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… , aqui Agravados.
D) O ora Agravante mencionou, no quadro destinado ao
preenchimento dos dados do exequente, a celebração de um contrato
de crédito entre o autor que figura no título executivo e o ora
Agravante, de modo a justificar a discrepância entre o exequente e o
credor que figura no título executivo.
E) O Tribunal a quo notificou o ora Agravante para provar a
existência do contrato de cessão de crédito, bem como para
demonstrar o cumprimento do disposto no artigo 583º do Código
Civil.
F) O ora Agravante apresentou nos autos de execução fotocópia
certificada do contrato de cessão de crédito, bem como a respectiva
tradução, acompanhados ainda por fotocópia simples da página 40
do Anexo I composto por 159 páginas no total, no qual consta a
identificação do contrato celebrado com os executados e fundamento
da dívida exequenda.
G) Juntou também aos autos fotocópia da minuta da carta remetida a
todos os devedores em 25 de Fevereiro de 2004, nos quais os
executados, ora Agravados se encontram englobados.
H) Por fim, juntou ainda uma declaração emitida pelo ora
Agravante, na qualidade de cessionário, no sentido da confirmação
da celebração do contrato de cessão de créditos, através do qual foi
cedido o crédito peticionado na execução, indicando ainda o valor da
dívida, à data da cessão.
I) Não obstante, o Tribunal a quo entendeu que os documentos juntos
não eram suficientes para demonstrar a existência da cessão do
crédito invocada pelo exequente, agora Agravante e, em
consequência, julgou-o parte ilegítima, absolvendo os executados da
instância executiva e rejeitando a execução proposta.
J) Ora, esta decisão não pode ser aceite pelo ora Agravante uma vez
que é injusta e afasta-se do regime legal previsto para a cessão de
créditos.
K) Em primeiro lugar, o Tribunal a quo não apresenta qualquer
fundamento para rejeitar os documentos apresentados pelo ora
Agravante, apenas concluindo que:”não estar provada a alegada
cessão de créditos, ou, pelo menos, que ela produziu efeitos em
relação aos executados.”
L) Assim, considera-se que tal decisão padece de um vício de
nulidade, de acordo com o disposto no artigo 668º n.º 1 alínea b) do
C.P.C., desrespeitando o disposto no artigo 659º ex vi artigo 666º n.º 3
ambos do citado diploma legal e com o determinado nos artigos 347º,
376º, 408º e 577º todos do C.C.
M) Inversamente, mesmo que se considere que o Tribunal a quo
cumpriu o seu dever de fundamentação, ao refutar liminarmente a
prova apresentada pelo ora Agravante, certo é que os argumentos
esgrimidos carecem de fundamento legal.
N) Com efeito, o julgador funda o seu despacho de rejeição da
execução na ilegitimidade do exequente, em virtude do mesmo não
ter provado, não só a cessão de créditos, como sobretudo o
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06/12/2019 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa
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contrato.
A C... declara ter solicitado o acordo referente à cessão dos clientes
que se encontra no anexo I. As cópias de cartas dos clientes que
recusaram esta cessão encontram-se no anexo III.
III – Fundamentos de direito
Nos termos do art. 45º, nº 1, do CPC, é pelo título que se determinam
o fim e os limites da acção executiva.
Por outro lado, de harmonia com o disposto no art. 55º, nº 1, do CPC,
a execução tem de ser promovida pela pessoa que no título figures
como credor e deve ser instaurada contra a pessoa que no título tenha
a posição de devedor.
Trata-se, como é bem de ver, de uma regra de legitimidade; logo, o
preceito versa sobre questão diversa da de saber quem é o credor e
quem é o devedor. É o que impressivamente salienta Alberto dos Reis:
«o texto não diz que é parte legítima como exequente o credor, e como
executado o devedor; não diz e não devia dizer, sob pena de confundir
a questão da legitimidade com a procedência. É que o exequente e o
executado podem ser partes legítimas, apesar de não serem credor e
devedor» - Comentário, vol. I, p. 90.
No caso dos autos, verificando-se que a exequente baseia a execução
numa sentença, é sem hesitações que se proclama que a questão da
legitimidade deve ser equacionada à luz do que se dispõe no art. 56º,
nº 1 do CPC, cuja redacção é a seguinte: « Tendo havido sucessão no
direito ou na obrigação, deve a execução correr entre os sucessores
das pessoas que no título figuram como credor ou devedor da
obrigação exequenda. No próprio requerimento para a execução
deduzirá o exequente os factos constitutivos da sucessão».
Deste modo, diz-se que, de acordo com aquele preceito legal, fica
assegurada a legitimidade do exequente se este deduzir no
requerimento executivo os factos constitutivos da sucessão nos
direitos incorporados no título dado à execução.
In casu, verificando-se que da sentença em questão não consta o
nome da exequente como Autora da acção, há-de ter-se em conta a
circunstância de a exequente ter deduzido os factos constitutivos da
habilitação como sucessora na titularidade do crédito, pela
transmissão do crédito, nomeadamente através da alegação de que
celebrou um contrato de cessão de créditos.
Efectivamente, e como é sabido, um crédito pode ser transmitido por
acto entre vivos – cessão ordinária de créditos, sendo que a plena
eficácia da cessão está dependente da notificação ao devedor.
Mas, dito isto, o que neste caso avulta é a circunstância de, em nosso
entender, não estar provada a alegada cessão de créditos ou, pelo
menos, que ela produziu efeitos em relação aos executados.
Atentemos então, mais em detalhe, na questão agora enunciada.
Conforme se dispõe no art. 583º, nº 1 do CC, a cessão de créditos
produz efeitos relativamente ao devedor contanto que lhe seja
notificada, ainda que extrajudicialmente, ou desde que ele a aceite.
Nos termos do nº 2 daquele artigo, prevê-se o caso de, antes da
notificação ou aceitação, o devedor pagar ao cedente ou celebrar com
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CPC).
IV. Decisão
Pelo exposto, julgando a exequente parte ilegítima, rejeito a presente
execução.
Custas pela exequente.
Registe.
Notifique, sendo-o também o Sr. Solicitador de Execução, para cessar
quaisquer penhoras.”.
*
O OBJECTO DO RECURSO
Como se sabe, sem embargo das questões de que o tribunal ad
quem possa ou deva conhecer ex officio, é pelas conclusões com que
o recorrente remata a sua alegação (aí indicando, de forma
sintéctica, os fundamentos por que pede a alteração ou anulação da
decisão recorrida: art. 690º, nº 1, do C.P.C.) que se determina o
âmbito de intervenção do tribunal ad quem [1] [2].
Efectivamente, muito embora, na falta de especificação logo no
requerimento de interposição, o recurso abranja tudo o que na
parte dispositiva da sentença for desfavorável ao recorrente (art.
684º, nº 2, do C.P.C.), esse objecto, assim delimitado, pode vir a ser
restringido (expressa ou tacitamente) nas conclusões da alegação
(nº 3 do mesmo art. 684º)[3] [4]. Por isso, todas as questões de
mérito que tenham sido objecto de julgamento na sentença
recorrida e que não sejam abordadas nas conclusões da alegação
do recorrente, mostrando-se objectiva e materialmente excluídas
dessas conclusões, têm de se considerar decididas e arrumadas, não
podendo delas conhecer o tribunal de recurso.
Por outro lado, como meio impugnatório de decisões judiciais, o
recurso visa tão só suscitar a reapreciação do decidido, não
comportando, assim, ius novarum, i.é., a criação de decisão sobre
matéria nova não submetida à apreciação do tribunal a quo.
Ademais, também o tribunal de recurso não está adstrito à
apreciação de todos os argumentos produzidos em alegação, mas
apenas – e com liberdade no respeitante à indagação, interpretação
e aplicação das regras de direito (art. 664º, 1ª parte, do C.P.C.,
aplicável ex vi do art. 713º, nº 2, do mesmo diploma) – de todas as
“questões” suscitadas, e que, por respeitarem aos elementos da
causa, definidos em função das pretensões e causa de pedir
aduzidas, se configurem como relevantes para conhecimento do
respectivo objecto, exceptuadas as que resultem prejudicadas pela
solução dada a outras (art. 660º, nº 2, do C.P.C., ex vi do cit. art.
713º, nº 2).
No caso sub judice, emerge das conclusões da alegação de recurso
apresentada pelo Exequente ora Agravante que o objecto do
presente recurso está circunscrito a 3 (três) questões:
1) Se o despacho recorrido padece da nulidade prevista na al. b) do
nº 1 do Art. 668º do CPC (falta de fundamentação), por não
apresentar qualquer fundamento para rejeitar os documentos
apresentados pelo ora Agravante, apenas concluindo “não estar
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Rosário Gonçalves
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[1] Cfr., neste sentido, ALBERTO DOS REIS in “Código de
Processo Civil Anotado”, vol. V, págs. 362 e 363.
[2] Cfr., também neste sentido, os Acórdãos do STJ de 6/5/1987 (in
Tribuna da Justiça, nºs 32/33, p. 30), de 13/3/1991 (in Actualidade
Jurídica, nº 17, p. 3), de 12/12/1995 (in BMJ nº 452, p. 385) e de
14/4/1999 (in BMJ nº 486, p. 279).
[3] O que, na alegação (rectius, nas suas conclusões), o recorrente
não pode é ampliar o objecto do recurso anteriormente definido
(no requerimento de interposição de recurso).
[4] A restrição do objecto do recurso pode resultar do simples facto
de, nas conclusões, o recorrente impugnar apenas a solução dada a
uma determinada questão: cfr., neste sentido, ALBERTO DOS
REIS (in “Código de Processo Civil Anotado”, vol. V, págs. 308-309
e 363), CASTRO MENDES (in “Direito Processual Civil”, 3º, p. 65)
e RODRIGUES BASTOS (in “Notas ao Código de Processo Civil”,
vol. 3º, 1972, pp. 286 e 299).
[5] FERNANDO AMÂNCIO FERREIRA in “Manual dos
Recursos em Processo Civil”, 4ª ed., Abril de 2003, pp. 46-47.
[6] ANTUNES VARELA in “Manual de Processo Civil”, 2.ª ed.,
1985, pág. 687.
[7] Neste mesmo sentido, cfr. LEBRE DE FREITAS-
MONTALVÃO MACHADO-RUI PINTO in “Código de Processo
Civil Anotado”, vol. 2.°, 2001, pág. 669, e jurisprudência aí
referida.
[8] Cfr., igualmente no sentido de que «a falta de motivação
susceptível de integrar a nulidade de sentença é apenas a que se
reporta à falta absoluta de fundamentos quer estes respeitem aos
factos quer ao direito», FERNANDO AMÂNCIO FERREIRA in
“Manual…” cit., p. 48.
[9] Acórdão do STJ de 22/2/2011, proferido no Proc. nº 31/05 –
4TBVVD – B.G1.S1 e relatado pelo Conselheiro SEBASTIÃO
PÓVOAS, cujo texto integral pode ser acedido, via Internet, no
sítio www.dgsi.pt.
[10] Cit. Ac. do STJ de 22/2/2011.
[11] FERNANDO AMÂNCIO FERREIRA in “Manual…” cit., p.
48.
[12] In “Processo de Execução”, 3ª ed., vol. 1º, 1985, p. 219.
[13] ALBERTO DOS REIS, ibidem.
[14] ALBERTO DOS REIS, ibidem.
[15] ALBERTO DOS REIS, in ob. e vol. citt., p. 220.
[16] ALBERTO DOS REIS, ibidem.
[17] MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA in “Acção Executiva
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