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Resumo
1 Introdução
2 Desenvolvimento
2.1 Tema
2.2 Problematização
1
De acordo com Briggs e Burke (2006), o de 1450 é a data aproximada para a invenção, na Europa,
provavelmente por Johann Gutenberg de Mainz, de uma prensa gráfica que usava tipos móveis de metal.
Embora já houvesse registros anteriores impressos na Ásia, o método era diferente. Na China e no Japão
usava-se um bloco de madeira entalhada para imprimir uma única página de um texto específico.
A energia a vapor não só permitiu a evolução dos transportes como também
influenciou o desenvolvimento da imprensa. Algumas décadas antes da locomotiva de
Stephenson ter se mostrado um sucesso, no que diz respeito à comunicação, a antiga prensa
manual foi substituída pela prensa a vapor, o que aumentou a velocidade das impressões e
consequente da circulação de informações.
Em 1814, uma enorme prensa a vapor, feita de ferro e patenteada na Inglaterra por
Frederick Koenig, foi instalada por seu filho, John Walter II, na sede do The Times,
na Printing House Square: ela não somente poupava mão de obra, mas tornou
possível a produção de mil exemplares por hora. O jornal agora podia ser impresso
mais tarde e trazer notícias mais recentes. (BRIGGS E BURKE, 2006, p.115-117)
Martins e De Luca (2012), acrescentam que além de ser fator preponderante para a
elevação do número de periódicos circulantes, em decorrência da urbanização das cidades, o
incremento da malha ferroviária também mudou o panorama de leitura e apreciação dos
jornais e revistas. A própria estação ferroviária era utilizada como local de exposição e
comércio de publicações.
Barbosa (2007) elucida que o telégrafo, por sua facilidade em transmitir informações
para longas distâncias repercutiu de forma avassaladora na imprensa. Graças a instalação de
telégrafos nos principais jornais do Rio de Janeiro, foi possível transmitir fatos ocorridos há
pouco tempo na Capital do país para províncias consideradas distantes, como é o caso do
Maranhão. Além disso, o telégrafo e a evolução das máquinas de impressão, incluindo as
Linotipos e as Marinonis, viabilizaram a periodicidade diária dos jornais e a figura do
correspondente ganhou força.
Segundo Borges (1990), com a produção industrial e do capital cada vez mais
aceleradas, a disputa por novos mercados tornou-se cada vez mais acirrada entre as potências
imperialistas. Nesse sentido, a expansão das linhas férreas para colônias como o Brasil, era
bastante atrativa para as grandes potências, que puderam dessa maneira fortalecer-se
economicamente.
Ainda conforme o autor, a intenção das metrópoles não era fomentar a industrialização
nas colônias e sim aproveitar a produção e estimular a continuidade da dependência
econômica. Assim, as ferrovias brasileiras foram edificadas sob a alegação de que serviriam
ao progresso e à independência financeira do país, todavia, a dependência econômica não
cessou.
2.5 Ferrovias e industrialização no Brasil
De acordo com De Luca (2001), o cultivo do café foi responsável por promover
alterações significativas no panorama industrial brasileiro. O produto colocou o Brasil no
mapa dos maiores exportadores do planeta. Em 1830, o café ocupou o primeiro lugar na lista
de exportações brasileiras, em virtude da elevação do preço no mercado internacional.
Segundo Borges (1990), uma vez que assumiu a condição de país exportador agrícola
durante o período do segundo reinado, as fronteiras agrícolas impulsionadas pela economia
cafeeira alargaram-se no território nacional. Por terem dado suporte ao escoamento dos grãos,
as ferrovias tornaram-se indispensáveis para alavancar os índices socioeconômicos, uma vez
que as tropas de burros seriam incapazes de fazer a mesma função com a mesma velocidade e
por um valor mais baixo.
Ainda de acordo com o autor, foi a partir da lei número 641 de 26 de junho de 1852
que a construção das obras ferroviárias deslanchou. Isso se deve ao fato de que a lei não
impunha limites em relação ao capital empregado na concretização das estradas de ferro.
Ademais, a legislação dava aos investidores uma garantia de juros de 5% ao ano, feita pelo
Tesouro Nacional.
Contudo, as concessões previstas pela lei não correspondiam a todo o território. A
finalidade do novo plano ferroviário era puramente econômica, propunha a ligação da Corte,
situada no Rio de Janeiro, com as capitais das províncias de Minas Gerais e São Paulo. “As
demais concessões para outras linhas em quaisquer regiões do país, ficariam na dependência
da aprovação, por parte do poder legislativo imperial, ao qual caberia resolver sobre a
conveniência da estrada projetada e a oportunidade de sua construção” Borges (1990 p. 41)
De Luca (2001) assinala que a primeira ferrovia do café, a São Paulo Railway
Company, entrou em operação no ano de 1867 e ligava Jundiaí ao porto de Santos, passando
pela cidade de São Paulo. Depois da São Paulo Railway, outras companhias foram criadas na
mesma província, entre elas, a Paulista, a Sorocabana, a Mogiana e a Noroeste, sendo
organizadas por cafeicultores.
Borges (1990) recorda que em São Paulo, o capital nacional teve sua participação nos
empreendimentos ferroviários. Ou seja, a burguesia agrária paulista investiu pesado em
ferrovias com o objetivo de modernizar a economia cafeeira. O Estado, por sua vez, ocupava-
se de dar garantias para o capital estrangeiro e ao mesmo tempo tentava salvar as companhias
arruinadas. Quando as empresas faliam, o Estado assumia o ônus da dívida.
A política imperial de desenvolvimento ferroviário de certas regiões do país em
detrimento de outras, provocou por consequência um crescimento econômico desigual. Por
fazer parte da região cafeicultora, São Paulo experimentou um conjunto de mudanças que
levou à transformação de toda a estrutura de produção:
Nas áreas tributárias do café, novas cidades surgiram enquanto antigas vilas
conheceram crescimento sem precedentes. A chegada dos trilhos da ferrovia, que
não poucas vezes determinou o curso da urbanização, tornou-se sinônimo de
progresso. Muitos cafeicultores, que também negociavam o produto e investiam
capitais em estradas de ferro, passaram a residir nas cidades, que receberam
melhoramentos urbanos como energia elétrica, iluminação, rede de água e esgoto,
transportes, telefones e telégrafos. Ruas eram calçadas, praças ajardinadas,
monumentos erguidos, escola, teatros e jornais fundados. (DE LUCA, 2001, p.17)
Ainda segundo De Luca (2001), conforme inquérito proferido por Antônio Francisco
Bandeira Junior, em 1901, primeiro estudo detalhado sobre as indústrias de São Paulo, à
época, 145 fábricas funcionavam nesse estado, empregando um total de 11.590 operários. Já
os industriais, em sua maioria, eram também imigrantes. Porém, esses diferenciavam-se dos
pobres que trabalhavam nos cafezais, uma vez que moraram em cidades, eram de classe
média e possuíam experiência prévia nos setores de comércio e manufaturas.
Ante a necessidade de expansão do mercado interno, a solução encontrada pelas
companhias operadoras das ferrovias paulistas foi prolongar os trilhos até outros estados,
diretamente ou ligando linhas estaduais, como foi o caso da Mojiana com a estrada de ferro
Goiás. As mudanças impulsionaram a economia de mercado no interior do país e ao mesmo
tempo reforçaram relações de dependência econômica interestaduais. Em Goiás, estado que
após o declínio da atividade mineradora passou a figurar de forma periférica no quadro
econômico, se viu diante de mudanças definitivas nos contextos, social, financeiro e cultural
após a chegada dos trilhos por meio da Estrada de Ferro Goiás.
Apesar dos iniciais apelos por parte da província ao império em favor da construção da
ferrovia, os trilhos só chegaram a Goiás de fato no século XX. Para Borges (1990), isso se
explica em virtude dos interesses políticos relacionados com a construção da obra, tanto por
parte das oligarquias que governavam o estado quanto por parte de Minas Gerais, que
reivindicava o monopólio comercial principalmente na região do triângulo mineiro.
De acordo com Borges (1990), o decreto número 862 de 16 de outubro de 1880 deu à
Companhia Estrada de Ferro Alto Tocantins a permissão para construir uma estrada de ferro
entre as cidades de Catalão, no sul do estado, até Palma, na região norte. Esse mesmo decreto
também ofereceu à Companhia Estrada de Ferro Mojiana o direito de prolongar seus trilhos
de Jaraguá, aonde estavam paralisados, até Catalão.
O decreto concedeu ainda à Companhia Estrada de Ferro Oeste de Minas a
oportunidade de prolongar os trilhos de Perdões, no oeste mineiro, até Catalão. No entanto, a
Mojiana paralisou a linha na cidade de Aguarari, Minas Gerais, e ao deixar de lado os estudos
sobre a construção do trecho até Catalão, a Companhia obrigou o Estado a modificar o
traçado da estrada de ferro que chegaria a Goiás.
Durante a primeira década do século XX, o traçado da ferrovia foi modificado várias
vezes para beneficiar Minas Gerais. “Os grupos econômicos do Triângulo Mineiro, onde os
trilhos da Mojiana se encontravam paralisados, não pretendiam perder o privilégio de fazer de
Araguari um entreposto comercial de Goiás”. Borges (1990, p.60)
Diante das constantes modificações no traçado da linha, os goianos se mobilizaram e
protestaram por meio da imprensa no intuito de defender os interesses econômicos de Goiás.
Nesse sentido, destacam-se a revista Informação Goyana cuja análise de narrativas
apresentamos no próximo item.
Borges (1990) afirma que a construção do ramal ferroviário entre Araguari e Catalão,
que já estava prevista desde a publicação do decreto número 6.438 de 27 de março de 1907 e
cujo texto assegurava Goiandira como ponto de entroncamento, só foi conquistada mediante
articulações políticas e protestos por parte da imprensa goiana contra as alterações no traçado
da estrada de ferro. Todavia, a construção efetiva do ramal só começou em 1909, a partir da
edificação das obras da estação de Araguari. Três anos depois, os trilhos adentraram o
território goiano através do referido ramal.
3.1 Etapa 1
a) Identificação do Enredo
A primeira vez em que a disputa entre Goiás e Minas Gerais em relação à mudanças
no traçado do projeto da Estrada de Ferro Goiás apareceu na revista Informação Goyana foi
no dia 15 de setembro de 1917, no primeiro ano da revista, segunda edição. Portanto, a
análise será baseada no texto do artigo intitulado “Uma região desconhecida, escrito por
Victor de Carvalho Ramos. (UMA REGIÃO, 1917, p.22)
Segundo Gancho (2004), “a identificação das partes do enredo se dá de uma forma
mais rápida quando começamos pela exposição, ou início da narrativa, e pelo conflito
principal”, GANCHO (2004, p. 35). Dessa forma, temos o seguinte enredo:
Tema: Uma região desconhecida
Narrador: No caso é o jornalista que assina o texto, Victor de Carvalho Ramos. O
meio é o periódico, a Informação Goyana.
Tempo/ época: 1917
Contexto: Chegada dos trilhos à Goiás
Exposição:
“Goyaz é um dos (estados) que pode gabar-se de ter sido pouco oneroso aos cofres da
união. Alguns insignificantes benefícios que até hoje merecera do governo federal, se anulam
a vista das grandes somas que o mesmo tem despendido com os estados privilegiados” (UMA
REGIÃO, 1917, p.22)
Conflito:
“Só agora, não obstante os longos e contínuos intervalos de completa paralisação
do serviço, vai se arrastando, sertão adentro, o ramal da Estrada de Ferro Goyaz, que o ex-
presidente Affonso Penna tivera a má ideia de alterar o traçado” (UMA REGIÃO, 1917, P.22)
3.2 Etapa 2
b) Identificação do enredo
Narrador: anônimo
Tema: Estrada de Ferro Goiás
Tempo/ época: 1918
Contexto: Expansão da rede ferroviária em Goiás.
Exposição:
“Um telegrama de Belo Horizonte , que o Jornal do Commercio inseriu na sua edição de 8 do
corrente mês, informa que seguiu para formiga o engenheiro-chefe da construção da Estrada
de Ferro Goyaz, Dr. Antonio Gravatá, acompanhado de seus auxiliares” (ESTRADA, 1918,
p.96)
Conflito:
“Note o leitor que escrevemos Estrada de Ferro Goyaz e não Estrada de Ferro de Goyaz – por
isso que de Goyaz a malfadada via só tem o nome. De Minas Gerais […] que ela tem sido e
continua a ser” (ESTRADA, 1918, p. 96)
Síntese do enredo: A Estrada de Ferro Goyaz só tem Goiás no nome visto que o
prolongamento dos trilhos até o estado encontra-se paralisado em Minas Gerais, estado que
possui interesses econômicos na alteração do traçado da ferrovia.
Personagens: Antonio Gravatá e seus auxiliares; a Estrada de Ferro Goiás como sujeito;
Estratégias narrativas: O narrador faz um trocadilho com o próprio nome da ferrovia com o
objetivo de protestar contra a estagnação das ferrovias em Goiás.
Desfecho:
Convém não esquecer que o km 432 marca a estação de Monte Carmello, de onde
noticiam […] será quebrada a diretriz normal da Goyaz, que em vez de seguir o
traçado Formiga- Catalão – Goyaz – Araguaya, tomara o objetivo colimado pelos
coronéis e mais influências políticas da zona, isto é, se desviará para Araguary.
Alegam os aludidos coronéis da briosa, entre outros motivos de ordem superior a
estratégia. (ESTRADA, 1917, p. 96)
3.3 Etapa 3
c) Identificação do enredo
Conflito:
“Este odioso gesto do senhor Mello Franco resulta o afastamento da Goyaz em cerca de 300
km de sua diretriz normal, para servir uma zona diminuta do estado de Minas. Zonas esta que
vive da superprodução goiana” (BOATOS, 1919, p.123)
Estratégias narrativas: Usa palavras como “primeiros”, “únicos” e logo no primeiro parágrafo
faz um jogo de palavras com as já mencionadas e com “primitivo”. Logo no segundo
parágrafo, são feitas duras críticas ao Ministro da Viação do governo Delfim Moreira, Afrânio
de Melo Franco. Nesse sentido, expressões como “politiqueiro profissional”, “ainda por cima
é mineiro”, “malfadada linha férrea”.
Desfecho:
A irregularidade no horário dos trens já toca as raias do inqualificável, muitas vezes
por falta de combustível, outras devido à quedas de barreiras, pontilhões, dormentes
podres e afastamento de trilhos, ficando os viajantes e mais interessados, que pagam
fretes desproporcionalmente caros, sujeitos a perder a vida e tudo quanto Martha
Fion. A Mojiana percorrendo distância triplicada cobra menos fretes de São Paulo à
Araguari do que a Goyaz dessa última cidade mineira a estação de roncador.
(BOATOS, 1919, p.123)
3.4 Etapa 4
d) Identificação do enredo
Conflito:
Essa estrada deveria ligar a cidade de Formiga, no estado de Minas Gerais, à capital
do Estado de Goyaz, isto é, deveria fazer um percurso de 1.157 km, que acrescido
do ramal de Araguari, daria 1.507 km em um solo ubérrimo, semeado de povoações
florescentes, e inúmeros núcleos operosos, futuras cidades em formação. […]
Entretanto, os serviços executados sem nexo e sem ordem, paralisados a todo o
instante, sem aquiescência do governo federal, ou atacados morosamente com
reduzidas turmas de operários, deviam estar muito mais adiantados do que estão
atualmente. (A ENCAMPAÇÃO, 1920, p.69)
Desfecho: “Mas isso não implica da nossa parte discordância à deliberação do governo
declarando a caducidade do contrato da malfadada companhia construtora da importante e
futurosa via férrea, que de Goyaz só tinha o nome. Antes pelo contrário, aplaudimo-la.
A expansão ferroviária por todo o estado de Goiás foi lenta e gradual, em parte devido
às deficiências financeiras da Companhia Estrada de Ferro Goiás. O trecho ferroviário entre
Araguari, Minas e Roncador, estação localizada em Goiás, que incluía o ramal de Goiandira a
Catalão – 23 km – correspondeu à primeira etapa de implantação da ferrovia em solo goiano.
O trecho em questão foi construído em um “período relativamente curto, tendo em vista as
condições técnicas de construção da estrada na época e a topografia da região, que parecia
favorável”. Borges (1990, p. 67)
Polonial (1995) aclara que de 1914, quando da inauguração da estação de Roncador,
até 1935, quando foi instalada a ferrovia na cidade de Anápolis, então ponto final, passaram-
se mais de 20 anos. Até 1935, ano de inauguração da estação ferroviária de Anápolis, a linha
férrea havia chegado a Vianópolis, em 1924, e em 1931 a Leopoldo de Bulhões. Ou seja, mais
quatro anos foram necessários para que a ferrovia chegasse a Anápolis.
Ainda segundo Polonial (1995), antes mesmo da chegada da ferrovia, algumas
estradas de rodagem chegaram a ser construídas com o objetivo de ligar Anápolis a outras
cidades goianas. Contudo, as estradas eram ainda incipientes e foi mesmo com a chegada dos
trilhos que a cidade passou por intensas transformações, culturais, econômicas e sociais.
A criação das estradas de rodagem e a efetuação da ferrovia fizeram Anápolis
vivenciar o maior aumento populacional de sua história, entre os anos de 1910 e 1935. A
população rural cresceu 298,19% no período, enquanto que a população urbana aumentou
279% no mesmo período. A maior elevação da população rural em comparação com a
população urbana justifica-se com base na vinda de estrangeiros, principalmente italianos e
japoneses, interessados em trabalhar nas lavouras de café e arroz.
A imprensa surge em Anápolis como forma de atender às necessidades da população,
que crescia tanto na zona urbana como na zona rural. Em nossa visita ao Museu Histórico
Alderico Borges de Carvalho, em Anápolis, confirmamos o dado levantado por Lôbo (1949),
referente ao jornal Correio de Annapolis, primeiro periódico fundado no município. “A dez de
março de 1929 surgia na cidade acima o Correio de Annapolis, seu primeiro jornal, sob a
direção do Dr. Adalberto Ferreira da Silva, então intendente municipal. O acontecimento
encheu de alegria os anapolinos. Teve vida efêmera”. LOBO (1949, p.36)
Infelizmente, devido às precárias condições do acervo do Museu, encontramos apenas
fragmentos do jornal Correio de Annapolis. As frações localizadas de fato apontam para uma
breve existência do periódico. Constam guardados seis números, cuja circulação se deu entre
os meses de março e maio de 1929. No entanto, visualizamos uma relação entre o jornal
citado acima e a revista Informação Goyana. Em abril de 1929, o publicista paulista José
Gonçalves protesta conta o que chama de “freios oppostos pela União” ao desenvolvimento
do estado:
Justamente na localização central de Goyaz é que reside sua luta, que todos os seus
filhos devem desenvolver para elevá-lo e engrandecê-lo. Luta suave e linda, porque
o seu ideal é nobre e patriótico. É preciso reagir contra os freios opostos pela União
ao avanço de Goyaz. Digo reagir: a reação é sempre mais forte do que a ação. É
preciso produzir com afinco, abundantemente. É preciso empenhar-se com denodo e
bravura nessa campanha gloriosa. […] É preciso, enfim, que o goyano seja digno da
natureza maravilhosa que o cerca. (“O GOYANO”, 1929, p.24)
Mas foi mesmo durante a década de 1930, a partir do início das obras de
prolongamento dos trilhos da ferrovia – de Leopoldo de Bulhões até Anápolis - e das
consequências políticas da Revolução de 1930, com a queda das antigas oligarquias no estado,
que a imprensa em Anápolis ganhou força. Segundo informações publicadas no Caderno de
Pesquisas do Museu Alderico Borges de Carvalho, entre os anos de 1920 e 1940, cerca de
treze jornais circularam na cidade.
Conforme Lôbo (1949), ainda em 1930 surgiu o jornal Voz do Sul, que circulou até
1939. Segundo Polonial (1995), o jornal era propriedade da família Lourenço Dias. Fundador
da publicação, o senhor Lourenço Dias foi um dos apoiadores de Pedro Ludovico no
movimento de 1930. A partir do exposto, entendemos que fatores políticos podem ter levado o
jornal Voz do Sul a defender o prolongamento dos trilhos até Anápolis. Coube a esse jornal
documentar esse processo e noticiar a inauguração da Estação Ferroviária de Anápolis.
Anápolis viveu no dia 7 do corrente o maior dia de toda a sua história, com a
inauguração da Estrada de Ferro, aspiração máxima de seu povo. Desde dez dias
antes da memorável data, já a cidade se encontrava com um aspecto festivo, os
hotéis cheios e um movimento desusado em nossas ruas, que recrusdecia, à
proporção em que se aproximava o feliz evento. (VOZ DO SUL, p. 1, 1935)
Outro jornal voltado para a defesa dos direitos dos trabalhadores era A Luta, que
também surgiu na década de 1930 durante o processo de urbanização da cidade. De acordo
com Ferreira (2001), o periódico encontrou certa resistência por parte da população por ter se
colocado contra o governo. Entretanto, encontrou no trem uma forma de chegar a vários
pontos do estado e assim expandir suas ideias.
Embora de pequena circulação, não se pode dizer que o jornal A luta não era
conhecido fora de Anápolis. Bráulio Vitoriano, coletor da estrada de ferro, quando
veio para Anápolis já conhecia o jornal e o trabalho do grupo, correspondendo-se
com Basileu Pires Leal à partir da leitura de seus artigos/ conforme refere o próprio
Basileu. Outro exemplo da penetração do jornal em Goiás está no conhecimento de
sua intrepidez, por parte de Wilmar Guimarães, José Décio Filho e José Godói
Garcia, jovens estudantes de Goiânia que durante o Estado Novo recorreram à
gráfica de A. G. Pinto para editar o jornal Goiás livre de radical combate ao governo.
(FERREIRA, 2001, p.35)
Ainda de acordo com Polonial (1995), os “trilhos da Goyaz” foram recebidos com
festa em Anápolis. Oficialmente, a estrada de ferro chegou à cidade no dia 07 de setembro de
1935. Como parte da programação, ocorreram discursos, missa, desfiles militar e escolar,
churrasco, homenagens às autoridades e aos ferroviários. As comemorações encerraram-se à
noite, com um “baile oficial que contou com a presença de autoridades federais, estaduais e
municipais”. Borges (1975, p.202-203).
Lôbo (1949) afirma que, além dos jornais já citados, foram criados ainda os seguintes
periódicos: O X, apresentava uma visão satirizada sobre os principais acontecimentos da
cidade, teve vida curta, circulou apenas em 1932; O Verbo, apoiou os governos pós-revolução
de 1930, vindo a criticar o governo Vargas em 1932 na campanha pela reconstitucionalização
do Brasil; Além desses, surgiram também O Combate, O Grêmio e Correio Goyano. Esses
últimos foram veiculados por tão pouco tempo que há quase nenhuma informação a respeito
deles.
Em 1935, mesmo ano em que a estação ferroviária é inaugurada, surge o jornal O
Anápolis, um dos periódicos mais importantes e longevos do município. Para Machado
(2009), “o jornal O Anápolis nasceu em consequência do desenvolvimento econômico da
cidade, ligado à causa da ferrovia de Goiás. Quando a ferrovia entrou em declínio, entre as
décadas de 1950 e 1960, o jornal assumiu a defesa do projeto rodoviário”. Machado (2009, p.
43)
Ainda conforme Machado (2009), O Anápolis circulou até a década de 1970, quando
se extinguiu. Curiosamente, nessa mesma época iniciou-se a retirada dos trilhos da ferrovia.
Conforme Freitas (1995), até a década de 1940, a ferrovia ainda consistia em um elemento
norteador de progresso no imaginário da população. Entretanto, problemas como falta de
manutenção dos trilhos, atrasos nas viagens e acidentes fizeram com que a ferrovia se tornasse
indesejada. Em 1976, os trilhos foram enfim retirados, durante o mandato do então prefeito
Jamel Cecílio.
4 Considerações finais
Abstract
5 Referências