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Graduação em Letras – Língua Portuguesa pela Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL (2013);
Especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pela Universidade Candido Mendes – UCAM
(2013); Mestre em Linguagem e Ensino pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG (2015);
Doutoranda em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP; Professora
de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira no Colégio Paulo de Tarso.
RESUMO
O teatro na escola é uma ferramenta importante para despertar o gosto pelo texto
dramático nas aulas de literatura, bem como formar a sensibilidade do indivíduo por
meio da encenação. Entendemos que esses são pontos significativos, uma vez que,
desperta o imaginário do leitor e o coloca como indivíduo ativo, já que seu corpo
também se tornará presente nessa atividade de encenação. Para tanto, partimos de uma
reflexão sobre a arte teatral no âmbito escolar, em seguida nos detemos à análise da
peça Cantarim de Cantará, de Sylvia Orthof. Procurando finalizar, propomos uma
abordagem de leitura em sala de aula da peça em questão, bem como uma encenação
para levar o leitor a uma produção teatral e estimular sua criatividade. Nosso arcabouço
teórico se pauta nos estudiosos Magaldi (1985), Bornheim (1983), Dezotti (2006) e os
Parâmetros Curriculares Nacionais: arte (1997), entre outros que abordam a temática do
estudo.
O TEATRO NA ESCOLA
A arte tem sido um grande instrumento da educação, pois ela ganhou espaço
nas escolas como uma atividade que integra os saberes e os sentidos, desenvolvendo a
percepção, seja ela corporal ou não do indivíduo aluno. Entre as artes, a que mais ganha
destaque é o teatro, mas não como uma disciplina específica, ele está integrado ao
ensino de literatura, o qual se apropria da encenação, em que possibilita o leitor a
conhecer e apreciar o texto dramático. Esse é um diálogo interdisciplinar que tem como
fim ampliar os horizontes de expectativa do leitor e sua bagagem de leitura do texto
dramático. Por teatro podemos entender que:
[...] o ato de dramatizar está potencialmente contido em cada um, como uma
necessidade de compreender e representar uma realidade. Ao observar uma
criança em suas primeiras manifestações dramatizadas, o jogo simbólico,
percebe-se a procura na organização de seu conhecimento do mundo de
forma integradora. A dramatização acompanha o desenvolvimento da criança
como uma manifestação espontânea, assumindo feições e funções diversas,
sem perder jamais o caráter de interação e de promoção de equilíbrio entre
ela e o meio ambiente. Essa atividade evolui do jogo espontâneo para o jogo
de regras, do individual para o coletivo. (BRASIL, 1997. p. 52)
[...] nossos dias, o homem pede menos arte, ou melhor as suas necessidades
estéticas satisfazem-se por outros caminhos que não os especificamente
artísticos. Evidentemente, no caso do teatro as coisas se complicam de modo
peculiar, já que nos deparamos com uma arte que é integradora por definição,
que exige tanto a integração das artes entre si com a da arte com o público –
aspectos estes que, em princípio, sempre deveriam permanecer indissociados
em qualquer tipo de expressão artística. (BORNHEIM, 1983, p. 81).
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Toda peça teatral passa por uma construção em que se leva em conta os signos
do espetáculo, dentro desse contexto, a teórica Pascolati (2005) fundamentada em
Kowzan propõe treze sistemas de signos – a palavra, o tom, a expressão facial, o gesto,
a marcação, a maquilagem, o penteado, a indumentária, o acessório, o cenário, a
iluminação, a música e o som, em que a maioria está ligada a composição da
personagem e diretamente ao ator. Assim, ela nos explica que a leitura do texto
dramático não deve estar limitado à apreensão do significado da obra, uma vez que esse
procedimento é comum nas produções dirigidos ao público infantil, pois nesses textos
prevalecem uma riqueza de organização desses signos, já que eles apelam intensamente
para uma dimensão visual, bem como procuram construir uma ação que tem o ritmo
dinâmico.
Pensando nessa abordagem, notamos que a peça Cantarim de Cantará, escrita
em 1977, mas publicada pela primeira vez em 1997, de Sylvia Orthof traz essas
composições, pois é uma obra destinada ao público mirim em que os recursos visuais
tornam-se atrativos e simbólicos, pelo próprio título notamos que a obra se refere a um
musical infantil, que é composto por personagens pássaros e que tem como
protagonista a Pomba-Rolinha.
Tal personagem passa por várias situações de perdas e ganhos, primeiro ela
perde sua casa para a ventania, em seguida a personagem Urubu lhe engana colocando-a
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em uma gaiola, deixando-a pressa e sem poder voar. Depois ela consegue uma porta
como casa, mas o Pássaro-fogo a destrói, recomeçando mais uma vez, a Pomba-Rolinha
consegue uma janela e ali ela se restabelece e tem uma passagem da vida para a morte
de forma amena.
Pensando em uma perspectiva mais estrutural, podemos mencionar que a peça
não possui uma divisão em atos ou cenas, mas a ação dramática é marcada pelos
dilemas da personagem principal Pomba–Rolinha. A peça já inicia com uma didáscália
que remete a ideia do cenário.
Um: É a Pomba-Rolinha!
Dois: O que será que aconteceu?
Sol: Dona Pomba – Rolinha, o que foi que aconteceu? Diga de uma vez!
Pomba – Rolinha: O que é mais bonito, num pássaro?
Sol: Eu acho que são as asas... Asas! Asas de voar!
Pomba – Rolinha: Asas de voar... é lindo poder voar, não é mesmo? (chora)
Mas a ventania voou forte demais... e derrubou a minha casa... (ORTHOF,
1997, p. 73, grifos do autor).
Urubu: Eu vou dar de presente, para a Pomba – Rolinha, uma porta para a
nova casa!
Pomba-Rolinha: É verdade, Urubu?
Urubu: Aqui está!
[...]
Pomba – Rolinha: Já tenho uma porta... (Urubu dá a chave) e uma chave de
abrir gaiolas... que festa para uma Pomba- Rolinha! (ORTHOF, 1997, p. 82-
83, grifos do autor.).
em adquirir uma casa são fundamentais para que a ação se propague de forma linear.
Vejamos a tristeza dela em perder a casa pela ventania, em seguida ficar pressa em uma
gaiola pela ganância da personagem Urubu, mas que em seguida se redime e lhe entrega
uma porta com chave, para lhe dar a liberdade de ir e vir. Mas o Pássaro de Fogo coloca
fogo em sua porta e ela, mais uma vez, volta à peregrinação da busca de um lar seguro.
Dessolada ela encontra uma nova vontade, ao conversar com a Borboleta acreditamos
que esse seja um ponto auge da ação que se desenrola no enredo, pois a partir dessa
conversa fica evidente a ideia do recomeçar e é por meio dela que a personagem dá
continuidade a sua busca. Em função desses dilemas, a Pomba – Rolinha configura-se
como personagem central da peça, à medida que as demais personagens como Pássaro-
Sol, Urubu, Sabiá, Bem-te-vi, Borboleta, Pássaro de Fogo, Milharal, Dindinha-Lua
Saravá e Estrelas, que são os secundários, lhe auxiliam na busca e/ou na desconstrução
da casa da Pomba – Rolinha.
Em função dessas relações entre as personagens o que se sobressai, ao olhar do
leitor, é a temática da coletividade, a qual acreditamos que seja a principal, uma vez que
essa vertente é a essência de uma sociedade. Todos precisamos um dos outros para nos
constituir como indivíduo no meio e é essa ideia que transmite a peça Cantarim de
Cantará, em que Pomba – Rolinha precisa o tempo todo do apoio dos amigos, para
continuar sua caminhada. Isso também leva o leitor, pensando no público infantil, a
refletir sobre sua condição no mundo: de que deve estar presente para o outro e ser
solidário. Assim a obra também ganha um caráter moralizador, no entanto, não deixa de
levar o público à imaginação e estimula-o a criatividade.
Por intermédio da linguagem poética podemos vivenciar momentos em que as
palavras adquirem uma força incomum, um lado escondido poucas vezes visitado pelo
nosso pensamento. Paixão (1983) destaca que “a sensação provocada pelo contato com
a natureza, uma situação cotidiana, ou o convívio de alguém, tem um sabor diferente
para cada um de nós e, se fossemos escrever sobre isso, nunca dois indivíduos usariam
as mesmas palavras.” Desta maneira, mesmo sendo complexa, cada um é dono de sua
linguagem poética, interpretando-a e expressando-a de acordo com sua individualidade.
Segundo Paixão (1983) apesar de a poesia estar representando a percepção de uma
realidade subjetiva, o poeta não se torna passivo diante de tudo que o rodeia.
Observado em diversas partes da peça Cantarim de Cantará, o caráter poético
pode ser identificado facilmente por meio das rimas, do ritmo, das metáforas e da
musicalidade. Assim a linguagem não se detém somente ao verso e a prosa, pois
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protagonistas recuperam a crença de uma vida triunfante. Tal situação pode ser
observada no diálogo entre a Pomba-Rolinha e a borboleta Azul.
da casa de Pomba Rolinha pela ventania (p. 67-74). Pode ser Sugerido uma encenação
por meio do jogo dramático em sala, a partir da leitura em que Pomba Rolinha cai na
propaganda da personagem Urubu. Nesse momento, estimular os leitores a pensarem
em uma personagem Pomba Rolinha esperta e astuta, diferente da personagem
desenhada por Silvya Orthof. (p. 74-83).
No terceiro encontro, a tensão e a angústia que Pomba Rolinha sofre para ter
sua porta e sua janela (p. 83-90), podem ser ponto de partida para a continuação da
leitura da obra. A leitura em voz alta, expressiva e intercalada entre os leitores deve ser
prestigiada novamente. Provocar uma discussão a cerca do entendimento que os leitores
possuem sobre a ideia de migração e sobre o percurso migratório que os pássaros fazem
durante o ano. Estimulá-los a pensar sobre as perdas e ganhos durante esse processo, o
que eles deixam para trás e a vida que se renova em uma nova moradia. Após a leitura
fazer uma ponte com a itinerância nordestina, por meio da leitura em quadrinho da obra
“Morte e vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto. Leitura da peça visando a morte
da personagem Pomba Rolinha e ovo como símbolo de esperança e de vida. (p. 90-95)
Seguindo, no quarto e no quinto encontro o professor propõe e estimula a
criação de um roteiro sobre a peça Cantarim de Cantará para ser encenado em sala de
aula. (organizar as roupas e o cenário de forma coletiva. Pode-se utilizar o tecido TNT
na cor azul para representar o céu, alguns galhos e/ou pedaços de madeira para se
pensar na criação da gaiola, da porta e da janela. O TNT amarelo, preto, vermelho,
laranja podem ser utilizados para confeccionar as roupas das personagens, que podem
ser costuradas ou grampeadas, pois facilita a preparação em grupo. Recortar bicos de
pássaros em cartolinas coloridas e colocar elástico. A trilha sonora também deve está
voltada para essa temática, pode ter ao fundo uma música instrumental com som de
pássaro piando, vento, etc. As cantigas presentes na peça também podem ser
prestigiadas.)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BORNHEIM, Gerd A. Teatro e Literatura. In: Teatro: cena dividida. Porto Alegre:
L&PM, 1983, p. 73-90.
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 2 ed. São Paulo: Contexto,
2012.
HEGEL, G. W. F. Curso de estética: o sistema das artes. Trad. Álvaro Ribeiro. São
Paulo: Martins Fontes, 1997.
MAGALDI, Sábato. Conceito de teatro. In: Iniciação ao teatro. 2. ed. São Paulo:
Ática, 1985, p. 07-14.
ORTHOF, Sylvia. Cantarim de Cantará. In: As crianças vão ao teatro. 3. ed. Rio de
Janeiro: Agir, 1997, p. 65-67.
PASCOLATI, Sonia Aparecida Vido. O texto dramático na sala de aula. In: Anais 15º
Congresso de Leitura do Brasil (COLE). Campinas – SP: UNICAMP, 2005.
Disponível em: <http://alb.com.br/arquivo-
morto/edicoes_anteriores/anais17/txtcompletos/sem15/COLE_270.pdf>. Acesso em 25
de julho de 2018.
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