISVAN) e pela rotulagem dos alimentos, até chegar à redução das
gorduras trans. A parceria com o setor produtivo, a indústria e o comércio, o Ministério da
Saúde possibilitou estabelecer metas nacionais para redução do teor de sódio em alimentos
33

processados no Brasil. Em abril de 2012, a partir de um acordo entre o Ministério da Saúde e


a Federação Nacional das Escolas Particulares, foi lançado o manual Cantinas Escolares
Saudáveis: promovendo a alimentação saudável. Em março de 2012, ocorreu a Semana de
Mobilização da Saúde na Escola, que teve a Prevenção da obesidade na infância e na
adolescência como tema. A campanha atingiu 11 milhões de alunos com idade entre 5 e 19
anos.
Envelhecimento ativo – nas últimas décadas, houve mudança muito rápida na
estrutura etária do país. O contingente de idosos já está em torno de 21 milhões, reduzindo a
proporção de crianças e jovens. Em breve, teremos pirâmides etárias semelhantes as dos
países europeus. Tais transformações trazem desafios para todos os setores, impondo-se
repensar a dimensão da oferta de serviços necessários para as próximas décadas. No âmbito
da saúde, esses desafios são cada vez maiores, uma vez que o aumento da população idosa
acarreta elevação da carga de doenças, representando expressiva e crescente demanda aos
serviços de saúde. O Ministério da Saúde vem desenvolvendo ações, entre elas a promoção de
estilos de vida saudáveis; a criação de espaços físicos que incentivem a prática de atividade
física, como as Academias da Saúde; o Saúde Toda Hora, com qualificação da atenção na
urgência dos casos de Acidente Vascular Cerebral e infarto; a Atenção Domiciliar; e a
Farmácia Popular, em que são encontrados medicamentos gratuitos para hipertensão e
diabetes, além de outros medicamentos para osteoporose, Parkinson, glaucoma, asma, entre
outros.
Entre as atividades a serem incorporadas, destacam-se a estratificação das pessoas
segundo riscos/vulnerabilidade, com intervenções individuais e coletivas, conforme o estrato
de risco; o cuidado compartilhado; o apoio ao autocuidado; a maior qualidade nos cuidados
preventivos, inclusive na prevenção de uso desnecessário de tecnologias; a reformulação de
saberes e práticas oriundas da formação, incorporando conceitos das ciências sociais,
intervenções comportamentais, neuropsicológicas, ambientais e econômicas – que podem
ocorrer em programas de educação permanente, cursos, discussão de casos, consensos,
aprendizagem entre pares, bem como na implementação de ações intersetoriais.
Visando apoiar as equipes de Saúde a responder melhor ao aumento das doenças
crônicas e seus fatores de risco, às comorbidades e demais consequências do aumento da
expectativa de vida da população, o Ministério da Saúde lançou, em 2011, o Plano de Ações
Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no
Brasil – 2011-2022. Estruturado em três eixos: 1. vigilância, informação, avaliação e
monitoramento; 2. promoção da saúde; e 3. cuidado integral, esse plano sistematiza as ações
34

necessárias para enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (MALTA et al.,
2010).
Para Brasil (2013), algumas adaptações são necessárias nos sistemas de saúde:
∙Incrementos na disponibilidade de recursos para os sistemas de saúde como um
todo e para as DCNT em particular;
∙Ampliação de taxações com resultado específico para saúde (exemplo: taxação do
tabaco);
∙Fortalecimento da prevenção, com especial ênfase na introdução e no
fortalecimento da Atenção Primária à Saúde nos sistemas de saúde;
∙Desenvolvimento de ações de integração intra e extrassetorial, incentivando a
concepção de linhas de cuidados contínuos;
∙Construção sinergias entre programas já existentes e o controle das DCNT, por
exemplo na área materna, infantil, doenças transmissíveis e outras;
∙Desenvolvimento de abordagens integrativas e por ciclos de vida na prevenção e
no controle das DCNT;
∙Desenvolvimento e fortalecimento de conteúdos e habilidades de interesse para
as DCNT, mediante incentivos, visando força de trabalho em saúde.

2.1.3 Atenção Primária à Saúde no enfrentamento às DCNT: rastreamento, controle e


estratificação de risco.

As evidências de que a Atenção Primária à Saúde (APS) é o melhor modelo de


organização dos sistemas e serviços de Saúde são inúmeras e inequívocas. Da mesma forma,
não há dúvidas sobre a complexidade do trabalho nas Unidades de Atenção Básica: o trabalho
é difícil e exige que equipes multidisciplinares bem preparadas utilizem metodologias e
ferramentas de comprovada eficiência para organizar os processos de trabalho (TAKEDA,
2013).
As pessoas com condições crônicas e seus familiares convivem com seus
problemas diariamente por longo tempo, ou toda a vida. É fundamental que estejam muito
bem informadas sobre suas condições, motivadas a lidar com elas e adequadamente
capacitadas para cumprirem com o seu plano de tratamento. Precisam compreender sua
enfermidade, reconhecer os sinais de alerta das possíveis complicações e saber como e onde
recorrer para responder a isso. Os resultados alcançados figuram em reduções de sintomas,
complicações e incapacidades.
35

As equipes de Atenção Primária em Saúde (APS) devem estimular e empregar


procedimentos de colaboração entre elas e as pessoas, já que se entende o autocuidado
apoiado como uma relação de diálogo entre os saberes de cuidar de si e os saberes de cuidar
do outro. Essa relação vai se manifestar, seja escolhendo problemas, estabelecendo
prioridades, fixando metas, criando planos conjuntos de cuidado, checando o cumprimento de
metas, identificando as dificuldades em cumpri-las e resolvendo os problemas de competência
dos serviços de saúde.
A reorganização das atividades das equipes de Saúde para o alcance de melhores
resultados frente às doenças crônicas está dentro de um contexto (os princípios e os atributos
da APS e do SUS), e são destacados aspectos que vêm sendo apontados como nós críticos em
serviços de Atenção Primária, como ampliar o acesso da população aos recursos e aos
serviços das Unidades Básicas de Saúde, buscar maior qualidade da Atenção à Saúde e
persistir na busca à integralidade da atenção.
A utilização dos serviços e dos recursos de Saúde nem sempre ocorrem de forma
que quem mais precisa consiga acesso (HART, 1991). Frequentemente, pessoas com menores
riscos à saúde têm número de consultas considerado maior que o necessário para o adequado
acompanhamento de suas condições crônicas de saúde, enquanto outras com maiores riscos e
vulnerabilidade não conseguem acesso ao cuidado. Ou, ao contrário, a grande maioria dos
recursos é utilizado em uma minoria com doenças graves.
A qualidade é a capacidade dos serviços de saúde em responder, de forma efetiva,
às necessidades de saúde, no momento em que as pessoas precisam. Isso denota: acesso e
efetividade das ações. Já a integralidade tem várias dimensões e depende de um conceito
amplo de saúde. Integralidade compreende promoção da saúde, prevenção e tratamento de
doenças e recuperação da saúde. Refere-se, ainda, à abordagem integral do indivíduo (todos
os sistemas fisiológicos, bem como os aspectos psicológicos, e contexto familiar e social) e da
população sob responsabilidade das equipes básicas.
O usuário com doenças crônicas é, usualmente, um grande frequentador da
Unidade Básica de Saúde, buscando-a por diversas razões: renovação de receitas, consulta de
acompanhamento, verificação da pressão e/ou glicemia, atendimento para agudização de sua
condição crônica, entre outras. Há muitas vantagens do primeiro atendimento das
complicações agudas da hipertensão arterial sistêmica e do diabetes mellitus, por exemplo, ser
realizado na Unidade Básica de Saúde (UBS). A maior parte das agudizações das doenças
crônicas pode ser mais bem manejada na UBS: o profissional/a equipe conhece o usuário,
seus problemas de saúde, as medicações prescritas, sua história, seu contexto. Esse episódio
36

pode servir de alerta para possibilidade de tratamento não adequado ou não utilização das
medicações prescritas.
Estratégia importante de garantia de acesso com equidade é a adoção da
avaliação/estratificação de risco como ferramenta, possibilitando identificar as diferentes
gradações de risco, as situações de maior urgência e, com isso, procedendo às devidas
priorizações. Para isso, o trabalho em equipe é fundamental. Já na recepção da unidade, uma
atendente, um porteiro ou um segurança podem identificar situações que apresentam maior
risco ou que geram sofrimento intenso.
O reconhecimento dos sinais de risco pelos trabalhadores que comumente
circulam ou permanecem nas áreas de recepção/esperas pode e deve ser apoiado. Estratificar
significa agrupar, segundo uma ordem, um critério. Estratificar, em doenças crônicas, denota
reconhecer que as pessoas têm diferentes graus de risco/vulnerabilidade e, portanto, têm
necessidades diferentes.
Na atenção às condições crônicas, existem diferentes formas de estratificação.
Algumas proposições buscam identificar os grupos de pessoas com semelhantes necessidades,
de acordo com dois critérios (MENDES, 2012): 1) a severidade da condição crônica
estabelecida; e 2) a capacidade de autocuidado, que contempla aspectos socioeconômicos e
culturais, o grau de confiança e o apoio que as pessoas têm para cuidar de si. A severidade da
condição crônica é resultado da complexidade do problema (e sua interferência na qualidade
de vida da pessoa) e do risco de ocorrer um evento que cause morbidade ou mortalidade.
A avaliação da capacidade de autocuidado é, em boa parte, subjetiva, pois
depende da percepção do profissional e da equipe de Saúde ao observar o contexto e as
atitudes da pessoa diante de sua condição crônica. Mas, há formas de aperfeiçoar a capacidade
de avaliar esses aspectos que incluem o conhecimento sobre as crenças relacionadas à
condição de saúde; às atitudes, à confiança e à motivação diante das mudanças; a importância
dada à condição; e a presença e a força das redes de suporte social (MENDES, 2012). O papel
das equipes de Atenção Básica é fundamental, no sentido de apoiar os portadores de
condições crônicas a receberem informações que lhes permitam tomar postura proativa de
cuidado.
O julgamento do profissional integra os aspectos socioeconômicos, culturais e a
capacidade do indivíduo/família para o autocuidado. Pode ocorrer que, ainda que a
classificação pontue como de baixo ou médio risco determinado indivíduo, o profissional
pode considerá-lo de alto risco devido a um contexto momentâneo desfavorável. Informações
37

trazidas pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS) – ou qualquer membro da equipe – são
relevantes para aperfeiçoar a avaliação do risco/vulnerabilidade.
Para fornecer assistência eficaz frente às doenças crônicas, são necessárias
equipes multidisciplinares de saúde com combinação apropriada de habilidades. Os currículos
para os profissionais de saúde devem ser expandidos, para que possam abordar as
complexidades das doenças crônicas com um trabalho em equipe. Os currículos dos
profissionais de saúde devem abordar as questões de prevenção e gestão de doenças crônicas
e desenvolver as capacidades apropriadas. Considera-se imprescindível a educação
continuada para força de trabalho da saúde, com objetivo de reforçar as competências para
uma assistência centrada no paciente, parceria com pacientes e outros provedores, utilização
de métodos contínuos de melhora da qualidade dos serviços.

2.2 AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE E O PROCESSO DE TRABALHO NA


ATENÇÃO BÁSICA

A primeira experiência de Agentes Comunitários de Saúde, ACS, como estratégia


abrangente de saúde pública estruturada, ocorreu no Ceará, em 1987, com objetivo duplo de
criar oportunidade de emprego para mulheres na área da seca e, ao mesmo tempo, contribuir
para queda da mortalidade infantil, priorizando a realização de ações de saúde da mulher e da
criança. Esta estratégia expandiu-se rapidamente no Estado, atingindo praticamente todos os
municípios em três anos, sendo encampada pelo Ministério da Saúde (MS) mais ou menos
nos mesmos moldes, em 1991. Desde sua implementação, tem havido declínio significativo
em mortalidade infantil, aumento de níveis de imunização, avaliação de necessidades e
recursos e intervenção profissional mais rápida quando necessária (LUNARDELO, 2004).
As primeiras experiências do Programa Saúde da Família, PSF, nos moldes atuais,
também surgiram no Ceará, em janeiro de 1994, sendo encampadas pelo MS em março do
mesmo ano, como estratégia de reorganização da atenção básica no país. A partir daí o
Programa de Agentes Comunitários de Saúde, PACS, passou a ser incorporado pelo PSF. No
PACS, o enfoque principal é a ampliação da cobertura da atenção básica e a introdução
do Agente Comunitário de Saúde (ACS) como trabalhador incumbido de desenvolver
ações relacionadas ao controle de peso, orientações a grupos específicos de patologias,
orientações durante tratamento, entre outras (CHIESA; FRACOLLI, 2004).
O Programa Saúde da Família tem os seguintes princípios: atuar em caráter
substitutivo das práticas convencionais de assistência à saúde, caracterizando-se como porta
de entrada do sistema local de saúde e visando a integralidade e a hierarquização –
38

compondo o primeiro nível de ações e serviços no sistema de saúde, garantindo o


acesso a outros níveis de maior complexidade e responsabilizando-se pelo
acompanhamento dos indivíduos e famílias em todo o processo de referência e
contrarreferência; territorialização e adscrição de clientela, atuando em uma área
específica e, consequentemente, favorecendo o estabelecimento de vínculos com a
comunidade e possibilitando o compromisso e a corresponsabilidade tanto da equipe quanto
da comunidade (BRASIL, 2006a).
Assim, ao garantir a universalidade do acesso, a Constituição Federal
intensificou a demanda pelos serviços de saúde, tradicionalmente centrados no eixo
hospitalar, buscando criar estratégias para reverter o atual modo de atenção. A partir de então,
puderam-se identificar várias experiências, em nível local, que priorizavam ações de
promoção da saúde e prevenção de agravos, incorporando, em muitas delas, as contribuições
da própria população, por meio de sua cultura, no “saber-fazer” os cuidados com sua própria
saúde. Essas experiências influenciaram a concepção dos Programas Saúde da Família e
PACS (BRASIL, 2006a).
A profissão de ACS foi criada pela Lei nº 10.507, de 10 de julho de 2002, que define
seu exercício como exclusivamente no âmbito do Sistema Único de Saúde e sob a supervisão
do gestor local em saúde. O profissional Agente Comunitário de Saúde realiza atividades de
prevenção de doenças e promoção da saúde, por meio de ações educativas em saúde realizada
em domicílios ou junto às coletividades, em conformidade com os princípios e as diretrizes do
SUS; estende, também, o acesso da população às ações e aos serviços de informação de
saúde, promoção social e de proteção da cidadania.
As atividades de ACS passaram a ser regidas pela Lei no 11.350, de 05 de outubro
de 2006, ao dispor que o ACS tem como atribuição o exercício de atividades de prevenção de
doenças e promoção da saúde, mediante ações domiciliares ou comunitárias, individuais ou
coletivas, desenvolvidas em conformidade com as diretrizes do SUS e sob supervisão do
gestor municipal, distrital, estadual ou federal. São consideradas atividades do ACS na sua
área de atuação: a utilização de instrumentos para diagnóstico demográfico e sociocultural da
comunidade; a promoção de ações de educação para saúde individual e coletiva; o registro,
para fins exclusivos de controle e planejamento das ações de saúde, de nascimentos, óbitos,
doenças e outros agravos à saúde; o estímulo à participação da comunidade nas políticas
públicas voltadas para área da saúde; a realização de visitas domiciliares periódicas para
monitoramento de situações de risco à família; e a participação em ações que fortaleçam os
elos entre o setor saúde e outras políticas que promovam a qualidade de vida. O ACS também
39

deverá preencher os seguintes requisitos para o exercício da atividade: residir na área da


comunidade em que atuar, desde a data da publicação do edital do processo seletivo público;
haver concluído, com aproveitamento, curso introdutório de formação inicial e continuada; e
haver concluído o ensino fundamental (BRASIL, 2011).
A figura do Agente Comunitário de Saúde (ACS), inserido no PSF, emerge como
um elo entre a comunidade e o sistema de saúde, uma vez que deve residir na própria
comunidade em que atua. Acredita-se que, por ser parte da comunidade em que vive e para
quem trabalha, conhece melhor as necessidades desta, compartilha um mesmo contexto social
e cultural e um mesmo universo linguístico e, portanto, está mais apto a lutar pelos direitos da
comunidade (BRASIL, 2012).
O Ministério da Saúde (2013b) define como competências para o Agente
Comunitário de Saúde: o trabalho em equipe, as visitas domiciliares, o planejamento
das ações de saúde, a promoção de saúde, a prevenção e o monitoramento de grupos
específicos, a prevenção e o monitoramento das doenças prevalentes e o
acompanhamento e a avaliação das ações de saúde, além da realização de práticas
educativas.
O fato de os agentes comunitários de saúde compartilharem o mesmo contexto com
a comunidade é apontado por Jardim e Lancman (2009), como decisivo no aumento da
eficácia das ações de educação em saúde. Além disso, a entrada no mundo familiar é
sinônimo de contato com a intimidade das pessoas, com o seu universo privado, trazendo
novas construções relacionais e novos sentidos para essas relações.
Segundo Silva e Dalmaso (2012), consegue-se identificar duas dimensões
principais de atuação dos ACS: uma mais política, não apenas de solidariedade à
população e da inserção da saúde no contexto geral da vida, como também no sentido de
organização da comunidade e de transformação das condições de saúde; outra mais técnica,
relacionada ao atendimento aos indivíduos e famílias e à intervenção para prevenção
dos agravos ou para o monitoramento de grupos ou problemas específicos.
As referidas autoras apontam, também, alguns desafios para o saber fazer e saber ser
agente comunitário de saúde, dentre estes: a enorme variedade de contexto, exigindo
flexibilização em sua prática e nos processos e metodologias de preparação de pessoal; a
amplitude das finalidades do Programa, exigindo ora uma vertente mais assistencial e de
vigilância e ora de promoção de saúde e qualidade de vida; o desenvolvimento de tecnologia
de trabalho adequada às necessidades; o trabalho em equipe e a identidade do agente,
compondo dimensões técnicas e políticas do trabalho (SILVA; DALMASO, 2012).
40

Segundo Nascimento e Nascimento (2009), o trabalho do ACS se produz pelo


fato de ele pertencer ao mesmo universo do usuário e, portanto, supostamente compreender
esses conflitos. Por essa mesma razão, a superação dessas dificuldades é, em alguns casos,
buscada por esse ator a partir de uma perspectiva interior ao universo de sentido das pessoas
da comunidade.
Para Bornstein e Stotz (2008), a maioria das atribuições mencionadas na proposta do
Ministério da Saúde é composta por atividades relacionadas com os programas desenvolvidos
pelas unidades de saúde e tem caráter biomédico e individual. Ainda que se mencione a
necessidade de promover ações coletivas, os instrumentos de informação que devem ser
preenchidos pelos ACS e que fazem parte do Sistema de Informação da Atenção Básica
(SIAB) não detalham este tipo de trabalho. A ênfase do SIAB é feita sobre fichas que
permitem a avaliação da produtividade baseada em ações individuais e avaliação de
indicadores de saúde.
A família é o ponto de partida para o trabalho do ACS na comunidade. É na família
que se adquirem os valores, os usos e os costumes que irão formar a personalidade e bagagem
emocional de cada ser (BRASIL, 2009b). O ACS deve conhecer todas as famílias de sua área,
bem como a constituição familiar da sua comunidade, prestando serviços à saúde da
comunidade preconizados e estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
Dentre as atribuições do ACS expostas pelo Departamento de Atenção Básica em seu
caderno “O trabalho do Agente Comunitário de Saúde”, destacam-se:
a) Identificar áreas e situações de risco individual e coletivo;
b) Encaminhar as pessoas aos serviços de saúde, sempre que necessário;
c) Orientar as pessoas, de acordo com as instruções da equipe de saúde;
d) Acompanhar a situação de saúde das pessoas, para ajudá-las a conseguir
bons resultados (BRASIL, 2009a).
Em complemento à Política Nacional de Atenção Básica, preconizada pelo órgão
supracitado, acrescentam-se as atribuições dos ACS contempladas de forma abrangente,
sendo suas ações dentro da comunidade:
a) Trabalhar com adscrição de famílias em base geográfica definida, a
microárea;
b) Cadastrar todas as pessoas de sua microárea e manter os cadastros
atualizados;
c) Orientar as famílias quanto à utilização dos serviços de saúde disponíveis;
d) Realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea;
41

e) Acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas as famílias e indivíduos


sob sua responsabilidade. As visitas deverão ser programadas em conjunto
com a equipe, considerando os critérios de risco e vulnerabilidade, de modo
que famílias com maior necessidade sejam visitadas mais vezes, mantendo
como referência a média de uma visita/família/mês;
f) Desenvolver ações que busquem a integração entre a equipe de saúde e a
população adscrita à UBS, considerando as características e as finalidades do
trabalho de acompanhamento de indivíduos e grupos sociais ou coletividade;
g) Desenvolver atividades de promoção da saúde, de prevenção das doenças e
agravos e de vigilância à saúde, por meio de visitas domiciliares e de ações
educativas individuais e coletivas nos domicílios e na comunidade, por
exemplo, combate à dengue, malária, leishmaniose, entre outras, mantendo a
equipe informada, principalmente a respeito das situações de risco;
h) Estar em contato permanente com as famílias, desenvolvendo ações
educativas, visando promoção da saúde, prevenção das doenças e
acompanhamento das pessoas com problemas de saúde, bem como
acompanhamento das condicionalidades do Programa Bolsa-Família ou de
qualquer outro programa similar de transferência de renda e enfrentamento de
vulnerabilidades implantado pelo governo federal, estadual e municipal, de
acordo com o planejamento da equipe (BRASIL, 2012b).

Dentre os princípios norteadores da Estratégia Saúde da Família (ESF), a


integralidade, definida como abordagem do indivíduo e/ou da comunidade em uma visão
totalizadora, requer preocupações com os aspectos sociais, culturais e econômicos da
população adscrita. Assim, cabe à equipe de saúde da família enfrentar, além dos
problemas individuais e biológicos de saúde, os problemas coletivos e socioculturais
dos indivíduos e da comunidade pela qual tem responsabilidade sanitária. Para isso, outras
categorias profissionais, além do médico, enfermeiro e auxiliar de enfermagem, que
tradicionalmente trabalharam em centros de saúde, tornam-se necessárias (DUNCAN;
SCHMIDT, 2004).

No cotidiano de sua prática, no entanto, os ACS assumem atividades que


extrapolam as ações preconizadas nas normas do Ministério da Saúde. Assim, evidencia-se a
flexibilização das tarefas, na tentativa de oferecer respostas positivas às demandas da
população. Por conseguinte, há o rompimento do enrijecimento da organização do trabalho,
42

que ocorre quando a divisão de tarefas é bem definida, ficando cada trabalhador responsável
pelo seu campo exclusivo de atuação (MACIEL et al., 2009).

Para Stotz, David e Bornstein (2007), no entanto, em muitos lugares, existe


tendência a reduzir o trabalho do agente à vigilância de famílias de risco, geralmente aquelas
que moram nas partes mais pobres e que levam uma vida precária, não raramente marcada
pelo alcoolismo, pela depressão e pelo abandono das crianças. O que acontece, pois, é a
simplificação do trabalho dos agentes; simplificação que, em vez de facilitar o trabalho, o
reduzi a um único aspecto. Há, porém, uma consequência ainda mais grave: perde-se
completamente de vista o potencial transformador da atuação do agente na ESF, que tem por
objetivo alterar o modelo assistencial calcado na atenção médica individual e curativa.

Um dos papéis do profissional de saúde, ao desenvolver um trabalho que envolva


a dinâmica familiar, seria o de manter-se atento à presença dos valores associados às
concepções de família e ao que tais valores envolvem, pois os discursos revelam nas práticas
do cotidiano as dimensões cognitivas, afetivas e sociais que possam estar envolvidas nos
conceitos sociais relativos aos seus grupos ou à sociedade como um todo. Então, esse
trabalhador tem a possibilidade de, estimulando a reflexão, promover o questionamento de
tais concepções, favorecendo desconstruções e reconstruções, propiciando a que os
agrupamentos familiares se redescubram, podendo firmar suas identidades, reaver e fortalecer
seus potenciais, reconhecendo suas possibilidades e impossibilidades de modo autêntico e
ativo na busca do que lhes parece mais adequado e coerente às suas condições de vida
(MARTINES; VEIGA; CHAVES, 2007).

É possível entender que a atuação do ACS esteja pautada nas normas


estabelecidas pelo Ministério da Saúde, como também vinculadas à realidade local, na qual
emergem diversas formas de interações com a comunidade, uma vez que também fazem parte
dessa comunidade, de suas dinâmicas e de saberes locais e se apropriam do saber adquirido
externamente pela Equipe de Saúde da Família.

Para Bornstein e Stotz (2009), na equipe de saúde, o agente comunitário é o


trabalhador que se caracteriza por ter o maior conhecimento empírico da área onde atua: a
dinâmica social, os valores, as formas de organização e o conhecimento que circula entre os
moradores. Esse conhecimento pode facilitar o trânsito da equipe, as parcerias e articulações
locais. O reconhecimento destas características, quer pelos profissionais, quer pelos
moradores, traduz-se em diferentes expectativas: de um lado, pela inserção nos serviços de
43

saúde, espera-se dele o exercício de um papel de controle da situação de saúde da população;


de outro, os moradores esperam que o agente facilite seu acesso ao serviço de saúde.

2.3 FORMAÇÃO DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE

De acordo com o Ministério da Saúde (2006), a lei de criação da profissão de ACS


trouxe a necessidade de um processo formal de profissionalização desses trabalhadores.
Para definir essa formação, durante o ano de 2003, o Ministério da Saúde reuniu ACS,
gestores estaduais e municipais do SUS, além de trabalhadores do setor da saúde, e
elaborou proposta para o perfil de competências profissionais dos ACS, levando em
consideração os seguintes aspectos: a estrutura legal de formação estabelecida no país, a
política de formação e o desenvolvimento dos trabalhadores do SUS, a especificidade do
trabalho dos ACS e a diversidade de escolarização desses profissionais.
O Ministério da Saúde propôs que a formação do ACS acontecesse por itinerários
formativos, ou seja, uma formação oferecida em etapas subsequentes e com presença nos
serviços. Desta forma, o reconhecimento de cada etapa assegura que os ACS tenham
possibilitada a progressão dos estudos, conforme suas escolaridades. Assim, além de começar
a formação inicial, o ACS poderá complementar sua escolaridade, sendo ainda possível dar
continuidade aos estudos de formação profissional, podendo chegar à profissionalização
(BRASIL, 2006b).

Corbo, Morosini e Pontes (2007) ressaltam que os ACS devem dominar um


âmbito de tecnologias leves, ou seja, a mediação entre saberes e práticas diversos, a criação de
vínculo e o desenvolvimento de atividades educativas individuais e coletivas. Mesmo que
essas atividades tenham grau de liberdade na sua execução, para sua realização adequada e
crítica, requerem o domínio de um conjunto de conhecimentos teóricos, conforme o próprio
Referencial Curricular para curso técnico de ACS já identificou. Essas dimensões podem ser
capturadas quando se restringe o trabalho do ACS ao preenchimento de fichas e marcação de
consultas, ou mesmo quando se entende que educação em saúde se refere à transferência de
conhecimentos sobre o modelo biomédico do processo saúde-doença.

A essência do trabalho do agente é esta função mediadora, que nem sempre se


apresenta de modo claro e objetivo, porque também se refere à visão de mundo, com as
percepções das pessoas. Mediar a relação entre os serviços e a população na perspectiva da
melhoria das condições de vida não é uma tarefa simples, pois supõe forte vínculo
44

comunitário, abertura para o diálogo e reflexão sobre as possibilidades de ação em cada


situação concreta (STOTZ, DAVID; BORNSTEIN, 2007).

Para Martines,Veiga e Chaves (2007), entretanto, a situação ocupada pelo ACS no


interior da equipe é singular, já que a função exige que o profissional resida obrigatoriamente
na área de atuação da equipe, situação que faz com ele compartilhe do mesmo cotidiano da
população a qual presta cuidado, o que o diferencia dos demais membros da equipe, mais
afastados desse convívio diário com a comunidade. Ao exercer a função de elo de ligação
entre a comunidade e a equipe de saúde, cabe destacar que para este profissional se faz
necessário maior discernimento entre as informações que devam ser partilhadas com o
restante da equipe e que são relevantes na constituição do projeto terapêutico, ensejando
benefícios para comunidade, bem como na orientação do trabalho em equipe e aquelas
informações que são de outra natureza e que não agregam elementos ao processo de trabalho
em saúde.

De um lado, em função da predominância da formação simplificada, por muito


tempo realizada em serviço e, recentemente, realizada como educação inicial e continuada, o
trabalho do ACS pode ser compreendido como um trabalho simples. De outro lado,
considerando a complexidade das ações que este desenvolve e a expectativa que recai sobre
este trabalho, ser o elo entre os serviços e a comunidade, por exemplo, conforma-se um
trabalho com dimensões complexas. A complexidade está justamente nas qualidades laborais
e subjetivas esperadas do ACS, que necessita pôr em operação processos comunicacionais, de
caráter educativo e informativo, como no caso da visita domiciliar, ou da negociação de
conflitos entre a comunidade e o serviço, na busca de oportunidades de atenção e cuidado
(MOROSINI, 2010).

No concernente à formação técnica do ACS, os Ministérios da Saúde e da


Educação publicaram, em 2004, um Referencial Curricular para Curso Técnico de Agente
Comunitário de Saúde, ressaltando a iniciativa de ir além da qualificação básica recomendada
pela Lei no 10.507 (MOROSINI; CORBO; GUIMARÃES, 2007).
Conforme Morosini (2010), a formação técnica para os ACS exige, em primeiro
lugar, que esta formação inclua os aspectos ético-políticos presentes no trabalho em saúde, a
incorporação dos princípios do SUS, da saúde como um direito universal, da integralidade
como um horizonte a se perseguir na gestão, na organização da atenção e nas práticas do
cuidado em saúde. Exige também compreender o trabalhador como um sujeito que tem
dimensões sensíveis, culturais, sociais, econômicas e políticas, enfim, como um ser que
45

precisa de uma formação que o contemple em todos esses sentidos, sem os quais a formação
profissional pode se reduzir à técnica. Exige ainda rever como se compreende o rol de
atividades que o ACS desempenha, que é caracterizado principalmente pelo trabalho
educativo.
Os ACS atuam no apoio aos indivíduos e aos coletivos sociais, identificando as
situações mais comuns de risco em saúde, participando da orientação, do acompanhamento e
da educação popular em saúde, estendendo as responsabilidades das equipes locais do SUS,
colocando em ação conhecimentos sobre prevenção e solução de problemas de ordem
sanitária, mobilizando práticas de promoção da vida em coletividade e de desenvolvimento
das interações sociais.
A formação e o desenvolvimento profissionais sugerem a identificação técnica,
ética e humanística do que compete ao profissional de saúde, e que competências são
requeridas para que os usuários das ações e serviços de saúde se sintam atendidos em suas
necessidades diante de cada prática profissional.
Compete aos ACS, no exercício de sua prática, a capacidade de mobilizar e
articular conhecimentos, habilidades, atitudes e valores requeridos pelas situações de trabalho,
realizando ações de apoio em orientação, acompanhamento e educação popular em saúde a
partir de uma concepção de saúde como promoção da qualidade de vida e desenvolvimento da
autonomia diante da própria saúde, interagindo em equipe de trabalho e com os indivíduos,
grupos sociais e populações.
A síntese entre teoria e prática aponta como possibilidade para organização de um
processo de formação dos ACS, que permita que estes alunos-trabalhadores transitem entre os
campos teóricos e práticos do conhecimento e do trabalho em saúde, tornando compreensível
o modo como estes campos se relacionam e se influenciam mutuamente. Tentando pôr em
prática o modo dialético e a noção de práxis para compreender os fatos humanos, é preciso
que o conhecimento e a sua aplicação sejam compreendidos como unidade, cujas partes que a
integram são distintas, mas inseparáveis, se revezando e complementando. Estas, ao se
revezarem, expressam as condições em que se realizam a educação e o trabalho humanos – o
ato de compreender a natureza e de transformá-la (ou de compreendê-la transformando-a ou,
ainda, de transformá-la, compreendendo-a), associado ao ato de ensinar às gerações seguintes
o que foi assim feito, pela humanidade, como conhecimento de si e do mundo e que pode
ensejar novos conhecimentos e novas transformações (MOROSINI, 2010).
46

Nesse sentido, Acioli e Luz (2003) garantem que é necessário pensar em práticas
institucionais e profissionais diferenciadas que possam incorporar o compartilhamento de
experiências e saberes entre os grupos profissionais e a população envolvida. Isto implica o
desenvolvimento de práticas que reconheçam as experiências populares e a existência de uma
sabedoria prática para que se possa reorientar o olhar técnico.

Conforme Abrahão (2007), o planejamento deve ser uma prática das equipes de
Saúde da Família, como um modo de pensar ações de saúde mais próximas à realidade local.
Desta forma, um conjunto de medidas calcadas no discurso da prevenção de doenças, da
assistência e da promoção da saúde, passa a figurar no cenário das ações da atenção básica,
com objetivo claro de possibilitar o desenvolvimento de hábitos e estilos de vida de forma
mais autônoma. As discussões que acompanham o planejamento nesta perspectiva são
potencializadas com a participação dos profissionais de saúde e da população. Os resultados
terão maior ou menor impacto, de acordo com a aproximação que se faça da realidade. Para
tanto, o papel do agente comunitário de saúde (ACS) é estratégico, pois, dada a sua posição
intercessora da equipe em relação à população, este agente contribui de forma ímpar em todas
as etapas deste processo, com destaque na identificação dos problemas e no acompanhamento
e avaliação das intervenções, requerendo reflexão sobre o planejamento em saúde, sem
esgotar o tema, mas alterando o problema trabalhado.

Segundo Ceccim e Merhy (2009), a constituição de práticas de saúde deve estar


alicerçada na atualização de processos intensivos de viver a vida, e não apenas de sobreviver,
apesar da ausência de prazer, de compartilhamento, de potência de si e de produção de
entornos criativos e audazes. Nessa condição criadora, o cuidar do outro é operado por
distintas modalidades de saber e fazer, não culmina com as práticas particulares das
profissões, das tecnologias do cuidado ou dos protocolos, prolonga-se pela invenção de si, dos
entornos, de mundos. Esta é uma pontuação necessária, pois no campo da saúde, nas
sociedades mais ocidentalizadas, há o fenômeno da “medicalização” e suas consequências,
entre as quais um perfil de prestação das práticas de atenção, de educação dos profissionais da
área e da gestão dos sistemas de saúde para oferta ampliada destas práticas em forma de
diagnóstico, prescrição e condutas coletivas.

Morosini (2010) destaca que o ACS realiza um trabalho fundamental ao fortalecer


a possibilidade de os sujeitos se reconhecerem com poder e responsabilidade pela própria
história e pelo processo de elaboração de sua cidadania. E responsabilidade é diferente de
culpa, pois faz reconhecer o nosso lugar no mundo e no tempo, ao contrário da culpa que,
47

muitas vezes, somente serve para sentirmos submetidos e sem condições de transformar a
realidade.

2.4 POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE:


POSSIBILIDADES DE EMANCIPAÇÃO

Nas práticas sanitárias brasileiras, o modelo de educação em saúde passou do


tradicional existente na década de 1970, e que era baseado nas orientações centradas na
exposição do educador, como também na imposição de padrões a serem seguidos, para um
modelo pós-reforma sanitária, no qual foram sendo incorporados a educação popular
permanente, os princípios da humanização, da pedagogia freireana e da emancipação do ser
humano como sujeito histórico-cultural (BOGUS, 2007).

A consolidação e o aprimoramento da atenção básica como importante


reorientadora do modelo de atenção à saúde no Brasil requerem um saber e um fazer em
educação permanente que sejam encarnados na prática concreta dos serviços de saúde. A
educação permanente deve ser constitutiva, portanto, da qualificação das práticas de cuidado,
gestão e participação popular.

O redirecionamento do modelo de atenção impõe claramente a necessidade de


transformação permanente do funcionamento dos serviços e do processo de trabalho das
equipes, exigindo de seus atores (trabalhadores, gestores e usuários) maior capacidade de
análise, intervenção e autonomia para o estabelecimento de práticas transformadoras, a gestão
das mudanças e o estreitamento dos elos entre concepção e execução do trabalho.

Nesse sentido, a educação permanente, além da sua evidente dimensão


pedagógica, deve ser encarada também como uma importante “estratégia de gestão”, com
grande potencial provocador de mudanças no cotidiano dos serviços, em sua micropolítica,
bastante próximo dos efeitos concretos das práticas de saúde na vida dos usuários, e como um
processo que se dá “no trabalho, pelo trabalho e para o trabalho”.

A educação permanente deve embasar-se em um processo pedagógico que


contemple desde a aquisição/atualização de conhecimentos e habilidades até o aprendizado
que parte dos problemas e desafios enfrentados no processo de trabalho, envolvendo práticas
que possam ser definidas por múltiplos fatores (conhecimento, valores, relações de poder,
planejamento e organização do trabalho etc.) e que considerem elementos que façam sentido
para os atores envolvidos (aprendizagem significativa).
48

Outro pressuposto importante da educação permanente é o


planejamento/programação educativa ascendente, em que, a partir da análise coletiva dos
processos de trabalho, identificam-se os nós críticos (de natureza diversa) a serem enfrentados
na atenção e/ou na gestão, possibilitando a construção de estratégias contextualizadas que
promovam o diálogo entre as políticas gerais e a singularidade dos lugares e das pessoas,
estimulando experiências inovadoras na gestão do cuidado e dos serviços de saúde.

A vinculação dos processos de educação permanente à estratégia de apoio


institucional pode potencializar enormemente o desenvolvimento de competências de gestão e
de cuidado na atenção básica, na medida em que aumenta as alternativas para o enfrentamento
das dificuldades vivenciadas pelos trabalhadores em seu cotidiano.

Nessa mesma linha, é importante diversificar esse repertório de ações,


incorporando dispositivos de apoio e cooperação horizontal, tais como trocas de experiências
e discussão de situações entre trabalhadores, comunidades de práticas, grupos de estudos,
momentos de apoio matricial, visitas e estudos sistemáticos de experiências inovadoras etc.

Reconhecendo o caráter e a iniciativa ascendente da educação permanente, é


central que cada equipe, cada unidade de saúde e cada município demandem, proponham e
desenvolvam ações de educação permanente, tentando combinar necessidades e
possibilidades singulares com ofertas e processos mais gerais de uma política proposta para
todas as equipes e para todo o município. É importante sintonizar e mediar as ofertas de
educação permanente pré-formatadas (cursos, por exemplo), com o momento e contexto das
equipes, para que façam mais sentido e tenham, por isso, maior valor de uso e efetividade.

De modo análogo, é importante a articulação e o apoio dos governos estaduais e


federal aos municípios, buscando responder às suas necessidades e fortalecer suas iniciativas.
A referência é mais de apoio, cooperação, qualificação e oferta de diversas iniciativas para
diferentes contextos do que a tentativa de regular, formatar e simplificar a diversidade de
iniciativas.

As práticas de educação em saúde são efetivadas, historicamente, para as


mudanças nos comportamentos dos indivíduos em relação a componentes do processo saúde-
doença; no entanto, há controvérsias. Para Morosini (2007), educar é comunicar. O
trabalhador que educa, de fato, está comunicando; está realizando um trabalho de mediação
do conhecimento que adquiriu na área da saúde com a população para quem visa a informar a
respeito daquele conhecimento. Da mesma forma, a população também comunica um
49

conhecimento adquirido na experiência vivida e realiza um trabalho de mediação deste


conhecimento da realidade em relação ao trabalhador da saúde com quem dialoga.

Conforme Freire (1987), o educador não é o que apenas educa, mas o que,
enquanto educa, é educado, pois os homens aprendem em comunhão, mediatizados pelo
mundo. A educação deve corresponder à condição dos homens como seres históricos, por isso
é necessário refazer constantemente o processo educativo na prática. O conteúdo
programático desta educação, contudo, não pode ser uma doação ou uma imposição, e sim a
devolução organizada, sistematizada à comunidade, dos elementos que emergiram no
contexto onde estes vivenciam, e, para isso, faz-se imprescindível o reconhecimento do nível
de percepção que os indivíduos têm da realidade, a visão de mundo. Assim, será possível
desenvolver ações que tenham o potencial de promover a conscientização das pessoas, à
medida que as preparam para a luta contra os obstáculos à própria humanização.

O modo de as pessoas das classes populares perceberem e explicarem os


problemas de saúde é deveras complexo, entremeado por concepções de mundo, de vida e de
morte, de justiça social, de ambiente saudável, de felicidade e bem-estar e transcendência. É
preciso considerar que, quando as pessoas não cumprem determinações médicas, ou quando
buscam alternativas de tratamentos caseiros, isto pode acontecer por motivos diversos, todos
juntos ou não: econômicas, culturais, familiares, entre outras; mas, geralmente, os
profissionais de saúde somente têm uma palavra para explicar isso: ignorância (STOTZ;
DAVID; BORNSTEIN, 2007).

Vista como uma explicação simples ou ignorante pelos profissionais de saúde, a


concepção popular apresenta-se como um mosaico, em que os fragmentos de experiências e
saberes diversos presentes são usados como recursos de enfrentamento; de certos problemas,
de acordo com a ocasião, as possibilidades existentes e o que se acredita ser melhor. O
próprio saber médico está incluído neste mosaico de saberes, misturado às concepções
culturais ancestrais. É importante reconhecer que não se trata de um ‘vazio de saber’, mas de
outra forma de saber sobre saúde. A ignorância está presente, mas como modo de expressão
das pessoas que não tiveram acesso à educação formal. Igualar pobreza e ignorância é
desconhecer as reais potencialidades destas pessoas, é sujeitá-las à ordem social dominante
(STOTZ; DAVID; BORNSTEIN, 2007).

Em relação à ESF, o envolvimento entre os profissionais da equipe e usuários


pode ser mais estreito em decorrência dos pressupostos de adscrição da clientela,
territorialização, promoção da saúde e prevenção de doenças, em substituição ao modelo
50

hospitalocêntrico, proporcionando aos profissionais de saúde a convivência com outros


modelos ou sistemas de cuidado, os quais incluem o familiar e o popular, com vistas a uma
aproximação maior da lógica cliente/usuário e de uma interface do profissional com o cliente
(BOEHS, 2007).

A atenção básica é um dos expedientes prioritários para o desenvolvimento de


ações de promoção à saúde, tendo como instrumento a educação em saúde, é um nível de
atenção propício para consolidação de ações educativas que privilegia o sujeito em todas as
dimensões da vida.

Com base na formação biologicista e flexneriana dos profissionais de saúde, o


Ministério da Saúde publicou, em 2003, a Política de Educação Permanente do SUS, que
objetiva trabalhar os profissionais de saúde, inserindo o cotidiano do trabalho no processo de
formação, levando-os à problematização e à reflexão, para agir em prol de mudanças em
parceria com a comunidade, a transformação de práticas profissionais e da própria
organização do trabalho, tomando como referência as necessidades de saúde das populações,
tendo em vista que mudanças no processo de educar em saúde somente poderiam ocorrer com
origem em outra visão dos profissionais que executam as atividades de educação em saúde
(CECCIM, 2005; BRASIL, 2004; NICOLETTO, 2008).

A proposta de educação permanente foi desenvolvida como estratégia para


alcançar o desenvolvimento da relação entre o trabalho e a educação. Supõe, de saída que o
conhecimento se origina na identificação das necessidades e na busca de solução para os
problemas encontrados, sendo válidos na solução dos problemas tanto o conhecimento
científico como o popular, e a atividade do trabalhador pode ser o ponto de partida de seu real
saber, determinando, desta maneira, sua aprendizagem subsequente (LOPES et al., 2007).
O enfoque educativo é um dos elementos fundamentais na qualidade da atenção
prestada em saúde. As ações educativas fazem parte do cotidiano do trabalho do ACS e têm
como objetivo final contribuir para melhoria da qualidade de vida da população. Tais ações
ocorrem por meio do diálogo e do saber escutar. Podem ter início nas visitas domiciliares e
também nas atividades realizadas em grupos, sendo desenvolvidas nos serviços de saúde e nos
diversos espaços sociais existentes na comunidade. É um processo de elaboração permanente,
realizado em linguagem simples, acessível e precisa, além de considerar o conhecimento e a
experiência dos participantes para permitir a troca de ideias e estimular o cuidado de si,
fortalecendo a autoestima, a autonomia e também os vínculos de solidariedade comunitária
(BRASIL, 2009).
51

A Educação Permanente em Saúde constitui estratégia fundamental às


transformações do trabalho no setor, para que venha a ser lugar de atuação crítica, reflexiva,
propositiva, compromissada e tecnicamente competente. Há necessidade, entretanto, de
descentralizar e disseminar capacidade pedagógica por dentro do setor, isto é, entre seus
trabalhadores; entre os gestores de ações, serviços e sistemas de saúde; entre trabalhadores e
gestores com os formadores e entre trabalhadores, gestores e formadores, com o controle
social em saúde. Esta ação permitiria constituir o Sistema Único de Saúde verdadeiramente
como uma rede-escola (CECCIM, 2005).
52

3 METODOLÓGICO

3.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO

Neste momento, é apresentada a proposta metodológica definida para o estudo,


destacando os percursos desenvolvidos. Inicia-se com o estudo do tipo pesquisa-ação e, em
seguida, apresentam-se os procedimentos utilizados na pesquisa: observação participante,
entrevista e grupos focais. Os dados oriundos foram tratados mediante análise de conteúdo,
encerrando com considerações éticas.
Essa opção também encontra sustentação no fato de que as abordagens qualitativas são
capazes de incorporar a dimensão do significado e da intencionalidade como inerentes aos
atos, às relações e às estruturas sociais, sendo estas últimas tomadas tanto no seu advento
quanto na sua transformação, como construtos humanos significativos (MINAYO, 2006).
Com base nessa prerrogativa, entende-se que os diferentes atores envolvidos com os
processos atenção nos serviços primários, desde o seu fazer cotidiano, podem se constituir
sujeitos de transformação, no sentido de incorporar novas tecnologias e estratégias de atuação,
capazes de promover o desenvolvimento de novos arranjos, pautados, sobretudo, por
contribuir para transformação do modelo de atenção à saúde; de permitir que os serviços de
saúde atinjam sua finalidade; e, por fim, de promover a consolidação do SUS.
Utilizou-se para tanto a pesquisa-ação, que devido às suas peculiaridades, permite
identificar os problemas por meio do estudo exploratório, bem como trabalhar ações
educativas e de intervenção por meio dos dados levantados, ajustando-os adequadamente com
os pressupostos do intento em que se desenvolveu uma proposta educativa com agentes
comunitários de saúde sobre as DCNT.
Na área da saúde, este método de pesquisa se mostra muito relevante e alude a
inúmeros benefícios, pois que a educação para saúde tem, intrinsecamente, realidades e
paradigmas que urgem ser transformadas, tanto na área da saúde quanto na da educação.
A definição proposta por Marconi e Lakatos (2011) sobre a pesquisa qualitativa,
assinala que esta se preocupa em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo
a complexidade do comportamento humano, fornecendo informações mais detalhadas sobre
investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento, entre outros.
Sobre a pesquisa-ação, Thiollent (2011) afirma que é um tipo de pesquisa social
com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou a
resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes
representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou
53

participativo. Nessa perspectiva, pode-se observar a importância desta metodologia tanto para
pesquisas na área da Enfermagem quanto para as realizadas em Saúde Pública, tendo em vista
que as pesquisas desenvolvidas nessas duas áreas têm como finalidade a ação do cuidar, a
promoção do bem-estar e melhoria na qualidade de vida da população.
Barbier (2009) argumenta que a pesquisa-ação é uma forma de pesquisa na qual
há uma ação deliberada de transformação da realidade, possuindo duplo objetivo:
transformar a realidade e produzir conhecimentos relativos a essas transformações. O
autor afirma que na pesquisa-ação não se trabalha sobre os outros, mas sim com os
outros. Ela requer do pesquisador ser mais que um especialista: por meio da abertura
concreta sobre a vida social, política, afetiva, imaginária e espiritual, ela faz um convite
para que ele seja verdadeiramente, e talvez, tão simplesmente, um ser humano.
Para o autor, “a pesquisa-ação obriga o pesquisador a implicar-se. Ele percebe
como está implicado pela estrutura social na qual ele está inserido e pelo jogo de
desejos e de interesses de outros” [Precisa informar paginação]. Ele também implica os
outros por meio do seu olhar e de sua ação singular no mundo, ele compreende então, que
ciências humanas são, essencialmente, ciências de interações entre sujeito e objeto de
pesquisa (BARBIER, 2009).
Para Franco (2005), a característica mais importante da pesquisa-ação é propor
um processo integrador entre pesquisa, reflexão e ação, retomado continuamente sob
forma de espirais cíclicas, de modo a propiciar adequados tempos e espaços para que
a integração pesquisador-grupo possa se aprofundar.
Figura

Investigação

Ação

Pereira (2007) também relaciona a pesquisa-ação ao processo contínuo de


modificações dos espirais de reflexão e de ação, em que cada espiral inclui: aclamar e
54

diagnosticar uma situação prática ou um problema prático que se quer melhorar ou resolver;
formular estratégias de ação; desenvolver essas estratégias e avaliar sua eficiência; ampliar a
compreensão da nova situação (situação resultante) e proceder novamente aos mesmos
passos para a nova situação prática (PEREIRA, 2007).
Assim, mais do que responder aos anseios e elucidar as dúvidas, a pesquisa-ação é
uma metodologia que instiga, possibilitando que ocorra o ato de “implicar” (BARBIER,
2009) entre pesquisadores, colaboradores pesquisados e problemas investigados.
A pesquisa-ação ainda apresenta a vantagem de romper com as tradicionais
relações de poder pesquisador-pesquisado, minimizando o risco “tecnocrático”, o
autoritarismo do discurso científico que se pretende superior aos outros
saberes/conhecimentos, é o delineamento de pesquisa, cujo objetivo é, no contexto de um
projeto político-pedagógico, produzir conhecimentos sobre a prática pedagógica (BETTI,
2009).

3.1.1 Adequação da pesquisa-ação ao cenário desta investigação

Ao propor a pesquisa-ação para abordar o tema em estudo, deparou-se com um


importante desafio: como reconstruir os passos para definição do desenho da pesquisa-ação.
Considera-se o quão enorme seria o desafio, tendo em vista o seu objetivo: saber da prática,
interrogá-la na percepção dos ACS e propor mudanças. Ao mesmo tempo por meio do
processo, produzir conhecimento, objetivo da investigação acadêmica.
As oficinas cumpriram seu papel de reflexão sobre o trabalho, o conhecimento
teórico, a formação e o aperfeiçoamento profissional, buscando a compreensão dos sentidos
da prática profissional dos momentos de dificuldades e fragilidades da vivência enquanto
agente de saúde.
Durante todo o processo, evidenciou-se que esse era o primeiro momento do
trabalho, o reconhecimento de um contexto, das práticas e das pessoas envolvidas, e que a
pesquisa-ação por ser uma forma de investigação-ação, deve ocorrer de forma corrente, em
ciclos de implementação de mudanças para melhoria da prática, de tal forma que o término de
um ciclo se constitui no ponto de partida do próximo ciclo (TRIPP, 2005).
A ideia foi então a partir da apresentação do objeto e dos objetivos da pesquisa,
construir em conjunto com os participantes o percurso a ser seguido, tendo como base os
passos propostos por Thiollent (ano??), quando trata da concepção e da organização da
pesquisa-ação, fazendo, porém, as adaptações necessárias.
55

Para melhor alicerçar a proposta da pesquisa, desenvolveu-se um quadro com os


passos sugeridos.

QUADRO I – Etapas e adequação da pesquisa-ação ao cenário da investigação


Passos da pesquisa-ação (Thiollent) Pesquisa DCNT-ACS
Fase exploratória: conhecer a situação Reunião para apresentação da pesquisa, objeto e
O tema da pesquisa: sobre o que pesquisaremos? objetivos. Definição do tema da pesquisa e
Campo de observação, amostragem e participantes.
representatividade qualitativa.
Colocação dos problemas: situação que temos a
situação que queremos. Grupo de Observação e Plano de Ação
Realização de grupo focal e eleição das técnicas
utilizadas na pesquisa.
Plano de ação: o que precisa ser feito para
solucionar o problema identificado?
Aprendizagem: momento pensado no grupo de
observação e expresso no plano de ação.
Discussão: saber formal X saber informal Oficinas temáticas
Referencial teórico e discussão das temáticas
com especialistas na área.
Hipóteses: que situação nos sugere a situação a
ser modificada?
Espaço utilizado para Avaliação da Proposta
Educativa como um todo, que possibilita Seminário
examinar de forma positiva e significativa o
desempenho de aprendizagem.
Divulgação externa: compartilhar o
conhecimento produzido e modificado. Relatório final

Neste sentido, a investigação proposta insere-se nestes conceitos, pois, buscou


aproximação com os participantes do estudo, no caso os ACS, vislumbrando a descrição de
como a temática DCNT era por eles conhecida e desenvolvida no processo de trabalho,
convidaram-se os ACS a se colocarem e participarem na busca do conhecimento e resolução
de problemas coletivos levantados pelos próprios profissionais que vivenciavam a realidade
deste agravo na atuação profissional. Assim, optou-se por investigar concomitante ao agir,
para, desta forma, desempenhar um papel ativo no equacionamento de problemas
encontrados, no acompanhamento e na avaliação das ações desencadeadas em função dos
problemas.
Em se tratando de estudos acerca de fenômenos sociais, a abordagem qualitativa é
apontada por Serapioni (2000) como a mais adequada por sua capacidade de fazer emergir
aspectos novos, de ir ao fundo do significado e de estar na perspectiva do sujeito. Por
56

conseguinte, possibilita a descoberta de novos nexos e explicações de significados, apta a


apreender os aspectos subjetivos, raramente aparentes na realidade.

3.2 LOCAL E PERÍODO DO ESTUDO

O estudo teve como cenário a Atenção Básica do Município de Iguatu, mais


precisamente a Unidade Básica de Saúde Alencar I. Como uma das estratégias prioritárias
para o enfrentamento as DCNT está a ESF. E por ser esse o local de trabalho das ACS,
escolheu-se então esse cenário para desenvolver a pesquisa em questão, pois acreditou-se ser
esse um espaço privilegiado no tocante à assistência, em saúde em especial aos portadores de
DCNT.
Iguatu localiza-se no centro da região Centro Sul do Ceará. Possuía população de
aproximadamente 100.000 habitantes, em 2013. O município é dividido em oito distritos:
Iguatu (sede), Barreiras, Barro Alto, Baú, Gadelha, José de Alencar, Riacho Vermelho e
Suassurana e exerce papel de centro regional de comércio e serviços, oferecendo apoio para
mais de 10 municípios da região onde se localiza. Sua economia é baseada na agricultura
(plantio de arroz e algodão), na pecuária e no comércio. A indústria ainda é incipiente (IBGE,
2014).
O mesmo exerce papel de centro regional de comércio e serviços, oferecendo apoio
para mais de 10 cidades próximo da região onde se localiza (IBGE, 2010). O anexo II mostra
as delimitações com outros municípios vizinhos.
Considerando a distribuição da população por idade, observa-se estreitamento da
base da pirâmide etária, caracterizando avanço no processo de transição demográfica. O
índice de envelhecimento apresentou crescimento expressivo no município. Elevou-se de
35,9, em 2000, para 53,9, em 2010, confirmando o envelhecimento da população (IBGE,
2014). A modificação do perfil etário da população apresenta implicações no perfil de
morbimortalidade, principalmente, aumento da prevalência das doenças crônicas.
A contextualização histórica do Sistema Único de Saúde-SUS, em Iguatu, revela
pioneirismo e capacidade de inovação. A implantação do Programa Agentes Comunitários de
Saúde-PACS, do Programa Saúde da Família-PSF, do Centro de Atenção Psicossocial-CAPS
e da Escola de Saúde Pública de Iguatu-ESPI indica protagonismo regional e nacional, o que
sinaliza expansão nos equipamentos e serviços a serem ofertados. Faz parte da 18ª Região de
Saúde do Ceará como município Polo para oferta de serviços de saúde. A imagem da Figura I
mostra os municípios participantes da região de saúde, bem como a população de cada um.
57

Figura 1: Municípios pertencentes a 18ª Região de Saúde do Ceará.

Como rede de apoio secundária, o município dispõe dos seguintes serviços de


saúde, divididos entre centros de referência, hospitais, policlínica, Centro de Especialidades
Odontológicas (CEO), Unidade de Pronto Atendimento (UPA), Centro de Nefrologia e outros
serviços de apoio (CNES, 2014).
Uma característica marcante da estruturação da rede de saúde do município é a
estruturação dos serviços como unidades polo e de referência para região Centro Sul. Muitos
municípios possuem a rede de Iguatu como suporte e complemento da rede própria. Esta
forma de a organização da rede tem sido francamente debatida pelo Ministério da Saúde (MS)
e os municípios têm se interessado em pactuar tal arranjo na Comissão Intergestores Bipartite
(CIB). Iguatu é o município que coordena a 18 ª microrregião de saúde com mais 09
municípios.
Quanto ao perfil epidemiológico, o município de Iguatu é caracterizado pelo
avanço das doenças crônicas não transmissíveis e pela diminuição das doenças
infectocontagiosas.
TABELA 1: Mortalidade proporcional por grupos de causas x 100.000 habitantes no
município de Iguatu
Grupos de causas 1996 2004 2011
Doenças do aparelho circulatório 29,9 28,4 30,3
Neoplasias 16,8 13,0 17,4
Causas externas de morbidade e mortalidade 16,1 16,0 15,0
Doenças do aparelho respiratório 8,8 13,9 10,6
Algumas doenças infecciosas e parasitárias 8,8 7,1 3,5

Algumas afecções originadas no período perinatal 8,0 6,2 1,0


Demais causas definidas 11,7 15,4 21,6
TOTAL 100 100 100

Fonte: DATASUS, 2014


58

A transição epidemiológica acompanha a transição demográfica. Observa-se na


tabela 1 que as doenças do aparelho circulatório e neoplasias mantém sua posição de destaque
como as principais causas de mortalidade, acompanhando os dados nacionais de crescimento
das DCNT.
Quanto à Atenção Básica, a Estratégia Saúde da Família é o principal eixo de
organização da rede de serviços de saúde de Iguatu. Há 28 equipes implantadas com
profissionais médicos concursados, contratados por tempo determinado, do Programa Mais
Médicos para o Brasil e do Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica. Das
28 equipes, 17 aderiram ao Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da
Atenção Básica.
Os serviços essenciais oferecidos pelas unidades básicas de saúde estão distribuídos
entre atividades preventivas/promoção (orientação, grupos, educação em saúde, imunização
como alguns exemplos), atividades de assistência (consultas e atendimentos individuais,
atendimentos familiares, atendimentos compartilhados, aplicação de medicação, avaliação de
condutas terapêuticas, curativos dentre outros serviços) e atividades de reabilitação, com
ênfase no território (viabilizada pelo acompanhamento sistemático e por meio de visitas
domiciliares).
O município vem investindo na Estratégia Saúde da Família para o enfrentamento
das principais causas de mortalidade no município e para isso vem passando por
reestruturação da Atenção Básica, ampliando equipes de saúde da família.
O ponto de partida de toda pesquisa-ação deve ser uma necessidade emergencial
da comunidade em estudo, realizada de forma coletiva, participativa, construtiva, conjuntiva,
dialógica e interventora. É também o local de militância da pesquisadora onde vem
desempenhando um papel de coordenação da equipe de saúde e assistência as famílias e com
isso, perceberam-se as dificuldades, fragilidades formativas, além da falta de conhecimento
por partes dos ACS relacionada com a temática das doenças crônicas.
Frente ao exposto, a Unidade Básica de Saúde Alencar I, escolhida para realização
deste estudo, é constituída 32 sítios e uma população de 3.327 habitantes, possuindo total de
1.031 famílias, dentre estas são acompanhadas as famílias com portadores de DCNT (IBGE,
2014). No anexo V, encontra-se o mapa de territorialização da UBS envolvida no estudo.
Esta é uma Unidade que funciona na zona rural do município de Iguatu - Ceará e
dista 54 km da zona urbana e possui acesso considerado difícil, por ser uma via rural não
pavimentada, dentre algumas dificuldades, estão o transporte dos pedestres e a acessibilidade.
59

Isso evidencia também a dificuldade de pacientes em ter acesso aos serviços de saúde, bem
como dos profissionais que lá residem a terem acesso à formação e capacitação.

3.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO

Os participantes foram os ACS pertencentes à Unidade de Saúde da Família do


Distrito de José de Alencar I de Iguatu-CE. O estudo contou com a participação de 12
sujeitos, considerados informantes-chave para a pesquisa. Contou-se ainda com mais seis
pessoas envolvidas no estudo, que foram: médico da unidade, enfermeiro, dentista e três
usuários. Estes participantes formaram o “grupo de observação” que foi responsável pela
elaboração do plano de ação educativo. Contou-se com toda a amostra prevista, considerando
que uma pesquisa-ação preza pela qualidade de informação e não pela quantidade, tendo em
vista o objetivo primordial que é a mudança de um determinado estado para outro fruto da
ação realizada. No referido município, atualmente, encontram-se cadastrados 242 ACS, sendo
distribuídos em 18 equipes de Saúde da Família, na zona urbana, e em 10 equipes, na zona
rural, conforme visualizado nas tabelas.

TABELA 2 –Distribuição dos Agentes Comunitários de Saúde, número de famílias


acompanhadas por equipe de Saúde da Família na zona urbana/rural do
município de Iguatu-CE, 2014.
Nº. PSF Nº de ACS FAMÍLIAS
01 06 780
VILA NEUMA

02 06 665
VILA MOURA

03 SANTO 10 1.314
ANTONIO
04 COHAB 07 1.149

05 NOVO IGUATU 07 831


06 VENEZA 07 1.131
07 JARDIM OÁSIS 08 1.327

08 JOÃO PAULO II 08 1.115

09 SÃO 06 2.196
SEBASTIÃO
10 BARRA 07 700
11 BRASÍLIA 11 1.447
12 FLORES 08 1.133
60

13 PARANÀ 07 1.040
14 ALTO DO JUCÁ 12 1.424
15 COCOBÓ 09 1.255
16 VILA 07 954
CENTENÁRIO
17 AREIAS 10 1.345
18 ALTIPLANO 10 1.313
19 ALENCAR I 12 1.031
20 ALENCAR II 12 1.407

21 SUASSURANA 12 935
22 BARRO ALTO 06 760
23 GADELHA 12 1.030
24 SANTA ROSA 10 1.020
25 RIACHO 09 576
VERMELHO
26 PENHA 07 1.005
27 CAJAZEIRAS 07 795
28 BARREIRAS 08 1.173
TOTAL 242 30851

Fonte: Pesquisa direta, Secretaria Municipal de Saúde de Iguatu-CE - 2014

Consoante à orientação teórico-metodológica adotada, optou-se por uma amostra


qualitativa intencional (MINAYO, 2006), por se entender que ela é capaz de refletir a
totalidade do objeto estudado nas suas múltiplas dimensões, cuja escolha dos entrevistados foi
facilitada pela familiaridade do pesquisador com os serviços e os atores sociais que neles
atuam.
No referente ao processo de delimitação quantitativo de sujeitos que participaram do
estudo, a pesquisa qualitativa não atribui relevância ao critério numérico, como estratégia para
possibilitar a generalização dos achados (MINAYO, 2006; TRIVIÑOS, 1990). Deste modo, o
critério norteador deve ser o aprofundamento, a abrangência e a diversidade na atividade de
compreensão dos vários setores sociais - grupos específicos, organização, instituição, política
ou representação, e não as generalizações.
Nesses termos, a amostra foi dimensionada com base na saturação teórica
(FONTANELLA; RICAS; TURATO, 2008), segundo a qual o material coletado deve
permitir a subsequente compreensão em profundidade da produção subjetiva que emerge na
relação com os grupos/atores pesquisados.
61

3.4 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Utilizaram-se os referenciais do método pesquisa-ação para coleta de dados, que foi


efetuada por meio do grupo de observação e pesquisador. Para efetivar este estudo, adotou-se
um desenho de pesquisa avaliativa com abordagem predominantemente qualitativa, utilizando
múltiplos métodos para a coleta de dados, compondo uma investigação por triangulação de
métodos, em que aportes quantitativos foram utilizados como suportes no processo
avaliativo. Este desenho de pesquisa permitiu compreender o processo de trabalho que vem
sendo executado pelos ACS frente à atuação das DCNT no cotidiano das unidades de saúde.
Também permitiu a inclusão dos sujeitos envolvidos na pesquisa e promover educação
permanente destes, por meio de ações participativas em oficinas de capacitação e de exercício
de grupalidade coletiva. Nesta pesquisa, adotaram-se oficinas temáticas, reuniões de grupo e a
técnica do seminário, bem como as técnicas para diagnóstico situacional, resolução de
problemas, mapeamento de representações e técnicas de divulgação e/ou comunicação,
conforme a finalidade básica do estudo.
A primeira técnica empregada foi a observação participante, fez-se uso desta técnica
para levantamento de informações que pressupõe convívio, compartilhamento de uma base
comum de comunicação e intercâmbio de experiências com os ACS, primordialmente por
meio dos sentidos humanos: olhar, falar, sentir, vivenciar. Entre o pesquisador, os sujeitos
observados e o contexto dinâmico de relações no qual os sujeitos vivem e que é por todos
construído e reconstruído a cada momento.
Como técnica complementar de apreensão da realidade empírica, adotou-se a
observação assistemática dos processos de trabalho e de registros como preenchimento das
fichas B e anotações referentes às visitas domiciliares. Deste modo, foram observadas,
durante o período de setembro a outubro de 2014, as visitas domiciliares realizadas aos
portadores de DCNT, que ocorrem no cotidiano dos ACS. Foram acompanhadas 24 visitas, a
priori, foram agendadas com cada participante e a partir disso, realizadas anotações no diário
de campo construído para esta pesquisa. Logo, registraram-se aproximadamente 12 horas de
observação.
Pode-se considerar que configura uma estratégia imprescindível no trabalho de campo,
por se tratar de uma pesquisa qualitativa, em que se busca apreender a rotina de um grupo no
seu fazer cotidiano. Com efeito, representa, portanto, o processo pelo qual se mantém a
presença do pesquisador em uma situação social, com a finalidade de realizar uma
62

investigação científica. Desta maneira, o observador se coloca na posição e no nível dos


outros elementos componentes do fenômeno social pesquisado. Como consequência,
conforma-se como parte do contexto sob observação, podendo modificar e, ao mesmo tempo,
ser modificado por essa realidade (CRUZ NETO, 1994).
Ao selecionar as visitas, foi decidido apenas que a escolha de pacientes com
doenças crônicas seria aleatória, e aqueles que estivessem precisando de visita domiciliar.
Neste instante, foi acordado que inicialmente seriam realizadas apenas orientações. A
pesquisadora atuou apenas nesta função, a qual foi explicada aos ACS antes de sair para as
visitas.
Com a realização das visitas, buscou-se conhecer as condutas e observar as lacunas
de conhecimento relacionadas ao acompanhamento dos portadores dessas doenças.
Observaram-se também as condutas e orientações repassadas aos mesmos e aos familiares,
fazendo, assim, um diagnóstico inicial do problema.
No intuito de não permitir que o fluxo de informações e impressões referente ao
cenário observado perca de vista sua objetividade, apostou-se na necessidade de um
instrumento para registrá-las, conferindo-lhes maior potencial analítico. Com tal preocupação,
adotou-se o diário de campo como instrumento para o registro dessas informações.
O diário de campo, que foi empregado como uma forma de registro de
observações, comentários e reflexões e foi utilizado nesta pesquisa para registros de
atividades de pesquisas e registro do processo de trabalho. Foi organizado em três partes: (1)
descrição; (2) interpretação do observado, momento no qual foi explicitado, conceituado,
observado; (3) registro das conclusões preliminares.
As anotações descritivas realizadas no diário de campo transmitiram com exatidão
a exposição dos fenômenos sociais – requisito essencial da pesquisa qualitativa e de uma
intervenção profissional preocupada não somente com ações imediatas, mas com o
planejamento destas. Consistiu, portanto, em um primeiro passo para avançar na explicação e
compreensão da totalidade do fenômeno em seu contexto, captando seu dinamismo e suas
relações. As anotações de cunho analítico-reflexivo, surgidas da observação dos
acontecimentos e dos processos, indicam quais questões devem ser aprofundadas a partir de
maiores informações ou indagações, pois se entende que estas reflexões avançam na busca de
significados e explicações dos fenômenos apreendidos, tanto na realização de uma pesquisa,
como em situações de atendimento no cotidiano da intervenção profissional.
O diário de campo, que se consolidou como ferramenta de trabalho, foi usado
também de forma a complementar recursos proporcionados pela tecnologia, como gravadores,
63

notebooks, smartphones, tablets, recursos eletrônicos cada vez mais variados, sempre frisando
a importância do cuidado no uso destes recursos, de acordo com os ditames éticos de pesquisa
com seres humanos.
A segunda técnica empregada foi a entrevista individual, aplicada de modo
aprofundado (THIOLLENT, 2011). Para sua consecução, usou-se, na fase exploratória, um
roteiro contento informações acerca dos aspectos sociodemográficos dos participantes do
estudo e questões norteadoras (APÊNDICE A). Este instrumento permitiu abordagem inicial
do grupo de ACS, formulando avaliação inicial sobre os conhecimentos relacionados às
DCNT, com os quais se trabalhou de maneira a ter um diagnóstico inicial e, sobretudo,
suporte para investigação das temáticas de interesse dos participantes acerca do tema inicial
“Doenças Crônicas Não Transmissíveis: Desafios e Cargas Atuais”.
A entrevista semiestruturada revelou-se apropriada para obtenção de informações,
por permitir a interação do pesquisador com o pesquisado, permitindo, então, emergir a
subjetividade do sujeito entrevistado. Caracterizou-se por enumerar, de forma abrangente, os
questionamentos que o pesquisador pretende abordar em campo, tendo como ponto de partida
os pressupostos oriundos da delimitação do objeto de estudo.
Conforme Triviños (1990), a entrevista semiestruturada, ao mesmo tempo em que
valoriza a presença do pesquisador, oferece todas as possibilidades para os entrevistados
alcançarem a liberdade e a espontaneidade necessárias para adequada apreensão do objeto de
investigação. O processo interativo estabelecido durante a realização da entrevista, portanto,
não constitui simplesmente um processo mecânico de obtenção de informações, mas uma
relação. Assim, as informações emitidas pelos sujeitos podem ser profundamente afetadas
pela natureza do encontro. Essa premissa situa o investigador diante de um exercício contínuo
de encontrar a objetividade em meio à subjetividade produzida nessa dinâmica relacional.
Ao se tomar esse posicionamento, adentra-se o território discursivo acerca da
representatividade da pesquisa qualitativa. De tal modo, Minayo (2006) pondera que ao se
aceitar o fato de que todos os membros do mesmo grupo ou da mesma classe são produtos de
condições objetivas idênticas, surge então a possibilidade de se perceber, na análise da prática
social, o efeito da universalização e da particularização, na medida em que eles se
homogeneízam, distinguindo-se dos outros grupos.
Foram realizadas 12 entrevistas individuais, de setembro a outubro de 2014.
Foram executadas no local de trabalho, com horário previamente agendado, de acordo com a
disponibilidade de tempo do entrevistado e de espaço disponível no serviço, com vistas a
assegurar a privacidade do sujeito. Cada entrevista teve duração média de 50 minutos.
64

Ressalte-se que a operacionalização foi guiada por um roteiro com perguntas abertas,
objetivando privilegiar os questionamentos levantados inicialmente e os pressupostos da
pesquisa (APÊNDICE I ), cuja aplicação se presta muito mais a guiar a conversa realizada
com o informante/entrevistado do que a ser algo seguido de forma rígida, o que limitaria e
empobreceria as possibilidades de um maior aprofundamento na temática em questão e a
relação constituída.
As falas dos entrevistados constituem matéria-prima indispensável à compreensão
do fenômeno social estudado. De tal maneira, torna-se imprescindível o seu registro
fidedigno, com vistas a uma boa compreensão da lógica interna do grupo pesquisado.
Partindo desse entendimento, adotou-se a gravação da entrevista como estratégia capaz de
assegurar que as informações sejam registradas com fidedignidade. Em respeito aos princípios
éticos, orientadores da pesquisa com seres humanos, contudo, a gravação somente foi
executada com a anuência do entrevistado.
Posteriormente, utilizou-se a técnica do Grupo Focal. Este foi utilizado na
formação do Grupo de Observação, realização das oficinas e seminário. O grupo focal
permitiu a obtenção de dados a partir de sessões grupais entre pessoas que compartilham um
espaço comum. Os grupos realizados nesta pesquisa permitiram a coleta de informações sobre
temas relevantes e significativos, que possibilitaram a observação da interação, do modo de
pensar, e os diferentes graus de consensos e ou dissensos que permeavam os encontros
(MINAYO, 2008).
Com o grupo focal, realizaram-se dois encontros para elaboração do Plano de
Ação Educativo. A partir de então, a técnica foi utilizada em encontros para realização de
oficinas temáticas, no total de cinco. Realizou-se, ainda, por meio desta técnica mais dois
encontros para construção do Seminário, totalizaram-se, assim, nove encontros com os
participantes do estudo.
A utilização dos grupos focais, de forma isolada ou combinada com outras
técnicas de coleta de dados primários, revela-se especialmente útil na pesquisa avaliativa. Nos
estudos de avaliação de implantação de programas e estratégias de saúde, que costumam
subsidiar a tomada de decisão, são mais valorizadas as metodologias de inspiração
construtivista, posto que, nestes casos, é necessário apreender a complexidade do objeto e seu
caráter dinâmico (NOVAES, 2000).
Gaskel (2002) define grupos focais como uma técnica de pesquisa qualitativa,
derivada das entrevistas grupais, que coleta informações por meio das interações grupais. O
grupo focal é uma forma de entrevistas com grupos, baseada na comunicação e interação. O
65

principal objetivo é reunir informações detalhadas sobre um tópico específico (sugerido por
um pesquisador, coordenador ou moderador do grupo) a partir de um grupo de participantes
selecionados. Busca colher informações que possam proporcionar a compreensão de
percepções, crenças, atitudes sobre um tema, produto ou serviços.
É importante ressaltar que nesta proposta de investigação, baseada no método da
pesquisa-ação, não existiu monopolização na construção (procedimentos de coleta) dos
resultados pelos pesquisadores, muitas vezes habituados apenas a fazer perguntas e recolher
as respostas dos “investigados”. Neste sentido, teve-se como foco os participantes não
considerados apenas como membros informantes, ou seja, procurou-se articular as etapas da
pesquisa, de modo que estes também desempenhasseem função interrogativa, com a
possibilidade de fazer perguntas e elucidar os assuntos coletivamente inquiridos
(THIOLLENT, 2011).
Ainda como técnica de coleta de dados, utilizou-se o Seminário, considerado como
principal ponto de referência na pesquisa-ação. Para Thiollent (2011), o seminário consiste
em examinar, discutir e tomar decisões acerca do processo de investigação. Centraliza todas
as informações coletadas e discute as interpretações. A partir do conjunto de informações
processadas, o Seminário produz material, parte dele é de natureza teórica (conceitual) e outra
é empírica (apontamentos, levantamentos). Outra parte ainda é de divulgação, de natureza
didática ou informativa, destinado ao conjunto da população implicada nos problemas
abordados.
Assim, desenvolvemos a pesquisa em dois momentos:
1º momento: caracterização da UBS e participantes da pesquisa (ACS);
Diagnóstico inicial/levantamento dos problemas
2º momento: ações e intervenções educativas (planejamento, execução e avaliação).
A pesquisa em questão passou por quatro grandes fases: exploratória, principal
(planejamento), de ação, de avaliação.

3.4.1 Pré-Campo
De forma resumida, os procedimentos desenvolvidos foram listados abaixo:
a) Autorização da Secretaria Municipal de Saúde de Iguatu (SMSI) para realização do estudo:
esta etapa consistiu na apresentação à Secretaria Municipal de Saúde do projeto de pesquisa e,
em reunião previamente agendada com o secretário municipal de saúde e a coordenadora da
atenção básica, na exposição dos objetivos pretendidos e da metodologia utilizada, bem como
66

dos preceitos éticos que foram seguidos. Após a aprovação, a SMSI emitiu um o Termo de
Anuência (ANEXO I) à consecução do estudo;
b) Apreciação e Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual
do Ceará (ANEXO III) .
3.4.2 Campo
Procedimentos da pesquisa
1 - O ponto de partida (fase exploratória) ou primeiro passo da pesquisa, representa a
descoberta do campo empírico, no qual se situam os participantes da investigação e os
problemas existentes. Esse momento foi dedicado ao estabelecimento dos primeiros contatos
com esses sujeitos (ACS), dos quais a pesquisadora passou a identificar expectativas e
problemas específicos, estabelecendo diálogo situacional. Nessa fase, estabeleceram-se os
objetivos de aprendizagem da ação educativa, considerando-se os problemas prioritários, o
campo empírico, os participantes e as ações planejadas. Definidos os atores (participantes),
estes passaram a se reunir com a pesquisadora para discutirem os problemas vislumbrados e
tomarem decisões.
2- Realização da Observação Participante e Entrevista Individual: Os envolvidos foram
solicitados a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE B). A
Observação Participante complementou os achados na entrevista. Essa fase se faria
necessária, tendo em vista a complementação das informações referentes à atuação dos ACS
com portadores de DCNT. Foram observadas visitas domiciliares individuais, em que apenas
a ACS e a pesquisadora estiveram presentes, além das famílias visitadas. Neste instante, a
pesquisadora apenas observava o comportamento e as orientações repassadas e nenhum
momento dirigiu a palavra ao ACS ou membros da família, seguindo o Roteiro de Observação
(APÊNDICE C). Posteriormente, aplicou-se a entrevista semiestruturada, com utilização de
um roteiro com perguntas norteadoras (APÊNDICE A). As entrevistas foram realizadas na
própria UBS, em que foi reforçado o objetivo da pesquisa. Neste momento, foram expostos os
riscos previsíveis do estudo e os benefícios diretos (para todos os participantes) e indiretos
(para comunidade científica) almejados.
3- O terceiro passo consistiu em concretizar as temáticas da pesquisa e sua delimitação.
Realizou-se leitura da entrevista e das anotações no diário de campo para identificar as
necessidades formativas e, posteriormente, em um novo encontro, em que foram propostas as
temáticas identificadas na entrevista. Divergente dos métodos convencionais, na pesquisa-
ação, esta etapa realiza-se a partir de um processo de discussão promovidos entre
pesquisadores e participantes. Tem-se, portanto, a formulação do tema e sua delimitação, que
67

se apresenta com característica descritiva, pelo fato de pormenorizar a realidade fenomênica,


bem como normativa, pois a melhoria que se busca pela transformação da realidade sempre
supõe um ideal de realidade elaborado pelos participantes do estudo. Diversos são os tipos de
ação que emanam esse tipo de pesquisa: educativa, comunicativa, técnica, política, cultural,
de caráter individual ou coletivo, no caso da pesquisa em questão, elaborou-se proposta
educativa direcionada às DCNT, referentes as maiores necessidades do público.
4- Realizar pactuação e Grupo de Observação: neste momento, iniciaram-se os encontros por
meio do grupo focal, pois acreditou-se que ao propiciarem um debate aberto e acessível em
torno de um tema de interesse comum aos participantes, possibilitava-se a evolução da
pesquisa. Nesse passo da pesquisa, constitui-se o grupo de observação que foi composto por:
membros da equipe (médico, enfermeiro, dentista), uma parcela dos ACS envolvidos na
pesquisa, e representantes dos usuários (três usuários portadores de DCNT). O grupo de
observação teve como objetivo sistematizar e analisar os conteúdos produzidos nas entrevistas
(análise das falas) e observação participante (relatos detalhados das visitas domiciliares a
portadores de DCNT). Após análise dos dados da entrevista e seleção dos principais temas
delimitados pelos ACS, foram expostos ao grupo de observação uma apresentação em Power
Point que trazia de forma clara e objetiva o que se encontrava como definições pelo
Ministério da Saúde e o que os ACS responderam. Acredita-se que com essa apresentação,
conseguiu-se despertar no grupo as discussões pertinentes as temáticas. Após esse momento,
iniciou-se a construção do Plano de Ação (APÊNDICE IV), bem como a proposta da
realização das oficinas pedagógicas. Após anuência e delimitação dos participantes,
consolidu-se a proposta interventiva, realizando encontros que foram agendados com os ACS.
Deste modo, todas as ações de discussão e interpretação das informações foram desenvolvidas
no próprio grupo de observação. As principais tarefas do grupo de observação foram as
seguintes: discussão, críticas, levantamentos sobre definição do tema e problemas para os
quais a pesquisa foi realizada; elaboração das interpretações; busca de soluções e definição
das diretrizes de ação – plano de ação e aprendizagem; acompanhamento e avaliação das
ações. Neste momento, também ficou acordada a realização de oficinas temáticas, sendo a
estratégia eleita pelo Grupo de Observação para melhor repasse de informações e apreensão
dos assuntos referentes às DCNT. A divulgação das oficinas foi feita por meio de convite
impresso e verbal pela pesquisadora.
5- Nesta etapa, apresentou-se aos ACS a constituição do Plano de Ação desenvolvido no
Grupo de Observação. O Plano de Ação foi composto por necessidades formativas apontadas
no grupo de observação como prioritárias para se trabalhar junto aos ACS em relação às
68

DCNT; Prosseguiu-se para execução do Plano de Ação, que é a própria intervenção e que
apesentou propostas referentes às dificuldades e limitações que emergiram dos discursos dos
ACS nas oficinas e realização das entrevistas. Foram acordadas no plano de ação a execução
de cinco oficinas, tendo como temáticas: a primeira oficina realizada pelo médico sobre as
“DCNT, uma visão sobre as doenças”. A segunda realizada pela enfermeira sobre “Como
conhecer fatores de risco, estratificação de risco e complicações”. A terceira realizada pela
nutricionista, tendo como assunto “A promoção a saúde dos portadores de DCNT por meio da
alimentação”. A quarta oficina realizada pelo enfermeiro do CAPS-AD sobre “A utilização de
álcool e drogas e sua implicação com as DCNT”. A quinta e última oficina realizada pelo
educador físico sobre “A atividade física e qualidade de vida”.
Após realização das oficinas, foi acordado mais um encontro para preparação do Seminário
que foi construído pelos ACS participantes da pesquisa e apresentado aos demais ACS do
município. O seminário teve a duração de 4 horas, desta forma, foi realizada uma avaliação de
todas as oficinas ofertadas.
6- A Avaliação: inicialmente, passou-se a realizar a avaliação formativa ou processual após
cada oficina com a aplicação de um instrumento de avaliação (APÊNDICE E). Para
Avaliação da Proposta Educativa como um todo, optou-se por aplicar o Seminário e assim
encaminhou-se essa reflexão, no sentido de mostrar a importância do uso do mesmo como
uma prática avaliativa que possibilita examinar de forma positiva e significativa o
desempenho de aprendizagem.
7- Técnica do Seminário: sabe-se que nas diferentes áreas de atuação do mercado de trabalho,
o profissional precisa dominar não somente as habilidades básicas da profissão, como também
aquelas que servem como suporte estratégico para o bom desempenho profissional. Entre elas,
pode-se apontar o desenvolvimento de habilidades que lhe permitam organizar e comunicar
informações e conhecimentos por meio da linguagem falada. Neste contexto, pode-se abordar
o uso da técnica de seminário como procedimento avaliativo que possibilita ao participante
desenvolver competências e habilidades no que se refere à pesquisa, à autonomia na busca de
conhecimento, ao trabalho em grupo, à comunicação e o posicionamento crítico/reflexivo
verbalizado do educando no decorrer do processo de organização e resultado do trabalho
proposto. Com base nessa certeza, utilizou-se a técnica para que os próprios ACS envolvidos
na pesquisa apresentassem os resultados aos demais ACS do município.

8- Como última etapa da pesquisa-ação ou ponto de chegada, ocorre a divulgação externa


dos resultados da pesquisa aos participantes, bem como em encontros de natureza científica e
69

nos meios de comunicação acadêmica (revistas, jornais e demais publicações seriadas).


Confere-se o resultado satisfatório da pesquisa a partir da transformação da realidade ou da
conscientização por parte dos envolvidos no estudo. Especificamente nas pesquisas de ação
comunicativa, na qual se intenciona elaborar material próprio de comunicação (panfleto,
cartilha, jornal, vídeo), sua criação ou funcionamento significam o resultado positivo da
investigação.
Evidencia-se, portanto, que a pesquisa-ação apropria-se de métodos e técnicas da
pesquisa social, tornando-se estratégia complexa e abrangente, de caráter coletivo,
participativo e ativo na obtenção de informações e na tomada de decisões para transformação
da realidade.
Por meio do desenho proposto, a pesquisa visou investigar o campo empírico e
agir sobre este e forma dois polos extremos: investigação e ação, que se encaixam nas
características do ciclo: planejar – agir – descrever – avaliar, denominado “ciclo da
investigação-ação” (THIOLLENT, 2011).

3.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para análise e interpretação dos dados colhidos nos grupos focais, entrevistas e
observação participante, bem como os registros em diário de campo, utilizou-se o método de
análise temática e categorização das falas.
Minayo (2008) considera a análise temática a modalidade mais adequada para as
pesquisas de abordagem qualitativa no serviço de saúde. A mesma autora relata que a análise
temática revela os núcleos de sentido do discurso, na qual a presença ou frequência de
determinados temas demonstram estruturas e valores de relevância, modelos de
comportamento presentes ou subjacentes na comunicação, configurando significância para o
objeto em estudo.
Para elaboração dos resultados, em um primeiro momento, foram compiladas as
informações colhidas previamente no planejamento dos encontros. Desde essa perspectiva,
sistematizou-se a análise dos dados, seguindo alguns passos operacionais, os quais permitiram
o estabelecimento de relações entre as diferentes fontes, buscando estabelecer articulação
entre o material empírico e o referencial teórico-metodológico adotado, na tentativa de
responder aos questionamentos e objetivos que nortearam o estudo. Desta forma, os passos
sugeridos por Minayo (2006) estão delineados na sequência.
70

Ordenação das informações – consistiu na transcrição fiel do conteúdo das


entrevistas gravadas, seguida da primeira leitura do material transcrito. Nesta primeira fase,
estabelecem a unidade de registro, a unidade de contexto, os recortes, a forma de
categorização, a modalidade de codificação e os conceitos teóricos mais gerais que orientarão
a análise. Esta etapa se configura como o primeiro contato com o material empírico coletado.
Posteriormente, foram organizadas as diferentes informações contidas nas entrevistas e
observações, com intuito de estruturar o mapeamento horizontal, organizando-o em diferentes
conjuntos.
Classificação das informações – consiste na organização das informações,
tomando por base a relação entre os dados empíricos, objetivos e pressupostos teóricos da
pesquisa. Nesse momento, a elaboração do conhecimento ganha complexidade. Esse processo
permite a primeira aproximação com os significados manifestos e latentes no conteúdo das
entrevistas, possibilitando desvelar os núcleos de sentido. Para tanto, procedeu-se à leitura
transversal do material empírico, o que permitiu a elaboração da síntese vertical, de cada
unidade de análise, possibilitando a visualização das categorias temáticas pautada nas falas
dos sujeitos e que compõem as unidades de significação da análise empreendida, de acordo
com o proposto na análise temática (POPE; ZIEBLAND; MAYS, 2009). Assim, emergiram
duas grandes categorias temáticas: 1. Agentes de Saúde e sua formação para prática em
Saúde; 2. Doenças Crônicas Não Transmissíveis: saberes e práticas no trabalho do ACS.
Após identificação das categorias temáticas, o passo seguinte foi a seleção de falas
e de registros, presentes nas entrevistas e observações, recortando-as e inscrevendo-as nos
eixos temáticos a que se vinculam, tomando-se o cuidado para que todas as manifestações
sobre os temas encontrados tenham sido incluídos.
Por último, procedeu-se ao exercício interpretativo, mais refinado, mediante a
comparação dos destaques das entrevistas, dos documentos e da observação de campo,
buscando analisar as convergências, divergências, diferenças e complementaridades entre os
discursos produzidos pelos diferentes atores, articulando-os com as especificidades e/ou
singularidades dos processos de gestão operacionalizados no cenário do estudo (ASSIS;
JORGE, 2003).
Desse modo, valoriza-se o encontro da especificidade do objeto, pela prova do
vivido, com as relações essenciais estabelecidas nas condições reais e na ação particular e
social. A análise de um contexto histórico-estrutural exige movimento contínuo de articulação
entre os dados empíricos e o referencial teórico-metodológico selecionado.
71

Análise final – consistiu no movimento, baseado na profunda inflexão sobre o


material empírico, no qual se vai do empírico para o teórico, do concreto para o abstrato e
vice-versa, buscando as riquezas do particular e do geral. Para maior compreensão do objeto
de investigação, procedeu-se à análise das falas das entrevistas, observações e documentos,
articulando-se com a contribuição de alguns autores e a experiência que se tem acumulada,
gerada do contato com o campo de estudo, e a própria visão de mundo, pois, no processo de
pesquisa, sobretudo a que se aproxima da pesquisa social, não há neutralidade absoluta. Neste
sentido, Minayo (2006) afirma que a pesquisa social como processo de produção e produto
configura-se como objetivação da realidade e, ao mesmo tempo, como objetivação do
pesquisador, que se torna também produto de sua produção.
Para melhor guiar a investigação do objeto do estudo, foram utilizadas as
anotações realizadas no diário de campo, pois, segundo Minayo (2013), todos os registros do
diário de campo devem ser analisados, tornando a pesquisa de campo mais fidedigna, e ainda
favorece a qualidade e a profundidade das análises.

3.6 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS

A realização do estudo seguiu os princípios da bioética preconizados na


Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que trata e regulamenta as
diretrizes e normas regulamentadoras envolvendo pesquisa com seres humanos, incorporando
sob a ótica do indivíduo e das coletividades, dos referenciais básicos da bioética, como
autonomia, não maleficência, beneficência, justiça e equidade, dentre outros. Com isso, visa
assegurar os direitos e os deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da
pesquisa e ao Estado (BRASIL, 2012).

Para desenvolvimento desta pesquisa, foi solicitada autorização formal do chefe


do serviço onde foi realizado o estudo, por meio da assinatura no Termo de Anuência.

O projeto desta dissertação foi submetido à apreciação do Comitê de Ética e


Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará - UECE, o qual avaliou a sua pertinência, os
objetivos e os riscos/benefícios a que estavam vulneráveis os participantes, emitindo parecer
favorável, conforme número 723.857, ANEXO III.

Ressalta-se que a todos os sujeitos participantes do estudo foi apresentado um


Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE B), contendo esclarecimentos
acerca da pesquisa, solicitação para o fornecimento de informações e consentimento de
participação no estudo, bem como assegurando o sigilo e o anonimato das informações
72

fornecidas. O Termo foi assinado por todos os participantes como expressão da aceitação de
sua inclusão na pesquisa.

Na prerrogativa de preservar o anonimato dos participantes, os recortes de falas


apresentados nos resultados desta dissertação foram codificados, por meio de sigla, e
posteriormente de número.
73

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

CAPÍTULO I – Caracterização dos participantes do estudo e aspectos formativos


Foi realizada leitura e análise das respostas das entrevistas realizadas,
proporcionando, assim, visão mais ampla da Formação e Qualificação do Agente Comunitário
de Saúde na Estratégia Saúde da Família na cidade de Iguatu-CE.

1 Caracterizando o Perfil Sociodemográfico


Foram entrevistados 12 ACS, em que 11 eram do sexo feminino, confirmando
pesquisas que demonstram predominância do sexo feminino em serviços de saúde.
Corroborando com Gomes (2009), que em pesquisa realizada com ACS, todos eram do sexo
feminino. Aproximando-se ainda dos valores descritos por Lusena (2002), Freitas (2003) e
Ferraz e Aerts (2004), que foram de 88%, 81,6% e 88,6%, respectivamente apresentados por
ACS do sexo feminino.
Segundo Girardi (2005), as mulheres representam a força preponderante no setor
de serviços de saúde, especialmente nas atividades que envolvem o cuidado com pessoas, o
qual é bastante evidente e característico no trabalho do ACS. Outras questões relevantes para
tal predominância seriam a posição das mulheres no grupo familiar (chefe da família,
cônjuge) e necessidade de prover ou aumentar o sustento do lar, assim como o desemprego ou
perda de renda do cônjuge e crescimento do número de famílias, em que o chefe é a mulher
(SANCHES; GEBRIM, 2003).
A faixa etária predominante na pesquisa foi de 30 a 40 anos, com total de 50%
dos participantes, o que condiz com a pesquisa de Oliveira (2009) e Silva; Santos (2003), que
objetivaram conhecer o perfil social dos Agentes Comunitários de Saúde em suas pesquisas,
cuja faixa etária estava concentrada entre 20 e 40 anos, estando o maior percentual nessa faixa
etária um total de 70% dos entrevistados.
Observa-se que os adultos jovens se destacam como maioria na faixa etária, no
referente à admissão na profissão de ACS. Esses dados ratificam um dos pré-requisitos
firmado pelo MS, deve ter idade mínima de 18 anos para poder exercer a profissão de ACS,
possuindo plena capacidade civil, não sendo estipulado limite máximo de idade (QUATRIN,
2009).
Todos concluíram o Ensino Fundamental, atendendo ao grau de escolaridade
recomendado pelo Ministério da Saúde, conforme a Lei Nº. 10.507/2002 (Brasil, 2010), sendo
11 (91,6%) ensino médio completo.
74

Donaduzzi (2012), em pesquisa que estudou a educação para o trabalho na


perspectiva do agente comunitário de saúde, destaca em relação à escolaridade dos 25 ACS
estudados, que todos possuíam ensino médio completo, sendo que destes, oito possuíam curso
profissionalizante e três tiveram acesso ao nível superior, 1 concluiu o ensino superior.
Os dados revelaram o cumprimento da exigência do MS em ter concluído o
ensino fundamental e demonstra o interesse particular dos ACS em buscar a escolaridade, que
vai além do estipulado para assumir o cargo. Destacando esse dado, Mendonça (2004)
evidencia que os conhecimentos exigidos no processo de todo o trabalho do ACS, são de
responsabilidade e dificuldade, indo além do campo fechado da saúde, estando inseridos nas
condições de vida da comunidade que muitas vezes exigem profissionais realmente
qualificados.
Em relação ao vínculo empregatício, dois eram contratados e 10 concursados, os
contratos não são garantia de um emprego permanente e a continuidade do trabalho do
profissional, já que nem sempre os profissionais que assumem os cargos estão capacitados,
identificando que essa falta, muitas vezes, leva profissionais desqualificados para o campo de
atuação apenas por favores políticos e para ter um emprego sem realmente saber a sua real
função de promover a saúde.
Sendo possível observar nos estudos sobre o vínculo empregatício do ACS,
Nogueira, Silva e Ramos (2000) relatam que desde o princ[ipio a profissão do ACS é vista
como uma política oficial de governo, a participação do ACS com uma rede do SUS originou
polêmica a respeito da maneira mais favorável em relação de trabalho que deveria ser seguido
para tal categoria de trabalhador.
Relata-se com relação ao vínculo empregatício, no Monitoramento da
Implantação e Funcionamento das Equipes de Saúde da Família, no período de 2001 a 2002,
foi apurado que em 72,3% das equipes de saúde da família, é representado pelo os ACS um
vínculo de trabalho precário, o que vinculavam por meio de contrato temporário, o contrato
verbal, contrato informal, entre outros (BRASIL, 2004).
Afirma Vieira (2007), com relação ao serviço público, a desvalorização e pouco
reconhecimento com irregularidades não respeitam as normas do direito do trabalho
administrativo. A contratação por meio de contratos sem concurso público todo tipo de
contrato não tem base legal com o Estado, vão contra o inciso II da Constituição Federal, que
afirma o preenchimento dos cargos através de concurso público. Sendo possível observar o
crescente aumento de contratos irregulares na área da saúde.
75

Mészàros (2006) constata que o não cumprimento dos direitos dos trabalhadores e
de proteção social é retrato de uma época no mundo do trabalho, tornando o trabalhador
vulnerável, sem nem um tipo de acordo ou alternativa, o que tem gerado medo, sofrimento,
incertezas, angústias, sendo possível observá-las em toda a área de trabalho.
Os achados na pesquisa demonstram que o município procurou efetivar os
Agentes Comunitários de saúde por meio do concurso público que, em sua maioria, eram
concursados.
Para o tempo de atuação, foram observados que tinham ACS de longo tempo de
atuação, como também com pouco tempo, sendo considerada realização recente de concurso
público no município, o que torna relevante esse dado encontrado nesta pesquisa, em que um
total de seis possuíam de 1 a 5 anos de atuação como ACS.
Em estudo realizado por Donaduzzi (2012), foram encontrados em relação ao
tempo de serviço como ACS, nove tinham de 1 a 5 anos de serviço; 14, de 6 a 10; e 2
trabalhavam a mais de 10 anos. O menor tempo de serviço prestado como ACS foi de 1 ano e
2 meses, e o maior tempo de serviço foi 14 anos, esses resultados vem de encontro aos
resultados da pesquisa.

2 ACS e a formação para prática em saúde: percepções do cotidiano de trabalho

A formação dos agentes comunitários é baseada em competências técnicas éticas e


humanísticas que englobam diversos tipos de saberes, como: interagir com os indivíduos e seu
grupo social, com a coletividade e a população; respeitar valores, culturas e individualidades
ao pensar e propor as práticas profissionais; buscar alternativas diante de situações adversas,
com postura ativa; recorrer à equipe de saúde para solução ou encaminhamento de problemas
identificados; considerar sempre a pertinência e a oportunidade na decisão quanto às ações e
aos procedimentos que realiza; trabalhar em equipe, com objetivo de favorecer a organização
e eficácia das práticas de saúde; e ter pensamento crítico em relação aos direitos e deveres
como trabalhador.
O trabalho em saúde realizado pelo ACS é centrado no trabalho vivo em ato e não
pode ser realizado na lógica do trabalho morto, expresso somente nos equipamentos/máquinas
e nos saberes estruturados, pois no campo de atuação desses profissionais, é utilizada
interação assistencial entre o profissional e o usuário, em um processo que envolve o vínculo
e as relações.
76

Como estabelece uma das exigências art. 3º, da Lei nº 10.507/2002, para exercer
as funções da profissão do ACS, faz-se fundamental passar por um curso de qualificação para
formação (BRASIL, 2010). O desafio de preparar profissionais adequados às necessidades do
SUS implica, dentre outras mudanças, profundas alterações na forma de organização da
formação destes profissionais. A busca de alternativas que propiciem a construção de
programas de ensino que possibilitem a maior aderência aos desenhos de organização da
atenção à saúde, aprendizagens significativas e desenvolvimento da capacidade de
intervenção crítica e criativa no sistema nacional de saúde resulta na incorporação do
conceito de competência profissional, cuja compreensão passa pela vinculação entre educação
e trabalho, formação e desenvolvimento institucional, aprendizagem e resolutividade da rede
de atenção à saúde.
Foram observados que apesar dessa exigência, existiam profissionais que
trabalhavam como ACS em tempo superior a três anos e nunca realizaram o curso
introdutório, três ACS não realizaram esse curso e 9 ACS realizaram o curso parcialmente.
Estudo realizado por Santos (2012) mostra que há profissionais que não
realizaram o curso introdutório no prazo de até três meses, conforme recomendado pelo MS,
mostrando que têm profissionais que permanecem com um intervalo de tempo sem
informações importantes sobre o processo e práticas educativas realizadas em seu trabalho na
ESF.
Essa formação inicial deve fornecer para os ACS competências diversa em torno
do processo de saúde-doença, inserindo, além da perspectiva biomédica, outros
conhecimentos que os capacitem na maneira de comunicação com as famílias e no
reconhecimento de suas necessidades (NUNES, 2002). Considerar competência profissional
nestes termos possibilita considerar o trabalhador como capaz de conhecer a utilidade e
os impactos das ações que realiza, de compreender que os grupos sociais não são abstratos
ou distantes, sendo possível conhecer suas necessidades e modos de viver e, sobretudo, de
compreender a importância do processo de interação da equipe de trabalho com os indivíduos,
grupos e coletividades com os quais trabalha. Neste sentido, um processo formativo para
desenvolver competências profissionais deve ocupar-se da montagem de fatores de
aprendizagem críticos, reflexivos, significativos, participativos e disruptores.
Filgueiras e Silva (2011) ressaltam que os ACS não recebem formação específica,
essa oferta de cursos ocorre de forma irregular, em que uma parte dos agentes participa e
outra não, em que para os agentes a experiência adquirida com o tempo é importante para
77

realização do trabalho, realizando, assim, a formação de uma parte dos ACS e os outros
restantes não tem uma formação adequada.
A realização do curso introdutório, parcialmente, demonstra que esses
profissionais não estão tendo condições de se capacitar, pois no município não ofertou o curso
introdutório completo, deixando assim os ACS sem meios e oportunidades de realizar o curso
e assim qualificar sua assistência.
A formação dos ACS tem seguido o processo de formação política, contendo três
formações, tendo como início o curso introdutório, a segunda que indicava um sentido de
Educação Permanente e a que se consisti em uma formação técnica. Compreendendo que as
políticas de formação dos ACS refletem a realidade das práticas em saúde, sendo importante
uma formação com caráter profissionalizante e uma possível elevação da escolaridade dos
ACS, com intuito de motivá-los a procurar mas qualificação (MOROSINI, 2010).
Um novo perfil de trabalhador vai sendo exigido, o qual necessita expandir sua
capacidade de relacionamento interpessoal, aliada à competência e à habilidade técnica
(VILLA, 2008). Portanto, a produção do conhecimento torna-se um elemento indispensável,
em que a disposição dos trabalhadores em aumentar seus conhecimentos transforma-se em
uma característica definitiva na capacidade de realizar seu trabalho (ANTUNES, 2000).
Constituindo uma formação técnico-profissional, esses trabalhadores têm como
objetivo potencializar os Agentes Comunitários de Saúde, e facilitar a esses profissionais que
já estão inseridos nas ESF, garantindo a aproximação com a educação para realizar melhor
suas funções, mais ligados aos princípios do SUS. Tendo a preocupação com a formação do
ACS, deve-se preocupar com uma melhoria na prestação das ações desenvolvidas na
comunidade. Esses trabalhadores são as peças fundamentais na qualidade da assistência
prestada, pois essas ações são essenciais, sem os ACS não teria a realização desse trabalho tão
importante e indispensável (BRASIL, 2009).
Tendo as definições da política de educação profissional para a área da saúde, a
relevância do ACS no contexto de transformações das práticas realizadas na saúde, seu papel
social junto às comunidades e a necessidade de um perfil de escolaridade, estabelecendo um
suporte seguro, em que se mantém a importância e a persistência de uma formação
profissional em nível técnico (BRASIL, 2004).
Para os participantes, a formação para atuar como ACS ainda era considerada
insipiente, ofertada de forma ineficaz.
78

A formação foi ao longo do meu trabalho, quando entrei para ser ACS. Pensei que o
trabalho fosse diferente, pois não tive nemhuma preparação antes de assumir, mas
procurei sempre entender e fazer melhor o meu trabalho (ACS, 2).

Nunca tive essa formação para começar a trabalhar, só uma entrevista (seleção) e
cursos uma vez perdida...(pausa)...cursos de (vacinas, como preencher as fichas do
SIAB, DST, Hanseníase). Participei de palestras, até hoje, só temos palestras
mesmo. No início, foi muito difícil, pois não me sentia preparada para orientar as
famílias (ACS 5).
Tinha muitas dúvidas, não sabia responder... sempre dizia na comunidade que ia
perguntar à enfermeira. Acho a formação deficiente desde sempre e que no início
acompanhei muitas mortes infantis por diarreias e infecções respiratórias, mas não
sabia orientar as famílias (ACS 8).
No meu início não teve. Eu fiz um curso de auxiliar de enfermagem que me ajudou e
muito. Senti muitas dificuldades, pois só cinco anos depois é que comecei a fazer
esse curso. Me sentia perdida, mas a minha comunidade ajudou demais. Se eu já
achava difícil ser ACS no início, imagina hoje que todo mundo tem acesso à
informação, eu chego nas visitas e a comunidade sabe mais que eu. Estou precisando
e muito de cursos, de capacitação, pois eu tenho muita dificuldade (ACS 11).

As falas apontam para uma realidade presente na maioria dos municípios


brasileiros, a formação ainda é incipiente e falha. Essa formação demonstra profissionais sem
capacitação, sendo esta adquirida com as experiências vivenciadas e a equipe que ajuda,
ficando evidente que demonstram conhecimentos sobre sua formação ao longo da profissão e
trabalhadores que buscam apoio na comunidade e nos demais profissionais.
Os ACS atuam no apoio aos indivíduos e aos coletivos sociais, identificando as
situações mais comuns de risco em saúde, participando da orientação, do acompanhamento e
educação popular em saúde, estendendo as responsabilidades das equipes locais do SUS,
colocando em ação conhecimentos sobre prevenção e solução de problemas de ordem
sanitária, mobilizando práticas de promoção da vida em coletividade e de desenvolvimento
das interações sociais.
Atualmente, tem-se incentivado e investido na capacitação profissional dos
trabalhadores da saúde, no entanto, essas preocupações têm se formado em um campo de
encontro entre várias percepções de trabalho, saúde e formação profissional, que representam
respeito à disposição em favorecer uma qualificação geral e específica, se demonstrando
capaz e capacitado para trabalhar e se adaptar às necessidades da comunidade em que atua.
79

Pereira e Lima (2009, p.187) afirma que a “Educação profissional em saúde


compreende formação inicial ou continuada, a formação técnica média e a formação
tecnológica e superior”, conforme a Lei 2208/97 art.39.
Silva (2004) refere que a educação profissional não pode mais ser realizada como
meio de educação para as tarefas, e sim como meio de formar um profissional global e
educado, ligado à educação no trabalho, ciência e tecnologia.
Os ACS ainda se expressaram sobre sua qualificação, se eles realizaram cursos
com o objetivo de se aperfeiçoar, cursos estes promovidos por alguma instituição ou cursos
pagos:
Sim, realizei cursos, na escola de saúde pública de Iguatu. Atualização em
hanseníase, tuberculose, álcool e outras drogas etc. (ACS, 2).
Sim, a prefeitura, Drogas e abusos sexuais (ACS, 7).
Nunca realizei cursos pagos, porque não tenho como investir, pois o que ganho é
pouco (ACS, 9).
Não e nunca vi comentar sobre um curso pago para agente de saúde, é muito difícil
pois a gente passa o dia trabalhando e a noite e nos finais de semana tem muita coisa
para fazer e não resta tempo (ACS, 12).

Percebeu-se que o município realizava cursos para os ACS voltados para as


doenças, como meio de cura e não de prevenção, sendo importante ressaltar que é preciso
conhecer as doenças para transmitir informações concretas e seguras. A educação permanente
pode ser entendida como aprendizagem-trabalho, ou seja, acontece no cotidiano das pessoas.
É feita a partir dos problemas enfrentados na realidade e leva em consideração os
conhecimentos e as experiências que as pessoas têm, observou-se, no entanto, pelas falas, a
oferta de cursos pontuais, conhecida como educação continuada (EC), ofertados no
município, em uma cultura de repasse de informação.
Para mudar as práticas de saúde dos profissionais, principalmente os que já se
encontram nos serviços, a EPS foi proposta como uma forma de excelência para qualificação
profissional. Segundo Merhy (2005), todo processo que esteja comprometido com a educação
permanente precisa ter a força de gerar no trabalhador, no seu cotidiano de produção do
cuidado em saúde, transformações da sua prática, o que implicaria a capacidade de
problematizar a si mesmo no agir.
A EPS parte do pressuposto da aprendizagem significativa, em que aprender e
ensinar devem integrar a prática diária dos profissionais de saúde, está centrada no exercício
cotidiano do processo de trabalho, na valorização do trabalho como fonte de conhecimento, na
80

articulação entre atenção à saúde, gestão e controle social, voltada à multiprofissionalidade e à


interdisciplinaridade, com estratégias de ensino contextualizadas e participativas. A educação
continuada é voltada para concepção de educação como transmissão de conhecimento e
valorização da ciência como fonte do conhecimento. Tende a ser pontual, fragmentada e
construída de forma não articulada à gestão, à atenção e ao controle social, com enfoque nas
categorias profissionais e no conhecimento técnico-científico de cada área, com ênfase em
cursos e treinamentos construídos com base no diagnóstico de necessidades das categorias.
Observou-se ainda que os ACS não buscavam a capacitação por conta própria, por
meio de cursos pagos, pois referiram não ter tempo nem oportunidade no emprego de se
ausentar para se qualificar, considerando muito difícil devido a ser um trabalho cansativo para
chegar à casa e estudar e, ainda, relataram não ganhar o suficiente para investir na
capacitação.
Silva (2009) declara que as capacitações dos recursos humanos nos serviços de
saúde ainda são pontuais, centradas nas capacitações técnico-científicas, desarticuladas e
fragmentadas, comumente fora das reais necessidades dos serviços de saúde.
Estudo desenvolvido por Silva, Ogato e Machado (2007) que objetivou conhecer a
capacitação dos trabalhadores da Atenção Básica, encontraram como barreira a ajuda para o
transporte e as condições do local da capacitação como fatores que restringem e dificultam a
participação nas capacitações.
Mesmo as que tiveram algum tipo de formação, ainda demonstraram insegurança
para atuar como ACS, e dificuldades no entendimento do serviço .
Eu tive apenas um curso introdutório de uma semana, mas achei muito pouco, tendo
em vista o mundo de conhecimento que a gente tem que ter para orientar as famílias
(ACS 2).
Acho uma responsabilidade muito grande, até achei que depois eu ia ter uma
formação pra ser Agente de Saúde, pois precisamos estar o tempo todo estudando
(ACS 3).
Não posso dizer que foi formação... foi uma espécie de orientação de como
preencher as fichas que temos que todo mês entregar na secretaria. Passaram
algumas informações sobre pré-natal e vacinas. Mais quem me ajudou foi as outras
ACS. Não temos cursos, não posso dizer que uma palestra para mais de 100 pessoas
é de se ter proveito pra alguma coisa (ACS 9).

A formação e o desenvolvimento profissionais sugerem a identificação técnica,


ética e humanística do que compete ao profissional de saúde e que competências são
81

requeridas para que os usuários das ações e serviços de saúde se sintam atendidos em suas
necessidades diante de cada prática profissional.
Compete aos ACS, no exercício de sua prática, a capacidade de mobilizar e
articular conhecimentos, habilidades, atitudes e valores requeridos pelas situações de trabalho,
realizando ações de apoio em orientação, acompanhamento e educação popular em saúde, a
partir de uma concepção de saúde como promoção da qualidade de vida e desenvolvimento da
autonomia diante da própria saúde, interagindo em equipe de trabalho e com os indivíduos,
grupos sociais e populações.
É importante que o ACS conheça a realidade em que está atuando, pois irá
entender melhor as dificuldades e os problemas das famílias acompanhadas. Mas, é por
meio de cada visita domiciliar, que o agente vai se aprofundando e compreendendo a forma
de viver, os códigos, as crenças, enfim a dinâmica de cada uma delas. Essa visita domiciliar
requer, contudo, um saber-fazer, que se aprende no cotidiano, mas pode e deve basear-se em
algumas condutas de respeito, atenção, valorização, compromisso e ética.

CAPÍTULO II – DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: SABERES E


PRÁTICAS NO COTIDIANO DO TRABALHO DO ACS

Por meio da entrevista e observação participante, identificaram-se aspectos


relacionados às DCNT, aos conhecimentos, às fragilidades e limitações principalmente
geradas pela falta de informações sobre tais agravos. Com isso, elaborou-se o diagnóstico
inicial sobre as lacunas existentes na formação e que implicam diretamente no trabalho do
ACS.
Para os participantes, a ESF era tida como o primeiro nível de assistência à saúde,
em que os serviços iriam muito além de consultas médicas com foco curativista, mas um
serviço de saúde com foco na prevenção de doenças e na promoção da saúde. Destacaram que
a ESF era resolutiva para maioria dos problemas mais simples da população e trazia grande
contribuição ao sistema público de saúde, podendo diminuir significativamente a demanda de
atendimento hospitalar.
De maneira geral, os relatos apontaram que os ACS compreenderam que seu
papel era trabalhar para melhoria das condições de saúde e vida da comunidade adscrita,
principalmente no que dizia respeito à mudança de hábitos para o alcance de um maior nível
de qualidade de vida, sendo a principal ferramenta de trabalho a educação em saúde.
Destacaram também o papel de intermediador entre o serviço de saúde e a comunidade. Em
82

relação às DCNT, atribuíram como sua função a de orientar famílias e portadores, além de
contribuir para prevenção e rastreamento.

Foi perguntado aos ACS se haviam recebido algum tipo de formação para atuar
no enfrentamento das doenças crônicas. Segundo as respostas, apenas 1 ACS recebeu algum
tipo de treinamento relacionado às DCNT, restando com isso 11 que não foram
treinados/capacitados. Tal achado desperta preocupação, visto que sendo o ACS elo entre a
comunidade e o serviço de saúde, desenvolvendo ações coletivas por meio de reuniões com
grupos específicos no âmbito da ESF, e não tendo recebido nenhum treinamento, poderá ter
como resultado atuação deficiente, sem efetividade, baseada em senso comum.
Como afirmaram Ribeiro e Motta (2003), para elaboração de práticas educativas,
deve-se conhecer o outro e seus pensamentos, assim como ter a percepção de que a relação
entre os profissionais, e destes com a comunidade, resultam em informações, as quais são
geradas nos serviços e devem ser consideradas. Logo, caso o serviço/gestão não atente para a
importância do treinamento, estará perdendo grande auxiliar para suas ações de promoção da
saúde de um grande quantitativo de famílias, tendo em vista ser os portadores de DCNT a
grande maioria das pessoas acompanhadas na ESF.
Percebeu-se que a falta de qualificação profissional desmotiva, dificulta (e até
mesmo impede) o relacionamento e a união das equipes de saúde, resultando em meras
execuções do serviço, sem planejamento e qualidade (PEREIRA, 2003). Treinamentos que
não são reforçados periodicamente tendem a não produzir resultados eficazes, visto que a
rotina de serviço acaba demandando outras prioridades, elegendo-se atividades em detrimento
de outras.
Evidenciou-se a falta de compreensão sobre o que se entendia por DCNT, quando
se observaram as respostas dos ACS sobre esse questionamento.

São doenças que você tem que tomar medicação pelo resto da vida (pausa), não tem
cura (ACS 1).
Não sei... as pessoas perguntam e eu oriento que pode adquirir através da
alimentação e da família (ACS 3).
São doenças que as pessoas têm e sempre tem que ficar fazendo acompanhamento
para tomar remédio pelo resto da vida (ACS 6).
É uma doença que vai até o fim da vida, vai mantendo... mas a pessoa não melhora
mais nunca. Eu entendo assim (ACS 10).
83

Os pesquisados apenas deram a ideia de doença incurável, e para isso atribuíram o


tratamento medicamentoso enquanto o paciente viver. Ainda, observou-se insegurança ao
responder sobre a compreensão das DCNT.
Brasil (2013) define as DCNT como sendo caracterizada por um conjunto de
doenças que não tem envolvimento de agentes infecciosos em sua ocorrência, possuem
multiplicidade de fatores de risco comuns, história natural prolongada, grande período de
latência, longo curso assintomático com períodos de remissão e exacerbação, podendo levar
ao desenvolvimento de incapacidades.
As DCNT representam um conjunto de condições que requerem esforços
contínuos, sustentáveis e de longo prazo. Assim, as tradicionais soluções seletivas e focais,
consagradas no combate às doenças infecciosas, devem ceder lugar às estratégias abrangentes
e duradouras, que afetem e reflitam a estrutura e a pesquisa nos serviços e sistemas de saúde e
as necessidades reais da população.
Quando se referiu as possíveis complicações, observaram-se os seguintes
apontamentos dos ACS:

Se ela não iniciar o tratamento logo, vai agravando a doença. Se tiver pressão alta e
não tomar o remédio, pode ter infarto, AVC..(ACS 2).
Pressão alta pode dar AVC, o diabetes pode correr o risco de amputar a perna. Tem
que tomar a medicação...se for asma, por exemplo, tem que evitar a poeira entre
outros..(ACS 3).
A questão da diabetes pode chegar a perder alguma parte do corpo…(pausa), aí um
hipertenso pode ter AVC (ACS 6).
Complicação maior acho que é morrer...no caso do diabetes, a perna pode ficar
vermelha, inchada e no hipertenso, as pessoas se queixam de coração acelerado, dor
de cabeça (ACS 10).

Percebeu-se pelas falas que algumas complicações foram identificadas,


representando certo conhecimento acerca dos agravantes das DCNT. Mesmo demonstrando
conhecimento sobre as complicações, as orientações observadas nas visitas domiciliares pela
pesquisadora, bem como as respostas dadas aos questionamentos, não apontaram para
prevenção desses agravos, sendo assim.

A orientação que posso dar é que ele tem que tomar a medicação direitinho, e ir no
posto para ver, não pode comer comida gordurosa, com muito sal e açúcar... são
essas coisas assim...fazer dieta e fazer exercício. Sempre peço para fazer caminhada,
mais não tem quem queira fazer... (ACS 1).
84

Quando ele descobre que esta com a doença eu encaminho para o PSF, pergunto se
ele foi para o médico, se ele está tomando a medicação...oriento ter repouso (ACS
2).
Que procure o PSF, eu sou apenas uma agente de saúde, procure a equipe, pois não
sou médico...agora se a pessoa já tem o diagnóstico, eu digo para fazer caminhada,
quanto à alimentação. Porque se uma pessoa tem diabetes, eu vou orientar para ela
não exagerar. Agora, a gente orienta e o povo não segue, aí fica difícil. Peço até para
diminuir o sal, mas nem sempre o povo escuta (ACS 7).

Ficou evidente pelas falas apenas o repasse de informação, a preocupação apenas


na oferta da medicação, em momento algum, observou-se a prevenção de possíveis
complicações por meio de orientações, demonstrando, assim, a fragilidade e as limitações
destes profissionais junto à população assistida.
Ainda sobre os fatores de risco, foram relatados os seguintes apontamentos:

É um paciente que não tem um acompanhamento, tanto da família como do médico.


Não estou sabendo o que é fator de risco. Mas acho que você não tomar o
medicamento pode complicar cada vez mais (não sei dizer o que é fator de risco)
(ACS 2).
Em famílias que já têm esses problemas, acho que a má alimentação...acho que isso
contribui muito (ACS 7).
Obesidade, alimentação, eu acho que a pessoa tem a tendência de alguma coisa, aí se
ele não cuida, pode ter algum problema (ACS 9).

Brasil (2013) aponta que os fatores de risco relativos às DCNT são semelhantes
em todos os países. Há evidências de sobra, atualmente, de que o tabagismo, os alimentos
com altas taxas de gorduras trans e saturadas, o sal e o açúcar em excesso, especialmente em
bebidas adoçadas, o sedentarismo, bem como o consumo excessivo de álcool, causam mais de
dois terços de todos os novos casos de DCNT e aumentam o risco de complicações em
pessoas que já sofrem destas doenças.
Percebeu-se que quanto aos fatores de risco, conseguiam identificar alguns, ao
mesmo tempo em que representava um ponto positivo ao mostrar o empenho dos ACS em
atender à população, pode significar um problema, pois, não conhecendo a importância dessa
atividade e, por consequência, tendo o bom-senso possivelmente baseado em mitos e crenças,
poderá não ser efetivo em sua orientação ou, até mesmo, orientar de maneira inadequada,
conforme sua percepção.
85

Quando questionados sobre se realizavam rastreamento na sua área de possíveis


portadores de DCNT, as respostas foram:

Eu só consigo identificar quando já vem com o diagnóstico. Essa parte de


diagnóstico é com o médico (ACS 2).
Não...assim sei identificar pelos sintomas, como por exemplo se tiver com dor de
cabeça, já sei que pode ser hipertensão (ACS 7).
Não sei se eu já consegui descobrir isso não, mais geralmente a gente só sabe
quando vem com o diagnóstico (ACS 10).
Bom, não sei fazer isso não, agora se a pessoa diz que sente algum problema, aí eu
já desconfio do que seja e encaminho logo (ACS 12).

Um tema que pode ser destacado na prática da atenção primária é o diagnóstico


precoce, sendo o exercício do rastreamento fator de aperfeiçoamento das ações de saúde e
prevenção. Percebeu-se dificuldade em compreender sobre as formas de rastrear e prevenir
agravos na população.
A resposta à crise de DCNT tem como estratégia essencial o foco na prevenção
primária, única abordagem capaz de garantir que as gerações futuras não corram o risco de
morrer de forma prematura por causa dessas doenças. Se pensando em atenção básica não se
consegue realizar rastreamento, provavelmente não se consegue efetivar ações para o controle
desses agravos. As doenças crônicas aumentam a complexidade dos problemas de saúde e da
prestação de cuidados, exigindo mudanças na atuação profissional, nas qualificações e
configurações dos cuidados.
Diante do exposto, ainda foi perguntado que tipo de orientações eram repassadas
às famílias, o que também foi observado por meio das visitas domiciliares e descrito no diário
de campo.

É tomar a medicação direito. Tem gente que toma só uma vez, digo logo que vai
tomar pelo resto da vida. Agora se controlar você pode ficar só na dieta, tem uns que
precisam e outros não (ACS 1).
Visitas para dar orientações, que tem que ser medicado, ele tem que fazer os
exames... tenho que ficar em cima porque não querem tomar a medicação, e depois
que complica, não tem condições (ACS 3).
Faço as visitas, e mando ir ao médico. Sempre faço isso, tento marcar eu mesma a
consulta (ACS 7).

Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2002), no que se refere aos pacientes


com cuidados crônicos, o ACS tem as atribuições de identificar e orientar para importância do
86

acompanhamento na Unidade, engajar os portadores em grupos específicos, realizar


orientações para prevenção das doenças e prevenção de possíveis agravos, além de realizar
visitas domiciliares periódicas para monitoramento.
Assim, surge a preocupação relacionada à ocorrência, qualidade, frequência e
persuasão das ações realizadas pelos ACS, uma vez que não foram treinados para tanto. Tal
fato pode estar se refletindo em reduzida procura por atendimento, pequena adesão dos
pacientes às consultas e pouca participação nas atividades educativas, situações estas
percebidas durante a experiência vivenciada na UBS.
A forma fragmentada com que são organizados os sistemas de saúde praticamente
os orienta para as condições agudas ou as agudizações de condições crônicas. Além disso, tem
sido demonstrado que a percepção da competência dos cuidados e do apoio prático oferecido
por profissionais de saúde estão relacionados aos melhores cuidados realizados diretamente
pelas famílias. Isso sem dúvida sugere que fornecer suporte, treinamento e qualificação para
cuidadores familiares pode ser uma estratégia eficaz para lidar com condições crônicas. Surge
então uma das funções primordiais no combate e enfrentamento das condições crônicas, que
seja potencializar a função dos cuidadores e, para isso, o profissional ACS torna-se
fundamental no processo.
Os achados da pesquisa apontam que uma abordagem focada na promoção deve
incluir: fatores de risco e doenças já instaladas – como diabetes e hipertensão; ações
educativas e estímulo a mudanças no estilo de vida; estratégias de adesão ao tratamento
medicamentoso; ações produzidas por equipe multidisciplinar; incorporação de outros
profissionais de saúde; empoderamento do indivíduo para o autogerenciamento das suas
doenças e dos riscos-autonomia.
A necessidade urgente de melhor utilização dos multiplicadores (entre eles o
ACS) torna-se visível e desperta a atenção para necessidade incomensurável da
desmonopolização de conhecimentos e informações, por meio do aproveitamento dos
multiplicadores, socializando-se o saber, sendo que para isso o profissional da saúde tem o
papel de ser o facilitador do processo educativo. Somente, desta forma, os conhecimentos
chegarão a inúmeras pessoas para influenciar na mudança de comportamentos inadequados.
87

CAPÍTULO III – PLANO DE AÇÃO (INTERVENÇÃO EDUCATIVA) E


AVALIAÇÃO (SEMINÁRIO)

1 CONSTITUIÇÃO DO GRUPO DE OBSERVAÇÃO

Após realização da observação e entrevista, prosseguiu-se com a constituição do


grupo de observação, em que se utilizou o grupo focal para coleta dos dados.
A proposta foi trabalhar com os demais membros da equipe, e a partir dele,
identificar os principais problemas na atuação para o enfrentamento das DCNT. Para isso, a
pesquisadora lançou mão das observações realizadas em visitas domiciliares e,
posteriormente, das respostas dadas nas entrevistas pelos 12 ACS.
A composição do Grupo de Observação se deu com o convite a quatro ACS, ao
médico, odontólogo, enfermeiro e aos usuários. Um dos desafios na constituição do grupo foi
a escolha de quem iria participar, pois o grupo de observação teria acesso às respostas das
entrevistas e, assim, uma função primordial que seria pensar e construir o plano de ação
educativo, que a partir de então seria implantado em oficinas. Nesse momento, optou-se por
convidar pelo tempo de atuação na profissão, o que foi decidido entre os próprios ACS.
Assim, os critérios de escolha entre os ACS para participarem do grupo de observação foram:
 Maior tempo de atuação na profissão;
 Maior número de pacientes acompanhados com alguma doença crônica.
Quanto à escolha dos usuários, esta se deu por indicação dos ACS entre usuários
mais assíduos e com maior tempo de doença instalada, pois se acredita que com esses critérios
os usuários teriam conhecimento adquirido com relação à temática DCNT.
Essa opção levou em consideração os critérios propostos por Minayo (2008) para
pesquisa qualitativa, com o propósito de assegurar que o grupo formado tivesse o conjunto
das experiências a serem trabalhadas na pesquisa. Ainda, segunda a autora, a composição do
grupo de trabalho deve privilegiar os sujeitos sociais que detêm os atributos que o
investigador pretende conhecer.
Dessa forma, envolveu-se toda a equipe, uma vez que esses atores são os que
estão mais próximos da atuação dos ACS e participam tanto da seleção como da avaliação
periódica com esses profissionais. Ao estabelecer esse critério de indicação, reconheceu-se a
subjetividade envolvida no processo, já que pressupõe uma avaliação, ainda que não
formalizada, para atender aos objetivos da pesquisa.
88

A participação de cada membro do grupo de observação foi condicionada ao


aceite do convite, disponibilidade pessoal e no serviço, além da assinatura do Termo de
consentimento Livre e Esclarecido. Foi estabelecido o melhor dia e horários para serem
realizados os encontros.

1.1 Encontros com o Grupo de Observação

A primeira reunião foi realizada em 29/10/14, nas dependências da UBS Alencar


I, e teve como objetivo fazer uma apresentação para o grupo do resultado da entrevista e
observação nas visitas domiciliares. A pesquisadora dispôs de uma apresentação (APÊNDICE
F), utilizando o software PowerPoint, com as respostas da entrevista e observações anotadas
no diário de campo, comparando-as aos conceitos trazidos nos manuais e cadernos do
Ministério da Saúde, e a partir desse momento, estabeleceram-se pontos de fragilidades e
limitações nos discursos dos ACS frente à complexidade das DCNT.
Nesse momento, apresentou-se também a proposta de trabalho, a finalidade da
pesquisa, os objetivos e a metodologia utilizada, por meio do qual a pesquisadora e os ACS
iriam percorrer um caminho que passava por um processo de reflexão sobre o trabalho, que
iriam realizar uma construção coletiva e produzir um conhecimento sistematizado sobre a
realidade de trabalho desses profissionais, no que se refere à atuação na condução e
orientações aos pacientes portadores de DCNT.
A segunda reunião aconteceu uma semana depois, dia 05/11/14, nesse momento,
já se iniciou a proposta da constituição do Plano de Ação, pensado conjuntamente com um
cronograma de execução do plano, realização de oficinas temáticas e utilização do Seminário
como avaliação final do processo educativo.
A terceira reunião aconteceu no dia seguinte 06/11/14, com objetivo de finalizar o
plano de ação com o grupo de observação. A partir de então, o plano seria colocado em
prática com todos os ACS envolvidas no estudo.
O Plano de Ação contempla as propostas apresentadas em relação às
potencialidades e aos desafios (fragilidades) que emergiram dos discursos dos ACS, no
processo de observação da sua prática e das respostas dadas na entrevista.
Para Tripp (2005, p.??), o Plano de Ação corresponde ao ciclo “implementação da
mudança da prática”, e após seguiria o ciclo de Avaliação. Em nosso plano de ação
destacamos as observações apontadas no Grupo de Observação para assim constituírem-se em
temas a serem trabalhados nas oficinas e, posteriormente, no Seminário com o grupo de ACS
do município.
89

As reuniões contaram com a presença de todos os indicados, e teve a anuência de


todos sobre o trabalho a ser desenvolvido. Os depoimentos a seguir expressaram a
importância da pesquisa em questão:
É um trabalho muito importante, pois envolve toda a equipe, estudando, planejando
para assim efetivar a prestação de serviços pelo ACS de maneira qualificada e
eficaz (MÉDICO).
Não imaginava estar um dia reunido com toda a equipe para programar ações
educativas, principalmente para os ACS. É ótimo, porque temos uma visão
multidisciplinar de tudo (ODONTÓLOGO).

Então para a constituição do plano de ação, foram necessários três encontros no


total, em que foram discutidas as temáticas a serem abordadas e a metodologia a serem
aplicadas junto aos ACS para melhor apreensão dos assuntos. Desta forma, a estratégia eleita
foram as oficinas. Assim, a pesquisadora junto ao grupo definiu os principais assuntos a
serem abordados nas oficinas temáticas.

2 OFICINAS TEMÁTICAS / REFLEXIVAS

Para as oficinas, totalizaram cinco encontros. Contou-se com a participação de


todos os ACS, além dos facilitadores. A divulgação das oficinas foi realizada por meio de
convite verbal e impresso, e entregue a cada um dos ACS, com o respectivo cronograma das
oficinas. É importante ressaltar que todos os facilitadores foram contactados pela
pesquisadora e após concordarem em participar, receberam por e-mail cópia do plano de ação
construído no grupo de observação.
O local escolhido para realização da mesma foi a própria UBS. As oficinas foram
conduzidas pelo pesquisador, com o auxílio de profissionais convidados dentro de suas
especialidades, no que foi acordado no plano de ação. Para maior fidedignidade, foi solicitada
gravação de áudios nas oficinas.
As oficinas se deram com a explanação dos temas sugeridos como processo de
ensino-aprendizagem para discussões e debates, abordando os principais temas identificados
como lacunas de conhecimento.
A dinâmica das oficinas contou com um roteiro de trabalho previamente acordado
com os participantes. Posteriormente, a confecção do Plano de Ação no grupo de Observação,
a pesquisadora convidou profissionais especialistas nas áreas que foram apontadas como de
maior necessidade para se trabalhar nas oficinas temáticas.
90

A primeira oficina foi realizada no dia 11/11/14, pelo médico da equipe com a
temática: “DCNT, uma visão sobre as principais Doenças”.
O objetivo desta oficina foi sensibilizar os participantes quanto às principais
doenças crônicas acompanhadas na Atenção Básica. Desta forma, foram elaborados
apresentação e material impresso sobre as principais patologias, seguindo o roteiro abaixo:

QUADRO II – 1ª Oficina temática: Roteiro de trabalho


1ª Oficina
“DCNT, uma visão sobre as principais Doenças”

7:30 recepção/acolhimento
7:45 dinâmica de acolhimento- Responsável – Pesquisadora
Objetivo: interação entre os participantes
8:00 Apresentação em powerpoint: Uma visão geral sobre as DCNT – Responsável: Pesquisadora.
8:30 Início da Oficina: Principais agravos crônicos em acompanhamento na Atenção Básica – Responsável:
Médico
Objetivo: conhecer os principais agravos ligados à saúde relacionado às DCNT.
Compreender as formas clínicas da hipertensão, diabetes, neoplasias e asma.
Identificar sinais e sintomas dos agravos cônicos, bem como suas complicações.
Compreender formas de rastreio e identificação de fatores de risco.
Grupo focal
10:30 Discussão em Grupo: Principais orientações para prevenir complicações das DCNT.
O que entendemos sobre DCNT e suas complicações? Como evitar?
10:45 Discussão em grupo: Como os ACS podem orientar as famílias em relação à hipertensão, ao diabetes,
à neoplasia e asma.
O que precisamos saber para orientar os portadores e familiares? Como atuar na
prevenção dessas doenças?
O que os ACS podem abordar nas orientações?
11:30 encerramento da oficina.

Durante a realização da oficina, foram compartilhadas pelo grupo exemplos de


casos reais vivenciados no cotidiano de trabalho, os quais a todo momento eram esclarecidos
pelo facilitador. Foi identificado ainda o que deve ser observado em domicílio e orientado,
além das principais condutas frente aos principais agravos das doenças crônicas.
O grupo também manifestou conhecimento prévio do assunto, trazendo à tona as
dificuldades de se morar em uma zona rural, em que a distância atrapalha e, muitas vezes,
impede o atendimento frente a uma urgência, tornando, assim, a discussão intensa, uma vez
91

que em casos como esse o primeiro profissional de saúde a ser chamado pela comunidade é o
ACS.
O grupo apresentou diversas dúvidas na prestação das primeiras orientações, o
que foi sendo esclarecido por todo o grupo em um momento de interação e pelo facilitador da
oficina. Conhecedores do tema e de sua complexidade estavam motivados a discutir e
aprender para assim modificarem práticas e aperfeiçoarem conhecimentos.
A segunda oficina foi realizada no dia 19/11/14, pela enfermeira da equipe com a
temática: “Identificando fatores de risco, complicações e rastreamento”.
Essa oficina teve como objetivo propiciar discussão sobre fatores que podem
tornar uma pessoa doente, bem como a evolução e classificação das complicações advindas
das principais patologias, assim, utilizou-se ainda o tema rastreamento como forma de
identificação de possíveis casos ainda não descobertos.
QUADRO III – 2 ª Oficina – Roteiro de trabalho
2ª Oficina
“DCNT: identificando fatores de risco, complicações e formas de rastreamento”
7:30 recepção/acolhimento
7:45 Dinâmica do "O que você parece para mim..." Responsável – Pesquisadora
Objetivo: apontar falhas, exaltar qualidades, melhorando a socialização do grupo.
8:00 Apresentação em powerpoint: início da Oficina: “DCNT: identificando fatores de risco, complicações e
formas de rastreamento”– Responsável: Enfermeira
9:00 apresentação de vídeo: fatores de risco associados a qualidade de vida.
Objetivo: conhecer os principais fatores de risco ligados ás DCNT.
Compreender as formas de rastreamento;
Identificar sinais e sintomas das complicações.
Grupo focal
10:30 Discussão em Grupo: Principais orientações para prevenir complicações das DCNT.
O que entendemos sobre DCNT e suas complicações? Como evitar?
10:45 Discussão em grupo: Fatores de risco relacionados às DCNT.
O que precisamos saber para orientar a comunidade?
O que o ACS pode abordar nas orientações?
11:00 Discussão em grupo: rastreamento e definição de caso.
Quais são as formas de rastrear as DCNT na comunidade?
O que os ACS podem orientar frente a um rastreamento positivo para DCNT?
11:30 encerramento da oficina.

Nesse momento, foi indicado ser do ACS uma importante tarefa na prestação de
serviços a essa população: a de reconhecer os primeiros sintomas e assim prevenir as
92

complicações que possam acontecer. Quanto ao rastreamento, foi abordado que é de fácil
percepção, embora quase toda a população possua fator de risco para desenvolver alguma
doença crônica futuramente.
O grupo fez relatos quanto à preocupação no rastreamento e fatores de risco,
sendo muito comum em toda a população acompanhada, sendo assim discutiram a
importância de ter uma maior oferta de formação em relação as temáticas, e que fossem
ofertadas de maneira permanente.
A terceira oficina foi realizada no dia 26/11/14, pelo enfermeiro do Centro de
Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS-AD), com a temática: “A utilização de
álcool e drogas e sua implicação com as DCNT”.
Essa oficina teve como objetivo discutir os malefícios causados pelo uso das
drogas e álcool junto aos pacientes com doenças crônicas e como fator de risco para as
pessoas sadias e que possam vir a adoecer.
QUADRO IV – 3 ª Oficina – Roteiro de trabalho
3ª Oficina
“A utilização de álcool e drogas e sua implicação com as DCNT”
7:30 recepção/acolhimento
7:45 Dinâmica de acolhimento. Responsável – Pesquisadora
Objetivo: estabelece comunicação entre os participantes, estimula o relacionamento interpessoal e a
criatividade.
8:00 Apresentação em powerpoint: início da Oficina: “A utilização de álcool e drogas e sua implicação com
as DCNT”– Responsável: Enfermeiro do CAPS-AD de Iguatu.
Objetivo: conhecer os principais efeitos do álcool e drogas no organismo bem como os agravos aos
portadores de DCNT.
Compreender as complicações geradas pelo uso de álcool e drogas;
Identificar sinais e sintomas das complicações.

Grupo focal
10:30 Discussão em Grupo: Principais orientações para prevenir o uso de álcool e drogas.
O que precisamos saber para orientar os portadores de DCNT?
11:00 Discussão em grupo: O uso de álcool e drogas nos portadores de DCNT
Quais os maiores prejuízos causados à saúde dos portadores de DCNT?
Quais as complicações prováveis do uso de álcool e drogas?
11:30 encerramento da oficina.
93

Sendo um dos fatores de risco mais comuns na população, a utilização de álcool e


drogas, foi uma temática bastante discutida. No tocante à forma de orientação e mudança do
estilo de vida, ocorrei a interação entre os participantes da oficina.
Durante a realização da mesma, muito se foi questionado, principalmente no que
diz respeito ao comportamento dos ACS em relação ao uso de tabaco. Ficou claro
constrangimento por parte de alguns dos participantes serem usuárias de cigarro, o que foi
mediado pelo facilitador quanto este o diz: “mesmo sendo usuário, temos que orientar os
malefícios do uso. Temos que conhecer e promover saúde, mesmo que essa não seja a nossa
opção”.
Concorda-se que deve haver ponderação, mas que esse fato não possa atrapalhar
as orientações dirigidas à comunidade usuária de álcool/tabaco. Estes devem ser conhecedores
dos prejuízos em relação à saúde, sendo este um dever primário a ser executado pelo ACS.
A quarta oficina foi realizada no dia 03/12/14, pela nutricionista do Núcleo de
apoio ao Saúde da Família (NASF), com a temática: “A promoção da saúde dos Portadores
de DCNT por meio da alimentação”.
Essa oficina discutiu sobre a importância de uma alimentação equilibrada como
fator protetivo para evitar as complicações e adoecimentos. Promoveu o conhecimento dos
alimentos aliados de uma dieta para pacientes com hipertensão, diabetes e câncer.
QUADRO V – 4 ª Oficina – Roteiro de trabalho
4ª Oficina
“A promoção a saúde dos Portadores de DCNT por meio da alimentação”

7:30 recepção/acolhimento
7:45 Dinâmica rotulagem dos alimentos. Responsável – Nutricionista
Objetivo: Instruir pacientes a compreenderem as informações nutricionais dos rótulos dos alimentos,
enfatizando a importância de observar não apenas o valor calórico, mas também os micronutrientes.
8:00 Apresentação em powerpoint: início da Oficina “A promoção a saúde dos Portadores de DCNT através
da alimentação”.– Responsável: Nutricionista
Objetivo: compreender os passos para uma alimentação saudável;
Orientar os portadores de DCNT quanto à alimentação saudável;
Identificar os principais alimentos a serem indicados e evitados;
Conhecer os efeitos de uma alimentação não saudável no organismo.
Grupo focal
10:30 Discussão em Grupo: Principais orientações para promover uma alimentação saudável
O que sabemos sobre alimentação saudável?
Quais os principais alimentos recomendados na dieta de pacientes com doenças
94

crônicas?
11:00 Discussão em grupo: os 10 alimentos que devem ser evitados
O que o ACS pode abordar nas orientações?
11:30 encerramento da oficina.

A discussão em torno da alimentação foi permeada por muitas dúvidas, pois na


prestação de orientações à comunidade este é um tema muito recorrente. Nesse momento, a
facilitadora trouxe discussões em torno dos principais alimentos a serem evitados e os que
devem ser indicados para se ter uma alimentação saudável.
Foi oferecido material de apoio aos participantes, de maneira a esclarecerem
dúvidas com relação ao ter calórico dos principais alimentos usados em uma dieta. Outra parte
do material trazia os dez melhores alimentos e os dez piores, considerados pela nutricionista,
aos portadores de doenças crônicas.
A quinta oficina foi realizada no dia 10/12/14, pela educadora física do Núcleo de
apoio ao Saúde da Família (NASF), com a temática: “A atividade física e qualidade de vida”.
Essa oficina trouxe orientações sobre como indicar as práticas de atividades
físicas na rotina de pacientes.
QUADRO VI – 5 ª Oficina – Roteiro de trabalho
5ª Oficina
“A atividade física e qualidade de vida”

7:30 recepção/acolhimento
7:45 Dinâmica de interação entre os participantes. Responsável – Pesquisadora
Objetivo: Levantar as expectativas do grupo em relação ao tipo de trabalho a ser realizado e verificar a
disponibilidade interna de cada integrante do grupo, em relação ao trabalho a ser realizado.
8:00 Apresentação em powerpoint: início da Oficina “A atividade física e qualidade de vida”.– Responsável:
Educadora Física
Objetivo: Orientar práticas saudáveis e evitar sedentarismo;
Orientar os portadores de DCNT quanto a prática de atividade física como auxílio no tratamento;
Estimular pacientes e familiares á pratica de atividade física;
Conhecer os efeitos da prática de exercício físico no organismo.
Grupo focal
10:30 Discussão em Grupo: Principais orientações na promoção de atividades físicas e qualidade de vida
O que sabemos sobre sedentarismo?
Quais os principais passos a serem orientados aos pacientes ao iniciarem uma
atividade física?
95

O que pode ser orientado pelo ACS?


11:30 encerramento da oficina.

Após a apresentação pela facilitadora, deram-se alguns apontamentos pelos ACS


sobre as dificuldades que possuíam em conseguir convencer a população a praticar atividade
física, consideram o trabalho nesse sentido como “trabalho morto” e sem resultados, já que
orientavam e não conseguiam a adesão dos pacientes.
Outro apontamento se deu sobre a dificuldade em se conseguir a formação de
grupos de caminhada na zona rural. Muitos não têm acesso nem mesmo a estrada para fazer
caminhada, afirmaram ainda a inexistência de academias, tornando incomum essa prática nas
zonas rurais.
Após a realização de todas as oficinas, o grupo de ACS necessitou de mais dois
encontros para a realização do Seminário.
Com isso, deu-se o consolidado das vivências durante as oficinas. Foi importante
por abordar grupos sociais que possuíam fatos ou situações específicas em comum, o que
facilitou a comunicação entre os participantes, ao mesmo tempo em que os mesmos foram
transportados para o seu próprio mundo ou situação. Desta forma, permitiu-se que os ACS
expusessem suas percepções, opiniões sobre o tema, de modo espontâneo e livre, garantindo
assim a fidedignidade das informações.

3 SEMINÁRIO

A realização do Seminário teve por objetivo divulgar o resultado dos trabalhos


realizados nas oficinas para o conjunto de ACS do município. Teve como objetivo ainda
propor uma discussão em torno do tema principal no que foi pertinente para aprendizagem
dos ACS envolvidos no estudo.
O Seminário ocorreu no dia 07/01/2015, na Escola de Saúde Pública de Iguatu,
com a participação de 58 pessoas entre elas os trabalhadores da equipe, os facilitadores das
oficinas e ACS do município das UBS do sítio Barra e Alencar II, e da zona Urbana as UBS
Cocobó, Altiplano e Alto do jucá.
A recepção do Seminário foi organizada pela pesquisadora, que em seguida
apresentou a pesquisa, os passos realizados para alcançar os objetivos e a finalização desta
com a realização do seminário.
96

A organização das apresentações do seminário se deu por sugestão dos próprios


ACS, e foi organizado da seguinte maneira: inicialmente uma introdução sobre as DCNT; na
sequência, as principais doenças crônicas acompanhadas na Atenção Básica: hipertensão,
diabetes e neoplasias.
A programação do evento contou inicialmente com a apresentação realizada pelas
Agentes de Saúde Layse Djane e Maria Dalva, com a temática “DCNT: desafios para o
trabalho do ACS”, e nessa apresentação, abordaram de maneira geral conceito, fatores de
risco, condutas e orientações pertinentes ao trabalho do ACS.
Na sequência, as apresentações foram divididas por patologias, foi escolhido essa
forma, pois os próprios ACS acharam mais didático e melhor de apresentar. Então,
apresentaram as orientações para hipertensão, diabetes e neoplasias.
As ACS Maria de Jesus, Gissela e Maria das Graças explanaram uma rápida
revisão sobre a hipertensão e, m seguida, sobre como promover o autocuidado evitando
complicações. Relembraram os níveis pressóricos considerados ótimos, orientações que
antecedem à aferição da pressão arterial, alimentação apropriada ao paciente hipertenso e
ainda prática de atividade física.
As ACS Nilda, Josefa e Elissônia fizeram uma revisão sobre o Diabetes e como
promover o autocuidado evitando as principais complicações, como amputações.
Relembraram os níveis considerados normais para a glicemia, principais tipos de exames para
medição das taxas de glicose, alimentação apropriada ao paciente diabético e ainda prática de
atividade física.
Os ACS Hilda, Cacilma e Djaci falaram sobre as neoplasias, principais tipos de
câncer, fatores de risco, diagnostico tratamento e orientações.
É importante ressaltar que os facilitadores das oficinas participaram ativamente
em todos os momentos do Seminário. Ao final, foi realizada uma roda de conversa com a
participação de todos que procedeu de forma dinâmica, esclarecendo dúvidas dos
participantes do Seminário.
Após os momentos de apresentações, os próprios ACS fizeram o encerramento.
A Programação completa do seminário segue descrita no quadro abaixo:
QUADRO VII – SEMINÁRIO – Roteiro de trabalho
Seminário
DCNT: Desafios e possibilidades na atuação dos ACS
Agentes Comunitários de Saúde da ESF Alencar I
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7:30 Recepção/acolhimento – Responsáveis: ACS Alencar I


7:45 Abertura: Apresentação sobre proposta de pesquisa, objetivos e função do Seminário. – Responsável:
Pesquisadora
Objetivo: Esclarecer o grupo sobre a proposta de estudo, os passos realizados durante a pesquisa e a função
da realização do Seminário dentro da pesquisa.
8:00 Apresentação em powerpoint: “DCNT: desafios para o trabalho do ACS”.– Responsáveis: ACS Layse
Djane e Maria Dalva
Objetivo: realizar uma introdução sobre as DCNT;.
Orientar o grupo de ACS quanto à realização de orientações aos portadores de DCNT;
Estimular a adoção de medidas saudáveis;
09:00 Apresentação em powerpoint: “principais agravos crônicos - Hipertensão.– Responsáveis: ACS Maria
de Jesus, Gissela e Maria das Graças
Objetivo: realizar uma revisão sobre a hipertensão;
Conhecer o tratamento, diagnóstico e formas de controle;
Compreender os principais fatores de risco e orientar para evitar complicações ;
Principais orientações realizadas ao paciente, família e comunidade;
10:00 Apresentação em powerpoint: “principais agravos crônicos - Diabetes.– Responsáveis: ACS Nilda,
Josefa e Elissônia
Objetivo: realizar uma revisão sobre o Diabetes;
Conhecer o tratamento, diagnóstico e formas de controle;
Compreender os principais fatores de risco e orientar para evitar complicações;
Principais orientações realizadas ao paciente, família e comunidade;
11:00 Apresentação em powerpoint: “principais agravos crônicos - Neoplasias.– Responsáveis ACS Hilda,
Cacilma e Djaci
Objetivo: realizar uma revisão sobre as neoplasias;
Conhecer o tratamento, diagnóstico e formas de controle e tipos mais comuns de Câncer;
Compreender os principais fatores de risco e orientar para evitar complicações;
Principais orientações realizadas ao paciente, família e comunidade;
12:00 roda de conversa: discussão sobre os temas abordados com os especialistas presentes: Nutricionista,
Enfermeiro, Médico e Educador Físico. Tema: “ Orientações para promoção ao autocuidado e mudança no
estilo de vida”.
12:30 encerramento do Seminário

Todas as apresentações realizadas durante o dia estão no apêndice G.


A função primordial do Seminário foi divulgar os debates e temas mais
importantes relacionados ao tema central da pesquisa. Foi elaborado juntamente com a
pesquisadora e os participantes do estudo. Teve a função ainda de sintetizar os conhecimentos
98

adquiridos durante todas as oficinas, além de elaboração de material impresso para os


participantes.
A pesquisadora teve a função de mediar e disponibilizar conhecimentos teóricos
junto aos profissionais interessados, participantes da pesquisa e facilitadores das oficinas, fez-
se registro dos debates, troca de informação e sugestões.
O ponto máximo da pesquisa veio com a apresentação pelos próprios ACS dos
conhecimentos adquiridos aos seus pares, além de propiciar o desenvolvimento de habilidades
que lhes permitam organizar e comunicar informações e conhecimentos por meio da
linguagem falada.
As discussões no entorno da função do ACS mostraram um trabalho que não é
estático, nem repetitivo, cada dia novos acontecimentos o tornam corresponsáveis pela
população assistida e que para isso necessitam de formação permanente e em serviço, pois são
situações do dia a dia que os orientam na continuidade para prestação de serviço de forma
correta e orientada. Mesmo que experiente o profissional, a complexidade do ambiente de
trabalho, a necessidade de resolução das situações cotidianas e a intensidade das relações
humanas nunca se repetem, embora, sejam semelhantes dentro da mesma situação.
O grupo de ACS presentes no seminário participou avidamente, retirando dúvidas
e nas discussões pertinentes as responsabilidades dos ACS aos pacientes portadores de
doenças crônicas.
Identificaram-se alguns pontos limitantes na utilização da técnica, pois alguns
ACS ainda relataram timidez e vergonha em falar em público, o que foi atenuado pela
participação dos demais ACS presentes. O próprio grupo solucionou as possíveis falhas de
comunicação ou limitações identificadas no percurso da apresentação.
O ponto que gerou muitas discussões e envolvimento dos demais ACS foi no
tocante à temática de orientações e condutas específicas dos ACS aos portadores de doenças
crônicas e familiares. O tempo todo foi mediado pelos profissionais que estavam presentes
durante as apresentações, tirando dúvidas e aquecendo as discussões em torno das funções
que estes profissionais devem executar no enfrentamento ás DCNT.
Saúde e educação são questões complexas, pois trabalham com o homem e suas
relações, portanto, fica clara a afirmação do grupo quanto à necessidade de educar-se para o
cuidado, pois ambos são complementares e indissociáveis. Ficou evidente que o treinamento
como processo de educação extrapola o desenvolvimento de pessoas, abrangendo, também, o
desenvolvimento organizacional.
99

Desse modo, os ACS traçaram, de maneira coerente, as metas a serem atingidas


ao final das oficinas, que correspondem às suas expectativas quanto às dimensões relacionais
e técnico-científicas. Demonstraram acreditar na possibilidade de iniciar o desenvolvimento
da capacidade crítico-reflexiva durante sua formação, que não ocorre em curto prazo. Além
disso, a motivação e a satisfação refletem na qualidade do serviço prestado e no
relacionamento interpessoal.
O perfil do ACS está relacionado aos traços frequentes, à postura, à percepção de
si e a seu modo de agir. O esperado por estes profissionais diz respeito a um ACS atualizado,
dinâmico, ético, com capacidade de refletir sobre as ações e assistência prestada,
comprometido, conhecedor de suas responsabilidades e limites, capaz de tomar decisões e
responsabilizar-se por elas.
Estamos diante do desafio de pensar em novas formas de formar, de atualizar, de
capacitar, que usufrua de todas as que têm se importado com a construção de sujeitos
autodeterminados e comprometidos. Colocando no centro do processo pedagógico a
implicação ético-política do trabalhador no seu agir cotidiano dos serviços de saúde,
produzindo o cuidado em saúde, no plano individual e coletivo e em equipe.
A avaliação também teve seu local reservado ao longo das oficinas e com a
realização do Seminário, teve a finalidade de fazer a apreciação e imediato feedback tão logo
as atividades se processem, de modo a retratar a evolução do desempenho durante a realização
e garantir retorno ao treinando, mostrando-lhe e discutindo potencialidades e deficiências.
100

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa em questão enfatizou o Agente de Saúde na sua formação, saberes e


práticas frente ao desafio global de combate às DCNT. Sendo um profissional fundamental
para promoção da saúde, não somente por representar um elo entre a comunidade e a
Estratégia Saúde da Família, mas por ser um representante da comunidade em que mora e
conhece toda a área que trabalha, sendo o primeiro profissional da Saúde em contato com as
famílias e portadores de DCNT.
Considerando que a formação de um profissional deve ser contínua, é importante
salientar a necessidade de ações voltadas para formação permanente, fazendo-se necessária
implementação da Política de Educação Permanente nesse município, para assim ter uma
qualificação mais adequada ao trabalho por eles desempenhado e assim se sintam seguros
para realizar ações educativas que visem à melhoria das condições de saúde comunidade.
Acredita-se que a educação no trabalho do Agente Comunitário de Saúde implica
vários desafios, na preparação desses profissionais em uma nova direção de promover saúde,
para não ser percebido apenas como intermediário ou elo entre a comunidade e o serviço de
saúde, mas também reconhecido como trabalhadores aptos para participar e cooperar com a
proposta de mudanças das práticas e reorganização do modelo de atenção à saúde. Todavia, a
capacidade de interagir e comunicar estão ligados aos conhecimentos adquiridos.
Percebeu-se que ainda estavam voltados para saberes no processo saúde-doença,
em que somente se estabelece a cura da doença e seus agravos, sendo os alicerces da Saúde
Públicos intrinsecamente ligados às ideias de: promoção, prevenção e reabilitação da saúde,
vendo o indivíduo como todo no contexto em que está inserido.
O trabalho possibilitou maior conhecimento e aproximação com os ACS do
município, conhecendo dúvidas e as condições de trabalho, sendo possível destacá-los
realmente como uma peça fundamental e indispensável para realização do trabalho na
Estratégia Saúde da Família.
No presente trabalho, utilizou-se a pesquisa-ação como método de investigação, e
que se propõe a um processo de mudança da realidade, e ao mesmo tempo um processo de
geração de conhecimento advindo das duas partes envolvidas, pesquisador e agentes
comunitários de saúde, em um processo educativo de compartilhamento dos conhecimentos já
existentes. Essa metodologia propiciou, por meio de seu processo e de seus resultados,
fortalecer o trabalho do Agente de Saúde, contribuindo para o empoderamento desses
profissionais em relação ao seu papel frente ao enfrentamento das DCNT.
101

O trabalho desenvolvido mediante as oficinas temáticas e de reflexão, e ainda o


Seminário sobre as Doenças Crônicas Não Transmissíveis, facilitou por meio do debate, na
perspectiva problematizadora, trazer à tona os saberes e as práticas desses profissionais
voltadas ao enfrentamento de tamanho desafio da saúde pública.
O processo foi bastante rico e as oficinas constituíram-se em importantes espaços
de debates sobre os temas abordados, e que foram muito valorizados pelos ACS, consideradas
necessários à prática cotidiana desses profissionais.
Como resultado do trabalho, buscou-se também caracterizar o processo de
formação e capacitação dos Agentes de Saúde. Há uma preocupação e uma mobilização do
Ministério da Educação e da Saúde, em nível central, e dos municípios por meio das Escolas
Técnicas do SUS, em relação à formação técnica desses profissionais. A estratégia adotada
parece adequada, com formação em serviço, distribuídas em períodos de concentração e
dispersão, por meio de módulos de formação.
Espera-se que este estudo possa contribuir para discussão sobre a inserção da uma
Formação Permanente, com base em um modelo que busca a prevenção e promoção da saúde
e das práticas cotidianas do profissional Agente Comunitário de Saúde no contexto da
Estratégia Saúde da Família.
A intervenção educativa fortaleceu o aumento do conhecimento e a
conscientização dos participantes. É enfatizado o sujeito-pesquisando como elaborador e
criador do conhecimento, sujeito de sua práxis, em que houve também a troca de
conhecimentos com o pesquisador. Os sujeitos interagiram, fazendo o papel de protagonistas
do processo de produção de saúde e havendo o respeito para com as experiências e contextos
vividos, com vistas à conscientização e à transformação da realidade; objetivando, por meio
da construção de políticas públicas de saúde, ultrapassar a melhora de condições físicas do
organismo humano, mas a conquista da melhoria da qualidade de vida dos usuários e das
condições de trabalho dos profissionais, fazendo surgir diversos desafios nas mudanças dos
modos de produção em saúde.
Acredita-se que foi estabelecida relação dialógica e horizontalizada entre
pesquisadora e participantes, possibilitando a identificação de necessidades, o respeito pelas
habilidades e conhecimentos prévios, além de contribuir e provocar, sobremaneira, a reflexão
e a crítica.
Todo esse processo evidenciou, não somente nos encontros educativos, mas
também no cotidiano observado, considerando a temática das DCNT proposta pelo estudo, e
toda a dinâmica da vida real porque passavam, que se pode concretizar, participantes e
102

pesquisadora, um processo educativo que, de diversas formas e momentos, “tocou” o


pensamento dos participantes.
Frente aos resultados e conclusões e tendo em vista a contribuição com o serviço, sugere-se:
a) Investimentos na Educação Permanente das Equipes de Saúde da Família (ESF), para que a
formação contínua do profissional seja uma realidade, respondendo às necessidades do
serviço;
b) Supervisão efetiva pelos órgãos competentes das ações desenvolvidas pelas ESF,
principalmente oferecendo apoio aos Agentes de Saúde, verificando os resultados e a
efetividade, assim como dando o suporte necessário às equipes;
c) Maior envolvimento da gestão municipal na capacitação/atualização/formação de todos os
integrantes das ESF, principalmente dos ACS para que haja melhor e maior aproveitamento
desses multiplicadores em potencial;
h) Planejamento das ações em DCNT, de modo a definir os objetivos e resultados esperados;
i) Avaliação constante pelas ESF das suas atividades, procurando melhorar, ou até mesmo
mudar, ações que não alcancem os resultados previstos;
O compartilhamento de experiências, que favorece a constatação de que as
pessoas vivenciam situações semelhantes, propicia a compreensão mútua e confere
ressonância aos depoimentos. Isto ocorre quando há estímulo à interação entre os sujeitos da
pesquisa e os pesquisadores, que é promovido pelo emprego da pesquisa-ação. Evidenciou-se
a liberdade de expressão que caracterizou as sessões e foi percebida pelos participantes.
Os participantes avaliaram que a estratégia proporcionou o atendimento das
demandas individuais ao possibilitar a cada um a expressão de suas necessidades. Isto
resultou no interesse e envolvimento em relação aos temas abordados, levando à compreensão
mais profunda dos assuntos discutidos e a uma avaliação positiva do processo.
A pesquisa proporcionou a valorização da capacidade de aprendizado dos
participantes, que são considerados atores sociais ativos, capazes de produzir conhecimento e
participar na tomada de decisões grupais. Os integrantes do grupo valorizaram esta
abordagem ao considerarem importante a participação nas decisões relativas ao
desenvolvimento do grupo, bem como a possibilidade de expressar sentimentos e opiniões.
Assim, este estudo buscou compreender os problemas relativos à formação e ao
trabalho dos ACS em amplitude com relação a atenção a um desafio global, o combate às
DCNT, buscando explicitar e analisar as contradições e mediações socialmente produzidas,
considerando as especificidades e generalidades possíveis, assim como identificando as
formas assumidas pelas diferentes concepções que disputam o cenário de formação dos ACS.
103

Possibilitou, ainda, mostrar “um” caminho e contribuir com propostas de


soluções. Muito se fez e construiu, porém, o assunto não se esgota, nem houve a pretensão de
dá-lo por concluído, muito ainda há de se discutir e rever, pois o aprendizado é contínuo e
aprofundamentos deverão sempre ser construídos e reconstruídos.
104

REFERÊNCIAS

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abordagem etnográfica. Ciênc. Saúde Coletiva, São Paulo, v. 15, 2010.

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BÓGUS, C.M. A educação popular em saúde como possibilidade para o incremento do


controle social no setor saúde. O Mundo da Saúde; São Paulo. 2007.

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termos ou diferentes caminhos? Interface – Comunic, Saúde, Educ. 2002.

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clínico qualitativa: aplicação e perspectivas. Rev Latino-Am Enfermagem. [Online]. 2009.

BRASIL, Portaria nº 198/GM/MS em 13 de fevereiro de 2004. Institui a Política Nacional


de Educação Permanente em Saúde como Estratégia do Sistema Único de Saúde para a
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111

APÊNDICES
112

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ


CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL ENSINO NA SAÚDE

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

APÊNDICE A

CARACTERIZAÇÃO DOS ACS


IDENTIFICAÇÃO:
Nome do ACS:
Endereço:
Contato:
Unidade de Saúde:
DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS:
1 Sexo do ACS: 1( )M 2( ) F
2 Idade do ACS (em anos):
2 ( ) 18-24 3 ( ) 25-31 4 ( ) 32-38
5 ( ) 39-45 6 ( ) 46-52 7 ( ) 53-59
3 Estado civil do ACS:
1( ) Casado(a) 2( ) Solteiro(a) 7( ) União Estável
3( ) Viúvo(a) 4( ) Desquitado(a)
5( ) Divorciado(a) 6( ) Outros(a)
4 Nível de instrução do ACS:
1 ( ) Ensino Fundamental Incompleto 4( ) Ensino Médio Completo
2 ( ) Ensino Fundamental Completo 5( )Ensino Superior Incompleto
3( ) Ensino Médio Incompleto 6( )Ensino Superior Completo

5 Renda R$ (em salário mínimo)


1()1 2 ( ) 1-3 3( ) > 4
6 Qual era sua ocupação antes de ser ACS?
______________________________________________________

Exerce outra profissão além a de ACS


( ) SIM ( ) NÃO
Se sim, qual ? Por quê?___________________________________________________
_______________________________________________________________________
7 A quanto tempo exerce a profissão de ACS (em anos)?
1 ( ) 1-2 4( )3-4 5 ( )5-6 6( ) 7-8 7 ( ) 9- 10 8( ) > 10
8 Você teve formação para atuar como ACS?
1 ( ) sim 2( ) não
Se sim, como você considera sua formação para o trabalho como ACS?
113

9 Busca atualizar-se a fim de oferecer melhor assistência às famílias adscritas? Por quê?
1 ( ) sim 2( ) não

10 - O município no qual você trabalha oferece cursos de atualização em saúde


periodicamente?
1 ( ) sim 2( ) não 3( ) às vezes
- Se sim, você participa? Por que?
1 ( ) sim 2( ) não
- Em relação às DCNT, você já recebeu cursos de atualização?
1 ( ) sim 2( ) não
Se sim, qual/ quais? _____________________________________________________
_______________________________________________________________________
Sugestões para cursos de atualização
_______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
11 Qual a cobertura total de famílias cadastradas na sua área? ___________
Dentre estas quantos são portadoras de DCNT cadastradas na sua área ? _____
12 Qual a periodicidade de visitas domiciliares a essas famílias compostas portadores de
DCNT?
1 ( ) 1x por semana 2 ( )a cada 15 dias 3( ) 1x ao mês 4( ) outro
Qual critério você utiliza para selecionar as casas para as visitas?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

QUESTÕES NORTEADORAS

1 O que você entende por DCNT?

2 A partir do diagnóstico de algum indivíduo apresentando alguma DCNT, quais


orientações são repassadas por você aos pacientes?

3 O que você entende por complicações das DCNT?

4 Você considera de quem o papel da prevenção dos agravos aos portadores de DCNT?
Por quê?

5 Você considera ser papel do ACS atuar na prevenção dos agravos ? Por quê?

6 O que você entende por fatores de risco? Em relação às DCNT, cite algumas.

7 Caso identificado esses fatores de risco, quais as orientações destinadas aos portadores?
114

8 Quais as suas condutas frente ao paciente portador de DCNT?

9 Sobre o tema DCNT, você gostaria de participar de encontros para capacitação sobre
este assunto? Se sim, sobre o quê você gostaria de saber?

10 Você realiza rastreamento na sua área de possíveis portadores de DCNT?

11 Sabe o que é estratificação de risco? Como realizar em portadores de DCNT?


115

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ


CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL ENSINO NA SAÚDE

APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, Gisele Lopes Oliveira, enfermeira e servidora da Secretaria Municipal de Saúde de


Iguatu, além de docente da Universidade Regional do Cariri (URCA), aluna do Curso do
Mestrado Profissional Ensino na Saúde, estou desenvolvendo a pesquisa intitulada “A
FORMAÇÃO DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE NA ATENÇÃO ÁS
DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: PESQUISA-AÇÃO COMO
MEDIAÇÃO DE SABERES”, que tem como objetivo principal analisar a formação do
Agente Comunitário de Saúde frente à complexidade das doenças crônicas, com vistas a
propor a elaboração de uma estratégia educativa, visando orientação e transformação da
prática , com intuito da integralidade do cuidado e a excelência do serviço. Para alcançar o
objetivo proposto, convido você para participar, voluntariamente, consistindo em
primeiramente, responder a uma entrevista, na qual você relatará sobre questionamentos,
dificuldades, anseios e expectativas enfrentados durante as atividades laborais diárias, e, logo
em seguida, participará de encontros, realizados por meio de oficinas e seminários para,
dentro de uma perspectiva de construção coletiva com os educadores, propor medidas para o
enfrentamento destes problemas vivenciados. Caso concorde, também será convidado (a) a
responder às perguntas mediante gravação de suas respostas em um gravador de voz. Informo
ainda que a pesquisa em questão foi motivada pelo ingresso da pesquisadora no Mestrado
Profissional Ensino na Saúde da Universidade Estadual do Ceará, e está sendo feita para obter
o título de Mestre.
O presente estudo envolve os riscos de aspecto não físico, uma vez que poderá causar
constrangimento e/ou desconforto gerado pela entrevista e pela observação, que serão
minimizados por meio do anonimato de sua participação, bem como a sua desistência em
qualquer fase da pesquisa. Caso você aceite participar e, em algum momento queira desistir,
poderá retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa.
O principal benefício esperado com o estudo é que os Agentes Comunitários de Saúde
poderão ser capacitados para responder as suas inquietações, para que dentro de uma
educação libertadora, sintam-se seguros para enfrentar medos, anseios e expectativas. Todas
116

as informações que o(a) Sr.(a) nos fornecer serão utilizadas somente para esta pesquisa. Suas
respostas serão confidenciais e seu nome não aparecerá na divulgação dos dados e nem
quando os resultados forem apresentados. A sua participação em qualquer tipo de pesquisa é
voluntária. Caso o(a) Sr.(a) aceite participar, não receberá nenhuma compensação financeira.
Também não sofrerá qualquer prejuízo se não aceitar ou se desistir após ter iniciado a
responder à entrevista e a participação nas oficinas.
Se tiver alguma dúvida a respeito dos objetivos da pesquisa e/ou dos métodos utilizados na
mesma, pode procurar a professora Gisele Lopes Oliveira, Universidade Regional do Cariri –
URCA, Curso de Enfermagem, localizado à rua Evaldo Gouvêia, São Sebastião, CEP 63.504-
235, (88) 99678338, Iguatu-CE, em horário comercial ou ainda a Professora Cleide Carneiro,
Coordenadora e Docente do Mestrado Profissional Ensino na Saúde da Universidade Estadual
do Ceará –UECE, e endereço Rua Maria Tomásia 170, Apto 1905, Fortaleza, Ceará. Se
desejar obter informações sobre os seus direitos e os aspectos éticos envolvidos na pesquisa,
poderá consultar também a direção da URCA. Se o(a) Sr.(a) estiver de acordo em participar,
deverá preencher e assinar o Termo de Consentimento Pós-esclarecido que se segue, e
receberá uma cópia deste Termo.

Obrigada.

______________________________ _________________________________
(Assinatura do participante) (Assinatura do pesquisador)

Data: ____/____/_____ Data: ____/____/_____


117

APÊNDICE C
ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO NO DOMICÍLIO

O presente roteiro se presta a nortear a observação da atuação do ACS no


domicílio dos portadores de DCNT, para fins de coleta de dados da pesquisa intitulada “A
Formação do Agente Comunitário de Saúde na Atenção as Doenças Crônicas Não
Transmissíveis: Pesquisa-Ação como mediação de saberes”. Deve a pesquisadora realizar o
registro das observações em diário de campo e observar:

1. Recepção no domicílio entre o agente de saúde e o paciente/família;

2. Manejo e orientações repassadas ao paciente/família;

3. Diálogos entre o agente de saúde e cuidador/familiar;

4. Atitude e comportamento entre os agentes de saúde e paciente com patologia


cônica e entre este e os familiares;

5. Observar orientações para promoção ao autocuidado;

6. Observar se os agentes realizam anotações nas fichas de visitas no domicílio;

7. Objeto do trabalho. Espaço de intervenção: saberes e práticas.


118

APÊNDICE D
PLANO DE AÇÃO

AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE NO CONTROLE DAS DOENÇAS


CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNT)

INTRODUÇÃO

Com base nos principais problemas de saúde ligados à população assistida na ESF
pelos Agentes de Saúde, estão incluídas as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT),
com esse advento, o Ministério da Saúde lançou uma rede de combate e enfrentamento às
doenças crônicas. Essa rede funciona com linhas de cuidados específicas voltadas à prevenção
e tratamento das DCNT, principalmente o diabetes, a hipertensão arterial, alguns tipos de
cânceres, além de combater o excesso de peso e a obesidade, incluindo o tratamento cirúrgico
para obesidade severa (MENDES, 2012).

A Atenção Básica, vem sendo formada cada vez mais por equipes da Estratégia
Saúde da Família, cuja expansão progressiva melhorou o acesso ao cuidado integral e
contínuo, propiciando, assim, uma plataforma para a prevenção e o gerenciamento
dessas doenças. Contudo, lacunas relevantes permanecem na atenção básica, uma vez que
somente agora aspectos importantes do modelo de cuidados crônicos estão começando a
ser incorporados.

Para ter acesso à atenção especial para as DCNT, a porta de entrada dos pacientes
são as Unidades Básicas de Saúde (UBS), que acolhem os pacientes com equipes
multidisciplinares formada por médicos, enfermeiros, agentes de saúde além de outros
profissionais. A equipe de atenção básica fará um acompanhamento permanente (BRASIL,
2013).

As DCNT possuem condições que são muito prevalentes, multifatoriais com


coexistência de determinantes biológicos e socioculturais, e sua abordagem, para ser efetiva,
necessariamente envolve as diversas categorias profissionais das equipes de Saúde e exige o
protagonismo dos indivíduos, famílias e comunidade.

Após alguns anos de atuação, sensibilizou-nos a dificuldade de atuação do ACS na


assistência ao portador de DCNT. Além disso, a busca de alguns pacientes por assistência, em
119

decorrência de problemas de saúde já instalados, ensejava preocupação ao pensar que muitas


das situações apresentadas no serviço de atenção básica são passíveis de prevenção. Para
tanto, a equipe deve estender suas atividades para esta população com a busca e conhecimento
da realidade que se apresenta na comunidade.

Nitidamente, o estudo tem uma motivação central, como sujeito implicado no


processo de formação profissional em saúde, a vivência da pesquisadora que despertou o
interesse por temática tão importante como sua formação relacionada às DCNT.

2 JUSTIFICATIVA

A Educação Permanente em Saúde constitui estratégia fundamental às


transformações do trabalho no setor, para que venha a ser lugar de atuação crítica, reflexiva,
propositiva, compromissada e tecnicamente competente. Há necessidade, entretanto, de
descentralizar e disseminar capacidade pedagógica por dentro do setor, isto é, entre seus
trabalhadores; entre os gestores de ações, serviços e sistemas de saúde; entre trabalhadores e
gestores com os formadores e entre trabalhadores, gestores e formadores com o controle
social em saúde. Esta ação permitiria constituir o Sistema Único de Saúde verdadeiramente
como uma rede-escola.

É esperado que na Atenção Básica o agente comunitário de saúde seja protagonista


na construção de vínculos entre a comunidade, as pessoas e a família com os serviços de
saúde e que intermedeiam o saber (prática biomédica) e a cultura da sociedade (território no
qual trabalha). Neste sentido, o seu trabalho tem sido pautado em fortalecer a relação entre a
população e a equipe de saúde, e para que isso ocorra, é necessária qualificação e exatidão em
suas funções e competência (BRASIL, 2009).

Considerando a formação dos agentes comunitários de saúde como um dos pilares


que sustenta a inserção e as práticas desenvolvidas por esses profissionais, os ACS trazem à
tona a necessidade de incorporar novos elementos à sua prática e aos seus conceitos, a partir
de desconfortos experimentados no cotidiano do trabalho, percebendo que o modo de fazer é
insuficiente para dar conta dos desafios postos. A vivência e a reflexão sobre as práticas
vividas produzem insatisfação, levando à busca permanente de alternativas para enfrentar o
desafio e produzir transformações na realidade concreta.
120

3 OBJETIVOS

3.1 GERAL

Trabalhar com temáticas relacionados às doenças crônicas, bem como fatores de


risco, além de questões sobre abordagem da promoção da saúde e do estilo de vida.

3.2 ESPECÍFICOS

Promover capacitações sistemáticas para os ACS sobre as DCNT;

Capacitar Agentes Comunitários de Saúde no enfrentamento às DCNT e formas de


prevenção;

Estimular o autocuidado na relação entre Agentes de Saúde e famílias com


portadores de DCNT;

Compreender os fatores de risco, rastreamento e principais complicações;

Entender sobre educação em saúde para população com DCNT e desenvolver


habilidades para condução do processo educativo;

Realizar oficinas temáticas com profissionais especialistas na orientação e


promoção do autocuidado;

Realizar seminário para agentes comunitários de todo o município com o que foi
apreendido nas oficinas.

4 METAS

 Reunir os Agentes de Saúde em oficinas temático-pedagógicas;

 Qualificar Agentes comunitários de Saúde no enfrentamento às DCNT;

 Estabelecer melhoria na oferta de informações a população;

 Estimular Agentes de Saúde na prestação de serviço à população, tornando-


o protagonista.

 Disseminar informações em todo o município para Agentes de Saúde;

 Motivar a participação em atividades de Educação em Saúde na própria


comunidade;

 Sensibilizar outros profissionais na atenção aos portadores de DCNT;


121

 Saber identificar no cotidiano do trabalho em equipe as demandas de


educação permanente dos ACS.

5 METODOLOGIA

Trata-se de pesquisa de campo, realizada com Agentes Comunitários de Saúde,


baseado nas deficiências da formação específica para atuar junto às DCNT. Sabendo da
importância da temática e que em qualquer área o maior número de pessoas que necessitam de
orientações estão relacionadas a esse tipo de doenças, foi-se pensado na execução de um
Plano de ação capaz de dar conta da demanda de informação e qualificação para os ACS.

Inicialmente, foi realizado um diagnóstico inicial sobre o conhecimento relacionado


às DCNT, por meio de entrevista e observação participante. Posteriormente, foi formulado o
“Grupo de Observação” que teve como principal função analisar as falas respondidas na
entrevista e o relatório da observação e com isso definir metas e objetivos do plano de ação. O
plano em questão tem fins pedagógicos e de formação destes profissionais.

Pensando na possibilidade de reunir esses profissionais e os mesmos participarem


na confecção do plano, baseando-se nas suas próprias dificuldades, foi elaborado o Plano de
Ação com a opinião dos próprios ACS.

A Intervenção será realizada com os 12 ACS da Unidade de Saúde Alencar I, do


município de Iguatu, caracterizando, assim, uma pesquisa do tipo campo exploratório com
caráter descritivo. Posteriormente, serão realizadas oficinas didático-pedagógicas, com temas
específicos com a duração de no máximo 2 horas cada uma, perfazendo, assim, um total de 10
horas.

As oficinas foram pensadas em número de 5, e em temáticas que envolvam a


promoção do autocuidado. A primeira oficina será realizada pelo médico sobre as “DCNT,
uma visão sobre as Doenças”. A segunda será realizada pela enfermeira sobre “DCNT:
identificando fatores de risco, complicações e formas de rastreamento”. A terceira será
realizada pela nutricionista, tendo como assunto “A promoção a saúde dos Portadores de
DCNT por meio da alimentação”. A quarta oficina será realizada pelo enfermeiro do CAPS-
AD sobre “A utilização de álcool e drogas e sua implicação com as DCNT”. A quinta e última
oficina seá realizada pelo educador físico sobre “A atividade física e qualidade de vida”.
122

Após realização das oficinas foi acordado mais um encontro para preparação do
Seminário que será construído pelos ACS participantes da pesquisa e apresentado aos demais
ACS do município. O seminário terá a duração de 4 horas, desta forma, será feita avaliação de
todas as oficinas ofertadas.

IDENTIFICAÇÃO DE PROBLEMAS

 Falta de Informação sobre as doenças crônicas;

 Conhecimento inadequado para atuar frente a tamanho problema de saúde


pública;

 Carência de oportunidade e treinamento sobre as DCNT.

6 RECURSOS HUMANOS E MATERIAIS

Serão necessários recursos humanos e materiais para colocar em prática o projeto


de intervenção.

Recursos cognitivos: conhecimento sobre o tema e estratégias de comunicação e


pedagógicas.

Humanos: Profissionais especialistas ou com grande conhecimento na área das


crônicas para facilitarem as oficinas.

Financeiros: disponibilização de materiais educativos (Datashow, notebook,


folhetos explicativos sobre hipertensão, diabetes, asma e outras DCNT). A confecção de
blusas também foi uma demanda do grupo de ACS.

Políticos: articulação intersetorial e adesão dos profissionais, parceria e mobilização


social.

Organizacional: organização da agenda para elaborar as oficinas educativas.


123

7 CRONOGRAMA

CRONOGRAMA/ DEZEMBRO DE 2014


Atividades 2 4 9 11 16 18 22
1º encontro – Formação do
grupo de observação e
X
construção do Plano.
2º constituição do plano de ação X X
1º oficina pedagógica X
2º oficina pedagógica X
3º oficina pedagógica X
4º oficina pedagógica X
5º oficina pedagógica X
Realização do seminário X

8 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

Para avaliação aplicaremos questionários (APÊNDICE E), após as oficinas, e no


final, após a apresentação do seminários. Desta maneira, a avaliação será processual ou
formativa, que diz: a avaliação formativa é um ponto de partida, útil para assimilação ou
retificação de novas aprendizagens, sendo ideal em uma avaliação continuada, possibilitando
ao professor gerir e organizar situações didáticas de aprendizado, identificando eventuais
necessidades de correção de rota. Quanto à avaliação diagnóstica, pode ser utilizada no início
de um curso ou disciplina, para identificar os conhecimentos dos alunos quanto aos conteúdos
que serão ministrados.

As técnicas de avaliação escolhidas para esta proposta foram a observação, a


entrevista, e a aplicação de um instrumento de avaliação das oficinas. Com isso, após cada
oficina esta foi avaliada com esse instrumento e, além disso, a realização da entrevista pela
pesquisadora.
124

APÊNDICE E

INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DAS OFICINAS

O Sistema de Avaliação proposto tem o propósito de avaliar o processo de aprendizagem e o


desenvolvimento da competência proposta pelas Oficinas. Foi utilizada avaliação formativa, a qual tem o
objetivo de ajudar a identificar os aspectos positivos do processo de aprendizagem e os que precisam de
aprimoramento.
A qualquer momento que for identificado por meio do presente instrumento o conceito de “Insuficiente”
por qualquer um dos participantes, a pesquisadora poderá retornar ao conteúdo da oficina com outros
especialistas que complementem o tema abordado.
Este instrumento é comum às cinco oficinas que foram realizadas de acordo com o Plano de Ação.

QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO

1- insuficiente 2- fraco 3- regular 4- bom 5- excelente

I - GRAU DE ALCANCE DOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM


1. Como você avalia a aquisição dos conhecimentos necessários
para:
Atuar no enfrentamento às DCNT
12345

Refletir criticamente sobre sua prática


12345

Identificar como orientar a comunidade portadora de doenças


12345
crônicas

Descrever estratégias para orientar sobre a prevenção dessas doenças


12345

Atuar na prevenção de possíveis complicações e prevenção


12345

Utilizaria os conhecimentos na sua prática


12345

II MÉTODO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
1. Como você avalia os seguintes aspectos referentes ao método de
125

ensino-aprendizagem:

Todos os participantes contribuíram ativamente na discussão;; 12345

Os encontros estimularam as atividades de aprendizagem 12345

Os encontros de grupo foram produtivos 12345

12345
Quanto à qualidade dos temas.

Em relação ao facilitador:
Demonstrou conhecimento sobre a temática abordada
12345
Estimulou o grupo a aprender sobre o tema 12345
Suas intervenções estimularam a discussão em grupo 12345

12345
Os assuntos sugeridos/entregues pelo facilitador foram relevantes
12345
O tempo foi suficiente para estudar e aprender sobre o assunto

Em relação a oficina como um todo, que nota você daria sendo considerado:

1- insuficiente 2- fraco 3- regular 4- bom 5- excelente

(1) (2) (3) (4) (5)

Obrigado por sua contribuição!


126

APÊNDICE F
DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: ACHADOS NA OBSERVAÇÃO
E ENTREVISTA
[As figuras foram criadas por você? Do contrário, deve denominar de Anexo]
127
128

APÊNDICE G
SEMINÁRIO – APRESENTAÇÕES
129
130
131
132
133
134

ANEXOS
135

ANEXO I
TERMO DE ANUÊNCIA
136

ANEXO II
MAPA DO ESTADO DO CEARÁ COM A LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE
IGUATU

FONTE: IBGE, 2014


137

ANEXO III
MAPA DE TERRITORIALIZAÇÃO DO DISTRITO DE JOSÉ DE ALENCAR –
ALENCAR I - IGUATU-CE

FONTE: Pesquisa Direta, Iguatu – CE, 2014


138

ANEXO IV
PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP
139
140
141

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