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XIX ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRARIA, São Paulo, 2009, pp. 1-19.

A ATUALIDADE DO MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO PARA A


COMPREENSÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO 1

THE PRESENT OF THE DIALECTIC-HISTORICAL MATERIALISM FOR THE


UNDERSTANDING OF THE GEOGRAPHICAL SPACE

Márcio Marinho Martins2

Resumo: A pretensão deste artigo é a de contestar o pensamento hegemônico da


“pós-modernidade”, partindo do pressuposto marxista de que o método dialético é
pensamento e realidade ao mesmo tempo, sendo a realidade contraditória, viva e
móvel. Para os pós-modernos, o que há na contemporaneidade é uma crise das
ciências, que acompanha a crise da “modernidade”. Recorrem constantemente à crise
da “modernidade” fazendo analogia a uma suposta crise do marxismo. Esta suposta
crise das ciências, de paradigmas e da própria razão é defendida por Kurz, Giddens e
outros autores que propagandeiam uma ruptura que não houve. Uma análise mais
aprofundada põe por terra essas argumentações e abrem caminho para uma reflexão
sobre a atualidade do método dialético para repensar os rumos da teoria da geografia.
Palavras-Chave: Marxismo – Pós-Modernidade – Luta de Classes

Abstract: The claim of this article is it of questioning the thought hegemonic of the
"powders-modernity", when there proceeds from the assumption Marxist of whom the
dialectic method is a thought and reality at the same time, being the contradictory, lively
and movable reality. For the modern-powders, which exists in the
contemporaneousness is a crisis of the sciences, which accompanies the crisis of the
"modernity". They resort constantly to the crisis of the "modernity" doing analogy to a
supposed crisis of the Marxism. This supposed crisis of the sciences, of paradigms and
of the reason itself is defended by Kurz, Giddens and other authors than
propagandeiam a break that did not exist. A more deepened analysis puts on the
ground these argumentations and they open way for a reflection on the present of the
dialectic method in order that her rethink the courses of the theory of the geography.
Keywords: Marxism - Post-Modernity - Class struggle

1 Artigo apresentado no XIX Encontro Nacional de Geografia Agrária.


2 Graduado em História e Mestrando em Geografia – Universidade Federal de Rondônia. Correio eletrônico:
mmmartins_ro@hotmail.com.
2 XIX ENGA, São Paulo, 2009 MARTINS, M. M.

Introdução

Nos cursos de graduação e pós-graduação em geografia há um intenso e


caloroso debate acerca de qual caminho metológico e teórico seguir na produção de
conhecimento na área. Neste debate, destacam-se as “receitas” dos teóricos que se
intitulam pós-modernos. Esta nova corrente teórica combate, sobretudo, o marxismo
acusando-o de ciência “ultrapassada”, que não consegue mais dar respostas ao
cotidiano da sociedade “pós-moderna”.
Um dos elementos centrais da obra teórica de Marx foi o método dialético, que é
“manifestamente o método científico exato. O concreto é concreto porque é síntese de
muitas determinações, isto é, unidade do diverso” (MARX, 1985, p.14). Por meio do
materialismo histórico-dialético é possível compreender a subjetividade como reflexo
da realidade objetiva, diferente do que os pós-modernistas (neo-hegelianos ou
neoliberais) tanto propagam na academia.
Na frenética repetição de discursos “pós-modernos” tenta-se refutar a luta de
classe e toda perspectiva de superação da sociedade capitalista. Como afirma Oliveira:
“preferem garantir seu status na Universidade e na sociedade do que contribuir para a
construção de outra mais superior” (OLIVEIRA, 1996, p. 68). Os pós-modernos refutam
o materialismo histórico-dialético por que não têm prática social. Concordamos com
Marx e Engels que “é na práxis que o homem precisa provar a verdade, isto é, a
realidade e a força, a terrenalidade do seu pensamento. A discussão sobre a realidade
ou a irrealidade do pensamento - isolado da práxis - é puramente escolástica” (MARX &
ENGELS, 1989, p. 94), daí a crítica a toda e qualquer fraseologia que esteja
desvinculada da prática.

De fato, a pretensão deste artigo é a de contrapor o pensamento hegemônico


constituído nos debates dos cursos de pós-graduação. Partiremos do pressuposto
marxista de que o método dialético é pensamento e realidade ao mesmo tempo, sendo
a realidade contraditória, viva e móvel. Esta dinâmica é fruto das idéias e forças em
oposição, os antagonismos. O estudo destes elementos contraditórios são o que Marx
vai chamar de motor da história, responsáveis pelas transformações que dão
continuidade ao processo histórico. Parafraseando Marx, que esta pequena
contribuição sirva de combustível a este motor que discute os rumos da geografia em
nosso espaço acadêmico.
A atualidade do materialismo histórico-dialético para a compreensão do espaço geográfico, 3
pp. 1-19.

A ilusão da pós-modernidade: antecedentes e atualidades

O desenvolvimento das relações capitalistas e as novas formas de exploração


da classe trabalhadora, associadas ao desenvolvimento tecnológico e aos processos
de restauração do capitalismo nos Estados socialistas tornaram o solo fértil para
inúmeras “teorias” de análises científicas, sociológicas, históricas e, por que não dizer,
geográficas. A atividade intelectual viveu uma reviravolta, onde as abordagens fazem
referências aos tempos atuais como um novo tempo, uma nova era, ao ponto de
alguns afirmarem que não há mais história, outros decretam o fim da geografia e, há os
que batizam os novos tempos como o tempo da pós-modernidade.
O fenômeno chamado globalização e o conjunto das mudanças no seio da
indústria levam o mundo à convivência com um “progresso” tão contínuo favorecendo
uma mudança ideológica no perfil intelectual, por meio de uma “revisão” de posturas
teóricas e supostas novas teorias que se propõem a desautorizar, sobretudo aquele
pensamento que chamamos de Marxismo. A proposição de “intelectual orgânico” dá
lugar para as análises fragmentadas, de decretação de fins cuja cura era, ao mesmo
tempo, receitada mediante argumentos em defesa do novo revestido com os prefixos
neos e pós. Mas, onde surge tudo isso?
Foi em 1980 que André Gorz publicou um livro intitulado Adeus ao Proletariado.
Sua principal tese é a de que o desenvolvimento tecnológico reduzia o proletariado nas
indústrias, razão pela qual esta classe revolucionária não tinha mais forças para uma
transformação estrutural. Esta argumentação, associada aos processos de restauração
capitalista, sobretudo, nos gigantes Estados socialistas (URSS e China) cumpriu o
papel de motivar outros textos posteriores, distintos e heterogêneos, como os de Claus
Offe, Benjamin Coriat, Adam Schaff, Robert Kurz, David Harvey e Anthony Giddens.
Este “repensar” das Ciências Sociais e Humanas vai influenciar alguns
geógrafos já citados acima, mas também outros autores como Edward Soja (1993).
Para Soja a reafirmação do espaço na teoria social crítica indica que o aparecimento
das primeiras vozes da Geografia Pós-Moderna ocorreu no final da década de
sessenta, porém “mal se fizeram ouvir no alarido temporal vigente”. (SOJA, 1993, p.
20). Segundo este autor, a reafirmação da primazia da História sobre a Geografia
destacava uma característica historicista no interior do pensamento social crítico, e
veio obscurecer e periferizar “a imaginação geográfica ou espacial”. (SOJA, 1993, p.
23).
4 XIX ENGA, São Paulo, 2009 MARTINS, M. M.

Já Harvey, identifica que, a partir da década de setenta, acentuou-se a


compreensão do tempo-espaço tendo em vista a transição do fordismo em favor de
uma acumulação flexível (HARVEY, 1993, p. 257), onde a competitividade entre os
agentes econômicos vem imprimindo em suas iniciativas um forte apelo às
particularidades espaciais, pois a diminuição das barreiras espaciais possibilitou um
poder de exploração muito mais acentuado de modo que a maximização das
vantagens proporcionadas por este poder pode propiciar a vitória em determinadas
concorrências comerciais, e este poder torna-se imperativo na luta de classes. Outro
aspecto identificado por Harvey é a capacidade de desmobilização de investimentos e
re-investimentos em outras áreas implica numa mudança da área de luta que não mais
ocorre nas fábricas de produção em massa (HARVEY, 1993, p. 265).
Para Giddens esses elementos representariam “os contornos de uma ordem
pós-moderna” que sendo institucionalmente complexos constata que se trata de um
“movimento para 'além' da modernidade”, onde o que está adiante do capitalismo não
será o socialismo, já que este “está desaparecendo gradualmente” (GIDDENS, 1991,
p. 162 e 163). O alemão Robert Kurz corrobora com essa tese. Sintetizando seu livro
último combates, uma coletânea de artigos que seguem a mesma lógica e estilo de
trabalhos anteriores, a apresentação3 dessa obra inicia com a seguinte frase fatídica e
repleta de determinismo: “O capitalismo está chegando ao fim. A prova: a queda da
União Soviética. A base desta análise: a 'obscura' crítica do 'valor' de um tal de Karl
Marx” (KURZ, 1997, p. 7). Mais adiante, no primeiro artigo, Kurz conclui que o
marxismo não passou de “marxismo da modernização, eminentemente burguês, parte,
ele mesmo, da história de implementação do capital” (KURZ, 1997, p. 23).
O conjunto das afirmações citadas anteriormente nos dá a dimensão do que
propõe o discurso da pós-modernidade. Não trataremos aqui de citar outros autores
que fazem “coro” com esse discurso por compreendermos que a lógica dessa
construção está em negar a contribuição do marxismo, enquanto produção científica,
mesmo que em dado momento esses autores busquem uma “revisão” do que o
materialismo histórico dialético produziu ou corram pela tangente a ponto de afirmar
que “em parte o marxismo ainda se sustenta” (KURZ, 1997, p. 21).
Sob o discurso de que “o moderno ficou fora de moda”, como já escreveu
Adorno a mais de quarenta anos ou sob a “metralhadora giratória” do taxista 4 Kurz,
3 A apresentação é de Anselm Jappe, parceiro de Kurz em outras publicações.

4 Segundo Gianotti, o alemão Robert Kurz é “menos conhecido no Brasil e mesmo nos meios acadêmicos de seu
país, Alemanha, um autodidata, motorista de táxi e membro de um pequeno grupo (alternativo)”. (Gianotti, 1993,
p. 48)
A atualidade do materialismo histórico-dialético para a compreensão do espaço geográfico, 5
pp. 1-19.

chegamos à pós-modernidade. Na arquitetura, literatura, na esfera cultural, na ciência,


filosofia, economia, geopolítica, história... chegamos à “Era pós-moderna”, mesmo com
certa estranheza o fato de termos que acreditar que deixarmos de ser contemporâneos
de nós mesmos.

O discurso pós-moderno: caminho que não leva a lugar nenhum

A pós-modernidade superou a modernidade. A feia e suja fábrica, antigo templo


moderno dá lugar ao shopping, altar da pós-modernidade. A apologia às máquinas, à
“sociedade do conhecimento”, carrega consigo um viés niilista, onde o homem pós-
moderno já não vê sentido para a história. Agora, o que predomina é o nada, o vazio e
a total entrega ao consumo e ao individualismo. Mas afinal, em que momento a pós-
modernidade rompe com a modernidade?
O principal argumento de uma suposta ruptura para esta nova “Era” na análise
geográfica se dá pelas mudanças econômicas do capitalismo. A formulação que é base
teórica para as demais análises tem origem em Daniel Bell em sua distinção entre
sociedades industriais e pós-industriais, onde, segundo este teórico, o que se torna
central é a produção de serviços, superando, então, a produção de bens físicos.
Outra argumentação pós-moderna é a de que com este processo de automação
gera a flexibilização do trabalho, que por fim, trás como conseqüência a substituição do
trabalho vivo pelo trabalho morto: o toyotismo5 como superação do modelo fordista de
produção. Esta última argumentação cai por terra, após uma análise mais minuciosa,
como a de Antunes:

A “substituição” do fordismo pelo toyotismo não deve ser entendida, o


que nos parece óbvio, como um novo modo de organização societária,
livre das mazelas do sistema produtor de mercadoria e, o que é menos
evidente e mais polêmico, mas também nos parece claro, não deve nem
mesmo ser concebido como um avanço em relação ao capitalismo da
era fordista e taylorista. (...) Queremos aqui tão-somente enfatizar que a
referida diminuição entre elaboração e execução, entre concepção e
produção, que constantemente se atribui ao toyotismo, só é possível
porque se realiza no universo estrito e rigorosamente concebido do
sistema produtor de mercadorias do processo de criação e valorização
do capital. (ANTUNES, 1995, p. 33).

A pós-modernidade seria, então, uma “ruptura” com toda ordem moderna


existente. Ao incluir as “sociedades capitalistas” como um “subtipo específico das

5 Quem melhor defende o toyotismo enquanto nova forma de organização do trabalho é Benjamin Coriat.
6 XIX ENGA, São Paulo, 2009 MARTINS, M. M.

sociedades modernas em geral” (GIDDENS, 1991, p. 62), Giddens desconsidera a


caracterização de modo de produção, considerando-a como desnecessária, já que não
analisa o processo histórico por este referencial. Mas é obrigado a recorrer a Marx,
logo em seguida ao identificar que “A emergência do capitalismo, como diz Marx,
procedeu o desenvolvimento do industrialismo e na verdade forneceu muito do ímpeto
para a sua emergência” e onde “as relações de classe tornaram-se assim diretamente
incorporadas no interior da estrutura de produção capitalista” (GIDDENS, 1991, p. 67).
Esta tese de ruptura também é refutada por Rouanet. Para ele é uma falácia
banal afirmar que o desenvolvimento tecnológico vai superar as contradições do
sistema, gerando uma ruptura. Vejamos:

A tese de ruptura é de uma banalidade desoladora. Ela ignora o fato de


que não há nenhuma ruptura no modo de produção. Ontem, como hoje,
continuamos vivendo numa economia capitalista, baseada na
apropriação privada do excedente. Além disso, ela confunde o declínio
do setor industrial com o declínio do sistema industrial. A racionalização
crescente da produção industrial pela aplicação da tecnologia de ponta,
inclusive da informática, tem como efeito evidente reduzir o número de
trabalhadores empregados no setor secundário, mas não o de debilitar
o sistema industrial, pois pertence à lógica desse sistema o contínuo
aumento de produtividade, pela constante redução de mão-de-obra
assalariada. A informatização da sociedade torna mais eficiente o
sistema industrial, em vez de aboli-lo. (ROUANET, 1998, p. 259)

Outra falácia pós-moderna é a de que a redução do número de trabalhadores na


indústria, pelo processo de desenvolvimento tecnológico é a principal característica de
que não há perspectiva de mudança para uma sociedade sem classes, como apontava
Marx, já que a sua classe revolucionária estaria em vias de desaparecer. Ora, o próprio
Marx já apontava para esse processo de desenvolvimento do capitalismo, através da
redução da dimensão variável do capital em decorrência de sua dimensão constante,
onde o trabalhador poderia passar a supervisor e regulador do processo de produção
enquanto etapa de intelectualização do trabalho social.

Com o desenvolvimento da subsunção real do trabalho ao capital ou do


modo de produção especificamente capitalista, não é o operário
industrial, mas uma crescente capacidade de trabalho socialmente
combinada que se converte no agente real do processo de trabalho
total, e como as diversas capacidades de trabalho se cooperam e forma
a máquina produtiva total participam de maneira muito diferente no
processo imediato de formação de mercadorias, ou melhor, dos
produtos – este trabalha mais com as mãos, aquele trabalha mais com
a cabeça, um como diretor (manager), engenheiro (enginner), técnico
etc., outro como capataz (overloocker), um outro como operário manual
direto, ou inclusive como simples ajudante –, temos que mais e mais
funções da capacidade do trabalho se incluem no conceito de
A atualidade do materialismo histórico-dialético para a compreensão do espaço geográfico, 7
pp. 1-19.

trabalhadores produtivos, diretamente explorados pelo capital e


subordinados em geral a seu processo de valorização e produção.
(MARX, 1978, p. 71-72)

O crescimento do capital constante em relação ao capital variável reduz


relativamente o trabalho coletivo, mas não o elimina. Consideramos necessários, neste
trabalho, reforçar estes argumentos para que possamos avançar ao que nos
propomos. Vejamos o que Antunes nos fala sobre uma possível perda da centralidade
do trabalho:

Ao contrário daqueles autores que defendem a perda da centralidade da


categoria trabalho na sociedade contemporânea, as tendências em
curso, quer em direção a uma maior intelectualização do trabalho fabril
ou ao incremento do trabalho qualificado, quer em direção à
desqualificação ou à sua sub-proletarização, não permitem concluir pela
perda desta centralidade no universo de uma sociedade produtora de
mercadorias. Ainda que presenciando uma redução quantitativa (com
repercussões qualitativas) no mundo produtivo, o trabalho abstrato
cumpre papel decisivo na criação e valor de troca. As mercadorias
geradas no mundo do capital resultam da atividade (manual e/ou
intelectual) que decorre do trabalho humano em interação com os meios
de produção. (ANTUNES, 1995, p. 75)

Para os pós-modernos, o que há na contemporaneidade é uma crise das


ciências, que acompanha a crise da “modernidade”. Recorrem constantemente à crise
da “modernidade” fazendo analogia a uma suposta crise do marxismo, por considerar
este determinante para a formulação teórica do século XX, onde ambos deixam de
existir na pós-modernidade (KURZ, 1997, p. 20). Esta suposta crise das ciências, de
paradigmas e da própria razão, defendida pela pós-modernidade é melhor sintetizado
por Chauí:

Categorias gerais como universalidade, necessidade, objetividade,


finalidade, contradição, ideologia, verdade são consideradas mitos de
uma razão etnocêntrica, repressiva e totalitária. Em seu lugar, colocam-
se o espaço-tempo fragmentados, reunificados tecnicamente pelas
telecomunicações e informações; a diferença, a alteridade; os
micropoderes disciplinadores, a subjetividade narcísica, a contingência,
o acaso, a descontinuidade e o privilégio do universo privado e íntimo
sobre o universo público. O mercado da moda, do efêmero e do
descartável. Não por acaso, na cultura, o romance é substituído pelo
conto, o livro pelo paper, e o filme pelo video-clip. O espaço é a
sucessão de imagens fragmentadas; o tempo, pura velocidade dispersa.
(CHAUÍ, 1993, p. 22-23)

Todo o conjunto de pensadores pós-modernos – mesmo de forma heterogênea,


nas diversas áreas do conhecimento – pertence ao “mesmo universo ideológico que
caracterizamos, de forma ampla, como pensamento pós moderno” (DUARTE, 2006, p.
8 XIX ENGA, São Paulo, 2009 MARTINS, M. M.

77) 6. Mesmo com essa variedade heterogênea, a pós-modernidade de uma forma


geral, procura “fugir à necessidade de posicionamento perante a questão da
necessidade de uma ruptura radical com o capitalismo”. Com um “cinismo imobilizante”
quer criticar a todos ou pretendem superar seu imobilismo em busca de “resultados
práticos para problemas localizados, numa fuga à análise teoricamente fundamentada
e politicamente consistente dos princípios presentes em suas ações” (DUARTE, 2006,
p. 80).

Em outras palavras, trata-se de abandonar qualquer perspectiva de


totalidade e de um projeto social e político que aponte para a superação
da sociedade capitalista. Nesta perspectiva, todos estamos imersos na
mesma realidade e dela não podemos nos distanciar para fazer uma
crítica verdadeiramente radical à sociedade contemporânea. (DUARTE,
2006, p. 83)

Os pós-modernos analisam as transformações existentes nos processos de


produção, não como intensificação das contradições sociais. Os pós-modernos, por
serem céticos, não conseguem “apreender também as particularidades e
singularidades presentes nos confrontos entre as classes sociais, tanto nos países
avançados quanto naqueles que não estão diretamente no centro do sistema” como é
o caso do Brasil (ANTUNES, 1995, p. 93). Já Ianni nos dá uma visão ampla do
processo que estamos vivendo e que os pós-modernos não conseguem analisar:

... sob o capitalismo global as contradições sociais globalizam-se, isto é,


generalizam-se mais do que nunca. Desdobram-se seus componentes
sociais, econômicos, políticos e culturais pelos quatro cantos do
mundo... As desigualdades, tensões, e contradições generalizam-se em
âmbito regional, nacional, continental e mundial, compreendendo
classes sociais, grupos étnicos, minorias, culturas, religiões e outras
expressões do caleidoscópio global. As mais diferentes manifestações
de diversidade são transformadas em desigualdades, marcas, estigmas,
formas de alienação, condições de protesto, base das lutas pela
emancipação... Assim, a questão social, que alguns setores de países
dominantes imaginavam superada, ressurge com outros dados, outras
cores, novos significados. (IANNI, 1992, p. 143-144)

Esta consciência de uma ruptura que não houve, de certa forma até fictícia, mas
que em muito se parece com um prolongamento da tão criticada “modernidade”, nada
mais é do que ilusão, do que uma “fuga para frente, renunciando a confrontar-se
concretamente com os problemas da modernidade”. Daí, que os intelectuais dessa
corrente tão confusa preferem “refugiar-se num pós-moderno contracultural, verde e
com crescimento zero, ou num pós-moderno anárquico, pluralista, em processo de

6 Conforme Duarte, estes pensadores apresentam-se, inclusive, como “defensores de teorias críticas, neomarxistas
etc.” (idem)
A atualidade do materialismo histórico-dialético para a compreensão do espaço geográfico, 9
pp. 1-19.

desconstrução permanente, ou num pós-moderno eletrônico, povoado por lasers,


vídeos e conjuntos de rock” (ROUANET, 1998, p. 269).
Não é objetivo deste trabalho enumerar todos os equívocos dos pós-modernos
que criticam o materialismo histórico-dialético, até porque compreendemos que estes,
mesmos com inúmeras críticas; vão “beber na fonte” de Marx ou limitam-se a criticar a
centralidade do trabalho, a luta de classes e a impossibilidade de ruptura com o
sistema produtor de mercadorias, questões que consideramos já respondidas.
Acreditamos que a argumentação já pautada anteriormente contribua para uma
reflexão inicial aos equivocados que defendem esse “novo” caminho que não leva a
lugar algum.

A espacialidade em Marx e sua contribuição para o estudo geográfico

Inúmeros discursos tentam combater a atualidade do materialismo histórico-


dialético. Na geografia a principal argumentação é a de que “Marx negligenciou o
espaço” ou “não ter Marx sequer tratado do espaço”. Citando Marx, Ariovaldo Umbelino
de Oliveira condena os “críticos” que, segundo ele, “não leram sequer parte da obra de
Marx” (OLIVEIRA, 1996, p. 67).

Uma via férrea, por exemplo, que liga o local de produção com um
empório no interior, pode aumentar absoluta ou relativamente, a
distância de uma localidade geograficamente mais próxima mas que
não dispõe de estradas de ferro, tornando-se por comparação esse
empório mais afastado; do mesmo modo, em virtude das mesmas
circunstâncias pode modificar-se a distância relativa dos locais de
produção aos grandes mercados de consumo, o que explica a
decadência dos velhos centros de produção e o aparecimento de novos
ao mudarem os meios de transportes e comunicação (...) Ao
desenvolverem-se os meios de transportes, aumenta a velocidade do
movimento no espaço e assim reduz-se no tempo a distância
geográfica. (MARX apud OLIVEIRA, 1996, p. 67-68)

Em Oliveira, a teoria do espaço e do tempo desenvolveu-se “no contexto da luta


entre o materialismo e o idealismo”, onde ao superar o idealismo, o materialismo
histórico-dialético contribuiu para “a concepção filosófica e científica do problema da
natureza do espaço e do tempo” (OLIVEIRA, 1996, p. 72). O movimento é uma das
formas de existência da matéria. Para Engels “o movimento é a forma de ser da
matéria. Nunca, em nenhuma parte, existiu nem pode existir matéria sem movimento”
(ENGELS, 1976, p. 41). Aprofundando o marco teórico de Marx e Engels, Lênin conclui
que “a matéria em movimento não pode mover-se de outro modo a não ser no espaço
10 XIX ENGA, São Paulo, 2009 MARTINS, M. M.

e no tempo” onde “o espaço e o tempo não são formas simples dos fenômenos, são
isto sim, as formas reais, objetivas do ser”. (LÊNIN, 1971, p. 165). Com estas
contribuições, podemos compreender que:

Tempo e espaço se acham pois, indissoluvelmente unidos ao


movimento da matéria, ao movimento, concebido no sentido materialista
dialético, não como estados particulares de coisas ou fenômenos
particulares, mas como forma universal de ser da matéria; acha-se
igualmente unido ao movimento concebido como transformação, como
desenvolvimento que inclui o nascimento do novo. (OLIVEIRA, 1996, p.
109).

A categoria central da análise geográfica de Marx seria o território, sendo este


agregado à forma como é utilizado através da ocupação humana, enquanto processo
histórico e social. Cada sociedade vê no território um valor, enquanto potencialidade de
riqueza natural.

O que faz com que uma região da terra seja um território de caça é o
fato de as tribos caçarem nela; o que transforma o solo num
prolongamento do corpo do indivíduo é a agricultura. Tendo sido
construída a cidade de Roma, e suas terras circunvizinhas cultivadas
por seus cidadãos as condições da comunidade diferiram das que
haviam vigorado anteriormente. (MARX, 1975, p. 87)

Sem esta definição de território, enquanto utilização espacial seria impossível


examinar os processos de concentração territorial dentro da lógica de produção
capitalista. Sem associar a valorização do espaço com o modo de produção capitalista,
podemos cair na “diluição do objeto (liquidacionismo da geografia)” ou na
“autonomização” e “positivização do objeto (geografismo)” (MORAES & COSTA, 1996,
p. 129).
Para Santos não há como discutir uma teoria da espacialidade sem identificar
analisar as formações sociais, sendo necessário o estudo da formação do espaço,
sobretudo após a “chegada do modo de produção capitalista”. É necessário, então,
interpretar os aspectos concretos do modo de produção que compõe uma formação
social, sua evolução, as “condições tecnológicas, de capital e de trabalho”. E o estudo
dessa formação social não pode desconsiderar dois conjuntos de relações, definidos
por Lênin: as relações horizontais e as relações verticais, para que possamos conhecer
“a estrutura interna da sociedade” e as “relações de uma sociedade com outras
sociedades”. (SANTOS, 1996, p. 200). Santos não concebe uma análise espacial, sem
levar em conta o processo histórico, uma unidade entre tempo e espaço, e a técnica
como elemento desse processo:
A atualidade do materialismo histórico-dialético para a compreensão do espaço geográfico, 11
pp. 1-19.

A técnica nos ajuda a historicizar, isto é, a considerar o espaço como


fenômeno histórico a geografizar, isto é, a produzir uma geografia como
ciência histórica. Assim pode-se também produzir uma epistemologia
geográfica de cunho historicista e genético, e não apenas historista e
analítico. Os medos de E. Soja7 (1989) são assim espantados.
(SANTOS, 1996b, p. 40)

O desenvolvimento técnico e o aproveitamento espacial no modo de produção


capitalista vão fazer do tempo algo mais dinâmico. Esse processo é caracterizado
como uma restrição ao espaço direto de produção, enquanto há uma ampliação dos
outros espaços da cadeia produtiva (circulação, distribuição e consumo), já prevista por
Marx, que chamou este fenômeno de “redução de Arena”, podendo, com os “avanços
da biotecnologia, da química, da organização” ser possível “produzir muito mais por
unidade de tempo e de superfície” (SANTOS, 1996b, p. 192).
Os pós-modernos consideram que o desenvolvimento tecnológico, sobretudo,
dos meios de comunicação nos remete apenas a uma virtualidade. Já Milton Santos
considera que além de virtuais são ao mesmo tempo reais, por considerá-las não só
técnicas, mas também sociais. Algo que segundo este mesmo autor, já era defendido
por Marx:

O alargamento dos contextos possibilitado pela eficácia das redes torna


também possível aquilo que Marx previra quanto ao uso do território: a
diminuição da arena de produção e o alargamento de sua área. Os
progressos técnicos e científicos permitem produzir muito mais
utilizando uma porção menor do espaço graças aos enormes ganhos de
produtividade. Esses mesmos progressos, que incluem as
telecomunicações, permitem um intercâmbio ainda mais eficaz sobre
áreas mais vastas. É sobre essa base que se edificam, ao mesmo
tempo, a divisão social do trabalho, que reparte, e a cooperação, que
unifica. (SANTOS, 1996b, p. 221-222).

Como se pode perceber, as categorias de análise utilizadas por Santos para


conceituar espaço, tempo e território, têm como base os estudos de Marx, caindo por
terra toda e qualquer análise “pós-moderna” que queira desqualificar o estudo do
materialismo histórico-dialético. Não se trata aqui de negar os aportes posteriores que
desenvolveram a ciência geográfica, mas de reconhecer a contribuição e atualidade do
pensamento de Karl Marx e do próprio marxismo.

7 O que Santos caracteriza como “medo” de E. Soja seria a preocupação deste em teorizar um materialismo
“geográfico”, como forma de refutar o materialismo histórico-dialético.
12 XIX ENGA, São Paulo, 2009 MARTINS, M. M.

Materialismo histórico-dialético e Geografia Agrária

O discurso sobre a suposta “falência” do materialismo histórico-dialético


enquanto análise científica tem rendido inúmeros livros, artigos e debates no espaço
acadêmico. De fato para uma teoria que propõe a superação da atual estrutura social
de exploração de uma classe sobre a outra, esta deve ser combatida por aqueles que
defendem a manutenção da sociedade como aí está.
O século XIX registrou o debate entre materialismo e idealismo, onde a
geografia, enquanto parte das ciências humanas, vai sofrer influências do positivismo e
historicismo, o que consideravelmente vai dificultar a análise do materialismo histórico-
dialético. As “leis naturais”, a “neutralidade”, vai ser a marca da ciência neste período,
impregnada de uma ideologia conservadora – antes revolucionária por combater o
absolutismo – que se coloca na defesa da ordem burguesa (OLIVEIRA, 1994, p. 26).
Não se pode discutir o espaço sem levar em conta que a configuração territorial
é o resultado da ação de um ou mais sujeitos sociais que passam a “territorializar” o
espaço. E, necessariamente, este movimento de sujeitos revela relações de poder, ou
seja, a formação do território bem como suas configurações econômicas, políticas e
sociais vão depender destas relações de classe (RAFFESTIN, 1993, p. 143).
Estas relações só podem ser identificadas à partir de uma análise profunda de
cada Modo de Produção. Sem conhecer as “engrenagens” de funcionamento da
sociedade é impossível estudar o espaço e a formação territorial. Para se chegar a
esta análise materialista, a ciência geográfica brasileira demorou décadas para superar
os interesses oficiais da lógica capitalista que, mesmo com o embate entre “geografia
tradicional” e “nova geografia”, estas mantiveram a mesma essência de concepções
positivistas e neo-positivistas, presas ao idealismo (FERNANDES, 1998, p. 94).
Ao considerarmos que a agricultura é a atividade mais antiga no
desenvolvimento da sociedade, a ciência geográfica surge em meio a uma sociedade
agrária, não qual as relações econômicas e a própria organização espacial voltava-se
para esta realidade agrícola dominante. A apropriação da terra é a apropriação de um
importante meio de produção, quer seja no modo de produção feudal, ou na agricultura
em larga escala da produção capitalista.
É a partir do materialismo histórico-dialético que a realidade agrária vai ser
analisada levando-se em conta as relações sociais, onde os processos de
transformação e desenvolvimento da agricultura não mais serão vistos somente por
meio de uma visão técnica. No caso brasileiro, os trabalhos de Orlando Valverde,
A atualidade do materialismo histórico-dialético para a compreensão do espaço geográfico, 13
pp. 1-19.

Manuel Correia de Andrade e Alberto Passos Guimarães vão contribuir para esta nova
abordagem teórica ao analisarem a essência da agricultura capitalista, que é a
produtividade para o mercado.
O desenvolvimento contraditório do capitalismo no campo brasileiro vai ser
objeto da análise da geografia agrária, sob a elaboração teórico-metodológica do
materialismo histórico-dialético. Se por um lado desenvolvem-se as técnicas de
produtividade agrícola estas estão vinculadas a um processo de territorialização do
capital, baseada no monopólio da terra. É o que Josué de Castro vai caracterizar como
“monopólio feudal e colonial da terra, o latifundismo feudo-colonial” (CASTRO, 1967, p.
118). Seguindo esta mesma lógica, Valverde (2006) considera:

Os modos de produção caracterizam, em linhas gerais, cada uma das


fases da história econômica da humanidade, tal como as eras
geológicas caracterizam as grandes fases da história da Terra. Temos,
assim, por exemplo, um modo de produção feudal, ao qual sucede o
modo de produção capitalista. Dentro de cada fase, uma vasta gama de
instituições econômicas se desdobra. No Brasil, particularmente, pode-
se observar diferentes modos de produção, em regiões geo-econômicas
contíguas. Quem conhecer perfeitamente o Brasil, poderá dizer que
entrou em contato com várias “eras econômicas”, desde o Neolítico até
os nossos dias. (VALVERDE, 2006, p. 13)

Não é objeto deste artigo discutir com profundidade as contradições existentes


no campo brasileiro. O fato é que a para compreender estas contradições se faz
necessário observar que a configuração territorial vai se dar de acordo com os
interesses do grande capital.
Na atualidade o desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro, vai se dar
sob a égide da chamada “revolução verde” e do discurso de “desenvolvimento
sustentável”. O receituário neoliberal, combinado a estratégias de propaganda, vai
deixar estarrecido até pesquisadores como Bursztyn (1995). Vejamos:

Poucas vezes na história a causa agregou tantos adeptos! O alerta


aparentemente prosaico do Relatório Meadows, apresentado ao Clube
de Roma, em 1971, foi crescendo e encontrou eco na Conferência de
Estocolmo, em 1972. Vinte anos depois, e passando por intermináveis
rodadas da Comissão Bruntland, o mundo se reuniu no Rio de Janeiro
para “salvar o planeta”.

A própria imprensa se encarregou de assinalar que jamais tantos chefes


de Estado haviam se reunido num só evento. Mas não se tratava
apenas de salamaleques oficias ou de conversa fiada de burocratas: a
sociedade também ligara suas antenas e enviara seus representantes
ao inúmero espetáculo/debates ecológicos. No cardápio: meio ambiente
e desenvolvimento, ou como inventar uma saída capaz de reverter a
14 XIX ENGA, São Paulo, 2009 MARTINS, M. M.

tremenda insensatez com que a humanidade vem gerindo seu habitat.


Uma casa com tantos adeptos, essa do meio ambiente... E, no entanto
poucas vezes um tema tão mal tratado.

Até mesmo grandes inimigos da natureza ressurgem, convencidos (ou


travestidos?) em notáveis defensores da nova e nobre causa. Um
marciano perguntaria: Afinal se todos estão tão mobilizados assim para
a defesa da natureza, então que está no ataque? (BURSZTYN, 1995, p.
98)

As transformações tecnológicas existentes apenas mudaram as feições da


estrutura concentradora, onde o latifúndio de velho tipo é substituído por um de novo
tipo (o agronegócio), que traz consigo a mesma natureza de expropriação violenta
contra os camponeses pobres. Em essência, o Estado – enquanto agente organizador
da Economia – vai legitimando as ações do capital no campo, por meio de subsídios e
legislações que visam dar condições jurídicas e políticas para que o latifúndio de novo
tipo possa se tornar difuso.
As condições jurídicas e políticas são reforçadas por um aparato ideológico de
difusão de informações sobre as benesses desta “novidade”, que reforçam as ações do
Estado enquanto lacaio do grande capital. Dentre este aparato destaca-se a produção
acadêmica, que como já citamos anteriormente vai considerar o materialismo histórico-
dialético como algo “ultrapassado”.
Os “pós-modernos” apologetas da “revolução verde”, “revolução científica”, da
“crise de paradigmas” ou mesmo do próprio conceito neoliberal de “desenvolvimento
sustentável” omitem, por exemplo, a análise geopolítica de ocupação do campo pela
produção de monocultura em grande escala, que é historicamente implementada no
Brasil. O latifúndio de novo tipo traz consigo uma outra concentração, que perpassa a
concentração territorial e tecnológica: o monopólio das sementes. Esta concentração
comprovadamente põe em risco a segurança alimentar, quando permite que grandes
corporações passem a deter “uma posição privilegiada nas relações sociais e de
poder” (PORTO GONÇALVES, 2004, p. 5).
O processo de expropriação por que passa os camponeses em regiões
estratégicas, com as do centro-sul do Brasil, cobiçadas pelo grande capital por conta
de sua localização geográfica para escoamento da monocultura, é acompanhado pelos
interesses em recursos naturais e minerais existentes na Amazônia. A estratégia de
expansão do capital deixa milhares de populações – camponeses, populações
indígenas, extrativistas, ribeirinhos – encurraladas pelo avanço do latifúndio de velho e
novo tipo.
O grande capital descobriu na ecologia um novo canteiro de negócios rentável.
A atualidade do materialismo histórico-dialético para a compreensão do espaço geográfico, 15
pp. 1-19.

Da mesma forma que o imperialismo impõe seus modelos de “neoliberalismo” e


“globalização”, o cinismo também chega ao limite quando o assunto é a temática
ambiental. Aliás, fomos a um certo tempo já informados de que "ao contrário do que os
brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós” 8.
Segundo Diegues “a recente ocupação da Amazônia deve ser vista no contexto
da acumulação de capital e da modernização, e não em termos de desenvolvimento”,
considerando que esta apropriação recursos naturais renováveis e não-renováveis,
realizadas pelo capital nacional e internacional, resultou numa destruição maciça do
patrimônio natural amazônico e na marginalização da maioria das populações locais,
visando uma rápida acumulação de capital. (DIEGUES, 1999, p. 14).
Para realizar uma análise científica dos processos de expansão da econômica
capitalista, de sua apropriação da terra e de recursos naturais, que vai interferir em um
re-ordenamento territorial, os pesquisadores da Geografia Agrária devem se apropriar
do materialismo histórico-dialético, assim como inúmeros pesquisadores desse campo
da Geografia o fizeram.

Considerações finais

Não sabemos em que medida é importante à Geografia estar aberta a esta onda
pós-moderna que está passando; mas o fato decisivo na discussão sobre o contexto
atual é de que há um novo substrato material, expresso pela transformação do modelo
fordista em favor da acumulação flexível que transforma os patamares de análise da
organização espacial até então adotados.
Mesmo que a “condição pós-moderna passe”, a questão é que o mundo entrou
num processo acelerado de transformações de forma visível e preocupante e o
materialismo histórico-dialético oferece elementos para compreender este cenário,
conforme sugere Milton Santos:

8 Al Gore, candidato a vice-presidente dos EUA, in: www.sipam.gov.br/porque, acesso em maio de 2004.
(JURUÁ, 2006).
16 XIX ENGA, São Paulo, 2009 MARTINS, M. M.

Que a dialética seja o meio de chegar à reconstrução da gênese e,


desse modo, apontar para o futuro; que seja o contexto, e não as
relações de causa e efeito, o guia na reconstituição da geração dos
fenômenos; que tempo e espaço não apareçam como categorias
isoladas, nem se separe a essência do processo, da função e da forma
(SANTOS, 1996c, p. 135).

No desenvolvimento do modo de produção capitalista a contradição principal


está entre capital e trabalho que gerou duas forças antagônicas: a burguesia e o
proletariado. As outras contradições como entre o latifúndio e o campesinato sem terra,
entre burguesia burocrática e burguesia compradora, entre imperialismo e colônias,
são todas determinadas pela contradição principal ou sob influência desta. O
desenvolvimento dos fenômenos é determinado pelas suas contradições internas, daí
porque se deve partir da particularidade da contradição para se chegar aos pólos
principais de sua luta, identificando o lugar do antagonismo e da contradição. Eis, pois
a essência da filosofia da práxis da qual a Geografia Agrária deve se debruçar.
A atualidade do materialismo histórico-dialético para a compreensão do espaço geográfico, 17
pp. 1-19.

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