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A qualidade da vida urbana virou uma mercadoria.

Há uma aura de liberdade de escolha de


serviços, lazer e cultura – desde que se tenha dinheiro para pagar.

Saber que tipo de cidade queremos é uma questão que não pode ser dissociada de saber que
tipo de vínculos sociais, relacionamentos com a natureza, estilos de vida, tecnologias e valores
estéticos nós desejamos. O direito à cidade é muito mais que a liberdade individual de ter acesso
aos recursos urbanos: é um direito de mudar a nós mesmos, mudando a cidade. Além disso, é
um direito coletivo e não individual, já que essa transformação depende do exercício de um
poder coletivo para remodelar os processos de urbanização. (...) Cada fragmento parece viver e
funcionar de forma autônoma, aferrando-se firmemente ao que conseguiu agarrar na luta diária
pela sobrevivência. Nessas condições, os ideais de identidade urbana, cidadania e
pertencimento se tornam muito mais difíceis de sustentar.
Um passo para a unificação dessas lutas é adotar o direito à cidade, como slogan e como ideal
político, precisamente porque ele levanta a questão de quem comanda a relação entre a
urbanização e a produção do lucro. A democratização desse direito, e a construção de um amplo
movimento social para fazer valer a sua vontade são imperativas para que os despossuídos
possam retomar o controle que por tanto tempo lhes foi negado e instituir novas formas de
urbanização. Lefèbvre estava certo ao insistir em que a revolução tem de ser urbana, no sentido
mais amplo do termo; do contrário, não será nada. (O DIREITO À CIDADE – DAVID HARVEY)
Segundo Hall, o conceito de territorialidade é elaborado a partir das relações próximas ou
distantes que o sujeito empreende a partir de seu modo de perceber e agir no mundo, também
subordinado as suas elaborações micro e socioculturais. (...) Cada construção perceptiva, no
entanto, é produto de uma cultura arranjada a partir da dinâmica e dos usos do espaço em que
esta se constrói. (...) A cultura urbana em sua dinâmica atende, porém, a uma memória coletiva.
Esta se constitui como um sistema dinâmico e complexo sobre o qual serão conformadas e
retomadas as memórias individuais e, portanto, aquilo que diz respeito à pessoalidade de cada
indivíduo. Os eventos, os fenômenos, bem como os modos de vivê-los e valorá-los em um
determinado grupo constituem sua memória coletiva, que se localiza num tempo e espaço social
determinado. Esta memória, contudo, é significada por cada indivíduo em sua singularidade a
partir de cada peculiaridade de existência, seja afetiva, seja perceptiva, seja relacional. Tal
memória conforma também os modos de percepção, apreensão e elaboração das realidades,
empreendendo a construção de significados que permeiam os modos peculiares de se viver a
sociedade.Composição urbana trata de ambientar espaços e de trabalhar na importância da
reação do potencial interator. Uma “obra”, em seu contexto, assinala a materialização dos
sentidos do lugar, incorpora o plano do imaginário-sensível dos habitantes. O espaço, dito
público, aqui, é visto como sensível. (MEDEIROS e ALBUQUERQUE, 2013: 32) (CULTURA VISUAL:
MEMÓRIA COLETIVA E A ESTÉTICA DO ESPAÇO URBANO – TERRAZA, 2015)
A prática da reciclagem, conhecida no mercado como retrofit, surgiu e foi desenvolvida na
Europa, onde existe uma grande quantidade de edifícios históricos. Essa nova perspectiva, que
respeita as pré-existências e ao mesmo tempo se adapta as exigências e os padrões atuais, surge
por consequência de uma legislação bastante rígida em relação à preservação do patrimônio, e
de algum tempo para cá, vem conquistando cada vez mais espaço. Em Santa Maria, a reciclagem
também aparece mais como uma necessidade do que como uma tendência na arquitetura
contemporânea. Luara Mayer, arquiteta e urbanista do Lineastudio, conta que atualizações
arquitetônicas são necessárias para manter a ocupação através da garantia de conforto e
segurança aos usuários. “Atualizar um imóvel de maneira a estender sua vida útil é uma solução
arquitetônica que ajuda a preservar a história local e as relações de identificação ao mesmo
tempo que permite as mudanças das dinâmicas arquitetônicas, espaciais e culturais que se
desenvolvem naturalmente na sociedade com o passar dos anos”, disse. “Acreditamos que os
projetos de revitalização são de imensa importância porque promovem o Desenvolvimento
Sustentado: sustentabilidade econômica, ambiental e social”, destaca a arquiteta, que
relembra: “A história mostra que mesmo muitas das mais degradadas áreas urbanas podem ser
salvas, seus melhores edifícios podem ser modernizados para atender às necessidades atuais, e
isso pode ser realizado através da criação de um diálogo entre o antigo e a novidade.”
Deve-se consolidar o fomento a projetos de caráter cultural, social e turístico, com a retomada
de uma população residente nos centros urbanos históricos, com a ocupação de espaços
subutilizados, atraindo investimentos no setor, bem como programas com linhas de crédito e
projetos alternativos.

A questão conceitual de “centro histórico” é lembrada por Argan como instrumento útil por
reduzir e até bloquear a invasão das zonas antigas por parte de organismos administrativos ou
de funções residenciais novas que conduziriam à sua destruição. Ao mesmo tempo, destaca que
o que tem e deve ter não apenas organização, mas substância histórica é a cidade em seu
conjunto, antiga e moderna e que “os centros históricos só podem ser salvos e, não apenas
prorrogados por algum tempo, no âmbito de uma política urbanística que considere de modo
global todos os problemas da cidade e do território” (ARGAN, 1998, p. 79).

Para Argan (1998), deve-se a Lynch (1997) o avanço na análise do significado psicológico do
ambiente urbano e de seus componentes, mudando a metodologia dos estudos urbanísticos ao
propor a experiência da cidade a partir das percepções individuais e da atribuição pessoal de
valor dos dados visuais: o valor de uma cidade seria então o que lhe é atribuído pela comunidade
e ainda que em alguns casos se restrinja a uma elite de estudiosos, estes agem (ou deveriam
agir) no interesse da comunidade.

A consciência da preservação e da forma de intervir nessas áreas tomou fôlego e os encontros


iniciados com os Congressos Internacionais (CIAM’s) sucederam-se com a divulgação das “cartas
patrimoniais” que por sua vez incorporaram gradativamente as transformações conceituais e
teorias, promovendo o encontro dos bens materiais aos bens de natureza imaterial.

Sobre as transformações e crises observadas nas cidades, Argan em ensaio de 1988, ressalta que
o desenvolvimento urbano é moral quando ocorre no interesse e em proveito de todos os
cidadãos, mas que é imoral quando ocorre no interesse e em proveito de uma classe ou
indivíduos em prejuízo de outros. As problemáticas do homem contemporâneo incluem os
questionamentos sobre o que fazer com as áreas urbanas centrais e seu contingente construído,
a significância que o patrimônio cultural exerce na coletividade imbuída pela consciência da
memória e identidades coletivas que diferenciam as cidades e seus cidadãos dos demais.

Há uma consciência social que condena a visão de áreas urbanas centrais como obstáculos à
modernidade, porém ainda persiste a visão fundamentalista da preservação, estando essas
áreas sujeitas a modelos de usos passivos ou neutros com o abuso de “centros culturais” como
espaços de animação e vida (FARRET apud VARGAS; CASTILHO, 2006). Sobre a reanimação dos
centros históricos Argan (1998) discorre que não poderiam ser condenados a uma existência
puramente de museus, pois a cidade deve ser tratada como um bem cultural em seu conjunto
e seria inútil sanear bairros antigos sem lhes restituir funções que não fossem artificiais.

O conceito de centro histórico é comumente vinculado à origem urbana, à valorização do


passado e memória coletiva (CARRION, 1998 apud VARGAS; CASTILHO, 2006) e também é
associado à idéia de “cristalização” como se as demais áreas não tivessem também sua
contribuição histórica na estrutura em construção (MARCUSE, 1998 apud VARGAS; CASTILHO,
2006). Argan (1998), ainda na década de 1980, atenta para a idéia de centro histórico como
pressuposição de que as diversas partes da cidade têm valores históricos diferentes, sendo na
verdade a cidade uma entidade histórica absolutamente unitária.

A deterioração e degradação urbana estão associadas à perda de função, dano ou ruína das
estruturas físicas ou rebaixamento das transações econômicas observando que aos espaços
degradados somam-se a atribuição à condição de empobrecimento e de marginalização dos
indivíduos e descrédito da referência de bem comum (GUTIERREZ, 1989).

Muitas experiências restringiram-se a edifícios monumentais isolados não refletindo o mesmo


cuidado com seu entorno. Os objetivos eram da valorização da memória com a organização da
sociedade em defesa do patrimônio e o discurso de que os centros seriam essenciais na vida
urbana, geradores da identidade e orgulho cívico. Ponto crítico é a artificialidade da criação de
cenários urbanos, sendo um paradoxo a utilização do conceito de preservação para identificar
espaços dedicados ao consumo, em muitos casos fruto da exclusão social (VARGAS; CASTILHO,
2006: p. 18-19).

Ainda são usuais projetos centrados na preservação de edifícios e áreas históricas,


fundamentados em usos passivos ou neutros, inspirados nos modelos de centros culturais, lazer
e atividades museológicas.

Considerando que o patrimônio representa um repertório de estruturas simbólicas que alimenta


a dinâmica cultural produtiva na contemporaneidade e fator de qualificação do ambiente
cultural das formações sócio-territoriais, Mesentier (2006) destaca a questão patrimonial como
base relevante para o desenvolvimento metropolitano, não apenas pelo conjunto de atividades
que dependam da agregação de valor cultural à qualidade de bens e serviços, mas para a
dinâmica de desenvolvimento sociocultural da metrópole, que não se restringe aos processos
econômicos, mas a referenciais sociais, culturais e políticos. Esse patrimônio cultural associado
a uma localização urbana especial, ganha nova significação para o futuro das metrópoles. Ainda
que não seja possível avaliar em profundidade sobre o modo de urbanização que está se
formando atualmente, Mesentier (2006) destaca ser essa premissa válida para os serviços, como
o turismo, que prescinde do consumo onde é originado e por isso agrega ao seu valor a
qualidade socialmente atribuída ao ambiente onde são produzidos, bem como para o conjunto
das atividades produtivas relacionadas à cultura, ao lazer e ao turismo.

O entendimento de reabilitar era então definido como: Recompor atividades, habilitando


novamente o espaço, através de políticas públicas e de incentivos às iniciativas privadas, para o
exercício das múltiplas funções urbanas, historicamente localizadas numa mesma área da
cidade, reconhecida por todos como uma centralidade e uma referência do desenvolvimento
urbano (BRASIL, 2005, p. 10). A reabilitação era reconhecida na política urbana nacional como
um processo de gestão de ações integradas, públicas e privadas, de recuperação e reutilização
do acervo edificado em áreas já consolidadas da cidade, compreendendo “os espaços e
edificações ociosas, vazias, abandonadas, subutilizadas e insalubres”, bem como a melhoria dos
espaços e serviços públicos, acessibilidade, equipamentos comunitários, com vistas ao
repovoamento e utilização democrática e multiclassista (BRASIL, 2005, p. 12).

As diretrizes da política de reabilitação nas áreas centrais visavam: integrar ações e programas;
promover a conservação do patrimônio construído, cultural e ambiental; estimular a
reabilitação urbana e de prédios públicos em contraposição à cultura de novas construções,
periferização e expansão horizontal das cidades; fortalecer os vínculos da população com os
bairros para a coesão e diversidade social; criar estruturas de organização e participação,
envolvendo a população, novos moradores e movimentos sociais; reduzir o déficit habitacional
com a ocupação dos vazios urbanos e recuperação de prédios públicos para uso residencial
articulado a outras funções urbanas; apoiar a permanência e inclusão social da população de
baixa renda que reside e trabalha na região; reforçar as funções econômicas e pequenos
negócios, contribuindo para geração de emprego e o fortalecimento das funções econômicas e
simbólicas das áreas centrais; incentivar o desenvolvimento tecnológico e formação profissional
para reforma e adequação dos edifícios para novos usos, no que concerne às técnicas, produtos
e formação de mão-de-obra; e a salvaguarda de bens e populações vulneráveis (BRASIL, 2005).

O papel da sociedade, cada vez mais consciente da necessidade de valorização de seus bens
culturais e coerentes com a realidade socioeconômica do país, deve ser um dos requisitos a
permear os processos de reabilitação. A participação dos cidadãos deve ser ampla, pois nas
cidades não agem apenas os agentes decisórios, projetistas e construtores, mas também todos
que a integram, habitam, trabalham ou passeiam nelas. A ideia da cidade e da reabilitação que
se projeta deve ser compreendida através de processos de sensibilização e do envolvimento da
sociedade. (INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO DE ÁREAS HISTÓRICAS: QUESTÕES CONCEITUAIS
E TEÓRICAS – NORAT, RIBEIRO, 2014)
Preserva-lo então, pode ser uma medida eficaz para garantir que a sociedade tenha a
oportunidade de conhecer sua própria história e de outros, por meio do patrimônio material,
imaterial, arquitetônico ou edificado, arqueológico, artístico, religioso e da humanidade. Pois
através da materialidade, o indivíduo consegue se realizar e afirmar sua identidade cultural,
podendo também, reconstruir seu passado histórico (OLIVEIRA; LOURES OLIVEIRA,
2008).
Quando se fala em patrimônio cultural, imediatamente associa-se o termo aos conceitos
de memória e identidade, “uma vez que entendemos o patrimônio cultural como lócus
privilegiado onde as memórias e as identidades adquirem materialidade” (PELEGRINI,
2007: p. 1). Segundo Pelegrini (2006), as noções de patrimônio cultural estão vinculadas
ás de lembrança e de memória, que são fundamentais no que diz respeito a ações
patrimonialistas, uma vez que os bens culturais são preservados em função da relação que
mantêm com as identidades culturais.
Para Le Goff (2007), a memória acaba por estabelecer um “vinculo” entre as gerações
humanas e o “tempo histórico que as acompanha”. Esse vínculo que se torna afetivo,
possibilita que essa população passe a se enxergar como “sujeitos da história”, que possuem
assim como direitos, também deveres para com a sua localidade. O autor destaca, que a
“identidade cultural de um país, estado, cidade ou comunidade se faz com a memória
individual e coletiva”; a partir do momento em que a sociedade se dispõe a “preservar e
divulgar os seus bens culturais” dá-se início ao processo denominado pelo autor como a
“construção do ethos cultural e de sua cidadania” (PELEGRINI, 2006: p. 116-117).
Ao entendermos patrimônio como algo que recebemos do passado, vivenciamos no
presente e transmitimos as gerações futuras, de acordo com Pelegrini (2007: p. 3),
estamos admitindo “que o patrimônio é historicamente construído e conjuga o sentimento
de pertencimento dos indivíduos a um ou mais grupos”, sentimento esse, que acaba por
assegurar uma identidade cultural. Segundo a autora, a relação existente entre a
preservação do patrimônio arqueológico e a sociedade, seria nada menos do que o
“reconhecimento e a valorização das identidades culturais” (KRAISCH, 2007: p. 2). Para
que as ações de preservação de fato ocorram, não basta apenas o interesse legal, deve-se
também ter o apoio da comunidade. Para isso, deve haver uma socialização entre
pesquisadores e a comunidade que vive em torno deste patrimônio arqueológico.
(MAEA-UFRJ)
Para Jacques Le Goff, tanto a concretização quanto a permanência de um monumento tem
como característica a de "ligar-se ao poder de perpetuação, voluntária ou involuntária,
das sociedades históricas (é um legado à memória coletiva)".
Neste sentido o monumento enquanto testemunho (ou documento histórico) de uma
cultura não deixa de ser um registro cultural de uma época, pois não é "qualquer coisa
que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as
relações de força que aí detinham o poder". Para a utilização deste monumento como
fonte histórica é necessário reconhecer as forças de poder que agiram sobre sua
concepção, execução e perpetuação. Como lembram Roussiau e Bonardi (2002, p. 41): [...] a
inteligibilidade dos processos de construção de uma representação reclama que se faça um apelo ao passado, à
história, à memória tanto para reconhecer o que do passado se insere nas novas representações – a marca do passado
e, por consequência também, as especificidades do presente –, quanto para compreender como a memória e o
conhecimento se articulam, como o pré-construído que age sobre a aquisição de informações e de novos saberes.
Seja como for, o mais relevante é mostrar que o patrimônio histórico edificado são as
construções mais exemplares, porque se relacionam mais diretamente com a vida de
parcela de uma dada coletividade.
Numa outra perspectiva, Zarankin (2002, p. 39) expressa o seguinte: Os prédios são
objetos sociais e como tais estão carregados de valores e sentidos próprios de cada
sociedade. No entanto, não são uns simples reflexo passivo desta, pelo contrário, são
partícipes ativos na formação das pessoas. Dito de outra forma, a arquitetura denota
uma ideologia, e possui a particularidade de transformá-la em ‘real’ (material), para
desta forma transmitir seus valores e significados por meio de um discurso material.
Assim, se considerarmos que os prédios são formas de comunicação não-verbal, então
estes podem ser lidos.
O prédio, segundo esta ótica, não é simplesmente algo passivo, não serve somente
para refletir uma sociedade, mas é um objeto social carregado de valor e sentido. Ele
é um elemento ativo na formação das pessoas, pois representa o pensamento
humano numa forma mais palpável. Para o autor, portanto, um edifício expressa
uma comunicação não-verbal, dotada de vários valores e significados, que são
transmitidos mediante um discurso material, concretizado na realização mesma da
edificação. Parte da história da civilização humana pode ser vislumbrada por meio
de suas construções, elaboradas para resolver ou solucionar um dado problema,
como também através da conquista da natureza pelo homem.
A relação entre turismo e espaço se traduz fundamentalmente na indiscutível capacidade que
tem o turismo de (re) organizar o conteúdo dos territórios à sua conveniência, no intuito de
se criar as condições para que o mesmo possa ocorrer. Ele tem o espaço como o seu principal
objeto de consumo, e assim, atua dinamicamente no processo de (re) produção espacial.
Entretanto, a transformação do território pelo turismo pode encontrar resistências, sendo que,
de acordo com Cruz (2002, p. 30), os “sistemas de objetos constituídos, criados por sistemas
de ações histórica e socialmente estabelecidos, podem configurar-se como barreiras à
expansão da atividade turística”. Para a autora o poder público local tem o papel importante
na mediação dos conflitos gerados pelo choque entre antigos e novos usos do território.
Diante do exposto, pode-se compreender que os processos de intervenções urbanísticas nos
centros históricos das cidades com objetivo de transformá-los em atrativos turísticos culturais
através da valorização do patrimônio histórico e da dinâmica social destes lugares, gera uma
série de conflitos entre os usos já existentes e os novos usos, conflitos estes que são relevantes
para discussões em nível governamental, científico e comunitário acerca dos problemas
urbanos e a sua relação com o desenvolvimento do turismo nas áreas centrais e a valorização
social, econômica e cultural de espaços urbanos reabilitados.
Vale ressaltar, que nesse período, a legislação em torno da preservação do patrimônio histórico
e cultural previa apenas a proteção individual dessas edificações, como se observa nos Art. 17
e 18 do Capítulo II do Decreto-Lei nº25 de 30 de novembro de 1937:
Art. 17: As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum, ser destruídas, demolidas ou
mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de cinquenta por cento do
dano causado.
Art. 18: Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não se
poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a
visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra
ou retirar o objeto, impondo-se neste caso multa de cinquenta por cento do valor do mesmo
objeto.
Mesmo fazendo menção a visibilidade do monumento, a ausência de políticas de proteção
voltadas para conjuntos urbanos ou entornos desses bens, acarretava por muitas vezes em
descaracterizações e/ou transformações drásticas no contexto que estavam inseridos, e assim,
em sua ambiência. A partir da década de 1960 os conjuntos urbanos também começam a ter
representatividade nas listas de bens com interesse a preservação. É o início de um
amadurecimento, e diversificação do entorno como forma de preservação.
Em 1988, a partir das definições estabelecidas pelo Plano Diretor Urbano (PDU), o poder
municipal delimitava a área do Centro Histórico de Belém (CHB), por meio da Lei nº7.401 de
20/01/1988 de Desenvolvimento Urbano (LDU). Buscando preservar o CHB, a LDU determinava
que qualquer intervenção externa ou interna nos imóveis que faziam parte desse perímetro
deveria ter a prévia anuência do governo municipal. Já em 1990, por meio da Lei Orgânica do
Município, o CHB era tombado.
Mais tarde, em 1994, por meio do Plano Diretor Urbano (Lei nº 7.603 de 13/01/1994), o governo
municipal institui o Entorno do CHB, ampliando a área sob o monitoramento para salvaguarda
do patrimônio arquitetônico da cidade. Ainda em 1994 foi regulamentada a Lei de preservação
e proteção do Patrimônio Histórico, Artístico, Ambiental e Cultural do Município de Belém (Lei
nº 7.709 de 18/05/1994), a primeira legislação municipal que dispunha diretamente sobre o
patrimônio cultural urbanístico e arquitetônico de Belém.
Estabelecida pela Fundação Cultural do Município (FUMBEL), entre suas atribuições, a lei veio
regulamentar o Centro Histórico e o seu entorno. No intuito de frear a degradação e
descaracterização da área, a Lei acrescentou aos limites do CHB a área de entorno definida no
Plano Diretor do Município, e estabeleceu cinco categorias para a classificação dos imóveis
situados na área: preservação arquitetônica integral, preservação arquitetônica parcial, imóveis
de reconstituição arquitetônica, de acompanhamento, e de renovação, que foram atribuídas de
acordo com o inventário realizado em toda a área tombada e seu entorno. Dessa forma, a
classificação do imóvel dentro de uma destas categorias, definiria o tipo de intervenção e
incentivos a preservação que lhe iriam ocorrer.
No entanto, em âmbito federal, somente em 2012, o processo de tombamento do CHB foi
instruído pelo IPHAN, que criou uma nova poligonal de proteção e entorno para área, que passou
a incluir os bairros da Campina e Cidade Velha, contando agora com mais três mil edificações
entre imóveis públicos e privados, porém uma normativa específica para a atuação nesta área
ainda está em construção. Vale ressaltar, que essa preocupação com a preservação e ambiência
do centro histórico da cidade, por parte do órgão federal, ocorreu após quase duas décadas
depois do seu tombamento pelo município. No entanto, devido as restrições impostas para se
manter a salvaguarda e ambiência da área, como a proibição da verticalização, acarretou no
desinteresse de empreendimentos imobiliários e ainda o esvaziamento ou degradação de
algumas áreas do CHB.
No entanto, ao mesmo tempo em que a incorporação da preservação do entorno deveria garantir
a ambiência desses edifícios, em muitos casos, a exemplo de algumas situações observadas
principalmente no Centro Histórico de Belém, onde estão localizados alguns dos primeiros
tombamentos pelo IPHAN, isso não foi suficiente para conter as transformações em algumas
áreas. Apesar do avanço nas discussões envolvendo a temática preservacionista, seja devido a
aspectos de cunho econômico ou político, questões externas muitas vezes acabam por interferir
na preservação e na forma de lidar com o patrimônio cultural.
Partindo do princípio de que apenas por meio do uso constante, e da adaptação a funções
adequadas, esses edifícios históricos podem manter-se íntegros e preservados, faz-se
necessário avaliar constantemente as intervenções realizadas sobre esse patrimônio. Assim,
torna-se imprescindível, implementar estudos que visem identificar o rebatimento das discussões
teóricas acerca da preservação, na prática das intervenções realizadas sobre esse patrimônio, a
fim de identificar o que se entende por patrimônio e o que se quer preservar para as futuras
gerações. (TRAJETÓRIA DO PATRIMONIO EM BELÉM)
O que leva a seguinte proposição de que, por estar o espaço sendo utilizado constantemente
pelo homem em sociedade ao logo do processo, este modificando a estrutura social ao longo do
tempo, o que exige alterações nas formas/objetos pela mutação do processo, das funções ações
do mesmo condizentes com a organização da estrutura social em vários momentos, as
formas/objetos com determinada carga de memória social, por serem não somente o lócus da
realização da sociedade e sim tornam-se parte da mesma, dando vida aos objetos, e mesmo
depois de abandonado estes não podem negar a existência de um passado social, desse modo
pode-se propor que estas formas/objetos, em conjunto podem oferecer, sob análise profunda,
uma possibilidade de realização de um encontro do passado com o presente. Conduzindo a
grande parte da sociedade ao encontro com que deveria a muito ser encarado como parte de
sua memória, e História, e o é de fato, constituindo assim o que se afirma ser os Espaços da
Memória, aqui proposto.
O esvaziamento por parte de algumas atividades, e mesmo a deterioração de determinadas
formas espaciais, refletem espacialmente uma dada caracterização dos centros urbanos, em
especial aqueles que se convencionou chamar de centros históricos. Mais que espaços vazios,
entretanto, tratam-se de novos usos, novas funções e novos territórios que passam a ser
demarcados, em grande parte, por relações cotidianas nem sempre consideradas esteticamente
e funcionalmente desejáveis, seja por parte de determinados agentes produtores do espaço
urbano, seja por parte de um imaginário coletivo, que tende a ganhar força quando se pensa a
cidade como espaço estratégico de investimentos e de atrativos turísticos.
Além disso, o bairro, como parte do Centro Histórico de Belém, está contemplado pelo Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas, criado em 2009 e também sob
gestão do MinC. Esse programa visa ações mais amplas de melhorias na qualidade das
estruturas e dos serviços urbanos, nas cidades que apresentam aspectos importantes para a
história e para a cultura do Brasil, de acordo com definições dessas instituições. Vale ressaltar
que essas políticas, bem como os agentes da iniciativa privada relacionado a elas, veem o
turismo como uma atividade que possibilita ganhos econômicos com a preservação e
conservação desses bens patrimoniais. Portanto, o patrimônio cultural urbano não é algo dado a
priori, constituído por elementos culturais dados no espaço, mas sim uma decisão coletiva sobre
o que preservar na memória coletiva e o que afastar dessas lembranças, que fatos históricos e
que elementos da cultura valorizar, e quais desses serão considerados menores ou irrelevantes
em relação à cidade.
O IPHAN elucida o que são as áreas do entorno e indica algumas prerrogativas para as
intervenções: É a área de projeção localizada na vizinhança dos imóveis tombados que é
delimitada com objetivo de preservar a sua ambiência e impedir que novos elementos obstruam
ou reduzam sua visibilidade. Compete ao órgão que efetuou o tombamento estabelecer os limites
e as diretrizes para as intervenções nas áreas de entorno de bens tombados. (Disponível em
<http://portal.iphan.gov.br> Acesso em 11 de julho de 2014)
O órgão regulador do Estado do Pará – IPHAN - orienta como o interessado deve proceder para
realizar serviços de construção, reforma, restauração em bens da área do entorno ou tombados
individualmente, devendo o proponente apresentar os seguintes encaminhamentos: [...] 4-
Autorização para reforma simplificada: obras de conservação e/ou manutenção ou serviços
simples, tais como, substituição de cor da fachada, construção ou reforma do passeio, etc. [...]
6- Autorização para obras de restauração: exigível para bens tombados individualmente ou que
contenham características que impliquem em um grau de complexidade de intervenção que
estabeleça a necessidade de conhecimento especializado. [...] d) proposta de intervenção:
memorial descritivo, planta da situação, implantação, plantas de todos os pavimentos, cortes
longitudinal e transversal, indicando materiais existentes e a serem substituídos/instalados,
partes a demolir, a restaurar e a executar.(Disponível em <hhttp://portal.iphan.gov.br/ > Acesso
em 11 de julho de 2014. 18:38, grifo nosso) (UM ESTILO OU ESTADO KITSCH?)
Os resultados apontam para a necessidade de uma política de ordenação do espaço através da
legislação urbanística, legislação de Patrimônio Histórico e de incentivos ao setor habitacional.
Neste sentido, a utilização de estratégias de articulação com os poderes públicos, otimizando
recursos para uma produção habitacional poderia trazer o uso residencial para a área,
juntamente com a segurança que os moradores tanto almejam, principalmente no bairro da
Campina, onde o uso comercial e de serviço é predominante. (SILVA, 2003, p. 10).
(PERCORRENDO A HISTÓRIA DA ARQUITETURA DE BELÉM)
Apesar de essa ação ser Restritas pelo Código de Posturas do Município e pela Lei 8.106/2001,
que estabelece normas para a publicidade de rua na capital, as interferências irregulares em
fachadas de imóveis privados no bairro do Comércio jamais foram fiscalizadas pelo poder
público. A democratização dos espaços públicos de lazer bem como a gestão participativa, na
tomada de decisões pode contribuir para a modificação deste quadro, fazendo com que a
população se sinta coresponsável pela Manutenção dos espaços. Na verdade, o discurso de
inclusão social ainda não se consolidou no campo das políticas públicas, apesar dos ensaios
bem sucedidos de algumas prefeituras de esquerda no Brasil. (GESTÃO DOS ESPAÇOS
PÚBLICOS DE LAZER, TURISMO E PAISAGEM URBANA)
Entre os 2.096 imóveis localizados no bairro da Campina (BELÉM, 2000), esta pesquisa
identificou 154 imóveis com degradação arquitetônica de acordo com a classificação discutida
acima. O Quadro 1 detalha a quantidade dos 154 imóveis com degradação arquitetôni¬ca e sua
representatividade, em termos percentuais, no universo do bairro. O Quadro 2 apresenta, entre
os 154 imóveis com degradação arquitetônica, aqueles que estão com uso e sem uso, bem
como, aqueles ocupados como es¬tacionamento para veículos. Segundo o IPHAN (2017), 1.404
imóveis (67% do total) são conside¬rados em bom estado de conservação, 257 imóveis (12,3%)
como precário, 35 imóveis (17%) em arruinamento e apenas um imóvel em ruína. Já em re¬lação
ao uso do solo, estão distribuídos, conforme Belém (2000), 658 lotes (31,4 %) de uso comercial,
214 lotes (10,2 %) de uso de serviço, 251 lotes (12 %) de uso misto, 849 lotes (40,5%) de uso
re-sidencial e 124 (5,92 %) de outros usos, tais como, institucionais, religiosos, em construção,
etc. Os usos de solo mais encontrados nas edificações com degradação arquitetôni¬ca são: (i)
de estacionamento para veícu¬los e (ii) depósito para equipamentos e mercadoria de ambulantes
(Quadro 3), ressaltando que catorze estacionamen¬tos para veículos também combinam o uso
com depósito para atender aos ambulantes.

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