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SANTO ANDRÉ
2010
1
ARTHUR ALVES DA SILVA
Trabalho de Conclusão de
Curso apresentado como exigência
parcial para obtenção do grau de
Bacharel em História, à Faculdade de
Filosofia Ciências e Letras do Centro
Universitário Fundação Santo André
Orientador:
Prof. Salomão Jovino da Silva
SANTO ANDRÉ
2010
2
ARTHUR ALVES DA SILVA
Trabalho de Conclusão do Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do grau
de Bacharel, à Faculdade de Filosofia Ciências e Letras do Centro Universitário Fundação Santo
André, Curso de História.
Orientador: _________________________________________________
3
CONSOLIDAÇÃO DO ESPIRITISMO COMO RELIGIÃO NO
BRASIL
Resumo
4
CONSOLIDATION OF THE SPIRIT AS RELIGION IN BRAZIL
Arthur Alves Silva
Abstract
Any historian would be undeniable contemporary to recognize the relevance of the growth of
the Espiritismo as religion in Brazil, therefore the object of this work is to raise estimated
historical that had contributed to take root in singular way the espírita doctrine of Kardec, for
this the methodology is concentrated in analyzing workmanships, documents and the articles
that emit references and proposals that evidence referring validations profícuas to the object
of study through these evidence that the espírita notoriety this in premise to the love to the
next one that together with the passivity social politics and inaquality happened of the
miscegenation and oppression that our society suffered since the colonial times had allowed
to the current times the enraizamento of the doctrine by means of executed legitimated
assistencialistas politics as the charity until the present time.
5
Sumário
Resumo....................................................................................4
Abstract....................................................................................5
Introdução................................................................................7
Capítulo I..................................................................................9
AS NOÇÕES DO CONHECIMENTO ESPÍRITA...................................9
1.1 - O que é o Espiritismo?..............................................................9
1.2 - As bases da doutrina ..............................................................12
1.3 - O Espiritismo na Europa.........................................................14
1.4 – A propagação do Espiritismo no Brasil....................................15
1.5 - Rio de Janeiro – Criação da Federação Espírita Brasileira..........16
Capítulo II...............................................................................19
PRINCIPAIS ARTICULADORES DO ESPIRITISMO NO BRASIL..........19
2.1 - Teles de Menezes ...................................................................19
2.2 - Bezerra de Menezes................................................................20
2.3 - Francisco Cândido Xavier e os rumos do espiritismo no Brasil. . .22
Capítulo III..............................................................................25
A ORIGEM DE UM SINCRETISMO ..............................................25
3.1 – Espiritismo e Umbanda...........................................................25
Conclusão...............................................................................29
PARA OS MOTIVOS EXISTEM RUMOS A SEREM SEGUIDOS...........29
BIBLIOGRAFIA.........................................................................32
6
Introdução
“Oito anos depois de sua morte, o mito do médium mineiro está vivo, forte e
será renovado por uma onda de filmes que celebram o centenário de seu
nascimento. O que explica essa popularidade?” (Revista Época,
26/02/2010)
Atualmente com os lançamentos de filmes, como Chico Xavier e Nosso Lar, o termo
espiritismo deixa de ser um tabu religioso para alcançar através da mídia certa notoriedade,
contradição observada em seu contexto histórico, já que o passado da cultura espírita, por
vezes, encontra-se obscuro e conflitante.
A crença espírita está embasada nas relações homem/espírito, fato que molda a
realidade social e religiosa brasileira, a sua chegada no país denota como característica a
reelaboração de certos rituais de fé e devoção que apregoa valores novos aos princípios
tradicionais de uma sociedade profundamente mística e bastante hierarquizada socialmente,
moldada pela escravidão.
O espiritismo oferece uma proposta alternativa doutrinária para aqueles que não se
encaixam na ritualística, devoção e dogma do catolicismo, ou seja, instaura um leque de
possibilidades para os demais valores religiosos na sociedade, uma das possíveis razões que
explicaria o enraizamento da doutrina apenas no Brasil.
8
Capítulo I
5
KARDEC, Allan. 2002
10
ciência, desmitificando qualquer ação efetuada, mesmo que a ciência terrena ainda não possa
comprová-la.
Portanto, a doutrina não possui culto material, rituais ou cerimônias, sem sinais
cabalísticos ou símbolos, não admite o uso de imagens, nem há sacerdotes ou ministros, não
admite rótulos. Tudo que não condiz com as acepções da Codificação, não faz parte do
espiritismo. Apesar desta negação místico-ritualística existe no culto espírita uma
sequencialização utilizada de forma sistêmica para operar as reuniões (também chamadas de
sessões), onde são ministradas palestras para exemplificar textos do próprio Kardec,
caracterizando o contexto das palestras em explicações científicas e/ou práticas.
Atualmente, as sessões abertas ao público, postulam estudo que promovem não só
o esquema doutrinário, mas discussões que alavancam as posturas morais e éticas do ser
humano, para alcançar a prática da reforma íntima no cotidiano, permitindo a evolução de
cada um, segundo os preceitos espíritas.
Para Giumbelli (1997) o espiritismo além de seguir preceitos cristãos, sistematiza
a religião como algo prático e comum, desconsidera a ideia dos fenômenos incomuns 6,
conciliando mediações do mundo visível/invisível, usando as experiências reencarnatórias
com o intuito de reformular algumas ideias relacionadas diretamente com as condições
vivenciadas pelo ser humano, ressaltando como primazia para sua evolução a caridade.
Para a doutrina a caridade é a maior das virtudes dos seres humanos, porque
proporciona aos homens colocar em prática o mandamento essencial que consubstancia dos
demais: “[...] amar ao próximo como a si mesmo” (FRANCO, 2010, p.48).
A caridade suscita alguns questionamentos, já que pode ser definida de acordo
com os preceitos morais de cada um, ocasionando divergências sobre o seu uso. Para Incontri
(2004) a caridade pode ser a responsável pela receptividade que o Brasil ofertou a doutrina
espírita, afirmando que:
[...] as pessoas carentes que são assistidas, não são participante; é objeto de
assistência e não sujeitos que devem readquirir sua dignidade social e
autonomia econômica [...] esse conservadorismo está ligado ao desinteresse
pela educação. (INCONTRI, Dora. 2004, p.121)
6
Fenômenos que não são explicáveis cientificamente, ou estranhos. Mini Aurélio, 2000
11
sociais que geram a miséria de quem as recebe, por conta da moral cristã. Postula ainda que a
caridade esteja ligada a falta de instrução de quem a pratica ou recebe, o que enaltece a
alienação.
Para Abreu (1987, p.56) a falta de conhecimento, estudo, ou até uma atividade
mais participativa da doutrina espírita, justifica diretamente essa inércia, pois “[...] é mais
humano procurar quem nos console e nos ensine pelo sentimento, a quem nos force a pensar,
a especular ou, numa só frase aprender pelo raciocínio [...]”. Atribui às características
desfavoráveis da caridade a condição humana, que independente de religião busca alternativas
para encontrar o consolo ilícito, que subsidia suas privações através de esteios sociais
assistencialistas.
Para a crença espírita a caridade ultrapassa o assistencialismo social, devendo
ocorrer através de mudanças atitudinais, pode ser efetuada com gestos de simpatia, humildade
e tolerância, com moderadores que propiciam pacificar situações e que enaltecem a
convivência entre os seres humanos.
Em suma, a doutrina apesar de intitular-se científica, possui base cristã e como tal
cultua mecanismos que enaltecem a bondade humana. Apesar de divergente a caridade é
usada como mecanismo assistencial para uns e vista como altruísmo para outros, sendo
promulgada em todas as religiões judaico-cristãs, mesmo que indiretamente.
7
Salvação aqui se refere, ao caráter diretamente humano, uma preocupação para livrar em outro mundo as penas
e as ações cometidas aqui na terra.
13
1.3 - O Espiritismo na Europa
O segundo, León Denis, destaca-se no plano doutrinário, pois ressalta uma visão
contra o catolicismo, que nesta época atacou duramente o espiritismo de Kardec, colocando
em 1864 o Pentateuco espírita em índex9. As tentativas da igreja em aniquilar os pensamentos
espíritas não o impediram de expandir-se para os Estados Unidos e outros países europeus,
que promoveram experiências com médiuns através de comissões cientificas para provar a
existência da comunicação com o mundo espiritual, não obstante esse percurso na doutrina
pode ser caracterizado pelo reconhecimento da realidade e por fraudes. (GIUMBELLI, 1997,
p.59).
8
Estudos Avançados 18 (52), 2004 p. 192
9
O Index Librorum Prohibitorum ou Index Librorvm Prohibithorvm ("Índice dos Livros Proibidos" ou "Lista
dos Livros Proibidos" em português) foi uma lista de publicações proibidas pela Igreja Católica, de "livros
perniciosos" contendo ainda as regras da Igreja relativamente a livros.
14
1.4 – A propagação do Espiritismo no Brasil10
Ao analisar o fator social desde a vinda do europeu, com suas crenças e culturas, o
espiritismo configura-se como uma nova proposta no século XIX(marcado por profundas
mudanças em todo cenário mundial) e os reflexos dessa postura mudaram a base de
organização da sociedade brasileira.
10
Contribuições do estudo pioneiro de Ubiratan Machado, jornalista que realizou uma das poucas pesquisas
sobre o nascimento do movimento espírita e sua relação com a realidade social brasileira, principalmente com os
meios intelectuais do país à época.
11
Laicismo: Estado Laico, Leigo ou estranho ao assunto.
15
O Cearense, em edição de 19 de maio de 1854, explora mais as afirmações sobre
a inteligência das mesas e vislumbra a possibilidade de se “evocar os espíritos pelas mesas”, o
que se faria através de um iluminado (ou seja, o médium).
Kardec irá realmente se iniciar na fenomenologia espírita, em 1856, fato que
denota o espiritismo como uma doutrina que pode ser delimitada a um lugar e tempo, porém
os fenômenos que a estruturaram e fundamentaram suas concepções não são passíveis de
sofrer a mesma delimitação.
O Brasil, apesar de receber influência estrangeira em suas crendices, para lidar
com a doutrina espírita não incorreu na mesma sinonímia européia, possui uma maneira
própria de aceitar as acepções de Kardec, fato que corroborou para o status de sede maior da
doutrina na atualidade.
12
Segundo Abreu (1987) “Chegou-se a criar um chamado Espiritismo Puro, equidistantes de científicos e
místicos”. Ou seja, nem científico, nem místico e estava no centro, eram os seus participantes extremamente
compreensivos e tolerantes.
16
Carlos Travassos, essa tradução repercute positivamente no meio espírita, revigorando o
movimento.
Faz-se necessário unir os adeptos brasileiros (dispersos e desorganizados) sob
uma só divisa, então, Antonio Elias da Silva (fotógrafo português recém convertido ao
espiritismo e radicado no Brasil) juntamente com outros companheiros de ideal, fundaram a
FEB- Federação Espírita Brasileira, no dia 31 de dezembro de 1883, também criou o
periódico espírita O Reformador, no dia 21 de Janeiro de 1883.
Antonio Elias da Silva concretizou a aspiração dos adeptos espíritas de sua época.
Desde 1865 os espiritistas brasileiros promulgavam a relevância de propagar a Doutrina dos
Espíritos por meio da imprensa. O foco de adeptos concentrava-se no Rio de Janeiro, Bahia, e
em São Paulo.
Em 1869 surgiu na Bahia o primeiro órgão da imprensa espírita brasileira, O Écho
d”Além-Túmulo, fundado e dirigido por Luís Olímpio Teles de Menezes. Consideráveis
tentativas haviam sido feitas também no Rio de Janeiro, com o objetivo de propagar a
Doutrina por meio da imprensa. Prova disso foi a Revista Espírita, dirigida pelo Dr. Antônio
da Silva Neto, vice-presidente do Grupo Confúcio, a qual teve vida efêmera, aparecendo em
1º de janeiro de 1875 e desaparecendo ao fim de seis meses.
Outra tentativa foi a Revista da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade,
que subsistiu de janeiro de 1881 a julho de 1882, é nesse meio que o fotógrafo de profissão,
Augusto Elias da Silva, idealiza, funda e faz circular o Reformador — Orgam Evolucionista, a
serviço da Grande Causa.
"Abre caminho, saudando os homens do presente que também o foram do passado e
ainda, hão de ser os do futuro, mais um batalhador da paz: o Reformador.”13 (cadê a fonte??)
Com essas palavras apresentava-se, em 21 de janeiro de 1883, o novo órgão da imprensa
espírita. Há muito o Reformador tornou-se o mais antigo periódico da imprensa espírita
brasileira. Em todo o mundo, ocupa o quinto lugar em antiguidade, registram os Anais da
Biblioteca Nacional (Vol, 85) ser o Reformador um dos quatro periódicos surgidos no Rio de
Janeiro, de 1808 a 1889, publicados até hoje. São eles, pela ordem: Jornal do Commercio
(1827); Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1839); Diário Oficial (1862);
Reformador (1883). À exceção do Diário Oficial, Reformador é o único que jamais teve
interrompido sua publicação.
13
http://bvespirita.com/Revistareformador-2003-janeiro-(FederecaoEspiritaBrasileira).pdf)
17
A doutrina em 1895 passa por um momento decisivo, talvez o mais grave de toda
história do espiritismo brasileiro. Vivia-se já na república, porém, a perseguição continuava.
A nova constituição, de 1890, por meio dos seus artigos 156, 157 e 158, condenava certas
práticas espíritas como o exercício ilegal da medicina, os homeopatas ainda não tinham se
consolidado, e sua ligação com o espiritismo era vista muito mais como feitiçaria.
A perseguição, que ocorria por causa do clero, tornou-se mais acirrada com a
participação governamental, vários curandeiros foram presos, fato que corroborou para
difundir de maneira negativa a propaganda da doutrina.
Finalmente, em 24 de fevereiro de 1891, a Constituição Republicana, constituiu o
Estado leigo, sem os liames que o ligavam à Igreja Católica, favorecendo não só o
Espiritismo, mas todas as religiões praticadas no Brasil.
18
Capítulo II
14
Em 1869 (8 de Março), Teles de Menezes reunia seus companheiros no “Grêmio de Estudos. Espiriticos da
Bahia” e anunciou o aparecimento, para a breve, do primeiro jornal espirita do Brasil: “ECHO D’ALÈM
TUMULO” o que realmente ocorreu no mês de julho.
15
É como Teles é conhecido no meio espírita.
19
– Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, páginas traduzidas da 13ª edição do Livro dos
Espíritos.
Teles de Menezes foi o percursor e figura central para o florescer do espiritismo
em terras brasileiras, jornalista, escreveu para Diário da Bahia (1856-1956) e o jornal
conservador Jornal da Bahia (1853-1878) facilitando a divulgação e criação de polêmicas
compradas com o clero e demais opositores, atraindo a atenção de inúmeras pessoas.
Como na Europa a igreja católica mostrou-se contra a influência da doutrina no
meio social, destaca-se neste quesito D. Manuel Joaquim da Silveira, Arcebispo da Bahia,
acirrou luta contra os espíritas, quanto maior a polêmica e a proibição da igreja, mas
ampliavam-se o número de adeptos baiano, e consequentemente no país.
No meio político o fenômeno espírita circunda a questão abolicionista,
partilhando as proposições da revolução francesa: igualdade, liberdade e fraternidade, neste
cenário conturbado, nascem mais duas obras espíritas escritas em português, em São Paulo
um autor anônimo traduz a obra de Kardec O Espiritismo Reduzido á sua Mais Simples
Expressão.
No ano de 1897, são transferidos para a FEB os direito autorais, para língua
portuguesa, de todas as obras de Kardec, fato de suma importância para a difusão da Doutrina
Espírita no Brasil.
Ressalta-se que um dos principais órgãos da imprensa que combateu o espiritismo
era baiano, o Bahia Ilustrada, fundado em 1867, publicava sempre chacotas contra o
espiritismo. Seguindo os passos do codificador os espíritas baianos agradeciam a irreverência
do jornal, afirmando que ela permitia uma maior exposição do espiritismo e contribuía para o
aumento de simpatizantes.
O Grupo Baiano a priori é o responsável pela introdução do espiritismo no país,
mas é no Rio de Janeiro que se amplia e progredi, consolidando-se de fato em terras
nacionais.
Foi, sem dúvida, o grande divulgador da Doutrina Espírita. A sua influência fez
com que o Espiritismo crescesse não só no Brasil como no mundo, apesar das críticas de que
com ele o Espiritismo se tornou ainda mais católico, sem Chico, o Espiritismo no Brasil, não
teria tanto vulto e influência sobre o pensamento do povo brasileiro.
24
Capítulo III
A ORIGEM DE UM SINCRETISMO16
27
Art. 157: Praticar o espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismãs e
cartomancias, para despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar cura de
moléstias curáveis ou incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a
credulidade pública.
Dessa maneira, “sugere-se que a repressão estatal jamais teria se feito contra a
‘crença na magia e na capacidade de produzir malefícios por meios ocultos e sobrenaturais’”.
Pelo contrário, a não marginalização da crença no sobrenatural demonstra uma predisposição
das camadas governantes e judiciárias brasileiras à aceitação das mesmas, o que ajudaria
ainda mais a disseminá-las.
Apesar das diferenças entre o kardecismo e a umbanda, a relação entre ambas é
respeitosa, por basearem-se em pontos parecidos. No entanto, as religiões mediúnicas no
Brasil vêm sofrendo constantes ataques de outras doutrinas, em especial, das religiões
neopentecostais, movimento que se distingui das demais religiões protestantes devido às suas
estratégias de proselitismo e pela ênfase no dom da cura divina, o que os leva a também serem
chamados de “igrejas de cura”. Os ataques neopentecostais são direcionados principalmente
às religiões afro-brasileiras, traçando paralelos entre as entidades espirituais dos terreiros
(principalmente os exús) a imagem do diabo do cristianismo.
Não obstante, esse embate se dá justamente porque há uma disputa para
monopolizar no mercado religioso as mediações mágicas e o êxtase individual e coletivo.
Juntamente com a cura, essa característica faz com que existam mais semelhanças do que
diferenças entre as religiões mediúnicas e as neopentecostais:
28
Conclusão
A doutrina espírita utiliza os atos humanos para fundamentar a sua base crítica com a
intenção de legitimar, e difundir-se no espaço brasileiro, como doutrina religiosa estimula os
pensamentos que servem de alicerce para a vida diária, mas que também liga criatura ao
criador, através de suas ações.
Essa validação ao longo das pesquisas nos leva a compreender o motivo pelo qual o
Espiritismo, ao chegar ao Brasil, caracterizou-se em uma doutrina mais religiosa
fundamentada e baseada na caridade direta, diferente, portanto, do pensamento kardecista, que
via a doutrina com características mais filosóficas e até científica. A tríade espírita é abafada
pelas necessidades sociais do país (saúde pública precária, por exemplo), fato que impulsiona
as práticas de ajuda ao próximo.
A partir daí, surge à figura de Teles de Menezes, ícone do espiritismo, conhecedor dos
princípios básicos do espiritismo, que procura universalizar as obras de Kardec, trazendo a
população uma linguagem simples de fácil acesso, conquistando adeptos do espiritismo no
Brasil.
Chico Xavier ditou tendência para a doutrina, criou-se uma imagem santificada dele,
definiu-se um modelo de espiritismo baseado na abnegação, no voto de pobreza e nas
atividades filantrópicas, aonde a caridade apesar de ser executada com o viés de assistir os
recursos materiais, teve o valor profícuo na consolação ao próximo, suas obras evidenciam a
possibilidade de se fugir do inferno após a morte através da misericórdia divina, além de
resignar as mães órfãs de filhos através de psicografias que as reconfortava. Chico foi
responsável pelo crescimento espírita no mundo.
Destaco Chico por que no decorrer da pesquisa pude vislumbrar que sua mediunidade,
não esta atrelada a doutrina de Kardec, na infância já lutava contra a mesma, e ao mesmo
tempo amparava-se nela, recorrendo à mãe (desencarnada) e ao padre da cidade. Suas ações
são admiradas não só por espíritas, mas por pessoas que vêem em sua biografia o homem
regrado e simples, humilde e sofredor.
A sua obra vasta foi de grande contribuição para o movimento espírita. Hoje surge um
apelo muito grande ao espiritismo porque as práticas deixaram de ser focadas internamente
para se ampliar e se moldar ou se enquadrar ao mundo moderno, a indústria do cinema, da
comunicação áudio visual trás um impacto muito presente, fazendo que o discurso espírita se
torne amplo e difundido ainda mais, conquistando adeptos assim como Kardec fez no começo
de sua história lá na França.
Em suma, conclui-se que apesar do termo caridade ser usado e concepcionado de
diversas maneiras, com apelos a ajuda aos necessitados através de recursos materiais, ao
30
analisar de forma minuciosa a frase de Kardec “Fora da caridade não há salvação”, há de se
concluir que esta caridade não está ligada, necessariamente, às obras assistenciais, mas,
sobretudo em uma transformação humana através de uma história de superação nas crenças,
ou seja, na condição de ser histórico.
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33