“Além dos muros”: uma revisão das pesquisas sociológicas sobre a
psiquiatria contemporânea extra-asilar
Nesta comunicação apresento um mapeamento da produção sociológica brasileira referente à atuação da psiquiatria em suas dimensões biológica e extra-asilar no contexto pós Reforma Psiquiátrica (2001). Para alcançar esse objetivo empreendi em 2018 uma pesquisa no site do Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e no site do banco de artigos e periódicos Scielo. Essas duas bases digitais foram selecionadas em virtude de suas representatividades na divulgação da produção acadêmica e pela abrangência de trabalhos científicos nelas depositados. No catálogo da CAPES fiz uma busca detalhada pelos descritores “medicalização”, “psiquiatrização”, “psiquiatria” e “psicofármaco” nas áreas de conhecimento “Sociologia”, “Outras sociologias específicas”, “Antropologia” e “Ciência Política”. Já na base Scielo realizei uma pesquisa através da opção “busca avançada” para cada um dos termos anteriormente mencionados em “Sociologia”, “Antropologia” e “Ciência Política”. Os descritores “medicalização”, “psiquiatrização” e “psicofármaco” referem-se, respectivamente, ao conceito desenvolvido nas Ciências Sociais para exame do desenvolvimento e avanço da medicina moderna sobre diferentes âmbitos do social, à noção utilizada para análise dos processos atuais de medicalização do social capitaneados pela psiquiatria e, por fim, à principal tecnologia da psiquiatria contemporânea. Nos resultados trazidos por essas buscas observa-se que os trabalhos que abordam a psiquiatria biológica em sua atuação extra-asilar concentram-se em Sociologia e emergem a partir de 2007. Dessa forma, ocupo-me dos estudos elencados nessas bases de dados que se situam entre 2007 e 2018. Num segundo momento, após a leitura dessas pesquisas selecionadas como unidades de análise, fiz uma busca por outros trabalhos (papers, artigos, comunicações) no currículo Lattes dos autores dos trabalhos examinados. A partir da análise da questão principal tratada em cada estudo, cataloguei-os em seis principais grupos temáticos para discussão: a) lutas antipsiquiátricas e a Reforma Psiquiátrica no Brasil; b) desenvolvimento e consolidação das neurociências e seus efeitos nas práticas psiquiátricas; c) as últimas edições do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) – produzidas pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) – e a emergência de novas categorias diagnósticas de transtornos mentais; d) a psiquiatrização contemporânea da infância e da escola; e) as interfaces atuais de psiquiatrização do crime e dos desvios; f) o uso de psicofármacos e seus efeitos políticos e subjetivos. Por fim, elenco possíveis pontos a serem aprofundados, reinterpretados e reproblematizados na produção sociológica brasileira contemporânea sobre a psiquiatria (em especial, em relação às funções políticas que se podem depreender do uso generalizado de psicofármacos na atualidade).