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06/12/2019 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

Acórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa


Processo: 24649/05.6YYLSB.L1-1
Relator: RUI VOUGA
Descritores: NULIDADE DE SENTENÇA
EXECUÇÃO
TÍTULO EXECUTIVO
CESSÃO DE CRÉDITO
LEGITIMIDADE
SUCESSÃO NA POSIÇÃO CONTRATUAL
Nº do Documento: RL
Data do Acordão: 15-03-2011
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Meio Processual: AGRAVO
Decisão: IMPROCEDENTE
Sumário: 1. Na acção executiva, a legitimidade que é concedida aos sujeitos
que constam do título executivo como credor e devedor (nos termos
do art. 55º, nº 1, do C.P.C.) é igualmente reconhecida aos seus
sucessores: se houver sucessão no direito ou na obrigação
exequendos, são partes legítimas na execução os sucessores dos
sujeitos que figuram no título como credor e devedor da obrigação
exequenda (art. 56º, nº 1, 1ª parte, do mesmo Código).
2. Porém, se a sucessão na titularidade do direito se tiver verificado
antes da propositura da acção executiva, não é suficiente que o
exequente invoque (no requerimento inicial da execução) os factos
constitutivos da sucessão, só carecendo de deles fazer prova caso o
executado os impugne na oposição que, porventura, deduza contra
a execução, com fundamento na ilegitimidade da parte à qual o
exequente atribuiu a qualidade de sucessor; antes, pelo contrário, o
exequente não está dispensado de, liminarmente, provar – como
outrora tinha de fazer no incidente de habilitação previsto no CPC
de 1939 – os factos constitutivos da sucessão que alega no
requerimento executivo.
3. Efectivamente, desde que, por virtude da sucessão operada na
titularidade do crédito ou da obrigação exequenda, o mero exame
visual do título executivo não é suficiente para se poder aferir da
legitimidade do exequente ou do executado, faz-se mister que o
exequente faça a prova complementar, mediante documentos
bastantes, dos factos concretos por si invocados no requerimento
executivo para fundamentar a sucessão no crédito exequendo ou na
obrigação exequenda.
4. Por isso, enquanto não estiverem estabelecidos (por prova
documental bastante) os factos constitutivos da sucessão invocados
no requerimento executivo, o juiz não pode, quando haja lugar a
despacho liminar, proferir o despacho de citação, devendo antes
mandar aperfeiçoar e, em último caso, indeferir o requerimento
executivo, por ilegitimidade da parte (arts. 812º, nºs 2-b e 5, 812º-
A-3-b e 820º do CPC), não só quando não forem alegados os factos
em que a sucessão se funda, mas também quando não for oferecida
a respectiva prova documental.
5. Quando o facto concreto invocado pelo exequente (no
requerimento executivo) para fundamentar a invocada sucessão no
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crédito exequendo é um contrato de cessão de créditos


alegadamente celebrado entre o sujeito que figura como credor no
título executivo e o ora exequente, a ausência de prova documental
bastante, por parte do exequente, de que essa cessão já foi
notificada ao devedor ou de que este a aceitou (expressa ou
tacitamente) ou, pelo menos, teve dela conhecimento por qualquer
outro modo, não priva de legitimidade o exequente.
6. Isto porque, à face do nosso direito constituído, nas relações
entre as partes (cedente e cessionário), o contrato de cessão de
créditos produz imediatamente o efeito translativo da titularidade
do crédito, independentemente da sua notificação ao devedor,
constituindo a notificação da cessão ao devedor apenas uma
condição de eficácia da cessão perante si, nos termos do artigo 583º,
nº 1, do Código Civil.
7. Ora, como o efeito substancial que se pretende obter com tal
notificação é o de tornar a cessão eficaz em relação ao devedor,
dando-lhe a conhecer a identidade do cessionário e evitando que o
cumprimento seja feito perante o primitivo credor, tal desiderato é
assegurado com a citação para a acção executiva, momento a partir
do qual o devedor fica ciente da existência da cessão e inibido de
invocar o seu desconhecimento, nos termos do artº 583º nº 2, do
Código Civil.
8. Por isso, desde que o exequente faça a prova documental da
celebração do contrato de cessão de créditos por si invocado (no
requerimento executivo) como facto constitutivo da sucessão no
crédito exequendo, tanto para assegurar a sua legitimidade activa,
em face do disposto no cit. artº 56º, nº 1, do C.P.C., irrelevando
para tanto que a cessão ainda se não tenha tornado eficaz
relativamente ao devedor.
( da responsabilidade do Relator )
Decisão Texto Parcial:
Decisão Texto Integral: Acordam, na 1ª Secção Cível da Relação de LISBOA
BANCO ….. , S.A., inconformado com a decisão – datada de
7/3/2007 - que, na Execução para pagamento de quantia certa por
ele intentada contra JOÃO …… e FERNANDA …… , julgou a
Exequente parte ilegítima e rejeitou (liminarmente) a execução,
interpôs recurso da mesma, que foi recebido como de agravo, para
subir imediatamente, nos próprios autos e com efeito suspensivo
(arts. 733º, 734º, nº 1, al. a), 736º e 923º, todos do Código de
Processo Civil, na redacção anterior à introduzida pelo DL
303/2007, de 24 de Agosto), tendo rematado as alegações que
apresentou com as seguintes conclusões:
“A) No dia 12 de Abril de 2005, o ora Agravante propôs execução
contra os aqui Agravados, requerendo o pagamento da quantia total
de 10.811,84 €.
B) Deu à execução uma sentença judicial condenatória na qual
figurava como autor, pessoa diversa do exequente, ora Agravante.
C) Com efeito, no título executivo apresentado, o Autor é C…..-
BANCO DE CRÉDITO ….. , S.A. e Réus JOÃO ….. e FERNANDA
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… , aqui Agravados.
D) O ora Agravante mencionou, no quadro destinado ao
preenchimento dos dados do exequente, a celebração de um contrato
de crédito entre o autor que figura no título executivo e o ora
Agravante, de modo a justificar a discrepância entre o exequente e o
credor que figura no título executivo.
E) O Tribunal a quo notificou o ora Agravante para provar a
existência do contrato de cessão de crédito, bem como para
demonstrar o cumprimento do disposto no artigo 583º do Código
Civil.
F) O ora Agravante apresentou nos autos de execução fotocópia
certificada do contrato de cessão de crédito, bem como a respectiva
tradução, acompanhados ainda por fotocópia simples da página 40
do Anexo I composto por 159 páginas no total, no qual consta a
identificação do contrato celebrado com os executados e fundamento
da dívida exequenda.
G) Juntou também aos autos fotocópia da minuta da carta remetida a
todos os devedores em 25 de Fevereiro de 2004, nos quais os
executados, ora Agravados se encontram englobados.
H) Por fim, juntou ainda uma declaração emitida pelo ora
Agravante, na qualidade de cessionário, no sentido da confirmação
da celebração do contrato de cessão de créditos, através do qual foi
cedido o crédito peticionado na execução, indicando ainda o valor da
dívida, à data da cessão.
I) Não obstante, o Tribunal a quo entendeu que os documentos juntos
não eram suficientes para demonstrar a existência da cessão do
crédito invocada pelo exequente, agora Agravante e, em
consequência, julgou-o parte ilegítima, absolvendo os executados da
instância executiva e rejeitando a execução proposta.
J) Ora, esta decisão não pode ser aceite pelo ora Agravante uma vez
que é injusta e afasta-se do regime legal previsto para a cessão de
créditos.
K) Em primeiro lugar, o Tribunal a quo não apresenta qualquer
fundamento para rejeitar os documentos apresentados pelo ora
Agravante, apenas concluindo que:”não estar provada a alegada
cessão de créditos, ou, pelo menos, que ela produziu efeitos em
relação aos executados.”
L) Assim, considera-se que tal decisão padece de um vício de
nulidade, de acordo com o disposto no artigo 668º n.º 1 alínea b) do
C.P.C., desrespeitando o disposto no artigo 659º ex vi artigo 666º n.º 3
ambos do citado diploma legal e com o determinado nos artigos 347º,
376º, 408º e 577º todos do C.C.
M) Inversamente, mesmo que se considere que o Tribunal a quo
cumpriu o seu dever de fundamentação, ao refutar liminarmente a
prova apresentada pelo ora Agravante, certo é que os argumentos
esgrimidos carecem de fundamento legal.
N) Com efeito, o julgador funda o seu despacho de rejeição da
execução na ilegitimidade do exequente, em virtude do mesmo não
ter provado, não só a cessão de créditos, como sobretudo o

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cumprimento do disposto no artigo 583º do C.C.


O) Ora, no que diz respeito à notificação do devedor, salvo melhor
opinião, e de acordo com o preceituado nos artigos 577º e 408º do
C.C., a cessão de crédito opera independentemente do consentimento
do devedor e por mero efeito do contrato.
P) Logo, se o Agravante apresentou na execução fotocópia
certificada, bem como tradução do contrato de cessão de crédito
celebrado entre si e a pessoa colectiva que figura como autor na
sentença dada à execução, considera-se que se encontra provada a
existência da celebração do aludido contrato, perfilhando-se o
entendimento propugnado pelo Supremo Tribunal de Justiça em
Acórdão proferido em 03.06.2004 in www.dgsi.pt .
Q) Seguidamente, ao decidir pela ilegitimidade processual do ora
Agravante com os fundamentos já explanados, salvo o devido
respeito, o Tribunal a quo desconsidera o determinado nos artigos
583º n.º2 do C.C., dado que a falta da notificação prevista no artigo
583º n.º 1 do C.C. implicar somente a impossibilidade do cessionário
se opor ao pagamento efectuado pelo devedor ao cedente, conforme
entendimento do Prof. Pires de Lima e Antunes Varela em anotação
ao artigo 583º do C.C. in “Código Civil Anotado”, págs. 599 e 600.
R) Pelo que essa comunicação não é requisito sine qua non para a
admissão da cessão de créditos e que impeça a transferência do
direito de crédito do cedente para o cessionário, aqui Agravante.
S) Acresce que, mesmo que fosse um requisito relevante que
implicasse a ilegitimidade do exequente, certo é que essa notificação
pode ser efectuada através da citação do devedor em sede de acção
judicial, conforme é propugnado em diversos arestos proferidos dos
quais destacamos os Acórdãos publicados em 26.06.2005, 19.05.2005,
03.06.2004, 21.03.2003 e 16.01.2003 pelo Supremo Tribunal de
Justiça, 29.01.2004 e 14.03.2002 do Tribunal da Relação de Lisboa e
29.01.2004 e 14.03.2002 do Tribunal da Relação do Porto.
T) In casu, tratando-se de uma execução com dispensa de citação
prévia, nos termos previstos nos artigos 812º A n.º 1 alínea a) ex vi
artigo 812º B ambos do C.P.C., a penhora foi efectuada em
30.08.2006 e os executados, ora Agravados, foram citados em
25.09.2006, conforme informação prestada pelo solicitador de
execução.
U) Apesar de citados para se oporem, os executados, ora Agravados,
não apresentaram qualquer oposição à penhora ou à execução.
V) Assim, contrariamente ao considerado pelo Tribunal a quo,
encontra-se demonstrado nos próprios autos a existência de uma
aceitação tácita da cessão de créditos por parte dos executados, ora
Agravados.
W) Por fim, para cumprir o determinado pelo Tribunal a quo, o ora
Agravante enviou novamente carta, embora sob registo e com aviso
de recepção, para os aqui Agravados tomarem conhecimento da
referida cessão, conforme cópia da carta, registo e aviso de recepção
assinados pelos ora Agravados que aqui se juntam e cujo teor se dá
por reproduzido.

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X) Com efeito, não encontra o ora Agravante qualquer norma que


imponha algum prazo ou momento para se efectuar o cumprimento
do disposto no n.º 1 do artigo 583º do C.C.
Y) Assim, curiosamente, encontra-se demonstrado nos autos as três
formas previstas de comunicação da cessão de créditos: notificação
judicial, extrajudicial e aceitação tácita.
Z) Por todo o exposto, a decisão ora recorrida desrespeita o previsto
nos artigos 577º, 583º e 585º do C.C. e artigo 56º do C.P.C.
Termos em que deve ser concedido provimento ao presente recurso,
anulando-se a decisão proferida, e, em consequência, a execução ser
novamente recebida, aproveitando-se os actos entretanto praticados e
prosseguindo os seus ulteriores termos. ”
Não houve contra-alegações.
Corridos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir.
A DECISÃO RECORRIDA
O despacho que constitui objecto do presente recurso de agravo é
do seguinte teor :
“I. Relatório
Banco ….. , S.A., instaurou acção executiva sob a forma comum
contra João ….. e Fernanda …… , para destes haver o pagamento da
quantia de € 10.811.84.
Deu à cobrança uma sentença proferida nos autos de processo nº
.../03.3YXLSB em que era autora C…. – Banco de Crédito ….. e
Réus os executados.
Cumpre-nos apreciar e decidir.
II. Factos a considerar
1. Consta dos autos uma cópia não certificada de um escrito
particular designado por “CONVENÇÃO DE CESSÃO DE
CONTRATOS DE CRÉDITO”, datado de 19.4.2004, de acordo com o
qual a C… – Banco de Crédito…. , SA, de um lado, e a exequente, de
outro lado, declararam, além do mais, o seguinte:
“(…)
2ª – Objecto da presente convenção
Através da presente convenção, a C... cede ao Banco A… , a carteira
dos contratos assim como todos os direitos e deveres que dela
decorrem.
(…)
A lista de contratos, tal como está previsto no anexo I, objecto da
cessão, definida no dia 1 de Março de 2004, será transmitida à
cessionária o mais tardar a 12 de Abril de 2004 (…)
3ª – Garantias dos empréstimos cedidos
A C... declara ser proprietária plena dos créditos cedidos, que estes
não foram objecto de qualquer cessão, delegação, caução, penhora
ou outros, e que não se opõe à sua livre cessão em benefício do
Banco A… ..
6ª – Execução da Cessão
A cessão será efectiva a partir de 1 de Abril de 2004.
8ª – Notificação da cessão aos clientes
A lista dos clientes cedidos encontra-se no anexo I do presente

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contrato.
A C... declara ter solicitado o acordo referente à cessão dos clientes
que se encontra no anexo I. As cópias de cartas dos clientes que
recusaram esta cessão encontram-se no anexo III.
III – Fundamentos de direito
Nos termos do art. 45º, nº 1, do CPC, é pelo título que se determinam
o fim e os limites da acção executiva.
Por outro lado, de harmonia com o disposto no art. 55º, nº 1, do CPC,
a execução tem de ser promovida pela pessoa que no título figures
como credor e deve ser instaurada contra a pessoa que no título tenha
a posição de devedor.
Trata-se, como é bem de ver, de uma regra de legitimidade; logo, o
preceito versa sobre questão diversa da de saber quem é o credor e
quem é o devedor. É o que impressivamente salienta Alberto dos Reis:
«o texto não diz que é parte legítima como exequente o credor, e como
executado o devedor; não diz e não devia dizer, sob pena de confundir
a questão da legitimidade com a procedência. É que o exequente e o
executado podem ser partes legítimas, apesar de não serem credor e
devedor» - Comentário, vol. I, p. 90.
No caso dos autos, verificando-se que a exequente baseia a execução
numa sentença, é sem hesitações que se proclama que a questão da
legitimidade deve ser equacionada à luz do que se dispõe no art. 56º,
nº 1 do CPC, cuja redacção é a seguinte: « Tendo havido sucessão no
direito ou na obrigação, deve a execução correr entre os sucessores
das pessoas que no título figuram como credor ou devedor da
obrigação exequenda. No próprio requerimento para a execução
deduzirá o exequente os factos constitutivos da sucessão».
Deste modo, diz-se que, de acordo com aquele preceito legal, fica
assegurada a legitimidade do exequente se este deduzir no
requerimento executivo os factos constitutivos da sucessão nos
direitos incorporados no título dado à execução.
In casu, verificando-se que da sentença em questão não consta o
nome da exequente como Autora da acção, há-de ter-se em conta a
circunstância de a exequente ter deduzido os factos constitutivos da
habilitação como sucessora na titularidade do crédito, pela
transmissão do crédito, nomeadamente através da alegação de que
celebrou um contrato de cessão de créditos.
Efectivamente, e como é sabido, um crédito pode ser transmitido por
acto entre vivos – cessão ordinária de créditos, sendo que a plena
eficácia da cessão está dependente da notificação ao devedor.
Mas, dito isto, o que neste caso avulta é a circunstância de, em nosso
entender, não estar provada a alegada cessão de créditos ou, pelo
menos, que ela produziu efeitos em relação aos executados.
Atentemos então, mais em detalhe, na questão agora enunciada.
Conforme se dispõe no art. 583º, nº 1 do CC, a cessão de créditos
produz efeitos relativamente ao devedor contanto que lhe seja
notificada, ainda que extrajudicialmente, ou desde que ele a aceite.
Nos termos do nº 2 daquele artigo, prevê-se o caso de, antes da
notificação ou aceitação, o devedor pagar ao cedente ou celebrar com

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ele algum negócio jurídico relativo ao crédito, e estabelece-se que, em


tal hipótese, nem o pagamento nem o negócio são oponíveis ao
cessionário, se este provar que o devedor tinha conhecimento da
cessão.
Segundo P. de Lima e A. Varela, a notificação de que fala o preceito
em análise «pode ser feita judicialmente, ou extrajudicialmente, por
uma simples declaração negocial nos termos do art. 217º, e tanto
pode ser feita pelo cedente como pelo cessionário. A aceitação da
transmissão não está sujeita a formalidades especiais. Pode mesmo
ser feita tacitamente, como na hipótese de o devedor fazer um
pagamento parcial ao cessionário, de lhe pedir uma moratória, de lhe
oferecer uma nova garantia, etc.» (Cód. Civil Anotado, vol. I, 4ª ed.,
p. 599).
Seguindo ainda de perto os ensinamentos daqueles ilustres autores,
em comentário atinente ao nº 2 do citado art. 583º, colhido no mesmo
ponto da obra acima citada, ressalta-se que, além da «notificação ou
da aceitação previstas no nº 1, o nº 2 dá relevância ao simples
conhecimento da cessão por parte do devedor. O cessionário é
admitido a fazer a prova desse conhecimento, para o efeito de não lhe
poder ser oposto o pagamento feito ao cedente, nem qualquer negócio
realizado com ele relativo ao crédito.»
Concretizando conceitos, dir-se-á, então, que a cessão de créditos só
produz efeitos em relação ao devedor quando suceder uma de três
coisas: a notificação – judicial ou extrajudicial – ao devedor, a
aceitação – expressa ou tácita – da cessão, e, por último, o
conhecimento da sua ocorrência por banda do devedor.
Ora, volvendo aos autos, o que se nos afigura é que nenhuma destas
circunstâncias se mostra demonstrada: os documentos juntos pela
exequente, além de não comprovarem a notificação exigida na lei,
não constituem, por si só, elementos suficientes para se afirmar que
houve aceitação da parte dos executados, ou sequer que estes
tomaram conhecimento da cessão.
Por isso, a consequência que de tudo isto se deve retirar é, quanto a
nós, a de que não se pode reconhecer à exequente legitimidade para
instaurar a presente execução, posto que a mera alegação dos factos
constitutivos da habilitação não deve dispensar a exequente de fazer
prova de tais factos, sob pena de ficar posta em causa a função do
título como meio de legitimação das partes para o processo executivo
(cfr., neste sentido, Lebre de Freitas, A Acção Executiva – Depois da
Reforma, 4ª ed., p. 123)..
A ilegitimidade passiva é uma excepção dilatória do conhecimento
oficioso, nos termos dos arts. 288º, nº 1, d), 493º, nº 2, 494º, e), e 495º
do CPC, constituindo fundamento de indeferimento liminar e, bem
assim, de rejeição da execução, tudo de harmonia com o disposto no
art. 812º, nº 2, b), e 820º, nº 1 do CPC.
No caso, não ocorre qualquer obstáculo de índole processual à
prolação de uma decisão de rejeição da execução.
É o que se vai decidir.
As custas serão suportadas pela exequente (art. 446º, nºs 1 e 2 do

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CPC).
IV. Decisão
Pelo exposto, julgando a exequente parte ilegítima, rejeito a presente
execução.
Custas pela exequente.
Registe.
Notifique, sendo-o também o Sr. Solicitador de Execução, para cessar
quaisquer penhoras.”.
*
O OBJECTO DO RECURSO
Como se sabe, sem embargo das questões de que o tribunal ad
quem possa ou deva conhecer ex officio, é pelas conclusões com que
o recorrente remata a sua alegação (aí indicando, de forma
sintéctica, os fundamentos por que pede a alteração ou anulação da
decisão recorrida: art. 690º, nº 1, do C.P.C.) que se determina o
âmbito de intervenção do tribunal ad quem [1] [2].
Efectivamente, muito embora, na falta de especificação logo no
requerimento de interposição, o recurso abranja tudo o que na
parte dispositiva da sentença for desfavorável ao recorrente (art.
684º, nº 2, do C.P.C.), esse objecto, assim delimitado, pode vir a ser
restringido (expressa ou tacitamente) nas conclusões da alegação
(nº 3 do mesmo art. 684º)[3] [4]. Por isso, todas as questões de
mérito que tenham sido objecto de julgamento na sentença
recorrida e que não sejam abordadas nas conclusões da alegação
do recorrente, mostrando-se objectiva e materialmente excluídas
dessas conclusões, têm de se considerar decididas e arrumadas, não
podendo delas conhecer o tribunal de recurso.
Por outro lado, como meio impugnatório de decisões judiciais, o
recurso visa tão só suscitar a reapreciação do decidido, não
comportando, assim, ius novarum, i.é., a criação de decisão sobre
matéria nova não submetida à apreciação do tribunal a quo.
Ademais, também o tribunal de recurso não está adstrito à
apreciação de todos os argumentos produzidos em alegação, mas
apenas – e com liberdade no respeitante à indagação, interpretação
e aplicação das regras de direito (art. 664º, 1ª parte, do C.P.C.,
aplicável ex vi do art. 713º, nº 2, do mesmo diploma) – de todas as
“questões” suscitadas, e que, por respeitarem aos elementos da
causa, definidos em função das pretensões e causa de pedir
aduzidas, se configurem como relevantes para conhecimento do
respectivo objecto, exceptuadas as que resultem prejudicadas pela
solução dada a outras (art. 660º, nº 2, do C.P.C., ex vi do cit. art.
713º, nº 2).
No caso sub judice, emerge das conclusões da alegação de recurso
apresentada pelo Exequente ora Agravante que o objecto do
presente recurso está circunscrito a 3 (três) questões:
1) Se o despacho recorrido padece da nulidade prevista na al. b) do
nº 1 do Art. 668º do CPC (falta de fundamentação), por não
apresentar qualquer fundamento para rejeitar os documentos
apresentados pelo ora Agravante, apenas concluindo “não estar
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provada a alegada cessão de créditos, ou, pelo menos, que ela


produziu efeitos em relação aos executados”;
2) Se, de acordo com o preceituado nos artigos 577º e 408º do
Código Civil, a cessão de créditos opera independentemente do
consentimento do devedor e por mero efeito do contrato,
implicando a falta da notificação da cessão ao devedor somente a
impossibilidade de o cessionário se opor ao pagamento efectuado
pelo devedor ao cedente, mas não sendo essa comunicação requisito
sine qua non para a admissão da cessão de créditos que impeça a
transferência do direito de crédito do cedente para o cessionário,
pelo que, ainda mesmo que, no caso em apreço, os devedores ora
executados não tivessem sido notificados da cessão do crédito
exequendo, do primitivo credor C… – BANCO DE CRÉDITO…. ,
S.A. para o ora Exequente/Agravante BANCO A…. , S.A., nunca
essa falta de notificação privaria este último de legitimidade para
instaurar a presente execução;
3) Se - contrariamente ao considerado pelo Tribunal a quo - se
encontra demonstrada nos próprios autos a existência de uma
aceitação tácita da cessão de créditos por parte dos executados, ora
Agravados, porquanto estes, apesar de citados para se oporem, não
apresentaram qualquer oposição à penhora ou à execução.
FACTOS PROVADOS
Mostram-se provados os seguintes factos, com relevância para o
julgamento do mérito do recurso:
1) No dia 12 de Abril de 2005, o ora Agravante BANCO A….
PORTUGAL, S.A. instaurou execução para pagamento de quantia
certa contra os aqui Agravados JOÃO …. e FERNANDA ….,
requerendo o pagamento da quantia total de € 10.811,84.
2) O título executivo dado à execução é uma sentença judicial
condenatória proferida em 20 de Maio de 2004, que condenou os
Réus, ora Agravados, JOÃO …. e FERNANDA …. no pagamento à
Autora “C….- BANCO DE C…., S.A.” da quantia de 4.242,66 €,
acrescida de 3.522,11 € a título de juros vencidos e imposto de selo,
bem como juros de mora vincendos à taxa contratual de 2,16 % ao
mês, desde 17.01.2003.
3) O ora Agravante mencionou, no quadro destinado ao
preenchimento dos dados do exequente, a celebração de um
contrato de crédito entre o “C…. - BANCO DE C….., S.A.” e o ora
Agravante, de modo a justificar a discrepância entre o exequente e
o credor que figura no título executivo.
4) Por despacho proferido em 8/9/2006, o Tribunal a quo mandou
notificar o ora Agravante para comprovar que o crédito resultante
da sentença condenatória dada à execução fora, efectivamente,
cedido pela “C….. - BANCO DE C….. , S.A.”, pois que tal não
resulta dos documentos juntos ao requerimento executivo, bem
como para demonstrar o cumprimento do disposto no artigo 583º
do Código Civil.
5) Em 14/9/2006, o ora Agravante apresentou nos autos de
execução fotocópia certificada do contrato de cessão de crédito,

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bem como a respectiva tradução, acompanhados ainda por


fotocópia simples da página 40 do Anexo I composto por 159
páginas no total, na qual consta a identificação do nº do contrato
celebrado com os executados e fundamento da dívida exequenda.
6) Em 10/10/2006, juntou também aos autos fotocópia da minuta da
carta tipo remetida, em 25 de Fevereiro de 2004, a todos os
devedores clientes da “C… - BANCO …. , S.A.”, da qual, porém,
não consta o nome dos ora executados, ora Agravados.
7) No requerimento em que juntou tais documentos, o Exequente
ora Agravante alegou tratar-se duma carta automática emitida por
um sistema informático composto por uma base de dados de todos
os clientes discriminados no anexo composto por 159 páginas cuja
cópia foi junta na mesma data.
8) Por despacho proferido em 20/11/2006, o tribunal “a quo”
convidou o Exequente ora Agravante a colmatar as omissões
resultantes, por um lado, do facto de a folha do anexo ao contrato
de cessão junta aos autos em 14/9/2006 não identificar o contrato
em causa nem o valor do crédito cedido – sendo certo que assim
não é possível apurar se está em causa o crédito titulado nestes
autos – e, por outro, da circunstância de a cópia da carta-minuta
junta em 14/9/2006 não demonstrar que foi enviada e recebida,
razão pela qual fica sem se saber se os executados tomaram
efectivamente conhecimento do contrato e o aceitaram.
9) Em 2/1/2007, o Exequente ora Agravante juntou ainda uma
declaração emitida pelo ora Agravante, na qualidade de
cessionário, confirmando a celebração do contrato de cessão de
créditos, através do qual foi cedido o crédito peticionado na
execução, indicando ainda o valor da dívida, à data da cessão.
*
O MÉRITO DO RECURSO
1) Se o despacho recorrido padece da nulidade prevista na al. b) do
nº 1 do Art. 668º do CPC (falta de fundamentação), por não
apresentar qualquer fundamento para rejeitar os documentos
apresentados pelo ora Agravante, apenas concluindo “não estar
provada a alegada cessão de créditos, ou, pelo menos, que ela
produziu efeitos em relação aos executados”.
O Exequente/Agravante sustenta que o despacho recorrido seria
nulo, nos termos do art. 668º, nº 1, al. b), do CPC (falta de
fundamentação), por se limitar a concluir “não estar provada a
alegada cessão de créditos, ou, pelo menos, que ela produziu efeitos
em relação aos executados”, sem, contudo, apresentar qualquer
fundamento para rejeitar os documentos apresentados pelo ora
Agravante.
Quid juris ?
Como se sabe, «a lei não traça um conceito de nulidade de
sentença, bastando-se com a enumeração taxativa de várias
hipóteses de desconformidade com a ordem jurídica que, uma vez
constatadas na elaboração da sentença, arrastam à sua
nulidade»[5]. Esse elenco taxativo das causas de nulidade da
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sentença consta das alíneas a) a e) do nº 1 do art. 668º do C.P.C..


A al. b) deste normativo comina a sentença de nula “quando [ela]
não especifique os fundamentos de facto e de direito que justificam a
decisão”.
As decisões judiciais (sejam elas sentenças ou simples despachos)
carecem de ser fundamentadas: assim o impõem, desde logo, o art.
205º, nº 1, da Constituição da República Portuguesa e, ao nível da
lei adjectiva ordinária, o art. 158º, nº 1, do CPC.
Especificamente no que à sentença diz respeito, o art. 659º, nº 2, do
CPC, ao ocupar-se daquela parte da sentença que designa por
“fundamentos”, impõe ao juiz o dever de “discriminar os factos que
considera provados e indicar, interpretar e aplicar as normas
jurídicas correspondentes”.
Porém, «para que a sentença careça de fundamentação, não basta
que a justificação da decisão seja deficiente, incompleta, não
convincente; é preciso que haja falta absoluta, embora esta se possa
referir só aos fundamentos de facto ou só aos fundamentos de
direito» [6] [7] [8] .
«A nulidade da alínea b) do artigo 668.º do Código de Processo
Civil não se basta com uma justificação deficiente ou pouco
convincente, antes impondo ausência de motivação que
impossibilite a revelação das razões que levaram à opção final»[9].
«Se a decisão (…) contém, ainda que por remissão, os elementos de
facto e de direito suficientes para a revelação dos motivos da opção
final, não há falta de motivação»[10].
Por isso, «a motivação incompleta, deficiente ou errada não produz
nulidade, afectando somente o valor doutrinal da sentença e
sujeitando-a consequentemente ao risco de ser revogada ou
alterada quando apreciada em recurso»[11].
Ora - como se extrai da supra transcrita decisão recorrida ora
arguida de nula, por falta de fundamentação -, tal decisão, no que
respeita à fundamentação de direito, encontra-se suficientemente
desenvolvida, independentemente do acerto ou desacerto da
mesma.
De resto, no que especificamente concerne aos vários documentos
juntos pelo Exequente ora Agravante (quer os que logo anexou ao
requerimento executivo, quer os que depois fez juntar aos autos,
em 14/9/2006), o tribunal “a quo” já havia posto em evidência – no
despacho proferido em 20/11/2006 (a fls. 82), em que convidara o
ora Agravante a colmatar várias omissões apontadas à
documentação por ele apresentada - que, por um lado, a folha do
anexo ao contrato de cessão junta aos autos em 14/9/2006
(constante de fls. 64) não identifica o contrato em causa nem o
valor do crédito cedido – sendo certo que “assim, não é possível
apurar se está em causa o crédito titulado nestes autos” – e, por
outro, que a cópia da carta-minuta junta em 10/10/2006 (constante
de fls. 66) não demonstra que foi enviada e recebida, razão pela
qual fica sem se saber se os executados tomaram efectivamente

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conhecimento do contrato e o aceitaram.


Ora, posteriormente à sua notificação do teor do aludido despacho
de 20/11/2006, o aqui Exequente/Agravante limitou-se a juntar aos
autos uma mera “DECLARAÇÃO” emitida por ele próprio, na qual
declara que adquiriu ao “C…. – BANCO DE C….. , SA” os
créditos relativos ao Contrato nº ..., em que é titular o Sr. JOÃO ….
” e ainda que o crédito relativo a esse contrato perfazia, à data da
cessão, o valor total de € 9.718,11 (cfr. o documento junto a fls. 85).
Por isso, o Exequente/Embargado não pode, razoavelmente,
pretender que ignora os motivos pelos quais o tribunal “a quo”
veio a concluir (no despacho ora recorrido) que “os documentos
juntos pela exequente, além de não comprovarem a notificação
exigida na lei, não constituem, por si só, elementos suficientes para se
afirmar que houve aceitação da parte dos executados, ou sequer que
estes tomaram conhecimento da cessão”.
É certo que o ora Arguente discorda radicalmente da decisão
recorrida, no segmento em que ela considerou “não estar provada a
alegada cessão de créditos, ou, pelo menos, que ela produziu efeitos
em relação aos executados”.
Porém, tal não significa, evidentemente, que, por essa simples
circunstância, a decisão proferida padeça, no segmento em questão,
de falta de fundamentação.
O acerto ou desacerto da conclusão a que chegou o tribunal “a
quo” sobre a falta de prova bastante da invocada cessão de créditos
do crédito exequendo ou, pelo menos, sobre a ausência de prova da
eficácia dessa cessão relativamente aos ora Executados só
constituiria causa de nulidade do despacho recorrido, nos termos
da cit. al. b) do nº 1 do art. 668º do CPC, se o mesmo despacho não
curasse minimamente de justificar o porquê daquela conclusão.
Ora, o despacho em questão, acertada ou erroneamente, não
deixou de fundamentar suficientemente a conclusão a que chegou
acerca, por um lado, da indispensabilidade da prova, por parte do
Exequente/Agravante, dos factos constitutivos da sucessão no
crédito exequendo e, por outro, sobre a insuficiência dos vários
documentos apresentados para comprovarem a notificação da
cessão de créditos aos devedores ora executados ou que tenha
havido aceitação da cessão por parte dos mesmos ou sequer que
eles hajam tomado conhecimento de tal cessão.
Assim sendo, não se pode assacar ao despacho sob censura a
nulidade prevista no art. 668.°, n.° 1, al. b), do CPC.
Consequentemente, o presente recurso improcede, pelo menos
quanto à questão da putativa nulidade da decisão recorrida, por
falta de fundamentação.
*
2) Se, de acordo com o preceituado nos artigos 577º e 408º do
Código Civil, a cessão de créditos opera independentemente do
consentimento do devedor e por mero efeito do contrato,
implicando a falta da notificação da cessão ao devedor somente a
impossibilidade de o cessionário se opor ao pagamento efectuado

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pelo devedor ao cedente, mas não sendo essa comunicação requisito


sine qua non para a admissão da cessão de créditos que impeça a
transferência do direito de crédito do cedente para o cessionário,
pelo que, ainda mesmo que, no caso em apreço, os devedores ora
executados não tivessem sido notificados da cessão do crédito
exequendo, do primitivo credor C…. – BANCO DE C…. , S.A.
para o ora Exequente/Agravante BANCO A….. , S.A., nunca essa
falta de notificação privaria este último de legitimidade para
instaurar a presente execução.
Como vimos, a decisão recorrida entendeu que:
- a mera alegação dos factos constitutivos da sucessão não deve
dispensar o exequente de fazer prova de tais factos, sob pena de
ficar posta em causa a função do título como meio de legitimação
das partes para o processo executivo;
- ora, a cessão de créditos só produz efeitos em relação ao devedor
quando suceder uma de três coisas: a notificação – judicial ou
extrajudicial – ao devedor; a aceitação – expressa ou tácita – da
cessão; e, por último, o conhecimento da sua ocorrência por banda
do devedor;
- no caso dos autos, nenhuma destas três circunstâncias se mostra
demonstrada, porquanto os documentos juntos pela exequente,
além de não comprovarem a notificação exigida na lei, não
constituem, por si só, elementos suficientes para se afirmar que
houve aceitação da parte dos executados, ou sequer que estes
tomaram conhecimento da cessão.
Sustenta, porém, ex adverso, o Exequente ora Agravante que, de
acordo com o preceituado nos artigos 577º e 408º do Código Civil, a
cessão de créditos opera independentemente do consentimento do
devedor e por mero efeito do contrato, implicando a falta da
notificação da cessão ao devedor somente a impossibilidade de o
cessionário se opor ao pagamento efectuado pelo devedor ao
cedente, mas não sendo essa comunicação requisito sine qua non
para a admissão da cessão de créditos que impeça a transferência
do direito de crédito do cedente para o cessionário, pelo que, ainda
mesmo que, no caso em apreço, os devedores ora executados não
tivessem sido notificados da cessão do crédito exequendo, do
primitivo credor C…. – BANCO DE C…. , S.A. para o ora
Exequente/Agravante BANCO A…. , S.A., nunca essa falta de
notificação privaria este último de legitimidade para instaurar a
presente execução.
Quid juris ?
Nos termos do artigo 55º, nº 1, do Código de Processo Civil, a
execução tem de ser promovida pela pessoa que no título executivo
figurar como credor e deve ser instaurada contra a pessoa que, no
mesmo título, tiver a posição de devedor.
Como nota ALBERTO DOS REIS[12], «não se diz no artigo que é
parte legítima como exequente o credor; o que se diz é que a
execução tem de ser promovida pela pessoa que no título executivo
figurar como credor, o que equivale a dizer que essa pessoa é parte
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legítima como exequente, e deve sê-lo contra a pessoa que no


mesmo título tiver a posição de devedor, o que significa que esta
pessoa é parte legítima como executado». «Figurar no título como
credor não é o mesmo que ser credor; ter no título a posição de
devedor é coisa diversa de ser realmente devedor»[13]. «Uma
pessoa pode, segundo o título executivo, ter a posição de credor ou
devedor, sem que a essa posição corresponda realmente um direito
de crédito ou uma obrigação de dívida»[14].
Por isso, «na maioria dos casos a inspecção do título executivo
permite-nos, por si só, resolver a questão da legitimidade do
exequente e do executado»[15]. Assim, quando o título executivo é
uma sentença de condenação, «é parte legítima como executado a
pessoa condenada; é parte legítima como exequente a pessoa a
favor de quem foi proferida a condenação, a pessoa a quem,
segundo a sentença, o condenado há-de fazer a prestação»[16].
Ora, no caso sub judice, da "inspecção" visual da sentença
condenatória (na qual se funda a presente execução para paga‐
mento de quantia certa) não resulta que a sociedade comercial que
instaurou a presente execução (“BANCO A….. , S.A.”) ocupe nela
a posição de credora.
Com efeito, o título executivo dado à execução é uma sentença
judicial condenatória proferida em 20 de Maio de 2004, que
condenou os Réus, ora Agravados, JOÃO …. e FERNANDA C…..
no pagamento à Autora “C…. - BANCO DE C…. , S.A.” da
quantia de 4.242,66 €, acrescida de 3.522,11 € a título de juros
vencidos e imposto de selo, bem como juros de mora vincendos à
taxa contratual de 2,16 % ao mês, desde 17.01.2003.
Daí não decorre, porém, que o ora Exequente seja,
necessariamente, parte ilegítima na presente execução.
Com efeito, «a legitimidade que é concedida aos sujeitos que
constam do título executivo como credor e devedor é igualmente
reconhecida aos seus sucessores: se houver sucessão no direito ou
na obrigação, são partes legítimas os sucessores dos sujeitos que
figuram no título como credor e devedor da obrigação exequenda
(art. 56º, nº 1, 1ª parte)»[17]. «A sucessão pode ser universal –
como aquela que é realizada mortis causa – ou singular – como a
que provém da transmissão ou cessão do direito ou da coisa, da
assunção da dívida ou do endosso do título cambiário»[18]. «Em
qualquer dos casos, ela pode ser activa ou passiva»[19].
«Com o que a execução pode correr entre os sucessores do credor e
os sucessores do devedor : estes, obviamente, não figuram no título
executivo»[20].
«Se a sucessão na titularidade do direito se tiver verificado antes da
propositura da acção executiva, o exequente deve alegar, no
próprio requerimento executivo, os factos constitutivos da sucessão
(artº 56º, nº 1, 2ª parte), excepto se, em função do título
apresentado, eles forem desnecessários: é o que sucede, por

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exemplo, na hipótese da propositura da acção executiva pelo


endossado num título cambiário»[21]. Diversamente, «se a sucessão
se verificar durante a pendência da acção executiva, há que
promover a habilitação dos sucessores da parte falecida ou extinta
(cfr. art. 371º, nº 1) ou do adquirente ou cessionário da coisa ou
direito (cfr. art. 376º)»[22].
O art. 56º do CPC de 1939 estabelecia, para o caso de, antes de
proposta a acção executiva, ter havido sucessão no crédito ou na
dívida, uma habilitação a deduzir no requerimento inicial da
execução e que, até ser julgada, suspendia os termos da execução
propriamente dita[23].
Porém, o CPC de 1961 aboliu esse preliminar[24].
Efectivamente, o cit. art. 56º, nº 1, do CPC de 1961 (que mantém
ainda hoje a redacção originária) veio «dispensar o recurso ao
incidente da habilitação, tratado nos arts. 371º e ss., quando a
intervenção dos sucessores tenha lugar logo no momento da
instauração da execução»[25]. «É suficiente, então, que o exequente
deduza no próprio requerimento inicial os factos constitutivos da
sucessão, sem que tenham lugar seguidamente, como acontecia por
imposição do art. 56º do CPC de 1939, os termos subsequentes do
incidente de habilitação»[26].
A doutrina encontra-se, porém, dividida quanto à questão de saber
se é suficiente que o exequente invoque (no requerimento inicial da
execução) os factos constitutivos da sucessão, só carecendo de deles
fazer prova caso o executado os impugne em embargos fundados
na ilegitimidade da parte à qual o exequente atribuiu a qualidade
de sucessor, ficando pois a questão da legitimidade encerrada se o
executado o não fizer – como sustentou LOPES CARDOSO[27] e
como defende actualmente FERNANDO AMÂNCIO
FERREIRA[28] - ou se, pelo contrário, o exequente não está
dispensado de, liminarmente, provar – como outrora tinha de fazer
no incidente de habilitação previsto no CPC de 1939 – os factos
constitutivos da sucessão que alega no requerimento executivo
(como preconiza, convictamente, LEBRE DE FREITAS[29]).
Na jurisprudência, tem prevalecido a tese segundo a qual «em caso
de sucessão no direito (nomeadamente, por o credor inicial ter
cedido o crédito a terceiro), o exequente tem que alegar, no
requerimento executivo, os elementos integradores dessa sucessão,
mas não tem que oferecer logo prova deles, embora lhe seja lícito
apresentá-la, quando meramente documental»[30] [31] [32].
Ainda assim, tem de reconhecer-se que – como bem acentua
LEBRE DE FREITAS[33] -, «constituindo a legitimação das partes
para o processo executivo uma das funções do título executivo [é
pelo título executivo que se determinam a legitimidade activa e
passiva para a execução: cfr. o cit. art. 55º-1 do CPC], mal se
compreenderia que dela não tivesse de ser feita prova
complementar no caso de sucessão na posição de credor ou de
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devedor, sem prejuízo de o executado só em oposição à execução


(art. 814º-c)) poder vir a tomar sobre ela posição»[34]. Como
impressivamente diz GERMANO MARQUES DA SILVA[35], «se a
legitimidade há-de ser aferida face ao título executivo, nos termos
do artº 55º, não se vê razão para que no caso de transmissão de
créditos e de dívidas deva ser utilizado outro critério»[36].
Efectivamente, desde que, por virtude da sucessão operada na
titularidade do crédito ou da obrigação exequenda, o mero exame
visual do título executivo não é suficiente para se poder aferir da
legitimidade do exequente ou do executado, faz-se mister que o
exequente faça a prova complementar, mediante documentos
bastantes, dos factos concretos por si invocados no requerimento
executivo para fundamentar a sucessão no crédito exequendo ou na
obrigação exequenda. Não é, pois, aceitável a tese segundo a qual
essa prova só é de exigir se e quando o executado questione a
legitimidade do exequente ou dele próprio (executado), na oposição
que porventura deduza à execução, estando o exequente
dispensado de provar os factos por ele próprio alegados no
requerimento executivo, tendentes a demonstrar a sucessão no
crédito ou na obrigação exequendos, enquanto tais factos não
forem postos em crise pelo executado.
Por isso, «enquanto não estiverem estabelecidos os factos
constitutivos da sucessão, o juiz não pode, quando haja lugar a
despacho liminar, proferir o despacho de citação, devendo mandar
aperfeiçoar e, em último caso, indeferir a petição, por ilegitimidade
da parte (arts. 812º, nºs 2-b e 5; ver também os arts. 812º-A-3-b e
820º), não só quando não forem alegados os factos em que a
sucessão se funda [cit. Ac. do STJ de 10/1/1984], mas também
quando não for oferecida a respectiva prova»[37].
Tudo isto para concluir que – como foi entendido na decisão ora
sob censura -, no caso dos autos, o aqui Exequente/Agravante não
se podia bastar com a alegação dos factos constitutivos da invocada
sucessão no crédito exequendo reconhecido à Autora “C…. –
BANCO DE C…. , S.A.” na sentença condenatória ora dada à
execução, tendo também o ónus de fornecer a prova documental
desses factos.
No caso “sub judice”, o facto concreto invocado pelo Exequente ora
Agravante para fundamentar a alegada sucessão no crédito
exequendo da “C…– BANCO DE C…. , S.A.” foi um contrato de
cessão de créditos alegadamente celebrado entre a C..., S.A. e o ora
Exequente, em 19 de Março de 2004, pelo qual aquela teria cedido
diversos direitos de crédito à ora Agravante, entre os quais o
crédito de que era titular sobre os aqui Executados.
Tudo está, portanto, em saber se os documentos juntos aos autos
pela Exequente constituem prova suficiente da celebração do
aludido contrato de cessão de créditos.
Por despacho proferido em 8/9/2006, o Tribunal a quo mandou
notificar o ora Agravante para comprovar que o crédito resultante

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da sentença condenatória dada à execução fora, efectivamente,


cedido pela “C…. - BANCO DE C…. , S.A.”, pois que tal não
resulta dos documentos juntos ao requerimento executivo, bem
como para demonstrar o cumprimento do disposto no artigo 583º
do Código Civil.
Em 14/9/2006, o aqui Exequente/Agravante juntou aos autos uma
cópia não certificada de um escrito particular designado por
“CONVENÇÃO DE CESSÃO DE CONTRATOS DE CRÉDITO”,
datado de 19.4.2004, de acordo com o qual a C… – Banco de C… ,
SA, de um lado, e o Exequente, de outro lado, declararam, além do
mais, o seguinte:
“(…)
2ª – Objecto da presente convenção
Através da presente convenção, a C... cede ao Banco A… , a carteira
dos contratos assim como todos os direitos e deveres que dela
decorrem.
(…)
A lista de contratos, tal como está previsto no anexo I, objecto da
cessão, definida no dia 1 de Março de 2004, será transmitida à
cessionária o mais tardar a 12 de Abril de 2004 (…)
3ª – Garantias dos empréstimos cedidos
A C... declara ser proprietária plena dos créditos cedidos, que estes
não foram objecto de qualquer cessão, delegação, caução, penhora
ou outros, e que não se opõe à sua livre cessão em benefício do
Banco A…...
6ª – Execução da Cessão
A cessão será efectiva a partir de 1 de Abril de 2004.
(…)
8ª – Notificação da cessão aos clientes
A lista dos clientes cedidos encontra-se no anexo I do presente
contrato.
A C... declara ter solicitado o acordo referente à cessão dos clientes
que se encontra no anexo I. As cópias de cartas dos clientes que
recusaram esta cessão encontram-se no anexo III.”
Juntamente com a aludida fotocópia certificada do contrato de
cessão de créditos, o Exequente juntou uma fotocópia simples da
página 40 do Anexo I ao referido contrato (composto por 159
páginas no total), da qual não consta nem a identificação do
contrato celebrado entre a C... e os Executados, nem o valor do
crédito cedido: tudo quanto consta daquela página 40 do Anexo I é
o nome do Executado JOÃO, antecedido do nº “…” e seguido da
data “2000-04-03”.
Em 10/10/2006, o ora Agravante juntou também aos autos
fotocópia da minuta da carta tipo remetida, em 25 de Fevereiro de
2004, a todos os devedores clientes da “C….- BANCO DE C….. ,
S.A.”, da qual, porém, não consta o nome dos ora executados, ora
Agravados. No requerimento em que juntou tal documento, o
Exequente ora Agravante alegou tratar-se duma carta automática
emitida por um sistema informático composto por uma base de

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dados de todos os clientes discriminados no anexo composto por


159 páginas cuja cópia foi junta na mesma data.
Por despacho proferido em 20/11/2006, o tribunal “a quo”
convidou o Exequente ora Agravante a colmatar as omissões
resultantes, por um lado, do facto de a folha do anexo ao contrato
de cessão junta aos autos em 14/9/2006 não identificar o contrato
em causa nem o valor do crédito cedido – sendo certo que assim
não é possível apurar se está em causa o crédito titulado nestes
autos – e, por outro, da circunstância de a cópia da carta-minuta
junta em 10/10/2006 não demonstrar que foi enviada e recebida,
razão pela qual fica sem se saber se os executados tomaram
efectivamente conhecimento do contrato e o aceitaram.
Em 2/1/2007, o Exequente ora Agravante juntou finalmente uma
“Declaração” emitida pelo próprio Agravante, na qualidade de
cessionário, confirmando a celebração do contrato de cessão de
créditos, através do qual foi cedido o crédito peticionado na
execução, e indicando ainda o valor da dívida, à data da cessão.
Perante os elementos de índole documental sucessivamente juntos
aos autos pelo Exequente, é evidente que este não fez prova
bastante de que o crédito exequendo reconhecido na sentença
condenatória que constitui o título executivo está compreendido no
objecto da aludida “CONVENÇÃO DE CESSÃO DE
CONTRATOS DE CRÉDITO” concluída entre a “C… - BANCO
DE C…. , S.A.” e o ora Exequente e reduzido a escrito no
mencionado escrito particular, datado de 19.4.2004, que foi junto
aos autos em 14/9/2006.
Isto porque os escassos elementos constantes da listagem anexa ao
contrato de cessão de créditos, da qual foi junta aos autos uma
página (a pág. 40) – um nº enigmático (o nº “...”) que não se sabe a
que respeita e uma data (“2000-04-03”) que tão pouco se ignora a
que acontecimento se refere – não são suficientes para se poder dar
por adquirido que o crédito incluído nessa lista é o mesmo que foi
reconhecido à “C… – BANCO DE C….,S.A.” na sentença
condenatória dada à execução. Ademais, não consta sequer daquela
listagem nem o nome da outra devedora condenada na aludida
sentença e ora também demandada na presente execução
(FERNANDA), nem sequer o montante do crédito pecuniário
objecto da invocada cessão.
Acresce que o Exequente tão pouco fez prova bastante de que a
invocada cessão do crédito exequendo haja alguma vez sido levada
ao conhecimento dos devedores JOÃO e FERNANDA .
Efectivamente, aqueloutro documento junto aos autos pela
Exequente em 10/10/2006 - para, supostamente, comprovar o
cumprimento do disposto no art. 583º do Cód. Civil - constitui uma
simples fotocópia da minuta da carta tipo alegadamente remetida,
em 25 de Fevereiro de 2004, a todos os devedores clientes da “C…-
BANCO DE C…… , S.A.”, da qual, porém, não consta sequer o
nome dos Executados, ora Agravados – o que não comprova,
portanto, que tal carta haja sido efectivamente remetida aos

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devedores em causa nos autos e, ainda menos, que estes a tenham


recebido.
O Exequente, nem mesmo depois de expressamente convidado pelo
tribunal “a quo” (por despacho proferido em 20/11/2006) a suprir a
omissão resultante da circunstância de a cópia dessa carta-minuta
junta em 10/10/2006 não demonstrar que foi enviada aos ora
Executados e por estes recebida, forneceu tal prova, limitando-se a
juntar aos autos (em 2/1/2007) uma “DECLARAÇÂO” por ele
próprio emitida e subscrita, cujo valor probatório é,
evidentemente, nulo, porque emanada da própria parte onerada
com a prova dos factos que essa declaração atesta serem
verdadeiros.
Todavia – segundo o Exequente/Agravante -, a cessão de créditos
opera independentemente do consentimento do devedor e por mero
efeito do contrato (artigos 577º e 408º do Código Civil), implicando
a falta da notificação da cessão ao devedor somente a
impossibilidade de o cessionário se opor ao pagamento efectuado
pelo devedor ao cedente, mas não sendo essa comunicação requisito
sine qua non para a admissão da cessão de créditos que impeça a
transferência do direito de crédito do cedente para o cessionário.
Pelo que, ainda mesmo que, no caso em apreço, os devedores ora
executados não tivessem sido notificados da cessão do crédito
exequendo, do primitivo credor C…. – BANCO DE C…. , S.A.
para o ora Exequente/Agravante BANCO A….. , S.A., nunca essa
falta de notificação privaria este último de legitimidade para
instaurar a presente execução.
Quid juris ?
Desde que o art. 577º, nº 1, do Código Civil estipula que “O credor
pode ceder a terceiro uma parte ou a totalidade do crédito,
independentemente do consentimento do devedor, contanto que a
cessão não seja interdita por determinação da lei ou convenção das
partes e o crédito não esteja, pela própria natureza da prestação,
ligado à pessoa do credor ”, podemos definir a cessão de créditos
como o contrato pelo qual o credor transmite a terceiro,
independentemente do consentimento do devedor, a totalidade ou
uma parte do seu crédito.
«A nota mais destacada na noção legal da cessão de créditos (art.
577º) é a de a mudança de credor por ela operada prescindir do
consentimento do devedor»[38]. Resulta, efectivamente, desta
disposição «que a validade do contrato de cessão não está na
dependência de qualquer assentimento do devedor – o devedor não
precisa de saber nada da cessão (Abtregung) nem tão-pouco de
colaborar, para que ela se verifique, no que quer que seja»[39].
«As mais das vezes, a alteração na pessoa do credor não
prejudicará o devedor, que em quaisquer circunstâncias continuará
adstrito à necessidade de efectuar a mesma prestação»[40]. «Mas
nem sempre assim sucede»[41].
De todo o modo, o nosso legislador não deu, portanto, qualquer

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relevo a um eventual interesse do devedor em pagar a um


determinado credor[42]. O que é tanto mais significativo quanto é
certo que o legislador até permite uma cessão parcial (cit. art. 577º,
nº 1). «E, neste caso, a situação pode ser até mais gravosa que a de
há pouco para o devedor», já que, como é evidente, «não é
indiferente pagar dois créditos ou três ou mesmo quatro (!) ou
pagar apenas um»[43].
«Se, não obstante tal possibilidade, a lei prescinde do
consentimento do devedor, é porque, deliberadamente, se quis
sacrificar este eventual incómodo ou prejuízo do obrigado às
vantagens que a livre disposição do crédito proporciona, de um
modo geral, ao credor»[44].
«Ocorrida uma cessão de crédito opera, imediatamente, a
transferência do direito à prestação do cedente para o cessionário,
com todas as faculdades que lhe sejam inerentes»[45]. Portanto,
«em relação às partes, a cessão opera apenas por efeito do contrato,
determinando logo este a transmissão do crédito para o
cessionário»[46].
«No entanto, essa transmissão não é imediatamente oponível a
terceiros, uma vez que a lei dispõe que a cessão só produz os seus
efeitos em relação ao devedor após a sua notificação[47] [por parte
do cedente ou do cessionário, embora seja este o mais interessado
nela], aceitação[48] (art. 583º, nº 1) ou conhecimento[49] (art. 583º,
nº 2), sendo também a notificação ou aceitação pelo devedor que
decide qual a cessão que vai prevalecer em caso de dupla alienação
do mesmo crédito (art. 584º)»[50].
«Verifica-se assim uma diferenciação temporal na eficácia da
cessão de créditos que, em relação às partes, opera no momento da
celebração do contrato, mas em relação ao devedor ou a terceiros
só ocorre em momento posterior, quando o devedor é notificado da
cessão, a aceita, ou dela tem conhecimento»[51].
Dito isto, a maioria da doutrina portuguesa entende, de modo
praticamente consensual, que não é de aceitar a tese – propugnada
em Itália por MANCINI – segundo a qual «a eficácia translativa da
cessão só se verifica, quer em relação ao devedor e a terceiros, quer
em relação às próprias partes (cedente e cessionário), a partir do
momento em que a cessão é notificada ao devedor ou por ele aceite,
ou em que este tem conhecimento dela»[52]. Segundo este Autor,
«desde que a cessão não produz efeitos em relação ao devedor antes
da verificação de qualquer dos eventos apontados, seria um
manifesto contra-senso, atenta a posição-chave que o devedor
ocupa na estratégia da relação obrigacional, admitir a eficácia
translativa imediata da cessão nas relações entre cedente e
cessionário»[53].
Entre nós, tem-se dito que, «apesar do carácter sedutor desta
argumentação, ela não pode manifestamente proceder»[54].

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«Efectivamente, a tese que refere a perfeição do contrato apenas ao


momento da notificação, aceitação ou conhecimento pelo devedor é
manifestamente incompatível com a remissão do art. 578º [do Cód.
Civil] para o negócio que serve de base à cessão, uma vez que quer
na compra e venda (art. 879º, a)), quer na doação (art. 954º, a)) se
consagra a solução da transmissão do direito por mero efeito do
contrato»[55] [56].
«Após a sua celebração, é assim o cessionário o verdadeiro titular
do direito, podendo exercer perante o cedente as faculdades que a
ele correspondem, como, por exemplo, a entrega dos documentos
respeitantes ao crédito (art. 586º), da mesma forma que o cedente
pode, por sua vez, exigir-lhe que cumpra as suas obrigações»[57].
«O facto de se considerar oponível ao cessionário o pagamento feito
ao cedente pelo devedor, que não foi notificado da cessão, nem teve
conhecimento dela por outra via, não significa forçosamente que
seja o cedente quem continua na titularidade do crédito e na plena
disponibilidade dele»[58].
«É que se pode explicar a relevância da notificação (artº 583º) sem
destituir o contrato causal da produção imediata da cessão do
crédito»[59]. «Na verdade, pode dizer-se que o pagamento
liberatório ao cedente do devedor não notificado [da cessão] não é
porque o contrato não tenha produzido já a cessão»[60]. «Do que se
trata é apenas de proteger o pagamento feito ao credor
aparente»[61].
«A ineficácia do contrato em relação ao devedor ou terceiros
adquirentes constitui assim um mero limite à tutela do direito de
crédito, que não prejudica o facto de o cessionário passar logo a ser
perante o cedente o efectivo titular do direito transmitido»[62].
Tudo isto para concluir que, à face do nosso direito constituído, nas
relações entre as partes, o contrato de cessão de créditos produz
imediatamente o efeito translativo da titularidade do crédito,
independentemente da sua notificação ao devedor.
Daí que – contrariamente ao que foi entendido no despacho ora
recorrido – se tenha de entender que, no caso dos autos, a ausência
de prova bastante, por parte do aqui Exequente/Agravante, de que
a carta tipo alegadamente remetida, em 25 de Fevereiro de 2004, a
todos os devedores clientes da “C…. - BANCO DE C….. , S.A.”,
tenha sido efectivamente remetida aos devedores em causa nos
autos e haja sido por estes recebida, não priva de legitimidade o
cessionário ora Exequente.
Nesta linha, acompanharíamos o entendimento que tem
prevalecido, na jurisprudência, segundo o qual «a notificação da
cessão ao devedor constitui apenas uma condição de eficácia da
cessão perante si, nos termos do artigo 583º nº 1 do Código Civil»,
sendo que «o efeito substancial que se pretende obter com tal
notificação é o de tornar a cessão eficaz em relação ao devedor,
dando-lhe a conhecer a identidade do cessionário e evitando que o
cumprimento seja feito perante o primitivo credor»; de sorte que
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«tal desiderato é assegurado com a citação para a acção executiva,


momento a partir do qual o devedor fica ciente da existência da
cessão e inibido de invocar o seu desconhecimento, nos termos do
artº 583º nº 2, do Código Civil»[63]. Pelo que, «tendo o exequente
demonstrado a existência da cessão, tendo deduzido no
requerimento executivo os factos constitutivos da sucessão, tal
bastaria para assegurar o prosseguimento da execução, sendo
manifesta a sua legitimidade activa em face do disposto no artº 56º
nº 1 do Código de Processo Civil»[64].
De qualquer modo, no caso dos autos, a solução nunca poderia ser
a seguida no referido aresto porque, aqui – como vimos supra – o
Exequente ora Agravante não logrou sequer – como era seu ónus -
fazer prova documental bastante dos factos concretos por si
invocados no requerimento executivo, tendentes a demonstrar que
sucedeu na titularidade do crédito exequendo à “C…. - BANCO
DE C…. , S.A.”, já que não fez prova bastante de que o crédito
exequendo reconhecido na sentença condenatória que constitui o
título exequendo esteja compreendido no objecto da aludida
“CONVENÇÃO DE CESSÃO DE CONTRATOS DE CRÉDITO”
concluída entre a “C…. - BANCO DE C….. , S.A.” e o ora
Exequente e reduzida a escrito no mencionado escrito particular,
datado de 19.4.2004, que foi junto aos autos em 14/9/2006.
A esta luz, tem de concluir-se que o despacho recorrido não
merece, afinal, qualquer censura, ainda mesmo que esta Relação
não perfilhe o entendimento nele adoptado quanto à
indispensabilidade da prova, por parte do putativo cessionário do
crédito exequente, da notificação da cessão aos devedores.
Consequentemente, o agravo também improcede, quanto a esta 2ª
questão – o que torna discipienda (nos termos do art. 660º, nº 2, 1ª
parte, in fine, do CPC, aqui aplicável ex vi do art. 713º, nº 2, do
mesmo diploma) a apreciação da última e derradeira questão
suscitada pelo Exequente/Apelante nas conclusões da respectiva
alegação (a de saber se - contrariamente ao considerado pelo
Tribunal a quo - se encontra demonstrada nos próprios autos a
existência de uma aceitação tácita da cessão de créditos por parte
dos executados, ora Agravados, porquanto estes, apesar de citados
para se oporem, não apresentaram qualquer oposição à penhora ou
à execução).
*
DECISÃO
Acordam os juízes desta Relação em negar provimento ao presente
recurso de Agravo, confirmando integralmente a decisão recorrida.
Custas do Agravo a cargo do ora Agravante (art. 446º, nºs 1 e 2, do
CPC).

Lisboa, 15 de Março de 2011


Rui Torres Vouga
Maria do Rosário Barbosa
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Rosário Gonçalves
--------------------------------------------------------------------------------------
---
[1] Cfr., neste sentido, ALBERTO DOS REIS in “Código de
Processo Civil Anotado”, vol. V, págs. 362 e 363.
[2] Cfr., também neste sentido, os Acórdãos do STJ de 6/5/1987 (in
Tribuna da Justiça, nºs 32/33, p. 30), de 13/3/1991 (in Actualidade
Jurídica, nº 17, p. 3), de 12/12/1995 (in BMJ nº 452, p. 385) e de
14/4/1999 (in BMJ nº 486, p. 279).
[3] O que, na alegação (rectius, nas suas conclusões), o recorrente
não pode é ampliar o objecto do recurso anteriormente definido
(no requerimento de interposição de recurso).
[4] A restrição do objecto do recurso pode resultar do simples facto
de, nas conclusões, o recorrente impugnar apenas a solução dada a
uma determinada questão: cfr., neste sentido, ALBERTO DOS
REIS (in “Código de Processo Civil Anotado”, vol. V, págs. 308-309
e 363), CASTRO MENDES (in “Direito Processual Civil”, 3º, p. 65)
e RODRIGUES BASTOS (in “Notas ao Código de Processo Civil”,
vol. 3º, 1972, pp. 286 e 299).
[5] FERNANDO AMÂNCIO FERREIRA in “Manual dos
Recursos em Processo Civil”, 4ª ed., Abril de 2003, pp. 46-47.
[6] ANTUNES VARELA in “Manual de Processo Civil”, 2.ª ed.,
1985, pág. 687.
[7] Neste mesmo sentido, cfr. LEBRE DE FREITAS-
MONTALVÃO MACHADO-RUI PINTO in “Código de Processo
Civil Anotado”, vol. 2.°, 2001, pág. 669, e jurisprudência aí
referida.
[8] Cfr., igualmente no sentido de que «a falta de motivação
susceptível de integrar a nulidade de sentença é apenas a que se
reporta à falta absoluta de fundamentos quer estes respeitem aos
factos quer ao direito», FERNANDO AMÂNCIO FERREIRA in
“Manual…” cit., p. 48.
[9] Acórdão do STJ de 22/2/2011, proferido no Proc. nº 31/05 –
4TBVVD – B.G1.S1 e relatado pelo Conselheiro SEBASTIÃO
PÓVOAS, cujo texto integral pode ser acedido, via Internet, no
sítio www.dgsi.pt.
[10] Cit. Ac. do STJ de 22/2/2011.
[11] FERNANDO AMÂNCIO FERREIRA in “Manual…” cit., p.
48.
[12] In “Processo de Execução”, 3ª ed., vol. 1º, 1985, p. 219.
[13] ALBERTO DOS REIS, ibidem.
[14] ALBERTO DOS REIS, ibidem.
[15] ALBERTO DOS REIS, in ob. e vol. citt., p. 220.
[16] ALBERTO DOS REIS, ibidem.
[17] MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA in “Acção Executiva

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Singular”, 1998, p. 136.


[18] MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, ibidem.
[19] MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, ibidem.
[20] REMÉDIO MARQUES in “Curso de Processo Executivo
Comum à Face do Código Revisto”, 2000, p. 111.
[21] MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, ibidem.
[22] MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, ibidem.
[23] Cfr., neste sentido, EURICO LOPES CARDOSO in “Manual
da Acção Executiva”, 1987, p. 120.
[24] EURICO LOPES CARDOSO, ibidem.
[25] LEBRE DE FREITAS-JOÃO REDINHA-RUI PINTO in
“Código de Processo Civil Anotado”, vol. 1.°, 2ª ed., 2008, p. 118.
[26] LEBRE DE FREITAS-JOÃO REDINHA-RUI PINTO, ibidem.
[27] In “Manual da Acção Executiva” cit., p. 121.
[28] In “Curso de Processo de Execução”, 7ª ed., Abril de 2004, p.
58.
[29] In “A Acção Executiva Depois da Reforma”, 4ª ed., 2004, p.
123 e também in “Código de Processo Civil Anotado”, vol. 1.°, cit.,
p. 119.
[30] Ac. da Rel. do Porto de 20/1/2009, proferido no Proc. nº
0827648 e relatado pelo Desembargador PINTO DOS SANTOS,
cujo texto integral pode ser acedido, via Internet, no sítio
www.dgsi.pt.
[31] Cfr., também no sentido de que, «da sucessão no direito do
credor constante do título executivo, em via de sub-rogação,
invocada no requerimento executivo em sede de legitimação, não
carece de ser feita prova liminar ou complementar do título
executivo, sem prejuízo de o executado (só) em embargos poder vir
a tomar posição sobre a questão», o Ac. da Rel. de Lisboa de
22/1/2004 (Proc. nº 8923/2003-2; Relator – EZAGUY MARTINS),
cujo texto integral pode ser acedido, via Internet, no sítio
www.dgsi.pt.
[32] Cfr., igualmente no sentido de que «se o executado não
impugnar, em embargos, a alegação feita pelo exequente, no
requerimento inicial, de que houve sucessão no direito ou na
obrigação, a questão da legitimidade fica encerrada», o Ac. do
S.T.J. de 10/1/984 (publicado in BMJ nº 333, p. 357).
[33] In “A Acção Executiva Depois da Reforma” cit., p. 123, nota 4.
[34] Cfr., também no sentido de que «a sucessão [no direito ou na
obrigação] tem de ser provada», GERMANO MARQUES DA
SILVA in “Curso de Processo Civil Executivo (Acção Executiva
Singular, Comum e Especial)”, Lisboa, 1995, p. 34.
[35] Ibidem.
[36] É certo que GERMANO MARQUES DA SILVA vai ainda
mais longe e considera – tal como ANSELMO DE CASTRO (in “A
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Acção Executiva Singular, Comum e Especial”, 3ª ed., 1977, p. 80) -


ser «de exigir que o acto de transmissão [do crédito ou da
obrigação exequendos] conste de documento com o valor de título
executivo». Neste ponto, porém, acompanhamos o entendimento
sustentado por REMÉDIO MARQUES (in “Curso…” cit., p. 112),
segundo o qual «bastará que se exija a certeza, a exigibilidade e a
liquidez da obrigação cedida, posto que sem isso ocorre uma
alteração do conteúdo da obrigação, o que desvirtuará o próprio
negócio de transmissão».
[37] LEBRE DE FREITAS, ibidem.
[38] ANTUNES VARELA in “Das Obrigações em geral”, vol. II, 7ª
ed., 1997, p. 296.
[39] JORGE RIBEIRO DE FARIA in “Direito das Obrigações”,
Vol. II, Agosto de 1990, p. 501.
[40] ANTUNES VARELA, ibidem.
[41] ANTUNES VARELA, ibidem.
[42] JORGE RIBEIRO DE FARIA in “Direito das Obrigações”
cit., Vol. II cit., p. 503.
[43] JORGE RIBEIRO DE FARIA in ob. e vol. citt., pp. 503-504.
[44] ANTUNES VARELA, ibidem.
[45] ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO in “Direito das
Obrigações”, 2º Vol., Agosto de 1980, p. 95.
[46] LUÍS MENEZES LEITÃO in “Direito das Obrigações”, Vol.
II, 2ª ed., Fevereiro de 2003, p. 23.
[47] A qual se permite que seja feita judicial ou extrajudicialmente
(art. 583º, nº 1, do Cód. Civil).
[48] «A notificação e a aceitação não estão sujeitas a forma especial
(cfr. art. 219º), podendo inclusivamente a aceitação ser efectuada
tacitamente (art. 217º), como acontecerá no caso de o devedor
combinar com o cessionário qualquer alteração na obrigação
(lugar e tempo do cumprimento, garantias, etc.)» (LUÍS
MENEZES LEITÃO in ob. e vol. citt., pp. 28-29).
[49] «Em suma: se o devedor por qualquer via ou jeito tiver
conhecimento da cessão (o desconhecimento presume-se, não tendo
havido a notificação ou manifestação da aceitação, artº 583º, 2),
não poderá mais pagar ao cedente» (JORGE RIBEIRO DE FARIA
in ob. e vol. citt., p. 527). «Ou, se pagar, não há, para ele, a extinção
da obrigação» (JORGE RIBEIRO DE FARIA ibidem). «O que
quer dizer que o devedor, num caso desses, terá que pagar de novo
ao cessionário, embora lhe fique livre a via de pedir ao cedente a
restituição do pagamento feito (restituição do indevido)» (JORGE
RIBEIRO DE FARIA ibidem).
[50] LUÍS MENEZES LEITÃO, ibidem.
[51] LUÍS MENEZES LEITÃO, ibidem.
[52] ANTUNES VARELA in ob. e vol. citt., p. 312.

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[53] ANTUNES VARELA, ibidem.


[54] LUÍS MENEZES LEITÃO in ob. e vol. citt., p. 24.
[55] LUÍS MENEZES LEITÃO, ibidem.
[56] Também para ANTUNES VARELA (in ob. e vol. citt., p. 313),
«nenhuma razão existe, nem sequer de texto, nas relações entre as
partes (cedente e cessionário), para que na cessão não vigore o
princípio da eficácia imediata das convenções negociais (cfr.,
especialmente, o disposto no art. 408º, 1)».
[57] LUÍS MENEZES LEITÃO, ibidem.
[58] ANTUNES VARELA in ob. e vol. citt., p. 314.
[59] JORGE RIBEIRO DE FARIA in ob. e vol. citt., p. 519.
[60] JORGE RIBEIRO DE FARIA, ibidem.
[61] JORGE RIBEIRO DE FARIA, ibidem.
[62] LUÍS MENEZES LEITÃO, ibidem.
[63] Ac. da Rel. de Lisboa de 8/10/2009 (Proc nº
681/03.3YYLSB.L1-8; Relator: ILÍDIO SACARRÃO MARTINS),
cujo texto integral pode ser acedido, via Internet, no sítio
www.dgsi.pt.
[64] Ibidem.

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