Sie sind auf Seite 1von 68

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR E DA MATÉRIA ....... 5


A CRIANÇA COMO SUJEITO DE DIREITOS ...................... 7
PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO
INFANTIL NO BRASIL ............................................................. 20
A DOCÊNCIA COMPARTILHADA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL..................................................................................... 25
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA
EDUCAÇÃO INFANTIL (2009). ............................................ 27
DIRETRIZES EDUCACIONAIS PEDAGÓGICA PARA
EDUCAÇÃO INFANTIL DA PREFEITURA MUNICIPAL
DE FLORIANÓPOLIS (2010). ................................................ 29
PROPOSTA DE ORGANIZAÇÃO DO PROJETO
POLÍTICO PEDAGÓGICO. ..................................................... 34
ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA EDUCAÇÃO
INFANTIL DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE
FLORIANÓPOLIS (2012). ....................................................... 35
CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO INFANTIL DA REDE
MUNICIPAL DE ENSINO DE FLORIANÓPOLIS (2015).
........................................................................................................ 36
NÚCLEO DE AÇÃO PEDAGÓGICA: NÚCLEO DE AÇÃO
PEDAGÓGICA: NÚCLEO DE AÇÃO PEDAGÓGICA:
RELAÇÕES SOCIAIS E CULTURAIS RELAÇÕES SOCIAIS
E CULTURAIS. ............................................................................ 38
RESOLUÇÃO Nº1/2017 DO CONSELHO MUNICIPAL
DE EDUCAÇÃO DE FLORIANÓPOLIS. (RESUMIDA) .... 48
MATRIZ CURRICULAR PARA EDUCAÇÃO DAS
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA EDUCAÇÃO BÁSICA
(2016). .......................................................................................... 50

3
::: essencialconcursos.com.br :::
4
::: essencialconcursos.com.br :::
APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR E DA MATÉRIA

Olá, Concursando(a)! Tudo bem?

Sou o Prof. Pércio Tarso da Luz, graduado em Geografia pela UFSC, com especialização em Educação pela UNISUL; Teologia pela
PUC-RS, Pedagogo e professor há 23 anos na Rede Privada e Pública de Ensino, formador de Professores da Rede Estadual de

Educação e SME de São José-SC, graduando em Serviço Social, desde 2016 professor cursista voltado para os Concursos

Públicos para o quadro do Magistério em Santa Catarina e no Paraná. Formador e participante da Construção do documento
BNCC – para o Território Catarinense na área da Geografia e especialista em Administração, Orientação e Supervisão Escolar

pela UNIASSELVI.

A criança como sujeito de direitos; As especificidades da docência na Educação Infantil; A organização do tempo e

espaço na Educação Infantil; As estratégias da ação pedagógica (observação, planejamento, registro, avaliação); Relação creche-

família; A brincadeira e a interação como eixos centrais da educação infantil; A docência compartilhada na educação infantil;
Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (2009); Diretrizes educacionais pedagógicas para a Educação

Infantil da Prefeitura Municipal de Florianópolis (2010); Orientações Curriculares para Educação Infantil da Rede Municipal de

Ensino de Florianópolis (2012); Currículo da Educação Infantil da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis (2015);
Resolução nº1/2017 do Conselho Municipal de Educação de Florianópolis; Matriz Curricular para Educação das Relações

Étnico-Raciais na Educação Básica (2016)

5
::: essencialconcursos.com.br :::
6
::: essencialconcursos.com.br :::
A CRIANÇA COMO SUJEITO DE DIREITOS saúde, educação, segurança social, cuidados físicos, vida
A história dos direitos das crianças se encontra vinculada à familiar, recreio e cultura; Direitos relativos à proteção –
história dos direitos do homem. Sua origem está pautada onde são identificados os direitos da criança a ser
nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade que protegida contra a discriminação, abuso físico e sexual,
se propagaram com as correntes filosóficas da Revolução exploração, injustiça e conflito; Direitos relativos à
Francesa (1789-1799). Assim, compreender as tensões, participação – onde são identificados os direitos civis e
debates e embates que caracterizam as relações entre políticos, ou seja, aqueles que abarcam o direito da criança
modernidade e contemporaneidade é fundamental, pois, ao nome e identidade, o direito à liberdade de expressão e
como escreveu Cambi (1999), com a modernidade mudam- opinião e o direito a tomar decisões em seu proveito
se os fins e os meios da educação. (HAMMAERBERG, 1990 apud SOARES, 1997, p.82, grifos no
Desde sua iniciativa precursora na luta social e política original).
pelos direitos das crianças, Janusz Korczak (1878-1942), Na atual Constituição Federal Brasileira, há o
considera a infância como os "longos e importantes anos reconhecimento e a necessidade de proteção à infância, o
na vida de um homem" (KORCZAK, 1984, p. 45) e sob uma direito de atendimento em creches e pré-escolas às
conjuntura profundamente adversa, Korczak (1981) ousou crianças, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
afirmar que a criança tem o direito de ser o que ela é e que educação, ao lazer, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
o seu indiscutível e primeiro direito é aquele que permite liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
que expresse suas ideias livremente. Pautado no direito ao proteção de toda forma de negligência, discriminação,
respeito à criança, seu princípio norteador era de que os exploração, violência, crueldade e opressão.
adultos não deveriam se sobressair em relação às crianças e O reconhecimento da criança como sujeito de direitos em
sim, sempre levar muito a sério suas opiniões, sugestões e uma lei específica se constituiu a partir de muitos anos de
seu ponto de vista. luta, de debates e embates pelos movimentos sociais, em
São muitos os desafios para que os direitos das crianças, no fóruns, congressos e discussões para que a criança tivesse
âmbito internacional e nacional, proclamados, seus direitos assegurados pelo Estado. Contudo, a
respectivamente, pela: Declaração de Genebra (1924), conquista efetiva dos direitos das crianças só se dará em
Declaração dos Direitos da Criança (1959), Convenção articulação com questões mais amplas, relacionadas às
Internacional sobre os Direitos da Criança (1989), transformações políticas, culturais e econômicas da
Constituição Federal Brasileira (1988), Estatuto da Criança e sociedade, podendo-se afirmar que os direitos das crianças
do Adolescente (1990) e Lei 11.525 (2007), realmente sejam ainda permanecem mais no papel do que na prática. Tal
efetivados, a fim de garantir à criança os seus direitos e sua afirmação põe em evidência a luta por uma infância onde
prioridade absoluta. Destes, a Convenção Internacional as crianças sejam respeitadas em suas múltiplas dimensões,
sobre os Direitos da Criança (1989), leva à consolidação de como sujeitos históricos e de direitos. Esta discussão
uma nova doutrina: a da proteção integral da criança, que perpassa pela concepção de criança, de infância, de escola
foi incorporada, no ano seguinte, pelo Brasil, por meio do e de sociedade, assim como, de ética e de respeito, pois,
Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). O sem ter consciência desses conceitos, será difícil
reconhecimento da condição da criança como sujeito de compreender a constituição da formação humana, e em
direitos é um fato recente na história mundial e local, por particular, as especificidades do desenvolvimento e
isso, ressaltamos a importância histórica dessa luta social e formação da criança.
política para compreendermos os entraves que dificultam a É importante ressaltar que desde a Declaração Universal
sua realização. dos Direitos da Criança, em 1959, a criança passa a ser
considerada sujeito de direitos. No entanto, o
A LEI 11.525 (de 25 de setembro de levantamento realizado neste estudo demonstrou que nem
2007). a citada Declaração, nem o Ano Internacional da Criança
Acrescenta § 5º ao art. 32 da Lei no (1979) e nem a promulgação do Estatuto da Criança e do
9.394, de 20 de dezembro de 1996, para incluir conteúdo Adolescente (1990) foram suficientes para impactar a
que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes no produção acadêmica sobre a criança como sujeito de
currículo do ensino fundamental. direitos.
o o
Art. 1 O art. 32 da Lei n 9.394, de 20 de dezembro de
o
1996, passa a vigorar acrescido do seguinte § 5 : AS REPRESENTAÇÕES DA CRIANÇA COMO SUJEITO DE
o
“Art. 32 § 5 O currículo do ensino fundamental incluirá, DIREITOS
obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das A recorrente abordagem do tema sobre a criança como
crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei sujeito de direitos, não emerge descontextualizada, mas
o
n 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da ligada a conjuntura social, política e histórica.
Criança e do Adolescente, observada a produção e Reconhecemos que a legitimação da criança como sujeito
distribuição de material didático adequado.” de direitos é precursora de um importante
aprofundamento sobre o sentido e significado dessa
De acordo Hammaerberg (1990) os artigos da Convenção definição que, por mais superficial e retórica que sua
Internacional sobre os Direitos das Crianças, estão veiculação aparente ser, foi fundamental para iniciar a
estruturados em três importantes categorias: provisão, discussão sobre a criança como sujeito de direitos.
proteção e participação (Três Ps) que merecem destaque: Legalmente tais deveres atribuídos oralmente às crianças
Direitos relativos à provisão – onde são reconhecidos os não estão escritos em nenhum documento, mas são
direitos sociais da criança, relativamente à salvaguarda da colocados de diferentes maneiras, especialmente nos livros
7
::: essencialconcursos.com.br :::
infantis, como por exemplo: escola é lugar de estudar; promovendo novas formas de relacionamento com as
respeitar seus professores; escutar e compreender os crianças e estas com o seu redor.
outros; respeitar a família; cumprir as normas de higiene: A partir desse entendimento, identifica-se que o mais
tomar banho, escovar os dentes, dormir cedo; cumprir as recorrente referencial teórico e metodológico utilizado nas
normas de organização e colaboração: guardar os pesquisas levantadas sobre criança como sujeito de direitos
brinquedos, arrumar o quarto, entre outras. Isso demonstra é o da Sociologia da Infância, especialmente nas
que há uma compreensão deturpada entre direitos e pesquisas que buscam ouvir a criança em diferentes
deveres que parecem mais estar associados a atribuições contextos educativos: educação infantil, anos iniciais do
educativas e a processos formativos das crianças. ensino fundamental e abrigos para crianças. Trata-se de um
Todos nós somos sujeitos de direitos pela garantia da lei e novo paradigma e perspectiva investigativa, na qual as
os adultos, também têm deveres perante essa mesma lei, crianças passam a ser compreendidas como atores sociais,
essa questão sobre os “direitos e deveres” das crianças aprendizes e produtoras de cultura. Percebe-se, também, a
perpassa pela compreensão e diferenciação da condição intenção dos pesquisadores em confrontar o conjunto de
social da criança. O que se percebe é que os direitos estão direitos das crianças (documentos mandatários) com a
fortemente associados à questão dos deveres, tanto na realidade vivida nos diferentes contextos educativos.
produção acadêmica, como nos livros infantis e na Ressalta-se que os direitos das crianças estão longe de se
realidade escolar. Logo, essas questões são muito efetivarem na realidade, a partir de questões como: o
frequentes não só na escola, mas em todos os âmbitos reconhecimento da criança como sujeito de direitos está
sociais quando se procura discutir os direitos das crianças: continuamente tensionado por seus praticantes
“criança só tem direitos, não tem deveres? ” (professores e adultos das instituições); há um nó
conceitual referente à essa concepção correspondente à
Os “direitos e deveres” das crianças negação ao direito de participação política; a presença da
perpassa pela compreensão e concepção de criança como um vir a ser e, em função disto,
diferenciação da condição social a vigência da legislação com preponderância para proteção
da criança. desse “incapaz”. Além disso, os pesquisadores apontam
que a existência de precárias condições de trabalho nas
É interessante observar que a obrigatoriedade em lei do instituições averiguadas, carecendo de investimento
conteúdo que trata dos direitos das crianças e dos público efetivo e de políticas públicas articuladas.
adolescentes (Lei 11.525/ 2007) foi instituída pós ampliação
do ensino fundamental para nove anos (Lei 11.274/ 2006), Referencial Teórico e Metodológico
redimensionando tanto os tempos dos anos iniciais do - Sociologia da Infância, buscam
ensino fundamental quanto os da educação Infantil. Com ouvir a criança em diferentes
esse redimensionamento, a infância passou a ser contextos educativos: educação infantil, anos iniciais do
considerada, ao menos nos documentos oficiais, a partir da ensino fundamental.
inclusão da criança de seis anos na escola. O documento Trata-se de um novo paradigma e perspectiva investigativa,
intitulado Ensino Fundamental de Nove Anos: Orientações na qual as crianças passam a ser compreendidas como
para a inclusão da criança de seis anos de idade é um atores sociais, aprendizes e produtoras de cultura.
exemplo desse movimento. Este documento foi oferecido
às escolas no intuito de subsidiar o debate sobre a temática Um dos aspectos a considerar é a questão do direito à
apresentada, sendo composto entre outros, pelos seguintes educação, especialmente no âmbito da educação infantil. O
capítulos: A infância e sua singularidade; A infância na artigo 29 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
escola e na vida: uma relação fundamental; O brincar como aponta o acesso à educação infantil como um direito da
um modo de ser e estar no mundo; As diversas expressões criança, sendo esta a primeira etapa da educação básica e
e o desenvolvimento da criança na escola. que “tem como finalidade o desenvolvimento integral da
criança até seis anos de idade, em seus aspectos físicos,
A obrigatoriedade em lei do conteúdo psicológicos, intelectual e social, complementando a ação
que trata dos direitos das crianças e da família e da comunidade” (BRASIL, 1996).
dos adolescentes (Lei 11.525/ 2007) A discussão do direito à educação básica vem se
foi instituída pós ampliação do estendendo desde o final do século passado, seja pelo
ensino fundamental para nove anos (Lei 11.274/ 2006), acesso ao ensino fundamental e, mais recentemente, à
redimensionando tanto os tempos dos anos iniciais do educação infantil, afirmando que acesso e permanência na
ensino fundamental quanto os da educação Infantil. escola são direitos de todas as crianças, sobretudo,
quando pensamos que esses espaços são, ou deveriam ser,
A concepção de criança e de infância dos adultos lugares privilegiados da infância em nossos tempos.
condiciona o lugar que a criança ocupa nas relações sociais
de que participa (MELLO, 2007). Portanto, a concepção de O artigo 29 da Lei de Diretrizes e
infância como condição social de ser criança, e não como Bases da Educação Nacional
sinônimo de criança, é elemento chave para a compreensão aponta o acesso à educação infantil
e análise do fenômeno em pauta. Nesse sentido, o como um direito da criança, sendo esta a primeira etapa da
reconhecimento da criança como sujeito de direitos gera educação básica e que “tem como finalidade o
mudanças nas concepções de criança e de infância e vêm desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade,
em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social,
8
::: essencialconcursos.com.br :::
complementando a ação da família e da comunidade” como um processo de humanização que supere um
(BRASIL, 1996). entendimento temporal e linear de criança, para considerá-
la como um sujeito histórico, cultural e de direitos. Dentre
Diante dessa segmentação, cabe observar o fato de existir os resultados obtidos ressalta-se que os direitos das
pelo menos duas definições de criança no âmbito legal: crianças se caracterizam como uma longa e dura luta social
para a Convenção Internacional sobre os Direitos das e política ainda em curso e necessária em todo o mundo e
Crianças, a definição de criança é aquela até 18 anos de que tais conquistas representam um avanço.
idade e, para o Estatuto da Criança e do Adolescente, ainda Porém, na realidade, a efetivação de tais direitos ainda
que este seja um dos compromissos assumidos pela carece de um tipo de articulação mais ampla e complexa,
Convenção, no seu artigo 1º, criança é a pessoa até 12 anos relacionada às transformações política, cultural e
de idade incompletos e adolescente é aquela entre 12 e 18 econômica das diferentes sociedades, especialmente, a
anos. brasileira, onde a criança que antes era vista como um
A história da infância e a história da criança não expressam sujeito “menor” passa a ser definida como sujeito de
o mesmo significado. Ambas são distintas, entendidas e direitos.
explicadas em diferentes tempos históricos e contextos Finalmente, percebe-se que a infância como condição
culturais. A palavra infância vincula-se à condição social, já social e jurídica da criança ainda está longe de ser
a palavra criança é referenciada ao sujeito: considerada um direito humano fundamental na sociedade
Se a criança é definida como um dever ser ‘inventado’ no brasileira atual. Nesse sentido a formação docente
decorrer da história, como surpreendê-la senão à contraluz universitária e continuada salta à vista como uma
das representações e práticas que a promovem? Assim, se a possibilidade de efetivação da criança como sujeito de
história da criança não é passível de narrada na primeira direitos.
pessoa, se a criança não é nunca biógrafa de si própria, na A consideração da criança como sujeito de direitos significa
medida em que não toma posse da sua história e não reconhecê-la enquanto ser humano, sujeito histórico e
aparece como talvez a forma mais direta de percepcionar a cultural que é capaz de participar do seu próprio processo
criança, individualmente ou em grupo, seja precisamente formativo, pois toda a criança tem o direito de ler o mundo,
tentar captá-la com base nas significações atribuídas aos de conhecer e debater sobre os seus próprios direitos, de
diversos discursos que tentam definir historicamente o que conhecer, aprender e participar do seu próprio processo
é ser criança (KUHLMANN JR.; FERNANDES, 2004, p.16, formativo e de ser respeitada enquanto sujeito de direitos.
grifo no original).
De acordo com Mello, a “[..] infância é o tempo em que A consideração da criança como
criança deve se introduzir na riqueza da cultura humana sujeito de direitos significa reconhecê-
histórica e socialmente criada, reproduzindo para si la enquanto ser humano, sujeito
qualidades especificamente humanas” (2007, p. 90). As histórico e cultural que é capaz de
crianças se desenvolvem e interagem com a realidade participar do seu próprio processo formativo.
social, portanto, é preciso repensar as formas de ver,
interpretar e compreender essa história da infância, a partir As especificidades da docência na Educação Infantil.
do profundo respeito por estes sujeitos de pouca idade. A LDB de 1996 estabelece a Educação Infantil como 1ª
Nessa perspectiva, é possível pensar que não são as etapa da Educação Básica, convocando a realidade
crianças as verdadeiras autoras de suas histórias e de seus brasileira na organização de fazeres e formulação de
direitos, mas, são os adultos os responsáveis em escrever, políticas que busquem garantir o direito das crianças à
investigar e defende-los. Consequentemente, não há uma qualidade no cotidiano das instituições que trabalham com
história da criança, mas uma história a respeito da criança: as crianças de 0 a 6 anos.
interpretada, compreendida e escrita pelos adultos, ou seja, A partir da História da Educação Infantil no país, podemos
a infância pode ser compreendida como uma afirmar que o modelo assistencialista/higienista de
representação que os adultos fazem dela. Segundo atendimento e o modelo escolar transmissivo/instrucional
Quinteiro (2002, p. 22): tensionam-se no movimento de busca da especificidade
[...] os saberes constituídos sobre a infância que estão ao educacional de creches e pré-escolas (KHULMANN, 1998).
nosso alcance até o momento nos permitem conhecer mais Ao mesmo tempo, diversos estudos apontam que a
sobre as condições sociais das crianças brasileiras, sobre educação é prática sócio-cultural, afastando-se da
sua história e sua condição de criança sem infância e pouco perspectiva assistencialista e preparatória (KRAMER, 2009a).
sobre a infância como construção cultural, sobre seus Hoje, as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
próprios saberes, suas possibilidades de criar e recriar a Infantil/2009 estabelecem que a criança é o centro do
realidade social na qual se encontram inseridas. Afinal, o planejamento curricular na Educação Infantil e o eixo do
que sabemos sobre as culturas infantis? O que conhecemos trabalho coloca-se a partir de experiências com a
sobre os modos de vida das crianças indígenas, negras, linguagem, as interações e as brincadeiras.
brancas? O que sabemos sobre as crianças que frequentam A partir destas constatações, é urgente pesquisar e
a escola pública? Como aprendem? O que aprendem? O compreender os sentidos que os professores em formação
que sentem? O que pensam? constituem sobre as práticas pedagógicas, tendo em vista
Considerar a criança como sujeito de direitos é reconhecê- também refletir sobre elas e alterá-las. Hoje, tendo em vista
la enquanto ser humano de pouca idade, um sujeito a exigência da formação docente para o trabalho
histórico e cultural que é capaz de participar do seu próprio pedagógico com as crianças de 0 a 6 anos, como as marcas
processo formativo. Urge pensarmos a formação humana
9
::: essencialconcursos.com.br :::
do doméstico, da maternagem ou do modelo organização e realização do planejamento pedagógico
transmissivo/instrucional são rompidos ou re-significados? precisam ser definidos. O planejamento precisa ser algo
O processo de construção da identidade dos professores material, não somente enquanto registro documentado,
das crianças pequenas acontece no fazer cotidiano, no mas sobretudo na efetivação praxiológica entre o que se
diálogo com as marcações históricas do trabalho propõe e como se faz, em todos os momentos do
institucional e nas possibilidades de instaurarem-se novos cotidiano. Ostetto (2000, p. 177) afirma que
caminhos que vão sendo elaborados na produção O planejamento educativo deve ser assumido no cotidiano
discursiva e nas ações dos sujeitos em formação. Hoje, de como um processo de reflexão, pois, mais do que ser um
acordo com o que prevê a LDB 1996, a maior parte dos papel preenchido, é atitude e envolve todas as ações e
professores das crianças de 0 a 6 anos é formada nas situações do educador no cotidiano do seu trabalho
Universidades. pedagógico. Planejar é essa atitude de traçar, projetar,
programar, elaborar um roteiro para empreender uma
O processo de construção da viagem de conhecimento, de interação, de experiências
identidade dos professores das múltiplas e significativas para com o grupo de crianças.
crianças pequenas acontece no fazer Planejamento é atitude crítica do educador diante de seu
cotidiano, no diálogo com as marcações históricas do trabalho docente.
trabalho institucional e nas possibilidades de instaurarem- Nossa perspectiva de Educação Infantil se volta para
se novos caminhos que vão sendo elaborados na produção pensarmos em propostas pedagógicas que mantenham
discursiva e nas ações dos sujeitos em formação. viva a infância em cada sujeito de pouca idade, para que
suas vivências nos primeiros anos de vida possam lhe
Hoje, de acordo com o que prevê a deixar marcas que o tornem crítico e questionador desde o
LDB 1996, a maior parte dos tempo presente. Que por meio de conhecimentos
professores das crianças de 0 a 6 anos historicamente produzidos pela humanidade, diga-se os
é formada nas Universidades. científicos, naturais, culturais e artísticos, possa-se
contribuir para a constituição de um sujeito mais
De acordo com Rinaldi (2012), a Pedagogia na Educação consciente das contradições da realidade. Partindo da
Infantil Didática e Prática de Ensino na relação com a prerrogativa vigotskiana (VIGOTSKI, 2000), é pela resolução
Formação de Professores constitui-se como uma de problemas que a criança complexifica o pensamento e
pedagogia das relações. Neste sentido, é importante elabora soluções antes não previstas.
atentar para o que há entre os adultos e as crianças, os O pedagógico na Educação Infantil é o que define esta
adultos entre si e as crianças entre si. Olhar e perceber as instituição como espaço formal de educação e, ainda, como
diferentes formas de intervenção – diretas e indiretas – no primeira etapa da educação básica brasileira (BRASIL, 1988,
contato com as crianças. Ao invés de buscar a diretividade, 1996). O que precisamos ter claro é que, por pedagógico, o
trata-se de compreender a intencionalidade pedagógica no entendimento não deve corresponder à ideia de propostas
contexto educacional. escolarizantes, de modelos conteúdistas. Envolve pensar
A consciência pedagógica se constitui por meio da em proposições, perpassadas por interações de afeto entre
formação específica com bases epistemológicas, as quais, adultos e crianças, mas também por proposições concretas
sustentam o pensar sobre a prática. Entender as em que a criança possa solucionar problemas. Sejam de
especificidades das crianças bem pequenas, na educação ordem afetiva-emocional, matemática, de oralidade e
infantil, requer conhecimento e organização sistematizada. corporeidade, ou seja, enunciativa.
Organizar os procedimentos pedagógicos passa pela A resolução de problemas inicia-se principalmente com a
elaboração do planejamento, pela observação e pela manipulação, pela criança bem pequena, de objetos de
previsão de situações diversas que surgem no cotidiano da diferentes formas, texturas e espessuras. Passa pela
educação infantil. interação dela com seus pares e sujeitos de idade diversas,
Observar o modo como são formadas as relações, como as crianças maiores, adultos. Pela conversação, diálogo que
crianças constituem as afetividades, prevendo também as promove na criança a necessidade de também comunicar-
relações de cuidado que abrangem uma grande parte do se e ser escutada, ter seus enunciados acolhidos. E também
dia, principalmente, quando se trata de bebês e crianças pelo movimento espacial, em que a criança descobre meios
bem pequenas, é parte do trabalho dos/as professores/as de ultrapassar um obstáculo encontrado no caminho.
da infância. Estes aspectos tornam-se efetivamente
pedagógicos quando são realizados a partir de um A resolução de problemas inicia-se
conhecimento sistematizado (planejado e refletido) que principalmente com a manipulação, pela
inclua a relação eu/outro, indivíduo/coletivo (BAKHTIN, criança bem pequena, de objetos de
2010). diferentes formas, texturas e espessuras.
O planejamento pedagógico constituído pela observação Passa pela interação dela com seus pares e sujeitos de
atenciosa às crianças possibilita-nos maior clareza do que é idade diversas, crianças maiores, adultos. Pela
este documento, para que e a quem serve, e, como se pode conversação, diálogo que promove na criança a
fazê-lo. Se por um lado, podemos afirmar que não existe necessidade de também comunicar-se e ser escutada.
um modelo único de planejar, e isso nem seria possível,
porque nossa defesa vai ao encontro das idiossincrasias de Já as DCNEI definem que “as instituições de Educação
cada criança, de cada grupo no coletivo, de cada professora Infantil devem criar procedimentos para acompanhamento
individualmente. Por outro, alguns pressupostos para a do trabalho pedagógico e para a avaliação do
10
::: essencialconcursos.com.br :::
desenvolvimento das crianças, sem objetivo de seleção, político e estético, aos quais já foram, anteriormente,
promoção ou classificação” (BRASIL, 2009a, p. 29). Essa mencionados. O aporte teórico associado à sensibilidade e
redação vem ao encontro do que já determinava a LDBEN entrega por parte dos adultos, pode possibilitar a formação
9394 (BRASIL, 1996). Todavia nas DCNEI são elencadas de maior confiança entre professores/as, crianças e as
indicações de como o processo avaliativo deve ocorrer, ou famílias.
seja, pautado em quais estratégias metodológicas. É O ato de registrar e documentar as situações vivenciadas
ressaltada a importância da observação atenta às crianças, pelas crianças e professores/as na educação infantil,
às transitoriedades e às continuidades dos processos de aumenta as chances de refletirmos mais sobre o
aprendizagem delas. Também é apontada a necessidade de cotidiano educativo. O planejar, observar e refletir
elaboração de formas de documentação, com possibilidade implicam, fundamentalmente, a qualificação e a
de interação entre as famílias e os profissionais da visibilidade da prática docente. Concordamos que não é
Educação Infantil, que venham a acompanhar as crianças possível estar com as crianças e, concomitantemente, fazer
em anos sucessivos (BRASIL, 2009a). registros de forma elaborada. O que chamamos à atenção é
A avaliação seria, ainda, voltada aos “processos de que subsidiar a memória com registros escritos,
desenvolvimento e aprendizagem da criança na Educação fotográficos e fílmicos sempre será mais garantido do que
Infantil”, com atenção a não retenção das crianças em deixarmos para depois, confiando que lembraremos,
grupos específicos ou em relação ao ensino fundamental, inclusive, dos detalhes. Trata-se de um apelo à memória.
uma vez que não é classificatória (BRASIL, 2009a, p. 29). Sabemos perfeitamente não ser possível abranger tudo o
No entanto, nesse documento não é feita menção à que é vivido no dia a dia da instituição educativa. Daí a
importância da documentação pedagógica como forma de necessidade de se elencar prioridades, de se alternar o foco
avaliar o próprio trabalho pedagógico. Seja o trabalho das entre as crianças e de saber quais elementos do cotidiano,
professoras, individualmente e em grupo (como recurso uma vez recolhidos, devemos transformar em registro.
autoavaliativo), seja como meio de registrar Será no conjunto dos escritos e das imagens capturadas e
sistematicamente o vivido na instituição, buscando na sua seleção que a documentação será produzida,
caminhos para qualificar o trabalho coletivo, tendo como podendo tornar os acontecimentos simples e complexos
preocupação primeira a criança. em currículo vivo, que possibilite observar e compreender,
daquilo que propomos, o que de fato foi mais interessante
As DCNEI definem que “as e significativo para as crianças.
instituições de Educação Infantil
devem criar procedimentos para A organização do tempo e espaço na Educação Infantil.
acompanhamento do trabalho pedagógico e para a O dia a dia das creches e pré-escolas é repleto de
avaliação do desenvolvimento das crianças, sem objetivo atividades organizadas por educadores que, de uma
de seleção, promoção ou classificação”. maneira ou de outra, lidam com o espaço e o tempo a todo
o momento. Como organizar tempos de brincar, de tomar
Neste texto o planejamento pedagógico, a observação, o banho, de se alimentar, de repousar de crianças de
registro e a avaliação foram abordados como elementos diferentes idades nos espaços das salas de atividades, do
constitutivos da docência na educação infantil. A prática parque, do refeitório, do banheiro, do pátio? É tarefa dos
desse processo, dirigida à criança e revertida em reflexão e educadores organizar o espaço e o tempo das escolas
análise da prática pedagógica para o adulto professor /a, é infantis, sempre levando em conta o objetivo de
caminho para tornar a docência com as crianças bem proporcionar o desenvolvimento das crianças.
pequenas em ato pedagógico. Para tanto, isto pressupõe
clareza de como significamos os modos de agir das É tarefa dos educadores organizar
crianças em relação à prática pedagógica que a elas o espaço e o tempo das escolas
propomos, caracterizando atenção ao modo como as infantis, sempre levando em conta
concebemos pelos seus fazeres. o objetivo de proporcionar o desenvolvimento das
A criança é o ator principal, a quem devemos estar com o crianças.
olhar e as proposições direcionadas, a partir do que ela se
nos revela como interessante de vivenciar e experimentar. Maria Carmen Silveira Barbosa e Maria da Graça Souza
Porém a responsabilidade organizativa desse processo é Horn pesquisam a organização do espaço e do tempo na
de nós adultos (professores/as), mas de modo escola infantil e afirmam:
compartilhado com as famílias e outros atores sociais Organizar o cotidiano das crianças da Educação Infantil
integrados à instituição, assegurando-se, inclusive, a efetiva pressupõe pensar que o estabelecimento de uma
participação das crianças, nas escolhas do que preferem e sequência básica de atividades diárias é, antes de mais
indicam como relevante. nada, o resultado da leitura que fazemos do nosso grupo
O compartilhamento de descobertas e a aceitação de que de crianças, a partir, principalmente, de suas necessidades.
as crianças e as famílias também nos indicam É importante que o educador observe o que as crianças
possibilidades de melhor conhecer esses sujeitos de pouca brincam, como estas brincadeiras se desenvolvem, o que
idade, com quem trabalhamos, pode ser princípio para a mais gostam de fazer, em que espaços preferem ficar, o
qualidade do trabalho pedagógico. No entanto, alcançar que lhes chama mais atenção, em que momentos do dia
esse entendimento exige-nos conhecimento teórico, estão mais tranquilos ou mais agitados. Este conhecimento
apropriado para a educação das crianças pequenas. Assim é fundamental para que a estruturação espaço-temporal
como, é importante trazer em pauta, os princípios éticos, tenha significado. Ao lado disto, também é importante
11
::: essencialconcursos.com.br :::
considerar o contexto sociocultural no qual se insere e a Segundo elas, a partir da observação de sua própria prática,
proposta pedagógica da instituição, que deverão lhe dar perceberam que:
suporte. (BARBOSA; HORN, 2001, p. 67). [...] existe uma boa forma de arrumar o berçário,
As escolas de educação infantil têm na organização dos organizando-o com colchonetes, caixas vazadas, móveis
ambientes uma parte importante de sua proposta baixos, que permitem ao educador observar todo o
pedagógica. Ela traduz as concepções de criança, de movimento da sala e o bebê também. Dessa forma, o bebê
educação, de ensino e aprendizagem, bem como uma visão pode tranquilamente ir em busca de um objeto que tenha
de mundo e de ser humano do educador que atua nesse despertado sua curiosidade, pois ele está vendo que o
cenário. Portanto, qualquer professor tem, na realidade, educador continua na sala. Isso possibilita a ele interagir
uma concepção pedagógica explicitada no modo como mais com outros bebês. O educador fica então disponível
planeja suas aulas, na maneira como se relaciona com as para aqueles que estão exigindo sua atenção naquele
crianças, na forma como organiza seus espaços na sala de momento. (ROSSETTI-FERREIRA, 2007, p. 147).
aula. Por exemplo, se o educador planeja as atividades de A organização de “cantinhos” nas salas de Educação Infantil
acordo com a ideia de que as crianças aprendem através da é bastante discutida hoje nas creches e pré-escolas. Muitos
memorização de conceitos; se mantém uma atitude educadores tentam organizar suas salas em cantos de
autoritária sem discutir com as crianças as regras do atividades diversificadas, mas, nem sempre essa
convívio em grupo; se privilegia a ocupação dos espaços organização está fundamentada em uma concepção de
nobres das salas de aula com armários (onde somente ele criança e de educação que a sustente. Então, os cantos
tem acesso), mesas e cadeiras, a concepção que revela é acabam não funcionando, e sendo deixados de lado,
eminentemente fundamentada em uma prática pedagógica substituídos pela organização anterior, muitas vezes
tradicional. Conforme Farias (1998), a pedagogia se faz no pautada no uso do espaço que coloca o professor ou a
espaço realidade e o espaço, por sua vez, consolida a professora no centro das atenções, com as crianças em
pedagogia. Na realidade, ele é o retrato da relação volta deles na maior parte do tempo.
pedagógica estabelecida entre crianças e professor. Ainda Então, vamos tratar um pouco mais das zonas circunscritas,
exemplificando, em uma concepção educacional que para entendermos melhor o que fundamenta a organização
compreende o ensinar e o aprender em uma relação de espacial que se vale dessas áreas delimitadas. Carvalho e
mão única, ou seja, o professor ensina e o aluno aprende, Meneghini (2007) enfatizam que “O educador organiza o
toda a organização do espaço girará em torno da figura do espaço de acordo com suas idéias sobre
professor. desenvolvimento infantil e de acordo com seus
As mesas e as cadeiras ocuparão espaços privilegiados na objetivos, mesmo sem perceber” (p. 150). Quando o
sala de aula, e todas as ações das crianças dependerão de educador ou a educadora de Educação Infantil organiza sua
seu comando, de sua concordância e aquiescência. (HORN, sala em espaços vazios, com poucos móveis, objetos e
2004, p. 61). equipamentos, ele se vale, conforme escrevem as
As educadoras pensaram em uma organização espacial educadoras na obra de Rossetti-Ferreira et al. (2007) de um
diferente desta, na tentativa de proporcionar aos bebês um arranjo espacial aberto.
espaço atraente para seu desenvolvimento. Para elas, “O Quando as crianças brincam nas zonas circunscritas, ficam
berçário deve ter espaços programados para dar à criança mais tempo interagindo com outras crianças e com a
oportunidade de se movimentar, interagindo tanto com atividade que está sendo ali realizada. Solicitam menos a
objetos como com outros bebês. Deve oferecer ao bebê atenção do educador que, dessa forma, pode acompanhar
situações desafiadoras, possibilitando o desenvolvimento o desenvolvimento das diversas crianças, focalizando ora
de suas capacidades. ” (ROSSETTI-FERREIRA et al, 2007, p. uma, ora outra, se desejar, observando se os materiais
147). oferecidos estão atendendo aos objetivos que deseja
As educadoras Maria, Cândida, Marta e Francisca pensaram alcançar em termos de desenvolvimento de cada criança,
o espaço de seu berçário, levando em conta três partes da em particular, e do grupo todo, de modo geral, percebendo
sala: o chão, o teto e as paredes. Em cada uma dessas o momento de reorganizar ou modificar os cantos
partes, elas enxergaram possibilidades de garantir propostos para motivar mais as crianças e proporcionar a
experiências interessantes e desafios para as crianças, por elas novas aprendizagens.
meio do uso de divisórias de diversos tamanhos e em Agora, também é importante que os professores e
diversas alturas, caixas de papelão recortadas e professoras de Educação Infantil saibam que as crianças
transformadas, brinquedos, canaletas para os bebês precisam aprender a trabalhar com zonas circunscritas,
passarem por dentro, muretas para impedi-los de seguir especialmente se já estavam habituadas a trabalhar no
em frente e obrigá-los a experimentar outros trajetos, arranjo espacial aberto, com o educador sempre dirigindo
cortinas, espelhos, móbiles etc. as atividades, sempre interferindo diretamente nas suas
Ainda a respeito do espaço para os bebês, as educadoras ações e relações com os colegas e o ambiente.
alertam: “Os espaços devem ser sempre atraentes e A educadora Mara também alerta os professores e
estimulantes para os bebês. Portanto, eles devem ser professoras da Educação Infantil para o fato de que,
observados, avaliados e mudados pelos educadores na mesmo no arranjo espacial semiaberto, as áreas
medida em que eles se desenvolvem e se interessam circunscritas não devem tomar todo o espaço das salas das
por coisas novas. ” (ROSSETTI-FERREIRA, 2007, p. 148). creches e pré-escolas. Outras áreas que não sejam
As educadoras trazem ainda algumas sugestões para necessariamente delimitadas por três ou quatro lados
pensarmos acerca do espaço para os bebês nas creches. também devem ser oferecidas para as crianças como, por
exemplo, espaços com mesinhas e cadeiras para execução
12
::: essencialconcursos.com.br :::
de atividades de colagem, pintura, lápis e papel, espaços da instituição deverão também acatar as seguintes
sem delimitação com almofadas e tapetes para leitura de indicações:
livros de histórias.
Ainda contribuindo para que professores e professoras (...) explicitar o reconhecimento da importância da
pensem sobre o espaço que oferecem para as crianças em identidade pessoal de alunos, suas famílias, professores
creches e pré-escolas, a educadora Mara Campos de e outros profissionais, e a identidade de cada Unidade
Carvalho (ROSSETTI-FERREIRA et al, 2007) faz algumas Educacional, nos vários contextos em que se situem; (...)
análises dos ambientes infantis e conclui que eles devem promover práticas de educação e cuidados, que
estar organizados de modo a promover o desenvolvimento possibilitem a integração entre os aspectos físicos,
da identidade pessoal de cada criança, o desenvolvimento emocionais, afetivos, cognitivo/linguísticos e sociais da
de diversas competências como, por exemplo, poder tomar criança, entendendo que ela é um ser completo, total e
água sozinha e alcançar o interruptor de luz, oportunidades indivisível; (...) buscar, a partir de atividades
para movimentos corporais diversos, a estimulação dos intencionais, em momentos de ações, ora estruturadas,
sentidos, a sensação de segurança e confiança e, ora espontâneas e livres, a interação entre as diversas
finalmente, oportunidades para contato social e áreas de conhecimento e aspectos da vida cidadã,
privacidade. contribuindo assim com o provimento de conteúdos
básicos para a constituição de conhecimentos e valores;
As estratégias da ação pedagógica (observação, (...) organizar suas estratégias de avaliação, através do
planejamento, registro, avaliação). acompanhamento e dos registros de etapas alcançadas
O cuidado e a educação das novas gerações, ao longo da nos cuidados e na educação para crianças de 0 a 6 anos,
história humana, adquiriram diferentes configurações, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao
objetivando atender as peculiaridades e demandas dos ensino fundamental’; (...) ser criadas, coordenadas,
diversos contextos sociais e culturais. Dada a evolução das supervisionadas e avaliadas por educadores, com, pelo
sociedades, estas práticas passaram a ser compartilhadas menos, o diploma de Curso de Formação de
com diferentes segmentos públicos, deixando de ser Professores, mesmo que da equipe de Profissionais
responsabilidade exclusiva da família. participem outros das áreas de Ciências Humanas,
O compartilhar dessa tarefa é típico das sociedades Sociais e Exatas, assim como familiares das crianças; (...)
industriais que se reorganizam para adequá-la a novas Da direção (...) deve participar, necessariamente, um
demandas do mundo do trabalho e, para além das suas educador com, no mínimo, o Curso de Formação de
necessidades mais imediatas, buscam novos modos de Professores; (...) garantir direitos básicos de crianças e
socialização e educação das novas gerações, em espaços suas famílias à educação e cuidados, num contexto de
alternativos ao ciclo da família. atenção multidisciplinar com profissionais necessários
Vivemos, atualmente, no Brasil um momento no qual, pelo ao atendimento; proporcionar condições de
menos do ponto de vista legal, a educação infantil tornar- funcionamento das estratégias educacionais, do uso do
se parte dos serviços educacionais. espaço físico, do horário e do calendário escolar, que
A responsabilidade pela oferta da citada modalidade possibilitem a adoção, excecução, avaliação e o
educativa é dos municípios; sendo assim, é no plano local aperfeiçoamento das diretrizes (BRASIL 1999).
que as políticas são modeladas e as práticas executadas.
Entre outras funções, são de responsabilidade dos órgãos Princípios Éticos da Autonomia, da
federais, a sistematização de orientação sobre os padrões Responsabilidade, da Solidariedade
de atendimento que devem ser seguidos pelos sistemas e do Respeito ao Bem Comum;
educacionais estaduais e municipais, incluindo-se aí as Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania,
escolas privadas e as instituições subvencionadas com do Exercício da Criticidade e do Respeito à Ordem
recursos públicos. Entre as orientações em causa, Democrática; Princípios Estéticos da Sensibilidade, da
destacam-se as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Criatividade, da Ludicidade e da Diversidade de
Educação Infantil (1999). Estas, de caráter obrigatório, Manifestações Artísticas e Culturais (BRASIL 1999).
estabelecem princípios gerais que devem fundamentar as
propostas pedagógicas das creches e pré-escolas, públicas Além das indicações postas, de acordo com os Parâmetros
e privadas. de Qualidade Para a Educação Infantil, a sistematização de
De acordo com o citado documento, as Propostas propostas pedagógicas pelas instituições de educação
Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil devem infantil deverá, também, considerar que o trabalho aí
respeitar os seguintes Fundamentos Norteadores: desenvolvido é complementar à ação da família, e a
Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, integração entre as duas instâncias é essencial para um
da Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum; trabalho de qualidade. Deverão ainda explicitar o
Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania, reconhecimento da importância da identidade pessoal dos
do Exercício da Criticidade e do Respeito à Ordem alunos, suas famílias, professores e outros profissionais, e a
Democrática; Princípios Estéticos da Sensibilidade, da identidade de cada unidade educacional nos vários
Criatividade, da Ludicidade e da Diversidade de contextos em que se situam; reconhecer a inclusão como
Manifestações Artísticas e Culturais (BRASIL 1999). direito das crianças com necessidades educativas especiais;
desenvolver com autonomia suas propostas pedagógicas a
Além dos citados princípios norteadores, de acordo com as partir das orientações legais; funcionar durante o dia, em
Diretrizes Curriculares Nacionais, as propostas pedagógicas período parcial ou integral, sem exceder o tempo que a
13
::: essencialconcursos.com.br :::
criança passa com a família; prever e viabilizar a elementos significativos da conduta, da percepção, da
organização dos agrupamentos de forma flexível; que a linguagem, do pensamento e da consciência.
gestão seja exercida por profissionais com os cargos de Assim sendo, todas as crianças necessitam assimilar um
direção, administração, coordenação pedagógica ou determinado conjunto de habilidades físicas, intelectuais,
coordenação geral, de acordo com a exigência estabelecida linguísticas, sociais e artísticas, entre outras, tendo em vista
pelo aporte legal brasileiro, garantindo que as que as aptidões humanas estão postas na cultura. Por
instituições de Educação Infantil realizem um trabalho intermédio desta apropriação, cada novo ser da espécie irá
de qualidade com as crianças que as frequentam; que produzir em si as funções psicológicas superiores,
os profissionais que atuam diretamente com as crianças específicas do ser humano, como resultado da
sejam professores de Educação Infantil; garantir o bem- reconstrução interna da atividade social partilhada, o que
estar, assegurar o crescimento e promover o revela a importância das mediações do contexto físico e
desenvolvimento e a aprendizagem das crianças da social, sobretudo dos parceiros mais experientes – adultos,
educação infantil; assegurar uma relação de confiança e profissionais da instituição; crianças do grupo,
colaboração recíproca entre os diferentes profissionais interlocutores ausentes a exemplo dos livros, vídeos, CDs,
da instituição; assegurar que os espaços, materiais e DVDs e demais materiais didáticos para a estruturação dos
equipamentos das instituições de educação infantil processos de ensino e aprendizagem na educação infantil.
destinam-se, prioritariamente às crianças, mas também Os processos educativos, consequentemente, recaem sobre
às necessidades das famílias e ou responsáveis pelas o papel das mediações em suas mais diferentes formas. Isto
crianças matriculadas e dos profissionais que nela requer a intervenção do professor, pois é função deste
trabalham. organizar o espaço interativo. É ele que carrega a
Desta maneira, as práticas pedagógicas estruturadas no responsabilidade pelo processo de aprendizagem e, em
cotidiano da creche e da pré-escola precisam tomar, como consequência, do desenvolvimento das crianças.
suas, determinações e orientações legais, aliadas aos
conhecimentos produzidos pelas pesquisas na área, bem A intervenção do professor... é função
como pressupostos e fundamentos teóricos advindos da deste organizar o espaço interativo. É
filosofia, antropologia, sociologia e psicologia, em que se ele que carrega a responsabilidade
destacam os pressupostos da Psicologia Histórico- pelo processo de aprendizagem e, em
Cultural. De acordo com a referida corrente psicológica, a consequência, do desenvolvimento das crianças.
natureza humana não é dada de forma biológica ao
homem, mas é produzida ao longo dos anos na sua relação Relação entre aprendizagem e desenvolvimento.
com a natureza e com os outros homens. À luz do que indicam os estudos de Vygotsky (1996), para
Consequentemente, a ação educativa constitui o ato de que se compreenda o desenvolvimento e a aprendizagem,
produzir a humanidade em cada novo ser da espécie é preciso considerar dois níveis de desenvolvimento: o real
humana, mediante a aquisição da cultura que a cerca. e o potencial. O nível real se refere ao conjunto de
Diante disso, tal como a humanidade, também o fenômeno atividades que a criança consegue desenvolver sozinha.
educativo é exclusivamente dos seres humanos que Esse nível é indicativo de ciclos de desenvolvimento já
necessitam, cotidianamente, produzir sua existência. “É a completados, isto é, refere-se às funções psicológicas que a
cultura e a linguagem que fornecem ao pensamento os criança já construiu até determinado momento. Já o nível
instrumentos para sua evolução. O simples potencial se vincula ao conjunto de atividades que a
amadurecimento do sistema nervoso não garante o criança não consegue realizar sozinha, mas que, com a
desenvolvimento de habilidades intelectuais mais ajuda de alguém que lhe dê algumas orientações
complexas” (Galvão, 1995, p. 41). adequadas (um adulto ou uma criança mais experiente), ela
Por conseguinte, é através da apropriação cultural mediada consegue resolver. Indica, portanto, o desenvolvimento
pelo outro, processada por intermédio das diversas prospectivamente.
interações, sejam estas realizadas de forma espontânea ou Sendo assim, a criança: em qualquer domínio, tem um
com um determinado propósito, que cada indivíduo ‘nível evolutivo real’ que pode ser avaliado, quando ela é
desenvolverá as forças, as aptidões, as competências e as individualmente testada, e um potencial imediato para o
funções especificamente humanas; ou seja, as funções desenvolvimento naquele domínio. Vygotsky chamou a
decorrentes do processo histórico de humanização. diferença entre os dois níveis de zona de desenvolvimento
Deste pressuposto decorre que, ao longo da história proximal, que definiu como ‘a distância entre o nível
humana, as novas gerações necessitam manter-se em evolutivo real, determinado pela resolução independente
relação com as demais, para que, por intermédio destas do problema, e o nível de desenvolvimento potencial
relações, desenvolvam suas funções psicológicas determinado pela resolução de um problema sob a
superiores. orientação do adulto, ou em colaboração com colegas mais
Em vista disso, o processo de desenvolvimento psíquico da capazes’ (Vygotsky apud Moll, 1996, p. 152 - 153).
criança se realiza no processo do ensino e transmissão da Para Vygotsky (1989), portanto, há que se considerar o que
experiência acumulada pelas gerações precedentes. É neste a criança já conseguiu como resultado de determinado
processo que a criança se apropria de valores, crenças e processo de desenvolvimento, que se consolidou no
conhecimentos, pensamento e linguagem, constitutivos sujeito, e o que está por se desenvolver. É entre estes
dos aspectos emocionais, cognitivos, psicológicos, espaços que se interpreta o espaço onde devem
sociológicos, dentre outros, de modo a se tornarem concentrar-se as diversas mediações, e, também as ações
da educação infantil. Identifica-se, aliado ao conceito de
14
::: essencialconcursos.com.br :::
zona de desenvolvimento proximal, o destaque dado às o brinquedo contém todas as tendências do
mediações, tanto físicas quanto sociais. Estas mediações, no desenvolvimento sob forma condensada, sendo ele
entanto, não podem ser efetuadas de forma aleatória, mas mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento (Vygotsky,
devidamente selecionadas a partir dos níveis de 1989a, p. 117).
desenvolvimento real e potencial. É, então, sobre a zona de Makarenko apud Usova (1976) afirma que jogo e trabalho
desenvolvimento proximal que devem atuar as apresentam uma relação dialética, de modo que é na
mediações, tendo em vista que só em determinado relação entre a brincadeira e o trabalho que o educador
nível de desenvolvimento torna-se possível ao ser deve pautar suas ações no trabalho pedagógico com
humano apreender determinados conceitos, conteúdos crianças de três a seis anos. Destarte, faz-se necessário
e habilidades. dedicar à brincadeira “um espaço ao lado do trabalho e
Deste modo, evidencia-se que “existe uma relação entre não em seu lugar” (BROUGÈRE, 1998, p. 155).
determinado nível de desenvolvimento e a capacidade Entretanto, para chegar a esta forma elaborada de atuar
potencial de aprendizagem” (LEONTIEV, 1988, p. 111). A sobre a realidade, cada novo ser da espécie necessita
principal característica da aprendizagem é a que põe em superar as formas iniciais de atuação sobre a realidade,
movimento a zona de desenvolvimento proximal, ou seja, ampliando-as, tendo em vista que, inicialmente se dispõe
faz emergir na criança um conjunto de habilidades apenas de formas de comunicação não verbais. Destarte,
decorrentes do processo de desenvolvimento, resultado do pelos processos de mediação, a comunicação verbal vai se
processo de relação com o outro. colocando como necessária, indicando para a relação entre
sons e significados. Neste processo, alimentada, sobretudo,
Relevância da brincadeira e sua relação com o trabalho. pelas propriedades sensoriais, estabelece relações
Outro pressuposto a considerar refere-se à relevância da essencialmente manipulatórias com os objetos,
brincadeira/jogo protagonizado ou jogo de reconstituição subordinados às condições objetivas existentes.
de papéis. Esta atividade é considerada como a atividade
principal da criança de 3 a 6 anos, “cujo desenvolvimento O brinquedo cria uma zona de
governa as mudanças mais importantes nos processos desenvolvimento proximal da
psíquicos e nos traços psicológicos da personalidade da criança. No brinquedo, a criança
criança, em certo estágio de desenvolvimento” (LEONTIEV, sempre se comporta além do comportamento habitual
1988, p. 63). de sua idade, além de seu comportamento diário; no
Isto não quer dizer, entretanto, que os processos psíquicos brinquedo, é como se ela fosse maior do que é na
ocorram apenas nesta atividade, ou que todos eles sejam realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o
desenvolvidos através dela, mas, além da brincadeira; a brinquedo contém todas as tendências do
criança deve ter, também, a possibilidade de envolver-se desenvolvimento.
em atividades de outras naturezas, que desempenham
“papel subsidiário” (LEONTIEV, 1988, p. 63). Impulsionado pelas aquisições efetuadas ao longo do
De acordo com Leontiev (1988), a atividade principal primeiro ano de vida – aquisição da marcha, domínio inicial
caracteriza-se como “a atividade em cuja forma surgem da comunicação verbal –, na busca de satisfação de suas
outros tipos de atividade e dentro da qual eles são necessidades, a criança vai adquirindo novos modos de
diferenciados [...], atividades geneticamente ligadas a ela” atuar com os elementos, físicos e sociais, presentes no
(LEONTIEV, 1988, p. 64). A atividade principal, portanto, contexto que a cerca.
agrega em torno de si um conjunto de atividades de outras Posteriormente, com a aquisição de sua identidade,
origens, que irão modelar no indivíduo competências e alteridade, linguagem simbólica e maior elaboração da
capacidades distintas, no entanto igualmente significativas percepção, atenção, memória etc., a criança ganha
e complementares entre si, necessárias ao desenvolvimento formas mais complexas e elaboradas de organização do
pleno do ser humano. seu pensamento e de agir sobre o mundo.
Elkonin (1988), referindo-se a Vygotsky, afirma que este Destarte, da atuação inicial eminentemente manipulatória e
considera a brincadeira como o tipo principal de atividade exploratória, ela caminha para o desenvolvimento de novas
das crianças pequenas, e que, através dela, a criança propriedades motoras, cognitivas, afetivas e sociais,
elabora hipóteses e vivencia inúmeras sensações e permitindo-lhe dominar um círculo muito mais amplo de
experiências significativas, o que promove o atividades. Neste processo, passa a desejar integrar o seu
desenvolvimento da personalidade e a formação da contexto social, necessitando compreender as relações
consciência. A partir do que foi exposto, identifica-se a sociais postas no seu entorno, o que cria as condições para
importância desta atividade na vida das crianças, o que a origem dos jogos protagonizados, conforme
justifica o seu uso enquanto um dos eixos fulcrais do desenvolvido anteriormente.
trabalho com a criança de três a seis anos na educação Assim sendo, as formas de inserção e apropriação do
infantil. contexto físico e social, efetuados pela criança, colocam-se
Vygotsky, ao referir-se às possibilidades ofertadas pela de diferentes formas em diferentes idades e contextos,
brincadeira, afirma que o brinquedo cria uma zona de imputando às práticas pedagógicas em creches e pré-
desenvolvimento proximal da criança. No brinquedo, a escolas a necessidade de incorporar diferentes
criança sempre se comporta além do comportamento configurações, formas de estruturações dos espaços e
habitual de sua idade, além de seu comportamento tempos, bem como das possibilidades que deverão compor
diário; no brinquedo, é como se ela fosse maior do que os processos de aprendizagem e desenvolvimento.
é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento,
15
::: essencialconcursos.com.br :::
Neste sentido, é fundamental considerar não apenas a vinculadas a naturezas distintas e que precisam ser
especificidade da criança, mas também, a faixa etária com a pensadas teleologicamente.
qual se trabalha, para selecionar as possibilidades que se Neste contexto, conforme indicado por Rocha, adquirem
mostram promissoras e necessárias à aprendizagem e significado os núcleos da ação pedagógica. Conforme a
desenvolvimento da criança em diferentes idades e citada autora, estes permitem retomar um detalhamento
momentos de vida. Tais exigências, além de indicarem a dos seus conteúdos de ação, de forma a orientar os
estruturação de uma proposta pedagógica para cada objetivos gerais de cada âmbito e suas consequências para
instituição, requer também, a estruturação de uma a prática docente. São eles: Linguagem: gestual, corporal,
proposta específica para cada grupo de crianças, de modo oral, sonoro-musical, plástica e escrita; Relações Sociais e
que se possa selecionar, de forma adequada, as Culturais: contexto espacial e temporal; identidade e
possibilidades de aprendizagens pertinentes a cada grupo origens culturais e sociais e Natureza: manifestações,
de trabalho. dimensões, elementos, fenômenos físicos e naturais.
As práticas educativas em causa devem responder,
assim, a interesses de um dado modelo de ser humano Na educação infantil, a
e sociedade. Assim sendo, as possibilidades dos necessidade de sistematização de
processos educativos levados a efeito em creches e pré- um conjunto de ações vinculadas a
escolas necessitam ocupar-se de diferentes aspectos, naturezas distintas e que precisam
conferindo atenção às diferentes dimensões que ser pensadas teleologicamente.
constituem a humanidade, dando acesso a diversos
saberes. A partir das indicações efetuadas ao longo do texto, para
Tais demandas requerem a oferta de espaços e ambientes efeitos didáticos, poderíamos dizer que o planejamento
seguros, agradáveis e saudáveis, com rotinas flexíveis, onde cotidiano poderá ser estruturado em torno de eixos fulcrais
as crianças possam organizar os seus jogos e brincadeiras, da ação pedagógica ou do planejamento: estruturação
expressar sua sexualidade, ouvir música, cantar, dançar, dos espaços e dos tempos; atendimento das
expressar-se através de desenhos, pintura, modelagem, necessidades básicas da criança; sistematização do
dramatizações e colagem. Lá que elas possam também: trabalho em torno de projetos: estruturação de ateliês/
ouvir e contar histórias; interagir com as crianças maiores, oficinas ou situações diversas.
menores e adultos; correr, saltar, pular, engatinhar e A estruturação dos espaços e tempos objetivava
explorar novos ambientes; encontrar conforto e apoio potencializar o desenvolvimento de jogos e brincadeiras
sempre que precisam; receber atenção individual, proteção estruturados e desenvolvidos a partir de situações criadas
e cuidado dos adultos; desenvolver sua autoestima pelas crianças e/ou professores/ auxiliares e bolsistas, bem
curiosidade e autonomia; ser tratadas sem discriminação; como de um conjunto de outras situações que constituam
não ser obrigadas a suportar longos períodos de espera; ter os enredos do cotidiano. Estes devem ser estruturados de
suas famílias bem-vindas e respeitadas nas instituições; ter forma teleológica, de modo a favorecer as interações entre
momentos de privacidade e quietude, onde possam se as crianças e destas com os adultos. Objetivava-se também
recostar, desenvolver atividades calmas, descansar e possibilitar às crianças fazerem escolhas, eximindo-as da
dormir; receber o atendimento de suas necessidades de constante imposição e coerção das propostas feitas
alimentação, saúde e higiene, como também expressar seus exclusivamente pelos adultos. O gerenciamento do tempo
pensamentos, fantasias, lembranças e tantas outras e do espaço precisava estar de acordo com as diferentes
situações fundamentais para o desenvolvimento das novas crianças acolhidas e ser rico em condições interativas e
gerações. lúdicas, além de reservar também espaços em que a
Diante do exposto, nota-se que a estruturação do trabalho privacidade possa ser garantida, conforme indicado pelos
cotidiano na creche e na pré-escola precisa considerar um Parâmetros de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL,
conjunto de fatores que envolvem aspectos legais, 2006). É concebível que os diversos espaços da instituição
pressupostos teóricos, filosóficos e metodológicos. Por devem ser explorados e utilizados pelas crianças de forma
conseguinte, precisa dar acesso ao conhecimento científico autônoma e, ainda, que todos os espaços institucionais
sistematizado, às diferentes linguagens e aos valores devem ser pensados, refletidos, pesquisados e organizados
sociais, éticos, estéticos e políticos, normas, princípios ou com intencionalidade e premeditação, de modo a
padrões sociais aceitos e mantidos no interior da sociedade contemplar a disposição adequada de materiais lúdicos,
a que pertence, tais como costumes, hábitos de vida, pedagógicos, bem como de mobiliário adequado.
sistemas morais, bem como de instrumentos, O atendimento das necessidades básicas da criança
procedimentos, atitudes, e hábitos necessários à (alimentação, higiene, descanso, etc.), tradicionalmente
convivência na sociedade em que a criança está inserida. denominadas de cuidado, é compreendido como forma de
Estas aprendizagens exigem previsão e controle de “ajudar o outro a desenvolver-se enquanto ser humano”.
procedimentos metodológicos. Nesta perspectiva, as ações do cuidar articulam-se
diretamente às do educar, não se distinguindo umas das
Procedimentos metodológicos outras. Destarte, passaram a adquirir outro caráter, sendo
Como vimos, o enastrar de fatores que constituem os incorporadas como atividades estritamente pedagógicas.
processos educativos levados a efeito em creches e pré- Devem, também, ser sistematicamente pensadas e
escolas, conforme desenvolvido ao longo deste texto, planejadas. O trabalho estruturado em torno de projetos
imputam ao trabalho cotidiano, na educação infantil, a toma ponto de partida as indagações feitas pelas crianças
necessidade de sistematização de um conjunto de ações em meio aos elementos do mundo físico e social.
16
::: essencialconcursos.com.br :::
Podem estar relacionadas à apropriação de conhecimentos Para assegurar o acompanhamento do trabalho cotidiano,
científicos vinculados às diferentes áreas disciplinares, da o professor deverá utilizar-se da observação, registro e
linguagem, ou apenas a elementos culturais (valores éticos; avaliação do processo vivido junto ao grupo e a cada
políticos e estéticos). Essas demandas requeriam a criança. Os processos de avaliação estão intimamente
sistematização de ações que dessem resposta a um imbricados aos processos de planejamento das ações
conjunto amplo de curiosidades e indagações, efetuadas educativas levadas a efeito no cotidiano da educação
pelas crianças. Sua estruturação toma como base o que as infantil.
crianças já sabem/dominam, mas, de forma especial, Esta deverá ser formativa, ou seja, realizada ao longo do
conteúdos que lhes são possíveis de serem ensinados. processo visando a aperfeiçoá-lo – não sendo conveniente
Assim sendo, deverão ser planejados em acordo com o seu uso para rotular, enquadrar, emitir juízo, comparar,
perguntas e curiosidades das crianças e a zona de quantificar, julgar ou prestar contas para alguém, ou, ainda,
desenvolvimento proximal, considerando suas para a constatação de problemas.
potencialidades. Seu percurso deverá se desdobrar à Para sistematização do planejamento, registro e avaliação,
medida que um grupo particular de crianças e adultos conforme bibliografia da área, podemos fazer uso de
interagem, colocando em movimento uma dinâmica única diferentes estratégias, tais como: registros em cadernos;
e irrepetível. Nesse processo, nós, profissionais de relatórios; diários de classe; registros de acompanhamento
educação, deveremos observar e ouvir as crianças para dos avanços e conquistas das crianças; registros individuais
definição e redefinição constante das situações a serem e coletivos; organização de portfólios; dossiês; arquivos
estruturadas no processo de ensino/aprendizagem. biográficos que arquivam e registram um conjunto de
A estruturação de ateliês/oficinas ou situações diversas ações desenvolvidas pelas crianças ao longo do período
deverão contemplar atividades com objetivos em si que permanece na instituição, permitindo a reconstrução
mesmas ou relacionadas diretamente à categoria trabalho, do processo vivido pela criança, bem como expressar
ou seja, ainda que almejem um produto final não terão inúmeras vozes (pais, crianças, e professores); contatos e
obrigatoriamente fins didáticos específicos. depoimentos de pais; comentários de colegas, entre tantas
Também não deverão obrigatoriamente se vincularem a outras estratégias que podem ser criadas e adaptadas por
um complexo de vivências articuladas umas às outras a todos aqueles que se incumbem da sistematização dos
exemplo dos projetos. Constituir-se-ão em atividades de processos de aprendizagem e desenvolvimento da criança
desenhar, de modelar, de escrever, de ouvir histórias, de de zero a seis anos em creches e pré-escolas.
realizar uma atividade de culinária, de observar fenômenos
da natureza, de correr, de saltar, passear, etc. Elas possuem, Para sistematização do
em si, situações desafiadoras e significativas que favorecem planejamento, registro e avaliação,
a exploração, a descoberta, a apropriação e a conforme bibliografia da área,
transformação da cultura que cerca a criança. podemos fazer uso de diferentes
Ao pensar esses espaços faz-se necessário ter claro que, estratégias, tais como: registros em cadernos;
conforme indicado por Machado (1996, p. 8), o pedagógico relatórios; diários de classe; registros de
não reside na atividade em si, mas na possibilidade de a acompanhamento dos avanços e conquistas das
criança “interagir, de trocar experiências e partilhar crianças; registros individuais e coletivos; organização
significados”. Deste modo, a ação pedagógica não residiria de portfólios; dossiês; arquivos biográficos que
obrigatoriamente nas atividades propostas e coordenadas arquivam e registram um conjunto de ações
por nós professores, mas nas interações que o cotidiano da desenvolvidas pelas crianças ao longo do período que
instituição possibilita às crianças, logo, perpassariam todas permanece na instituição.
as ações e possibilidades ofertadas teleologicamente no
cotidiano. Relação creche-família.
Com o uso destas estratégias, pretendemos romper com a As relações creche e famílias são discutidas a partir de sua
lógica que tradicionalmente monitoraram a estruturação contextualização sócio-histórica. Inicia-se, por isso, com um
dos espaços e tempos na educação infantil. Ou seja, a breve histórico das creches no Brasil, em que são
lógica que prevê sistematicamente o desenvolvimento de sinalizados alguns aspectos que contribuíram para as
atividades únicas para todo o grupo, na qual as transformações observadas nessas instituições em relação à
proposições, em geral, são feitas apenas pelos professores sua função social, e como estas se refletiram nas relações
e todas as crianças do grupo, e por vezes da instituição, com os usuários. De filantrópicas, autoritárias e fechadas à
devem realizá-las no mesmo tempo e espaço. Convém participação das famílias, as creches vêm se mostrando
ainda lembrar que não consideramos que um ou outro cada vez mais como instituições de direito, abertas e
aspecto citado seja mais educativo e significativo para a democráticas. Neste contexto, encontramos diferentes
criança do que outro, mas que cada um deles possui tipos de fatores inter-relacionados, como as políticas de
características e possibilidades próprias, de modo a se atendimento infantil, as condições socioeconômicas e os
complementarem e até mesmo de um impulsionar a conhecimentos científicos sobre desenvolvimento e
realização de outro. Significam uma das condições educação infantil. Selecionamos, então, três subtemas para
objetivas para a garantia de uma ampla gama de jogos, desenvolver: os pressupostos sócios interacionistas do
dramatizações, brincadeiras ao ar livre, audição de histórias, desenvolvimento infantil; as representações sociais
encenação de papéis, culinária, tarefas domésticas, sobre creche, maternidade, crianças e famílias; e
atividades ligadas ao cuidado corporal, cantigas de roda, formação dos profissionais / educadores de creche.
jogos tradicionais, pintura, colagem, modelagem, etc.
17
::: essencialconcursos.com.br :::
A creche no Brasil e em vários outros países tem tido uma Quando a creche se preocupa com a qualidade da
ligação, desde a sua origem, com as práticas religiosas e educação e do cuidado, o banho é visto como uma
filantrópicas de atender e cuidar de crianças abandonadas, oportunidade para enriquecer as experiências afetivas e de
rejeitadas pela sociedade, ou aquelas cujos pais não têm aprendizagem. Tanto o educador quanto a criança
condição, eles próprios, de cuidar. Representa até hoje, constroem nessa atividade um significado diferente
para muitos, urna ação paliativa ao cuidado e educação da daquele de obrigatoriedade, tensão e desprazer que
criança pequena, a qual deveria estar com a mãe, para não normalmente é vivenciado em situações como a descrita
correr riscos de ter o seu desenvolvimento prejudicado. A anteriormente.
maioria das creches ainda funciona com poucos recursos Outro exemplo são as concepções que se formam sobre a
para atender um número muito grande de crianças, vindas mãe e/ou família usuária e sobre a creche, conforme o
normalmente das famílias mais pobres. Por isso, a sua modo de relacionamento entre elas. Do ponto de vista da
concepção sempre esteve ligada a um estigma de "mal mãe, a creche assistencialista lhe presta um enorme favor.
necessário" (Rosemberg, 1983). Esta "caridade" a coloca no papel de alguém que deve ter
Outras décadas se passaram até que ocorresse uma ação um sentimento de gratidão incondicional, pois os sinais de
governamental para responder à demanda crescente por insatisfação ou queixa podem receber a ameaça de
creches e aos altos índices de" mortalidade infantil da suspensão da criança, temporária ou definitiva, em
época. Agindo de maneira assistencial, o governo federal resposta.
criou, na década de cinquenta, a Fundação Legião Brasileira Atrasos na chegada ou na saída, faltas em reuniões ou levar
de Assistência (LBA) e com ela, uma série de programas de a criança sem a mãe estar trabalhando, são mal vistas pela
auxílio à população tida como "carente". Instituiu assim creche. E as punições à mãe atingem, na verdade, mais a
uma política de financiamento da filantropia através de criança, que perde por não poder ir à creche, por causa do
convênios com as instituições (Oliveira, 1988; Rosemberg, "erro" da mãe.
1989a). A creche considerada como direito da criança e opção da
Por volta da década de setenta, a crise econômica, o família tem outra ordem de obrigações. Em relação à
crescimento desorganizado dos centros urbanos, a família, deve mantê-la informada sobre o trabalho com as
emancipação feminina, as alterações nas concepções de crianças e as educadoras devem oferecer suporte social,
educação e nos modos de organização familiar, eram especialmente às mães, e não apenas criticá-las. A família,
alguns dos elementos identificáveis nas grandes por sua vez, pode questionar o trabalho da creche. Essa
transformações sociais, que se refletiram em mudanças na maior transparência exige, também, um outro tipo de
concepção e na função da creche. responsabilidade da família, já que esta passa a conhecer as
De acordo com os pressupostos sócio - interacionistas, o possibilidades e limitações da própria creche para a
desenvolvimento se dá nas e pelas interações que o solução dos mais diversos problemas. Além disso, a
indivíduo estabelece com seu meio, e não ocorre somente abertura da creche para considerar as dificuldades e
na infância e adolescência e nem de forma sempre necessidades individuais leva as famílias a se
ascendente. Nas interações estão presentes elementos comprometerem mais com a educação de seus filhos,
(tanto de crianças, como de adultos) internos e externos promovendo um maior envolvimento das mesmas.
que também atuam como meios (contextos, ambientes e As maneiras como a sociedade avalia a função da creche
recursos ou instrumentos) de desenvolvimento. Estes meios parecem estar bastante associadas aos conhecimentos
são elementos mediadores das interações. existentes sobre as crianças e sobre as mães e/ou famílias
O desenvolvimento é um processo que se dá durante toda usuárias dessas instituições. Por exemplo, uma pessoa pode
a vida, sempre mediado por um contexto social, onde as avaliar a creche como "mal necessário", apoiando-se em
crises têm um papel fundamental (Werebe & Nadel- uma ideia de criança mais voltada para um aspecto
Brulfert, 1986). Nas reorganizações das habilidades angelical; indefeso, pleno de pureza e bondade, que
individuais para superação das crises ocorrem ganhos e necessita apenas do carinho materno para se tomar uma
perdas de possibilidades de desenvolvimento. Ou seja, as pessoa boa e completa.
habilidades podem ou não ser desenvolvidas conforme as
possibilidades e circunstâncias (os meios) com as quais o A relação creche - família e a formação em serviço.
indivíduo se depara no decorrer de sua história de vida Uma das características que tem marcado as
(Valsiner, 1987). transformações observadas nas creches é a maneira como
Os significados construídos a partir das interações têm uma se dá o contato entre educadoras e mães e/ou famílias das
determinação sócio-histórica, ou seja, recebem influências crianças. Até poucos anos atrás, era mais comum a prática
de um universo de significações já elaboradas no decorrer de receber e entregar as crianças no portão da instituição.
da história social, além daquelas constituídas na história Raramente as mães entravam no local onde as crianças
individual, que está imersa na primeira. Esta influência fica costumavam ficar, a não ser em ocasiões excepcionais,
clara se comparamos as atividades infantis do início do como em festas e em algumas creches, no período de
século com as atuais, ou as diferenças normalmente adaptação da criança. Geralmente as instituições
encontradas entre as atividades permitidas a meninas e a organizavam sua rotina de forma que uma pessoa ficava no
meninos. Este universo de significações no qual o indivíduo portão recebendo e/ou entregando as crianças, o que
está mergulhado influencia continuamente sua ação sobre impedia um contato maior entre as mães e educadoras,
o mundo, sua construção de conhecimentos e a com quem seus filhos permaneciam a maior parte do
constituição da subjetividade (Rossetti Ferreita et aI, 1996). tempo.

18
::: essencialconcursos.com.br :::
As manifestações observadas na relação creche - família e serem dadas aos pais e condutas em relação às
seus efeitos nas crianças denotam a intensidade da dificuldades que possam surgir. Após estabelecer uma data
afetividade ali presente, talvez a mesma afetividade que era para a mudança, é importante que se realizem reuniões
antes de domínio exclusivamente particular e que se vê frequentes de avaliação do processo durante as primeiras
exposta de maneira fulminante e irremediável ao domínio semanas.
público. Essa afetividade torna-se "órfã" e as "roupas sujas" Existem várias maneiras pelas quais a creche pode chamar
passam a não ser lavadas somente em casa (Mello & Codo, os pais â participação em seu cotidiano. Partindo do
1995). Cada vez se torna mais evidente aos profissionais de princípio de que educadoras e mães podem exercer papéis
creche a importância de um projeto específico para reciprocamente complementares no cuidado e educação
trabalhar a relação creche - família, o qual deve prever infantil, a creche deverá procurar atingir uma qualidade de
ações adequadas às situações críticas que costumam se relacionamento entre elas caracterizada pela cooperação,
repetir. A começar, por exemplo, do acolhimento à ideia da pela comunicação frequente e tranquila, com abertura e
entrada de crianças e famílias novas e também nas disponibilidade para discutir os conflitos e pelo respeito
questões de alimentação, agressividade, medos, mudança mútuo. O papel do coordenador ou diretor da creche e o
de turma, controle de esfíncteres e tantos outros temas delineamento do seu projeto para trabalhar essa relação
geradores de maior ansiedade, tanto nos pais quanto nas são fundamentais. Para a realização de um projeto assim,
educadoras, quando se trata da educação infantil (Rossetti não há como evitar a questão da qualificação profissional e
Ferreira et. aI, prelo). a necessidade de formação continuada.
Existe uma série de medidas que a creche pode e deve Seria de esperar, por exemplo, que se uma educadora
tomar para promover as relações com as famílias. Por acredita na creche como um direito da criança, ela não
exemplo, no caso, de receber crianças e famílias novas, é deveria se importar caso a mãe trouxesse a criança para a
necessário se planejar os primeiros dias na creche e creche mesmo quando tivesse condições de ficar com ela,
preparar-se para as dificuldades que possam surgir. fosse num dia de folga, nas férias... Se a educadora pensa
Para tanto, sugerimos a realização de uma entrevista com que a creche se presta apenas para quando a mãe está
os pais para trocar informações relevantes ao bom trabalhando fora de casa, provavelmente ela não veria com
atendimento da criança e para agendar o dia de entrada. bons olhos e não trataria tão bem aquela mãe que lhe
Nos primeiros dias é importante que a criança seja deixasse o filho, podendo, aparentemente, ficar com ele.
acompanhada por alguém da família ou por alguém com Nas diversas práticas do cotidiano das creches observamos,
quem tenha um bom vínculo afetivo. Com essa companhia, no entanto, que as reações das educadoras não têm este
ela tem melhores condições para enfrentar o ambiente que, tipo de coerência, seja no trato com as mães ou mesmo
a princípio, lhe é estranho. Depois que se tenha se com as crianças. Isto porque, come já colocamos, a sua
acostumado um pouquinho ao novo ambiente, será mais prática é também mediada pelas concepções que ela
fácil enfrentar a separação da pessoa querida e ficar constrói a respeito da família, da criança, da educação
sozinha na creche. Para que esses procedimentos tragam infantil, da creche e do seu próprio trabalho.
resultados positivos, os educadores também precisam estar Se a creche estabelece por princípio que ela deve ser vista,
preparados para dar uma atenção individualizada às por seus educadores e pela comunidade, como uma
crianças e famílias novas (Vitoria & Rossetti Ferreira, 1993). instituição prestadora de serviços, cujos objetivos sejam o
As reuniões de pais, como outro exemplo, não precisam ser cuidado e a educação das crianças, no seu projeto de
feitas com todas as famílias ao mesmo tempo. O pessoal formação continuada deverá introduzir conteúdos e
das creches costuma se queixar por causa do grande estratégias que promovam a conscientização das
número de faltas de famílias que ocorrem nessas reuniões. educadoras para que não cometam discriminações como as
Entretanto, os assuntos tratados nessas reuniões muitas citadas neste artigo. Incoerências e contradições assim são
vezes provocam constrangimento aos pais: as sacolas que encontradas em todos os aspectos que envolvem o
não têm vindo arrumadas, as crianças que não foram cuidado e educação infantil, como práticas de higiene,
vacinadas, os atrasos para chegar e sair da creche etc. Em alimentação, sono etc.
outras ocasiões, chama-se um médico, por exemplo, para A relação creche -família, concretizada especialmente na
dar uma palestra sobre algum assunto que se considera de maneira como se dão os contatos cotidianos entre
interesse para os pais. Só que muitas vezes estes não foram educadoras e mães, vem se tornando um campo específico
consultados e o palestrante nem sempre consegue de investigação dentre os envolvidos com a realidade das
despertar a atenção das pessoas. Além disso, toma-se creches. Contínuas observações desses contatos mostraram
cansativo assistir a alguém falando, depois de um dia cheio a forte influência que esta relação exerce sobre o trabalho
de trabalho. Sugerimos, então, que se façam reuniões com das educadoras e sobre a maneira como a criança se
pequenos grupos, dos quais só participem aqueles que comporta, tanto na creche como em casa.
sejam diretamente interessados em um determinado Procuramos defender a ideia de que a mãe (e/ou família) e
assunto a ser tratado. a educadora da creche, na condição de adultos, são os
Se uma creche deseja mudar a forma de entrada e saída principais mediadores do desenvolvimento da criança que
das crianças, permitindo que os pais entrem nos pátios, frequenta a creche, sendo necessário o estabelecimento de
salas etc., é necessário que esta mudança seja antes uma boa relação entre elas. Essa relação é especialmente
discutida amplamente por toda a equipe, em reuniões em mediada pelas representações que cada uma delas constrói
que se preveja e se planeje todas as etapas que ela deve sobre criança, creche, mulher, maternidade e educação
envolver. Para o sucesso desta mudança, é necessário ainda infantil. Defendemos a importância que se deve dar ao
que se discu14m medidas comuns sobre as orientações a preparo das educadoras de creche para estabelecer e
19
::: essencialconcursos.com.br :::
manter um bom relacionamento com as mães e/ou famílias esta antes desempenhava somente tarefas domésticas e de
das crianças com quem trabalham, tendo clareza desta cuidado das crianças. Estas transformações motivaram a
tarefa como parte do seu trabalho, caracterizado como procura dessas famílias por locais para deixar seus filhos.
atendimento e prestação de serviços especializados em Muitas vezes o atendimento a essas crianças era realizado
educação. por mulheres da comunidade, em casas de famílias, que
aceitavam a tarefa de cuidado em troca de auxílio
A brincadeira e a interação como eixos centrais da financeiro que provinha das indústrias que empregavam
educação infantil. mulheres com filhos pequenos. Sendo assim, não havia
A brincadeira é fundamental para o processo de exigência de formação adequada na área. Mas com o
aprendizagem e desenvolvimento da criança e se configura passar do tempo, o aumento demográfico nos grandes
como um dos eixos do trabalho com as crianças na centros urbanos, provocado pelo processo de urbanização
Educação Infantil, conforme as Diretrizes Curriculares do país, alavanca a procura das famílias por locais
Nacionais para a Educação Infantil (2009). Assim como nas adequados para deixar seus filhos e as “creches
DCNEI’s, o documento do Ministério da Educação domésticas” deixam de ser suficientes.
Intitulado “Critérios para um Atendimento em Creches que Também nesse período, a partir dos estudos realizados,
Respeite os Direitos Fundamentais das Crianças” (2009) a criança passa a ser vista como ser humano em
defende a brincadeira como central no trabalho com as desenvolvimento, que possui uma história de vida e
crianças nesse nível de ensino, sendo um direito capacidade de aprender, que precisa de orientação,
fundamental de toda criança. Dessa forma, a instituição de educação e ensino para se desenvolver integralmente, o
Educação Infantil se torna um lugar privilegiado para essa que não acontecia em séculos passados, quando não eram
atividade infantil. reconhecidos seus direitos. Surge então, a necessidade da
A Docência na Educação Infantil a partir das discussões criação de espaços onde as crianças pudessem ter um
realizadas, sintetiza as reflexões acerca dessa atividade atendimento com qualidade, ou seja, com garantia de
devem ser contínuas, pois passei a perceber e compreender direitos essenciais ao seu desenvolvimento.
melhor que ela não faz parte de toda a infância, mas sim Diante desse cenário, no início da história da Educação
que cada período de desenvolvimento da criança possui Infantil no Brasil o atendimento às crianças pequenas nos
uma atividade que chamamos de principal e uma delas é a espaços institucionalizados era realizado principalmente
atividade da brincadeira. com a preocupação de cuidado em relação à alimentação,
A brincadeira como atividade principal da criança na pré- higiene e a prevenção de doenças, mesmo havendo
escola é apresentada com base no texto da autora Suely intenção pedagógica/educacional (KUHLMANN JÚNIOR,
Amaral Mello que, tendo como base a Teoria Histórico 1998). E para as mães, a creche era um lugar onde podiam
Cultural, defende o processo de humanização como um deixar seus filhos para que pudessem trabalhar, o que era
processo de educação. Ressalta-se as ideias de Vigotski, uma exigência dos tempos modernos que se implantavam
principalmente sobre a importância das interações para o no Brasil naquele momento histórico.
processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, Porém, este quadro de assistencialismo existia
como a brincadeira torna-se a atividade principal da criança predominantemente para as famílias menos favorecidas,
e qual a atividade que predomina em cada período do pois para as crianças das famílias com maior poder
desenvolvimento infantil, levando em consideração que aquisitivo existiam os jardins de infância que, além de
este desenvolvimento varia de criança para criança, cuidar e zelar pelo bem estar das crianças, também lhes
dependendo muito das relações e interações presentes no passavam instruções para futura escolarização, para que
ambiente em que vive. assim já tivessem uma breve noção dos conteúdos
Nota-se a importância que a brincadeira ocupa no referentes a diversas áreas do conhecimento.
processo de ensino e aprendizagem da criança na Este cenário foi modificando-se ao longo dos anos com a
Educação Infantil, pois é neste período que ela aparece implantação de Políticas Públicas para a Educação Infantil.
com mais relevância, tornando as Instituições de Educação A Educação Infantil brasileira percorreu um longo caminho
Infantil, na sociedade em que vivemos, em espaços até alcançar o cenário que hoje conhecemos. Dentre outros
privilegiados para que a brincadeira aconteça e se aspectos, podemos apontar marcos legais que contribuíram
desenvolva. Porém, neste contexto de sociedade, para a constituição da Educação Infantil como uma etapa
precisamos considerar que há diferenças regionais, da Educação Básica no Brasil.
demográficas e culturais que ainda não permitem a Em 1943, o governo federal instituiu a Consolidação das
concretização deste ideal de Educação Infantil. O papel do Leis de Trabalho (CLT, Lei nº 5.452, promulgada no dia
professor pode e deve intervir para que a brincadeira seja primeiro de maio de 1943), em vigor até os dias de hoje e
garantida no interior das instituições de educação infantil, que preconizava os direitos da mãe trabalhadora que
sendo um/a mediador/a entre a criança, o seu amamentava (art. 389), indicando que toda a empresa com
desenvolvimento e o conhecimento. mais de 30 mulheres, funcionárias, na faixa de 16 a 40 anos,
era obrigada a manter creches próprias ou manter
PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL convênio com entidades especializadas.
NO BRASIL As empresas tinham grande dificuldade em tratar as
Com a industrialização do país, a mulher precisou entrar creches como direito do trabalhador; em muitos casos
para o mercado de trabalho, mais precisamente nas eram consideradas um ato de benemerência.
indústrias têxteis, para auxiliar no sustento da família, O período de 1945 a 1964 foi caracterizado pelo populismo
especialmente nas classes menos favorecidas, visto que e marcado pelo otimismo resultante da esperança de um
20
::: essencialconcursos.com.br :::
desenvolvimento acelerado. Nesse período há nova Com base no documentário virtual “Luta das Mulheres pelo
mudança do modelo econômico, porque o Direito a Creche”, no final dos anos 70 e, sobretudo na
desenvolvimentismo, que até então fora marcado pelo década de 80, surgiu em São Paulo o “Movimento de Luta
nacionalismo, começa a entrar em contradição com o início por Creches”, organizado pela sociedade civil e com forte
da internacionalização da economia, resultante da influência do feminismo. Isso criou novos canais de pressão
instalação em maior número das multinacionais, no sobre o poder público. O resultado desses movimentos foi
Governo Kubitschek (1956-1961). o aumento do número de creches e pré-escolas mantidas
No campo da educação, ocorria o debate a respeito do pelo poder público e a multiplicação de creches e pré-
anteprojeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação escolas particulares conveniadas com os governos
Nacional (LDBEN), que levou 13 anos para ser homologada. municipais, estadual e federal.
Na década de 1960, com o aumento da industrialização e a No ano de 1988, durante o governo de José Sarney, foi
urbanização no país há um grande aumento de mulheres promulgada a Constituição Federal (CF/88), lei maior em
no mercado de trabalho. nosso país, que pela primeira vez garantia o acesso de
Neste período foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da crianças de 0 a 6 anos de idade às creches e pré-escolas4.
Educação Nacional (Lei 4024/61), pela primeira vez, Em seu artigo 208, inciso IV, afirma que [...] O dever do
incluindo os jardins-de-infância no sistema de ensino. A Estado com a Educação será efetivado [...] mediante
referida lei estabelecia que: garantia de atendimento em creches e pré-escolas às
Art. 23 – A educação pré-primária destina-se aos menores crianças de até 05 anos5 (BRASIL. Constituição Federal,
de até 7 anos, e será ministrada em escolas maternais ou 1988). O texto da Constituição Federal abriu caminho para
jardins-de-infância. que fossem criadas e ampliadas novas leis que garantissem
Art. 24 – As empresas que tenham a seu serviço mães de a Educação Infantil como direito das crianças. Neste
menores de sete anos serão estimuladas a organizar e contexto histórico a criança já era vista como parte
manter, por iniciativas próprias ou em cooperação com integrante e participativa da sociedade como sujeito de
poderes públicos, instituições de educação pré-primária direitos.
(LDB, 1961). A LDBN 9.394/96 que dá garantia de acesso à Educação
Embora tenham sido incluídos os jardins-de-infância em Infantil, entendida como primeira etapa da Educação Básica
um registro legal percebemos que não seriam e fazendo parte do Sistema Nacional de Ensino, tendo
exclusivamente da alçada do poder público. Desta forma, a como finalidade o desenvolvimento integral da criança de 0
educação infantil continuaria como vinha sendo oferecida. a 5 anos e 11 meses6 de idade, conforme texto a seguir:
A educação da criança pequena começa a se alterar com o Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação
governo militar, pós-64. Com a Lei 5692, aprovada em básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da
1971, segunda LDBEN, novamente é mencionada a criança de até cinco anos de idade, em seus aspectos físico,
educação infantil, e nesta é ressaltado o que já estava no afetivo, intelectual, linguístico e social, complementando a
artigo 24, da Lei 4024. ação da família e da comunidade.
O parágrafo 2º, do art. 19, afirma que: “os sistemas valerão Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
para as crianças de idade inferior a 07 anos de idade que I- Creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até
recebam conveniente educação em escolas maternais, três anos de idade;
jardins-de-infância ou instituições equivalentes” II- Pré-escolas, para as crianças de quatro a cinco anos de
(BRASIL,1971). idade7 (LEI nº 9394. BRASÍLIA, 1996).
Sendo assim, o acesso à educação tornou-se obrigatório Considerava-se creche o atendimento de crianças de 0-3
dos 07 aos 14 anos, porém a educação infantil ainda não anos de idade e pré-escola o atendimento de crianças de
era considerada parte da educação básica. 4-6 anos de idade.
Neste período histórico podemos conceituar escolas
maternais, jardins de infância e creches; tais termos se A educação infantil, primeira
diferem pela classe social em que a criança está inserida, ou etapa da educação básica, tem
seja, maternais e jardins de infância para crianças de como finalidade o
famílias mais abastadas e creches para crianças de famílias desenvolvimento integral da
menos favorecidas. Contudo, as famílias que necessitavam criança de até cinco anos de idade, em seus aspectos
de um local para deixar seus filhos com idade inferior à físico, afetivo, intelectual, linguístico e social,
acima citada, contavam com instituições mantidas pela complementando a ação da família e da comunidade.
Assistência Social e, em alguns casos, pela igreja católica.
Em 1972, existiam muitas crianças matriculadas nas pré- Em 1998, foram elaborados os Referenciais Curriculares
escolas em todo o país, mas o descaso à educação infantil Nacionais para a Educação Infantil (RCNEI). As orientações
enquanto política educacional continuava. O grande contidas no documento eram apresentadas em três
embate de ideias tinha como centro a questão: se a volumes, foi elaborado de maneira a servir como um guia
educação de crianças de 0 a 6 anos deveria continuar com de reflexão sobre objetivos, conteúdos e orientações
uma finalidade assistencialista ou deveria ter um cunho didáticas para os profissionais que atuam diretamente com
pedagógico, ou seja, educacional, embora muitas crianças de 0 a 6 anos de idade.
instituições de ensino infantil já apresentassem várias Com todas estas mudanças, a educação infantil, agora
características pedagógicas. fazendo parte da educação básica, possui caráter
educativo, de ensino e de desenvolvimento da criança em
todos os seus aspectos, inclusive associados ao cuidar e,
21
::: essencialconcursos.com.br :::
para que estas exigências se concretizassem, fez-se os ritmos da história e fazer parte da mesma, já que em
necessário também que houvesse formação profissional outros tempos esta era considerada um ser quase invisível.
inicial e continuada das pessoas que realizam este Atualmente a criança começa a ser considerada, legalmente
atendimento, ou seja, dos (as) professores (as). e no meio acadêmico, em sua especificidade, com
O Ministério da Educação (MEC), no ano de 2009, lançou a identidade pessoal, histórica e cultural, que deve ser
Resolução Nº 05 de 17 de dezembro, que fixa as Diretrizes valorizada, e seu desenvolvimento, em todos os períodos, a
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEIs). ser observado, pesquisado, registrado e avaliado. Nesse
Esta norma tem por objetivo estabelecer as diretrizes a trabalho, estamos considerando a criança como:
serem observadas na organização de propostas (...) sujeito histórico e de direitos que, nas interações,
pedagógicas nessa etapa educacional. Este documento relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua
define a Educação Infantil como: identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia,
[...] primeira etapa da Educação Básica, oferecida em deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e
creches (0-3 anos) e pré-escolas (4 a 5 anos), as quais se constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade,
caracterizam como espaços institucionais educacionais produzindo cultura (BRASIL, DCNEIs, 2010).
públicos ou privados, não domésticos, que educam e Conforme Mello (2007), todo ser humano, como ser social,
cuidam de crianças de até 5 anos de idade, no período vive em constante interação com o meio. É nessa interação
diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e que os seres humanos se constituem como pessoas,
supervisionados por órgão competente do sistema de construindo as relações que estruturam suas vidas (relações
ensino e submetidos a controle social (BRASIL. Diretrizes sociais, afetivas, entre outras). Este princípio de
Curriculares Nacionais da Educação Básica, 2009). desenvolvimento estudado por Vigotski e seus seguidores
Com base neste documento, há que considerarmos a é abordado pela Teoria Histórico Cultural como um
definição de dois eixos norteadores do trabalho processo dialético e complexo de inter-relações que se
pedagógico na Educação Infantil. São eles: as Interações e tecem entre o meio social e as bases biológicas e que
as Brincadeiras. E ainda, para que se cumpram as diretrizes, promovem o desenvolvimento cognitivo e social em
os aspectos relacionados ao cuidar e educar devem estar interação.
sempre vinculados como ações para que se efetive com O processo de humanização é como chamamos o processo
qualidade o atendimento na Educação Infantil. de apropriação das qualidades tipicamente humanas, ou
Outra grande conquista recente para a Educação Infantil foi seja, a linguagem, o comportamento social, o pensamento
o Plano Nacional de Educação – PNE (2014) que diz em sua organizado, etc. Todos nascemos com funções biológicas já
meta 1: definidas, por exemplo, ouvir, ver, imitar, alimentar-se,
“Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola entre outras. Porém, a função do processo de humanização,
para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e segundo a Teoria Histórico-Cultural, é justamente fazer
ampliar a oferta de educação infantil em creches, de forma com que o indivíduo, ou seja, a criança, se aproprie das
a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das qualidades inerentes ao ser humano através da apropriação
crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência deste dos objetos da cultura histórica e criados pela sociedade ao
PNE”. longo do tempo.
Considerando que o PNE foi aprovado em 2014, o tempo Esta apropriação das qualidades humanas se dá pela
previsto para atender as crianças de 0 a 3 anos de idade é interação com sujeitos mais experientes e inicia-se na
excessivamente longo e, no nosso entendimento, este família, como primeiro contato social da criança, e tem
atendimento não deveria ser de apenas 50%, mas sim, de continuidade na escola, onde a criança inicia seus primeiros
100%. contatos com a socialização, interação, estimulação social,
Como podemos observar ao longo desse texto, na história intelectual e emocional, de maneira sistematizada. Sendo
educacional de nosso país a Educação Infantil sofreu muitas assim, a escola deve ser o espaço principal para
e importantes mudanças ao longo dos anos, apropriação das qualidades humanas na nossa sociedade.
principalmente o reconhecimento por parte do poder
público de que esta é uma etapa da Educação Básica, Teoria Histórico Cultural como um
reconhecendo as crianças como seres sociais, histórico- processo dialético e complexo de
culturais e de direitos, bem como, valorizando os inter-relações que se tecem entre o
profissionais de Educação Infantil e as práticas pedagógicas meio social e as bases biológicas e
inerentes ao desenvolvimento integral das crianças. que promovem o desenvolvimento cognitivo e social
Mais especificamente, podemos considerar que garantir a em interação.
brincadeira e as interações como eixos norteadores do
trabalho pedagógico na Educação Infantil configura-se um Durante a infância, em cada idade da criança há uma
grande avanço, pois sinaliza a compreensão de que a atividade dominante, que ela passa mais tempo praticando,
atividade da brincadeira é fundamental para o processo de essa atividade que também chamamos de atividade guia
aprendizagem e desenvolvimento das crianças. pode lhe dar algum prazer, mas também pode causar
frustração. Assim ela vai atribuindo sentido e significado ao
A BRINCADEIRA COMO ATIVIDADE PRINCIPAL DA que vê e vive. Segundo Mello (2007): O estudo da criança
CRIANÇA nas diferentes idades mostra que, em cada idade,
Como vimos, a Educação Infantil no Brasil, passou por condicionadas pelo desenvolvimento orgânico, e pelo
grandes mudanças, originadas por novas exigências sociais conjunto de vivências sociais por ela acumuladas, surgem
e econômicas. Com elas, a criança começa a acompanhar novas formações no processo de desenvolvimento (p.96).
22
::: essencialconcursos.com.br :::
Isso quer dizer que quando a criança chega ao final de características, em algumas crianças elas podem surgir mais
cada período de desenvolvimento vai deixando de lado a cedo do que em outras.
atividade que mais tempo praticava, então, surge uma nova Podemos então dizer, que a atividade principal que se
atividade e uma nova fase, iniciando um novo período de manifesta de maneira explicita na criança na idade pré-
desenvolvimento. escolar é a brincadeira e que ela é fundamental para o
Portanto, a atividade principal na criança varia de acordo desenvolvimento e aperfeiçoamento de todas as funções
com sua idade, com o meio social em que está inserida, importantes do ser humano, que serão para toda a vida.
com seu desenvolvimento orgânico, ou seja, depende de Vigotski, em tradução de Zoia Prestes (2008, p. 24) afirma
seu desenvolvimento motor, intelectual, afetivo-emocional que: “Conhecemos brincadeiras em que o próprio processo
e social. Para o professor é de suma importância conhecer de atividade também não proporcione satisfação. São
profundamente as características de cada período do aquelas que prevalecem no final da idade pré-escolar e no
desenvolvimento da criança de acordo com sua faixa etária início da idade escolar e que trazem satisfação somente
para, que assim, possa planejar atividades significativas e quando seu resultado se revela interessante para a criança;
desafiadoras que levam a criança a evoluir para um novo por exemplo, os jogos relacionados a resultados, quando
período do seu processo de aprendizagem e seu término é desfavorável para a criança, provoca um
desenvolvimento. sentimento de insatisfação”.
Segundo Mello (2007), no primeiro ano de vida a atividade
principal da criança é a comunicação emocional com os A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO
adultos, que se dá através do choro, do olhar, de INFANTIL
movimentos corporais, de sorrisos e balbucios. Nesta fase, A Educação Infantil deve ser compreendida como um
ela percebe as emoções e intenções do adulto por meio do espaço privilegiado para o desenvolvimento da atividade
toque, da fala e do olhar. Para Vigotski, nesse período da brincadeira pela criança. Brincadeira é uma atividade
ainda não há a presença da brincadeira. que não nasce com a criança, mesmo que tenha elementos
Ao final do primeiro ano, a criança adquire novas naturais ela necessita de interação e relação sociais
formações, como o andar, o início da compreensão da significativas. E, sendo essas relações de qualidade a
linguagem e o despertar da vontade própria. É na primeira criança aprende a brincar e pratica essa atividade desde
infância que tem início a exploração dos objetos, a muito pequena.
exploração do meio ambiente e o desenvolvimento da Como a criança é um ser em desenvolvimento, sua
linguagem verbal. brincadeira vai se estruturando conforme vai adquirindo
habilidades e seu desenvolvimento avançando, ou seja, em
Conhecer profundamente as cada período vai ampliando sua forma de atuar no mundo.
características de cada período do Sendo, assim, a Educação Infantil é o espaço
desenvolvimento da criança de institucionalizado onde a criança interage com outras
acordo com sua faixa etária para, que assim, possa crianças, com adultos, com objetos e elementos da cultura
planejar atividades significativas e desafiadoras que onde está inserida. Tem como objetivo proporcionar
levam a criança a evoluir para um novo período do seu tempos, espaços e situações de aprendizagem para que a
processo de aprendizagem e desenvolvimento. mesma se desenvolva integralmente, bem como propiciar a
ela diferentes formas de sentir e expressar-se.
De acordo com Vigotski, traduzido por Zoia Prestes (2008, Diante disso, compreendemos a necessidade de ampliar e
p. 25), na primeira infância (0 a 3anos) a criança já não se qualificar nossas ações e práticas pedagógicas para que
interessa tanto pelas atividades que anteriormente possamos atuar com mais segurança, comprometimento e
deixavam-na satisfeita. intencionalidade no processo educacional.
Nessa fase ela é imediatista e não compreende quando Assim, os/as profissionais da Educação Infantil, em especial
seus desejos não são atendidos e satisfeitos professores e professoras, devem buscar desenvolver na
imediatamente, pois manifesta a tendência para a criança a capacidade simbólica do pensamento,
resolução e a satisfação imediata destes desejos. considerando a atividade principal da criança (de acordo
Este comportamento terá reflexo direto na idade pré- com o período em que se encontra). É necessário
escolar, quando esses desejos não satisfeitos são expressos proporcionar às crianças espaço para que elas possam
através das brincadeiras, e é nesse período que surgem, expressar sua forma de pensar, organizar, desorganizar e
além de todas as características supracitadas, a imaginação, construir o mundo.
a fantasia, o pensamento lógico-matemático, a É pela imaginação que a criança consegue demonstrar seus
concentração, a atenção, a memória, a coordenação sentimentos, vontades, insatisfações, frustrações e
motora, a linguagem oral, orientação espaço-temporal, a fantasias. Mais uma vez cabe ao/a professor/a criar espaço
imitação, e a reprodução (a sua maneira) de experiências e possibilitar que a criança brinque e, através dessa
do cotidiano. Sendo assim, a brincadeira tem início para a brincadeira, aprenda e desenvolva cada vez mais a
criança e seu interesse pela interação com outras crianças e capacidade simbólica de seu pensamento.
para o compartilhamento de objetos e brinquedos fica Por mais simples que pareça a brincadeira, ela traz consigo
evidenciado, mesmo que isso provoque conflitos, possibilidades de revolução no desenvolvimento de uma
entretanto é uma característica do período. O faz-de-conta criança e deve ser valorizada em todos os momentos,
torna-se a atividade principal do período. principalmente, deve ser considerada eixo do trabalho
Porém, devemos lembrar que cada criança tem seu tempo, pedagógico nas instituições de Educação Infantil.
não há um tempo exato para o aparecimento de certas
23
::: essencialconcursos.com.br :::
De acordo com Mello (2007) o brincar é parte essencial de desenvolvimento em que se encontra. Deve ser o
seu desenvolvimento. Porém, para que esse processo mediador, o organizador de espaços e tempos para um
ocorra de maneira significativa, faz-se necessário que o atendimento de qualidade para a criança durante sua
professor ou professora conheça e considere todas as permanência na instituição.
especificidades de relacionamento da criança com o O/a bom/boa professor/a deve sempre estar se
mundo à sua volta. Neste sentido, o papel principal do/da capacitando, aperfeiçoando-se, trazendo para sua prática
professor/a é promover o “bom ensino”, considerando que em seu espaço de trabalho na Educação Infantil métodos
a aprendizagem antecipa e conduz o desenvolvimento. inovadores que despertem a curiosidade das crianças e
Para a Teoria Histórico-Cultural (Mello,2007 p. 98), o “bom levem-na a construir sua autonomia de maneira
ensino” deve ter professores e professoras conscientes que significativa. Deve ter sua prática pedagógica planejada e
seu papel é o de orientar as ações das crianças. Neste registrada diariamente,
sentido, o/a professor/a deve ser o/a mediador/a que cria considerando a criança que atende e levando em
desafios, orienta e estimula a criança a superá-los, consideração que as interações e as brincadeiras devem ser
garantindo que adquiram novas habilidades e aperfeiçoem os eixos condutores das práticas pedagógicas na Educação
as já adquiridas, superem seus medos e testem seus limites, Infantil.
avançando assim para uma nova etapa de
desenvolvimento. Assim, a criança constrói e reformula o A BRINCADEIRA COMO EIXO DO TRABALHO NA
aprendizado, incorporando esse conhecimento para novas EDUCAÇÃO INFANTIL: DIFICULDADES E
situações ao longo de sua vida. POSSIBILIDADES
A brincadeira, nas palavras de Vigotski, em tradução de A partir das leituras realizadas, bem como os
Zoia Prestes (2008, p. 35), conhecimentos acessados sobre a garantia de qualidade no
É fonte de desenvolvimento e cria a Zona de atendimento às crianças e sobre seus direitos fundamentais
Desenvolvimento Iminente (proximal), que é aquilo que ela enquanto seres participantes da história e da construção da
não consegue realizar sozinha, até que ela as interiorize, e sociedade, sempre orientando para o desenvolvimento de
através de situações imaginárias coloca a criança em um propostas que envolvam a atividade da brincadeira,
nível mais elevado de desenvolvimento, assim, ela faz um salientando que esta deve ser uma das atividades eixo no
ensaio para futuramente ter autonomia na realização trabalho pedagógico dentro das instituições de Educação
dessas atividades e chegar a Zona de Desenvolvimento Infantil. O aprendizado que adquiri me permite discutir
Real (ZDR), que é o que a criança consegue realizar sozinha, com colegas a importância dos/as professores /as
com independência. conhecerem e considerarem o período de desenvolvimento
Desta forma, o “bom ensino” envolve a mediação do da criança para planejar e organizar espaços e tempos que
professor ou da professora ou, até mesmo, de crianças sejam realmente significativos.
mais experientes, e estes necessitam conhecer o que a
criança já traz consigo para promover novas aprendizagens Partindo de concepções teóricas de
e passar para um nível mais elevado de desenvolvimento. que a criança tem sua curiosidade
Diversas sociedades reconhecem o brincar como parte da despertada por brincadeiras e por
infância. Partindo de concepções teóricas de que a criança meio delas se relaciona com o meio
tem sua curiosidade despertada por brincadeiras e por físico e social, de modo a ampliar seus conhecimentos,
meio delas se relaciona com o meio físico e social, de modo desenvolver habilidades motoras, cognitivas e
a ampliar seus conhecimentos, desenvolver habilidades linguísticas, a Instituição de Educação Infantil, segundo
motoras, cognitivas e linguísticas, a Instituição de Educação a Resolução Nº 5, de 17 de dezembro de 2009 em seu
Infantil, segundo a Resolução Nº 5, de 17 de dezembro de artigo 8º, deve garantir à criança:
2009 em seu artigo 8º, deve garantir à criança: “(...) o acesso a processos de apropriação, renovação e
“(...) o acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de
articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como direito à proteção, à
diferentes linguagens, assim como direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à
saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação
brincadeira, à convivência e à interação com outras com outras crianças” (BRASIL, 2009).
crianças” (BRASIL, 2009).
As crianças fazem das brincadeiras uma ponte para o A escola como principal espaço de interação e brincadeira
imaginário, a partir disto, muito podemos contribuir. Contar para a criança, é necessário proporcionar formação
e ouvir histórias, dramatizar, jogar, desenhar, brincar, entre continuada dos docentes e demais profissionais que ali
outras propostas, possibilitam uma diversidade de atuam. Além disso, é necessário que as famílias sejam
experiências que ampliam o universo da brincadeira infantil orientadas sobre a importância da atividade da brincadeira
e, consequentemente, o processo de aprendizagem e para o processo de aprendizagem e desenvolvimento das
desenvolvimento da criança. crianças, pois alguns pais, especialmente da pré-escola,
Os/as professores/as que atuam na Educação Infantil preocupam-se muito com a alfabetização da criança,
devem ter consciência de que irão trabalhar com as pensando que esta deve ir para o 1º ano lendo e
crianças pequenas no seu dia-a-dia em várias situações. escrevendo. E isso é um grande equívoco!
Devem ter visão ampla em todos os momentos, Segundo Mello (2007, p.91), é um encurtamento da
procurando sempre fazer as intervenções necessárias ao infância desnecessário, pois isto se dará no período
desenvolvimento da criança no período de certo, e o que se pode fazer para que estas habilidades
24
::: essencialconcursos.com.br :::
sejam adquiridas ou aprendidas sem frustração é condições concretas de vida determinam e ao mesmo
propiciar um ambiente rico em interações e atividades tempo são determinantes de tais relações e interações. Tal
lúdicas. Estas famílias devem ser esclarecidas no sentido processo não acontece de forma linear, ele é construído
de compreender que a brincadeira é capaz de auxiliar dialogicamente e interligado as dimensões culturais, sendo,
muito a criança nesse processo e que a Educação contudo, historicamente significado pelos sujeitos que dele
Infantil não possui o objetivo de escolarizar e sim participam.
desenvolver integralmente a criança. Em relação à criança, consideramos que quando ela é
A brincadeira tem um importante papel na trajetória do tratada como um sujeito histórico e cultural, a mesma
desenvolvimento da criança, sendo a atividade principal emerge da sombra dos preconceitos do mundo dominado
entre 3 e 6 anos de idade. Na medida em que criança vai pelos adultos, deixa pouco a pouco o anonimato em que
crescendo a brincadeira vai modificando-se, ficando mais vive e passa a ser vista como personalidade em formação e
complexa. Vai se tornando mais regrada, mais próxima de passa a merecer a liberdade e a possibilidade de conhecer
situações reais. (MELLO, 2006, p.96); conhecer no sentido de se produzir e
Com os estudos realizados, percebemos que, conforme compreender o mundo, a cultura e as formas de
afirmam as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação sociabilidades. Lembro aqui das palavras de Lev Vygotsky
Infantil (2010), o objetivo da Educação Infantil é de (1995) quando afirma que: "o essencial para o ser humano
proporcionar às crianças a possibilidade de vivenciarem não é o simples fato de perceber o mundo, mas de
situações de aprendizagens por meio de um ambiente rico compreendê-lo".
em interações, onde as crianças trocam entre si, com os Logicamente que os adultos-professores são os
adultos e com os objetos da cultura na qual está inserida. E mediadores e possibilitadores de experiências ricas das
a brincadeira é uma atividade insubstituível e crianças em contato com as variações da cultura humana,
fundamental para o processo de aprendizagem e sendo, contudo, os responsáveis pelo processo
desenvolvimento integral da criança. educacional-pedagógico no espaço-tempo da escola de
A partir desse estudo, foi possível perceber que os (as) educação infantil. Para além de precisar reafirmar algo que
professores (as) de Educação Infantil têm a função de é essencial ao processo de formação das crianças, nossa
garantir, através das práticas pedagógicas, um direito intenção é procurar ressaltar uma posição teórico-
fundamental da criança: o BRINCAR. metodológica em que adultos e crianças estejam no centro
do processo educacional-pedagógico, travando relações e
A DOCÊNCIA COMPARTILHADA NA EDUCAÇÃO interações que valorizem a humanidade que habita em
INFANTIL. cada um, considerando-se o lugar específico que cada um
ocupa na realidade social e no interior da qual age, uma
Artigo: Profº Altino Martins Filho vez admitida à complexidade e a heterogeneidade de cada
Partimos do princípio que o exercício da docência perpassa grupo.
pelas relações e interações dos adultos-professores e das Em relação as crianças, há que se concordar que sua
crianças entre si. Indubitavelmente esta é uma tarefa que realidade nem sempre é "captada" pelo professor, seus
envolve a parceria e a participação de ambos os sujeitos. canais de recepção parecem muitas vezes obstruídos por
Dessa forma que salientamos a importância que as certas lógicas adultocêntricas que o impedem de ver, ouvir,
interações humanas tomam no delineamento da profissão sentir as expressões que são peculiares do grupo infantil.
docente. O motivo principal que nos movem a tal Está aí implícita uma interdição do próprio professor na sua
afirmação, diz respeito ao fato que a profissão docente se ação de sonhar, poetizar, transgredir, criar, inventar e
desenvolve em um ambiente de trabalho constituinte e reinventar a própria vida, o que o leva muitas vezes a
constituído de interações humanas. No qual adultos- fortalecer a lógica excludente que diz querer combater.
professores e crianças estão imersos nessas interações, Sendo assim, ao desconsiderar a alteridade do outro,
sendo influenciados por elas e influenciando-as. diferente dele, o adulto-professor acaba colocando este
O protagonismo compartilhado que estamos nos referindo, outro-criança em um lugar de invisibilidade.
ajuda a definir elementos para construir um quadro de A ideia de docência pela via do protagonismo
análise que se fundamenta em uma abordagem de compartilhado inclui decisivamente com respeito e atenção
docência como um trabalho interativo no processo de as diferenças geracionais. Diferenças que nos provocam a
constituição de si? O professor? E de constituição do outro? dizer que a docência precisa entrar no clima das crianças,
A criança. Um processo de constituição de sujeitos que não tomando jeito de criança, pois mesmo que a criança esteja
se dá aleatoriamente, já que se apresentam intimamente inserida em uma sociedade regida pela lógica
imbricados e são complementares. adultocêntrica, podemos afirmar que muito ainda temos
Atribuímos o adjetivo compartilhado aposto ao termo em conhecê-las para aprender seus jeitos de ser. O
protagonismo pela razão de compreender que todas as adultocentrismo que criticamos, diz respeito ao que leva os
relações e interações sociais passam a configurar como adultos à obscurecer, silenciar, adormecer, regular e negar
sinônimo de educação, entendida como formação das a condição de existência e insistência das crianças.Isso
humanidades. Tal configuração não se restringe as relações permite tematizar a docência não mais por uma visão
produzidas na interação adulto-professor e criança, mas meramente adultocêntrica e cognitivista de transmissão de
também da criança com o adulto-professor e conhecimento, mas buscar construir um significado para
principalmente das crianças entre elas. Tais relações sociais ela com base nas práticas cotidianas dos professores, pois
não acontecem naturalmente, mas como produto das entende-se que estas produzem uma riqueza de
condições sociais concretas de vida. Podemos dizer que as conhecimentos que devem ser ponto de partida para o
25
::: essencialconcursos.com.br :::
aperfeiçoamento da própria docência, bem como no que as foi e está sendo elaborado e objetivado pela humanidade,
próprias crianças expressam no movimento-vida cotidiano. entre outros aspectos a serem desenvolvidos. Assim,
Desse ponto de vista, temos procurado mostrar que ratificamos a afirmação de Kuhlmann Jr. (1998), quando diz
simplesmente atender a criança, cumprindo apenas a rotina que "tudo, absolutamente tudo, o que as crianças
e as obrigações de cuidado, não é suficiente para uma vivenciam na creche e pré-escola é educacional",
Pedagogia da Infância que deseja respeitar as crianças precisando este educacional ser referenciado
como cidadãs no presente, e não no futuro. pedagogicamente e ser pautado no respeito à
Sendo assim, enfatizamos o desvio que vem a ser a compreensão da alteridade do ser criança.
docência exercida pela "versão escolar do conhecimento" Debruçar-se sobre a construção do espaço coletivo de
em sua posição fechada e unilateral, isto é, o adulto- educação para crianças bem pequenas e pequenas,
professor agindo sobre e pelas crianças. Esse é um viés de principalmente no intuito de significar sua distinção e
transmissão e memorização de conhecimentos cujo repasse especificidade, implica trazer à tona a pluralidade das
(transmissão) é de responsabilidade do professor e o identidades infantis, reconhecer a história individual das
recebimento (memorização) de responsabilidade das crianças, suas necessidades singulares de desenvolvimento.
crianças. Implica atentar para as diversas interações que se
Deixamos sobressair a crítica endereçada à tradição da desenvolvem no seu cotidiano entre os diferentes sujeitos.
educação como instrução e ficamos desejosos de traçar a Implica considerar aspectos das humanidades das crianças,
especificidade da educação infantil, a qual coloca a criança do seu ser-já-sendo e não como um vir-a-ser. Implica, por
na marca da diferenciação em relação a uma visão de fim, afirmar que práticas de proteção, guarda, carinho,
escolarização tradicional. Nessa noção, a creche e a pré- afeto, escuta, assistência, cuidado e educação são
escola são compreendidas como um lugar privilegiado para necessárias para o desenvolvimento infantil e
se viver a infância e também espaço-tempo de esboçar indispensáveis à sobrevivência saudável de qualquer
processos sociais intencionais de mediação e interação criança.
qualificadas. Por esse entendimento, as intencionalidades educativas no
Neste caminho, a criança é tomada como ponto de partida, viés da docência como um protagonismo compartilhado
em um sentido de não subestimar suas potências e não se subordinam a modelos previamente estabelecidos
competências. Considera-se a importância de situar como proposto prescritivamente numa grade curricular
movimentos em que a potência da vida das crianças obrigatória com tudo-igual-para-todos. Assevera-se que
sobrepõe-se ao poder sobre a sua vida na produção de tais modelos não dão conta da complexidade da educação
uma docência que seja inventiva de novas formas de das crianças bem pequenas e pequenas, já que acabam
relações do sujeito consigo mesmo e com os outros. Aqui, escamoteando seus contextos individuais-sociais-culturais
afirma-se que o pedagógico seja educacional e que o particulares de vida.
educacional seja pedagógico, sem distinção ao exercício da Assim, há que se apontar para uma concepção
docência que está a todo tempo entrelaçada aos extremamente minuciosa da docência em uma abordagem
acontecimentos e situações-experiências cotidianas das que acredita no "sujeito ativo em interação" (VYGOTSKY,
crianças. É com base nessas assertivas que tecemos a 1995). Dessa forma, não consideramos possível um modelo
hipótese de que a docência na educação infantil é único, monolítico de proposta político-pedagógica. Temos,
constituída e se constitui no exercício do dia-a-dia pelos portanto, a convicção da importância de conceber como
adultos-professores e outros profissionais, a qual se relevante a pluralidade de pensamentos, propostas
concretiza pelas ações nos diferentes cenários do cotidiano educacional-pedagógicas, processos de socialização,
das creches e pré-escolas. aprendizagens e desenvolvimento relativos às demandas
O pensamento de Moysés Kuhlmann Jr. (1998) auxilia a das interações humanas que advêm da vida cotidiana.
esclarecer que no movimento do trabalho docente da Tomamos a proposição que considera o "homem ser
educação infantil tem-se como função um acolhimento à plural" (LAHIRE, 2002), o que nos faz pensar em uma
criança com atenção e respeito a sua faixa etária. O autor proposta de educação também plural, aberta e potente
também afirma a importância de que "o ponto de partida para acolher e compreender as interações humanas que se
desse movimento seja a criança e não um ensino desencadeiam no cotidiano da escola. Vale ressaltar que o
fundamental pré-existente". Diz que não se trata de educá- uso do plural indica diversidade: somos múltiplos; "somos,
la com o intuito de prepará-la para a escola posterior, em portanto, desde o início seres plurais, diferentes nas
um sentido de antecipação, preparação e compensação. Ele diversas situações da vida comum". (Idem, 2002, p. 39).
mostra em sua crítica "a necessidade de se compreender A proposta educacional que se almeja nascerá das
uma especificidade da educação infantil, como de outra realidades sociais e culturais das crianças, para ampliar e
ordem que a do Ensino Fundamental". desenvolver tais realidades. O conhecimento é deflagrado
Destacamos com isso que a docência com crianças em íntima relação com o processo de humanização,
pequenas precisa valorizar a totalidade das diferentes apostando-se na possibilidade de todos aprenderem,
dimensões, sem fragmentações em graus de mais ou porém não de forma natural, igual, sequencial, segregada,
menos importância. Essas dimensões devem incluir e mas pelas diversas relações e interações com a cultura, com
trabalhar os conhecimentos que advêm do corpo e seus o mundo que é gerado pelo próprio movimento-vida
sentimentos e emoções, bem como a ludicidade e a cotidiano, seja vivido no espaço social da escola ou fora
gestualidade em suas diferentes expressividades; o dele, por adultos ou por crianças.
movimento constante das brincadeiras, a expressão Essas questões são fundamentais para compreendermos,
estética, a produção intelectual em consonância com que ou mesmo visualizarmos a docência no seu delinear
26
::: essencialconcursos.com.br :::
cotidiano, descortinando os diversos condicionantes que Concepção da Educação Infantil Matrícula e faixa etária: É
estão presentes na prática educacional-pedagógica dos obrigatória a matrícula na Educação Infantil de crianças que
docentes e principalmente procurar desvelar como se dá o completam 4 ou 5 anos até o dia 31 de março do ano em
processo educativo das crianças levando-se em conta o que ocorrer a matrícula.
alto grau de protagonismo infantil. Terminando com as As crianças que completam 6 anos após o dia 31 de março
palavras de Lev Vygotsky (1995) podemos afirmar que "o devem ser matriculadas na Educação Infantil. A frequência
lugar que a criança ocupa nas relações sociais de que na Educação Infantil não é pré-requisito para a matrícula no
participa tem força motivadora em seu desenvolvimento". Ensino Fundamental.
As vagas em creches e pré-escolas devem ser oferecidas
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA próximas às residências das crianças. Jornada: É
EDUCAÇÃO INFANTIL (2009). considerada Educação Infantil em tempo parcial, a jornada
Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009 de, no mínimo, quatro horas diárias e, em tempo integral, a
Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação jornada com duração igual ou superior a sete horas diárias,
Infantil compreendendo o tempo total que a criança permanece na
instituição.
1.Objetivos 4.Princípios: As propostas pedagógicas de Educação Infantil
1.1 Esta norma tem por objetivo estabelecer as Diretrizes devem respeitar os seguintes princípios:
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil a serem Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade
observadas na organização de propostas pedagógicas na e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às
educação infantil. diferentes culturas, identidades e singularidades.
1.2 As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da
Infantil articulam-se às Diretrizes Curriculares Nacionais da criticidade e do respeito à ordem democrática.
Educação Básica e reúnem princípios, fundamentos e Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e
procedimentos definidos pela Câmara de Educação Básica da liberdade de expressão nas diferentes manifestações
do Conselho Nacional de Educação, para orientar as artísticas e culturais.
políticas públicas e a elaboração, planejamento, execução e 5. Concepção de Proposta Pedagógica
avaliação de propostas pedagógicas e curriculares de Na observância das Diretrizes, a proposta pedagógica das
Educação Infantil. instituições de Educação Infantil deve garantir que elas
1.3 Além das exigências dessas diretrizes, devem também cumpram plenamente sua função sociopolítica e
ser observadas a legislação estadual e municipal atinentes pedagógica:
ao assunto, bem como as normas do respectivo sistema. Oferecendo condições e recursos para que as crianças
2.Definições usufruam seus direitos civis, humanos e sociais;
Para efeito das Diretrizes são adotadas as definições: Assumindo a responsabilidade de compartilhar e
2.1 Educação Infantil: Primeira etapa da educação básica, complementar a educação e cuidado das crianças com as
oferecida em creches e pré-escolas, às quais se famílias;
caracterizam como espaços institucionais não domésticos Possibilitando tanto a convivência entre crianças e entre
que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou adultos e crianças quanto à ampliação de saberes e
privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos conhecimentos de diferentes naturezas;
de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, Promovendo a igualdade de oportunidades educacionais
regulados e supervisionados por órgão competente do entre as crianças de diferentes classes sociais no que se
sistema de ensino e submetidos a controle social. É dever refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de
do Estado garantir a oferta de Educação Infantil pública, vivência da infância;
gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção. Construindo novas formas de sociabilidade e de
2.2 Criança: Sujeito histórico e de direitos que, nas subjetividade comprometidas com a ludicidade, a
interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, democracia, a sustentabilidade do planeta e com o
constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, rompimento de relações de dominação etária,
fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, socioeconômica, étnicoracial, de gênero, regional,
questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a linguística e religiosa.
sociedade, produzindo cultura. 6. Objetivos da Proposta Pedagógica
2.3 Currículo: Conjunto de práticas que buscam articular as A proposta pedagógica das instituições de Educação
experiências e os saberes das crianças com os Infantil deve ter como objetivo garantir à criança acesso a
conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, processos de apropriação, renovação e articulação de
artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens,
promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à
anos de idade. confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à
2.4 Proposta Pedagógica: Proposta pedagógica ou projeto convivência e à interação com outras crianças.
político pedagógico é o plano orientador das ações da 7. Organização de Espaço, Tempo e Materiais
instituição e define as metas que se pretende para a Para efetivação de seus objetivos, as propostas
aprendizagem e o desenvolvimento das crianças que nela pedagógicas das instituições de Educação Infantil deverão
são educados e cuidados. É elaborado num processo prever condições para o trabalho coletivo e para a
coletivo, com a participação da direção, dos professores e organização de materiais, espaços e tempos que
da comunidade escolar. assegurem:
27
::: essencialconcursos.com.br :::
A educação em sua integralidade, entendendo o cuidado Ter vinculação inerente à realidade dessas populações, suas
como algo indissociável ao processo educativo; 9 A culturas, tradições e identidades, assim como a práticas
indivisibilidade das dimensões expressivomotora, afetiva, ambientalmente sustentáveis;
cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural da Flexibilizar, se necessário, calendário, rotinas e atividades
criança; respeitando as diferenças quanto à atividade econômica
A participação, o diálogo e a escuta cotidiana das famílias, dessas populações;
o respeito e a valorização de suas formas de organização; Valorizar e evidenciar os saberes e o papel dessas
O estabelecimento de uma relação efetiva com a populações na produção de conhecimentos sobre o mundo
comunidade local e de mecanismos que garantam a gestão e sobre o ambiente natural;
democrática e a consideração dos saberes da comunidade; Prever a oferta de brinquedos e equipamentos que
O reconhecimento das especificidades etárias, das respeitem as características ambientais e socioculturais da
singularidades individuais e coletivas das crianças, comunidade.
promovendo interações entre crianças de mesma idade e 11.Práticas Pedagógicas da Educação Infantil Eixos do
crianças de diferentes idades; currículo:
Os deslocamentos e os movimentos amplos das crianças As práticas pedagógicas que compõem a proposta
nos espaços internos e externos às salas de referência das curricular da Educação Infantil devem ter como eixos
turmas e à instituição; norteadores as interações e a brincadeira e garantir
A acessibilidade de espaços, materiais, objetos, brinquedos experiências que:
e instruções para as crianças com deficiência, transtornos Promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da
globais de desenvolvimento e altas habilidades/ ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais
superdotação; que possibilitem movimentação ampla, expressão da
A apropriação pelas crianças das contribuições histórico- individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da
culturais dos povos indígenas, afrodescendentes, asiáticos, criança;
europeus e de outros países da América. Favoreçam a imersão das crianças nas diferentes
8. Proposta Pedagógica e Diversidade linguagens e o progressivo domínio por elas de vários
As propostas pedagógicas das instituições de Educação gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica,
Infantil deverão prever condições para o trabalho coletivo e dramática e musical;
para a organização de materiais, espaços e tempos que Possibilitem às crianças experiências de narrativas, de
assegurem: apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e
O reconhecimento, a valorização, o respeito e a interação convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e
das crianças com as histórias e as culturas africanas, afro- escritos;
brasileiras, bem como o combate ao racismo e à Recriem, em contextos significativos para as crianças,
discriminação; relações quantitativas, medidas, formas e orientações
A dignidade da criança como pessoa humana e a proteção espaço temporais;
contra qualquer forma de violência – física ou simbólica – e Ampliem a confiança e a participação das crianças nas
negligência no interior da instituição ou praticadas pela atividades individuais e coletivas;
família, prevendo os encaminhamentos de violações para Possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a
instâncias competentes. elaboração da autonomia das crianças nas ações de
9. Proposta Pedagógica e Crianças Indígenas cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar;
Garantida a autonomia dos povos indígenas na escolha dos Possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças
modos de educação de suas crianças de 0 a 5 anos de e grupos culturais, que alarguem seus padrões de
idade, as propostas pedagógicas para os povos que referência e de identidades no diálogo e conhecimento da
optarem pela Educação Infantil devem: diversidade;
Proporcionar uma relação viva com os conhecimentos, Incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o
crenças, valores, concepções de mundo e as memórias de questionamento, a indagação e o conhecimento das
seu povo; crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à
Reafirmar a identidade étnica e a língua materna como natureza;
elementos de constituição das crianças; Promovam o relacionamento e a interação das crianças
Dar continuidade à educação tradicional oferecida na com diversificadas manifestações de música, artes plásticas
família e articular-se às práticas socioculturais de educação e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e
e cuidado coletivos da comunidade; literatura;
Adequar calendário, agrupamentos etários e organização Promovam a interação, o cuidado, a preservação e o
de tempos, atividades e ambientes de modo a atender as conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da
demandas de cada povo indígena. vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos
10.Proposta Pedagógica e as Infâncias do Campo naturais;
As propostas pedagógicas da Educação Infantil das crianças Propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das
filhas de agricultores familiares, extrativistas, pescadores manifestações e tradições culturais brasileiras;
artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da reforma Possibilitem a utilização de gravadores, projetores,
agrária, quilombolas, caiçaras, povos da floresta, devem: computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos
Reconhecer os modos próprios de vida no campo como tecnológicos e midiáticos.
fundamentais para a constituição da identidade das As creches e pré-escolas, na elaboração da proposta
crianças moradoras em territórios rurais; curricular, de acordo com suas características, identidade
28
::: essencialconcursos.com.br :::
institucional, escolhas coletivas e particularidades DIRETRIZES EDUCACIONAIS PEDAGÓGICA PARA
pedagógicas, estabelecerão modos de integração dessas EDUCAÇÃO INFANTIL DA PREFEITURA MUNICIPAL DE
experiências. FLORIANÓPOLIS (2010).
12.Avaliação I – As Propostas Pedagógicas das Instituições de Educação
As instituições de Educação Infantil devem criar Infantil devem respeitar os seguintes fundamentos
procedimentos para acompanhamento do trabalho norteadores:
pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das a) Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da
crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum;
classificação, garantindo: b) Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania,
A observação crítica e criativa das atividades, das do Exercício da Criticidade e do Respeito à Ordem
brincadeiras e interações das crianças no cotidiano; Democrática;
Utilização de múltiplos registros realizados por adultos e c) Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criatividade, da
crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); Ludicidade e da Diversidade de Manifestações Artísticas e
A continuidade dos processos de aprendizagens por meio Culturais.
da criação de estratégias adequadas aos diferentes Através das trocas sociais, isto é, através das relações que
momentos de transição vividos pela criança (transição progressivamente se entrelaçam e se aperfeiçoam entre a
casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior criança sozinha e os adultos – e entre as crianças no grupo
da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré- de jogo – cria-se um conjunto de significados
escola/Ensino Fundamental); compartilhados, uma espécie de história social que é típica
Documentação específica que permita às famílias conhecer de uma determinada creche em um período específico,
o trabalho da instituição junto às crianças e os processos constituindo pelo conjunto das rotinas (que criam
de desenvolvimento e aprendizagem da criança na expectativas), pelas regras, pelas divisões temporais (que
Educação Infantil; criam ritmos reconhecíveis), permitindo, assim, também o
A não retenção das crianças na Educação Infantil. gosto pelo imprevisto, pelos significados e pelas funções
13. Articulação com o Ensino Fundamental que os objetos e pessoas assumem naquele contexto
Na transição para o Ensino Fundamental a proposta particular. (1998, P. 29)
pedagógica deve prever formas para garantir a Ao estudar as relações sociais dos bebês em creche nota-se
continuidade no processo de aprendizagem e que: A referência de outras relações é importante ainda
desenvolvimento das crianças, respeitando as para o esclarecimento de que não se pretende hiperbolizar
especificidades etárias, sem antecipação de conteúdos que ou isolar as ações dos bebês, como se fossem originárias
serão trabalhados no Ensino Fundamental. em si, mas afirmar que na medida em que vão se
14. Implementação das Diretrizes pelo Ministério da constituindo socialmente, formando a sua subjetividade na
Educação relação com adultos e no universo cultural mais amplo traz
Cabe ao Ministério da Educação elaborar orientações para elementos dessa formação no encontro com seus pares,
a implementação das Diretrizes Curriculares. Visando desde cedo. (2008, p. 58-59).
atender a essa determinação, a Secretaria de Educação De acordo com SAMORUKOVA, e LOGUINOVA, L.S.
Básica, por meio da Coordenação Geral de Educação Vygotsky foi o primeiro a colocar a questão referente ao
Infantil, está elaborando orientações curriculares, em caráter programático do ensino pré-escolar, e
processo de debate democrático e com consultoria técnica fundamentou o princípio da sistematização dos
especializada, sobre os seguintes temas: conhecimentos para os pré-escolares, refletidos no
programa, assim como também a diferença do programa
O currículo na educação infantil: o que propõem as novas de ensino pré-escolar em relação ao escolar.
Diretrizes Nacionais? Ele analisou o papel do ensino no desenvolvimento da
As especificidades da ação pedagógica com os bebês criança pré-escolar e a preparação do mesmo para o
Brinquedos e brincadeiras na educação infantil ensino na escola, e conclamou a não copiar os conteúdos e
Relações entre crianças e adultos na educação infantil métodos de trabalho da escola (1990, p.6).
Saúde e bem estar das crianças: uma meta para educadores Esta mesma posição é colocada por Hurtado (2001) quando
infantis em parceria com familiares e profissionais de afirma que este sentido da preparação está longe de
saúde. aproximação com perspectivas de treinamento ou de
Múltiplas linguagens de meninos e meninas no cotidiano antecipação da educação escolar: (...) quando falamos em
da educação infantil. preparação da criança para seu ingresso na escola – não
A linguagem escrita e o direito à educação na primeira nos referimos ao domínio de conhecimentos e
infância. procedimentos, habilidade especifica para a posterior
As crianças e o conhecimento matemático: experiências de aprendizagem da leitura e escrita e da matemática como
exploração e ampliação de conceitos e relações objetivos da educação primária, mas sim de fazer
matemáticas. formações mais amplas e necessárias, sem que se negue
Crianças da natureza que esta preparação seja ela também necessária.
Orientações curriculares para a educação infantil do campo Trata-se de fazer que a criança forme uma atitude favorável
9 Avaliação e transições na educação infantil. até sua entrada na escola, que nela se tenham formado
motivos e interesses para aprender, para conhecer os
fenômenos do mundo que a rodeia, que nela se tenha
posto a responsabilidade do cumprimento das tarefas ou
29
::: essencialconcursos.com.br :::
encomendas, que aceite trabalhar e compartilhar do Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania,
trabalho coletivo com seu grupo de companheiros. (...). É do Exercício da Criticidade e do Respeito à Ordem
mais importante que as crianças se interessem em ler, ao Democrática; Princípios Estéticos da Sensibilidade, da
gosto de escutar um conto, a satisfação por comunicar-se Criatividade, da Ludicidade e da Diversidade de
com os demais, que aprender já alguns fonemas ou Manifestações Artísticas e Culturais (BRASIL 1999).
grafemas que correspondem à aprendizagem da leitura no
primeiro grau. Como se pode ver, se trata de trabalhar Além dos citados princípios norteadores, de acordo com as
aspectos do desenvolvimento e da formação da criança, Diretrizes Curriculares Nacionais, as propostas pedagógicas
mais que do que deter-se aos conhecimentos. (2001, p. 19). da instituição deverão também acatar as seguintes
Possibilitar aos pequenos o desenvolvimento de seu indicações: (...) explicitar o reconhecimento da importância
pensamento, o domínio das ações sensoriais em ação com da identidade pessoal de alunos, suas famílias, professores
os objetivos do mundo que os rodeia, desenvolvimento e outros profissionais, e a identidade de cada Unidade
fundamental para todas as suas aquisições posteriores e Educacional, nos vários contextos em que se situem; (...)
formações cognitivas e intelectuais - a organização de sua promover práticas de educação e cuidados, que
experiência social enriquecida para que seja capaz de possibilitem a integração entre os aspectos físicos,
comunicar-se com os outros, compartilhar suas alegrias, emocionais, afetivos, cognitivo/linguísticos e sociais da
sentir a satisfação pelo bem estar dos outros como se fosse criança, entendendo que ela é um ser completo, total e
seu próprio, tudo isso como parte de sua formação, indivisível; (...) buscar, a Doutora em Educação e Professora
constitui um sólido argumento para não aceitar as ideias de de educação infantil no Núcleo de Desenvolvimento Infantil
uma aceleração artificial do desenvolvimento psíquico da Universidade Federal de Santa Catarina – NDI/CED/UFSC
infantil e aceitar a concepção da psicologia e da pedagogia e integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisa da Educação
de fazer, nesta etapa, a ampliação e o enriquecimento na Primeira Infância – NUPEIN. 23 partir de atividades
desse desenvolvimento (p.20). intencionais, em momentos de ações, ora estruturadas, ora
Isto não se faz mediante um ensino inicial voltado à espontâneas e livres, a interação entre as diversas áreas de
interrupção da infância e a transformar antes do tempo o conhecimento e aspectos da vida cidadã, contribuindo
pequeno pré-escolar em um escolar antecipado, ao assim com o provimento de conteúdos básicos para a
contrário, utilizando ao máximo o enriquecimento da constituição de conhecimentos e valores; (...) organizar suas
experiência comunicativa da criança com os adultos e estratégias de avaliação, através do acompanhamento e
coetâneos e a realização de atividades, que além de dar- dos registros de etapas alcançadas nos cuidados e na
lhes prazer, constituam para seu desenvolvimento e educação para crianças de 0 a 6 anos, sem o objetivo de
enriquecimento intelectual, como são o jogo, a construção, promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental’;
o desenho, as atividades plásticas e criativas em geral (...) ser criadas, coordenadas, supervisionadas e avaliadas
(p.20). por educadores, com, pelo menos, o diploma de Curso de
À medida que amplia seu olhar ao mundo que a rodeia, o Formação de Professores, mesmo que da equipe de
interesse da criança se expande dos objetos em si para sua Profissionais participem outros das áreas de Ciências
função social. A imitação dos adultos em suas relações Humanas, Sociais e Exatas, assim como familiares das
sociais é o objeto do faz-de-conta que se constitui como crianças; (...) Da direção (...) deve participar,
atividade principal da criança até próximo dos seis anos. necessariamente, um educador com, no mínimo, o Curso
Nessa atividade lúdica – não produtiva – são exercitadas de Formação de Professores; (...) garantir direitos básicos
funções importantes em processo de desenvolvimento na de crianças e suas famílias à educação e cuidados, num
criança como a memória, a imaginação, o pensamento, a contexto de atenção multidisciplinar com profissionais
linguagem oral, a atenção, a função simbólica da necessários ao atendimento; proporcionar condições de
consciência. Ao se colocar no lugar do outro – adulto que funcionamento das estratégias educacionais, do uso do
busca representar – é levada a expressar seu espaço físico, do horário e do calendário escolar, que
comportamento num nível mais elevado de exigência possibilitem a adoção, excecução, avaliação e o
social. aperfeiçoamento das diretrizes (BRASIL 1999).
Com isso, exercita e aprende, pouco a pouco, a controlar A criança: em qualquer domínio, tem um ‘nível evolutivo
sua vontade e conduta. No faz-de-conta, portanto, amplia real’ que pode ser avaliado, quando ela é individualmente
seu conhecimento do mundo, organiza e reorganiza seu testada, e um potencial imediato para o desenvolvimento
pensamento, interpreta e compreende os diferentes papéis naquele domínio. Vygotsky chamou a diferença entre os
sociais que percebe na sociedade que conhece. (MELLO, dois níveis de zona de desenvolvimento proximal, que
2007, p.97). definiu como ‘a distância entre o nível evolutivo real,
determinado pela resolução independente do problema, e
No faz-de-conta, portanto, amplia seu o nível de desenvolvimento potencial determinado pela
conhecimento do mundo, organiza e resolução de um problema sob a orientação do adulto, ou
reorganiza seu pensamento, interpreta em colaboração com colegas mais capazes’ (Vygotsky apud
e compreende os diferentes papéis Moll, 1996, p. 152 - 153).
sociais que percebe na sociedade que conhece. Vygotsky, ao referir-se às possibilidades ofertadas pela
brincadeira, afirma que o brinquedo cria uma zona de
IMPORTANTE! desenvolvimento proximal da criança. No brinquedo, a
Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, criança sempre se comporta além do comportamento
da Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum; habitual de sua idade, além de seu comportamento diário;
30
::: essencialconcursos.com.br :::
no brinquedo, é como se ela fosse maior do que é na Ampliar o repertório das imagens e objetos também
realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o implica abastecer as crianças de outros elementos
brinquedo contém todas as tendências do produzidos em outros contextos e épocas, como, por
desenvolvimento sob forma condensada, sendo ele exemplo, as imagens da história da arte, fotografias e
mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento (Vygotsky, vídeos, objetos artesanais produzidos por culturas diversas,
1989a, p. 117). brinquedos, adereços, vestimentas, utensílios domésticos,
1. Se tratamos com crianças que querem aprender a ler e a etc. (Cunha, 1999, p.14).
escrever, essa maneira de ensinar não responde à vontade Maria Isabel Leite (2007) problematiza justamente essa
das crianças de ler e escrever. Ao contrário, projeta a questão: É necessário separar a experiência cultural para a
resposta a essa vontade lá para o final do ano, depois de criança do resto da cultura? As diversas expressões
muito treino de letra. Será que a vontade sobreviverá? Ou culturais voltadas às crianças têm alguma especificidade?
vai se perder no caminho? Existe uma cultura específica para as crianças? Em outras
2. Se tratamos com crianças que não querem aprender a ler palavras: existiria uma espécie exclusiva de
e a escrever – e não querem porque nunca conviveram com cultura“apropriada” para meninas e meninos? (p.48; grifos
a escrita como um instrumento de comunicação e do original).
expressão -, essa maneira de ensinar não cria nas crianças (...) as imagens que compõem os espaços educativos estão
essa vontade. nos ensinando sobre as crianças, como são, do que gostam
3. Ela desconsidera o fato de que a linguagem escrita não é e como devem ser educadas. Assim, muito além de uma
um instrumento cultural simples como um copo, uma ‘inocente decoração de ambiente’, estas ambiências são
colher, uma tesoura, mas é um sistema de signos que construções socioculturais educativas que funcionam,
representa um outro sistema de signos. Ao escrever, também, como ‘máquinas de ensinar’ (Cunha, 2005, p.135).
representamos o som da fala, mas esse som da fala não é Os cenários infantis, compostos em sua maioria por
apenas um som: ele tem um significado. Esse significado referentes midiáticos, suspendem temporariamente a vida
representa a realidade: as coisas do que falamos, nossas lá fora, os conflitos, as diferenças. Em seu encantamento
idéias, sentimentos, informações. Podemos representar formal e sua presença constante, as imagens vão validando
dessa forma esse sistema: determinados tipos humanos, enfatizando estereótipos de
sorriso > “soRizu” classe, étnicos e de gênero em um processo permanente
escrita > fala > real de produção dos sujeitos infantis. (...) Os repertórios das
Para a criança, a arte interessa enquanto processo vivido e Mônicas e sua turma ou de Branca de Neve e seus
marcado na experiência, corpo inteiro, na intensidade da anõezinhos já foram selecionados e estão ali na sala
entrega (Albano Moreira, 2002). A dinamarquesa Anna servindo como referência, dizendo o que é ser bonita/o,
Marie Holm (2007), artista contemporânea, afirma que, meiga/o, forte/fraco, querida/o, amiga/o ou zangado/a,
quando se trabalha com a primeira infância, arte não é algo ranzinza/o, mudo/a, inteligente (Cunha, 2005, p.144).
que ocorra isoladamente. Ela engloba: controle corporal, As crianças precisam se sentir seguras para que o sublime
coordenação, equilíbrio, motricidade, sentir, ver, ouvir, aconteça. Se nós permitirmos o espaço e as oportunidades
pensar, falar, ter segurança. E ter confiança, para que a para a ocorrência do sublime, as crianças irão
criança possa se movimentar e experimentar. E que ela automaticamente experimentar um dia-a-dia artístico. (...) A
retorne ao adulto, tenha contato e crie junto. O importante narrativa sublime é como uma música que preenche o
é ter um adulto por perto, co-participando e não ambiente e depois desaparece. (...) Como adultos,
controlando (p. 12). precisamos melhorar nossa capaci dade de ouvir (Holm,
As crianças deveriam aprender a pesquisar, a ter confiança 2007, p.14).
em si mesmas e a ter coragem de se pôr a trabalhar em Hoje em dia, as crianças têm acesso a todo tipo de cor,
coisas novas. As crianças não deveriam ser preparadas para mas, geralmente, sob supervisão. Eu acredito que muitas
um tipo determinado de vida; deveriam, sim, receber das experiências das crianças seriam muito melhores se os
ilimitadas oportunidades de crescimento. Aprendendo que professores, ao invés de gastarem tanta energia vigiando-
uma tarefa pode ter várias soluções, adquirimos força e as, procurassem, eles mesmos, testar as cores e usufruir o
coragem. As crianças adquirem isso na oficina de arte. Eu prazer advindo da experiência (Holm, 2004, p.86).
lhes apresento um desafio, que nunca tem uma resposta As crianças muitas vezes são obrigadas a criar em salas
definida (Holm, 2004, p.84). arrumadas demais. A arrumação estraga a curiosidade, a
Considerar a “dimensão estética” como fundamento de espontaneidade e o desejo de experimentar – habilidades
uma proposta pedagógica é compreender a que as crianças trazem do berço. Falar de arte às crianças
indissociabilidade entre os aspectos cognitivos e afetivos, está na moda e a idéia de oferecer oficinas de arte para
entre razão e sensibilidade, compreensão que ultrapassa o crianças é muito boa. Mas o problema é que não se pode
momento isolado de um “fazer artístico”, previsto pelo criar em salas muito padronizadas. Você nunca chega ao
professor em seu planejamento. (...) trata-se de uma atitude artístico, porque isso só acontece quando se está num
cotidiana, uma relação empática e sensível com o entorno, terreno deliciosamente instável (Holm, 2004, p.90).
um fio que conecta e ata as coisas entre si, um ar que leva Associo o ateliê à caixa tão temida, que abriga a
a preferir um gesto a outro, a selecionar um objeto, a imaginação, um lugar onde todas as possibilidades estão
escolher uma cor, um pensamento; escolhas nas quais se presentes e, portanto, onde o caos pode imperar. No ateliê,
percebe harmonia, cuidado, prazer para a mente e para os idéias e materiais estão à espera de uma forma. Dar forma
sentidos (Vecchi, 2006, p.15). ao desconhecido é função da arte. A imaginação sem
controle é assustadora e, talvez, seja esta uma leitura
31
::: essencialconcursos.com.br :::
possível dos monstros libertos pela mão de Pandora. A constância no fazer é que vai consolidar novas aquisições
Porém, é preciso lembrar que a Esperança, que ficou presa nas formas da produção gráfica. Com diferentes materiais,
no fundo da caixa pode guiar a imaginação, com cuidado, em diferentes suportes, com tamanhos diversos. A cada
para a construção de uma nova ordem, quando a material, tamanho de papel, por exemplo, será acionada
curiosidade será, então, premiada. Criar é dar forma ao nova experiência, colocando novas perguntas, propostas de
caos e para criar é preciso poder fazer escolhas. A escolha é exploração, busca de respostas e soluções para essa
o limite que cria a forma. Só aprendemos a escolher o produção. [...] se a capacidade de desenhar não é praticada,
próprio caminho, quando temos liberdade de opção. O ela acaba se atrofiando. E a falta de prática alimenta a falsa
ateliê é compreendido, assim, como o lugar das escolhas, idéia de que desenhar é só para quem tem ‘dom’. Não é
refúgio da esperança (Albano, 2006, p.18). verdade. Para que se desenvolva a capacidade de desenhar
é preciso – antes de qualquer coisa – dar mais espaço para
O desenho, essa linguagem ainda incompreendida a expressão própria da criança, sem a imposição de
A arte se define justamente pela diversidade, por propor desenhos prontos para colorir. (Camargo, s/d, p. 58).
algo que é pessoal e único. Quando se aceita esta premissa, James Hillman (1993) fala da repressão da beleza que
temos que descartar toda atividade que tenha como ponto tomou conta das diferentes instâncias da vida
de partida a uniformidade. (Albano Moreira, 2002, p.84). contemporânea. Embora não fale da Pedagogia, ajuda-nos
Neste lançar-se para frente que é o desenhar, existe a a perceber que também aí o estético não é um valor
possibilidade de ver-se e rever-se (...). Existe neste projetar- praticado, não é uma categoria de base. Basta observarmos
se um movimento de dentro para fora e de fora para a linguagem utilizada, os métodos empregados, o arranjo
dentro. A criança, mesmo sem ter uma compreensão das salas de aula, as rotinas, a arquitetura dos prédios, ou
intelectual do processo, está modificando e sendo seja, os jeitos de viver o cotidiano educativo – tão pouco
modificada pelo desenhar. (Albano Moreira, 2002, p.20). criativos, sem sabor. Em uma palavra: feios. Nesta hora,
[...] os desenhos para colorir são, na verdade, a negação do compreendemos facilmente a incoerência e os limites de
desenho. Normalmente esses desenhos prontos uma proposta que pretenda incluir a arte apenas como
desrespeitam a inteligência e a sensibilidade da criança. conteúdo, modo de fazer, tema, espremida entre um
Servem mais para impor às crianças as intenções do adulto intervalo e outro em que se opera a repressão da beleza.
do que abrir espaço para a criança manifestar suas No meio de toda essa história estamos nós, professores,
intenções. Assim, mesmo, os desenhos para colorir que também fomos interditados na nossa ação de sonhar,
continuam sendo fartamente utilizados na sala de aula, de jogar e inventar mundos. Também fomos reprimidos em
para introduzir temas, “fixar” conceitos, nas atividades de nossas linguagens e possibilidades expressivas. E então, o
colagens ou mesmo nas datas comemorativas. As crianças que acontece?
gostam porque foram acostumadas e porque não têm Não raro, temos dificuldade em respeitar e valorizar o jogo
outras opções. Mas nem tudo que a criança gosta é das crianças, seus modos de criar e inventar modas, seus
educativo. jeitos de dizer e representar o real. Resulta que, se não
O desenho para colorir é como a antiga tabuada, na qual se recuperarmos nossa dimensão inventiva e descobridora,
decora o resultado sem entender por quê. Ora, em lugar de dificilmente poderemos oferecer instrumentos que nutram
se dar só o resultado é muito mais educativo estimular a e ampliem a sensibilidade, cognição e afeto, no jogo
percepção, o raciocínio, a criatividade. Por isso, esse tipo de metafórico que engendra os universos infantis. Para
desenho deveria ser substituído por uma atividade que seguirmos alimentando processos criativos e criadores, é
respeitasse a capacidade e a necessidade da criança se preciso reconquistar a beleza, retirando a repressão que a
expressar. (Camargo, s/d, p.58). impede de se manifestar. E nisso há um longo caminho,
No cotidiano da Educação Infantil, ainda presenciamos tais que passa pelo coração.
práticas que desrespeitam o processo de simbolização da O professor precisa estar alimentado e conectado com a
criança e a sua possibilidade de afirmar-se como criadora, sua expressão, precisa reconquistar o seu poder
como ser no mundo, que tem alguma coisa a dizer. imaginativo, se pretende e deseja garantir a expressão e a
O desenho pronto interfere também, negativamente, no criação das crianças. A educação do educador é essencial e,
processo de desenvolvimento da criança. Na idade em que no que diz respeito à arte, passa necessariamente pelo
ela está querendo só rabiscar, diante do desenho pronto reencontro do espaço lúdico dentro de si, pela
ela acaba se limitando a fazer dois ou três tipos de rabiscos redescoberta das suas linguagens, do seu modo de dizer e
mais adequados para preencher o espaço. No entanto, em expressar o mundo.
seus desenhos espontâneos, essa criança pode chegar a
usar até vinte tipos diferentes de rabiscos. Normalmente, a Sobre o corpo em Movimento na Educação Infantil: a
partir de um ano e meio de idade, a criança começa a cultura corporal e os conteúdos/linguagens
experimentar vários tipos de traços. Com três anos, ela As preocupações sobre o corpo vêm se tornando cada vez
enche o papel com formas como quadrados, triângulos, mais crescente e se caracterizando, na atualidade, como
cruzes ou formas irregulares. Aos quatro anos, ela já uma importante problemática multidisciplinar e objeto de
combina essas mesmas formas para representar o sol, investigação nas Ciências Sociais e Humanas (sociologia,
pessoas, casas, árvores, flores, carros, animais, etc. É assim pedagogia, antropologia e outras) (CRESPO, l980; LE
que tem início o desenho figurativo, cujo processo de BRETON, 2007, SILVA, 2003: SILVA, 2001), cujas diversas
descobrimento pode ser prejudicado com o desenho abordagens o veem como um fio condutor para a
pronto entregue à criança (p. 58). compreensão do corpo social. Assim é que as
epistemologias sobre os horizontes teóricos do corpo
32
::: essencialconcursos.com.br :::
visam, primordialmente, a compreender o seu significado criativo e crítico, constituindo-se num elemento primordial
filosófico, social, cultural, biológico, econômico, político e que contribui para o pensamento da criança,
histórico, frente aos seus múltiplos modelos de condutas e “contrapondo-se ao movimento considerado apenas como
expressão do corpo em movimento, tais como: gestos, manifestação mecânica e neurológica” (WALLON, 1968).
hábitos, ritos, enfim práticas corporais (SILVA, 2001; SILVA, Para este autor: O corpo e o movimento, ou seja, o corpo
2003; SANT’ANNA, l995). Esta muldimensionalidade dos em movimento é de natureza social, cultural, biológica, e
“estudos sobre o corpo”, soma-se aos chamados “estudos histórica, pois, é por intermédio desta simbiose dialética
da criança” que, devido à complexidade dos conceitos de que é construído o desenvolvimento das crianças
infância e criança, possuem diferentes enfoques pequenas, que se dá, portanto, na dimensão espaço-
paradigmáticos advindos de diversas abordagens temporal e histórico social. O desenvolvimento ocorre num
científicas, tais como: filosofia, sociologia, antropologia, processo contínuo e descontínuo, provocando e detonando
psicologia, pedagogia e outras. Na atualidade, há uma a complexa maturação do sistema nervoso da criança,
grande ênfase nos cuidados e estudos sobre o corpo, tendo em vista o seu acabamento e formação individual,
provavelmente pela emergência de um projeto de tendo como função um misto das relações e correlações
libertação deste, principalmente, considerando-se a sua entre ação e a sua representação. Neste limiar, o
utilização como instrumento privilegiado de controle, movimento, que é a abstração pensada e pensamento, é o
opressão e censura das condutas humanas, como por resultado das relações entre o biológico e o social
exemplo, no mundo do trabalho, educação, lazer, saúde e (GALVÃO, 1995).
em outras instâncias da vida cotidiana. Há, simultânea e
contraditoriamente, a idéia do corpo como portador de A cultura corporal se constitui em um
repressões sociais e da mais profunda servidão e amplo e rico campo da cultura que
exploração humana engendrados pelo capitalismo, como abrange a produção de práticas
por exemplo, o “corpo produtivo”, que opera através da expressivo-comunicativas, essencialmente, subjetivas
mediação entre o social e o biológico sob a égide do que, como tal, externalizam-se pela expressão corporal
trabalho socialmente necessário (trabalho produtivo) (ESCOBAR, 1995).
(MARX, 1980), cujo fim único é trabalhar para manter-se e
satisfazer as necessidades básicas e, consequentemente, Na Educação Infantil - a cultura corporal, na “concepção
produzir/trabalhar para tornar mais rentável o capital. dialética do desenvolvimento infantil, defendida por Wallon
(1968) - há uma intrínseca relação entre o corpo-sujeito-
Assim é que as epistemologias criança, o jogo, a imaginação e a “motricidade expressiva”“.
sobre os horizontes teóricos do Na perspectiva das “dimensões do movimento” walloniana,
corpo visam, primordialmente, a o ato motor, o mundo físico ou “motricidade de realização”
compreender o seu significado e o mundo do movimento têm um papel fundamental na
filosófico, social, cultural, biológico, econômico, afetividade e também na cognição. Nesta perspectiva
político e histórico, frente aos seus múltiplos modelos teórica, há uma ênfase na “motricidade expressiva”, ou
de condutas e expressão do corpo em movimento, tais “expressão corporal” (COLETIVO DE AUTORES, 1992) que se
como: gestos, hábitos, ritos, enfim práticas corporais verifica na dimensão afetiva do movimento. De acordo com
(SILVA, 2001; SILVA, 2003; SANT’ANNA, l995). Esta Wallon (1968), as diversas dimensões do movimento da
muldimensionalidade dos “estudos sobre o corpo”, criança possuem uma enorme diversidade de significados,
soma-se aos chamados “estudos da criança”. levando em conta o corpo em movimento ou o
“deslocamento do corpo” (de segmentos ou do todo) no
O corpo contém contornos multidimensionais pertencentes espaço, cuja dinâmica se dá através das seguintes funções;
a uma determinada sociedade, quer seja na história do a) a função cinética, que regula o estiramento e
trabalho humano, das gestualidades carregadas de encurtamento das fibras musculares que, por sua vez, é
sofrimento, dor, desprazer, sacrifício, tortura, dominação e responsável pelo movimento propriamente dito: b) a
exploração ou ainda nas expressões corporais ligadas ao função postural ou tônica que tem como atribuição regular
prazer, ao estético, ao sensível, ao gozo, à festa, à cultura. a variação do grau de tensão (tônus) da musculatura
Dito de outro modo, ele é uma superfície na qual estão (WALLON, 1968; GALVÃO, 1995).
inscritos tanto os desígnios da dominação e da mais Falar no corpo em movimento das crianças nas creches e
degradante servidão humana, o sacrifício, os estigmas do seus diversos conteúdos/linguagens implica considerar
passado, os conflitos, as repressões, a dor, a alienação, alguns princípios político-pedagógicos que, a meu ver,
quanto os desejos, os afetos, a alegria, os sonhos, o prazer, estão na dimensão ético-estética, principalmente, quando
a luta, a transgressão, a resistência. O corpo é um suporte se trata de uma educação de natureza histórico-cultural.
de signos sociais (RODRIGUES, l980: 62-64) e nele está Quanto a esse respeito, Rocha (2008)8 traz para o debate a
inscrita a “cosmologia da própria sociedade” (grifos meus), questão “princípios estéticos da sensibilidade, da
estão marcadas todas as regras, normas, valores e a cultura criatividade, da ludicidade e da diversidade de
de uma determinada sociedade. manifestações artísticas e culturais” no âmbito dos
A cultura corporal se constitui em um amplo e rico campo conteúdos de ação pedagógica.
da cultura que abrange a produção de práticas expressivo- Esses conteúdos/linguagens têm um papel central nos
comunicativas, essencialmente, subjetivas que, como tal, núcleos de desenvolvimento de ação, considerando que
externalizam-se pela expressão corporal (ESCOBAR, 1995). representam a base para o estabelecimento das relações
Esta expressão corporal se manifesta através do movimento culturais no âmbito das relações dialéticas sociais e
33
::: essencialconcursos.com.br :::
dialéticas de alteridade a partir da mediação entre adulto- Definir um PPP que contemple essas especificidades não
criança, criançacriança e criança-entorno social tem sido tarefa fácil para os profissionais que atuam nas
(comunidade). Cumpre, entretanto, também lembrar às UEs, no entanto Kramer (2006, p.60) oferece algumas pistas:
professoras e professores tanto de “sala de aula” quanto de O que caracteriza o trabalho pedagógico é a experiência
Educação Física e outras matérias de ensino, que não se com o conhecimento científico e com a literatura, a música,
trata de uma “prescrição” de “atividades”- mas eixos que a dança, o teatro, o cinema, a produção artística, histórica e
possam pensar o corpo em movimento das crianças cultural que se encontra nos museus, a arte. Esta visão do
pequenas (cultura corporal), sem se constituir num que é pedagógico ajuda a pensar um projeto que não se
receituário estanque de atividades e conteúdos meramente configura como escolar, feito apenas de e na sala de aula.
“didáticos”, normalmente, propostos sem nenhuma O campo pedagógico é interdisciplinar, inclui as dimensões
contextualização com as condições objetivas das crianças, ética e estética. A educação - uma prática social - se
professores e professoras, família, enfim, do próprio projeto constitui como outra forma de conhecimento científico,
político pedagógico das creches. incluindo a arte.
Os conteúdos/linguagens expressivo-motrizes, cênicas Se o projeto coletivo se assenta no trabalho coletivo, ele é
(jogos dramáticos e simbólicos), gestuais, corporais, oral, um projeto na hora que o conclui, mas é uma proposta no
sonoro-musical, plástica e escrita, envolvem comunicação, momento seguinte. Para todos que participamos da
imaginação, processos de criação e o domínio dos sistemas elaboração do projeto de uma secretaria, de uma ong, de
simbólicos já organizados na cultura, enfim nas culturas uma escola, na hora em que o terminamos, ali ele vira o
infantis. A diversificação desses conteúdos-linguagens início de tudo: nós iremos trabalhar, reler, reavaliar o
objetiva: a) a expressão e as manifestações das culturas projeto construído, confrontá-lo com outros, cotejá-lo com
infantis em relação com o universo cultural que lhe envolve; a teoria e com a prática. (KRAMER, 2006, p.72).
b) o domínio de signos, símbolos e materiais; c) a
apreciação e a experiência literária 84 e estética com a PROPOSTA DE ORGANIZAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO
música (na escuta e produção de sons, ritmos e melodias); PEDAGÓGICO.
c) com as artes plásticas e visuais (na observação, A Resolução nº01/2002 que fixa normas para educação
exploração e criação, no desenho, na escultura, na pintura, infantil do âmbito do Sistema Municipal de Ensino do
e outras formas visuais como a fotografia, o cinema, etc.); Município de Florianópolis, Santa Catarina, encontra-se em
d) com a linguagem escrita, no sentido de uma gradual discussão. A título de ilustração, socializamos um roteiro de
apropriação desta representação (no momento, e) com proposta pedagógica. A resolução afirma que compete ao
ênfase na compreensão de sua função social e suas Centro de Educação Infantil elaborar e executar a proposta
estruturas convencionais em situações reais) em que se pedagógica considerando:
privilegie a narrativa, as histórias, a conversação, apoiadas I - Concepção de Educação;
na diversificação do acesso a um repertório literário e II- Concepção de Educação Infantil a partir de uma
poético (ROCHA, 2008). concepção básica, incentivando articulação entre os três
A cultura corporal poderá possibilitar ao sujeito-criança, ao níveis de ensino;
mesmo tempo, aprender com a história, com os livros, com III- Fins e objetivos da proposta;
o cinema, com a música, com a dança, com o teatro, enfim, IV- Diagnóstico da população a ser atendida e da
com as diferentes linguagens da arte, com a cultura local e comunidade na qual se insere;
universal construída pela humanidade16. Significa dizer V- Regime de funcionamento;
que, na escola básica, essas experiências e produções se VI- Espaço físico, instalações e equipamentos;
constituem num vetor de formação e produção cultural VII - Relação dos recursos humanos, especificando cargos e
humana – imprescindíveis para enfrentar os desafios funções, habilitação e nível de escolaridade;
impostos pela lógica reificada, nos tempos e espaços, nos VIII - Organização dos grupos e relação professor/criança;
quais as crianças teimam em fazer “exercícios de ser IX - Organização do cotidiano do trabalho junto as
criança” (BARROS, 1999) à revelia da lógica engendrada crianças;
pelo sistema capitalista (KRAMER, 1998; PERROTTI, 1990; X - Proposta de articulação da instituição com a família e a
SILVA, 2003). Trabalhar a dimensão da alteridade. comunidade;
Alteridade é ser capaz de apreender o outro na plenitude XI - Processo de avaliação de desenvolvimento integral da
da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua criança, mediante observação, registro e acompanhamento;
diferença. Quanto menos alteridade existe nas relações XII - Processo de planejamento geral e avaliação
pessoais e sociais, mais conflitos existem. institucional.

SUPERVISÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A Aspectos a Serem Considerados na Discussão e


ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO EDUCACIONAL Elaboração do PPP.
PEDAGÓGICO Construir um instrumento/documento dinâmico, objetivo,
A inclusão da educação infantil, na educação básica, traz que oriente e revele o trabalho da UE, e que expresse uma
como um dos desdobramentos a necessidade de construção coletiva pautada na gestão democrática que se
reorganização das UEs. Os artigos 12, 13 e 14 da LDB- articula ao projeto de gestão; identificar a comunidade
9394/96 destacam a necessidade de elaboração e execução atendida, mapeando desafios e possíveis soluções, para
de uma proposta pedagógica com a participação dos subsidiar a organização do cotidiano junto às crianças:
profissionais e da comunidade escolar. Revelar quem são as crianças com que trabalhamos e o que
devemos trabalhar com elas; Resgatar os documentos
34
::: essencialconcursos.com.br :::
oficiais: LDB, Diretrizes Nacionais, ECA; Lei do Sistema, espaços de grupo de estudo e reuniões pedagógicas.
Resolução, e outras, assim como as questões atuais da Ambos os formatos de planejamento têm qualificado as
Política Pública; Pautar-se no princípio da escuta, da práticas pedagógicas, num processo de discussão e
solidariedade, do compromisso e da participação de toda reflexão no qual se deve:
comunidade educativa; Realizar trabalho em parceria- [...] reconhecer as crianças como seres íntegros, que
buscar no coletivo coerência, aspectos comuns assentados aprendem a ser e conviver consigo próprios, com os
no princípio da ética; Criar uma agenda semanal da direção demais e com o próprio ambiente de maneira articulada e
e supervisão, prevendo reuniões de planejamento e gradual, devem buscar a partir de atividades intencionais,
avaliação dos trabalhos, na qual se demarque as em momentos de ações, ora estruturadas, ora espontâneas
respectivas atribuições dos envolvidos; Ter o compromisso e livres, a interação entre as diversas áreas de
profissional de zelar pela instituição pública- UEs – relação conhecimento e aspectos da vida cidadã, contribuindo
público/privado; Aprimorar os instrumentos de assim com o provimento de conteúdos básicos para a
comunicação (mural, agenda, jornal, atas); constituição de conhecimentos e valores (RESOLUÇÃO CEB
Definir o foco do projeto de formação continuada da nº1, 1999).
unidade; explicitar as ações de cada segmento que Os supervisores na educação infantil da rede municipal
integram o coletivo institucional. estão, também, num processo de definição do seu papel e
delineando as especificidades da área de atuação, de forma
Planejamento na Educação Infantil a demarcar a função de articulador da ação educacional
Neste tópico, destacamos de forma pontual a questão do pedagógica. Para ter êxito no desempenho da função é
planejamento e o papel da supervisão nesta tarefa. No pertinente: 101 1) Estabelecer interlocução privilegiada com
início do texto, indicamos o movimento de reorganização os educadores, desencadeando uma prática de, no
das bases da educação infantil e as implicações para processo de pesquisa “aprender a aprender”. Não saber é
algumas temáticas da área. No movimento de demarcar a condição que nos faz pesquisar. 2) Contribuir com a
educação infantil como um campo de atuação com construção de habilidades de observar e ouvir as crianças.
especificidades, recorremos a Rocha (2000), que nos desafia 3) Ajudar a identificar caminhos para possíveis projetos. 4)
a pensar um formato de planejamento, na educação Auxiliar a documentação dos projetos (organização de
infantil, diferente da referência que temos do ensino arquivos) e a condução das pesquisas para novos projetos
fundamental. É necessário romper com a subordinação aos (OSTETTO, 2000, p.24).
modelos escolares e demarcar as especificidades das
instituições de Educação Infantil, o que embora exija uma Reconhecer as crianças como
intencionalidade, um planejamento e um acompanhamento seres íntegros, que aprendem a
das ações junto à criança, necessita de ser realizado com a ser e conviver consigo próprios,
criança e pela criança, não estabelecendo como único com os demais e com o próprio
referencial o ponto de vista do adulto como no tradicional ambiente de maneira articulada e gradual, devem
modelo escolar (ROCHA, 2000, p.25). buscar a partir de atividades intencionais, em
Ao tratar do planejamento como atitude, Ostetto (2004) momentos de ações, ora estruturadas, ora espontâneas
indica que, para além da sistematização de um documento e livres, a interação entre as diversas áreas de
que explicite a intencionalidade do professor, ao traçar conhecimento e aspectos da vida cidadã, contribuindo
metas, outros elementos estão implicados, como a assim com o provimento de conteúdos básicos para a
dinâmica do cotidiano educativo, as formas de interação constituição de conhecimentos e valores (RESOLUÇÃO
constituídas entre adultos e crianças, os espaços e tempos CEB nº1, 1999).
disponíveis para a realização do proposto e os materiais. Se
planejar, é, por um lado, declarar as intenções do caminho, Sendo assim, podemos afirmar que é necessário conhecer
por outro significa garantir o caminhar, o que não é simples as práticas para subsidiar a elaboração de uma Proposta
transposição do formulado no papel, sendo fundamental o Pedagógica da Rede, que ofereça um norte para condução
processo de reflexão sobre as práticas constituídas através do trabalho, que tenha como propósito as crianças e a
da observação, registro, planejamento e avaliação. garantia dos seus direitos fundamentais, a organização do
Necessitamos indagar: Por que planejar? O que planejar? trabalho educativo pedagógico, o reconhecimento da
Com quem planejar? Para quem planejar? E como importância dos profissionais da educação infantil e o
desdobramento, descobriremos como planejar, pois: Não respeito às famílias, que confiam seus filhos às UEs da rede
adianta ter um planejamento bem planejado, se o Municipal.
educador não constrói uma relação de respeito e
afetividade com as crianças; se ele toma as atividades ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA EDUCAÇÃO
previstas como momentos didáticos, formais, burocráticos: INFANTIL DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE
se ele apenas age/atua mas não interage/partilha da FLORIANÓPOLIS (2012).
aventura que é a construção do conhecimento do ser “Orientações Curriculares para a Educação Infantil da Rede
humano (OSTETTO. 2004, p. 190). Municipal de Florianópolis” é, sem dúvida, o documento
O planejamento coletivo abrange momentos como: mais próximo de um currículo, lançado nesse novo milênio;
acolhida, despedida, alimentação, parque, projetos não somente por trazer em seu título essa palavra chave,
coletivos (aniversários, refeitório, contação de histórias, mas por, de fato, propor conteúdos e eixos temáticos
oficinas...) e envolve todos ou boa parte dos profissionais fundamentados em bases legais e empíricas a fim de
da UE. Esses momentos coletivos são (re) pensados nos direcionar o trabalho pedagógico nas unidades educativas.
35
::: essencialconcursos.com.br :::
Entretanto, nesses trabalhos, há poucas referências sobre
teorias curriculares, currículo e sociedade, ficando Talvez essa seja a parte que mais se aproxime de uma
subsumida a condição de seleção e poder do currículo, proposta curricular, uma vez que determina eixos de
como bem aponta Silva (2009, p. 15): “O currículo é sempre conteúdos a ser explorados nas creches e NEIs, ou seja,
resultado de uma seleção: de um universo mais amplo de independente da metodologia utilizada pelo professor, ele
conhecimentos e saberes seleciona‐se aquela parte que vai deverá, em sua prática pedagógica, tomar como referência
constituir, precisamente, o currículo. ” o trabalho a partir dos núcleos de ação pedagógica que,
“A Brincadeira”, anunciada como “[...] uma das atividades apesar de não determinarem conteúdo de forma específica,
centrais da vida da criança” (FLORIANÓPOLIS, 2012, p. 34), induzem quais temas deverão ser mobilizados. Ao propor
trata sobre a importância dessa atividade socialmente um projeto, o professor deverá ter o cuidado para que ele
construída e que deve ser o eixo norteador do trabalho contemple os elementos propostos pelos três núcleos já
pedagógico nas creches e NEIs. Um texto com vinte e uma citados, bem como as orientações determinadas em cada
páginas, e fotos nas quais é possível identificar crianças em eixo.
situações de brincadeira, traz algumas conceituações e A parte final do caderno, “Estratégias da Ação Pedagógica”,
relações de como o brincar vem se materializando nas reforça o que os textos anteriores, em certa medida,
unidades educativas. Dá ênfase à importância do brincar destacaram, entretanto, há, nesse tópico, um adensamento
enquanto atividade cognitiva e social, aportando‐se em sobre os aspectos que se referem à documentação
Gilles Brougère (2002) e Lev Vigotsky (1994); destaca a pedagógica. Observar, registrar e avaliar entram em pauta
brincadeira como atividade que deve ser planejada pelo na formação de um planejamento que possa, de fato, em
professor, numa tentativa de desnaturalizá‐la enquanto consonância com o proposto nos textos anteriores,
atividade infantil. No final desse texto, três páginas são subsidiar a prática pedagógica docente. Com vinte páginas
destinadas a algumas prescrições de como o professor o documento se encerra explicitando que:
deve pensar a brincadeira, bem como articulá‐la ao seu Ao compreender a Avaliação como parte de um processo
planejamento, observações e registros e avaliação. A mais amplo de organização da prática pedagógica,
terceira parte, “Núcleos da Ação Pedagógica”, subdivide‐se reconhece‐se que todos os momentos da ação pedagógica
em três partes que compõem este núcleo, quais sejam: estão articulados, pois é impossível planejar e avaliar sem o
Relações Sociais e Culturais; Linguagens (Oral e Escrita; observar e registrar. A partir dessa ideia de integração das
Visual; Corporal e Sonora); e Relações com a Natureza: ações de modo sistemático e contínuo, torna‐se possível
manifestações, dimensões, elementos, fenômenos físicos e vivenciar práticas com significados marcantes para adultos
naturais. Essa é a parte mais extensa, cento e setenta e e crianças, dar a conhecer as suas experiências e construir
cinco páginas totalizam os três textos que procuram dar uma identidade própria para cada contexto de educação
ênfase às atitudes e atribuições docentes, tornando‐se, em infantil. (FLORIANÓPOLIS, 2012, p. 249).
certa medida, até repetitiva, como o primeiro texto destaca: Igualmente ao documento de 2010, as referências
“As indicações desse núcleo de ação, em certa medida, bibliográficas sobre o tema aqui tratado aparecem e todos
introduzem as que serão desenvolvidas nos núcleos que textos têm, em pauta, questões sobre currículo, que
seguem [...], [...] o que também acarretará a repetição de embora tragam boas discussões e elementos que auxiliam
algumas delas ao longo do documento. ” (FLORIANÓPOLIS, na confecção de um documento norteador para cada
2012, p. 92). creche e NEIs, não fornecem subsídios para que se discuta
Os três núcleos apresentam referências a documentos o currículo enquanto um instrumento de força, de poder,
elaborados pelo governo federal, desde leis a diretrizes de história, tal qual propõe Goodson (2005, p. 28):
curriculares nacionais, finalizando os escritos com A luta para definir um currículo envolve prioridades
pequenas sínteses de como o professor deve, a partir do sociopolíticas e discurso de ordem intelectual. A história
exposto nos documentos organizar e conduzir sua prática dos conflitos curriculares de passado precisa, pois, ser
pedagógica: “Proporcionar às crianças dos grupos maiores retomada. Do contrário, nossos estudos sobre
a autonomia para se servirem nas refeições, atento para os escolarização deixarão sem questionamento e análise uma
alimentos quentes” (FLORIANÓPOLIS, 2012, p. 85); série de prioridades e hipóteses que foram herdadas e
“Incentivar as crianças escreverem seus nomes e dos deveriam estar no centro do nosso esforço para entender a
amigos e das amigas, a ’produzirem textos’ mesmo sem escolarização na teoria e operacionalizá‐la na prática.
saberem ler e escrever formalmente” (FLORIANÓPOLIS,
2012, p. 114); “Ajudar as crianças a estabelecerem CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO INFANTIL DA REDE
interconexões dos conhecimentos que já possuem sobre o MUNICIPAL DE ENSINO DE FLORIANÓPOLIS (2015).
mundo físico e natural, com os conhecimentos produzidos O presente documento trata em uma de suas propostas de
ao longo da história pelas diferentes abordagens ação pedagógica a orientação de que cabe à educação
científicas.” (FLORIANÓPOLIS, 2012, p. 198). infantil promover o desenvolvimento integral das crianças,
o que implica considerá-la nas suas múltiplas dimensões
“Núcleos da Ação Pedagógica”, humanas, de modo indissociável e partilhar tal objetivo
subdivide‐se em três partes que com as famílias. Portanto, para promover o
compõem este núcleo, quais desenvolvimento integral da criança devem ser
sejam: Relações Sociais e Culturais; Linguagens (Oral e asseguradas vivências que considerem suas necessidades,
Escrita; Visual; Corporal e Sonora); e Relações com a interesses e direitos, tendo o educar e cuidar como base, o
Natureza: manifestações, dimensões, elementos, que exige a “[...] consideração das formas como as crianças,
fenômenos físicos e naturais. nesse momento de suas vidas, vivenciam o mundo,
36
::: essencialconcursos.com.br :::
constroem conhecimentos, expressam-se, interagem e Organizar brincadeiras e experiências sensoriais que
manifestam desejos e curiosidades de modo bastante possibilitem, aos bebês, explorar a textura, temperatura,
peculiares” (BRASIL, 2009a, p. 22). Outro conceito odor, sabor, cor, sons produzidos, como:
fundamental à compreensão das finalidades de um 1-Preparo e exploração de gelatinas com corantes naturais
currículo para a educação infantil é o de desenvolvimento. e mingaus onde poderão ser incluídos objetos ou materiais
Para Zoia Prestes (2008), desenvolvimento é a emergência como, por exemplo: brinquedos, frutas;
do novo, que surge na infância, sobretudo, com a atividade 2-Confecção e exploração de tintas feitas com produtos
do brincar, sendo este um processo ininterrupto de naturais e outras misturas;
mudanças. Sob esse ponto de vista, o desenvolvimento não 3- Realização de misturas de materiais diversos como: terra,
é linear ou natural, tampouco é resultado apenas de um areia, argila, água, farinha, tinta, óleo.
amadurecimento biológico. O desenvolvimento é 4- Exploração de elementos variados como sementes
consequência das relações sociais e, portanto, torna-se grandes, folhas, gravetos, dentre outros objetos que não
fundamental a intencionalidade na organização das ofereçam perigo aos bebês, em suportes como caixas,
condições para que as relações entre as crianças ocorram baldes, bacias, painéis.
no contexto da educação infantil. Ainda compõem o Introduzir nas brincadeiras, diferentes materiais que
currículo da Educação Infantil Municipal os Núcleos de possam relacionar-se às linguagens visuais, possibilitando
Ação Pedagógica - NAP quais sejam: Relações Sociais e às crianças experimentarem e produzirem marcas de
Culturais, Linguagens e Relações com a Natureza. diferentes maneiras. Dentre os materiais possíveis estão:
Sendo assim, o documento está organizado pelas tintas, pincéis, giz de cera, papéis de diferentes cores,
dimensões do currículo: Brincadeira; Núcleo de Ação texturas e tamanhos, argila, massas de modelar, lanterna,
Pedagógica: Relações Sociais e Culturais; Núcleo de Ação caixa de luz.
Pedagógica: Linguagens e Núcleo de Ação Pedagógica: Organizar espaços com elementos que permitam às
Relações com a Natureza. Cada uma dessas dimensões profissionais brincar com os bebês, reproduzindo ações
apresenta indicativos para o planejamento organizados em que eles vivenciem ou visualizem no dia-a-dia, como
grupos etários, sendo eles: os bebês até 1 ano e 11 meses; alimentar-se ou alimentar o outro, realizar cuidados com o
crianças bem pequenas – 2 anos e 11 meses a 3 anos e 11 próprio corpo, dormir. Utilizar brinquedos ou materiais
meses; e crianças pequenas – entre 3 anos e 11 meses a 5 relacionados a estas ações: bonecas, panos, roupinhas,
anos e 11 meses. Ainda será possível encontrar indicativos fraldas, mamadeiras, loucinhas, ferramentas e acessórios
agrupados para todos os grupos etários. Salienta-se que como bolsas, chapéus, bonés, colares, sapatos, pista de
essa divisão etária tem por objetivo perspectivar a carrinhos, casinha com dormitório, cozinha e sala.
complexificação das propostas e do processo de Diversificar as brincadeiras nos diferentes espaços
aprendizagem das crianças, contudo não há uma fronteira organizados pelas profissionais por meio de ações
rígida entre esses grupos, portanto, por vezes pode-se compartilhadas com crianças de outros grupos etários.
avaliar a necessidade de proposição de determinadas
situações previstas para um dado grupo etário para outro. Crianças bem pequenas:
Planejar espaços semiestruturados que possibilitem às
PARTE I – BRINCADEIRA crianças organizar diferentes cenários para as brincadeiras -
Iniciemos com a concepção de brincadeira que move a zonas circunscritas delimitadas por móveis, cortinas,
prática pedagógica na Educação Infantil do Município de biombos.
Florianópolis. A brincadeira é uma ação social, Disponibilizar materiais e instrumentos (de uso real ou
concordamos com o professor francês Gilles Brougère, reproduções), para propor diferentes situações, enredos e
quando esse anuncia que “[...] o brincar não é uma brincadeiras. Seguem algumas proposições:
dinâmica interna do indivíduo, mas uma atividade dotada 1-Para a utilização em contextos específicos: como
de uma significação social concisa que, como outras, consultório médico, casinha, salão de beleza, escola, banda
necessita de aprendizagem” (2002, p. 20). musical, em pista ou estrada;
Para as crianças bem pequenas, a relação de dependência 2-Para a utilização em diferentes enredos de brincadeiras,
com relação aos adultos vai gradativamente diminuindo. tais como: pedaços de madeira, roupas de bonecas, caixas,
Nessa idade, surgem outras necessidades que a conduzem retalhos de tecidos, fios, sucatas, canaletas, canos, legos,
para o ato de brincar, especialmente, por meio da blocos de construção;
imaginação e do faz de conta, que lhe possibilita a 3-Relativos às diferentes linguagens expressivas,
realização de seus desejos e de ser o que não é na vida experimentadas pelas crianças na instituição: instrumentos
real. Segundo Vigotski (2008), quando a criança começa a musicais, equipamentos que reproduzam vídeos e áudios,
brincar de faz de conta, a ação prevalece sobre o materiais de leitura e escrita, materiais que produzam
significado, as crianças ainda precisam de objetos que marcas, suportes sobre os quais se pode fazer marcas ou
comportem a ação real. O ato imaginário, neste sentido, sons;
ainda que não esteja ausente na faixa etária anterior, 4- Cenários que representem ambientes de histórias
constrói as bases para o desenvolvimento dos processos conhecidas e adereços que auxiliem a compor diferentes
de criação das crianças nessa idade. personagens. As fantasias podem ser criadas, tanto pelas
profissionais junto com as crianças, quanto com o auxílio
Bebês: das famílias. Essas fantasias podem se basear nas histórias
que as famílias têm para contar, nas que fazem parte da
cultura local e do nosso patrimônio cultural;
37
::: essencialconcursos.com.br :::
Contemplar, nas brincadeiras, as especificidades das atravessam tais relações em nossa sociedade,
crianças com deficiência, atentando para a acessibilidade principalmente as que envolvem os adultos.
aos espaços, materiais, brinquedos e objetos adaptados, Segundo, a atenção às relações sociais e culturais, na
tais como: bolas com guizo, jogos em braile, balanços com proposta curricular para educação infantil, exige observar
suporte de madeira para o equilíbrio da criança, texturas que tais relações não se fundam no ambiente das
diferentes. instituições de educação infantil. Apreende-se que as
crianças vivem relações que antecedem a entrada na creche
Crianças Pequenas: e, que elas continuam a viver estas e outras relações de
Organizar espaços e materiais como suporte à construção e forma simultânea em seu processo de socialização. Isto
reinvenção, pelas crianças, de diversos cenários, significa estar atento a composição de uma ação
possibilitando a ampliação e diversificação do repertório de pedagógica que considere e dialogue com estes outros
brincadeiras. Além dessa organização, a ação da professora espaços sociais, principalmente quando nos referimos às
e a inserção de crianças de outros grupos também é famílias.
necessária para enriquecer, qualificar e complexificar o Terceiro, as crianças vivem processos de socialização
brincar cotidiano. diversos, (situadas em diferentes famílias, comunidades e
Garantir a inclusão de diferentes tipos de objetos culturais atravessados por aspectos concernentes ao gênero, à etnia,
para conhecer, explorar e brincar: relógio, balança, lupas, à classe social) ainda que possam viver em uma mesma
ampulhetas, peneiras de diversos tamanhos, funis que cidade ou sociedade, o que implica pensar a
favoreçam experiências que envolvam relações com o heterogeneidade constitutiva dos grupos de que estas
tempo, com o espaço, quantidade, volume, entre outros; fazem parte. Isto significa que a “ação pedagógica precisa
assim como materiais/ objetos para montar, desmontar, ser orientada por um olhar que contemple as crianças em
empilhar, esvaziar, encher, arrastar, fechar, abrir, medir, suas singularidades e subjetividades, sem desconsiderar os
projetar. seus direitos na igualdade de acesso aos bens produzidos
pela sociedade” (FLORIANÓPOLIS, 2012, p. 60).
NÚCLEO DE AÇÃO PEDAGÓGICA: NÚCLEO DE AÇÃO Quarto, compreender as relações sociais e culturais como
PEDAGÓGICA: NÚCLEO DE AÇÃO PEDAGÓGICA: um núcleo de ação pedagógica, não significa tratá-las
RELAÇÕES SOCIAIS E CULTURAIS RELAÇÕES SOCIAIS E como um conteúdo específico a ser trabalhado em alguma
CULTURAIS. atividade dirigida ou como um projeto recortado a partir
Este Núcleo de Ação Pedagógica (NAP), constituído pelas de um dos elementos que compõe este NAP. Ao
relações sociais e culturais, evidencia, de forma mais compreender que toda e qualquer relação é educativa, pois
enfática, que a ação pedagógica põe em relação os núcleos implicará a constituição do ser, é preciso apreender que
de ação apresentados neste currículo. Isto, de modo este NAP atravessa todas as ações que estruturam as
especial, ocorre ao considerarmos a relação social e a experiências individuais e coletivas das crianças no
linguagem como interdependentes e fundantes do contexto das unidades educativas. Isto envolve tanto as
processo de humanização. Entendemos que é na relação situações que as profissionais estarão diretamente
com o(s) outro(s), situado histórico e socialmente, que o ser envolvidas com as crianças, seja de forma individual ou
humano se constitui e tece a compreensão de si e do coletiva, como as situações em que as profissionais
mundo. No que diz respeito às crianças e bebês que preparam o espaço, prevendo e fomentando condições
frequentam diariamente as instituições de educação para que as crianças possam se relacionar entre si ou com
infantil, importa considerar que sua constituição e o ambiente.
desenvolvimento estão implicados nas interações e Assim, ao tratarmos das relações sociais e culturais como
relações cotidianas a elas proporcionadas, dentro e fora um núcleo de ação pedagógica, desejamos que estes
destes contextos, o que torna imprescindível enunciados possam: dar visibilidade e reconhecer as
considerarmos os aspectos, os enunciados e as formas que crianças como seres singulares e sociais; respeitar a
compõem tais relações. A importância das relações está identidade e a diferença delas e entre elas, de forma que
anunciada no Parecer nº20/2009 das Diretrizes Nacionais isto não signifique a reprodução das desigualdades sociais;
para Educação Infantil (BRASIL, 2009b, p.6), na definição do contribuir para novas formas de sociabilidade humana
currículo como “um conjunto de práticas que buscam comprometidas com a democracia, com a cidadania, com a
articular as experiências e os saberes das crianças com os dignidade humana e com o rompimento de relações de
conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, dominação etária, socioeconômica, étnico-racial, de
artísticos, científico tecnológico”. Tais práticas são gênero, regional, linguística e religiosa (BRASIL, 2009).
concretizadas por meio das relações sociais que as crianças Desta forma, este NAP tem como pressuposto o direito de
estabelecem com os adultos, outras crianças e com o todos à educação e o direito à diferença, pontos de partida
ambiente social, e influem sobre a construção de suas para a efetivação de uma educação inclusiva. Os indicativos
identidades. que compõem este núcleo envolvem aspectos a serem
Acerca desta consideração da importância das relações considerados e observados nas relações constituídas
sociais e culturais na composição da prática pedagógica diariamente com as crianças nas unidades educativas, quais
das unidades educativas, é importante tecer algumas notas: sejam, a igualdade de gênero, as diferenças Étnico-Raciais,
primeiro, as crianças, desde bebês, não são inertes nestas a educação laica, a educação especial, as relações
relações. Elas se constituem de forma ativa e interferem na dialógicas instituição-família-comunidade, as interações
constituição daqueles com quem elas se relacionam, ainda entre coetâneos, não coetâneos e entre gerações, a
que não possa olvidar as implicações de poder que indissociabilidade do cuidar e educar na prática
38
::: essencialconcursos.com.br :::
pedagógica, o entendimento do espaço como “um outro” Os enunciados verbais e/ou corporais devem ser
nas relações com as crianças e entre elas, e, ainda, a alicerçados na ideia do bebê, como sujeito, e não como
perspectiva de planejar tais relações interligando de forma objeto a ser asseado ou alimentado. Neste sentido, é
dialógica as diferentes temporalidades das crianças no importante avisar e convidar os bebês para qualquer ação a
contexto coletivo. ser realizada com eles: chamá-los pelo nome, narrar a ação,
esperar e identificar suas respostas, etc.
Para todos os grupos. Considerar que os bebês vivem processos de socialização
Garantir a igualdade no tratamento aos meninos e às fora do ambiente da unidade educativa, e que é necessário
meninas da Educação Infantil. buscar informações com as famílias para compreensão de
Romper com as práticas (atitudes e linguagem) que suas singularidades: formas de comer, de dormir, de ser
reforçam modelos únicos de expressão do feminino e do asseado, de ser acalentado, de brincar, etc.
masculino. Estar atento à diversidade dos gêneros musicais na escolha
Cuidar com as condutas, as falas, a organização dos dos CDs e DVDs que serão utilizados com os bebês. É
espaços e materiais que reforçam apenas os modelos preciso incluir neste acervo, produções que representem
tradicionais (cores- rosa e azul, boneca/carrinho, diversas culturas. Os brinquedos e outros materiais (que
princesa/príncipe, brincadeiras agitadas/calmas), buscando não provoquem riscos de acidentes) necessitam estar ao
não reproduzir, com os meninos e meninas modelos alcance dos bebês, possibilitando as suas iniciativas e
estereotipados de feminino/masculino. organizações próprias. Organizar o espaço de forma a
Propor brincadeiras por meio da organização do espaço, considerar e endossar o processo de constituição da
brinquedos, objetos, jogos e enredos, de modo que os autonomia dos bebês, sem desconsiderar ações que zelem
meninos e as meninas tenham a possibilidade de por sua segurança e bem-estar.
experimentar diferentes brincadeiras, independentemente Ações como: forrar o piso com tapetes, dispor colchões e
do sexo. almofadas formando cantos aconchegantes, estar atento à
Garantir, aos meninos e meninas, ações de cuidado e sonoridade dos ambientes, cuidar da luminosidade e
consolo sem distinção de gênero (como nas situações que ventilação, higienizar periodicamente os brinquedos, entre
envolvem manifestações de choros, nos momentos de outras, podem evidenciar o respeito das profissionais com
atenção com o corpo, como pentear os cabelos, trocar de os bebês, sem comprometer o processo de constituição de
roupa, entre outros). sua autonomia.
Ampliar o acervo bibliográfico da unidade, através da Possibilitar espaço e tempo para que os bebês, por si
pesquisa constante das culturas: africana, indígena, latino- mesmos, possam investir em explorações diversas
americana, oriental, entre outras, de forma a construir (tentativas de movimentos, exploração de objetos,
novas possibilidades para os planejamentos coletivos e dos interações com outros bebês), apoiando-os pelo olhar, ou
grupos. observando e registrando tais investidas para fundamentar
Fortalecer a identidade cultural das crianças, planejando o planejamentos posteriores.
encontro destas com diferentes grupos folclóricos do
município e da própria comunidade, tais como: contadores Crianças bem pequenas:
de histórias, grupos de dança, do boi de mamão, do Acompanhar as crianças em ações como lavar as mãos,
maracatu, da capoeira, da puxada de rede, entre outras. arrumar os cabelos, alimentar-se, hidratar-se, passar
Apresentar a proposta pedagógica da unidade às famílias, protetor solar, na troca de roupas e sapatos entre outras.
desde o processo de matrícula, assegurando o direito Tais ações podem contribuir para constituição de
destas de conhecerem e acompanharem a educação das importantes aprendizagens que influem na identidade e
crianças e bebês. Ações como: apresentação dos espaços autoimagem das crianças.
da creche, a confecção e distribuição de informativos, a Incentivar as crianças nas ações de cuidado, dando tempo
divulgação dos planejamentos dos grupos em reuniões para que elas possam realizar tentativas de: calçar os
periódicas, a exposição de registros fílmicos e produções sapatos sozinhas, despir ou vestir peças mais simples de
infantis, os encontros para avaliação contínua do processo roupas (calças, casacos, meias), pentear os cabelos,
vivido pelas crianças na instituição, dentre outras, ensaboar-se, secar o corpo, colocar água no copo, servir-se
contribuem com a continuidade e sustentação deste nos momentos das refeições, escovar os dentes, entre
direito. As propostas e ações pedagógicas das unidades outras.
educativas não devem envolver qualquer tipo de Planejar ações que prevejam e respeitem as singularidades
proselitismo religioso. de cada criança, de forma a assegurar que cada uma delas
possa se manifestar e se sentir acolhida, em seus desejos,
Bebês: preferências, receios, dúvidas, desafetos. Desta forma, as
Incentivar os bebês a realizarem movimentos que possam proposições para situações cotidianas e de convívio
ajudar nas ações de higiene e cuidado, como por exemplo, coletivo, como o momento da alimentação, descanso,
oferecer o braço para vestir a blusa, entre outros. Estar higiene, brincadeiras, entre outras, precisam dialogar com
atento àquilo que é enunciado verbal e ou corporal nos tais singularidades. Estabelecer estratégias de comunicação
momentos de atenção individualizada. contínua com as famílias, de maneira a constituir um
As palavras, o tom da voz, a forma como a profissional toca vínculo dialógico, de forma que tanto as informações
o corpo do bebê, carregam significações acerca deste e do vindas da instituição, como as que se originam do
mundo, de forma a contribuir em seu processo de ambiente familiar, possam ser consideradas na educação e
subjetivação e constituição de sua identidade. cuidado das crianças.
39
::: essencialconcursos.com.br :::
Organizar estratégias para conhecer como as famílias profissionais e da fomentação das condições para que isso
orientam e intervêm no processo de desfralde das crianças. ocorra. Estar atento às ações de cuidado com as crianças,
É importante considerar os aspectos que interferem no de forma a incentivar ações autônomas sem, contudo,
desfralde no ambiente familiar, como informações desprovê-las do direito à proteção e provisão, que, neste
importantes a serem consideradas no planejamento da momento, é de responsabilidade dos adultos. Ex.: estar
ação docente. É imprescindível a troca de informações atento nos dias quentes em que as crianças, tanto quanto
neste processo, incluindo também orientações às famílias os bebês, necessitam de banhos, ou ainda, orientações e
quanto às ações que possam constranger e prejudicar as auxílio na higiene pessoal, na troca de roupas adequadas à
crianças. As ações em torno do desfralde não podem se estação, etc.
pautar na perspectiva do treinamento mecânico. Assim, não Considerar e respeitar as singularidades das crianças nos
se deve impor o uso do vaso sanitário e ou deixar as momentos de cuidado pessoal, prevendo, na organização
crianças por longos períodos sentadas neste. Estar atento do tempo e espaço, condições para que se efetive esse
aos enunciados verbais, bem como as ações, que podem respeito. Exemplo: considerar que nem todas as crianças
incidir na afirmação de estereótipos de gênero no processo sentem sono após o almoço, que algumas desejam e
de desfralde. É preciso considerar que os meninos não necessitam de mais privacidade no banheiro, que elas
precisam necessariamente ficar em pé para fazer xixi, e que possuem modos próprios para dormir, comer, se consolar
meninos e meninas têm os mesmos direitos de cuidado, etc.
higiene e privacidade. Envolver as famílias em projetos e planejamentos
Observar as manifestações comunicativas das crianças, de propostos no grupo, de forma que as crianças e familiares
forma a buscar indícios para o planejamento cotidiano. possam trazer e levar os saberes produzidos nas relações
Estas manifestações podem se apresentar de diversas de que fazem parte.
formas (oral, corporal, gestual, emocional, etc.) na relação
com os adultos, com seus pares e com o ambiente. Incluir, nas brincadeiras de faz de conta, elementos da
Valorizar as trocas de informações nas conversas em cultura mais próxima e de outros lugares, tais como
pequenos e grandes grupos, dando visibilidade aos relatos objetos, tecidos, imagens, artefatos etc. possibilitando que
e informações que as crianças trazem sobre o que ocorre as próprias crianças possam criar novos arranjos. Propor a
na comunidade. construção de materiais diversos inspirados em diferentes
Dispor, pelo espaço da sala, ao alcance das crianças culturas, possibilitando assim, a apropriação de diferentes
revistas, jornais e livros de diversos gêneros, com imagens saberes e a constituição de uma prática que privilegie e
que contemplem a diversidade: étnico, cultural, geracional valorize a diversidade.
e de gênero. Privilegiar as trocas de informação nas conversas em
É importante que as crianças possam ter acesso a imagens pequenos e grandes grupos envolvendo as falas das
de bebês, crianças, jovens, adultos, idosos, mulheres, crianças, as informações sobre o que ocorre na
homens, pessoas com deficiência, negros, negras, comunidade local e em outros lugares, propondo questões
indígenas, asiáticos, etc. que ampliem o diálogo. Propor passeios ao entorno da
Ajudar as crianças a perceberem e manifestarem os seus comunidade.
sentimentos como: alegria, tristeza, raiva, ciúme, euforia, Organizar o espaço de forma que preveja a simultaneidade
frustração e decepção. É função dos adultos acolher tais de relações estabelecidas entre as crianças e os adultos. O
manifestações, de forma a ajudar as crianças a espaço precisa ser organizado de forma a atender
compreender suas emoções e a perspectiva do outro com diferentes interesses manifestados pelas crianças e as ações
quem elas se relacionam. destas entre si.
Incluir, nos espaços da unidade educativa, materiais de Dar visibilidade, bem como reconhecer, as diferentes
diferentes tradições culturais para que as crianças possam manifestações culturais na organização dos espaços da
visualizar, explorar e elaborar diferentes usos e creche, incluindo as crianças nestes planejamentos.
brincadeiras. As materialidades de elementos culturais Proporcionar formas diversificadas e híbridas na
podem contribuir para dar visibilidade à diversidade organização dos espaços para brincadeiras, onde as
cultural que compõe o ambiente coletivo e a sociedade. crianças possam ser provocadas a vivenciar a interação sem
Estruturar o espaço para promover as interações entre as sexismo ou segregação de gênero.
crianças e com o próprio ambiente, para além da presença Pensar em espaços que sejam híbridos significa marcá-los
do adulto, que muitas vezes está envolvido individualmente com aspectos que se misturam, se alteram, formam outras
com alguma criança. possibilidades. Assim, os materiais para as brincadeiras das
Proporcionar a organização dos espaços onde as meninas e crianças, não precisam estar separados de forma
os meninos possam vivenciar a interação, sem sexismo ou imperativa, classificando aquilo que é considerado de
segregação de gênero. Proporcionar brincadeiras diversas e menina ou de menino. Podemos pensar em espaços que
jogos, através da organização do espaço, de brinquedos, de possam ter elementos diversos a se relacionarem entre si, a
objetos e enredos, de modo que meninos e meninas partir das ações que as crianças possam exercer sobre
tenham a possibilidade de experimentar diferentes estes.
brincadeiras, independentemente do sexo.
Núcleo de Ação Pedagógica: Linguagens
Crianças Pequenas Este Núcleo da Ação Pedagógica se caracteriza pelas
Incentivar a autonomia das crianças nas ações de cuidado, propostas que envolvem as linguagens e suas
sem desconsiderar a necessidade de orientação das manifestações no cotidiano das instituições de educação
40
::: essencialconcursos.com.br :::
infantil. Sendo assim, parte-se da compreensão que “a da instituição educativa, sendo que esta não pode ser
linguagem é um sistema simbólico e toda linguagem é um reduzida, tão somente, aos tais “dias especiais” da semana,
sistema de signos” (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998, ou ainda, quando sobra um tempo para a mesma,
p.37). É imprescindível propor práticas pedagógicas que configurando-se como práticas esporádicas. Destacamos
primem pela ação social direta das crianças nas vivências ainda, mais importante que a variedade de proposições, a
que envolvam linguagens, mediadas pelos artefatos possibilidade de construir um conhecimento significativo.
culturais e pelos sentidos e significados produzidos social e Acreditar no processo da criança, na sua autoria, na sua
culturalmente. Nessa direção, Cunha afirma que (2001, capacidade de propor ideias, de fazer escolhas, usar os
p.10): materiais de maneira responsável para dar forma ao
As instituições da educação infantil deveriam ser o espaço invisível, é o pressuposto de todo planejamento.
inicial e deflagrador para o desenvolvimento das diferentes A corporeidade dá contornos para os modos de ser, estar,
linguagens expressivas, tendo em vista que as crianças sentir e se comunicar no mundo. Para além da
pequenas iniciam o conhecimento sobre o mundo através individualidade, ela se traduz na interação entre sujeitos,
dos cinco sentidos (visão, tato, olfato, audição, gustação), seus corpos em relação aos outros e também em relação
do movimento, da curiosidade em relação ao que está a ao espaço. Nesse sentido, ressaltamos a autenticidade da
sua volta, da repetição, da imitação, da brincadeira e do corporeidade, pois ela é singular de cada um, ela se
jogo simbólico. No que diz respeito às linguagens constitui no indivíduo histórico, cultural e social: é o corpo
expressivas, estes são fatores fundamentais para que elas que se expressa a partir das experiências deste sujeito.
se desenvolvam plenamente. A prática pedagógica com base na linguagem sonoro-
Desta forma, este capítulo se organiza com base nas corporal deve possibilitar a ampliação, diversificação e
Diretrizes e Orientações Curriculares Municipais que complexificação das expressões corporais, por meio da
abordam: a Linguagem Oral e Escrita; Linguagens Visuais e organização dos espaços que privilegiem a exploração de
Linguagens Corporais e Sonoras. Ao considerar as movimentos e sons, que podem ser produzidos pelas
especificidades de cada uma delas, compreendemos que crianças, ou não, com instrumentos, outros materiais ou
estão articuladas no cotidiano das instituições de educação pelo próprio corpo, possibilitando sua criação e expressão.
infantil. Como afirma Ayoub (2001, p. 58):
A linguagem surge a partir da interação entre Brincar com a linguagem corporal significa criar situações
sujeitos/mundo e é na troca de experiências entre pares nas quais a criança entra em contato com diferentes
que se dá a constituição da subjetividade humana. Isso manifestações da cultura corporal (entendida como as
porque aquilo que somos passa primeiro pelo outro, o que diferentes práticas corporais elaboradas pelos seres
comunicamos ao outro interferirá na sua constituição, na humanos ao longo da história, cujos significados foram
sua identidade (VIGOTSKI, 1991). sendo tecidos nos diversos contextos socioculturais),
Sendo assim, o trabalho pedagógico com a linguagem oral sobretudo aquelas relacionadas aos jogos e brincadeiras, as
e escrita no contexto da educação infantil, deve contemplar ginásticas, as danças e as atividades circenses [...].
sua função social, possibilitando o contato com esta Tendo isto presente, organizamos as proposições nestas
linguagem em conexão ao seu uso cotidiano, convidando linguagens, considerando o aspecto estético cultural, a
as crianças a serem as autoras de seus enredos. Desta ampliação e diversificação dos repertórios, em especial por
forma, a perspectiva histórica da criação de sentidos, da meio das interações criança/criança e criança/adulto e a
expressão e comunicação, objetiva permitir que a criança organização do tempo, do espaço e dos materiais, visando
desvende o mundo a sua volta e represente o vivido, de sempre à qualificação do trabalho educativo-pedagógico.
forma a ampliar, diversificar e complexificar a oralidade, o
vocabulário e a representação gráfica. LINGUAGEM ORAL E ESCRITA
Nessa mesma direção, a arte é compreendida como uma
linguagem que possibilita diversas formas de Para todos os grupos:
representação, de expressão, de ler, de interpretar e de Organizar tempos para a leitura, para participar de rodas de
‘transver’ o mundo. histórias, frequentar bibliotecas, cinema, teatro, Clube da
Assim, a linguagem visual na educação infantil é “uma Leitura, Ciranda Literária, Ciclo de Leitura e outros espaços
forma de representação e expressão que opera por meio que privilegiem o encontro com a poesia, com a tradição
de cores, formas, linhas, volumes, gestos e sons para criar oral, para escrever suas histórias em prosas e versos, para
imagens. Uma forma de comunicação que serve para dizer descobrir novos autores, poetas, para ter elementos para
o que as palavras não dizem” (ALBANO, 2004, p.46). Na compor os planejamentos.
educação infantil, compreendemos que essa percepção se Estabelecer ações dialógicas que não considerem apenas
dá pela sensibilização dos cinco sentidos, pois a criança se aquilo que o adulto propõe ou diz, mas também aquilo que
relaciona com o mundo em sua inteireza, onde as crianças têm a dizer, incentivando-as a comunicarem-se
pensamento-sentimento-sensação-percepção atuam com os pares e com os adultos, expressarem seus desejos e
integrados. considerarem estes indicativos para o planejamento do
Sob esta perspectiva, a linguagem visual requer trabalho com as crianças.
conhecimento, planejamento e constância, portanto, não Disponibilizar ao alcance das crianças: 1- livros em língua
diz respeito à transmissão de informações, assim como, não materna e estrangeira, possibilitando que as crianças
é algo natural, pauta-se numa experiência social de entrem em contato com escritas e culturas diversas; 2-
ampliação de repertório e possibilidades de criação. Desse livros com e sem imagens/ilustrações, livros de tecido e em
modo, faz-se necessário o seu planejamento no cotidiano outras texturas, livros sonoros; 3- literatura contemporânea;
41
::: essencialconcursos.com.br :::
4- livros em quadrinhos (produzidos por diferentes editoras linguagem oral, gestual e corporal, bem como tempos para
e nacionalidades); 5- jornais e revistas diversificados de que possam usufruir dessas produções.
cunho científico e tecnológico, literário, artístico, de Oportunizar, cotidianamente, práticas de leitura e escrita,
arquitetura e urbanismo, paisagismo e jardinagem, com momentos nos quais as crianças leiam, criem, narrem,
variedades, automobilismo, navegação, esportes, moda, cantem e encenem as suas próprias histórias, possibilitando
cabelos, entre outros, em língua nacional e estrangeira; 6- representá-las de diferentes formas, dentre elas, desenhos,
literatura de cordel, contos, lendas e mitos locais e globais esculturas, produção de livros e tantas outras.
(açorianos, gregos, africanos, indianos, indígenas e outros); Possibilitar que as crianças, individualmente ou em
7- livros de contos, poesias, rodas cantadas, parlendas; 8- pequenos grupos, contem, recontem e narrem histórias
livros em braile, materiais em libras; 9- dicionários (de para outras crianças.
diversas línguas), livros de diferentes áreas do Propor momentos com DVDs de filmes infantis,
conhecimento: biologia, física, história, geografia, documentários que contemplem a diversidade cultural e os
português etc; 10- listas telefônicas, agendas telefônicas; diferentes grupos etários, disponibilizando assuntos de
11- catálogos, encartes, folders, folhetos de produtos; 12- forma plural e ética, de modo a ampliar os repertórios
catálogos, folders e folhetos de exposições de arte; 13- culturais e linguísticos das crianças, sendo que este acervo
mapas históricos, geográficos (novos e antigos), cartas deve sempre ser planejado e discutido cuidadosamente
náuticas. pelas profissionais antes das crianças terem acesso dentro
da instituição.
Bebês:
Narrar aos bebês às ações desenvolvidas com eles, Crianças pequenas:
antecipando a ação, por exemplo, a troca de fraldas, o Planejar e avaliar com as crianças a organização do tempo
banho, a alimentação, o acalanto no momento do sono e e espaço cotidiano, oportunizando que se expressem,
nas brincadeiras, para que eles, aos poucos, percebam as manifestem suas intenções em momentos de conversa
diversas possibilidades de comunicação. coletiva. Promover momentos de conversa que valorizem o
Organizar, ao alcance dos bebês, livros com diferentes que as crianças têm a dizer e possam expressar as
materiais, formas, tamanhos e texturas, como de tecido, de experiências que vivenciam cotidianamente. Identificar
plástico (banho), com efeito sonoro, fotos das crianças, quais os temas das conversas das crianças que se
animais, objetos, em três dimensões, livros bem grandes e prolongam no tempo, que conceitos, concepções,
outros bem pequenos, com texto escrito ou sem escrita, estereótipos emergem em suas falas, considerando o que a
entre outros, pois é desta forma que o bebê vai se professora sabe e pode desafiá-los a respeito destes
apropriando do livro como instrumento de leitura. assuntos e conceitos. Valorizar a formulação de hipóteses
Contar, ler, recontar e ouvir diariamente histórias de buscando constantemente complexificar o seu vocabulário,
diferentes gêneros literários, culturas e etnias, os seus saberes e conhecimentos de forma a poder
individualmente ou em grupo, para promover a fruição da estabelecer conversas que problematizem e ampliem as
leitura, fortalecer os processos de imaginação e assegurar referências das crianças, mediante fontes de consulta
aos bebês o contato com cenários aconchegantes, confiáveis.
desafiadores e diversos. Realizar conversações e combinados de grupo que
valorizem o respeito mútuo, a fala, a escuta, as trocas, a
Crianças bem pequenas: reciprocidade, a interação e considerem o ponto de vista
Possibilitar ações que auxiliem a desenvolver e ampliar a das crianças.
fala e o vocabulário das crianças, ao organizar situações e Criar estratégias com as crianças que favoreçam a
espaços que privilegiem e desafiem a fala e a escuta nos conquista da autonomia nas ações do cotidiano, na
momentos de conversas, brincadeiras no parque, na sala, organização do tempo e espaços, nos momentos de
nos momentos de contação de histórias, de higiene e de higiene, alimentação e na resolução de conflitos.
alimentação. Organizar espaços aconchegantes para a Disponibilizar diversos gêneros textuais e obras literárias,
leitura, exploração e interação, bem como possibilitar que apresentando diferentes materiais escritos, como
as crianças os reorganizem e recriem de acordo com as produções em outros idiomas, partituras, mapas, gráficos,
suas necessidades. Oportunizar o contato com obras dicionários, receita médica, bula de remédio, livros,
literárias variadas, em espaços diferenciados, dentro e/ou enciclopédias, lista telefônica, entre outros, para que as
fora da sala de referência como em corredores, hall, crianças percebam o uso cotidiano dos diferentes tipos de
refeitório, banheiros e espaços externos. representação escrita.
Em outros momentos, disponibilizar histórias elencadas Ler, (re) contar e ouvir diariamente histórias de diferentes
pelas profissionais instigando a curiosidade e o gosto pela gêneros literários e culturais, para promover a fruição da
narração de livros com ou sem escrita. leitura, fortalecer os processos de imaginação e assegurar
Registrar as vivências das crianças de diferentes formas, às crianças o contato com cenários aconchegantes,
inclusive por meio de textos coletivos, tendo o adulto como desafiadores e diversos. Criar com as crianças
escriba, para que elas possam reconhecer o uso social da dramatizações de diferentes gêneros literários, histórias,
escrita e as possibilidades de registro do vivido. poemas, contos, fábulas, trava-línguas, por crianças e pelas
Oportunizar ambientes que possibilitem à criança a profissionais responsáveis (direta ou indiretamente).
exploração, criação e representação de sons, instrumentos Organizar os espaços, de maneira que os registros das
e musicais, proporcionando o desenvolvimento da músicas, parlendas, rimas, poemas, estejam ao acesso das
crianças para a exploração literária, musical e de outros
42
::: essencialconcursos.com.br :::
elementos culturais. Instigar as crianças a criarem jogos Disponibilizar aos bebês tempos e espaços com:
orais de palavras e sons, que possam ser registrados, 1.Cestos/caixas/suportes com objetos da natureza (pedras,
também, com a escrita. sementes, gravetos, penas, algodão), para que possam
explorá-los, considerando que a escolha destes materiais
Possibilitar às crianças e suas famílias o acesso às mídias, deve prever a segurança;
configuradas como meios e tecnologias que contemplam: 2. Cestos/caixas/suportes com diferentes materialidades,
cinema, computador, fotografia, vídeo, livro, data show, como escova de cerdas macias, espelho com moldura,
CDs e DVDs, para ampliar o conhecimento das diferentes colher de madeira ou de metal, que garantam a diversidade
formas de representação da realidade. Organizar tempos e de tamanho, textura e formato, para que os bebês
espaços para que as crianças descubram e explorem o descubram e relacionem as características dos materiais; 3.
computador e as diferentes possibilidades que ele oferece Varal de cheiros, com saquinhos feitos de diferentes
à escrita, ao desenho e a comunicação, com ou sem o tecidos (voal, tule ou similares) que possam armazenar
auxílio das profissionais, em momentos individuais e substâncias que exalem aromas diversos (ervas, essências
coletivos com outras crianças. naturais, grãos, entre outros), para possibilitar aos bebês a
experimentação destes aromas e texturas.
LINGUAGENS VISUAIS: 4. Tecidos com diferentes tamanhos, cores, texturas,
elasticidade e transparências, para possibilitar interações e
Para todos os grupos: brincadeiras.
Organizar o cotidiano de forma a respeitar os cenários Oportunizar momentos de contato com a arte literária
compostos pelas crianças, seja nas brincadeiras, seja nas (poesia, histórias, contos), para que os bebês percebam as
instalações ou demais produções, não os desmontando em performances: a voz, o olhar, o movimento; e as diferentes
virtude da rotina, mas, possibilitando que as crianças materialidades: os tamanhos, as cores, as formas, as
possam dar continuidade aos enredos construídos. texturas e imagens.
Organizar o tempo considerando a heterogeneidade de Organizar os espaços considerando, intencionalmente, a
ritmos das crianças, bem como a constância das propostas, dimensão estética dos ambientes, que inclui o cuidado, o
no sentido de que as crianças possam dedicar-se às suas acesso e a disposição dos brinquedos e materiais (bonecas,
experimentações e produções de modo intenso, assim jogos, carros, louças, bolas, mobiliário, redes, mesas) para
como possam retomá-las para dar continuidade. Perceber e que os bebês tenham possibilidades de percepção estética.
enfatizar a riqueza do processo de descoberta, Propor situações de uso de lanternas, jogos de luzes
experimentação, sensação e criação, e não somente do coloridas e outros suportes materiais que projetem luz,
produto final, que pode ser gerado a partir deste processo. para que os bebês manuseiem, brinquem e percebam o
Considerar as crianças como autoras e protagonistas das movimento da luz, projeções e sombras.
suas produções e, neste sentido, o trabalho com cópia,
redução, ampliação de imagens e a releitura de obras de Crianças bem pequenas:
arte adotadas como práticas homogeneizadoras que Proporcionar às crianças a exploração dos sentidos (olfato,
devem ser evitadas, pois empobrecem os processos tato, visão, gustação e audição), para que elas possam
criativos. desvendar o ambiente a sua volta, reconhecer a elas
Organizar e ampliar permanentemente o acervo de mesmas e ao outro na relação com este ambiente,
elementos com diferentes materialidades, sendo eles: ampliando sua percepção. Organizar ambientes, ao alcance
1) Elementos Naturais: água; terras e areias de diferentes das crianças, com cestos/caixas/suportes com elementos da
cores e texturas; gravetos de diferentes tamanhos e natureza (pedras, sementes, gravetos, penas, algodão) que
espessuras; sementes de diferentes espécies, formas e podem ser coletados com elas, para que possam explorá-
tamanhos; folhas de diferentes tamanhos e espécies; tocos los, compor cenários e construir enredos de brincadeiras
de madeiras; conchas; carvão; pigmentos naturais; pedras; com estes materiais.
cascas; penas; fogo; palitos; argila de diferentes cores; Proporcionar às crianças, a produção plástica com materiais
grude; grama plantada; esponjas naturais; como argila e massa de modelar, possibilitando a sensação
2) Elementos Sintéticos/industrializados: tampas de das texturas, viscosidade e plasticidade, assim como a
diferentes tamanhos, cores e formatos; botões, cordões de percepção das diferentes formas, volume e dimensões
tamanhos e texturas diversas; potes de diferentes construídas por elas. Possibilitar o acesso à materiais com
tamanhos, materiais e cores; canos de diferentes formatos texturas e formatos diversos (materiais recicláveis, caixas,
e bitolas; tintas; lápis de cor; canetinhas hidrocor; aquarelas; tecidos e outros suportes materiais), para criações
cola colorida; cola branca; lápis pastel; giz de cera; tridimensionais plásticas e visuais, como móbiles, móveis,
massinha de modelar; canudos; escovas de dentes; pentes; cabanas, túneis, com a participação das crianças.
pinceis; rolos de papel de diferentes tamanhos; tesouras; Expor as produções plásticas das crianças para compor a
esponjas; espumas; fibra sintética; vidros de diferentes estética do ambiente, possibilitando a socialização destas
tamanhos e formas; algodão; rolhas; materiais de metal: entre os sujeitos da unidade e o reconhecimento de sua
tampas de metal; espelhos; colheres de pau; autoria.
3) Suportes: papéis e tecidos de diversos tamanhos, Organizar espaços e materiais adequados e tempos
formatos, cores, gramaturas e texturas; plásticos; placas de suficientes para que as crianças possam desenvolver de
madeira; telas; jornais; revistas. modo qualificado a linguagem pictórica do desenho.
Nesses momentos a observação e registro das profissionais
Bebês: são fundamentais, no sentido de acompanhar os processos
43
::: essencialconcursos.com.br :::
de criação e provocar as crianças, por meio da mediação e iluminação, ventilação e temperatura, com som suave e que
disponibilização de referências, a ampliarem sua possam ser compartilhados com outras crianças e adultos -
capacidade comunicativa por meio desse registro. profissionais e familiares.
Crianças pequenas: Crianças bem pequenas:
Proporcionar às crianças situações que possibilitem a Possibilitar às crianças desafios como: arrastar, rastejar,
ampliação da percepção dos sentidos e do ambiente a sua andar, correr, pular, saltar, balançar, pendurar, equilibrar,
volta, para que elas possam levantar hipóteses sobre suas entrar e sair em túneis, labirintos, alongar, escalar, virar
sensações e reconhecer a si na relação com o outro e com cambalhotas, dançar, imitar, fazer caretas, entre outros,
o mundo. para explorar o espaço, expandindo e fortalecendo sua
Organizar para/com as crianças ambientes com elementos autonomia em relação ao movimento corporal.
da natureza (pedras, sementes, gravetos, serragem, areia, Promover vivências entre e com as crianças empregando a
água, penas), para que possam brincar, compondo cenários voz e outros sons criados com o corpo, com instrumentos
e narrativas, criando hipóteses e reconstruindo os enredos musicais, objetos do cotidiano, dentre outros que
de brincadeiras com estes materiais. instiguem a criação e composições sonoro-musicais.
Oportunizar momentos de contato com a arte literária Oportunizar a participação das crianças, profissionais e
(poesia, histórias, contos), para que as crianças percebam famílias em apresentações tais como: orquestras, bandas,
as possibilidades de performances, possam (re) criá-las e grupos folclóricos, companhias de dança (balé, dança de
encená-las, utilizando os diferentes textos e materiais. salão, contemporânea, de rua, sapateado), eventos de
Planejar os espaços com as crianças, contemplando o teatro, circo, musicais, esportivos e festivais que acontecem
cuidado com os objetos e materiais, o acesso e a na unidade, na cidade e no seu entorno, promovendo a
disposição dos brinquedos (bonecas, jogos, carros, louças, ampliação do seu repertorio sonoro-corporal. Proporcionar
bolas, mobiliário, redes), considerar a diversidade étnica, de inúmeros jogos teatrais como: formas animadas, teatro de
gênero, social e cultural na seleção e criação das imagens bonecos/fantoches, teatro de sombra, de vara, de máscara,
que irão compor os cenários deste espaço, valorizando a e outros nas quais as crianças possam manipular e explorar
autoria e a percepção estética. as possibilidades dos materiais e os diferentes movimentos
Registrar junto com as crianças as suas hipóteses sobre a e sons, bem como oportunizar momentos de criação destas
criação das obras de arte com as quais têm contato, assim ações teatrais. Oferecer condições para que as crianças se
como seus sentimentos e descobertas diante delas e sintam encorajadas para assumirem a direção da
pesquisar a intenção do artista e o processo de criação por dramatização, contação de histórias, brincadeiras de roda,
ele desenvolvido. Essa proposta amplia as possibilidades de faz de conta, dentre outros, promovendo a sua autonomia
relação das crianças com as obras de arte, superando as e autoria frente a estas propostas. Organizar diferentes
propostas reducionistas voltadas para a cópia e a releitura. espaços com espelhos acompanhados de: maquiagens,
Organizar espaços e materiais adequados e tempos adereços, fantasias, colares, chapéus, sapatos, dentre
suficientes para que as crianças possam desenvolver de outros, visando à expressão corporal, possibilitando que as
modo qualificado a linguagem pictórica do desenho. crianças experimentem sensações em seu corpo.
Nesses momentos a observação e o registro das Apresentar livros nacionais e estrangeiros contemplando a
profissionais são fundamentais, no sentido de acompanhar diversidade cultural, como a história da música,
os processos de criação e provocar as crianças, por meio da instrumentos musicais e músicos de diferentes gêneros,
mediação, da pesquisa e disponibilização de referências, a culturas e épocas, movimentos corporais, proporcionando
ampliarem sua capacidade comunicativa por meio desse o contato e as variedades deste conhecimento. Organizar
registro. álbuns de imagens sobre as diferentes formas de
apresentar o corpo (e de partes dele) de crianças, jovens,
LINGUAGENS CORPORAIS E SONORAS adultos e idosos, como por exemplo: na arte (desenho,
pintura, escultura, cinema, fotografia etc.), ampliando e
Bebês: diversificando o repertório corporal das crianças.
Promover a liberdade de movimentos, para que os bebês Proporcionar a exploração dos instrumentos musicais
possam explorar os espaços por meio do corpo e dos (cordas, sopro, percussão e eletrônicos) ressaltando a
sentidos, incentivando a percepção nestes espaços. importância da mediação das profissionais, no sentido de
Planejar e criar situações e condições em que os bebês se instigar as crianças a experimentar e descobrir outras
sintam encorajados a se deslocar e explorar o espaço com possibilidades de usos além do convencional.
seu corpo e seus sentidos, promovendo sua autonomia em Explorar a expressão sonoro-corporal como: o canto, a
relação aos movimentos e expressões corporais, por meio mímica, a imitação, a improvisação, brincadeiras, faz de
de movimentos, como: erguer cabeça, levar a boca, sentar, conta, rodas cantadas, brincadeiras cantadas, cantigas de
apoiar, rolar, rastejar, engatinhar, levantar, agachar, pegar, roda, cirandas, parlendas, adivinhas, momentos com
largar, alcançar objetos, caminhar, subir, escalar, chutar, brinquedos, associando os sons a movimentos corporais.
lançar, empilhar, encaixar, dentre outros.
Proporcionar aos bebês momentos de contato corporal Crianças pequenas:
como, por exemplo, massagens com cremes e óleos Propor e organizar, com as crianças, situações que
adequados, brincadeiras e movimentos que envolvam este envolvam movimentos desafiadores, tais como: pular em
contato, com um olhar cuidadoso das profissionais em planos (aclives/declives) e alturas diferentes (alto/baixo),
relação a aceitação dos bebês, organizando ambientes ultrapassar obstáculos, pendurar-se, equilibrar-se num pé
tranquilos, seguros, acompanhados de uma adequada só, virar estrela, cambalhota, rolamentos, saltos, giros,
44
::: essencialconcursos.com.br :::
ponte, vela, parada de mão, explorando e promovendo sua Explorar a expressão sonoro-
autonomia em relação ao movimento corporal, ao espaço e corporal com: o canto, a mímica, a
às interações. imitação, a improvisação, a criação
Organizar ambientes tranquilos, seguros, acompanhados dos movimentos e sons dos animais e da natureza,
de uma adequada iluminação, ventilação e temperatura, momentos com brinquedos, brincadeiras, faz de conta,
com som suave, que possam ser compartilhados com rodas cantadas, brincadeiras cantadas, cantigas de roda,
outras crianças e adultos, profissionais e familiares, cirandas, parlendas, adivinhas, por exemplo, propor
destacando sempre um olhar cuidadoso das profissionais narrativas cantadas, nas quais as crianças são desafiadas
em relação a aceitação das crianças, como por exemplo, a intervir improvisando sons segundo a situação
massagem com cremes e óleos adequados, utilizando narrada.
massageadores, brincadeiras como o ‘rolo humano’,
proporcionando as crianças momentos de contato Núcleo de Ação Pedagógica
corporal. Oportunizar práticas de relaxamento, Relações com a Natureza: Relações com a Natureza:
desenvolvendo a concentração, a respiração, o pulsar, Relações com a Natureza: manifestações, dimensões,
contribuindo para a ampliação da sua percepção corporal. manifestações, dimensões, manifestações, dimensões,
Planejar com as crianças situações associando os sons aos elementos, fenômenos e seres elementos, fenômenos e
movimentos corporais, tais como: música com gestos, seres vivos
jogos e brincadeiras (estátua, dança da cadeira, vivo ou
morto dentre outras), instigando as crianças a criarem e A criança experimenta o mundo de corpo inteiro, por meio
proporem novas brincadeiras e movimentos. de suas brincadeiras e de inúmeras outras interações; neste
Promover vivências, entre e com as crianças, que as sentido, a relação com a natureza é fundamental para que
instiguem a experimentar composições sonoromusicais ela possa vivenciar situações de contato com materiais
empregando a voz, sons criados com o corpo, com os naturais, de observação dos seres vivos, de perceber as
instrumentos musicais e os objetos do cotidiano transformações promovidas pelos fenômenos naturais,
associando os movimentos corporais, como por exemplo, sociais e culturais o que possibilita a descoberta e o
as brincadeiras ritmadas, ampliando as conhecimento do mundo. Os profissionais da educação
possibilidades/repertórios de ritmo, melodia, entonação, infantil precisam escutar as crianças, considerar suas
harmonia. perguntas e hipóteses sobre as formas como o mundo se
Planejar ações de participação das famílias e outros organiza, para pensar seu planejamento e complexifica-lo.
membros da comunidade nas mais variadas ações na Segundo Mello (2013), eles precisam desafiar as crianças a
unidade educativa, tais como: dramatizações, contação de pensarem sobre o funcionamento da natureza, suas
histórias, brincadeiras de roda, faz-de-conta, brinquedos e manifestações, dimensões, elementos e fenômenos físicos
brincadeiras, músicas, cantos, apresentações folclóricas, e naturais, sendo assim, “nosso desafio é propor para a
dentre outros, proporcionando a ampliação da linguagem criança um trabalho que seja capaz de formar uma
sonoro-corporal e da diversidade cultural. inteligência curiosa, com iniciativa inteligente, uma
Organizar tempos, espaços e materiais que possibilitem às personalidade interessada, equilibrada e respeitosa. ” (Ibid,
crianças o contato com noções básicas da música como: p.2).
som, silêncio, altura, intensidade, timbre, duração, ritmo, Desse modo, o trabalho com esse núcleo da ação
melodia, compasso, harmonia. pedagógica propõe compreender a relação com a natureza
Possibilitar o contato com a diversidade de gêneros a partir do pensar não só sobre os fatos/fenômenos
musicais, estilos, épocas e culturas: infantis, da nossa observados, mas também, sobre as hipóteses e explicações
cidade, folclóricas, indígenas, africanas, bossa nova, samba, das crianças, além de considerar outros pontos de vista
jazz, salsa, tango, instrumental, popular, contemporânea, apresentados pelos colegas e adultos, livros, enciclopédias,
medieval. jornais, entre outros suportes de informação. Este
Criar situações que as crianças possam explorar as entendimento promove a consciência socioambiental das
possibilidades dos ritmos, entonações, melodias, tons, crianças, na qual elas desenvolverão práticas de
timbres, compasso e harmonia, que ajudem as crianças a contemplação, de conservação e de interação,
descobrirem e identificarem os conceitos básicos da compreendendo que ela faz parte da natureza. Assim como
linguagem musical. Explorar a expressão sonoro-corporal na relação com a natureza, as hipóteses das crianças no
com: o canto, a mímica, a imitação, a improvisação, a âmbito da matemática são fundamentais para o trabalho
criação dos movimentos e sons dos animais e da natureza, pedagógico, considerando que os primeiros contatos da
momentos com brinquedos, brincadeiras, faz de conta, criança com a linguagem matemática acontecem nos seus
rodas cantadas, brincadeiras cantadas, cantigas de roda, primeiros anos de vida, período fundamental para o
cirandas, parlendas, adivinhas, por exemplo, propor desenvolvimento do raciocínio lógico.
narrativas cantadas, nas quais as crianças são desafiadas a A proposta de trabalho na linguagem matemática na
intervir improvisando sons segundo a situação narrada. educação infantil deve encorajar as crianças a vivenciarem
Possibilitar que as crianças assistam peças teatrais, uma grande variedade de ideias matemáticas relacionadas
diferentes gêneros musicais e textuais, contação de à exploração espacial e a quantificação, através de
histórias, danças, e outras performances apresentadas na resolução de situações problema que envolvam desafio,
unidade educativa e quando possível em outros espaços investigação e ação, adquirindo assim, diferentes formas de
fora da unidade educativa, promovendo a exploração e perceber a realidade. Nessa perspectiva, observamos
ampliação da linguagem sonoro corporal. situações que mobilizam conceitos como comparação
45
::: essencialconcursos.com.br :::
(igual/ diferente), correspondência (contagem um a um), sons (relógio, sinetas, campainhas, chocalhos, instrumentos
conservação (perceber que um copo baixo e largo, musicais); 4- que envolvam brincadeiras com ar: flutuação
comporta o mesmo volume de água que um copo alto e de balão, bolhas de sabão, pipas;
estreito), classificação (estabelecer um critério para agrupar 5- que envolvam a exploração diferentes tipos de solo e
objetos, por exemplo, cor, tamanho), inclusão (perceber suas variações (areia, barro, terra) incluindo nestas
que a palavra “talheres”, inclui garfo, faca e colher), situações diferentes objetos e utensílios (colher de pau,
sequenciação (a seleção do número de amigos para colher de metal, funis, recipientes de diferentes formatos e
brincar, sem estabelecer uma ordem), seriação (perceber a tamanhos, que possam ampliar as possibilidades de
sequência rígida dos dias da semana), que são constituintes experimentação dos bebês.
da forma como a criança se relaciona com o mundo.
Moysés Kuhlmann Júnior (2000, p.65) nos alerta, que é o Crianças bem pequenas:
professor que precisa dominar os conceitos implícitos na Disponibilizar objetos que possam ser levados para espaços
ação educativa e as implicações disso para o diversos, como corredores, parque, banheiro, refeitório,
desenvolvimento infantil, pois para a criança o importante é criando obstáculos para que as crianças sejam desafiadas a
descobrir que “o mundo envolve afeto, o prazer e o perceber os próprios movimentos que executam e a força
desprazer, a fantasia, o brincar e o movimento, a poesia, as que realizam em algumas brincadeiras para subir, balançar,
ciências, as artes plásticas e dramáticas, a linguagem, a escorregar, empurrar os obstáculos para mudá-los de lugar.
música e a matemática”. Cabe destacar que todas estas Organizar, com as crianças, coleções de elementos da
formas de expressão estão articuladas, não existindo uma natureza (galhos, pedras, folhas secas, sementes, conchas),
hierarquização de importância entre elas. A perspectiva de para que enriqueçam suas possibilidades de interação com
que a “criança aprende e se desenvolve quando é sujeito diversos materiais naturais, atentando para suas formas,
[…] quando pensa, decide, planeja, escolhe, resolve, toma tamanhos, texturas, maleabilidade e resistência.
iniciativa” (MELLO, 2013, p. 4), apresenta-se como base das Oportunizar brincadeiras com luz e sombra utilizando
proposições aqui apresentadas, acerca da relação com a lanternas, transparências, tecidos para que as crianças
natureza e da linguagem matemática para todas as crianças observem as transformações ocorridas nas imagens
dos diferentes grupos etários. projetadas (alongam-se e encolhem-se, aparecem e
desaparecem). Selecionar e/ou criar histórias e cenários,
RELAÇÕES COM A NATUREZA junto com as crianças, sobre as estrelas, a lua, o céu, os
planetas no sentido de ampliar repertórios de
Bebês: compreensão sobre esta temática.
Criar proposições que favoreçam ao bebê o movimento no Desenvolver práticas cotidianas de pertencimento ao
espaço da instituição, disponibilizando objetos para planeta, que promovam a consciência socioambiental, na
exploração, assim ampliando seu conhecimento acerca do qual sejam evidenciadas a necessidade de preservação e a
seu entorno. Organizar estratégias para que os bebês relação de interdependência.
tenham acesso visual ao espaço externo, pelas janelas, pelo Trazer para sala de referência plantas para que as crianças
solário, pelas portas abertas, permitindo-lhes ampliar as observem seu desenvolvimento diariamente, sua
possibilidades de percepção do mundo que os cerca. germinação, florescimento, crescimento e morte, de forma
Oportunizar momentos e espaços na sala de referência, no a ampliar o conhecimento sobre os fenômenos biológicos.
parque, na horta e em outros espaços da UE, para que os Ajudar as crianças, em situações do cotidiano, a
bebês se relacionem e se integrem com outras crianças de compreenderem as diferentes necessidades do seu
diferentes grupos. Possibilitar o acesso aos bebês a organismo: a ingestão de água quando sente sede, o uso
diferentes materiais, diversificando a textura, os formatos, de vestuário adequado a temperatura do ambiente, a
os odores, os sons, os pesos e permitindo a exploração de utilização do banheiro quando sentir necessidade.
corpo inteiro- a mão, a boca, os pés, a pele. Destacamos a
necessidade de garantir a segurança da experiência. Crianças pequenas:
Disponibilizar cestos com variados tipos de frutas e Criar momentos e possibilitar que as crianças tenham
legumes, com cheiros, cores, texturas, tamanhos, de modo contato e explorem os diferentes tipos de solos (areia, areia
a ampliar as possibilidades da exploração dos diferentes da praia, brita, barro, piso, grama, cimento, areão) e
sentidos. texturas, viabilizando a criação de novas brincadeiras.
Propor situações e brincadeiras que envolvam diferentes Planejar tempos e espaços que possibilitem às crianças
instrumentos para a exploração de diferentes elementos da explorar e conhecer as possibilidades e os limites de seu
natureza: corpo em brincadeiras como subir, escalar, balançar,
1-que envolvam luz e sombra, tais como brincadeiras com escorregar, correr. Planejar, com as crianças, saídas em
lanternas, com materiais transparentes, com tecidos, com trilhas, dunas, praias, mangues, hortos, bosque, lagoas,
globos iluminados, com projetores de luz, objetos que parques ecológicos, demarcando as inter-relações e as
provoquem sombra; diferenciações entre os ecossistemas, assim como a
2-que envolvam água como: brincadeiras no banho, possibilidade de contemplação e a necessidade de
utilização de diferentes recipientes de tamanhos variados preservação desses ambientes. Pesquisar sobre as tradições
para brincar com a água, fazer bolhas de sabão, incluir culturais, de origem afro-brasileira, indígena, europeia,
água nas brincadeiras com areia; oriental, dentre outras, para conhecer novos modos de
3-que envolvam a escuta sons da natureza (chuva, rio, mar, viver, sentir e pensar a vida sobre a Terra.
cachoeira, pássaros). O manuseio de objetos que produzem
46
::: essencialconcursos.com.br :::
Observar os fenômenos naturais e culturais e propor ações observando a chuva, o vento, os pássaros, enfim, todos os
como: coleta de materiais, levantamento e verificação das sons do seu entorno. Proporcionar brincadeiras que
hipóteses, consulta a diferentes fontes de pesquisa (livros, envolvam o canto e o movimento (rápido, lento, devagar,
enciclopédias, documentários) formas variadas de registros depressa), que possibilitem a percepção rítmica, o
(instalações, maquetes, desenhos, escrita e outros), que desenvolvimento do senso de medida, o conhecimento do
possibilitem a construção de sínteses que ampliem o próprio corpo e o contato físico com o outro, seja esse
conhecimento sobre o observado. outro adulto ou criança.
Propor situações que envolvam a reciclagem de papel para Planejar situações, disponibilizando materiais para que os
que as crianças possam brincar e atuar no processo de bebês explorem os sentidos, dialogar com as crianças,
transformação deste, com a inclusão de folhas secas, flores, apontando as diferenças existentes nos objetos que estão
ervas que proporcionem texturas e aromas. Incluir ainda, no espaço: texturas (macio, liso, áspero), consistências
pigmentos naturais (urucum, anis, terra) que permitem a (mole, duro, gelatinoso), massas (pesado, leve), calor
exploração de cores e tonalidades variadas. Promover (quente, frio, gelado), espaço (grosso, fino), tamanho
práticas de separação dos resíduos sólidos produzidos na (alto/baixo, grande/pequeno, largo/estreito) para que as
instituição educativa, atentando para as responsabilidades crianças brinquem, oportunizando assim, a classificação
individuais e coletivas nesse processo. aleatória dos diferentes objetos.
Propor brincadeiras que envolvam vivências de culinárias,
ressaltando as transformações que ingredientes provocam Crianças bem pequenas:
durante a preparação da receita, como o efeito do Planejar situações em que as crianças reconheçam o seu
fermento que faz o bolo crescer. corpo e experimentem os diferentes sentidos através de:
Realizar registro documental das relações das crianças com músicas que façam referência às partes do corpo, banho de
a natureza, por meio de fotografias, de escrita, de áudio, de mangueira, piscina, diferentes tipos de massagens. Propor
filme que revelem a elas, ao coletivo da unidade e a seus ações para que as crianças explorem o conceito de simetria
familiares, o processo vivenciado. no cotidiano, por meio da elaboração de dobraduras,
costuras, construções, ampliando esse conceito para além
LINGUAGEM MATEMÁTICA de seu corpo.
Propor espaços na sala de referência e ambientes externos
Bebês: para que as crianças possam fazer a relação entre o espaço
Planejar situações em que os bebês reconheçam o seu e seu próprio corpo, por meio de:
corpo: organizar espaços e tempos em que o toque, a 1- brincadeiras em que as crianças percebam/reconheçam
conversa, o banho e a massagem viabilizem esse o espaço que as rodeia, proporcionando ações, tais como:
reconhecimento. Interagir com os bebês com brincadeiras visitas a outros espaços da instituição e fora dela,
de achar e de esconder o próprio corpo. Pode-se utilizar construções com diferentes materiais, tais como blocos de
para essa brincadeira uma fralda ou lençol, por exemplo. madeira, situações que envolvam percursos e labirintos,
Proporcionar brincadeiras, destacando as partes do corpo, exploração de espaços seguindo coordenadas de
propondo ações que possibilitem que os bebês se localização, esconde-esconde, saltos em diferentes
observem em frente ao espelho, diante de outras crianças, distâncias;
diante das bonecas, estabelecendo comparações entre elas 2-situações que auxiliem a percepção do espaço por meio
e os outros, e possam identificar/perceber a simetria do do corpo e dos sentidos, possibilitando que as crianças
próprio corpo: mãos, pés, pernas, olhos, braços. experimentem diferentes sensações, limites e
Organizar ambientes internos e externos às salas para que potencialidades, instigando a solução de problemas, como
os bebês possam fazer a relação entre o espaço e seu por exemplo: organização da construção de labirintos,
próprio corpo, através de: espaços para se esconder etc.;
1 - planejamento de situações em que os bebês sejam 3-organização do espaço com elementos da natureza, que
provocados a explorar diferentes ambientes e espaços, proporcionem a construção de diferentes ambientes, para
disponibilizando para isso, tanto brinquedos, como as crianças brincarem sozinhas ou em grupo e que
elementos da natureza; favoreçam a exploração com água, luz, sombra, vento,
2-construção com os bebês de brinquedos e objetos com grama, areia, pedras, conchas;
materiais diversos para compor o acervo de exploração da 4- organização do espaço com materiais tais como panos,
sala de referência e espaços externos; cordas, caixas para que as crianças possam explorar o
3-organização do espaço, disponibilizando espaço, criando viagens imaginárias.
objetos/materiais de diversos tamanhos, cores e formas
que possibilitem a exploração; Crianças pequenas:
4-organização da sala de referência e ambientes externos Propor situações que auxiliem as crianças na percepção do
com objetos escondidos para que os bebês os procurem; próprio corpo e experimentem diferentes sensações por
5- organização de materiais propícios para serem meio de ações como: brincadeira de cabra-cega,
empurrados, amassados e rasgados pelas crianças; automassagem, massagem nos seus pares, banho de
6- organização do espaço para que as crianças manipulem mangueira, brincadeiras para identificar diferentes sons,
e explorem materiais tais como: panos, lenços, tiras de cheiros e sabores. Ampliar as possibilidades de exploração
tecido, caixas. do movimento, proporcionando ações que estimulem as
Planejar situações em que os bebês sejam provocados a crianças conhecer e desafiar seus limites, potencialidades,
descobrir/perceber diferentes sonoridades e seus ritmos sinais vitais, integridade física, tais como, corda bamba, pé
47
::: essencialconcursos.com.br :::
de lata, chinelão, perna de pau, tirolesa, subir em árvores, Art. 3º A matrícula na Educação Infantil em creche, das
pular de diferentes alturas, corrida de saco. crianças de até 3 (três) anos de idade, é facultativa às
Organizar, com as crianças, os espaços internos e externos famílias e sua oferta deverá ser ampliada pelo sistema de
que proporcionem brincadeiras para que estas brinquem ensino em consonância com o Plano Municipal de
sozinhas ou em grupo: Educação.
1-com objetos/materiais para que as crianças brinquem e Art. 4º A Educação Infantil, composta por creches e pré-
façam relação com o tempo, com a quantidade, com o escolas caracterizam-se como espaços institucionais não
peso, com o tamanho, com a espessura, etc (relógio, domésticos, ofertada em estabelecimentos educacionais
balança, ampulhetas, peneiras de diversos tamanhos, funil, públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de
entre outros); zero a cinco anos de idade no período diurno, em jornada
2-com elementos da natureza que favoreçam a exploração integral ou parcial, regulado e supervisionado pelos órgãos
com água, luz, sombra, vento, grama, areia, terra, argila, competentes do Sistema Municipal de Ensino de
conchas; 3- com materiais tais como panos, cordas, lenços, Florianópolis.
caixas para que as crianças possam explorar o espaço, Art. 5º A Educação Infantil será organizada de acordo com
criando viagens imaginárias. as seguintes regras comuns:
Propor situações em que as crianças construam a I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
representação de dados numéricos, a partir de uma desenvolvimento e da aprendizagem das crianças, sem o
situação problema inicial, que gere a necessidade de objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino
investigação, elaboração de hipóteses, organização dos fundamental;
dados coletados e de sua interpretação. A elaboração de II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas,
gráficos é uma das possibilidades dessa representação. distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de
Possibilitar a percepção das estruturas rítmicas, efetivo trabalho educativo;
acompanhando músicas utilizando objetos, instrumentos III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas
musicais, percussão corporal. Propor ações para que as diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas diárias para
crianças explorem o conceito de simetria no cotidiano, por jornada integral;
meio da elaboração de dobraduras, costuras, construções, IV - controle de frequência pela instituição de educação
ampliando esse conceito para além de seu corpo. Ampliar o pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta
conceito de simetria, proporcionando a construção de por cento) do total de horas;
objetos e brinquedos tridimensionais em que as crianças V - expedição de documentação pedagógica que permita
possam classificar, comparar, ordenar, entre outros. atestar os processos de desenvolvimento e aprendizagem
Registrar, por meio de tabelas, gráficos, as mudanças da criança.
ocorridas ao longo do ano, como: clima, cardápio das Art. 6º A Educação Infantil será ofertada em:
refeições da unidade, altura das crianças, tamanho dos I – Creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até
calçados. 3 (três) anos de idade.
Oportunizar situações diversificadas em que as crianças II – Pré-escolas, para crianças de 4 (quatro) a 5(cinco) anos
utilizem os números, envolvendo preços (embalagens, de idade.
rótulos, etiquetas, dinheiro), idades, datas (calendários, Art. 7º As instituições de Educação Infantil classificam-se
validades dos alimentos), medidas (calçados), quantidades nas seguintes categorias administrativas:
(rótulos, números de crianças da sala), pesos (embalagens, I – Públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas,
pesos das crianças da sala), localização (número das casas) mantidas e administradas pelo Poder Público Municipal.
nas quais elas tenham que contar e/ou fazer registro. II – Privadas, assim entendidas as mantidas e administradas
por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado, podendo
RESOLUÇÃO Nº1/2017 DO CONSELHO MUNICIPAL DE ser: Particulares, Comunitárias, Confessionais e
EDUCAÇÃO DE FLORIANÓPOLIS. (RESUMIDA) Filantrópicas.
Art. 8º As propostas pedagógicas da Educação Infantil
LEIA NA ÍNTEGRA A RESOLUÇÃO devem respeitar os seguintes princípios: I – Éticos: da
01/2017 DO CME DE autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do
FLORIANÓPOLIS, ESTUDE E LEIA! respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes
culturas, identidades e singularidades.
Art. 1º A Educação Infantil, primeira etapa da Educação II – Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da
Básica, tem por finalidade o desenvolvimento integral da criticidade e do respeito à ordem democrática.
criança de até 5 (cinco) anos de idade, em seus aspectos III – Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da
físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes
ação da família e da comunidade. manifestações artísticas e culturais.
Art. 2º É obrigatória a matrícula de crianças que completam Art. 11. As práticas pedagógicas que compõem a proposta
4 (quatro) anos de idade até o dia 31 de março do ano em curricular da Educação Infantil devem ter como eixos
que iniciar a frequência na Educação Infantil. norteadores as interações e as brincadeiras.
§ 1° As crianças que completam 6 (seis) anos de idade após Art. 12. As Instituições de Educação Infantil devem criar
o dia 31 de março devem permanecer na Educação Infantil. procedimentos para acompanhamento do trabalho
pedagógico e para a avaliação do desenvolvimento e da
§ 2° A criança não poderá estar matriculada na Educação aprendizagem das crianças, sem objetivo de seleção,
Infantil e no Ensino Fundamental de forma concomitante. promoção ou classificação.
48
::: essencialconcursos.com.br :::
Art.13. Na transição para o Ensino Fundamental, a proposta ligação direta com as dependências, tais como cozinha,
pedagógica deve prever formas para garantir a despensa, salas referência, pátio coberto, refeitório e que
continuidade no processo de aprendizagem e não permita o acesso das crianças;
desenvolvimento das crianças, respeitando as XII – todas as Instituições de Educação Infantil deverão ter
especificidades etárias, sem antecipação de conteúdos que acesso à Internet.
serão trabalhados no Ensino Fundamental. Art. 25. A instituição que atender crianças de 0 (zero) a 2
Art. 20. O sistema de ensino e as instituições educativas (dois) anos de idade deverá dispor de espaço próprio para
devem propor programas de formação continuada para essa faixa etária, que possua:
todos os profissionais da educação. I – ambiente adequado para repouso;
Parágrafo único. Por formação continuada entendem-se os II – espaço com área livre com piso adequado para
processos formativos constituídos coletivamente, na movimentação;
modalidade presencial ou à distância, envolvendo ações de III – mobiliário, equipamentos, material e brinquedos
pesquisa, extensão, reuniões pedagógicas, grupos de adequados à faixa etária;
estudo, cursos, palestras, oficinas. IV – espaço para banho de sol;
Art. 24. A estrutura dos espaços internos das Instituições de V – banheira e/ou duchas e bancada para troca de fraldas,
Educação Infantil, nos termos do artigo 23, deverá garantir com lavatório;
a acessibilidade de todas as crianças e ser composta de: VI – armários/prateleiras para guardar os materiais de
I – salas referência, exclusivas para as crianças, com a higiene de uso individual das crianças.
proporção mínima de 1,30m² (um metro e trinta quadrado) Art. 26. As áreas externas devem ser ensolaradas e
por criança, garantindo o número máximo de crianças por sombreadas, contemplando brinquedos de parque e pisos
grupo, conforme disposto no artigo 14, com iluminação variados, idealmente prevendo a implantação de área
natural e ventilação direta, em condições de conforto que verde, que pode contar com pomar, horta e jardim.
garantam visibilidade para o ambiente externo, com vidros Art. 28. O credenciamento consiste no ato de certificação
lisos e, prioritariamente, peitoril de acordo com a altura das do Poder Público, cuja edição vincula o estabelecimento de
crianças garantindo segurança e portas que possibilitem a ensino ao Sistema Municipal de Ensino, com vistas à
integração com a área externa; habilitação legal para a oferta da Educação Infantil.
II – banheiros para as crianças próximos às salas referência, Art. 29. A Autorização de Funcionamento é o ato pelo qual
em quantidade suficiente para o atendimento, sendo que o Conselho Municipal de Educação habilita o
ao menos 1 (um) seja acessível conforme a Norma da funcionamento da Instituição de Educação Infantil, quando
ABNT, que disponha de instalações sanitárias completas, atendidas as disposições legais pertinentes.
adequadas às faixas etárias das crianças atendidas. §1º A Instituição de Educação Infantil só poderá funcionar
III – mobiliário adequado à faixa etária das crianças, mediante Portaria de Autorização para Funcionamento,
favorecendo o desenvolvimento da autonomia e dos expedida e publicada pela Secretaria Municipal de
movimentos amplos; Educação.
IV – equipamentos: livros, brinquedos, jogos, parque e §2° O Conselho Municipal de Educação, sempre que
materiais pedagógicos adequados às especificidades da identificar o funcionamento de Instituição de Educação
faixa etária, às diferentes linguagens das crianças de acordo Infantil sem a devida autorização, formalizará a denúncia à
com suas necessidades e seus repertórios culturais e em autoridade respectiva e competente, para as providências
quantidade suficiente; determinadas por esta Resolução.
V – área de serviço e de alimentação prevendo, cozinha e Art. 34. A supervisão, de responsabilidade da Secretaria
áreas de apoio, tais como refeitório, despensa geral, Municipal de Educação, mediante seus próprios critérios,
despensa fria, áreas de recebimento e pesagem de compreende a avaliação sistemática do funcionamento da
alimentos e cômodo de gás, que atendam às exigências de Instituição de Educação Infantil, na perspectiva de
saúde, higiene e segurança, nos casos de oferta de aprimoramento do processo educacional considerando o
alimentação; VI – sala para professores, que deve contar cumprimento da legislação vigente.
com equipamentos e mobiliários como computador e Art. 35. O não atendimento da legislação educacional
impressora, mesa para reunião, cadeiras, livros didáticos e vigente ou a ocorrência de irregularidades nas Instituições,
paradidáticos, armários individualizados e bancada de constatadas através de supervisão, ocasionará, por parte da
apoio; Secretaria Municipal de Educação, os procedimentos
VII – espaços para recepção e administração devem ser cabíveis.
compostos sempre que possível, com computador e Art. 36. A inobservância às medidas aplicadas no artigo
impressora, mesa e cadeira, arquivos e telefone; anterior ensejará instauração de processo administrativo
VIII – sala para coordenação pedagógica, se possível, com por parte da Secretaria Municipal de Educação,
computador e impressora, mesa para reunião e cadeiras; assegurando o direito de ampla defesa ao mantenedor da
IX – banheiros com instalações sanitárias completas e instituição.
acessíveis para uso exclusivo de adultos; X – área de serviço Art. 37. Cumpridos os devidos trâmites legais, o Conselho
e/ou lavanderia, sempre que possível, com acesso Municipal de Educação submeterá a análise do processo e
independente, devidamente equipada, dispondo de se pronunciará através de Parecer indicativo de:
tanque, máquina de lavar e secadora, e prevista uma área, I – suspensão temporária de autorização de funcionamento
externa e interna, para secagem de roupa; da instituição; II – revogação da autorização de
XI – depósito de lixo, situado em local desimpedido, de fácil funcionamento. Parágrafo único. O Conselho Municipal de
acesso à coleta, isolado de áreas de maior circulação, sem
49
::: essencialconcursos.com.br :::
Educação deverá comunicar ao Ministério Público os casos compreender estudos e/ou políticas públicas institucionais
de instituições com funcionamento irregular. que objetivam a promoção da igualdade étnico-racial por
intermédio do processo educativo em todas as etapas e
MATRIZ CURRICULAR PARA EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES modalidades da educação brasileira.
ÉTNICO-RACIAIS NA EDUCAÇÃO BÁSICA (2016). Sem limites para a sua abordagem, a ERER expressa em sua
diversidade, a intencionalidade de suas ações pelo
Parte I 1. O que e de quem trata a Matriz de Educação reconhecimento e valorização dos conteúdos de matriz
das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e africana nas diversas dinâmicas pedagógicas da Educação
Cultura Africana e Afro-Brasileira Básica.
A ERER deve ser reconhecida como política curricular, visto
1.1. Problematizando a Matriz de Educação das que pretende também o ensino de conteúdos de matriz
Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira. Para seu encaminhamento, a
Africana e Afro-Brasileira Matriz Curricular destacará atenção para os fenômenos
No ano de 2003, a Lei Federal 10.639, de 9 de janeiro, educativos visto estarem imbricados nas relações que se
alterando a Lei de Diretrizes e Bases de Educação Nacional estabelecem na escola. Pensadores da educação das
(1996), determina a obrigatoriedade no currículo, da relações étnico-raciais apontam que, das mudanças a
temática de História e Cultura e Afro-Brasileira, conforme serem repensadas, estão às concepções e práticas que
explicita seu texto: hierarquizam identidades, sujeitos, culturas, conteúdos e
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e conhecimentos.
médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino
sobre História e Cultura Afro-Brasileira. (...) incluirá o estudo 1.1.2. Pressupostos da Educação Relações Étnico-
da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Raciais
Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da Os pressupostos da ERER da Secretaria Municipal de
sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo Educação de Florianópolis estão de acordo com os
negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à pressupostos apontados pelo conjunto de documentos e
História do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à História e práticas da Rede Municipal, todos articulados e inscritos na
Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo política de reconhecimento dos sujeitos, como condição
o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação estruturante para alcançar os objetivos para a qualidade de
Artística e de Literatura e História Brasileiras. (...) educação oferecida e almejada.
Assim, a Rede Municipal de Ensino (RME) de Florianópolis,
atendendo as determinações legais e as suas concepções 1.2. Vislumbrando caminhos: os reconhecimentos
de educação, desenvolve um conjunto de ações para a • Reconhecer que aquilo que é público é de todos/as e
efetivação das políticas determinadas pelas leis e pelos para todos/as.
instrumentos decorrentes delas, mais objetivamente, pela • Reconhecer a diversidade étnica como princípio da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, pelas Educação Básica.
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, Ao instituir a diversidade como princípio, adotamos a ideia
pelo Plano Municipal de Educação e pelas Diretrizes de que todos são capazes de aprender, em seus tempos e
Nacionais para Educação das Relações Étnico- -Raciais e processos e que a cultura e as pertenças dos sujeitos serão
para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e refletidas e consideradas. Assim, a educação básica se, por
Africana. um lado estabelece na sua concepção uma base comum,
Sabemos que leis e normas não mudam as pessoas e suas universal, por outro, apregoa o respeito à diferença e ao
práticas. O que muda são as pessoas e as práticas, quando pluralismo. Sintonizada com as demandas que a sociedade
afinadas para efetivar os fundamentos da função social da consolida em torno dos direitos civis conquistados, a
escola. Quando compreendem que uma das dimensões da educação amplia a compreensão de que os conteúdos das
função social da escola é o/a de ser lugar de todos/as, identidades dos sujeitos são também conteúdos e saberes
sendo assim, um espaço constituído de muitas presenças. da educação.
• Reconhecer a necessidade de romper com a invisibilidade
1.1.1. Conceituando a Educação das Relações Étnico- do tema e dos sujeitos do tema.
Raciais • Reconhecer e garantir a ERER nas Ações Pedagógicas e
Na Matriz Curricular, a ERER pode ser compreendida sob nas Políticas da Educação.
dois pontos de vista:
1. Aquele, que abrange os conceitos e saberes advindos Para atingir os objetivos propostos, a ERER deve estar
das dinâmicas de matriz africana e do movimento social integrada de forma interdisciplinar, considerando os
negro em especial e; conteúdos sociais e teóricos da temática e de seus sujeitos,
2. Pelo conjunto de políticas e ações no âmbito da bem como, as dinâmicas e os valores culturais imbuídos na
educação, que tratam de programas, projetos, currículos, forma de ser, conceber e existir dos descendentes de
estudos, ensino e formação a partir de conteúdos africanos e de todos os grupos étnicos da escola. Esses
relacionados com a história e a cultura de matriz Africana e reconhecimentos trazem no seu corpo as motivações para
Afro-Brasileira. integrar as discussões sobre as relações Étnico-Raciais na
Assim, ERER tem se formatado como expressão para política educacional do município de Florianópolis:
qualificar aquilo que trata de questões de etnia de base a) o reconhecimento de que o pertencimento étnico ainda
africana na educação, bem como, para identificar e gera tensões, na sociedade e no ambiente da educação,
50
::: essencialconcursos.com.br :::
promovendo prejuízos não somente para negros, mas para 1.4. Sujeitos da Matriz Curricular da Educação das
todos os que almejam uma sociedade igualitária e uma Relações ÉtnicoRaciais
unidade educativa promotora do desenvolvimento integral Inicialmente informamos que a Matriz Curricular da
dos indivíduos; Educação das Relações Étnico-Raciais, parte do princípio de
b) o enfrentamento às desigualdades produzidas que a diversidade está em todos, que somos todos
socialmente e que exigem por parte dos sistemas de ensino diversos, portanto, somos todos sujeitos da diversidade.
providências educativas e políticas para a promoção da Somos todos pertencentes a um mesmo grupo, o humano,
igualdade. Neste sentido o texto apontará também, para o e ao mesmo tempo observamos o quanto os humanos são
reconhecimento do papel social das unidades educativas diversos. Somos iguais e ao mesmo tempo somos
no combate ao racismo e para a promoção dos conteúdos diferentes. Iguais juridicamente e também, por garantias
e dos marcos civilizatórios dos Africanos e Afro-Brasileiros. legais, temos o direito de exercer nossas diferenças. Esse
movimento – ser igual e ser diferente – que cada um/a
1.3. Concepções Fundantes: Princípios da Matriz das abriga como um direito, impõe à escola, uma série de
Relações ÉtnicoRaciais reconhecimentos e compromissos.
Os princípios da ERER estão sustentados e articulados na
perspectiva de (re) conhecimento e valorização da temática, 1.4.1. Mas quais seriam os sujeitos da ERER?
como indicador de qualidade da/na educação. Estão, esses Os sujeitos da ERER são as crianças, os adolescentes, os
princípios, vinculados à consciência da diversidade, ao jovens, os adultos e os idosos, atendidos nas unidades
respeito às identidades, a equidade de oportunidades, a educativas da Educação Infantil, Ensino Fundamental,
intencionalidade pedagógica de promoção da igualdade Educação de Jovens e Adultos, Organizações Sociais e
étnico-racial e, ao ensino como instrumento de Centros de Convivência e Fortalecimento de Vínculos.
desconstrução da invisibilidade dos conteúdos de matriz São todos/as aqueles/as que estão em rede, para o
africana nas escolas. São princípios da Matriz Curricular da cumprimento da função social da escola. São os sujeitos
Educação das Relações Étnico-Raciais da Educação Básica, que encaminham as políticas públicas na sua elaboração e
os que seguem: gestão, os professores e as professoras, as/os servidoras/es
que atuam nas escolas e as famílias das/dos estudantes.
CONSCIÊNCIA POLÍTICA E HISTÓRICA DA DIVERSIDADE São os descendentes de africanos, dos europeus e dos
A todos/as está garantida a igualdade perante a lei. Somos indígenas como referência das três etnias e todos os povos
todos iguais. Contudo, ser igual significa também ser que se originam de qualquer outro lugar e que escolheram
respeitado/a nas suas identidades específicas. Esse diálogo Florianópolis para morar e a rede municipal de ensino para
sobre igualdade e respeito às diferenças é garantido se constituir sujeito da educação.
quando a diversidade é compreendida como um conteúdo
da cultura e história social. SUJEITO. Para a professora
Joana Célia dos Passos, “sujeito
FORTALECIMENTO DE IDENTIDADES E DE DIREITOS O é um ser humano que se
fortalecimento de identidades como princípio pressupõe a constrói historicamente na
compreensão de que não podemos homogeneizar os relação com outros seres humanos, também sujeitos; é
conteúdos escolares tomando por base somente uma carregado de desejos e movido por eles, os quais o
perspectiva étnica, uma “única história”. Arroyo (2011:261) mobilizam. O sujeito também é um ser social com
diz que a escola é lugar para “saber de si”, defendendo a determinada origem familiar, que ocupa uma posição
pluralidade na organização do currículo e o direito que em um espaço social e tem relações sociais. Por fim, o
todos possuem de lidarem com seus conteúdos e sujeito é um ser único, que tem uma história, que
pertencimentos históricos e culturais no âmbito da escola interpreta o mundo e lhe dá sentido. É um sujeito ativo,
e, especialmente na atividade do ensinar e do aprender. que se produz ao agir no e sobre o mundo, ao mesmo
tempo em que é produzido nas relações sociais de que
AÇÕES EDUCATIVAS DE COMBATE AO RACISMO E ÀS participa”. (PASSOS, 2014:82)
DISCRIMINAÇÕES As ações educativas de combate ao
racismo e às discriminações articulam, segundo as 1.4.2. Somos todos/as sujeitos da ERER
Diretrizes Curriculares Nacionais Para a Educação das A ERER é para todos e traz centralidade em torno de um
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e sujeito e seus conteúdos como forma de equilibrar as
Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004), conexões entre os relações sociais e étnicas na escola e, sobretudo, como
objetivos, as estratégias de ensino, e as condições objetivas forma de potencializar a formação de sujeitos que se
para o seu desenvolvimento. Da mesma forma, consideram compreendam iguais nas suas identidades específicas.
e valorizam o patrimônio material e imaterial que os Portanto, entendemos que para quem organiza a educação,
sujeitos da escola trazem e compartilham. delimita suas concepções, elabora seu projeto político
pedagógico e planeja suas atividades de ensino, as relações
OBRIGATORIEDADE DO ENSINO DE HISTÓRIA E étnico-raciais devem ser elencadas entre aquelas que
CULTURA AFRICANA, AFRO- -BRASILEIRA Parte das estruturam a sociedade e sendo assim, estarão presentes
tensões que envolvem as relações étnicas no Brasil são em nossas práticas pedagógicas e no nosso currículo
motivadas pela abordagem que envolve a História e escolar.
Cultura Africana e Afro-Brasileira.
Parte II
51
::: essencialconcursos.com.br :::
1.5. O Currículo em Movimento: a Educação das Afro-brasileiro – É um adjetivo e se refere aquele/a que é
Relações ÉtnicoRaciais brasileiro/a, descendente de africano/a.
Como frisamos nas discussões anteriores, as leis 4.446/94 e Afrodescendente – Pessoa que descende de africanos, ou
10.639/03 estabeleceram a inclusão obrigatória no currículo ainda, uma referência para qualquer pessoa: “Partindo da
de conteúdos de matriz Africana e Afro-Brasileira e as verdade histórica de que a África é o berço da humanidade,
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das qualquer cidadão, pouco importa a cor de sua pele, poderia
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e reivindicar sua afrodescendência”. (MUNANGA, 2005:17)
Cultura Afro- -Brasileira e Africana (2004) estabeleceram Consciência Negra– É uma dimensão de consciência da
que os sistemas de ensino devem providenciar sua (re) identidade negra sobre seu pertencimento étnico e
organização para que tais políticas se efetivem. histórico-cultural. “A Consciência negra não é só a data. A
Para Arroyo (2011), a chegada desses conteúdos significa o data é a celebração da existência dos conteúdos da
rompimento das resistências que mantinham o tema e seus consciência negra que seriam: a história contada na
sujeitos invisíveis e, ao atribuir-lhe lugar no pensamento perspectiva dos negras/as; o reencontro com África como
social, indicamos (re) orientação das estruturas das relações território de origem; a luta pelos direitos civis no Brasil; a
pessoais e institucionais, se considerarmos a importância manutenção de valores, cosmovisões e afirmação de
que a sociedade atribui ao saber academicamente identidade de matriz africana. A Consciência negra, no
sistematizado. Assim sendo, uma das dimensões da Matriz Brasil é celebrada no dia 20 de novembro, dia de morte de
de ERER é a de romper com a invisibilidade do tema e do Zumbi dos Palmares.
sujeito do tema, em nossa rede de ensino. Portanto, os Cosmovisão africana- Cosmovisão, ou seja, cosmo+visão,
conteúdos não se limitam a aqueles escolares, de cada refere-se à visão de mundo de um grupo. A Cosmovisão
disciplina, etapas ou modalidade. No caso, a Matriz africana significa ter uma visão de mundo centrada em
Curricular de ERER de Florianópolis será considerada a princípios africanos ou em jeitos de viver de influência
dimensão política dessa presença, no sentido de agregar africana.
identidade à nossa concepção de educação. Inspirados/as Discriminação – É o ato de distinguir ou diferenciar
por Gomes, propomos refletir que: negativamente pessoas por sua origem étnica, sexual,
O currículo não está envolvido em um simples processo de geracional, social, religiosa, regional, entre outros. Instala-
transmissão de conhecimentos e conteúdos. Possui um se no âmbito da ação. Discriminação étnico-racial.
caráter político e histórico e também constitui uma relação Distinguir as pessoas por suas características étnicas.
social, no sentido de que a produção de conhecimento nele Diversidade – Reconhecimento dos diferentes grupos
envolvida se realiza por meio de uma relação entre pessoas históricos que constituem suas identidades nacional(is).
(GOMES, 2007: 23) Eurocentrismo- Visão de mundo fortemente centrada na
Ainda segundo a autora, é preciso que se tenha consciência cultura europeia, tomada como centro e referência a partir
de que os conteúdos dos currículos não existem por si só. da qual se observam e analisam os demais povos e as
Expressam as dinâmicas das relações políticas e de poder. outras civilizações. Etnia– Segundo as Orientações de ERER
Sendo assim, entendemos que essas relações devam ser da RME, o termo etnia “comporta a articulação das lutas de
(re) significadas. classes, as particularidades de gênero, os processos
culturais e históricos. Grupos que para alguns podem ser
Pedagogia de combate ao racismo apontados como uma ‘raça’, comportam diversas etnias.
e a discriminação... ... elaboradas Como os parâmetros para definir etnia são sócio-culturais e
com o objetivo de educação das históricos, podemos dizer que é um grupo de indivíduos
relações étnico/raciais positivas que reconhece uma história ou mitologia em comum, uma
têm como objetivo fortalecer entre os negros e língua, uma mesma religião ou cosmovisão, compartilham
despertar entre os brancos a consciência negra. Entre os elementos culturais, moram geograficamente num mesmo
negros, poderão oferecer conhecimentos e segurança território” (PMF, Orientações curriculares para o
para orgulharem-se da sua origem africana; para os desenvolvimento da educação das relações étnico-raciais e
brancos, poderão permitir que identifiquem as para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana
influências, a contribuição, a participação e a na educação fundamental de Florianópolis, 2007:24)
importância da história e da cultura dos negros no seu Fenótipos- São características determinadas não por uma
jeito de ser, viver, de se relacionar com as outras ocorrência apenas, mas por um conjunto delas, tais como
pessoas, notadamente as negras. (Brasil, 2004:16) meio ambiente e a genética. Cabelo, cor de pele são
fenótipos, mas que podem sofrer influência dos genótipos.
1.6. Eixos Conceituais: a essência da Matriz Curricular Por serem visíveis, são por vezes, utilizados para classificar
da ERER – de forma positiva ou negativa – uma pessoa. Muitos
Apresentamos alguns dos conceitos fundamentais e que grupos étnicos sofrem discriminação e racismo por causa
permeiam a Matriz Curricular para a Educação das Relações de seus fenótipos. O cabelo das crianças e jovens negros é
Étnico-Raciais. São eles: uma das características citadas como conteúdo de racismo
Afro – Designa aquilo que vem da África e representa e bullyng na escola.
também dizer, ao modo da África, ao estilo da África. Identidade Negra– A identidade é relacional, ou seja, não
Exemplos, em uso: “Minha aluna hoje está com é permanentemente fixa, imóvel e pode sofrer mudanças
penteado/cabelo afro”; “Naquela loja vendem-se roupas motivadas pelas relações sociais e de poder, e negar ou
afro”. afirmar uma identidade, contextualiza-se um lugar de fala,
de posição e de pertencimento. A identidade negra é de
52
::: essencialconcursos.com.br :::
conteúdo plural, uma vez que os negros são plurais, civilizatórios afro-brasileiros”, temos a intenção de destacar
diversos e falam de lugares iguais e também diferentes. a África, na sua diversidade, e que os africanos e africanas
Contudo, possui uma base comum, que é a referência com trazidos ou vindos para o Brasil e seus e suas descendentes
conteúdos de base africana em diálogo com outros, da brasileiras implantaram, marcaram, instituíram valores
diáspora e do universo no qual a pessoa está inserida. civilizatórios neste país de dimensões continentais, que é o
Identidade diaspórica- Negros da diáspora é uma Brasil.
categoria utilizada pelos acadêmicos de vários centros de Xenofobia– Medo ou aversão a pessoas de outra etnia ou
estudos, para se referir aos descendentes de africanos que coisas de outros lugares. No âmbito da psicologia, a
vivem fora da África, deslocados pelos projetos coloniais da xenofobia é caracterizada como um transtorno psiquiátrico.
escravidão. Para Hintzen (2009:53), a identidade diaspórica No âmbito da ciência social e política, a xenofobia pode ser
“emerge de representações e práticas de cidadania cultural considerada um comportamento de ódio, causando
contrapostas à noção de identidade sob condições onde o intolerância e atitudes discriminatórias para com os grupos
pertencimento é negado. Construída a partir da memória que julga diferente.
de deslocamentos de fronteiras locais e nacionais, ao
mesmo tempo em que inculca ideias de pertencimento e 1.7. O Ensino de Conteúdos de Matriz Africana e Afro-
diferentes localidades”. Brasileira e a Educação das Relações Étnico-Raciais:
Negro/a – Termo ressignificado pelo movimento negro em Marcos Legais
contraposição ao racismo institucionalizado na sociedade A Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis
brasileira, sem o viés biológico utilizado nas teorias alinhada com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
racialistas do século XIX. Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de
Preconceito – Ou pré-conceito é uma ideia concebida História e Cultura Afro- -Brasileiras e Africanas investiu em
antes de conhecermos os conteúdos dos conceitos. É um instrumentos para orientar o município no cumprimento
aspecto da intolerância que manifesta má vontade diante das políticas. Assim, no ano de 2005, criou na estrutura da
de uma cultura, de grupos étnicos-raciais, origem social, Secretaria o Programa Diversidade Étnico-Racial, que
lugar, povos, religião. O preconceito se instala no âmbito passou a coordenar as atividades da/na rede, bem como,
do pensamento. estabeleceu junto aos órgãos – do executivo municipal e
Quesito Cor/etnia– O censo do ano de 1872, realizado fora dele, relações que possibilitaram o encaminhamento
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) das políticas de promoção da igualdade étnico-racial tendo
introduziu o quesito cor/raça, para identificar as como objeto principal o ensino dos conteúdos de história,
características da população brasileira. cultura africana e afro-brasileira e a consolidação dos
Os censos realizados posteriormente ignoraram esse princípios da Educação das Relações Étnico-Raciais. O
quesito, retomado no censo do ano de 1940, quando a Programa Diversidade Étnico-Racial desenvolve três
cor/raça da população voltou a ser questionada, sendo projetos:
que, por conta da imigração asiática, as tipificações 1.Projeto Raiz; 2. Projeto Teia da Diversidade e 3. Projeto
passaram a ser branco, preto, pardo e amarelo. Os Identidades e Corporeidades.
indígenas foram incluídos somente no censo do ano de Projeto Raiz – Oportunizar aos educadores da EF o debate
1990. sobre as representações do negro.
Raça – O conceito de raça é permeado por imbricações Projeto Teia da Diversidade - Gerar tecnologia pedagógica
biológicas, filosóficas, ideológicas e políticas e, a ideia de e acervo para subsidiar a ação dos educadores.
uma única espécie – e não de raças – é a que vem Projeto Identidades e Corporeidades - Subsidiar e
atualmente determinando a concepção de políticas fomentar projetos de pesquisa educativa na temática.
públicas para tratar da diversidade. Ainda assim, a Verificamos que a SME fortaleceu as relações institucionais
expressão raça é mantida pelos pesquisadores, pelos com a temática, estabelecendo diálogos com a sociedade
institutos de pesquisa por estabelecer a relação direta com civil, com instituições de ensino e pesquisa, bem como,
o racismo. Quando as pessoas são impedidas de fazer algo, consolidou o fortalecimento da política, construindo
são inferiorizadas por sua condição étnica e traços instrumentos específicos e/ou inserindo nos instrumentos
fenótipos (cor de pele, cabelos) ou por sua identidade de da educação do município ações e metas para alavancar
origem e sua matriz étnica (negro/as, africano/a) está resultados inovadores nos indicadores municipais.
caracterizado o racismo. A discriminação com base nos
atributos físicos por alguém que julgue que sua pertença é 1.8. Município de Florianópolis: Marcos Legais da ERER
superior à de outros é racismo. São marcos legais os seguintes:
Racismo – Doutrina que se baseia na superioridade racial.
O racismo hierarquiza pessoas de acordo com sua origem e ANO INSTRUMENTO CONTEÚDO
características biológicas. De outro modo, no pensamento
de uma pessoa racista existem raças superiores e inferiores. 1996 Lei Municipal 4.446 Inclusão de conteúdos de
Em nome das chamadas raças, inúmeras atrocidades foram Matriz afro-brasileiros nos
cometidas nesta humanidade: genocídio de milhões de currículos do município.
índios nas Américas, eliminação sistemática de milhões de
judeus e ciganos durante a segunda guerra mundial. 2007 Orientações Orienta para a
Valores Civilizatórios afro-brasileiros– São aqueles que Curriculares para a implementação das
servem de referência e que orientam os modos de viver e Educação das políticas de ERER e para o
conviver de uma pessoa ou grupo. Em relação aos “valores Relações Étnico- ensino da Cultura, História
53
::: essencialconcursos.com.br :::
Raciais Africana e Afro-brasileira. falas dos sujeitos silenciados, invisibilizados e esquecidos.
Diante disso, o currículo deverá se constituir em lugar
2009 Resolução CME Orienta sobre os permanente de perguntas sobre como os homens se
02/2009 – Diretrizes princípios e as constituíram homens nos seus processos históricos.
Curriculares concepções da ERER no
Municipais para a município de 2.2. Os Bebês e as Crianças na Educação Infantil: o que
Educação das Florianópolis. devemos considerar
Relações Étnico- A educação infantil institucionalizada é um espaço
Raciais e para o privilegiado de encontro com diferentes práticas e
Ensino de História e narrativas culturais e sociais, um espaço de encontro onde
Cultura Afro Brasileira, se veiculam diversos saberes, crenças, valores, mas
Africana e Indígena. também, preconceito ou discriminação de gênero, raça ou
geração. A inserção da educação infantil como parte da
2010 Plano Municipal de Eixo Temático: Educação educação básica traz como prerrogativa avanços no que
Educação de das Relações Étnico- tange à legislação, às políticas educacionais e,
Florianópolis. Eixo Raciais. consequentemente, à elaboração de propostas
Temático: Educação pedagógicas e curriculares que visem um atendimento de
das Relações Étnico- qualidade às crianças pequenas.
Raciais. A diversidade como princípio articulador das ações
pedagógicas da Educação Infantil, por certo, corrobora com
2012 Orientações Parte III- Núcleo da Ação a desconstrução da invisibilidade do tema e dos sujeitos da
Curriculares para a Pedagógica/ Relações diversidade étnica, protagonizando conhecimento
Educação Infantil Sociais e Culturais. contextualizado e articulado com o respeito às diferenças.

2015 Diretrizes Curriculares O fortalecimento da 2.2.1. Criança e Infância Negra: notas históricas
da Educação Básica educação das relações Ao tomar a história da infância como mote de reflexão, o
de Florianópolis étnico-raciais na autor a que primeiro se faz referência é o historiador
Educação Básica como um francês Philipe Ariès (1981). Seus estudos salientam que a
dos princípios educativos. “invenção da infância” surge no século XVII e que na
Europa Ocidental, no período conhecido como Idade
2015 Currículo da Educação Inclusão de reflexões e Média, a criança não era representada significativamente
Infantil da Rede ações da Diversidade nas na família; estava ligada à vida do grupo como qualquer
Municipal de Ensino Propostas pedagógicas. personagem do contexto social. A tese central desse autor
de Florianópolis aponta para a infância como uma construção social, no
entanto, restringe-se ao contexto europeu, as crianças
2. Matriz curricular com a abordagem da brancas e de um determinado extrato social.
Educação das Relações Étnico-Raciais no interior das
áreas do conhecimento e dos Núcleos de Ação 2.2.2. Políticas de Diversidade Étnica: a primeira
Pedagógica das diferentes etapas e modalidades da etapa da educação básica
Educação Básica. A década de 1990 constitui-se como um dos marcos para a
efetivação de políticas para a educação infantil quando a lei
Parte I de diretrizes e Bases da Educação Nacional passa a
2.1. Educar para a Pluralidade e Diversidade: (re) estabelecer:
iniciando as discussões Art. 29º. A educação infantil, primeira etapa da educação
A Matriz de ERER, assim como preconiza Miguel Arroyo básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da
(2011), corrobora com a perspectiva de promoção da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico,
igualdade e a (re) educação dos modos de convivência, que psicológico, intelectual e social, complementando a ação
se estabelecem no trato da diversidade e no processo de da família e da comunidade. (BRASIL, MEC, LDB, 1996:12).
ensinar e de aprender. O autor afirma que reconhecer a As Diretrizes, acima citadas, orientam que é “indivisível” e
diversidade dos sujeitos enriquece os conhecimentos. “indissociável” a dimensão sócio- -cultural da criança, logo,
Nesta perspectiva somos enriquecidos quando buscamos a prática pedagógica no cotidiano educativo não deverá
um equilíbrio entre todas as histórias, aquelas que difundir o apartamento7 entre o projeto político
conhecemos e as que passamos a conhecer na condição de pedagógico, as concepções de educação e os princípios
sujeitos que pensam o currículo não como um lugar de das unidades educativas da educação infantil em relação
conteúdos, mas, sobretudo, como espaço de diálogo. O aos conteúdos identitários das crianças.
diálogo se contrapõe ao monólogo do currículo
eurocêntrico. A intencionalidade do diálogo (re) compõe as

Quadro II – Etnia de matriz africana (e temas correlatos) nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil
(DCNEI) – (2010)
54
::: essencialconcursos.com.br :::
Diversidade (e temas corretados) no Conteúdo Página
texto da DCNEI.

Definição de Criança Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações 12


e práticas cotidianas que vivência, constrói sua identidade
pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,
aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói
sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo
cultura.

Conceito de Currículo Conjunto de práticas que buscam articular as experiências e 12


os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem
parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico
e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento
integral de crianças de 0 a 5 anos de idade.

Princípios da E.I Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade 16


e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às
diferentes culturas, identidades e singularidades. Políticos:
dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do
respeito à ordem democrática. Estéticos: da sensibilidade,
da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão
nas diferentes manifestações artísticas e culturais.

Concepção Oferecendo condições e recursos para que as crianças 17


usufruam seus direitos civis, humanos e sociais; Assumindo
a responsabilidade de compartilhar e complementar a
educação e cuidado das crianças com as famílias; (...)
Promovendo a igualdade de oportunidades educacionais
entre as crianças de diferentes classes sociais no que se
refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de
vivência da infância; Construindo novas formas de
sociabilidade e de subjetividade comprometidas com a
ludicidade, a democracia, a sustentabilidade do planeta e
com o rompimento de relações de dominação etária,
socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional,
linguística e religiosa.

Organização de Espaço, Tempo e A indivisibilidade das dimensões expressivo-motora,


Materiais. afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural
da criança; (..) O estabelecimento de uma relação efetiva
com a comunidade local e de mecanismos que garantam a
gestão democrática e a consideração dos saberes da
comunidade8 (...) A apropriação pelas crianças das
contribuições histórico-culturais dos povos indígenas,
afrodescendentes, asiáticos, europeus e de outros países da
América

Proposta Pedagógica e Diversidade (...) reconhecimento, a valorização, o respeito e a interação 21


das crianças com as histórias e as culturas africanas, afro-
brasileiras, bem como o combate ao racismo e à
discriminação; (..) A dignidade da criança como pessoa
humana e a proteção contra qualquer forma de violência –
física ou simbólica – e negligência no interior da instituição
ou praticadas pela família, prevendo os encaminhamentos
de violações para instâncias competentes.

Práticas Pedagógicas da E.I Possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças 26/27
e grupos culturais, que alarguem seus padrões de
referência e de identidades no diálogo e conhecimento da

55
::: essencialconcursos.com.br :::
diversidade; Propiciem a interação e o conhecimento pelas
crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras.

2.2.3. Cuidar, Educar e Acolher na Diversidade: as básica para a constituição humana. Desta forma, a
crianças e suas identidades étnicoculturais. brincadeira constitui uma atividade social que traduz a
Cuidar, educar e acolher na diversidade remete para uma forma como a criança interpreta e conhece o mundo, os
amplitude de características que podem ser potencializadas objetos, as culturas e as relações que estabelecem entre si
nas construções e nos pertencimentos que a diversidade e com o meio ao qual estão inseridos. Tais ações
possibilita. Cuidar e acolher a criança negra impõem gestos, corroboram para a construção da identidade e da
olhares, linguagens escutas e, sobretudo, “implica o alteridade das crianças na medida em que, durante a
respeito à sua cultura, corporeidade, estética e presença no brincadeira, elas estabelecem relações sociais constantes
mundo”. (SANTANA, 2010:18). Na diversidade, cuidar, com o outro sujeito, em especial, com outras crianças no
educar e acolher implica um processo formativo constante contexto coletivo de educação.
do professor/a na educação infantil especificamente e na A diversidade como conteúdo estruturante da educação
educação básica como um todo. infantil, deve contar com o envolvimento da gestão, logo,
planejar, organizar, executar e avaliar as políticas e seu
Por que trabalhar Relações desenvolvimento são ações também esperadas. Os
Étnico-Raciais na Educação recursos disponibilizados, as horas para a formação das
Infantil. Planejar e realizar com as professoras e outros investimentos necessários precisam
crianças no contexto da Educação ser previstas na gestão.
Infantil ações pedagógicas contemplando as Relações
Étnico-Raciais justifica-se primeiramente por ser um direito 2.2.4. Traçando Caminhos: trabalhar ERER com as
das crianças e também, por ser um compromisso político crianças pequenas
do professor. Compreendemos que todas as crianças têm o A seguir, propomos algumas possibilidades:
direito de ter suas histórias contadas, em especial as • Preparar nas unidades educativas, espaços afetivos e
crianças negras. Por que em especial as crianças negras? acolhedores, que favoreçam as crianças referências
Porque durante muitos anos suas histórias deixaram de ser afirmativas de sua identidade e pertenças. Incluir nesses
contadas no chão das unidades educativas de cuidado e espaços quadros, gravuras, livros, bonecos, brinquedos,
educação da primeira infância. E o que isso significa? jogos que representem todas as crianças.
Significa que durante muito tempo elas estavam “invisíveis” • Acolhimento da criança, da corporeidade, das suas
ao olhar de quem planeja e realiza ações pedagógicas com heranças e pertenças e das suas famílias.
e para elas. Onde estavam suas brincadeiras? Músicas? • Representar as identidades através de jogos, bonecos,
Danças? Crenças? Expressões artísticas? Suas culturas? Suas fantoches e outros brinquedos.
representatividades? Esta invisibilidade na primeira infância • Valorizar os traços étnicos das crianças através de
precisa ser tratada com muita seriedade. Ao não serem atividades lúdicas orientadas por textos de literatura. As
contempladas nas ações pedagógicas, como será que as crianças encontram no cabelo conteúdo de estranhamento
crianças negras construíram ao longo destes anos de e negação. Atentos a essa questão, está disponível uma
ausência de suas histórias nas unidades educativas suas importante literatura infantil em torno dessa temática.
identidades? E a construção da identidade pelas crianças, • Contar e apresentar histórias que tenham personagens
acontece justamente no período de suas vidas no qual negros/as ou que estes estejam inseridos em contextos
estão frequentando as instituições de educação infantil. É multiculturais.
direito das crianças construírem positivamente suas Contar histórias para os bebês, estimulando-os através de
identidades, o que para elas, está ligado ao sons de instrumentos, imitação de vozes, etc. Mostrar as
reconhecimento e entendimento das características físicas imagens das pessoas nos textos é muito importante.
que carrega, da ancestralidade, da cultura e da relação que • Lendas e contos africanos.
estabelece com os outros. Sandra Regina Pires /Professora • Ampliar o repertório cultural e vivencial das crianças e
da RME de Florianópolis. desmistificar a ação dos personagens trazidos pela mídia e
romper com padrões que privilegiem uma única etnia e
As ações pedagógicas, substanciadas de intencionalidades, cultura.
precisam compreender que esses comportamentos se • Trabalhar com diferentes composições familiares.
instalam pela negação das pertenças e pelos silêncios • Trabalhando com música africana e afro-brasileira,
estabelecidos diante de tensões envolvendo as relações estimulando a socialização através da música, das
étnico-raciais. expressões da arte e dos movimentos corporais.
• Apresentar o samba, a capoeira, o maracatu.
Vamos então à importância da brincadeira... • Construir instrumentos musicais.
As orientações curriculares para a educação infantil da rede • Trabalhar lógica e raciocínio através de jogos. Apresentar
municipal de Florianópolis (2012) trazem importantes o Mancala: jogo africano. Confeccionar o tabuleiro do jogo.
reflexões sobre a brincadeira como uma das “atividades
centrais da vida das crianças” (2012:34). O documento 2.2.4.1. ERER na Educação Infantil: acolhendo o sujeito
referido afirma que a brincadeira é o eixo estruturante e Por fim, reafirmamos que a Educação Infantil é um lugar no
estruturador do cotidiano educativo e um dos pilares das qual diferentes identidades se cruzam, em que olhares,
culturas da infância, e é uma atividade social significativa e desejos e ações se diferenciam, portanto, este é, ou deveria
56
::: essencialconcursos.com.br :::
ser, por excelência um espaço ‘privilegiado’ de encontros e 2.4.3. A Abordagem: o espaço da África como ponto de
de relação. Ultrapassando preconceitos pelos quais essas partida
diferenças são vistas como deficiência ou carência de algo, A importância dessa abordagem está nas possibilidades
resgata-se o direito de pertença das crianças negras a uma efetivas de apreensão da realidade, do lugar e do mundo
comunidade que as inclua como cidadãs, livres dos em que vive, seus atributos e as relações desses com a
estigmas gerados pelo seu pertencimento étnico, humanidade em sua diversidade. Os espaços geográficos
geográfico, social e cultural e pela ignorância de quem estiveram e ainda estão vinculados e organizados de
deveria conhecer melhor a história da qual também faz acordo com os modos de vida dos grupos hegemônicos.
parte e tem responsabilidades sobre ela, que são os Essa organização, acomodada em padrões, compromete o
adultos, em especial as professoras. uso coletivo do espaço social e, sobretudo, desconsidera a
cidade como um território coletivo constituído por muitos
Parte II outros, dentro os quais, os territórios étnicoculturais.
2.3. As Crianças, os Adolescentes e Jovens: o que
devemos considerar 2.4.4. A História da África e a ERER: desconstrução dos
A Matriz Curricular de Educação das Relações Étnico- lugares
Raciais tem como grande desafio possibilitar a Para a ERER, a desconstrução do racismo exige a
compreensão de que as diferenças são produtos das desconstrução dos lugares fixos, estabelecidos e
relações sociais, culturais, políticas, históricas, identitárias. hierarquizados, tendo por base os estigmas de
Que essas diferenças devem ser respeitadas e, inferioridade. O inferiorizado é também produto daqueles
pedagogicamente podemos aprender sobre nossas que pretendem deslegitimar os seus territórios, sejam eles
individualidades, ou seja, como todos/as somos diferentes material ou imaterial, diluindo ao máximo a autoria humana
e, ao mesmo tempo, como todos/as possuímos de suas construções, realizações e feitos. Produzir os
semelhanças. conteúdos de inferiorização exigiu habilidades teóricas e
Para tanto, a tarefa central da segunda etapa da educação representações refinadas. A África, embora represente
básica – o Ensino Fundamental é debater sobre inclusão, pertença de mais da metade da população brasileira é, ao
diversidade e equidade na educação, possibilitando mesmo tempo, representada como uma identidade
indagações, problematizações, desafios e externa, que vive longe, em terras distantes, estranhas e
redirecionamentos das políticas e das práticas realizadas sem registros civilizatórios que nos inspirem aproximações
pelos profissionais desta rede de ensino. e semelhanças.
Ao propor a geografia no âmbito da ERER e do ensino de
2.4. Currículo em Debate: compromisso das áreas de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, entendemos
conhecimento. ser possíveis alguns percursos:
A legislação vigente sobre o ensino de conteúdos africanos • Trazer território como a conceito central da geografia em
mobiliza a educação como um todo. Mas, algumas áreas de ERER. Os territórios étnicos, rurais, tradicionais, de gênero,
conhecimento parecem ser mais sensíveis ao tema (mesmo ou seja, os territórios diversos providos de vivências e de
que por força da Lei). Entre elas História, Geografia, Língua registros conceituais que informam às políticas públicas
Portuguesa e Artes. Nosso compromisso deve estar posição no mundo de seus sujeitos. Por outro lado, tratar
marcado por focar estas áreas, sem, contudo, desconectá- para a compreensão de que a questão étnico-racial é um
las de um contexto mais amplo, pois nosso pacto é fator determinante quando se trata da distribuição espacial.
fortalecer a adoção de políticas e práticas de superação do Englobam todas as questões territoriais, a reprodução
racismo e da desigualdade racial na educação básica espacial das relações étnico-raciais e, as disputas de poder
municipal. Sendo assim, partimos para as discussões que e a segregação espacial;
elencamos pertinentes para este início de conversa. Não • Reapresentar a África e o continente africano como
foge ao nosso objeto, lembrar que as representações do território de origem da humanidade, situando o Vale da
negro na sociedade brasileira, em parte foram Fenda como lugar que localiza essa origem, e
ideologicamente construídas e algumas áreas das ciências estabelecendo as relações de pertenças do brasileiro com
foram (co)autoras dessas representações. E dentre elas está essa origem;
a História. Por isso resolvemos começar por ela. • Articular como perspectiva étnico-cultural considera a
terra, os sujeitos da terra, suas territorialidades e
2.4.2. A Abordagem: A África como ponto de partida. representações, como importantes elementos de sua
Fica assim, a grande tarefa do sistema educacional identidade. Introduzir o conceito de quilombos e terras
brasileiro e do espaço escolar: se posicionar no sentido de quilombolas, considerando que a existência de comunidade
definitivamente romper com os principais pilares da de quilombo em nosso município e de estudantes
identidade nacional composto pela educação e a narrativa quilombolas em nossa rede.
oficial da história nacional e alicerçar-se no vasto campo de
pesquisa e no ensino relativo à África no Brasil numa 2.4.4.1. Ciências Humanas: compondo o currículo
abordagem mais abrangente que aquela África relacionada
apenas ao passado brasileiro. Será grande o esforço na Memória, identidade e representações socioculturais
eliminação de estereótipos aferidos ao continente, sejam • Identificar as representações sociais e culturais como
aqueles detratores e racistas, sejam aqueles mais voltados a construção da identidade étnico-racial em diferentes
uma “África mítica” e idealizada. contextos;

57
::: essencialconcursos.com.br :::
• Reconhecer a diversidade cultural dos diferentes povos áreas articulem atividades com as bibliotecárias das
indígenas, africanos e afro-brasileiros no processo de unidades educativas, fortalecendo assim, o interesse pelo
formação da sociedade local, regional, nacional e mundial; tema através da leitura.
• Reconhecer a África como berço da humanidade. Para além da literatura, outros temas podem ser
trabalhados na Língua Portuguesa para o ensino de
Espacialidades e temporalidade História de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, a
• Identificar o continente africano e as suas diferentes saber:
regionalizações; a) A contextualização de África como componente
• Identificar mapeamentos étnicos: as cidades e os estruturante para compreender a língua portuguesa falada
territórios negros; no Brasil;
• Reconhecer os quilombos em Florianópolis, Santa b) Visibilizar os conteúdos de matriz africana no estudo da
Catarina e no Brasil. língua portuguesa;
• Conhecer o processo de urbanização e industrialização do c) Abordar a lusofonia, contextualizando a presença dos
continente africano. países africanos de língua portuguesa e nossas experiências
semelhantes de colonização;
Relações e formas de poder d) Apresentar literatura e seus gêneros com a inclusão de
• Analisar a política de branqueamento da população e sujeitos africanos e afro-brasileiros e seus protagonismos.
branqueamento do território;
• Reconhecer processos políticos de conquista, dominação Variações Linguísticas
e confronto entre diferentes povos; • Identificar formas de • Identificar as marcas linguísticas origem, história e as
resistência dos povos escravizados em diferentes contextos; pertenças étnicas da Língua Portuguesa do Brasil;
• Identificar os conflitos étnico-raciais; • Identificar os aspectos léxico, morfossintáticos, fonéticos e
• Reconhecer o africano e o afro-brasileiro como sujeitos fonológicos da língua.
históricos: hominização e protagonismo;
• Identificar a escravidão como atividade econômica. Processamento da Oralidade e escrita
• Compreender textos de diferentes gêneros nas situações
2.4.5. As linguagens e as Relações Étnico-Raciais: de regionalismos e afro-regionalismos;
identidades e pertencimentos africanos e afro- • Produzir textos de diferentes gêneros nas situações de
brasileiros regionalismos e afro-regionalismos;
• Conhecer e valorizar prática sociais letradas e iletradas.
Fruto de relações sociais, também é, através da Processamento do texto: Leitura
linguagem, que se efetivam as relações sociais, num • Ler e compreender a Literatura africana e afro-brasileira;
circuito de conflitos, inovações e mudanças (PMF, • Identificar diferentes escritores afro-catarinenses: inscritos
2008:56). Os africanos escravizados, ao chegarem ao Brasil, na história da literatura.
foram proibidos de falar suas línguas de origem, estratégia
adotada pelos escravocratas para dominar um conjunto de Relação entre textos
pessoas que articulavam línguas tão diferentes e que • Reconhecer formas de tratar uma informação na
poderiam ser utilizadas como instrumento para fugas e comparação e análise da Literatura africana de língua
rebeliões. portuguesa, Literatura afro-brasileira e afro-catarinense.

Assim, registramos na história do Brasil a primeira 2.4.7. As Linguagens de todas as Artes: contribuições
manifestação política e intencional de interdição de uma para ERER
das identidades do sujeito que é a sua fala, a sua língua. O objetivo principal de propor a ERER para as artes é o de
Essa deve ser uma das análises presentes no currículo. E, ela construir com os estudantes, condições para compreender
perpassa com bastante intensidade a disciplina de Língua a arte como saber histórico, produção social, histórica e
Portuguesa que se propõe a compreender os movimentos cultural, mediada pelos conteúdos de pertencimentos –
de negros e negras no Brasil, e restaurar os traços de suas etnia, gênero, orientação sexual, pertença religiosa, entre
identidades que foram interditados pelo regime outros.
escravocrata e os subsequentes, na medida em que a Possibilitar a reelaboração de conceitos advindos da arte e
interdição foi naturalizada e institucionalizada. que contribuem para a hierarquização social, entre eles, o
conceito de estética. A estética, em uso social, valora os
A ERER e as bibliotecas escolares. sujeitos, como sendo belos, feios, seguindo um padrão de
Nos últimos 13 anos, o governo federal, as instituições do referência. Nesse caso, o conteúdo da análise crítica e
movimento negro, pesquisadores e as editoras brasileiras contextualizada sobre a estética, deverá perpassar todas as
tem discutido o tema da África e das africanidades nas linguagens das artes.
publicações didáticas e paradidáticas no Brasil. Como Os sujeitos da Educação Básica da Rede Municipal de
resultado, chegam às escolas publicações recomendadas Ensino de Florianópolis devem ser motivados a
para a efetivação do ensino de história e cultura africana e conhecerem outros conceitos de belo, valorados pelos
afro-brasileira e para a ERER alinhadas com as orientações sujeitos da diversidade, refutando um único modelo,
desses setores. A Secretaria Municipal de Educação, de sua sobretudo, um modelo baseado em perspectivas
parte, tem investido nesses recursos atendendo às eurocêntricas. Dizendo de outra forma, devemos empenhar
demandas da rede. Nesse sentido, é importante que as esforços por garantir que o ensino das artes seja criativo e
58
::: essencialconcursos.com.br :::
aponte as criações como produções históricas e sociais. pelas artes a vivência, ou seja, “o processo de viver e ter
Vamos equilibrar esses estudos, oferecendo possibilidades experiência de alguma coisa”17 é o que recomenda a ERER
de demonstrar as buscas, as tensões e as realizações dos para as atividades pedagógicas das artes. A vivência a que
sujeitos plurais presentes nas unidades educativas. propomos pelas artes, deverá possibilitar experiências
Motivadas pelas linguagens das artes, o ensino percorre qualificadas, estruturadas e organizadas com objetivo de
caminhos e sentidos fundamentais para o processo da proporcionar a apreensão de novos conceitos e conteúdos
aprendizagem, significados relevantes para o coletivo, sintonizados com o ensino de cultura e história africana e
sobretudo, por estimular zonas do comportamento e do afro-brasileira. A vivência é um fazer para qualificar o que
sentimento que aproximam os sujeitos e diluem barreiras não pode ser dito teoricamente, o que não pode ser
de resistências. Cantar e dançar juntos, ouvir o outro tocar materializado por relatos, é um aspecto importante para a
um instrumento, participar de uma apresentação, saber de construção dos nossos conceitos e compreensões. Assim,
si e das complementaridades que a existência do outro não propomos que os estudantes façam máscaras africanas
provoca na sua existência são possíveis pela arte e com a por que são coloridas, lúdicas e os deixam entretidos, mas
arte. porque contém elementos da linguagem visual. Propomos
a atividade como parte do ensino de história e cultura
2.4.8. Pertença e Identidade: As Artes e a Educação das africana, contextualizada e com objetivos de proporcionar
Relações Étnico-Raciais reflexões, identificações e novos conhecimentos.
As etnias não europeias foram secundarizadas como
autoras e temas das artes brasileiras, embora, por 2.4.9. Corpo e Movimento: o teatro e as identidades
movimentos marginais e não oficiais esses sujeitos tenham reconstruídas
construído expressivo repertório cultural. Sendo assim, suas O teatro é uma expressão da antiguidade e está registrado
expressões foram definidas como exóticas e, por vezes, são na ancestralidade de todos os grupos étnicos do universo e
esses os aspectos destacados quando falamos de cultura sua capacidade de instrumento de transformação está
indígena e cultura africana. As Artes estão vinculadas à registrada na história do Brasil e de outros países. O teatro
memória cultural. Neste sentido, arte e história se como ferramenta de conscientização é tema da Educação
articulam. Os movimentos de arte de uma dada sociedade das Relações Étnico-Raciais, apoiada na “proposta
estão contidos em seus registros históricos, portanto, a arte curricular” do município de Florianópolis, quando reflete
é uma expressão social, constituída de conteúdos que:
históricos, políticos e socioculturais. A necessidade e a importância do Teatro como linguagem
Ensinar as manifestações artísticas africanas transpõe o e conhecimento é atestada através de sua presença nos
caráter técnico, relaciona o conteúdo e a forma, situando- diferentes momentos históricos da sociedade. O Teatro
as no contexto, englobando os processos socioculturais e enquanto linguagem, tem a capacidade de expressar
conferindo-lhes uma significação cultural. Com a arte, pensamentos e sentimentos num idioma que desconhece
podemos refletir, analisar e entender aspectos histórico- fronteiras, etnias, épocas, credos, possibilitando a
culturais, tendo uma relação com outras áreas do elaboração do pensamento e, por isso, privar o indivíduo
conhecimento como a arquitetura, a antropologia, a do entendimento desta linguagem é privá-lo de importante
religião, a história, a etnologia, a crítica de arte, entre aspecto da produção humana. Portanto, o ensino curricular
outras. Com essa relação é possível argumentar, refletir, do Teatro favorece à democratização do acesso à
corrigir injustiças e perceber a riqueza da diversidade étnica linguagem teatral e à democratização do conhecimento,
e as mudanças culturais de um povo. (SILVA E PERINI, 2011: apresentando-se como uma ação inclusiva. (PMF, 2008:91-
915) 92).

As artes, na rede municipal de ensino de Florianópolis se Muito contribuem as tecnologias


constituem através das linguagens, teatro, música, visual e de informação e comunicação para
a dança. No âmbito das relações étnico-raciais e em a pesquisa e apresentação desse
especial, aos conteúdos de Matriz Africana e Afro- universo cultural e artístico. Museus virtuais, bibliotecas
Brasileiros, as artes, em seu conjunto, implicam abordagens digitais e fundações culturais disponibilizam – no
interdisciplinares, transversais e contextualizadas, exterior e no país – um significativo acervo. Nossas
sobretudo, pela transitoriedade dos conceitos, polissemias, crianças, adolescentes e adultos, sujeitos que dialogam
polifonias e temáticas do universo negro. pelas tecnologias, haverão de se aproximar do mundo
A ERER propõe dois eixos a serem trabalhados, de forma artístico de matriz negra também por meio desses
interdisciplinar pelas as expressões da arte, quais sejam: recursos.
1) A função social das artes no contexto da Educação das
Relações Étnico-Raciais; 2.4.10. As Vozes do Olhar: as artes visuais e as
2) As Artes e o Ensino de História Cultura Afro-Brasileira e identidades reconstruídas.
Africana. As artes visuais e a Lei 10.639/03 devem trabalhar para
rever a perspectiva em que o negro era retratado como
2.4.8.1. Função Social da Arte no Contexto: a Educação objeto e reconstruí-lo como sujeito de seu grupo étnico. O
das Relações Étnico-Raciais negro nas artes visuais brasileiras é tema de estudos que
Considerando as artes e suas intencionalidades, a fim de nos informam sobre a importância dessa temática para o
viabilizar aos sujeitos da educação vivências, apreciação, ensino e a implementação da Lei 10.639/03. Renata Santos
leituras, percepções e construções de conceitos. Possibilitar
59
::: essencialconcursos.com.br :::
(2013) organiza a produção sobre o negro em três Cultura, criação e estética
momentos: “documental, social e pessoal. • Identificar as influências africanas na música brasileira;
Documental seria toda a produção realizada durante os • Problematizar as produções e apresentações artísticas
séculos XVII, XVIII e XIX; social, a produção que abarca a sobre os povos indígenas, africanos e afro-brasileiros e seu
primeira metade do século XX; enquanto pessoal, é a viés econômico e político;
produção que vai do fim do século XX até o momento • Identificar as produções e apresentações artísticas dos
atual”. A autora caracteriza cada período, conforme povos indígenas, africanos e afro- -brasileiros. Corpo e
apresentamos: expressão
• Reconhecer a linguagem corporal como meio de
Documental (Séculos XVII, XVIII e XIX) interação social;
Estuda o Brasil e suas peculiaridades como objeto; os temas Analisar a função e significado da música na cultura dos
centrais são a flora, a fauna, população os modos e os povos indígenas, africanos e afro-brasileiros.
costumes; parte dessa produção é de viajantes
estrangeiros. Reflexão e crítica
• Reconhecer a expressão artística descrita através dos
Social (Até a metade do século XX) processos políticos de conquista, dominação e confronto
Nesse período, ao negro é atribuído traços da brasilidade. entre diferentes povos;
Estamos tratando do modernismo; no período social, duas • Identificar formas de resistência dos povos escravizados
vertentes se destacam, uma que trata o negro como tendo como ponto de partida as manifestações culturais;
descendente de escravo, objeto ainda, e outra que a trata • Reconhecer as linguagens artísticas – Artes Visuais, Dança,
como sujeito. Música, Teatro – elaborados a partir das estruturas
morfológicas e sintáticas de inclusão, diversidade e
Pessoal – Fim do século XX até os dias atuais multiculturalidade objetivando a valorização da pluralidade
Os negros assumem a autoria de parte significativa da expressada nas produções estéticas e artísticas dos povos
produção desse período. indígenas, africanos e afro-brasileiros.
Artes visuais e a ERER comunicam juntas a desconstrução
da invisibilidade se considerarmos o inesgotável acervo 2.4.12. Etnia e Diversidade: com a biologia e para além
presente nesse universo. São acervos institucionais, dela
populares, materiais e imateriais. Estão disponíveis Etnia é o conceito que adotamos nessa matriz sintonizados
fisicamente através de recursos tecnológicas capazes de com as orientações acadêmicas e políticas
aproximar nossos estudantes a estes conteúdos, uma parte, contemporâneas. Etnia está associada à diversidade
já considerada patrimônio da humanidade. cultural, aos processos históricos, a vivencia religiosa,
aspectos culturais e considera as características biológicas
2.4.11. Os Sons que Embalam: a música e as identidades um indicador dentre os outros. A pessoa pode ter
reconstruídas consciência de pertencer a um determinado grupo étnico,
Assim como as outras expressões, possui também a música construir uma identidade a partir desse pertencimento.
relação estreita com a memória e, sobretudo com a Porque iniciamos a abordagem da área de ciências nessa
memória coletiva e ancestral de determinada sociedade. É a matriz considerando essas questões? Porque consideramos
música uma manifestação cultural, com significados que a prática pedagógica para a promoção da igualdade,
articuladas com as vivências que os invocam. A música ao considerar a visibilidade dos sujeitos e seus temas,
carrega conteúdos da diversidade, inclusive religiosa; para deverá também refletir sobre as construções teóricas que
mulheres e homens de diferentes grupos étnicos; pessoas marcaram a sua invisibilidade, inclusive a biológica. Se
do campo ou das cidades, enfim, todos possuímos, de biologicamente o negro resistiu, as influências das teorias
acordo com algum tipo de pertencimento a música como racistas ainda são visíveis. O brasileiro ainda encontra
conteúdo cultural. Focalizando especificamente a Educação constrangimento em autodeclarar-se, tendo como um dos
das Relações étnico-Raciais, podemos ver o negro como motivos, a ideia de inferioridade construída pelas ciências e
tema e como sujeito na sociedade brasileira e catarinense sustentada pelas políticas, especialmente as da educação.
estudando a música. Percebemos que a música contribuiu e
contribui para o debate das identidades, da discriminação, 2.4.12.2. Ciências Naturais: compondo o currículo
do racismo e dos estereótipos.
Ser humano e saúde
2.4.11.1.Linguagens e Códigos: compondo o currículo • Identificar aspectos relativos à identidade étnico-racial e a
relação com fenótipos e genótipos; • Identificar as
Memória e cultura principais características de heranças étnicas ligadas a
• Identificar as matrizes culturais brasileiras, nas diferentes saúde e incidências e traços étnicos-raciais promovendo a
linguagens do ensino da arte, valorizando as distintas superação de estereótipos e valorização da diversidade;
etnias; • Reconhecer de forma crítica o conceito biológico de raça
• Reconhecer criticamente diferentes produções artísticas e humana;
culturais dos povos indígenas, africanos e afro-brasileiros • Reconhecer conceitos básicos de genética, e sua relação
no processo de formação da sociedade local, regional, com ancestralidade e nossas heranças;
nacional e mundial. • Conhecer a África, seus descendentes e sua contribuição
efetiva para o desenvolvimento científico mundial.
60
::: essencialconcursos.com.br :::
Parte III que ela já está presente na EJA por meio dos estudantes
2.5. Projetos Integradores: uma discussão circular na pobres e negros que majoritariamente frequentam essa
Educação Básica modalidade de ensino. (GOMES, 2005:94)

Parte IV Ao partirmos do princípio de que somos membros de uma


2.5. Os Jovens, Adultos e Idosos: (re) construção dos sociedade multicultural avançamos no esforço de
conceitos identificar nossas várias ancestralidades e agentes
A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade da formadores. Implodimos com mitos de origem que
Educação Básica reconhecida pela Lei de Diretrizes e Bases insistiam a nos tratar como membros de uma única cultura
da Educação Nacional, sendo normatizada pelas resoluções – primeiro a europeia e depois a nacional (única e fruto da
do Conselho Nacional que definem as Diretrizes miscigenação).
Curriculares Nacionais para a EJA e as normas operacionais De forma parecida, assumimos a necessária urgência de
para seu funcionamento. A Rede Municipal de elaborarmos políticas e estratégias que combatam as
Florianópolis, tem por objetivo oferecer escolarização às desigualdades geradas por essências discriminatórias e que
pessoas com 15 anos ou mais, que por alguma razão não permitam aos diversos grupos ou componentes desse
concluíram o Ensino Fundamental. Na Rede Municipal, a mosaico que é a Identidade Nacional (plural e diversa) se
Educação de Jovens e Adultos é regulamentada pela auto afirmarem, sendo valorizados e reconhecidos por
Resolução Municipal 02 de 2010 que tem por finalidade, todos”. (OLIVA, 2013:35).
atender estudante a partir de 15 anos que não tiveram
acesso ou não completaram o Ensino Fundamental. Está 2.6.2. Identidades e pertencimentos
organizada em núcleos, distribuídos pelas localidades do Muitos dos conteúdos identitários dos jovens, adultos e
município de Florianópolis que apresentam demanda para idosos está também instituído como um valor de tradição
a formação de turmas. Esta modalidade foi criada africana. A oralidade é um dos valores civilizatórios afro-
assumindo o compromisso com a qualidade social, brasileiros, possui raiz ancestral e faz parte das tradições de
centrada no estudante e no seu processo de aprendizagem, matriz africanas em território brasileiro. Sendo assim, os
considerando: jovens, os adultos e os idosos da EJA, especialmente os
I – revisão das referências conceituais quanto aos diferentes jovens e adultos negros, por certo vivenciam e
espaços e tempos educativos, abrangendo espaços sociais compartilham a oralidade como modus concreto de
na escola e fora dela; comunicação. A oralidade, é um dos conteúdos dos valores
II – consideração sobre a inclusão, a valorização das civilizatórios afro-indígenas, é mensageira do pensamento
diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade e da memória. A Oralidade antecede a escrita e constrói o
cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações texto. Em uma sociedade multicultural como a brasileira, a
de cada comunidade. (CME, 2010) oralidade constitui-se em campo de vivência e estudos, na
No âmbito da ERER, a EJA articula linguagens plurais, medida em que a língua falada colabora para o registro
oriundas de territórios étnicos distinto, possibilitando que o dos conteúdos étnicos, de gênero, social, regional,
trabalho pedagógico articule saberes escolares, étnicos, religiosos, geracional, entre outros, de seus falantes.
sócio-culturais e políticos sempre respeitando, valorizando Na perspectiva étnico-racial, devemos observar com
e problematizando o que os estudantes trazem de atenção, os conteúdos que trazemos para abordar essas
experiências. Nesta perspectiva, Gimeno (2015) nos questões. Existem sujeitos da oralidade, constituídos em
apresenta o currículo sob a ótica da EJA, e pondera que sociedades de tradição oral, como é o caso de sujeitos
sempre há intencionalidade nas escolhas educacionais: indígenas, quilombolas, de comunidades tradicionais
(...) por currículo escolar deve-se entender que em um brasileiras. Esses sujeitos poderão ser escolarizados, mas
determinado tempo e espaço se desenvolverá um conjunto não perderão os elementos tradicionais de cultura oral.
organizado de saberes e conhecimentos (práticos e
teóricos) que visam produzir nas pessoas pensamentos e 2.6.3. A Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino
comportamentos que atenderão um tipo específico de de Africanidades na EJA
sociedade. No caso da atividade escolar fundada nas A Educação de Jovens e Adultos da Rede Municipal de
práticas de investigação das perguntas de interesse dos Florianópolis, segundo os/as professores/as e seus
estudantes, podemos dizer que o currículo é composto documentos norteadores, preocupa-se com a inter-relação
basicamente por três dimensões (próprio do fazer e pensar entre organização e currículo, fortalecendo a pesquisa
através da pesquisa, apropriação de ferramentas e como princípio educativo. Sendo assim, é importante
instrumentos, conteúdos emergentes das articular eixos para trabalhar a ERER e o ensino de história e
perguntas/problemáticas) é importante pensá-las de modo cultura africana e afro-brasileira na EJA e compreender que
integrado, pois pelas coexistem e sofrem jovens e adultos são sujeitos.
entrecruzamentos. (GIMENO, 2015:01). A seleção dos saberes, mediada pelos/as professores/as,
devem enfatizar a reflexão acerca do pensamento que
2.6.1. Quem são os sujeitos da EJA? produzimos sobre as relações étnicas em nossa sociedade.
Uma proposta pedagógica que contemple a diversidade Assim propomos que os eixos de ERER na EJA sejam:
étnica e racial dos sujeitos da EJA, carrega em si uma História e Identidade. O primeiro eixo é a História. Nela
contradição (...) pois ao mesmo tempo em que se faz depositamos crença no fato de que a desconstrução de
necessária a luta pela inclusão da questão racial nos estigmas, preconceitos e discriminação são possíveis
currículos e práticas da EJA, é necessário reconhecer através do conhecimento. No caso dos jovens e adultos
61
::: essencialconcursos.com.br :::
coadunamos com a perspectiva de que precisamos A Educação Escolar Quilombola compreende as escolas dos
conhecer as suas histórias ao mesmo em que lhes quilombos, bem como, as escolas que atendem estudantes
apresentamos outras possibilidades, outros lugares para oriundos das comunidades quilombolas. Como se trata de
verem a história como produto humano. educação escolar, sua organização deverá levar em conta
O segundo eixo é identidade. Sabemos preliminarmente os tempos do calendário escolar formal, articulados com os
que os estudantes da EJA são homens e mulheres, tempos e os processos organizativos das comunidades,
etnicamente diversos/as, nativos/as e oriundos/as de outras podendo assim, a educação escolar quilombola, ser
regiões do estado e do país, brasileiros/as, latino- organizada em séries anuais, períodos semestrais,
americanos/as, haitianos/as, africanos/as e asiáticos/as. alternâncias, ciclos e grupos não seriados.
Esse conjunto multicultural da EJA possibilita e impõe que a Os sujeitos quilombolas de Florianópolis resgatam a
questão da identidade transversalize a organização escolar. história de sua comunidade, suas práticas culturais e
Cada sujeito possui saberes que devem ser transpostos de saberes. Procuram vivências baseadas nos valores
forma didática para as situações escolares e, destacamos ancestrais, considerando o respeito, o tempo para
atenção aos saberes referido (s) às identidades dos aprender, o cuidado coletivo e o respeito à natureza. Desta
estudantes. Fica assim o convite de tratar a ERER na EJA forma, é imprescindível implementar ações e propostas de
considerando o trabalho cultural, artístico, as atividades promoção da igualdade racial nas Instituições de Educação
políticas, o trato com a língua, o espaço social, a por meio de práticas institucionais e pedagógicas que
constituição de homens e mulheres negros como sujeitos integrem o princípio educativo da diversidade étnico-
históricos e os territórios em que vivem e transitam, os raciais que agora tem sua condição de premissa na Lei de
traços étnicos na corporeidade, as origens regionais, a Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) com a
relevância da oralidade, as identidades de gênero são entrada em vigor da Lei nº 12.796/13. Assim como traduzir
questões que transversalizam o currículo e apoiam a em ações o que prevê a lei 10.639/2003.
trajetória de jovens e adultos na busca de equidade nas
relações étnico- -raciais.

Parte V
2.7. Quilombos: breve história
2.7.1. Quilombo em Florianópolis: notas históricas e
localização

2.7.2. Educação Escolar Quilombola: definição 1. Pesquisas recentes no campo da Educação Infantil
Em 20 de novembro de 2012, a Câmara da Educação Básica destacam a necessidade de que as instituições responsáveis
do Conselho Nacional de Educação publicou a resolução de pelo ensino infantil incorporem em suas ações as funções
número 08 que define as Diretrizes Curriculares Nacionais de educar e cuidar de modo integrado e indissociável.
para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica. Analise as afirmativas abaixo, tomando como base tal
Dissertamos abaixo a definição de Educação Escolar perspectiva.
Quilombola: 1. As necessidades afetivas no processo de
II – compreende a Educação Básica em suas etapas e desenvolvimento infantil devem ser desconsideradas neste
modalidades, a saber: Educação Infantil, Ensino nível da Educação Básica. É preciso voltar-se
Fundamental, Ensino Médio, Educação do Campo, exclusivamente à alimentação e aos cuidados com a
Educação Especial, Educação Profissional Técnica de Nível higiene, considerando-os suficientes para o
Médio, Educação de Jovens e Adultos, inclusive na desenvolvimento da criança nesse período da infância.
Educação a Distância; 2. As instituições de educação infantil devem proporcionar
III – destina-se ao atendimento das populações o desenvolvimento integral da criança, possibilitando
quilombolas rurais e urbanas em suas mais variadas formas aprendizagens diversificadas em situações de interação
de produção cultural, social, política e econômica; com os demais. 3. A conexão entre o cuidar e o educar
IV – deve ser ofertada por estabelecimentos de ensino consiste em propiciar às crianças situações de cuidados,
localizados em comunidades reconhecidas pelos órgãos brincadeiras e aprendizagens de modo orientado,
públicos responsáveis como quilombolas, rurais e urbanas, contribuindo para o desenvolvimento das capacidades
bem como por estabelecimentos de ensino próximos a infantis.
essas comunidades e que recebem parte significativa dos 4. As atitudes e os procedimentos desenvolvidos nas
estudantes oriundos dos territórios quilombolas; instituições de Educação Infantil devem ser baseados em
V – deve garantir aos estudantes o direito de se apropriar conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento das
dos conhecimentos tradicionais e das suas formas de crianças no que se refere aos aspectos biológico, emocional
produção de modo a contribuir para o seu e intelectual.
reconhecimento, valorização e continuidade; Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas
VI – deve ser implementada como política pública corretas.
educacional e estabelecer interface com a política já a. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1 e 3.
existente para os povos do campo e indígenas, b. ( ) São corretas apenas as afirmativas 2 e 4.
reconhecidos os seus pontos de intersecção política, c. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 4.
histórica, social, educacional e econômica, sem perder a d. ( ) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 4.
especificidade. (BRASIL, 2012). e. ( ) São corretas as afirmativas 1, 2, 3 e 4.
62
::: essencialconcursos.com.br :::
2.Atualmente, emergem entre os pesquisadores brasileiros, c. ( ) Princípios éticos, políticos e estéticos.
na literatura científica e acadêmica, várias referências sobre d. ( ) Princípios de caridade e de honestidade.
o tema “cultura infantil”, também denominada “cultura da e. ( ) Princípios humanos e de responsabilidade
infância”. Considerando estudos recentes, identifique as
afirmativas abaixo como verdadeiras ( V ) ou falsas ( F ). 5. No âmbito da Educação Infantil tem crescido a
( ) Os estudos referentes às culturas infantis têm preocupação relacionada ao como desenvolver o
possibilitado que a infância seja cada vez mais considerada planejamento do trabalho educativo nesta etapa de ensino.
uma importante fase no processo de constituição do Pesquisas recentes referentes ao planejamento na
sujeito. Deste modo, a Educação Infantil tem adquirido Educação Infantil consideram:
grande relevância como primeira etapa da Educação Básica. 1. O planejamento educativo deve ser assumido no
( ) O ponto de partida dos estudos sobre as culturas cotidiano como um processo de reflexão. Mais do que um
infantis foi uma tentativa de romper com as visões papel preenchido, é atitude e envolve todas as ações e
tradicionais de criança, que as reduziam num vir a ser. situações do educador no cotidiano de seu trabalho
( ) Os estudos sobre culturas infantis nos mostram cada vez pedagógico.
mais que estas são pré-existentes às crianças, e funcionam 2. Planejar é a atitude de traçar, projetar, programar,
como algo estático. elaborar um roteiro para empreender uma “viagem de
( ) As culturas da infância representam um dos temas conhecimento”, de interação de experiências múltiplas e
privilegiados nos estudos da sociologia da infância, campo significativas para com o grupo de crianças.
recente que vem se estruturando a partir da década de 90, 3. O planejamento não deve ser flexível, é preciso que seja
em torno de alguns princípios fundamentais, sendo o elaborado de forma padrão e imutável, de acordo com os
principal deles a concepção de infância como uma moldes utilizados em cada unidade educacional.
construção social. 4. O planejamento marca a intencionalidade do processo
( ) Os estudos sobre as culturas infantis são educativo, mas não pode ficar somente na intenção, na
predominantemente centrados em uma concepção única e memória, é preciso traçar, programar, documentar a
universal de criança. proposta de trabalho do professor.
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de 5. O planejamento é instrumento orientador do trabalho
cima para baixo. docente.
a. ( ) V – V – V – F – V Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas
b. ( ) V – V – F – V – F corretas.
c. ( ) V – F – V – V – V a. ( ) São corretas apenas as afirmativas 3 e 5.
d. ( ) F – F – V – V – F b. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3.
e. ( ) F – F – V – F – F c. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 4.
d. ( ) São corretas apenas as afirmativas 2, 4 e 5.
3. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação a e. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2, 4 e 5.
avaliação na Educação Infantil será efetivada mediante:
a. ( ) Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante 6. Alguns pesquisadores consideram que o processo
acompanhamento e registro do desenvolvimento da pedagógico na Educação Infantil vai muito além de
criança, sem o objetivo de promoção ao ensino atividades dirigidas, coordenadas e orientadas pelo
fundamental. professor. O processo pedagógico perpassa todas as ações,
b. ( ) Na educação infantil a avaliação será desenvolvida em todos os momentos do cotidiano com as crianças.
com o objetivo de analisar o pleno domínio da criança na Considerando a concepção ampliada de planejamento
literatura, escrita e no cálculo. podemos afirmar:
c. ( ) A avaliação na educação infantil terá como função 1. Os planejamentos devem ser inteiramente dedicados à
prioritária o acesso da criança ao ensino fundamental. “hora da atividade”, que deve ser realizada em momentos
d. ( ) A avaliação na educação infantil far-se-á mediante estratégicos, e considerada a ocasião mais respeitável da
acompanhamento e registro da evolução da criança prática pedagógica.
referente as suas aprendizagens do sistema político, da 2. O planejamento deve envolver cuidado e educação,
tecnologia e dos cálculos. objetivos estes considerados indissociáveis do processo
e. ( ) A avaliação se dará mediante a análise dos processos pedagógico.
cognitivos da criança referente ao desenvolvimento da sua 3. O planejar na Educação Infantil consiste no planejamento
capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição do contexto educativo, envolvendo atividades e situações
de conhecimentos e habilidades para promoção ao ensino desafiadoras e significativas, que favoreçam a exploração, a
fundamental. descoberta e a apropriação de conhecimentos sobre o
mundo físico social.
4. Para orientar as unidades de Educação Infantil a planejar 4. O pedagógico não está na atividade em si, mas na
seu cotidiano, o documento das Diretrizes Curriculares postura do professor, uma vez que não é a atividade em si
Nacionais da Educação Infantil (DCNEIs/2009) apresenta que ensina, mas a possibilidade de interagir, trocar
um conjunto de princípios defendidos pelos diversos experiências e partilhar significados. Assinale a alternativa
segmentos ouvidos no processo de sua elaboração. São que indica todas as afirmativas corretas.
eles: a. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3.
a. ( ) Princípios morais e de valores. b. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 4.
b. ( ) Princípios religiosos e espirituais. c. ( ) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 4.
63
::: essencialconcursos.com.br :::
d. ( ) São corretas apenas as afirmativas 3, 4 e 5. 1. exclusivamente as suas aspirações no desenvolvimento
e. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2, 3 e 4. das propostas.
2. que a sua intervenção é desnecessária, haja vista que as
7. Assinale a alternativa que completa corretamente a crianças dessa faixa etária brincam, conversam, aprendem
concepção de Vygotsky (1988) referente ao processo de de forma independente.
desenvolvimento humano: 3. o grau de desafio que as atividades apresentam e o fato
Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, de que devam ser significativas e colocadas de maneira
suas atividades adquirem um significado próprio num integrada para as crianças e o mais próximo possível das
sistema de comportamento social, e sendo dirigidas a práticas sociais reais.
objetivos definidos, são refratadas através do prisma do 4. a individualidade e a diversidade.
ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e 5. a interação com crianças da mesma idade e de idades
desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa diferentes em situações diversas como fator de promoção
estrutura humana complexa é o produto de um processo da aprendizagem e do desenvolvimento e da capacidade
de desenvolvimento: de relacionar-se. Assinale a alternativa que indica todas as
a. ( ) profundamente enraizado nas ligações entre história afirmativas corretas.
individual e história social. a. ( ) São corretas apenas as afirmativas 4 e 5.
b. ( ) solitário e que se configura simplesmente no b. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3.
indivíduo. c. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 5.
c. ( ) profundamente enraizado unicamente na sua d. ( ) São corretas apenas as afirmativas 3, 4 e 5.
espiritualidade. e. ( ) São corretas as afirmativas 1, 2, 3, 4 e 5.
d. ( ) independente das relações históricas e sociais desse
sujeito. O processo de desenvolvimento é imutável, e se 10. O brincar é uma ação livre, que surge a qualquer hora,
processa de forma inflexível em cada pessoa. iniciada e conduzida pela criança. Dá prazer, não exige
e. ( ) que se dá através do equilíbrio entre a assimilação e a como condição um produto final, relaxa, envolve, ensina
acomodação, resultando em adaptação. regras, linguagens, desenvolve habilidades, e introduz no
mundo imaginário. Pensando a importância do brincar no
8. De acordo com as novas Diretrizes Curriculares Nacionais espaço educativo, podemos considerar:
da Educação Infantil (DCNEIs) aprovadas pelo Conselho 1. O brincar é importante porque dá o poder à criança para
Nacional de Educação em 2009, são consideradas como tomar decisões, expressar sentimentos e valores, conhecer
função sociopolítica e pedagógica das unidades de a si, os outros e o mundo, partilhar brincadeiras com o
Educação Infantil: outro, explorar o mundo dos objetos, das pessoas, da
1. Oferecer condições e recursos para que as crianças natureza e da cultura.
usufruam seus direitos civis, humanos e sociais. 2. É no plano da imaginação que o brincar se destaca pela
2. Possibilitar tanto a convivência entre crianças e entre possibilidade que oferece à criança de atribuir diferentes
adultos e crianças quanto a ampliação de saberes e significados às suas ações.
conhecimentos de diferentes naturezas. 3. A importância do brincar se relaciona com a cultura da
3. Apresentar às crianças algumas manifestações culturais, infância que coloca a brincadeira como a ferramenta para a
para que elas possam analisar e avaliar de forma criança se expressar, aprender e se desenvolver.
hierárquica qual é a melhor. 4. Observando outras crianças e as intervenções da
4. Assumir a responsabilidade de compartilhar e professora, a criança aprende novas brincadeiras. Depois
complementar a educação e o cuidado das crianças com as que aprende, pode reproduzir ou recriar outras
famílias. brincadeiras. Assim elas vão garantindo a circulação e
5. Promover a igualdade de oportunidades educacionais preservação da cultura lúdica.
entre as crianças de diferentes classes sociais no que se Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas
refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de corretas.
vivência da infância. Assinale a alternativa que indica todas a. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1 e 2.
as afirmativas corretas. b. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1 e 3.
a. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 4. c. ( ) São corretas apenas as afirmativas 2 e 4.
b. ( ) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 4. d. ( ) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 4.
c. ( ) São corretas apenas as afirmativas 3, 4 e 5. e. ( ) São corretas as afirmativas 1, 2, 3 e 4.
d. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2, 4 e 5.
e. ( ) São corretas as afirmativas 1, 2, 3, 4 e 5. 11. Na educação infantil, as brincadeiras devem ocupar
lugar de destaque na prática cotidiana. Assim, o brincar no
9. Ao desenvolver o trabalho na Educação Infantil, o espaço educativo deve ser priorizado com base nos
professor deve conhecer e considerar as singularidades das seguintes aspectos:
crianças de diferentes idades, assim como a diversidade de 1. As rotinas da creche devem ser flexíveis e reservar
hábitos, costumes, valores, crenças, etnias etc. das crianças períodos longos para as brincadeiras livres das crianças.
com as quais trabalha, respeitando suas diferenças e 2. Os brinquedos devem ser guardados em locais de livre
ampliando suas pautas de socialização. Considerando o acesso às crianças.
exposto, é preciso que o professor considere, na 3. As salas onde as crianças ficam devem ser arrumadas de
organização do trabalho educativo: forma a facilitar brincadeiras espontâneas e interativas.

64
::: essencialconcursos.com.br :::
4. Os brinquedos devem ser guardados longe do alcance b. ( ) São corretas apenas as afirmativas 2 e 4.
das crianças. c. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3.
5. As meninas não devem participar, sob nenhuma d. ( ) São corretas apenas as afirmativas 3, 4 e 5.
hipótese, de jogos que desenvolvem movimentos amplos: e. ( X ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2, 3 e 4
correr, jogar, pular.
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas 14. Identifique as afirmativas que completam o texto abaixo
corretas. como verdadeiras ( V ) ou falsas (F) As políticas nacionais
a. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1 e 4. voltadas à Educação Infantil destacam que as instituições
b. ( ) São corretas apenas as afirmativas 4 e 5. que possuem crianças de zero a três anos devem criar um
c. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3. ambiente de acolhimento que dê segurança e confiança às
d. ( ) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 5. crianças, garantindo oportunidades para que sejam capazes
e. ( ) São corretas as afirmativas 1, 2, 3, 4 e 5 de:

12. Identifique se são verdadeiras ( V ) ou falsas ( F ) as ( ) brincar.


afirmativas abaixo, em relação à Lei no 9.394/96 (Lei de ( ) interessar-se progressivamente pelo cuidado com o
Diretrizes e Bases da Educação Nacional) referente à seção próprio corpo, executando ações simples relacionadas à
que trata sobre a Educação Infantil: saúde e higiene.
( ) A Educação Infantil será oferecida em creches, ou ( ) familiarizar-se com a imagem do próprio corpo,
entidades equivalentes, para crianças de até três anos de conhecendo progressivamente seus limites, sua unidade e
idade. as sensações que ele produz.
( ) Na Educação Infantil a avaliação far-se-á mediante ( ) relacionar-se progressivamente com mais crianças, com
acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem seus professores e com demais profissionais da instituição,
o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino demonstrando suas necessidades e interesses.
fundamental. ( ) experimentar e utilizar os recursos de que dispõem para
( ) A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, a satisfação de suas necessidades essenciais, expressando
tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança seus desejos, sentimentos, vontades e desagrados, e
até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, agindo com progressiva autonomia. Assinale a alternativa
intelectual e social, complementando a ação da família e da que indica a sequência correta, de cima para baixo.
comunidade. a. ( ) V – V – V – V – V
( ) A Educação Infantil, para crianças de até três anos de b. ( ) V – V – F – V – V
idade, será oferecida somente em entidades privadas. c. ( ) F – V – V – V – F
( ) A Educação Infantil será oferecida em pré-escolas, para d. ( ) F – F – V – V – F
as crianças de quatro a seis anos de idade. e. ( ) F – F – F – F – V
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de
cima para baixo. 15. Muitos pesquisadores identificam que pais envolvidos
a. ( ) V – V – V – F – V na escolaridade dos filhos desenvolvem uma atitude mais
b. ( ) V – F – V – F – V positiva com relação à escola e com relação a si mesmos,
c. ( ) V – F – F – F – F tornando-se mais ativos na sua comunidade e melhorando
d. ( ) F – V – V – V – F seu relacionamento com os filhos. A noção de parceria
e. ( ) F – V – F – V – F entre pais e creche constitui o cerne de qualquer programa
de participação dos pais na vida diária da instituição.
13. As propostas pedagógicas das instituições de Educação Analise as afirmativas abaixo, em relação a esse tópico.
Infantil deverão prever condições para o trabalho coletivo e 1. A participação das famílias na creche é um aspecto
para a organização de materiais, espaços e tempos que central na avaliação da qualidade dos serviços prestados.
assegurem: 2. Sendo família e creches instituições totalmente distintas,
1. a educação em sua integralidade, entendendo o cuidado exercem igualmente papéis totalmente distintos na vida
como algo indissociável ao processo educativo. das crianças. Não é, portanto, importante a relação entre
2. a indivisibilidade das dimensões expressivo- -motora, elas.
afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural 3. A infância atualmente tem sido compreendida não mais
da criança. como simplesmente objeto de cuidados maternos
3. os deslocamentos e os movimentos amplos das crianças familiares, mas como componente dos deveres públicos do
nos espaços internos e externos às salas de referência das Estado e de toda a sociedade.
turmas e à instituição. 4. Família e escola/creche, juntas, podem promover
4. o estabelecimento de uma relação efetiva com a situações complementares e significativas de aprendizagem
comunidade local e de mecanismos que garantam a gestão e convivência que realmente vão de encontro às
democrática e a consideração dos saberes da comunidade. necessidades e demandas das crianças e de ambas
5. a participação e o diálogo com as famílias, como meio de instituições.
modificar suas formas de organização e, principalmente, os 5. Apesar de haver diferenças distintas entre as obrigações
modos de educar seus filhos. da família e da escola, há também responsabilidades e
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas objetivos comuns entre elas. Assinale a alternativa que
corretas. indica todas as afirmativas corretas.
a. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1 e 5. a. ( ) É correta apenas a afirmativa 4.
65
::: essencialconcursos.com.br :::
b. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1 e 2. educação, prioridade primeira das instituições de Educação
c. ( ) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 4. Infantil.
d. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 3, 4 e 5. e. ( ) prioritariamente àquelas relacionadas ao cuidado
e. ( ) São corretas as afirmativas 1, 2, 3, 4 e 5 como: troca de fraldas, banho, sono, descanso e
16. As propostas pedagógicas das instituições de Educação alimentação.
Infantil contemplam princípios éticos, políticos e estéticos.
Relacione abaixo cada um dos princípios a seus respectivos 19. Sobre a avaliação na Educação Infantil, é correto
sentidos: Coluna 1 Princípios afirmar:
1. Princípios éticos. 1. As instituições de Educação Infantil devem criar
2. Princípios políticos. procedimentos para acompanhamento do trabalho
3. Princípios estéticos. pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das
Coluna 2 Sentidos crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou
( ) Refere-se à formação da criança para o exercício classificação.
progressivo dos direitos e dos deveres da cidadania, da 2. As instituições de Educação Infantil devem criar
criticidade e do respeito à ordem democrática. procedimentos de observação crítica e criativa das
( ) Refere-se à formação da criança para o exercício atividades das brincadeiras e interações das crianças no
progressivo da autonomia, da responsabilidade, da cotidiano.
solidariedade e do respeito ao bem comum. 3. Deve ser garantida, nas instituições de Educação Infantil,
( ) Refere-se à formação da criança para o exercício a utilização de múltiplos registros realizados por adultos e
progressivo da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns e outros).
e da diversidade de manifestações artísticas e culturais. 4. As instituições de Educação Infantil devem criar
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de procedimentos para acompanhamento do trabalho
cima para baixo. pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das
a. ( ) 1 – 2 – 3 crianças no último ano da Educação Infantil, possibilitando,
b. ( ) 1 – 3 – 2 assim, caso necessário, retenção desta nesta etapa da
c. ( ) 2 – 1 – 3 Educação Básica.
d. ( ) 2 – 3 – 1 Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas
e. ( ) 3 – 2 – 1 corretas.
a. ( ) É correta apenas a afirmativa 4.
17. As práticas pedagógicas da Educação Infantil devem b. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1 e 3.
garantir experiências que: c. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3.
1. Favoreçam o contato das crianças com as diferentes d. ( ) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 4.
linguagens. e. ( ) São corretas as afirmativas 1, 2, 3 e 4.
2. Possibilitem às crianças experiências de narrativas,
apreciação e interação com a linguagem oral e escrita. 20. Consta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
3. Promovam o conhecimento de si e do mundo por meio Nacional (Lei 9.394, 1996) que a Educação Infantil será
da ampliação de experiências sensoriais, expressivas e organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
corporais. 1. Carga horária mínima anual de 800 horas, distribuída por
4. Garantam a alfabetização da criança antes de ingresso no um mínimo de 200 dias de trabalho educacional.
Ensino Fundamental. 2. A Educação Infantil será oferecida em creches, ou
5. Ampliem a confiança e a participação das crianças nas entidades equivalentes, para crianças de até 1 ano idade e
atividades individuais e coletivas. Assinale a alternativa que as pré-escolas, para crianças de 2 a 6 anos de idade.
indica todas as afirmativas corretas. 3. Atendimento à criança de, no mínimo, 4 horas diárias
a. ( ) É correta apenas a afirmativa 3. para o turno parcial e de 7 horas para a jornada integral.
b. ( ) São corretas apenas as afirmativas 4 e 5. 4. Controle de frequência pela instituição de educação pré-
c. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3. escolar, exigida a frequência mínima de 60% do total de
d. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2, 3 e 5. horas.
e. ( ) São corretas as afirmativas 1, 2, 3, 4 e 5. 5. Expedição de documentação que permita atestar os
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.
18. Os professores e os demais profissionais que atuam em Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas
instituições de Educação Infantil devem valorizar: corretas.
a. ( ) igualmente atividades de desenho, pintura e demais a. ( ) É correta apenas a afirmativa 1.
atividades relacionadas exclusivamente às artes plásticas. b. ( ) São corretas apenas as afirmativas 2 e 3.
b. ( ) igualmente atividades de alimentação, leitura de c. ( ) São corretas apenas as afirmativas 3, 4 e 5.
histórias, troca de fraldas, desenho, música, banho, jogos d. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 3, 4 e 5.
coletivos, brincadeiras, sono, descanso, entre outras tantas e. ( ) São corretas as afirmativas 1, 2, 3, 4 e 5
propostas realizadas cotidianamente com as crianças.
c. ( ) apenas as atividades de cunho pedagógico, ou seja, 21. No âmbito da Educação Infantil o planejamento ainda é
aquelas desenvolvidas no espaço da sala de aula na alvo de preocupação e discussões. Tal preocupação pode
denominada “hora da atividade”. ser relacionada ao fato de que mais e mais a Educação
d. ( ) de modo diferenciado as atividades de educação e Infantil ganha estatuto de direito, colocando-se como
cuidado, atribuindo sempre maior importância às de
66
::: essencialconcursos.com.br :::
etapa inicial da Educação Básica. Assim, estudos recentes 24. A Educação Infantil é um direito das crianças brasileiras.
sobre o tema consideram que: A universalização do acesso ocorreu apenas nas décadas de
1. Planejar é delinear, projetar, elaborar um roteiro para 1980 e 1990, com a mobilização da sociedade civil pela
iniciar uma viagem de interações e experiências múltiplas. expansão do número de creches. As creches, por sua vez,
2. O planejamento deve ser flexível, deve permitir ao vêm se modificando para atender às demandas de
professor repensar sua prática, buscando novos educação, saúde e nutrição da população infantil aos seus
significados para suas estratégias. cuidados. Em relação à função das creches e pré-escolas, é
3. O planejamento é um instrumento orientador do correto afirmar:
trabalho do professor. a. ( ) Prestam-se ao cuidado de crianças de 0 a 2 anos,
4. O ato de planejar pressupõe o olhar atento à realidade. substituindo a ação de familiares que não têm
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas disponibilidade para cuidar de seus filhos, por falta de
corretas. renda ou por trabalhar fora de casa. Assim, a creche
a. ( ) É correta apenas a afirmativa 1. assume a responsabilidade integral quanto à saúde e
b. ( ) É correta apenas a afirmativa 2. educação dessas crianças. b. ( ) Após a promulgação da
c. ( ) São corretas apenas as afirmativas 3 e 4. Constituição de 1988, as creches e pré-escolas assumiram
d. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 4. definitivamente sua função de primeiro segmento da
e. ( ) São corretas as afirmativas 1, 2, 3 e 4. Educação Básica. Essas instituições têm por função
desenvolver práticas assistencialistas, reforçando a parceria
22. Sobre a transição da Educação Infantil para o Ensino entre Estado, comunidades carentes e grande capital
Fundamental, muitas questões ainda podem ser financeiro.
considerados pontos nevrálgicos. c. ( ) O cunho eminentemente assistencialista, que
Sobre a articulação com o Ensino Fundamental, complete historicamente caracterizou a ação de creches e pré-
de forma adequada as lacunas do texto retirado do escolas, reflete a função primordial deste nível de ensino. A
documento “Diretrizes Curriculares Nacionais para escola de Educação Infantil existe para que as crianças
Educação Infantil” (BRASIL, 2010) : possam ser atendidas com qualidade e seus familiares
Na transição para o Ensino Fundamental a proposta estejam liberados para trabalhar sem preocupação.
pedagógica deve prever formas para garantir d. ( ) Têm por função o atendimento de populações de 0 a
a_______________________ no processo de aprendizagem e 6 anos incompletos, com o objetivo de oferecer cuidado
desenvolvimento das crianças respeitando as referente à higiene, à alimentação, à saúde, ao
especificidades etárias, ____________________ de conteúdos desenvolvimento. De forma integrada com as atividades de
que serão trabalhados no Ensino Fundamental. Assinale a cuidado, ocorre, também, o desenvolvimento de atividades
alternativa que completa corretamente as lacunas do texto. psicopedagógicas e lúdicas.
a. ( ) continuidade ; com antecipação e. ( ) As creches e pré-escolas existem porque atendem a
b. ( ) continuidade ; sem antecipação um direito das famílias, principalmente, das mães
c. ( ) aquisição ; com antecipação trabalhadoras, que precisam ser liberadas das lides
d. ( ) evolução ; com ampliação domésticas para se integrarem de maneira efetiva ao
e. ( ) avaliação ; sem antecipação mercado de trabalho.

23. A creche e a pré-escola desempenham um papel 25. “O processo educativo é realizado de várias formas: na
fundamental na vida das famílias, em especial, das mães família, na rua, nos grupos sociais e, também, na instituição.
das crianças. Isto se deve a diferentes visões acerca da Educar, nessa primeira etapa da vida, não pode ser
função das escolas infantis. Analise as afirmativas abaixo, confundido com cuidar, ainda que crianças (especialmente
em relação às funções das creches e pré-escolas: as de zero a 3 anos) necessitem de cuidados elementares
1. A escola infantil é vista como um lugar seguro, que para garantia da própria sobrevivência. O que deve
fornece o suprimento das necessidades básicas, centradas permear a discussão não são os cuidados que as crianças
no bem-estar das crianças. devem receber, mas o modo como elas devem recebê-los,
2. A creche e a pré-escola favorecem a socialização e já que se alimentar, assear-se, brincar, dormir, interagir são
promovem situações de interações entre crianças e dessas direitos inalienáveis à infância”. GARCIA, 2001.
com os adultos. Em relação ao cuidar, é correto afirmar:
3. As creches e as pré-escolas favorecem a aprendizagem a. ( ) O cuidado da criança na escola infantil recai sobre o
de normas específicas, muitas vezes diferentes das professor auxiliar, responsável exclusivo pelas trocas de
familiares, que influenciam no desenvolvimento cognitivo e fraldas, acompanhamento das crianças ao banheiro,
emocional das crianças. organização da hora do soninho e alimentação.
4. A escola da infância é percebida como espaço de b. ( ) Apesar de compreender que as crianças têm
aprendizagens e intervenções educativas. Assinale a necessidades diferentes, os horários de sono e repouso
alternativa que indica todas as afirmativas corretas. devem ser cumpridos por todos, ao mesmo tempo. Isso
a. ( ) É correta apenas a afirmativa 1. evita transtornos e permite à escola se reorganizar após o
b. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1 e 4. almoço.
c. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 4. c. ( ) O desfralde é uma atividade que deve ser
d. ( ) São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 4. proporcionada logo após o segundo ano de vida. A família
e. ( ) São corretas as afirmativas 1, 2, 3 e 4. precisa tomar a dianteira e iniciar o desfralde em casa. A
escola adota os procedimentos utilizados por cada família.
67
::: essencialconcursos.com.br :::
Por isso, a comunicação casa-escola é fundamental. d. ( X ) dissonâncias sociais, particularidades e desconstruções da
A organização dos momentos em que são previstos cultura.
cuidados com o corpo, banho, lavagem de mãos, higiene d. ( ) A socialização plural compreende a ação de diferentes
oral, uso dos sanitários, repouso e brincadeiras ao ar livre espaços como a família, a creche, o grupo de colegas, a
pode variar nas instituições de educação infantil, segundo televisão e as diversas culturas embasadoras da inserção
os grupos etários atendidos, o tempo de permanência ativa das crianças no mundo.
diária das crianças na instituição e os acordos estabelecidos e. ( ) Representam o conjunto de processos de socialização
com as famílias. permanentemente acionados na contemporaneidade, que
e. ( ) Crianças pequenas gostam de se alimentar sozinhas, permitem verificar a apropriação criativa das crianças ao
mas isso é muito complexo, porque, frequentemente, mundo adulto.
ocorrem desperdícios e sujeira na sala, além de não
oferecer garantias ao educador ou à família de que a 28. A organização do trabalho pedagógico na educação
criança tenha se alimentado adequadamente. infantil se reveste de significados distintos. Sua finalidade
26. A organização do tempo permite uma maior educativa considera o trabalho voltado para situações reais
diversificação das atividades. Isso reforça a necessidade de de aprendizagem, com propostas contextualizadas e
um planejamento do trabalho que organize a rotina de significativas, de modo a ampliar as vivências e as
forma a atender às metas da proposta pedagógica da experiências das crianças, que são diversificadas e
escola. Em relação à organização do tempo, é correto dependem do contexto cultural e social em que se inserem,
afirmar: bem como das interações com outros sujeitos, adultos e
a. ( ) O planejamento do trabalho pedagógico é o mais crianças. Planejar o trabalho pedagógico pressupõe:
importante instrumento de organização do tempo escolar. a. ( ) O exercício de prever necessidades futuras do grupo
Ele favorece e facilita o desenvolvimento da proposta de crianças, relacionando-as às ações que a escola deve
pedagógica e viabiliza o alcance dos objetivos propostos propor para saná-las.
ao elencar propostas, procedimentos, recursos e situações b. ( ) O ato de racionalizar meios e recursos humanos e
de trabalho individual ou coletivo. materiais em função dos objetivos que se queira alcançar.
b. ( ) Não é necessário se deter sobre a organização do c. ( ) Elencar conteúdos a serem ensinados às crianças
tempo de trabalho escolar, uma vez que, na pré-escola, não como forma de sistematização da proposta da escola.
existem conteúdos obrigatórios a serem vencidos e a rotina d. ( ) Determinar o que se deve interpretar a partir das
de cuidados é fixa, ou seja, não exige planejamento além manifestações infantis, definindo estratégias e meios de
daquele realizado no início do ano, onde as funções e concretizá-las.
atribuições são esclarecidas. e. ( ) Esperar que as crianças proponham temas e atividades
c. ( ) Planejar as atividades e organizar a rotina é a serem realizadas pelo grupo, uma vez que o
fundamental em todos os níveis de ensino. Na educação planejamento democrático se efetiva através das propostas
pré-escolar essa premissa é ainda mais verdadeira, uma vez dos alunos.
que é na primeira infância que se constroem as relações
temporais e a noção de tempo histórico. 29. Analise o texto abaixo: “Quando entramos em uma
d. ( ) A rotina organiza o tempo do cuidado (alimentação, escola, as paredes, os móveis e sua distribuição, os espaços
banho, higiene). As atividades pedagógicas mais mortos, as pessoas, a decoração, etc. tudo nos fala do tipo
sistematizadas devem suceder às práticas diárias de de atividades que se realizam, das comunicações entre
cuidado. Nem sempre é possível organizar temporalmente alunos e professores, da relação com o mundo externo, dos
as atividades porque as crianças têm tempos e ritmos interesses dos alunos e professores”. FORNEIRO In:
diferentes de trabalhar e aprender. ZABALZA, 1998, p. 232.
e. ( ) Seguir uma rotina diária é algo extremamente Em relação ao espaço escolar, é correto afirmar:
monótono e faz com que crianças e adultos realizem a. ( ) As escolas são grandes centros de educação de
tarefas repetitivas e pouco reflexivas. crianças. Dessa forma é viável constituir grupos multietários
que não se vinculam a um espaço específico, mas que
27. Maria Carmem Silveira Barbosa (2007) afirma que, nas circulam pela escola de forma autônoma e segura.
sociedades urbanas contemporâneas, as socializações b. ( ) O espaço da escola é aquele que circunscreve a turma
deixam de estar ancoradas apenas na vida familiar, para em sua sala. Este espaço é o mais importante para a
passarem a ser realizadas por uma rede de socializações constituição das atividades previstas no planejamento
plurais. Em relação às socializações plurais, é correto docente.
afirmar: c. ( ) Crianças pequenas se relacionam de forma concêntrica
a. ( ) São mecanismos de constituição do senso de com os espaços. Assim, é mister apresentar-lhes a realidade
identidade sustentável e reprodução interpretativa, uma espacial gradativamente. No primeiro ano de creche as
vez que instrumentalizam o indivíduo para uma vida atividades devem ocorrer em sala; no segundo, no pátio
autônoma e crítica. interno; e no terceiro ano, as crianças se encontram
b. ( ) Embasam as experiências mediadas pela pertença ao preparadas para explorar as áreas externas.
grupo étnico, nacional e religioso, ao gênero e espaço d. ( ) As noções espaço-temporais são construídas na
geográfico, constituindo o que chamamos de cultura de relação que as crianças travam com a multiplicidade de
massa. espaços. Isso ocorre quando o indivíduo abandona a fase
c. ( ) Expressam a homogeneidade do grupo familiar, em egocêntrica e passa a reconhecer outros pontos de vista,
contraposição à contradição presente no mundo – diferentes do seu.
68
::: essencialconcursos.com.br :::
e. ( ) O espaço da escola pode ser considerado um
ambiente de aprendizagem que reúne o conjunto do
espaço físico e as relações que se estabelecem nele – as
dimensões físicas, funcionais, temporais e relacionais.

30. Apoiar a organização em pequenos grupos,


estimulando as trocas entre os parceiros; incentivar a
brincadeira; dar-lhes tempo para desenvolver temas de
trabalho a partir de propostas prévias; oferecer diferentes
tipos de materiais em função dos objetivos que se tem em
mente; organizar o tempo e o espaço de modo flexível são
algumas formas de intervenção que contribuem para o
desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. Essas
intervenções retratam a rotina do trabalho pedagógico.
Em relação a essa responsabilidade do professor, é correto
afirmar:
a. ( ) A rotina desenvolvida nas escolas infantis é clara
expressão do imobilismo pedagógico. A existência de
rotinas cristalizadas impede que o projeto político
pedagógico da instituição se desenvolva na prática, uma
vez que os objetivos acadêmicos, expressos através do
trabalho pedagógico, sofrem redução em sua duração.
b. ( ) Todo trabalho pedagógico deve ter formas
estruturadas de organização e aproveitamento do espaço e
do tempo disponível, tendo em vista os objetivos
propostos. As metas estabelecidas através desta proposta
devem dosar o equilíbrio do trabalho, orientando também
as atividades de banho, refeições e descanso, para que
adquiram também uma conotação socializadora e
educativa.
c. ( ) O professor da educação infantil tem dificuldades em
gerir todas as responsabilidades a ele imputadas uma vez
que o planejamento é multifacetado. O trabalho
pedagógico seria mais bem dimensionado se houvesse, nas
escolas, a presença e contribuição de especialistas nas
diferentes áreas (artes, música, movimento, dança etc.) que
se responsabilizassem pela parte acessória dos currículos.
d. ( ) No transcorrer do trabalho diário, as atividades
relativas ao cuidar e aprender são muito vastas. É
praticamente impossível planejar uma sequência de ações
de intervenção porque a rotina com crianças pequenas se
diferencia a cada dia. Além do mais, a função da pré-escola
é gerenciar o cotidiano e não criar novas demandas
infantis.
e. ( ) As atividades de cunho eminentemente pedagógico se
diferenciam daquelas destinadas ao cuidado porque
exigem planejamento mais complexo e sistematização com
a elaboração de registros gráficos, pictóricos ou
tridimensionais.

GABARITO
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
D B A C E C A D D E

11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
C A E A D C D B C D

21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
E B E D D A D B E B

69
::: essencialconcursos.com.br :::

Das könnte Ihnen auch gefallen